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Saree) PROCESSO || ANO 42 ¢ 264 ¢ FEVEREIRO ¢ 2017 | COORDENAGAO: TERESA ARRUDA ALVIM BOOT REVISTA DOS mE 1A oy Teoria Geral do Processo LimigAncia pe MA-FE No Novo CPC, PeNALIDADES E QUESTOES CONTROVERTIDAS. RESPONSABILIDADE DO ADVOGADO BAO-FAITH LITIGATION IN THE NEw Civic PRoceoure Cove. PENALTIES AND CONTROVERSIAL ISSUES. LIABILITY OF THE IMPROBUS LAWYER BruNo Freire € SILVA Doutor € Mestre em Direito Processual na PUC-SP. Professor-Adjunto de Teoria Geral do Proceso nna UERI (graduacéo, mestrado ¢ doutorado) ¢ Professor da Pés-Greduagao em Direito do Trabalho a GV law em Sac Paulo, Membro do Instituto Brasileiro de Direito Processual, do Centro de Estudos Avancados de Proceso e do Instituto dos Advogados de Séo Paulo. Advogado. bfs@brunofreire.com.br Marceto Mazzo.a Mestrando em Direito Processual na UERJ. Advogado. mmazzola@dannemann.com.br Recebido em: 20.09.2016 Aprovado em: 31.10.2016 ‘Area 00 Dinero: Processuat Resumo: 0 artigo aborda a litigancia de m4-fé no novo Cédigo de Processo Civil, analisando as pe- nalidades apficaveis ¢ algumas questées contro- vertidas, como a responsabilizagSo do advogedo que age de ma-fé PaLavnas-cHAave: Novo Cédigo de Processo Civil Litigancia de md-fé - Penalidades - Responsa- bilizago do advogado. Assmract: The text deals with the bad-faith litigation in the new Civil Procedure Code, analyzing the penalties and some controversial issues, like the liability of the improbus tawyer. Keyworns: New Civil Procedure Code - Bad-faith litigation ~ Penalties ~ Lawyer's lit ‘SuwAno: 1. Consideragdes inicais. 2. A evolugao da boa-fé no ordenamento juridico. 3.A boa- ~f€ processual. 4. 0 dano processual decorrente de ma-fé e 2 responsabilidade das partes. 5, Beneficidrio da gratuidade de justica. 6 Hipdteses caracterizadoras da litigancia de mé-fé. ‘Seva, Bruno Freire e; Mazama, Marcelo. litigéncia de ma-f6 no novo CPC. Penalidades ¢ questdes controvertidas. Responsabilidade do advogado. Revista de Processo. vol. 264. ano 42. p. 51-81, Sto Paulo: Ed. RT, fev. 2017, 52 Revista oe Processo 2017 © RePao 264 6.1. Deduzir pretensdo ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso. 6.2. Al terar a verdade dos fatos. 6 3. Usar do processo para conseguir objetivo ilegal. 64. Opuser resisténcia injustificada ao andamento do processo. 6.5. Proceder de modo temerario em qualquer incidente ou ato do processo. 66. Provocar incidente manifestamente infundado. 617. Interpuser recurso com intuito manifestamente protelatério. 7. As sangé ltigante de mé-f6. 7.1. Pluralidade de litigantes de md-fé, 7.2. Responsabi gado em relagao 4s pens de litigancia de m-fé . 8. Conclusio. 9. Referéncia bibliogratica. 1. CONSIDERAGGES INICIAIS . : As garantias e direitos fundamentais previstos na Constituicdo Federal pro- tegem a dignidade da pessoa humana e sao verdadeiros canones da relagdo entre o Estado ¢ os individuos. Na atual fase de constitucionalizago do direito, denominado de neoconsti- tucionalimo pela doutrina, 0 novo Cédigo de Processo Civil (NCPC) positiva no seu texto princfpios consagrados na Carta Magna, como isonomia, seguran- ¢a juridica, duracao razoavel do processo, proporcionalidade, razoabilidade, legalidade, eficiéncia e publicidade, entre outros. Além dessa constitucionalizagdo do processo, promove a boa-fé a norma fundamental, dispondo que todo aquele que participa do processo deve com- portar-se de acordo com a boa-fé (art. 5.