da Constituição e permanência das estruturas reais de poder
MARCELO NEVES
SUMÁRIO
1. Permanência e mudança da Constituição na
teoria constitucional corrente. 2. Concretização desconstitucionalizante do texto constitucional como manutenção das estruturas reais de poder. 3. “Constitucionalização” como mudança simbólica da Constituição. 4. Ponderações finais.
1. Permanência e mudança da Constituição
na teoria constitucional corrente A discussão corrente em torno da perma- nência e mudança das Constituições tem como ponto de partida o modelo das “Constituições normativas”, definidas como aquelas que regulam relevantemente as relações reais de poder. Nessa perspectiva, aponta-se para um núcleo permanente das Constituições, do qual elas retiram sua própria identidade. Entretanto, enfatiza-se a possibilidade de mutações constitucionais. A respeito dessas, podem-se verificar duas espécies básicas: mudanças da normatividade constitucional decorrentes diretamente de alterações do texto constitucional; mudanças do sentido normativo da Constituição em face do processo de concretização ou realização constitucional. A mudança da Constituição que resulta diretamente da modificação do texto constitu- cional pode ocorrer de acordo com o proce- dimento estabelecido na própria Constituição Marcelo Neves é Professor Titular da Faculdade ou resultar de ruptura com o ordenamento de Direito do Recife – Universidade Federal de jurídico constitucional. No primeiro caso, a Pernambuco. mutação jurídica da Constituição é denominada, Trabalho apresentado à XV Conferência freqüentemente, reforma constitucional. Nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, Alguns autores procuram classificar as realizada em Foz do Iguaçu, de 04 a 08 de setembro reformas em emenda e revisão: as primeiras de 1994. Para a presente publicação procedeu-se a seriam mais específicas; as últimas teriam uma uma breve revisão de texto e bibliografia. pretensão de atingir mais genericamente o texto Brasília a. 33 n. 132 out./dez. 1996 321 constitucional (cf. Jacques, 1983:515; Menezes, intérprete, ao construir o sentido normativo de 1972: 226s.). Porém, não há univocidade no textos jurídicos, fica condicionado pelo contexto uso de tais expressões no Direito constitucional histórico-social em que os mesmos são positivo (cf. Horta, 1992: 21ss.; Pinto Ferreira, aplicados (cf. Gadamer, 1990: 330ss.). Tal 1983: 116s.). A rigor, cabe, sim, uma distinção variação semântica no tempo e no espaço é entre a reforma constitucional, como mutação indissociável dos condicionamentos pragmáticos, jurídico-positiva, e as mutações fáticas ou ou seja, dos interesses, expectativas e valores meramente políticas da Constituição. Produz-se, envolvidos no momento da interpretação/ então, um novo texto constitucional sem aplicação (Neves, 1988: 127ss.; Edelman, vínculo consistente com a normatividade que 1967:141). E isso não só com relação aos órgãos decorria do anterior, sobretudo sem qualquer oficiais de interpretação/aplicação jurídica base em procedimentos jurídicos preestabele- (“intérpretes stricto sensu”), mas também ao cidos. Normalmente, a doutrina constitucional público, enquanto dirige suas expectativas ao reduz tal situação ao poder constituinte revo- texto constitucional (Häberle, 1980). Daí por lucionário – do qual vai distinguir o poder que se torna insustentável a “doutrina constituinte fundacional (cf. Vanossi, originalista” radical nos Estados Unidos da 1975:136s.), que, na verdade, assume caracte- América, que defende um retorno ao sentido rísticas revolucionárias quando implica uma que os membros da Convenção de Filadélfia ruptura com a ordem jurídico-política colonial atribuíam ao texto constitucional de 1787 (a imposta pela metrópole. Contudo, além da respeito, cf. Rakove, 1990). É sobretudo no mutação constitucional de fato que resulta de sistema norte-americano que se verifica o uma ruptura radical com o conteúdo da ordem quanto se destaca a mutação constitucional jurídica anterior, há também a possibilidade de decorrente da atividade jurisprudencial. Mas poder constituinte resultante de processo de também no sistema eurocontinental explicita-se transição política, sem respeitar o procedimento cada vez mais o papel de construção e recons- de alteração constitucional previsto no sistema trução constitucional desempenhado pelos anterior. No caso de revolução, além de reali- tribunais constitucionais. zar-se em desconformidade com o procedimen- A