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PREFACIO Este é um livro sobre o estudo €a compreensio da his 16ria dos gregos e romanos; sobre os testemunhos & dispo- sigio do historiador e suas sérias limitagées; sobre a prética dos historiadores no tratamento desses testemunhos e so bre os procedimientos alternativos que podem ser tentados;, em suma, sobre o que sabemos e 0 que provavelmente ja- sais saberemos. Venho ensinando histéria antiga a estudantes trios dos Estados Unidos e da Gri-Bretanka ha meio sécu- Jo. Incvitavelmente, tenho repensado a natureza dessa ati- viidade e, em anos recentes, escrevi uns poucos ensaios que expressam alguns desses meus pensamentos. Esta é a pri- meira vez que 0s retno de maneira mais sistemética. A oca- sio foi-me propiciada pela série de conferéncias que profe- tiem noverbro de 1983, sob os auspfcios da Faculdade de Estudos Clissicos da Universidade de Cambridge. Depois de revistas, esas conferéncias compdem os capitulos Il, [V € V deste volume, aos quais acrescentei trés outros capftu- los originados de contextos diferentes. O capfculo V tam- bém foi apresentado em alemio nas universidades de Basi 2 HISTORIA ANTIGA Iéia e Munique (juntamente com o capitulo 1V) ¢ em italia- no no Instituto Gramsci de Roma e na Universidade de Pi- 3, em Sou extremamente grato a meus diversos anfitri6es,tan- to em Cambridge quanto no exterior, pelas muitas ateng6es que recebi no curso de minhas conferéncias. Devo também agradecer a alguns amigos que leram partes do manuscrito cou me ajudaram de outras formas: em Cambridge, Paul Cart- ledge, John Crook, Peter Garnsey, Garry Runciman ¢ Dick Whittaker; Tony Andrewes, em Oxford; Jirgen von Un- gern-Sternberg, em Basléia; Wilfried Nippel e Andreas Wit- ‘tenburg, em Munique; Nino Ampolo e Pino Pucci, em Ro- ma; Riccardo Di Donato, em Pisa. Fico agradecido, ¢ niio pela primeira vez, 2 Douglas Matthews pel mo em todos os livros que escrevi nos tiltimos trinta anos, agradeso mais uma vez a mina esposa por seu incentivo sua indulgéncia, ML F. Darwin College, Cambridge (© “PROGRESSO" NA HISTORIOGRAFIA! ria aprendido muito com aleitura do que Burckhardt ¢ Nilsson escreveram sobre sua propria civilizagio ¢ sua pr vesse tentado discutir esses bem mais pobres que as n0ss tre Burckhardt e Nilsson, 0 que equivaleria a associar Max Weber (ou mesmo Arnold Toynbee) & Enciclopédia de His. téria Mundial de Langer, d& lugar a algumas dividas, NI obstante, por tris desse exemplo desconcertante, importante doutrina: a visio croceana, na formul Veyne, de que “a imteligéncia da historia tem sido i dn ‘os gregos até hoje, néo porque con} s dos eventos humanos, mas porg 4 HISTORIA ANTIGA mais uma vez, de “conceitualizagio”. “Herddoto e Tuci- dides tinham a sua disposigfo todos os fatos necessirios pa aa fundagio da historia social e da historia da religido... 6 que eles nio fizeram, Faltavam-lhes os ‘instrumentos in- telectuais’.”* ‘Numa ou noutra formulasio, acredito que a dovtrina Croce-Veyne receberia uma anuéneia generalizada entre 0s historiadores de hoje, sem divida com maior nfase nos avangos da técnica. No entanto, as implicagdes nfo esto totalmente delimitadas, talvez nem sequer reconhecidas. Os historiadores, como os membros de outras profissbes (se & que entre eles posso incluir os historiadores), mostram-se relutantes em analisar a si préprios ¢ & sua atividades dei- xxam isso para os fildsofos, cujos esforgos, entio, desprezam ‘como desconhecedores ou irrelevantes (ou ambos). Neste seramme certa ve — por exemplo — mente transformado nas tiltimas décad: realmente 0 caso do campo da historia anti em varios aspectos: 40 volume dos dados, o simples niimero dos fatos.co- nnhecidos, aumenta.a cada dia com a descoberta ou.a publi cagio de inscrigbes, papiros, moedase, ocsionalmente, te tos lterrios — todas até entdo desconhecidos —, bem co- tno com ainda continua aeleragio das exploragBesarqueo- légicas. es GQ ‘continuamente se aprimorando, atra- vés da ay a rologia, do uso do computador na lexicografia, e assim por diante. ‘e podemos expor graficaments a escolha de palavras de Tu- (0 "PROGRESSO" NA HISTORIOGRABIA 5 suas frases ¢ sintaxe de uma forma com que nem ~~ Entretanto, so no sentido m: mar que “todo o campo” da hist Teligiosa) se transformiou devido 3s éenicas mais aprimora das ao maior volume de dados, ou & combinacio de am- ter aprendido sobre milhares de fa com aleitura dos livros de Mar- provavel que @ autor grego, depois jcativa suas opi- cfdides, Jémuo poder-seiaafir- ocial (ou politica, ou 1 ser ocupado pela Fel conjeturar se suas “frases” teriam sido “muito que as de Nilsson com relagio ao assunto. O pobre” que as seguintes generaliza- 9 destino da religi gem para as ‘cussdes sobre a religiio por parte dos sofistas pertencem & losofia e devem ser ignoradas em uma exposigio da reli gifo_popalar”®? (Btodo historiador inevitavelmente sofre por ignorar co que acontecerd depois dele. Todo historiador, mediocre, tem, portanto, uma “experiencia histori stacados. que.a de seus predecessores, por mais de Se ee tenham sido, 180 € um trufsmo, mas um tru ante. No se trata da banal questto de que now: ses surgem no decorrer da “experiencia histOrica’_¢, Por tanto, nenkum grego