°), determinando, ainda, que o pe- dido e a decisdo judicial devem ser interpretados a luz do referido principio (art. 322, § 2.°, art. 489, § 3.°), com reflexos no ambito recursal (art. 1.013, § 3.°, Il) e na acao resciséria (art. 966, V). Sob outro prisma, a boa-fé também constitui elemento nuclear do dever de cooperacdo, que traduz a ideia de que todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razodvel, decisdo-de mérito justa ¢ efetiva (art. 6.°}. . No processo civil contemporanco, ndo h4 mais espaco para deslealdade’ inverdades, m4-f€ ou qualquer outro artificio capaz de desviar 0 processo de sua finalidade ¢ cumprimento de seus escopos sociais, politicos e juridicos.”:. Exatamente por isso, o NCPC trata com maior rigor a litigancia de'mi4-fé ¢ a conduta do improbus litigator, majorando as penalidades outrora fixadas pélo CPC/1973, especialmente a multa e a indenizacdo, para desestimular 0 Jitigan- te aatuar de forma desleal ou fmproba. A ideia deste artigo é abordar as inovacées do NCPC sobre a matéria e ana- lisar as controvérsias envolvendo as penalidades dat decorrentes, bem como a responsabilizacao do advogado — que age de m4-fé — pelos danos Processuais causados aos demais sujeitos do processo. « . rio Siva, Bruno Freire e; Mazauy Marcelo, Utigdnela de mB-f@ no nova CPC. Penalidades ¢ questdes controvertidas. Responsabilidade do advogado. Revisto de Processo. vol. 264. ano 42. p, 51-81. Sdo Paulo: Ed. RT, fev. 2017. * Teoria GeRAL D0 Processo 2A EvoLucho DA BOA-FE NO ORDENAMENTO “JURIDICO ‘eelata- -se que a primeira manifestagio de repressfio ao abuso do direito apa? receu no Codigo Filipino, por orientagdo das Ordenacoes Manuelinas." De toda forma, a nogao de boa-fé (bona fides) foi cunhada primeiramente no diteito romario, Foram os romanos que iniciaram os estudos sobre o principio da béa-fe; dando-Ihé um significado ético que mais tarde se transformaria em uin instituto juridico adotado em varios patses. * No. direito romano, 0 vécabulo ‘fides apresentava trés significados. O pri- imeiro “constava da lei das XII tabuas, a chamada fides-sacra, ligada a boa-fé de conotagao religiosa e moral. Fides era a deusa da palavra dada, representante da fé jurdida e protetora dos segredos. O segundo significado, a fides-fato, estava ligado a nocao de garantia e o tiltimo relacionava-se & fides-ética, vista como umdeverta ae bor No periodo da Idade Média, o direito civil foi fortemente influenciado pelo d lireitd cainOnico, fase em que a boa-fé traduzia uma carga ética que se equipa- fava a auséncia de pecado. . “ja no Estado Liberal, época marcada pelos fortes influxos da Revolucao In- dustrial e da Revolucéo Francesa, 0 consensualismo triunfou, apoiando-se no pinicipio da autonomis da vontade em detrimento da boa-fé.° poledo, ° ‘que, : todavia, nao foi suficiente para permitir seu desenvolvimento, Ja que nesse moniento Feinava © pensamento de que o juiz era apenas a “boca 2 : tia a seguinte Fegth: Se algumia pediod citar outra, ¢ der peti¢ao por escrito, ou por palavra contra ela, antes de vir o tempo, ou condicao, em que lhe é obrigado fazer, ou pagar alguna coisa (quer o réu pareca em Juizo por si, ou por seu Procurador, quer no), tal pessoa nao sera recebida em Juizo a fazer tal demanda, e pagard ao citado as = 44ycustas em dobro, que thes fez fazer. E, se depois que 0 dito tempo, ou condicao vier, ‘© quiser tornar a demandar por mesmo, nao sera a isso recebido, sem primeiro pagar as ditas custas, se jé Ines nao tiver pagas. E, além disso, haverd o réu todo aquele =? tempo, qite faltava, para haver de ser demandado, quando o autor primeiramente 0 demandou, com outro tanto. (CASTRO FILHO, José Olimpio de. Abuso do direito no & ».processo civil. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1960. p. 75). “<2. LIMA, Francisco, Breve histérico sobre a boa-fé objetiva. Dispontvel em: [http://fran- 1 ciscoladvjusbrasil..com. br/artigos/113108006/breve-historico-sobre-a-boa-fe-objeti- “+ wa]. “Acesso em: 17 jun.2016. 3. HENTZ, Andre Soares. Origem e evolugao histérica da boa-fé no ordenamento juri- & gdico brasileiro. Disponivel em: [https://jus.com. br/artigos/10427/origem-e-evolucao- -historica-da-boa-fe-no-ordenamento juridico-brasileiro]. ‘Swim, Bruno Freire e; Mazzota, Marcela. Litigancia de mi-fé no novo CPC, Penalidades e questdes controvertidas. Responsebilidade do advogado. Revista de Processo. vol. 264. ano 42. 9. 51-81. S80 Paulo: Ed. 3, fev. 2017. 53 54 Revista ne Processo 2017 * RePro 264 Antonio Menezes Cordeiro explica o fracasso da boa-fé no espaco jtiscul? tural francés, destacando “o bloqueio geral derivado de uma codificagao fas. cinante e produto das limitagoes advenientes de um positivismo ingénuo exegético”.* * ve Benen. . ‘ Na verdade, a boa-[¢ s6 ganhou projecio a partir da entrada em vigor do Codigo Civil alemao (Bargerliches Gesetzbuch — BGB), em 1900, pasando, 8 partir daf, a influenciar as demais codificagdes modernas. gbrour otis of rare Nao se pode olvidar que os contornos atuais da boa-fé objetiva & luz do pen- samento juridico ocidental sao resultado direto da doutrina e, principalmente, da jurisprudéncia alema. Afirma-se que o desenvolvimento da cléusula geral da boa-fé constante do BGB foi o principal responsével pela difusto do princt- pio em outros sistemas.de diyeito codificado.>, - . citar ~ 2b niyon & ober [ Sem duvida, wma das maiores contribuigdes do BGB foi a distingao entré’a boa-fé subjetiva (guter Glauben) ¢ a boa-fé objetiva (Trea und Glauben): © * A partir do regramento tedesco, alguns cédigos civis europeus, Como” por exemplo, 0 italiano (1942), o portugues (1966) e 0 espanho] (1974), adotaram expressamente a boa-fé objetiva em seus ordenamentos juridicos. 24 ot “L Aqui no Brasil, o primeiro tratamento legislative da bos-fé encontra-s¢ n6 art. 131 do Codigo Comercial de 1850,¢ dispositivo que nao gozou de, tanta efetividade, pois a boa-fé foi restringida a funcdo de interpretacdo/integraciio do contrato, nao se reconhecendo seu papel de criadora de deveres. ok Mais tarde, no Codigo Civil de 1916, a boa-f€ ganhou propulsdo, com énfase em questdes de familia, possesséria, usucapiao e pagamento. Porém, de acorda com Judith Martins-Costa, a preocupacao excessiva de Clovis Bevilaqua com a seguranca, certeza e clareza nao permitiu a insercdo de clausulas gerais e, por essa razdo, a boa-fé ficou restrita as hipoteses de ignorancia escusavel.’. 4. CORDEIRO, Antonio Manuel da Rocha Menezes. Da boafé no diveito civil Almedina, 1984. p. 267. teeg oe . 