mudança da Constituição no processo de to de mutação constitucional preestabelecido, sua concretização ou realização resulta também há uma ruptura radical e brusca com o conteúdo da práxis constitucional não-vinculada à ativi- da ordem jurídica anterior. Na hipótese do dade de interpretação/aplicação normativa. A poder constituinte (originário) de transição maneira como se desenvolvem concretamente política, também não se atua conforme os as relações básicas de poder, como atuam os procedimentos preestabelecidos, mas há órgãos estatais supremos, como se relacionam acordos políticos entre agentes da antiga e nova os cidadãos com o Estado e entre si podem ordem em torno do conteúdo da futura Consti- implicar transformações constitucionais rele- tuição; há, então, continuidade política e vantes. É possível tanto que isso resulte em descontinuidade jurídica. mutações de sentido normativo do texto da Quanto às mutações constitucionais que Constituição ou no preenchimento de “lacunas resultam da transformação do sentido norma- constitucionais”, quanto no surgimento de uma tivo do texto constitucional no processo de sua normatividade constitucional marginal em face concretização, podem-se distinguir duas do texto constitucional ou no desuso em possibilidades: mudanças decorrentes da relação a certos dispositivos da Constituição. interpretação/aplicação constitucional; Além do mais, essa forma de transformação alterações resultantes da práxis política inde- constitucional é típica das Constituições pendentemente de atividade hermenêutica em costumeiras, não-intermediadas por texto face do texto constitucional. constitucional. É indiscutível que o sentido normativo do texto constitucional modifica-se profundamente 2. Concretização desconstitucionalizante pela variação interpretativa (cf., em perspectiva as mais diversas, Kelsen, 1960: 348s. – tr. br., do texto constitucional como manutenção 1974: 465ss.; Smend, 1968: 236; Erlich, 1967: das estruturas reais de poder 295; Ross, 1971: 111s. e 130; Pontes de Quando tratamos dos modos de mudança Miranda, 1972: 99; Carbonnier, 1972: 150-52). da Constituição nos termos da teoria A hermenêutica tem sublinhado que o constitucional corrente, partimos das 322 Revista de Informação Legislativa “Constituições normativas”, pressupomos “a zada por injunções econômicas, políticas, força normativa da Constituição” (Hesse, familiares, de boas relações etc., implicando, 1984), entendida como a orientação das expec- contrariamente à codificação binária nos termos tativas e o direcionamento das condutas na da teoria dos sistemas autopoiéticos (cf. esfera pública de acordo com o modelo norma- Luhmann, 1986a: 75ss., 1986b, 1993: 165ss.), tivo constitucional. No caso das “Constituições a própria quebra de autonomia operacional do nominalistas”, nas quais há um hiato radical sistema jurídico e uma miscelânea social auto- entre texto e realidade constitucionais (cf. destrutiva e heterodestrutiva dos códigos Loewenstein, 1975: 151-57, 1956: 222-25; jurídico, econômico, político, “relacional” etc. Neves, 1992a: 91ss., 1994: 95-99), exige-se A desconstitucionalização significa, pois, a uma avaliação mais cuidadosa do problema de desjuridicização pela fragilidade do código sua mutação. De um lado, a deturpação do texto jurídico na sua incapacidade de generalização constitucional no processo de concretização, congruente e a falta de autonomia/identidade sem base em critérios normativos generali- consistente de uma esfera de juridicidade záveis, torna discutível a aplicação da (Neves, 1993). semântica de “mudança da Constituição”. Aqui caberiam referências à teoria norma- Nessas situações, cabe falar de desconstitucio- tivo-estruturante de Müller (1989, 1990a, nalização fática ou concretização desconstitu- 1990b, 1994a, 1994b; cf. Canotilho, 1991: cionalizante. Por outro lado, o problema passa 208ss. e 221ss.). Observa-se, no âmbito desse a ser mais complexo quando consideramos a paradigma teórico, que não só a “norma de função hipertroficamente simbólica das decisão” (norma individual), mas também a mutações do texto constitucional. A “mudança “norma jurídica” (norma geral) é construída da Constituição” torna-se, então, topos de no processo de concretização. O texto consti- constitucionalização simbólica. tucional apresenta-se, por um lado, como “o A desconstitucionalização a que nos mais importante dado de entrada” desse pro- referimos aqui não é aquela que vem sendo cesso (Müller, 1990b: 20; cf. ibid., 127 e 129; discutida no âmbito do debate mais amplo sobre Jeand’Heur, 1989: 22). Por outro lado, a desjuridicização (cf. Voigt, 1983). Não se trata decisão concretizante deve ser reconduzível da redução das matérias e relações constitucio- consistentemente ao texto, embora possa nalizáveis, ou seja, reguláveis por normas constitucionais. Esse é um problema típico dos apresentar conteúdos os mais variáveis (Müller, países centrais, onde as “Constituições norma- 1994b: 134). Quando ocorre, porém, concre- tização desconstitucionalizante, não há uma tivas” levaram a uma juridificação radical da relação consistente entre texto e atividades esfera pública (cf. Voigt, 1980; Habermas, concretizantes. O texto constitucional é uma 1982: 522ss.; Werle, 1982), possibilitando o referência distante dos agentes estatais e cidadãos, surgimento de contratendências desconstituci- cuja práxis desenvolve-se freqüentemente à onalizantes ou desjuridicizantes. A questão da margem do modelo textual de Constituição. desconstitucionalização fática nos países peri- féricos com “Constituições nominalistas” diz À perspectiva predominantemente semântica respeito à degradação semântica do texto de Müller cabe acrescentar a concepção constitucional no processo de sua concretização. eminentemente pragmática de Häberle (1980) Em tal contexto, não surge, de maneira gene- a respeito da interpretação constitucional. Além ralizada, uma relação consistente da atividade dos intérpretes stricto sensu (agentes técnico- de interpretação/aplicação constitucional e da jurídicos de interpretação/aplicação constitu- cional), Häberle inclui toda a esfera pública no práxis política dos órgãos estatais e cidadãos processo de interpretação da Constituição: com o modelo normativo do texto constitucional. Não se pode falar, então, de “generalização “Nos processos de interpretação da congruente de expectativas normativas” Constituição, estão potencialmente (Luhmann, 1987: 94-106) estruturada e opera- envolvidos todos os órgãos estatais, todas cionalizada com base no texto constitucional. as potências públicas, todos os cidadãos Não está presente, portanto, uma esfera pública e grupos” (1980: 79s.). pluralista constitucionalmente integrada. A A força normativa da Constituição estaria concretização normativo-jurídica do texto assegurada quando a esfera pública pluralista constitucional é bloqueada (não simplesmente fosse integrada no processo de concretização condicionada) de forma permanente e generali- constitucional. Nessa perspectiva, os interesses Brasília a. 33 n. 132 out./dez. 1996 323 e valores do público, os mais divergentes, de- políticas fundamentais. Há uma tendência vem ser levados em consideração pelo intérprete particularista e difusa, impedindo a própria em sentido estrito. Em linguagem sistêmica, construção de constitucionalidade jurídica pode-se dizer que os procedimentos oficiais de material, que exigiria critérios normativos interpretação/aplicação jurídica apresentam-se, generalizáveis. E isso significa, como já obser- então, como mecanismos seletivos das diversas vamos acima, uma miscelânea autodestrutiva expectativas do público em torno do texto e heterodestrutiva de códigos de comportamento, constitucional. Tal seletividade teria uma atingindo a própria autonomia/identidade da(s) função estabilizadora e congruentemente esfera(s) de juridicidade. Desconstitucionalização generalizante das expectativas normativas fática apresenta-se, portanto, como forma constitucionais. Porém, na hipótese de concre- principal de desjuridicização no processo tização desconstitucionalizante, não está concretizador. presente, em primeiro lugar, uma esfera pública A concretização desconstitucionalizante nos pluralista. As relações excludentes de subinte- âmbitos das “Constituições nominalistas” dos gração e sobreintegração na sociedade, especi- países periféricos, destacando-se o Brasil, atua almente no sistema jurídico, impedem a no sentido da manutenção do status quo social. construção de uma esfera pública pluralista Serve à permanência das estruturas reais de formada de cidadãos como indivíduos integrados poder, em desacordo com o modelo textual de igualitariamente, do ponto de vista jurídico, na Constituição, cuja efetivação relevante sociedade (cf. Neves, 1992a: 94ss. e 155ss., importaria profundas transformações sociais. 