doséculo V a.C. poderia ter concebi- doa doutrina weberiana da burocracia. A ‘questo é que a experiéncia subseqQenre torna possivel eestimla uma re v situigdes Thais antigas dentro de seu proprio tempo e de sen praprio contexto. Se Tucidides tivesse co” inhecido a religiio romana e outras rligiées posteriores, sem “vida teria conservado seu desprezo pelos oriculos e seus aprovisionadores, mas poderia muito bem ter sreligiosas de maneira diferente e ex. tituigdes religiosas, ndo deuses, apresso-me a acrescentat), Em outras palavras, Burckhardt poderia influenciar a ave Tiago que 0 autor grego fazia de sua prépriz , mas ‘do Nilsson. A visio retrospectiva & uma ferramenta essen. cial para o historiador, ¢ nfo uma pilhéria vulgar feita is suas préprias custas, ente ). Escrevo “descoberta” entre ‘spas porque See constatava a existéncia do at ae >plesmente a partir da auséncia dele em outras culturas com 4que os helenos estiveram em contato direto; prova disso ¢ ito (2.91) ou a Anacharsis de Lu- ciano. Mas nenhum grego 430 agora Enfase, a cen- {ralidade, que ocupa na Grice Kulorgohihe de Burck ard. Mais de uma geragio separa Burckhardt de Nilsson; en- ‘wetanto, se & que estou certo, a “transformagio” neste ca. 30, siva. E isso 'ss0n) por outro lado, & saudado fo século XX em religiio grega- antigs; a notas de rodapé da maioria dos livros sobre o a LL (© "PROGRESSO” NA HISTORIOGRAHA 7q sunto atestam de mancira abundante sua celebridade, Nem © mais severo dos-erticos de Burckhardt poderiz is i, relagio lectual e reputario profissional. Tratase de algo muito mais fundamental, algo que se refere 3 natureza e 4 condigio da historiografia, spenas a dois individuos. iga declarou que a histdria de Roma de Momm> sen éuma obra surpreendente, pois apresenta ao letor “dois ulténeos: a época dos romanos e a das lutas po- ta-se de Hermann Bengtson, no sbrio A sua propria Grundriss der rie 090 da Histéria de Roma), publicas dda em 1967 na respeitivel série por ele editada durante mule tos anos, a Handbuch der Altertumswissenschafi,codificagio abalizada do estado do conhecimento, neste século, em toe dos os ramos dos estudos cssics (implicito na palavra " Ma- anual” do titulo). Sinto a tentagio de afirmar que & melhor dois passados que nenhur, mas vou me limitar&ilusio im plicita de que o estigma positivista de Bengtson, sua deter ‘minasio de ser fatual e nada mais que fatual, estd menos profundamente enraizado em seu século XX do que a “pe: dagogia politica" de Mommsen o estava no século XIX?, izasio do espago, a inextirpivel série de reina- dos imperiais como continuadores da hist6ria romana pos feeterecececceccceaae 8 HISTORIA ANTIGA 3 siléncios com relagio a grandes por- ino constituem prova suficien- forma de ideologi car as pessoas; por tha, Nao falo de ideo- Jogia nem em um de seus sentidos doutrindrios (o deMarx ou de Mannheim, por exemplo).nem no sentido.corrente legitimizacioe.dlefesa de um sistemy2-ow instienigao.(“a ic de Augusto”) —todos elestacontradosem alguns sposta & pergunta “po- afia e, em caso-afir- lente. As ideologias se transformam, ria sofre uma constant teceu: basta I (© “PROGRESSO” NA HISTORIOGRAFIA 9 plo, acreditamos se errnea, com relasfo 20 comportamento Focial, a busca das molas propulsoras nas personalidades € i entfo as anilises € ‘Hineds representaca sim pragresso. Os aprimorameatos da técnica parecem-me uaa questio lateral de-menot impor- ‘cincia hese Content’. Q 2miesmo podemos afirmar, em gran LdistingZo entre narrativa histérica ss fou de mais uma distingde técnica, on-de umaconcentragao fem certos fendmenos.porque estes se prestam a métodos novos e sofisticados. (© profisionalismo-per simesmo, oculto da pesquisa, também constivai uma-postura ideoldgica. Se nenhum in- ‘grediente, nenhuma “teoria”,¢acrescentado, entdo menu ima,preocapagio com-o amplo painel do passado é-desen- volvida, da mesma forma que nio se vislumbrauma m- danga fundamental, Tudo se transforma em mera contin= ue HISTORIA ANTIGA riografiatenha perdido seu sentido, que uma “nova nogio” do desenvolvimento humano tenha deixado, na pritica atu, ““pouco espago para as meras descriges do passado'"®, Nio 1posso concordar quando, por exemplo, o autor de um vasto “ensaio sobre a interpretagio histérica” dos imperadores rromanos se vangloria de nio “ter contaminado a apresenta- so dos vestigios do Império Romano com concepedes ad- vVindas de estudos socioldgicos mais amplos", Iso é uma 4.0 que Momigliano chamou de “‘mentalidade 0 (0 ESTUDIOSO DA HISTORIA "ANTIGA E SUAS FONTES! Em uma des. ganizagio social da segunda parte, qu com uma afirmat rutura social da Coma fnvengio da eta. Qualer pesos nfo eavl vida nesse tipo de estudo sente como que um choque 20 da nesse tipo d os hasta ‘temunhos, que amide parecem mutuamente contr ‘ou, no minimo, nio inter-relacionados. mmo 12 HISTORIA ANTIGA O que fazer? Creio que a natureza e 0s usos dos teste- ‘munhios referentes & Antiguidade tém sido debatidos de ma- ngita mais ampla e determinada atualmente que em qual quer época anterior, como, digamos, os dias de Boeckh ¢ Niebuhr, no do século XIX. Isso, em parte, conse- giigncia do aumento exponencial da quantidade de infor- ages arqueolégicas disponiveis e da quantidade de