5. NEGREIROS, Teresa, Fundamentos para uma interpretacao constitucional do prinef- pio da boa-fe. Rio de Janeiro: Renovar, 1998. p. 48-49. - . so Art. 131. — Sendo necessdrio interpretar as cldusulas do contrato, a interpretacao, além das regras sobreditas, serd regulada sobre as seguintes bases: 1. a inteligencia simples e adequada, que for mais conforme a boa-fe, e ao verdadeiro espirito ¢ na- tureza do contrato, deverd sempre prevalecer a rigorosa e restrita’ significacdo das palavras. oa . MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no direito privado: sistema e topica no processo obrigacional. Sao Paulo: Ed. RT, 2000. p. 267. ‘ae ‘oad. a ~ ‘Siva Bruno Freire e; Mazzoua Marcelo. Litigancla de ma-fe no novo CPC. Penalidades e questées controvertidas. Responsebilidade do advogado. Revista de Processo, vol. 264, ano 42. p. §1-81. Séo Paulo: Ed. A, fev. 2017. Teor Gerat 00 Proceso 55 '.Décadas depois, com o advento do Cédigo de Defesa do Consumidor (1990), a boa-fé passou a ser invocada nao apenas para a interpretacdo de cléusulas con- tratuais, mas também para a integraco das obrigacdes pactuadas, exigindo um comportamento escorreito e leal das partes no cumprimento de suas presta¢oes. * Contudo, o grande apice de valorizacao da boa-fé no tratamento legislativo veio com 0 Cédigo Civil de 2002, que passou a considerd-la ndo apenas em casos de ignorancia escusavel (aspecto subjetivo), mas também como fonte de deveres auténomos nas relagées contratuais (aspecto objetivo), através de clausula geral no prélogo das normas de direito contratual.® Com isso, acentuou-se a distin¢ao entre a boa-fé subjetiva e a boa-fé obje- tiva. Como se sabe, a primeira denota estado de consciéncia ou de convenci- mento individual de atuar em conformidade ao direito aplicvel, importando a intengao do sujeito da relacdo jurtdica, o seu estado psicoldgico ou sua intima conviceao.? J4 a boa-fé objetiva pressupoe um padrao objetivo de conduta, de lealdade, transparéncia ¢, ao contrario da boa-fé subjetiva, o estado de animo € a intengdo dos agentes nao tém qualquer relevancia.'° Trata-se de preceito de mao dupla que funciona como espelho de conduta dos sujeitos."" Para os fins deste artigo, entretanto, importa analisarmos um dos desdobra- mentos da boa-fé: a processual. 3. A B0A-FE PROCESSUAL Como relagdo juridica plurissubjetiva, complexa e dinamica,”” 0 processo vem perdendo ao longo do tempo a natureza de instrumento ético voltado a pacificar com justica,! muito em fungdo da conduta dos.sujeitos. 2 -BIERWAGEN, Monica Yoshizato. Princfpios ¢ regras de interpretacdo dos contratos no + novo c6digo civil. Sko Paulo: Saraiva, 2003. p. 53. MARTINS COSTA, Judith. A boa-fé no direito privado: sistema e t6pica no processo obrigacional. Sao Paulo: Ed. RT, 1999. p. 411 10. KHOURI, Paulo R. Roque A.. O direito contratual no novo Cédigo Civil. Enfoque « Juridico ~ Suplemento Informe do TRF da 1. Regiao. n. 105, out, 2001. p. 4. 11. MAZZOLA, Marcelo. A boa-fé objetiva sob o novo Codigo Civil. Dispontvel em: (www.dannemann.com.br/dsbinvBiblioteca_Detalhe.aspx?6:1D=674&pp=2&pi=2}. 12. GRECO, Leonardo. Garantias fundamentais do processo: 0 processo justo. Estudos de direito processual. Campo dos Goytacazes: Ed. Faculdade de Direito de Campos, 2005. p. 225. 13. GRINOVER, Ada Pelligrini. Etica, abuso do processo ¢ resist@ncia as ordens judicia- tias. O contempt of court. Revista de Processo. n. 102. abr.-/jun. 2001. p. 109. 2 ‘Suwa, Bruno Freire ¢; Mazz Marcelo. Litigancia de mé-f€ no navo CPC. Penalidades e questdes controvertidas. Responsabilidade do advogado. Revista de Processo. vol. 264, ano 42. p. 51-81. S40 Paulo: Ed. RT, fev, 2017. 