1992b). O agir e o vivenciar normativos do Em contraposição aos indícios de mudança subcidadão e do sobrecidadão fazem implodir expressos no texto constitucional, impõem-se a própria Constituição como modelo jurídico- relações reais de poder com pretensão de político da esfera pública. Nesse contexto, a eternizarem-se, embora desestruturadas e referência à esfera pública deve ser ponderada desestruturantes do Estado como instituição. pela observação de que se trata de uma “esfera Indaga-se, então, qual o sentido da elaboração pública restrita” a certos grupos e organizações, de textos constitucionais em tais circunstâncias. de tal maneira que a noção ético-discursiva de autonomia privada e pública (direitos humanos e soberania do povo) (Habermas, 1992: 112ss.) 3. “Constitucionalização” como mudança torna-se carente de relevância empírica. Ao simbólica da Constituição problema da insuficiente construção da esfera O problema da mutação freqüente dos textos pública nos casos de concretização desconsti- constitucionais sem uma relevante repercussão tucionalizante vincula-se a deficiência de sele- normativo-jurídica nas relações de poder tividade adequada por parte dos procedimentos complica-se quando introduzimos a discussão oficiais de interpretação/aplicação constitu- sobre constitucionalização simbólica (Neves, cional diante das expectativas políticas de 1994, 1992a: 61-65 e 104-6). A concretização indivíduos e grupos. Não só essas expectativas desconstitucionalizante é um requisito impres- são, em ampla medida, constitucionalmente cindível da constitucionalização simbólica. Mas marginais ou destrutivas, como também os esta distingue-se especialmente pelo seu signi- procedimentos conduzem, com freqüência, à ficado positivo: a função hipertroficamente distorção casuística do sentido normativo do político-ideológica do modelo textual de texto constitucional. Tal situação não significa Constituição. desconstrução do texto constitucional na A discussão em torno de constitucionalização perspectiva pós-moderna, mas antes uma simbólica desenvolve-se a partir do debate sobre prática destrutiva dos seus possíveis sentidos legislação simbólica (Kindermann, 1988, 1989; normativos. Noll, 1981; Hegenbarth, 1981). A própria A concretização desconstitucionalizante ambigüidade dos termos ‘símbolo’, ‘simbólico’ não deve ser lida com base na dicotomia clássica e ‘simbolismo’ já dificulta uma delimitação “Constituição formal versus Constituição semântica dessa expressão (Neves, 1994: 11ss.). material”. Os bloqueios políticos, econômicos Talvez se possa vislumbrar uma analogia com e “relacionais” do processo de concretização a concepção de simbolismo freudiana, na normativo-jurídica do texto constitucional não medida em que nela se distingue entre signifi- implicam, então, congruente generalização de cado latente e significado manifesto (cf. Freud, expectativas normativas em torno das relações 1969: 159-77, 1972: 345-94) e afirma-se que 324 Revista de Informação Legislativa na legislação simbólica a sua função latente lica’ aponta para o predomínio, ou mesmo prevalece sobre a manifesta (cf. Aubert, 1967). hipertrofia, no que se refere ao sistema jurídico, Entretanto, a questão da legislação da função simbólica da atividade legiferante e simbólica está usualmente relacionada com a do seu produto, a lei, sobretudo em detrimento distinção entre variáveis instrumentais, expres- da função jurídico-instrumental. sivas e simbólicas no âmbito das ciências Não se trata aqui das concepções da política sociais. As funções instrumentais implicariam simbólica (Edelman, 1967; 1977) ou do Direito uma relação de meio/fim, a tentativa consciente como simbolismo (Arnold, 1935: esp. 33ss., ou de alcançar resultados objetivos mediante a 1971), que reduzem, respectivamente, a análise ação. Na atitude expressiva, há uma confusão de todo e qualquer sistema político ou jurídico entre o agir e a satisfação da respectiva neces- à sua “eficácia simbólica”. Embora Direito e sidade. Enquanto a ação instrumental consti- Política tenham sempre uma dimensão simbó- tui-se “veículo de conflito”, o agir expressivo é lica, há variáveis instrumentais relevantes em “veículo de catarse” (Gusfield, 1986: 179). ambos sistemas. A própria força normativa da Afastando-se de outros autores que abordaram legislação depende de uma combinação de o problema da política simbólica, Gusfield variáveis instrumentais e simbólicas. E todo distinguiu o simbólico não apenas do instru- sistema jurídico funciona com base em ambas mental, mas também do expressivo (1986: variáveis. O problema surge quando há efeitos 77ss.). Em contraposição à atitude expressiva hipertroficamente simbólicos da legislação, em e semelhantemente à ação instrumental, a detrimento de sua eficácia instrumental-norma- postura simbólica não é caracterizada pela ime- tiva. diatidade da satisfação das respectivas neces- Enquanto a legislação simbólica atinge sidades e se relaciona com o problema da solu- apenas setores específicos do sistema jurídico, ção de conflitos de interesses (1986:183). a constitucionalização simbólica, pela maior Contudo, diferentemente das variáveis instru- amplitude do âmbito material e pessoal de mentais, a atitude simbólica não é orientada vigência do Direito constitucional, atinge o conforme uma relação linear de meio/fim e, por núcleo do sistema jurídico, comprometendo outro lado, não se caracteriza por uma conexão toda a sua estrutura operacional e a sua própria direta e manifesta entre significante e signifi- autonomia/identidade. Aqui não se desconhe- cado, distinguindo-se por seu sentido mediato ce que também as “Constituições normativas” e latente (1967: 176s.). Como bem observou desempenham função simbólica, como bem Gusfield, enfatizaram Burdeau (1962: 398; cf. outrossim “a distinção entre ação instrumental Massing, 1989) e Edelman (1967: 18s.), e simbólica é, em muitos aspectos, amparados, respectivamente, na experiência similar à diferença entre discurso denota- constitucional européia e norte-americana; tivo e conotativo” (1986: 170). tampouco que a distinção entre “Constituição Na denotação, há uma conexão relati- normativa” e “Constituição simbólica” é vamente clara entre expressão e conteúdo; na relativa, tratando-se “antes de dois pontos ação instrumental, similarmente, um direcio- extremos de uma escala do que de uma namento da conduta para fins fixos. Na dicotomia” (Bryde, 1982: 27). Porém, a função conotação, a linguagem é mais ambígua; o agir simbólica das “Constituições normativas” está simbólico é conotativo na medida em que ele vinculada à sua relevância jurídico-instrumental, adquire um sentido mediato e impreciso que se isto é, a um amplo grau de concretização acrescenta ao seu significado imediato e mani- normativa generalizada das disposições cons- festo (1986: 170; 1967: 177), e prevalece em titucionais. Além de servir de expressão relação ao mesmo. simbólica da “consistência”, “liberdade”, Evidentemente, a distinção entre função “igualdade”, “participação” etc. como elementos instrumental, expressiva e simbólica só é caracterizadores da ordem política fundada na possível analiticamente; na prática dos sistemas Constituição, é inegável que as “Constituições sociais, estão sempre presentes essas três normativas” implicam juridicamente um grau variáveis. Porém, quando se afirma que um elevado de direção da conduta em interferência plexo de ação tem função simbólica, instrumental intersubjetiva e de orientação das expectativas ou expressiva, quer-se referir à predominância de comportamento. Às respectivas disposições de uma dessas variáveis, nunca de sua constitucionais correspondem, numa amplitude exclusividade. Assim é que ‘legislação simbó- maior ou menor, mas sempre de forma social- Brasília a. 33 n. 132 out./dez. 1996 325 mente relevante, “expectativas normativas con- “boa intenção” do legislador constituinte e gruentemente generalizadas”. O “simbólico” e dos governantes em geral (cf. Schindler, o “instrumental” interagem reciprocamente 1967: 66s.). para possibilitar a concretização das normas O “Constitucionalismo aparente” (Grimm, constitucionais. A Constituição funciona real- 1989: 634 ou 1991: 13) implica, nessas mente como instância reflexiva de um sistema condições, uma representação ilusória em jurídico vigente e eficaz. relação à realidade constitucional, servindo Já no caso da constitucionalização simbólica, antes para imunizar o sistema político contra à atividade constituinte e à emissão do texto outras alternativas. Por meio dele, não apenas constitucional não se segue uma normatividade podem permanecer inalterados os problemas e jurídica generalizada, uma abrangente concre- relações que seriam normatizados com base nas tização normativa do texto constitucional. respectivas disposições constitucionais (Bryde, Assim como já afirmamos em relação à legis- 1982: 28s.), mas também ser obstruído o lação simbólica, o elemento de distinção é caminho das mudanças sociais em direção ao também a hipertrofia da dimensão