publi- cages sobre a historia antiga; em parte isso também refle- te novas abordagens do estudo da histdria, novos interes- ses e a formulagio de novas questées. Em principio, essa discussio & muito bem-vinda, embora, na pritica, grande parte dela soe como uma disputa entre sindicatos pela de- marcagio do terreno de atuasio. Comego par uma posigi0 tio elementar, que beira 0 ugar-comum. Segundo Momigliano, ao escrever sobre as fi xdo.0 método mo- derno de pesquisa histérica fundamenta-se na distingio en- te autoridades originais ou derivadas.. Louvamos as auto- mercer Onginas ol ouvamngs 25 2K ridades originals — ou fontes — por serem confidveis, mas 1Aa dessa airmativa ¢ de extrema imp cia: nio foram s6 os historiadores medievais e os historia dorés modernos anteriores ao século XVIII que dedicaram pouea atensio A distings es primarias e deriva- das; os historiadores da Anti ém_o fizeram. Pou- cos deles, notoriamente Herddoto ¢ Tucidides, fizeram tingio entre testemunhas oculares, que pudessem ser cir adosamente interrogadas, e todo o testemunho { além desse controle pessoal’, mas no conseguiram desenvolver técnicas de das fontes ou meios de se li- (© ESTUDIOSO DA HISTORIA ANTIGA E SUAS FONTES 13 dar de maneira satisfatéria com as autoridades derivadas. E claro que qualquer idiota poderia ter feito uma distinggo entre fontes primérias e secundérias, bem como entre um tescritor criterioso e um charlatfo; e a maioria dos historia- dade, mesmo os mais fracos, no era com- Entretanto, um Livio ou um Plutareo es- bom grado paginas ¢ paginas ares tos passados, sobre os quais nfo tinham, ou no procurs- rlquer controle. Algo mais que inteligéncia es- ito nessa atitude, que, no final das contas, deve levar a uma nogio re rente da nossa quanto 4 natureza ¢ 0 propésito do exercicio histérico. Somente ‘Tucidides reconheceu, de maneira totale siste féncia de um dilema, que ele resolveu de maneira ins i a0 se recusar a dedicar qualquer atengio & hist6ria pré- contemporaine (© moderno estudioso da Antiguidade no pode sim- plesmente repetir a pritica antiga. Nio pode escrever uma histOria de Roma reelaborando em linguagem moderna 0 latim de Livio, da mesma forma que este jé havia parafra: ‘Vi-tornou esse proc gerescentar que esse patrimonlo parece no interferir seria- mente na pratica de ‘resgatar” Livio e outros antigos atra- ws da reescritura de seus relatos, em vez de apenas repeti Jos ou parafraseSlos; uma reescritura que termina tacitamen- te por aceitar a veracidade essencial do original. Inelizmente, ‘08 dois mais longos relatos da historia romana repul na, Area em que os problemas se mostram atualmente m: agudos e acitradamente discutidos, as historias de Livio de Dionisio de Halicarnasso, foram escritos cerca de 500 nos (em ndmeros muito arredondados) depois da data tra- dicionalmente atribuida 4 fundago da Reptiblica, 200 anos 4 HISTORIA ANTIGA depois da derrota de An{bal. Por mais que tentemos, no conseguiremos localizar qualquer de suas fontes escritasalém ,,@ maioria delas nio além da época de Mario 20, 0s primeiros séculos da Republica, e mes- mo os séculos que imediatamente a antecederam, sio nar- rados em detalhe por Livio e Dion(sio de Halicarnasso. Onde foram eles buscar suas informagdes? Nao importa quantas afirmagdes antigas possamos documentar ou pressupor, in- ddependentemente de sua possivel confiabilidade: no fim, aca bamos.defrontando com uma lacuna, Mas os escritores an- para preencher esse lapso de tempo? Ou como oe testar um relato ja existente, senio através da proposigio is como os etruscos ou os sabinos, taharam um importante papel na primitiva hi ma” Nio de estranhar que, mesmo no esta velmente fragmentirio do material sobre a _de que existam provas insuficientes que confirmem a lista de reis romaros é sa it “hiper- critica” e “resquicio de Ettore Pais”. Tais epitetos nio cor- respondem a realidade, Para comegar, um per anos ocupado continuamente por apenas sete re probabilidade demogrfin aver ums impos im por diante, quas. se ad infinitum. Padecemos de um mesmo mal padeciam Livio e outros escritores romans pos- teriores (sem considerarmos um punhado de documentos heterogéneos ¢ a Isso ¢ indisc edi- spor uni colega igualmente reputado, ter apresentado um_ o de “fontes primérias”,consistindo.em ( ez linhas cada, de uma dezena \s | consigo imaginar, nem como deslize, que um historiador que S ewan ian fe 390 a.C.) em uma sér \ss grinds contend osnomes deJohn Addington Symonds, Burckhardt ¢ Chabod. Suspeito | se dedique & Renascenga poss compilar uma lista de fontes 16 HISTORIA ANTIGA grega e romana, é apenas porq a de periodos para {2s quais 0 testemuntho arqueoldgico costuma predominar nas discusses dos estudiosos. De fato, a falta de fontes lite- rérias primarias perturba complet: clusive a maior parte da historia das pro Por exemplo, para o longo reinado de Augusto, as dnicas fontes primérias, além de documentos, sfo a metade do li- algumas cartas e discursos de Cicero referentes aos primel ros anos, o proprio relato de Augusto sobre sua intendén- cia, 0 Res geszze, um modelo de falta de engenhosidade, e 0s poetas augustanos. © inico re dependéncia com relago 8 sua versio ¢ obvi sfatéria, da mesma forma que nossa depen ¢ Horio no tocante a boa parte da ideolo- (0 consigo imaginar uma cidade, regiio ou pals”, ou uma instituigio da Antiguidade (com duas exce- $8es correlacionadas &s quais voltarei em breve), sobre os quais seja posstvel escrever uma histdria sistemética que abranja um substancial perfodo de tempo. Alguns inciden- (© ESTUDIOSO DA HISTORIA ANTIGA E SUAS FONTES 17 iduais podem ser apresentados historicamence, tal- \go da escala da conquista da Gélia por César, mas nada além disso. Essa 6a triste conseqtiéncia de nossa escas. as, A menos que algo tenba jst6rico mais ou menos con- temporineo, a nazrativa fice perdida para sempre, indepen sntemente de quantas inscrigdes e papiros possam ser des ~Basta fembrar a histéria de Atenas e do Imperio “Ateniense durante os quase cingiienta anos que se estendem entre as guerras persas e as do Peloponeso, um perfodo co em testemunhos epigraficos, mas sobre o qual Tue des preferit: nao escrever um relato sistemético. Nio po- demos sequer datar algumas das batalhas que Tucidides ‘obviamente julgava importantes. oye ‘As excegdies esta, por-um lado, na histéria das idéias, ificamente na historia d: historia da arte e da tecnol centre foater literirias e docum: de seu significado; na segunda, 1em 05 proprios objetos. Existem sérias Jacunas, sobeja- nte conhecidas para que as enumeremos, ¢ ambém sem, por exemplo, de nossa incer- im para a al locais a respeito dos quai nhecimento, no apenas A detalhada narrativa da histéria p guerras ¢ diplomacia, do processo de governo, diante — por exemplo, Atenas na tilkima parte do século V ¢ (aise Eee Sy 18 HISTORIA ANTIGA boa parte do IV a.C,, 0 iltimo século da Repiblica Roma- nae os primeiros dois séculos do Império. Entretanto, essa sivuagio ideal no nos deve ocultar a inadequacio, amitide a inutilidade, dos testemunhos disponiveisreferentes a0 resto da Grécia, fora Aten las provincias romanas durante a maior par- ‘a, Mesmo no tocante 4 histéria politica, exis tem grandes lacunas nos perfodos por nés-mais conhecidos, como fui levado a confessar repetidas vezes em meu liveo Politics in the Ancient World (Politica no Mundo Antigo) | basta mencionar nossa jgnorincia fundamental de como fu cionava a comitiatribuaa e esse era o principal gio leg lativo da Repibliea Romana desde de € aarena em que atuavam os tribunos. Um fator complica. dor a relorsar 0 quadro negativo que estou esbocando é a ureza aleatdria da documentagio que chegou até nds, em srande parte um material desconexo e desligado de um con- texto mais amplo; embora ilustrativo, esse material nio é \nem serial em sinético, ‘Ao fim ea0 cabo, nio é de surpreender que os estudan- tes universitérios de histdria, com algum conhecimento de fontes referentes i, digamos, Inglaterra dos Tudor ou 4 Fran- ga de Luis XIV, achem a histéria antiga um “tipo engraca- do de histéria””. A inevitivel dependéncia dos poemas de Horio como fonte de informasio sobse a ideologia au- sustana, ou da Ewménides de Esquilo pase conhecermos 0 momento decisivo da histéria ateniense, quando se dava um asso adiante em relacio a0 que conhecemos como a de- iocracia de Péricls, ajuda a explicar esse “engragado”” Mas a estranheza vai muito além disso, estendendo-se até 0s pro prios historiadores que se ocupam da Amtiguidade, parti- cularmente no tocante a duas de suas caracteristicas mais difusas: extensacitacko direta de disc assez de referdncias (8 parte as citagSes) a documentos reais, pibli- (© ESTUDIOSO DA HISTORIA ANTIGA E SUAS FONTES 19 $g8.0u privados, Os discursos sfo, para nés, um fendme- no extraordinario e produzem incriveis reagdes entre os comentadores modernos. Temos poucas razées para con- siderar os diseursos como algo inventado pelos historiador gua isa, mas também om certeza era assim que eram entendi- dos na Antiguidade: testemunko disso é a longa discussio presente no ensaio de de Hialicarnasso sobre Tue {ides (cap. 34-48); Dionisio foi um dos argutos ¢ ert tgs.criticos da Antiguidade c, também, um prolifico escr tor-de discursos, reunidos nos multiplos volumes-de-sua Antiguidades Romanas. Os escritores modernos véem-se &s voltas com dificul dades. A posigio de Dionisio de Halicarnasso nio s6 pare- ‘ce imoral — jf se afirmou que deveriamos ver Tucidides co- ‘mo “‘cego e desonesto” —, mas, 0 que & ainda pior, de- vemos levar seriamente em considerasio a necessidade de abrir mio das passagens mai Herédoto, Tucidides, Pali iio Cassio e outros, como fontes primérias-au secu - Nao hi escolha: se as substincias dos discursos ou sua forma nfo so auténticas, entio nio podemos enienses em 430 a.C. que seu império “é como um tigte a € aparentemente injusto aceité-la, mas perigoso renut} Ai” (Tiles 263.2), Nao tno tenia dnd disse nessa ocasio, mas o mesmo acontece com inumeriveis historiadores que repetem o discurso que de citar. Com excegio de Tueidides,¢ talvez de Po- nio existe mais nenhum argumento sério, embora a relutncia em aceitar as conseqiiéncias se faga evidence em, todos os lados, quase sempre com distorgdes extremas, o> mo a “demonstragio” de que Tuetdides podia ter obtida informagdes precisas eauténticas para todos os seus discus 20 HISTORIA ANTIGA no, ou como a desco- 0s, inclusive para 0 berta de que existem “dois