56 Revista DE Processo 2017 * RePro 264 E, diante da degradacao dos valores éticos da sociedade, surgiu a necessidade de reprimir as condutas de ma-fé praticadas pelos sujeitos processuais, incorpo- rando-se, , 208 deveres processuais a regra de atuar “com responsabilidade”.'* Com efeito, a instauracao de um processo cria para os litigantes uma si- tuagao juridica de sujeigao aos deveres decorrentes do prinefpio da lealdade processual.’> Por. 4 ae Dessa forma, a relacdo juridica estabelecida entre as partes ¢ 0 juiz? assim como dos litigantes entre si, rege-se por normas de conduta que devemi'ser observadas e respeitadas por todos os sujeitos processuais, para que 0 processo nao seja desviado de sua finalidade, garantindo-se, assim, uma prestagao juris- dicional justa, com ética, lealdade e em tempo razoavel. “2+. tt Nesse contexto, a boa-{é processual passa a ser considerada ‘tm subprinci: pio geral da boa-fé, materializando-se norma finalistica que exige a delimitacao de um estado ideal de coisas a ser alcancado por meio de conportamentos necessarios a essa realizacao.'® pores Ten Sales E definida uma diretriz de conduta fundada, principalmente, na lealdade? consideracdo e respeito as expectativas legitimas das partes ede todos aqueles que participam do processo.'7 * O CPC/1939 jé previa a responsabilizacdo das partes pelos danos causados: quando fosse promovida demanda por espfrito de emulacao, mero capricho ou erro grosseiro.'* Como a norma se direcionava essencialmente ao autor, a doutrina criticava a vantagem legal conferida ao sujeito passivo da relagao juridica processual.” ot Fee ae : oe a toy sa . 14, LOPES, Joao Batista. O juiz ¢ a titigancia de ma-fé. v. 86. n. 740. Sao Paulo: Ed. RT, 1997. p. 133. 15. LUCON, Paulo Henrique dos Santos. Sangdes processuais e aplicago da lei proces- sual no tempo. Coleco Grandes Temas do novo CPC. Direito intertemporal. cap. 24. DIDIER JR, Fredie (coord.). Salvador: JusPodivm. p. 390. . beck 16. AVILA, Humberto Bergmann. Teoria dos principies. SAo Paulo: Malheios. 12. ed. 2012. p. 98-99. - 17, PINTER, Rafael Wobeto. A boa-fé no processo civil ¢ 0 abuso dé‘dircitos processuais. a Revista de Processo. ano 41. v, 253. Sao Paulo: Ed. RT, mar. 2016. p. 140. “oe 18. Art. 3.° Responderé por perdas e danos a parte quie intentar demanda por espirito de emulagdo, mero capricho, ou erro grosseiro. ton Pardgrafo unico ~ © abuso de direito verificar-se-4, por igual, no exere(cio dos mcios de defesa, quando o réu opuser, maliciosamente, resistencia injustificada ao processo. 19, SILVA, Ovidio Araijo Baptista da, Comentatios a0 cbdigo de processo civil. v1. Sto Paulo: Ed. RT, 2000, p.110. - Seva, Bruno Freire e; Mazo, Marcelo. Penalidades e quest&es controvertidas. Responsabilidade do edvogado., Revista de Proceso. vol. 264. ano 42. . 51-81. Sdo Paulo: Ed. RT, fev. 2017, * * ‘Teoria Gerat 0 Processo 57 “Aléin disso Tefetido diploma legal trazia alguias sangdes para coibir a conduta dos litigantes contraria aos deveres processuais.> +-"Coni a reVogacaa do CPC/1939, o legislador elencou no CPC/1973 novos devere’ das partés’e dé todos aqueles que participam do processo (art. 14), rol que foi ampliado no NCPC (art. 77). Diante das limitagdes deste artigo, o foco estard nas hipoteses de litigancia ‘dé"mé-fé e as respectivas sancées aplicaveis, tema que, no CPC/1973, era tra- tado no capitulo intitulado “Da responsabilidade das partes por dano proces- sual” (aris. 16 ao 18) e agora estd regulado nos arts. 79 ao 81 do NCPC, com algumas modificagées relevantes, que sera exploradas mais adiante. 