simbólica proclamado Estado Constitucional (Cabe em detrimento da realização jurídico-instru- advertir, porém, que mesmo as Constituições mental dos dispositivos constitucionais. normativas não podem resolver diretamente os Portanto, o sentido positivo da constituciona- problemas sociais, mas apenas influenciar-lhes lização simbólica está vinculado à sua caracte- mediatamente a solução – Grimm, 1989: 638 rística negativa, já considerada no item anteri- ou 1991: 19). Ao discurso do poder pertence, or (cf. Villegas, 1991: 120, com relação à então, a invocação permanente do documento experiência colombiana). Sua definição engloba constitucional como estrutura normativa esses dois momentos: de um lado, sua função garantidora dos direitos fundamentais (civis, não é direcionar as condutas e orientar expec- políticos e sociais), da “divisão” de poderes e tativas conforme as determinações jurídicas das da eleição democrática, e o recurso retórico a respectivas disposições constitucionais; mas, essas instituições como conquistas do Estado- por outro lado, ela responde a exigências e Governo e provas da existência da democracia objetivos políticos concretos. no país. A fórmula ideologicamente carregada “Isso pode ser a reverência retórica “sociedade democrática” é utilizada pelos diante de determinados valores (demo- governantes (em sentido amplo) com “Consti- cracia, paz). Pode tratar-se também de tuições simbólicas” tão regularmente como propaganda perante o estrangeiro” pelos seus colegas sob “Constituições norma- (Bryde, 1982: 28). tivas”, supondo-se que se trata da mesma Nós nos encontramos aqui na esfera do realidade constitucional. Daí decorre uma ideológico no sentido de Habermas (1987: 246 deturpação pragmática da linguagem constitu- – tr. br., 1980: 115): cional, que, se, por um lado, diminui a tensão social e obstrui os caminhos para a transfor- “O que chamamos ideologia são mação da sociedade, imunizando o sistema exatamente as ilusões dotadas do poder contra outras alternativas, pode, por outro lado, das convicções comuns”. conduzir, nos casos extremos, à desconfiança Mas não se trata de ideologia como pública no sistema político e nos agentes deformação de uma verdade essencial. Em caso estatais. Isso importa que a própria função de constitucionalização simbólica, o problema ideológica da constitucionalização simbólica ideológico consiste em que se transmite um tem os seus limites, podendo inverter-se, modelo cuja realização só seria possível sob contraditoriamente, a situação, no sentido de condições sociais totalmente diversas. Dessa uma tomada de consciência da discrepância maneira, perde-se transparência em relação ao entre ação política e discurso constitucionalista. fato de que a situação social correspondente ao Não se confunde o problema da constitu- modelo constitucional simbólico só poderia cionalização simbólica com a ineficácia de tornar-se realidade mediante uma profunda alguns dispositivos específicos do diploma transformação da sociedade. Ou o figurino constitucional, mesmo que, nesse caso, a constitucional atua como ideal, que por meio ausência de concretização normativa esteja dos “donos do poder” e sem prejuízo para os relacionada com a função simbólica. É sempre grupos privilegiados deverá ser realizado, possível a existência de disposições constituci- desenvolvendo-se, então, a fórmula retórica da onais com efeito simplesmente simbólico, sem 326 Revista de Informação Legislativa que daí decorra o comprometimento do sistema cionalização-álibi (Neves, 1994: 92ss.; cf. constitucional em suas linhas fundamentais. Kindermann, 1989), ocorre antes uma interseção Falamos de constitucionalização simbólica entre simbólico e ideológico do que um processo quando o problema do funcionamento hiper- crítico de conscientização dos direitos, na medida troficamente político-ideológico da atividade e mesmo em que se imuniza o sistema político do texto constitucionais atinge as vigas mestras contra outras possibilidades e transfere-se a do sistema jurídico constitucional. Isso ocorre solução dos problemas para um futuro remoto. quando as instituições constitucionais básicas A compreensão da constitucionalização – os direitos fundamentais (civis, políticos e simbólica como álibi em favor dos agentes sociais), a “separação” de poderes e a eleição políticos dominantes e em detrimento da democrática – não encontram ressonância concretização constitucional encontra respal- generalizada na