ccunstincia, outra de persp: Nio creio que seja possivel “salvar” nem mesmo Tuck dlides, uma vez que se afirma tratarse de uma questio de honestidade, de moralidade, em termios do século XX. Afi nal de contas, nio pode haver duividas de que, em indimeras ente registrava que uma figura tar e até mesmo um determi- vam uma determinada mane de agir como conseqiiéncia de uma determinada idéia, nigo ou julgamento, quand thor das hipdteses, set tava da conclusio do prépr ador com relagio is ne es que levaram a essa maneira de agir, uma inferéncia que remonta da acio ao pensamento™, Esta é uma das muitas, {6rmulas surpreendentes por ele adotadas: “Depois de fa. zex-este-discurso, Brésidas comerau a retirar seu exército, 03 bérbaros, vendo isso, aproximaramse, gritando com gran- estava fugindo ¢ que deviam (4127.1). Devemos acreditar que Te- e ostura a0 escrever.es5 MES: mas sentengas intimeras vezes, ot a0 escrever todos os seus discursos em seu préprio estilo, quando tinha interlocuto- res gue replicavana outgosdiscarsos por eles possivelme teidesconhecidos, como sucedeu quando inventou 0 Didlo ge Meliano'*? ‘E um lugar-comum repetido até a exaustéo afirmar que 0s discursos, nos historiadores da Antiguidade, representam “ma convengio hé muito estabelecida’” que “lembra a longa assaciaco da historiografia, desde.os seus inicios, coma poe- sia épica e 0 drama’, Nio hi dividas quanto a isso, mas nenhuma convengio é inalterdvel e, se esa sobreviveu por mil anos ou mais, é insustentével afirmar que todo escritor cera indiferente ao fato de ser um falsifcador, tanto mais gri- 2 © ESTUDIOSO DA HISTORIA ANTIGA E SUAS FONTES tante quanto mais ele insistia, junto com Tucldides © bio, em que um historiador tinha a obrigagio de contar ape- nas a verdade, Tuctdides devia ter algo mais em mente do yue pena o simples Togro de seus leitores, quando, na breve fo, na breve esarigto do método em seu primeiro Tivro, esereveu a imi pressionante sentenga (1.22.1) que afligiu os comentaristas por cerca de dois séculos, sem qualquer-perspectiva de re solugio das dificuldades: meu méwodo que se atém o mais possivel ao senti que si0 realmente pronunciadas, tem sido fazer com. que qroradores digam aguilo que, em minha opinio, é pedi por cada situagio” Partimos de uma premissa errOnea 29 dmitir que os gregos ¢ romanos consideravam 0 estudo € ‘a escritura da historia da mesma forma que o fazemos alernativa 20 em Tucidides: permitido 0 6 estilo trai a falta de inveresse qu salmente disse em. nada situagio®... No me parecem que os discursos sejam hist6ria, mas sim comentarios de seus oradores, uma reconstituigio feita por Tuc! seus motivos ¢ intencSes... uma conven¢io caract tama espécie de v tos sio, platonicamente falando, panadei mata. “Também nfo constituia um habito ‘evidente dos histo- riadores antigos parafrasear ou, ainda mais raramente, ¢i- isa OU minies 23 0 ESTUDIOSO DA HISTORIA ANTIGA E SUAS FONTES 2 HISTORIA ANTIGA far um documento”, Tucidides omitiu de maneira noté- ‘a qualquer referéncia a documentos na definigio de seu inétodo (1.22), fazendo uso declarado deles em apenas umn Pequeno nimero de vezes, muito embora demonstrasse, ‘Rum contexto que era essencialmente irrelevante para sua © que se podia fazer para se obter testemunhos atre. ertacia gia de duas brevesinscrgdes (6.5), Pare | iy ta explicagdo para a indiferensa universal dos histosiader £es egos romanos pelos documentos jaznaescassez des tes \ é anal- jis-¢.no estado rudimentar dos arquivos®, Os modernos fabeta e de expressio basicamente oral, O homem pode Historadores lembrags constantemente asi mesmos que a servirse razoavelmente bem, em uma sociedade pré-indus- ppapelada pela qual esto cercados nem sempre foi produ _ natural” do comportamento humano, Na longa hiseéria ido greco-romano, a document: #40 maciga caracte- Z zou apenas a sociedade peculiar do Ego ¢, de mancira Ai. muito limitada, as cores imperiais do final do Império Ro. if imano. inclufam fiegdo e semifiecio misturadas aos fatos. E por is V Gineiars os documents. a manstensto dos cepie pe age eee urea ane ig Epo ir A tose os arquivos consttuem uma fan da sociedad tae ei . em grande parte de fa. logia e as necessida- no Egito tinham pouco em | CClissica ou de Roma. Na gers. a z isiativa de Arist6teles de coletar e pu- missio oral, ao longo de muitas geragdes, mas vivis registra pblios, Crtero, Prodi? | Ceo 2 lenge de sti eta lo pasiado que nio um.de seus discfpulos macedénios, Ppublicou um conjunto 2 so mais essencia js. ou mesmo significativos para a vida. con de dectetos atenie temporinca invariavelmente implica chegava até a metade do si e irrecuperdveis de dados, ou combina escassez de documentos primitivos por ele localizados; ¢ a pulagio ¢ invensio, infreqiiéncia de usos identificéveis de sua colegao nos skew 2 teeamilide: sfeitamente compreen: {os posteriores (exceto em confusas questdes de linptetion 0 pastar do tempo, tornuse absalatasemr Timpossivel con- tugere a auséncia de um grande interesse pelo trolar qualquer coisa que tenha sido transmitida, quando der um instromento instimavel para ilo se dispde de nada escrito com que se possa confirmar ria, Quanto a Roma, pouco mais de uma ' u HISTORIA ANTIGA n © ESTUDIOSO DA HISTORIA