4. 0 DANO PROCESSUAL DECORRENTE DA MA-FE E A RESPONSABILIDADE DAS PARTES . + “Sempre que um dos sujeitos processuais violar a boa-fé e praticar um ato capaz de causar prejuizo a outrem exsurgira o chamado dano processual, pas- sivel de reparacio. Como se sabe, a m4-fé causadora desse dano repousa no impulso do espfri- to que inspira a ac4o maldosa, conscientemente praticada. Verdadeira antitese da boa-fé, a ma-fé pode ser traduzida na intengdo dolosa de praticar determi- nado ato, mesmo sabendo que ele agride os preceitos éticos, morais ou os bons costumes.”! toed 20. ,Art. 63, Sem prejuizo do disposto no art. 3.", a parte vencida, que tiver alterado, in- tenciontalmente, a verdade, ou se houver conduzido de modo temerario no curso da lide, provocando incidentes manifestamente infundados, sera condenada a reembol- sara vencedora as custas do processo ¢ 0s honorarios do advogado. _ 8 L° Quando, nao obstante vencedora, a parte se tiver conduzido de modo temerario em qualquer incidente ou ato do processo, o juiz deveré condend-la a pagar a pane “contraria as despesas a que houver dado causa. 8 2.° Quando a parte, vencedora ou vencida, tiver procedido com dolo, fraude, ,, violencia Ou stmulacto, seré condenada a pagar o décuplo das custas. 7. § 3. Sca temeridade ou malicia for imputavel ao procurador 0 juiz levard o caso a0 conhecimento do Consetho local da Ordem dos Advogados do Brasil, sem prejutzo do disposto no pardgrafo anterior. 21, SILVA FILHO, Altair Rosa da. Comentarios aos arts. 16 a 18 do CPC — Da respon- » sabilidade das partes por dano processual. Disponivel em: [www.tex.pro.br/fome ©, aitigos/71-artigos-nov-2007/5687-comentarios-aos:arts-16-a-18-do-cpe-da-respon- J Sabilidade-das-p]. com ‘Sn Brono Freire €; Mazz0xx Marcelo. Litigancia de mé-f€ no novo CPC. Penalidades e quest&s controvertidas. Responsabilidade do 2dvogado. Revista de Processo. vol. 264, ano 42. p. 51-81. S30 Paulo: Ed. R, fev. 2017. 58 Rewssta o€ Proctsso 2017 # RePro 264 Conforme sintetizou Nelson Nery Jr, éa “intengao malévola de prejudicar” 2 Todo universo forense sente o reflexo indireto da m4-f6, pois 0 argumenio ou 0 pedido protelatério absorve parte do tempo do juiz, do oficiat de justica, dos cartérios e de todo o tribunal,” o que justifica a aplicacao das sangoes cabfveis:, Assim, a reparacao do prejuizo efetivamente sofrido; isto €, do dano proces- sual, € consequéncia légica da mé4-{é do agente. aut O art. 79 do NCPC estabelece que responde por perdas ¢ inns agi que litigar de m4-fé como autor, réu ou interveniente. : Em comparacao ao CPC/1973 (art. 16), houve uma sutil ahieragao. oO leg ° lador alterou a expressao “pleitear de ma-fé” por “litigar de m4-f6”. . Uma mudanga singela, mas importante, pois qualquer sujeito processual pode agir de ma-fé, mesmo sem pleitear nada, 0 que ocorre, por exemplo, quando se omite dolosamente fato relevante para o julgainento da causa. Além do autor, incluindo-se af 0 Ministério Puiblico,’ réu ¢ litisconsortes, 0 interveniente pode ser responsabilizado, isto ¢, 0 assistente (art. 199 do NCPC), o denunciado (art. 125 do NCPC), o chamado ao proceso (art. 130 do NCPC), 0 sujeito objeto do incidente de desconsideracao da personalidade jurtdica (art. 133 do NCPC) ~ que se tornam