práxis dos órgãos estatais, nem do nas observações de Bryde (1982: 29) a na conduta e expectativas da população. Mas é respeito da experiência africana: as “Consti- sobretudo no que diz respeito ao princípio da tuições simbólicas”, em oposição às “norma- igualdade perante a lei, que implica a genera- tivas”, fundamentam-se sobretudo nas lização do código ‘lícito/ilícito’, ou seja, a “pretensões (correspondentes a necessidades inclusão de toda a população no sistema jurí- internas ou externas) da elite dirigente pela dico, que se caracterizará de forma mais clara representação simbólica de sua ordem estatal”. a constitucionalização simbólica. Pode-se Delas não decorre qualquer modificação real afirmar que, ao contrário da generalização do no processo de poder. No mínimo, há um adia- Direito que decorreria do princípio da igualdade, mento retórico da realização do modelo proclamado simbólico-ideologicamente na constitucional para um futuro remoto, como se Constituição, a “realidade constitucional” é então isso fosse possível sem transformações radicais particularista, inclusive no que concerne à prática nas relações de poder e na estrutura social. dos órgãos estatais. Ao texto constitucional simbolicamente includente contrapõe-se a “realidade constitucional” excludente. Os 4. Ponderações finais direitos fundamentais, a “separação de poderes”, a eleição democrática e a igualdade A análise no sentido de que a constitucio- perante a lei, institutos previstos abrangen- nalização simbólica implica mudança de(o) temente na linguagem constitucional, são texto constitucional sem correspondente deturpados na práxis do processo concretizador, alteração das estruturas reais subjacentes, principalmente com respeito à generalização, servindo mesmo como mecanismo construtivo na medida em que se submetem a uma filtragem de ilusões, pode conduzir a interpretações por critérios particularistas de natureza política, simplistas de que seriam totalmente vãs as econômica etc. Nesse contexto, só caberia falar tentativas de transformações sociais interme- de normatividade restrita e, portanto, excludente, diadas por mutações de(o) documento consti- particularista, em suma, contrária à normati- tucional. Entretanto, a função hipertrofi- vidade generalizada e includente proclamada camente simbólica do texto constitucional não no texto constitucional. Mas as “instituições se refere apenas à retórica “legitimadora” da jurídicas” consagradas no texto constitucional elite dirigente. Também no discurso político dos permanecem relevantes como referências críticos do sistema de dominação, a invocação simbólicas do discurso do poder. aos valores proclamados no texto constitucional desempenha relevante papel simbólico. Por Por fim, quero advertir que não se confunde exemplo, a retórica político-social dos “direitos aqui o simbólico com o ideológico. Inega- humanos”, paradoxalmente, é tanto mais velmente, o simbólico da legislação pode ter intensa quanto menor o grau de concretização um papel relevante na tomada de consciência normativa do texto constitucional. e, portanto, efeitos “emancipatórios”. Lefort À constitucionalização simbólica, embora aponta para a relevância das declarações relevante no jogo político, não se segue, “legais” dos “direitos do homem” no Estado principalmente na estrutura excludente da de Direito democrático, cuja função simbólica sociedade brasileira, “lealdade das massas”, que teria contribuído para a conquista e ampliação pressuporia um Estado de bem-estar eficiente desses direitos (1981: 67ss. e 82 – tr. br., 1987: (cf. Neves, 1994: 107ss.). Contraditoriamente, 56ss. e 68). Mas, no caso da constitucionalização à medida que se ampliam extremamente a falta simbólica, principalmente enquanto constitu- de concretização normativa do documento Brasília a. 33 n. 132 out./dez. 1996 327 constitucional e, simultaneamente, o discurso turpados no processo concretizador, não se constitucionalista do poder, intensifica-se o operacionalizando como mecanismos de grau de desconfiança no Estado. A autoridade legitimação do Estado. pública cai em descrédito. A inconsistência da “ordem constitucional” desgasta o próprio discurso constitucionalista dos críticos do sistema de dominação. Desmascarada a farsa constitucionalista, segue-se o cinismo das elites e a apatia do público (cf. Kindermann, 1989: 270, especificamente em relação à legislação- Bibliografia álibi). Tal situação pode levar à estagnação polí- tica. É possível