ANTIGA E SUAS FONTES 25 | as declaragBes a respeito do passa é ae ae ion i au passado. Mais uma vez, suspei- “filo véncia de fragmentos substanciosos das Doze ‘Tabuas no sé- | enna pide ns span aoe me es x | culo V, escritas em um latim classico facilmente traduzi- TS a remleea? aaos - yel, © que, por exemplo, significa a seguinte sentenca ex tralda Doze Tabuas: ‘“Patronus si iti fraudem face- rit, sacer esto”? Se, para a resposta, tivéssemos de nos basear | apenas.nas Doze Tabuas, deveriamos dizer que nio temos qualquer ii quanto a0 significado, Conquanto pos século V in mos tradigao a, que se refere a clientes, a resposta eee ig ainda, que desconhecemos 0 significado, mas contamos aie era e ano brea romans Cony ‘com varias explicag6es diferentes e incom entre si SR he ees eradas de muttos séculos posteriores. Estas explicages, po- gue Tico, Sueno e Dido Cissio, todos com aceso aos tém, sto dignas de crédito, pois também desconheciam ¢ | RTE es a eet train incapazes de diferenciar a primitiva clientela da inst- poe ee eee 4G, que ninguém tuigio conhesida como tal em seu prépriovempo. Na vet | Exsettade que o que chamamos de “isd dade, es no viam qualquer ncesidade de uma diferen- ¢um rétulo inadequado para um conglomerado muito com- plexo de dados”, que inclui informacdes lingilsticas €30- } (ee at rds jiosas =e } \y Bap coma narrative de guerra, conipragsedploms conebual" para o entendimento des Ses e dis o> | in Enusstano, a narrativa Fa rain dered; sem dla mudangas sociais de longo alcance™, seus historiadores no nos Seria mn podiam estabelecer suas proprias nogdes de dados, ‘ye documentos, que eram descobertos por seus antiquirios; plo, como devems iados. 5uco podiam estabelecer a confuabili dele? O que i Mesmo nés, a quem nao faltam conceitos, e uma longa ex- ae Meanie Noles Oo periéneia com téenicas de avaliagio e interpretasio, temos ePebs ta tradicso I are icios supostamente graves dificuldades no trato dos periodos para os quais 0s ‘aria? Nao existe nenhuma ga- testemunhos derivam em grande parte da tradigio oral € {simos documentos, essen: tuem patente ficso, como, por exemplo, tica da Atica por Teseu ou a fundacio de Roma por Enéias; mas logo refutamos essas ficgdes facilmente identificaveis. Para o grande nicleo da narrativa, temos diante de nds 0 © rapto das sabinas, por a se mostra fund 4. com relagio & primitiva lei romana, a despeito da sobrevi- % HISTORIA ANTIGA “gerne da verdade", ou seja, a possbilidade, e desconheso ‘qualquer estigma que faga a distingZo automatica entre a fic- fo eo fato. A natrativa, como é apresentada por Livio ou Dionli (a quaspodemos seesentar as vids de Plu tarco referentes a Teseu, Licurgo ou Sélon), “deve ser im- placavelmente esmiugada para que ae sinals anacronismo ou embelezamentos”, escreve Ogilvie”. En- ‘tretanto, em uma obra anterior, Ogilvie jé havia levantado diividas quanto a esse procedimento, 20 observar que “a bus- ca de anacronismos ou referéncias contemporineas” nas fon tes de Livio datadas do final da Repéblica e referentes 20 periodo primitivo “é algo peculiarmente arriscado e impro- ficuo, uma vez que toda alusio cesariana, depois de exami- nada, acaba por se revelarigualmente mariana ou sulana”®2, um uso atento e criterioso dos mode- 105 ocuparemos nos capitulos ivos (dos quais n¢ istBria antiga™, A arqueolo- to. Em uma compreensivel rea- produzida por geragées anterio- res de antropélogos ¢ arquedlogos, um grande segmento dos estudiosos da pré-histéria, hd mais ou menos duas décadas, -m clamado por um esforgo em se definir a arqueologia | “como uma disciplina em si, preocupada com os dados at- tam certos processos arqueoldgicos e termos de objetivos, conceit testado dentro e fora da area dessa disciplina®, Apesar dis- so nenhum estudante bem-intencionado pode ignorar 0 tra- (© ESTUDIOSO DA HISTORIA ANTIGA E SUAS FONTES 27 arqueologia” no ambito da sour € uma antiquada historia da arte da conserva um tiimero consider‘vel de seguidores, domi- nando alguns setores, afetando e restringindo 0 trabalho ar- queolégico desde a escolha ini Ai I dos lugares de escavagio lise final dos achados”. Em 1973, 0 entio leitor “Umi confronto entre a nova arqueologia ¢ & Grécia sica ainda esté por acontecer, e talvez, nunca acontega uma id vez que 0 arquedlogo clissco se apéia em uma formagao Iiteraria completa e informativa, bem como ne histéria da 6 que as contribuigées das novas técnicas nunca con- 4o igualar, fazendo com que os que as praticam nom nte se mostrem ineficazes, a no ser na detecefo de -agdes,""98 arte, mal fs Bem, 08 arquedlogos classicos que se ocupam da Breta- nha Romana nfo dispéem de nada que se assemelhe «uma formagio literdria completa e informativa ou de uma gean- de arte a que se apegar; assim, eles se voltam para a “at queologia de povoamento” “nova arqueologia” dos estudiosos da pré «em seus proprios termos, ¢ nio como di tudiosos. Por volta da década de 19 vos foram desenvolvidos por arqui 1tdlia, do porte de um Frank Brown cata de Roma, eum John Ward-Pe: nica, para men nas duas das prin ras em lingus yuanto que a escola autéctone de Bianchi Bandinelli deflagrava um ataque em larga eseala & posigdo agora representada por Boardman. A arqueologla sgrega estava