partes ou litisconsortes apos sua Ladmissa0 no processo —eoamicus curiae (art. 138 do NCPC). Também podemos mencionar o terceiro prejudicado (art. 996 do NCPC). Conforme lic¢ao de Barbosa Morcira, “ ‘imterveniente € todo aquele, nao par 2 S NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria Andrade. Codigo de Processo Civil comen- tado. 8. ed. S30 Paulo: Ed. RT, 2004. p. 4. RODRIGUES, Francisco César Pinheiro. Indenizacao na itigancia demas fe ‘584. Sto Paulo: Ed. RT, 1984. p. 12. TREODORO JUNIOR, Humberto. O processo civil brasileire: no limiar’ co século. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999. p. 70. 25. Existe alguma controvérsia doutrinaria sobre a responsabilidade do MP. Nelson Nery Jr. entende que o Parquet nao se submete as penas de Jitigancia’ de, _mna-fe, ‘fos termos do art. 16 do CPC, respondendo apenas civilmente quando agir cm dolo ou fraude no exercicio de suas fungdes. (NERY JUNIOR, Nelson ct al. Codigo de processo civil comentado ¢ legislacdo processual em vigor. SAo Paulo: Ed. RT, 1999. p. 422). Esse pen- samento ¢ partilhado por Joao Batista Lopes (LOPES, Joao Batista, O juiz ea litigancia de mé-fé. n. 740. Sao Paulo: Ed. RT, 1997. p. 132). Em sentido contrério sustenta Ana Lucia lucker Meirelles de Oliveira (OLIVEIRA. Ana Lacia I. M. de. Litigancia de md-Jé. $40 Paulo: Ed. RT, 2000. p. 70). O STJ tem julgados no sentido de que a condenacao do MP em honordrios advocaticios nos autos de Ac&o Civil Piblica s6 se Justifica em caso de litigancia de m4-fé, 0 que denota a possibilidade de condenacao do Parquet a penalidade em questéo (AgRg no Ag 842.768/PR: REsp 182.736/MG). 2 s 24, z ‘Sava, Bruno Freire ¢; Mazzoua, Marcelo. Litigéncia de md-Fé no novo CPC. Penafidades e questdes controvertidas. Responsabilidade do advogado. Revista de Proceso. vol. 264, ano 42. p. 51-81. Sao Paulo: Ed. RY, fev. 2017. Teoria Gerat 00 PRocesso 59 ticipando do processo desde o infcio, e fora da hipdtese de sucessao, nele angresse voluntariamente, para postular direito seu, ou se veja citado para de- fende-lo”.6 . Por outro Jado, em relac’o aos auxiliares da justica, estes estéo fora do alcance da norma especifica (art. 79 do NCPC), pois nao sao, tecnicamente, intervenientes. Assim, as penas de litigancia de mé-é nao se aplicam ao escri- vao, ao chefe de secretaria, ao oficial de justica, ao perito, ao depositario, ao administrador, ao intérprete, ao tradutor, ao mediador, ao conciliador judicial, ao partidor, a0 distribuidor, ao contabilista, ao regulador de avarias (art. 149 do NCPC), entre outros. Pouco importa se o autor venceu a demanda ou se 0 réu conseguiu de- ‘monstrar a improcedéncia do pleito autoral. Qualquer dos sujeitos que tiver agido com deslealdade no decorrer da aco, poder ser condenado as penas de litigancia de mé-fé, sendo obrigado a ressarcir a parte contraria por todos os prejuizos sofridos. Celso Agricola Barbi, na vigencia do CPC/1973, afirmava que “aquele que venceu a acao, mas infringiu os mandamentos do art. 17, no curso do processo, ‘est sujeito as sancdes do art. 18. Do contrério, ficaria sempre impune a m4 conduta daquele que tem, efetivamente, raz4o no direito que pleiteia. E isto nao € possivel, porque mesmo quem tem o direito a seu favor deve agir corre- tamente em juizo para a sua defesa”” A jurisprudencia ¢ tranquila nesse ponto e reconhece que a parte vencedora pode ser condenada as penas da litigancia de ma-fé.