que, como reação, recorra-se ao ARNOLD, Thurman W. The symbols of government. New Haven : Yale University Press, 5. impr. “realismo constitucional” ou “idealismo obje- 1948. tivo”, em contraposição ao “idealismo utópico” ARNOLD, Thurman W. El derecho como simbolismo. existente (cf. Vianna, 1939: esp. 7ss. e 303ss.; In: AUBERT, Vilhelm (org.). Sociología del Reale, 1983: 67; Torres, 1978: 160ss.). Mas, derecho. Tradução esp. de J.V. Roberts. Caracas como ensinaram as experiências de “constitu- : Tiempo Nuevo, 1971. cionalismo instrumental” de 1937 e 1964, o AUBERT, Vilhelm. Einige soziale funktionen der recurso a essa semântica autoritária não gesetzgebung. In: HIRSCH, Ernst E., REH- implicará, seguramente, a “reconciliação do BINDER, Manfred (orgs.) Studien und Estado com a realidade nacional”, mas, antes, materialien zur rechtssoziologie. Kölner Zeits- a identificação excludente do sistema jurídico chrift für Soziologie und Sozialpsychologie, estatal com as “ideologias” e interesses dos Köln, nº 11, p. 284-309, 1967. Suplemento. detentores eventuais do poder. Nesse caso, serão BRYDE, Brun-Otto. Verfassungsentwicklung : Sta- impostas “regras-do-silêncio” ditatoriais, bilität und Dynamik im Verfassungsrecht der negando-se a possibilidade de críticas genera- Bundesrepublik Deutschland. Baden-Baden : lizadas ao sistema de poder, típica da constitu- Nomos. 1982. cionalização simbólica. BURDEAU, Georges. Zur Auflösung des Verfassun- É principalmente por isso que não se deve gsbegriffs. Berlin : Duncker & Humblot, p. 389- interpretar a constitucionalização simbólica 404, 1962, (Der Staat 1). como um jogo de soma zero na luta política CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional. pela ampliação ou restrição da cidadania, 5. ed. Coimbra : Almedina, 1991. 1214 p. equiparando-a ao “instrumentalismo constitu- cional” das experiências autocráticas (em CARBONNIER, Jean. Sociologie juridique. Paris : A. Colin, 1972. sentido diverso, Loewenstein, 1956: 224). Enquanto não estão presentes “regras-do- EDELMAN, Murray. The symbolic uses of politics. silêncio” democráticas nem ditatoriais (Neves, Urbana : University of Illinois Press, 1967. 1992a: 106s., 1994: 110ss.; cf. Holmes, 1988), EDELMAN, Murray. Political language : words that o contexto da constitucionalização simbólica succeed and policies that fail. New York : proporciona o surgimento de movimentos e Academic Press, 1977. organizações sociais envolvidos criticamente na EHRLICH, Eugen. Grundlegung der soziologie des realização dos valores proclamados sole- rechts. 3. ed. Berlin : Duncker & Humblot, 1967. nemente no texto constitucional e, portanto, Reimpressão inalterada da 1. ed. de 1913. integrados na luta política pela ampliação da FERREIRA, [Luiz] Pinto. Princípios gerais do cidadania. Assim sendo, é possível a construção Direito Constitucional moderno. 6. ed. São de uma esfera pública pluralista que, embora Paulo : Saraiva, 1983. v. 1. restrita, tenha capacidade de articular-se com FREUD, Sigmund. Freud - Studienausgabe. Frank- êxito mediante os procedimentos democráticos fut am Main : Fischer, 1969. v. 1, p. 33-445: previstos no texto constitucional. Não se pode Vorlesungen zur Einführung in die psychoanalyse excluir a possibilidade, porém, de que a reali- : 1916-17 [1915-17]. zação dos valores democráticos expressos no ________________ . Die traumdeutung : 1900, documento constitucional pressuponha um Freud-studienausgabe. Frankfurt am Main : momento de ruptura com a ordem de poder Fischer, 1972. estabelecida. E isso torna-se tanto mais provável GADAMER, Hans-Georg. Wahrheit und Methode : na medida em que os procedimentos democrá- Grundzüge einer philosophischen Hermeneutik. ticos previstos no texto constitucional são de- 6. ed. Tübingen : Mohr, 1990. 328 Revista de Informação Legislativa GRIMM, Dieter. Staatslexikon : recht, wirtschaft, Sprach- und Rechtswissenschaft aus der Sicht gesellschaft. Organizado pela Görres-Gesells- der Strukturierenden Rechtslehre. In: MÜLLER, chaft. 7. ed. Freiburg : Herder, 1989. 5 v. Col. Friedrich. (org.) 1989. p. 17-26. 633-643 : Verfassung. KELSEN, Hans. Reine rechtslehre. 2. ed. Wien : Franz ________________ . Die Zukunft der Verfas- Deuticke, 1960. Reimpressão inalterada – 1983. sung. Frankfurt am Main : Suhrkamp, 1991. ________________ . Tradução portuguesa. GUSFIELD, Joseph R. Moral passage : the symbolic Teoria pura do direito. 3. ed. 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