reconhecidamente atrasada, mas agora esté $e 605 ‘Academia Ame 28 HISTORIA ANTIGA Os eee 2 (ONY ste abifieagses, nem precio acrescenta) Por mais bemevindo e realmente essenci debate possa ser, parece-me que é, em part do, Para comesar, aeredito que seja falso falar da relagio ike joem de de tes- P i 03 de testemunhos ys histérios®, Porcanto, nfo pode haver divida quanto 4 rem sespondidas. ole TExistem contextos em que os dos tipos de testemunhos tém de se combinar de maneira to est dos dois sera de grande utilidade sem o eles cito o recente trabalho do st as matcas em tijolos romanos ¢ o de G: gy ca em Anforas de Tasos*!, Em nenhum dos ys por mim mencionados exem ivos, conceitos ¢ métodos arqueolégicos” proclamados los romanos ¢ as anforas, ‘mesmos ¢ for | rnecem dados explicagdes histéricas, enquanto qi a las neles inscritos so similarmente ambi inconclusivos, sem uma cuidadosa andlise quant to dos dados inscritos quanto dos achados de st légicos 0 ESTUDIOSO DA HISTORIA ANTIGA E SUAS FONTES | 29 complementam de uma forma ou de outta. F, Por Veo, recem ser mutuamente inconsistentes Ou ‘estar em conflito direto, Entio, um dos dois deve ceder lugar 20 outros nor smalmente (mas mem sempre) quem o cede € 0 testemunho es crito,a menos que se possa ter certeza de que tanto os textos quanto 0s objeto: srqueoldgicos tenham sido ¢ sendidos cor- retamente, o que nao & necessarjamente uma ct mnclusio fi fou segura. Por exemplo, depois de se descobrir que muitas Snforas do tipo Baldacci IM, relacionadas com Dressel 6, eam ria identificada por Plinio (Histdrta wal 15,8) como importante centro produtor de az conchui-se que se tratava de recipientes para azeite, PrnciP sio sobre os vinhos, io ha- mente porque, ém sua discs sa reunido os do Norte da edlia sob Entetanto, boje etd claro gue Plinio nfo falava no sentido feo e que a cerimica do tipo Baldacci II continha dio, e no azeite®, Por outro lado, 0 desaparecimento, Por volta da época de Tr: 10 Dressel 2-4, que fora por muito tempo o padrio italiano para os rec Jevou A conclusio de que a exportasio ‘theceu um final abrupto nessa époc. dos ¢ eircunstancias restemunhos es te Galeno ¢ Frontio, referentes & continua po} famoso vinho falerniano da Campinia, no final do nfo podem ser postos de ldo; portanto, devemos co vmudanga nos recipientes ocorreu na época de Trajano, a Jinda no tenhamos sido capazes de identi 10 Dressel 2-44, Essa éa ex: plicalo ecentemente proposa por André Teheraisesnbo” vain haia até agora uma confirmagio, la écorroborada pe Te desoberta (em grande part ainda nfo publicada) nas dus avecchia eda Toscana, de grandes recipien- {ertara guido conhecidos como dali, com até 165 m de altura e 0,82 m de didmetro méximo*. ina de vinhos co- retanto, os repeti ,, notoriamente os idade do et HISTORIA ANTIGA Por razées inerentes 3 nossa historia intelectual, 0s es tudiosos de histria antiga sfo amiide seduzidos por duas proposigdes nfo expressas. A primeira éa de que a: infor: 6" mages das fontes literdrias ou documentais devem ser aceh i¢ possam ser rehutadas (para a satisfagio do ia vidual), Essa proposi¢io deriva da posigio iada do grego edo latim, eé especialmente inaceiti- vel com relagio aos perfodos € romana, em que abundam os testemunhos arqued (que a cada dia se tornam proporcionalmente ainda 1 res) € em que a tradisio liters rica mais per- de um achado} te. histdria da Roma pri-| (L, apoio arqueoligico Doge alamente seletivos. any’ | os ler em toda parte que a arqueol me a, a argumentacio é de que, uma a histéria era apenas uma narrativa (événementiel- 4c), « visio hipercritica da tradigio compreensivelmente se impds JMas, ac 'ar as atengdes para uma histéria mais | sociologica, para novas técnicas arqueolégicas e para um es tudo renovado da topografiae da histria da construsio da as principais linhas i da tragisao a0 lon dans ta longne-ci conservantismo dos romanas ‘sso me deixa intrigado. A tradigfo referente & R primitiva é quase inteiramente de uma narrativa, de uma histoire événemer e assim permanece até hoje, embora t 1g0. de um extenso dado 0 notério (O ESTUDIOSO DA HISTORIA ANTIGA E SUAS FONTES alguns dos historiadores acuais tenham mudado de inte se. A confirmaso que agora est sendo proclamada demo: tase, na verdade, extremamente restrita. E.uma importante descoberta a de que 2s antigas construsées do Forum po- sade loco, isso ni dem agora ser ident referentes a0 mito de Enéias ¢ até mesmo ao culto de Enéias na Itdia Central que remontam ao século V1a.C., mas até agora nenhum desses testemunhos se referem § prépria Roma“, Portanto, nio é de surpreender que os relatos moderns tenhan i gens de Roma para a area nio menos interessante, embora entre Roma e seus vizinhos, existe uma imensa in- consistinga tiir-c-ceata esetio-t-o que os arauellogoe tém desenterrado™, Basta lembrarmos Sétrico, povoado la principais centros da Maver Matata, ‘com particular Cuidado e sofisticaglo nos filtimos anos, tanto. em terra quanto nos navios naufeagados: a cerdimica, prin dando lugar 3 ilusio de que, do greco-romana de cerimica. A cerémica uti coragao pode ser, ¢ foi, produzida em todas as partes do ‘mundo, com yente milhares de peyas a cada ano, ¢ seus fragmé .gem em grande ntimero todos os