* 5. BENEFICIARIO DA GRATUIDADE DE JUSTICA A gratuidade de justica nao tem o condao de afastar a condenacao pot liti- gincia de ma-fé. E que nao se pode conceder um salvo-conduto para benefi- cidtio - sob o escudo da gratuidade ~ proceder de modo temerario e desleal. 26. BARBOSA MOREIRA, José Catlos. A responsabilidade das partes por dano processu- al no direito brasileiro. Temas de Direito Processual. 2. ed., SA0 Paulo: Saraiva, 1998. p.24. 27, BARBI, Celso Agricola, Comentarios ao Cédigo de Processo Civil. 10. ed. Rio de Janei- ro: Forense, 1998. p. 130. 28, REsp 316.200 SP 2001/0039088-9, rel. Min. Hamilton Carvathido, j. 13.11.2001, T6, ~ "61, BJ 25.02.2002. p. 462; TYSC, ApCiv AC 67.207 SC 2010.006720-7 e JTAERGS 83/239. ‘Stva Bruno Freire ¢; Mazza, Marcelo. Litig&ncia de ma-fé no novo CPC. Penalidades e questbes controvertidas. Responsabilidade do advogado. Revista de Processa. vol. 264, ano 42. p. 51-81. S80 Paulo: Ed RT, fev. 2017. 60 Revista bz Processo 2017 * RePro 264 Nesse sentido, Carreira Alvim destaca que, mesmo o litigante que esteja sob o manto da justica gratuita, pode vir a ser condenado nas san¢oes previstas para a litigancia de ma-fé.” No mesmo sentido, Celso Agricola Barbi assinala que o beneficirio da gra- tuidade de justica deve arcar com os énus gerados por seu ato de torpeza, caso contrario, a isencao das custas processuais em nome do livre acesso ao Poder Judiciério serviria de bilhete para a litigancia de ma-fé.° O ST] tem posicionamento consolidado sobre 0 tema:?! “Processual civil. Beneffcio da gratuidade da Justica. Condenagao em ho- norarios advocatfcios por litigancia de m4-fé. Inteligéncia do art. 18 do CPC. 1. A concessao da gratuidade da Justica néo tem o condao de eximir 0 be- neficiario da concessao do recolhimento da puni¢ao por conduta que ofende a dignidade do tribunal e a fungao publica do proceso, que sobreleva aos in- teresses da parte” (AgRg nos EDcl no AgRg no AgRg no Ag 1.250.721/SP rel. Min. Luis Felipe Salomao, Dje 10.02.2011). Precedentes (REsp 1.259.449/ Ry). A questdo ficou superada com o art. 98, § 4.°, do NCPC, que estabelece que “a concessdo de gratuidade nao afasta o dever de o beneficidrio pagar, ao final, as multas processuais que lhe sejam impostas”. 6. HIPOTESES CARACTERIZADORAS DA LITIGANCIA DE MA-FE No CPC/1973, as hipoteses de litigancia de mé-fé estavam reguladas no art. 17, enquanto que, no NCPC, a matéria estd tratada no art. 80. Com excegao da alteracéo da palavra “reputa-se” por “considera-se” no caput do dispositive ¢ a substituico da concordancia no plural pelo singular no inc. V1 (provocar incidentes manifestamente infundados x provocar incit dente manifestamente infundado), ndo houve qualquer mudanga. Em vista disso, faremos répidos comentarios sobre cada um dos incisos. 29. ALVIM, José Eduardo Carreira. Codigo de Processo Civil reformado. 4. ed. Belo Hori- zonte: Del Rey, 1999, p, 35. 30. BARBI, Celso Agricola. Comentarios ao Codigo de Proceso Civil. v.1. 1. Rio de Janei- 10: Forense, 1998. p. L. 31. No mesmo sentido: RCD no AREsp 185.369/PA, rel. Min. Marco Buzzi, 4.* T., j. 09.09.2014, Dje 18.09.2014. ‘Stun, Bruno Freire ¢; Mazzoea, Marcelo. Litig&ncia de mé-fé no novo CPC. Penalidades e questées controvertidas. Responssbilidade do advogado. Revista de Processo. vol. 264, ano 42. p. 51-81. S80 Paulo: Ed. RT, fev. 2017.

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