anos, em todos os "A maior parte dessa cerdmica é “rigo- rosamente an6nima’, especialmente as pesas de mai {ifusfo, indo do tipo bueher e de Corinto do final do pe rlodo atcaico, passando pela cerimica dtica de vidrado ne- 70 ¢ pelo tipo campaniano A, at6 a cerimica roman do perodo imperial Q silencio dos poteséacompanhado pe léncio quase toral das font i (© volume de publicasé« bre a cerfimica romana — 4 qu ‘va — tornowse quase incontrolavel, tratando especialmen- te tanto da tipologia e da cronologia, bases de todo estudo .0, como da tecnologia e dos aspects econdmicos. aprendeu: que 0 centro de distribuisio era lo- cal; que o transporte em longas distncias era predominan- ‘ Jo mat ou rios navegaves)s que os gran es recipientes, as anforas, eram modelados para se acomo- dat aos grandes navios e constitufam a carga que determi- ava a selegio de rotas e portos de desembarque; que ou tros objetos de cerimica — utensilios de mesa, vasilhas para cozimento, limpadas —, também embarcados em grandes wuantidades, eram “parasitas” dos grandes recipientes em .rmos de ocupagio de espago; ¢ assim por diante, Com ex- © ESTUDIOSO DA HISTORIA esto dos tetemunhos fomidos pela cerdmica, de pol ce ce emabarear a mercadoria de um certo mimero de Caer on mereadores em um dinico navio, quase tudo @ mais que sabemos provem dos préprios objetos, sem & iquer tipo, Mas pei i hoje, uma grande deficiéncia. Ao dis cutie a ince fo por toda a bacia do Mediterrineo {i artigos de ceimica de todo o ipo provenientes do Mors rar pritiea que seve infeio por volta da metade do Sec T de prossegui, sempre com crescent vtalidade, sé pratieamente o final da Antiguidade — fenémeno em tequer mencionado pela literatura que chegou até nos Seat ni escreveu: "Mas-ainda nfo.conséguimos (até-o rodutos 0 mais precioso em que foram produzi- ‘até 0 momento”, essa toe cao &comparilnada pelos melhores esudiosos de fe Himica romana, seja ela italiana, gavlesa ou norte-afri- cana’, ficados muitos locais de dimero aind: isi sundo lugar, desconhecemos vteaes de cerdmica ¢a mdo-~le‘obra por eles empre+ fda, com excesdo de um nero relativamente peavene aeisos em que as marcas das anforas indicam 2 presencs ou aauséncia de escravos € jgnordncia a esse respeito ind relagio entre, de um lado, 0s tro, a propriedade ‘aspectos centrais, como 2 ‘oleiros e a ceramica ¢, de ou- terra (inclusive dos depésitos de intricadas, muito m a nés permitidas pel de forma decisiva pela publicaséo, 34 HISTORIA ANTIGA provenientes de Oxirinco, datados da metade do século IIL das olarias localizadas em geandes propriedades do distrito (rase usada no texto), em que os arrendataios, que n como “oleiros que faze: ino”, compro- metemse a produzir a cada ano, respectivamente, 15,000, 24.000 ¢ 16.000 jarras com a capacidade de quatro khows, pelo-que deviam recat a7 deacral See Oo oon es Primeiros casos, ¢ 36 de cada 109 noterceiro. Também se comprometem @ produzir um pequeno niimero de jarras set pago em jarras de vinho ou em étios devem fornecer as olaras, 0 equi- pamento ¢ a matéria-prima; os oleiros entram apenas com a forga de trabalho (nto especificada). Em dois dos casos (0s nio publicados), outros testemunhos reforgam a idéia de que os proprietirios de terra eram pessoas de considers veis posses Que eu saiba, essa possibilidade foi ignorada pelas es- peculagdes sobre o status dos oleiros e das olatias. No es- tou sugerindo que os arrendamentos de Oxirinco represen- rem um método comum de se pér em pritica a produgio de cerkimica no mundo romano (embora nfo veja maneira de demonstrar que ele fosse incomum). Eu simplesmente desejo deixar claro que os testemunhos arqueol6gicos ou a analisearqueolégica, por si mesos, possivelmente nao con- segue pér a nu a estrutura legal ou econdmica revelada pelos papiros de Oxirinco ou pelas estruturis alternativas de Arezzo, Puteolli, Lezoux ou do Norte da Africa. A ex- plosto de retdrica polémica com que Carandini encetra seu Jevantamento da histéria da cerdmica norte-africana nos tl- timos séculos da Antiguidade't serve apenas para desviar ‘atengio da austncia de dados sobre o “modo social de pro: dso” dessa cermica e, em minha opiniao, a impossibi dade de um dia se preencher a lacuna de nosso conhecimen 0 ESTUDIOSO DA HISTORIA ANTIGA E SUAS FONTES 35 apenas através do testemunho arquealdgico. Passo a citar, € e -a vez em minha vida, Stuart Piggy ia € algo que pode ser munho arqueolégico direto...e, a partir d sar a inferir parte da economia de subsisténcia e do homem ‘como parte do sistema ecolégico que 0 cerca. Mas, se tenta- mos inferir esses tépicos como parte da estrutura social ou, no sentido mais amplo, das préticas religiosas,o testemunho co se torna quase totalmente ambigu: como a ela certa feita se referiu Piggott deforma nfo muito seria, permane raosquese n yostos a chamar a Tr6i na” (ou pelo menos de “proto-urbana”) no inicio da Idade do Bronze, quando sua area alcangava apenas cerca de dois acres, “E uma simples questio de definigio de termos”, es creveu Renfrew, e Guidi, diretamente inspirado por essa con- datou a fase proto-urbana 11.6 E duvidoso que essa ja sja de grande wtilidade para o historiador: a defini-

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