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ARQUITETURA CONTEMPORANEA Uma historia concisa Diane Ghirardo ‘Tradugao: Maria Beatriz de Medina 166 ilustragdes, 40 em cores, Martins Fontes ae pa i emit ne opto 86, The a ad ‘Capi 0 50 irre rn aera. “Pt ppc ee ane Teton evs da dg Jet nt Con rls re sma aarti eta meen AP (Cima de Lr es ogi ogra eine Ce tng Man Bat en" Min Sin clea igre | Ampito S202 Age pe mera a ‘pager nr S63) TA Todas 05 dios des eit para Bras servos ua Cones Ramat 80130 1325-00 So Pano SP Brasil Te 11) 32413877 Fas 11) 31056867 mai: ifotamartsfonter com bre mate com he INTRODUCAO DA MARGEM AO CENTRO petiodo posterior a 1965 abriu caminho para uma abordagem dda arquitetura que veio a ser conhecida como pos-modernismo, de inicio nos Estados Unidos e depois em todo o mundo industrializa- do. O pés-modernismo & um conceito diversificado e instivel que tem denotado abordagens estéticas especificas na critica literdria, na arte, no cinema, no teatro e na arquitetura, sem falar na moda € nos conflitos armados. Em 1995, 0 New York Times definiw a guer- ra da Bésnia como uma “guerra pos-moderna’” na qual civis e for- ‘gas armadas jd no se distinguem, o armamento sofisticado quase nao tem papel algum a desempenhar e pequenos grupamentos infor- mais, como milicias ou grupos tribais, substituem o Estado. E difi- cil lidar com essas guerras e dar-Ihes fim através de negociagies, porque jé nao existe a autoridade central No dominio da filosofia e da ciéncia politica, 0 pés-modernis- mo também pode remeter a epistemologia ou a modos determina- dos de reflexdo e conhecimento, ou mesmo a earacterizacdes espe- cifieas da economia politica e das condigdes sociais do final do século XX. O fato de ser uma categoria instivel é uma de suas ca- racteristicas inerentes em estética ¢ epistemologia, uma vez que os teéricos do pés-modernismo the atribuiram a rejeigao da possibili- dade de unidade de forma ou ideologia. A definigdo do significado 2 ARQUITETURA CONTEMPORANEA, de pés-modernismo varia entre os campos ¢ até entre os autores. Na rquitetura, suas conotagdes mudaram consideravelmente entre 1970 ¢ 1995. E-digno de nota que poucas idéias da economia polit ‘ca ou da sociologia passaram para a arquitetura, especialmente as do ‘equivalente econdmico € social do pés-modemismo, isto & 0 pos- {fordismo (ver adiante, p. 37). Em vez disso, no tiltimo quarto de sé- culo teorias do conhecimento e da estética, vindas de outras disci- plinas, infltraram-se na arquitetura praticamente sem relagio com ‘outras Forgas talvez mais importantes, Nesses campos, 0 pés-modernismo apresenta caracteristicas eo- ‘muns, tais como a rejeigdo da visio de mundo unitéria incorporada ‘a0 que chamamos de narrativas mestras, ou seja, os grandes siste~ mas de explicagao, inclusive os da maioria das religides © grupos politicos ou os de Karl Marx e Sigmund Freud, Enquanto as forcas dda modernizagdo do inicio do século XX tendiam a obscurecer di- ferengas locais, regionais e étnicas, o pés-modernismo concentra se precisamente nessas diferengas e traz para primeiro plano o que fora marginalizado pelas culturas dominantes. Talvez isto seja mais bem exemplificado pela énfase renovada nos estudos étnicos © feministas, coma finalidade de dar atengao a vozes que tradicional- ‘mente no tém sido ouvidas. Em outras disciplinas, ha variantes do pos-modernismo que causaram impacto na arquitetura, como 0 pos- estruturalismo © a desconstrugao, que discutirei mais adiante nesta Introdugio. Na arquitetura, em geral, 0 pés-modernismo & compreendido como fendmeno estilistico, Em primeiro lugar, porém, deveria ser ‘entendido no contexto daquilo a que 0 movimento se opds e, em segundo lugar, daquilo que afirmou. O proprio termo pés-moder- ismo indicava a distingdo que os entusiastas da nova abordagem pretendiam fazer no inicio da década de 70: uma arquitetura diferen- tee sucessora do modernismo, que muitos ja comegavam a consi derar anacrénico, Os melhores registros académicos dessa transfor- maga da arquitetura foram publicados por Kenneth Frampton, Mary MeLeod, Magali Sarfati Larson e Heinrich Klotz Em boa medida, como observam Frampton ¢ McLeod, os pri= ieiros polemistas favoriveis ao pés-modernismo e contrarios ao ‘movimento moderno apresentaram uma caricatura daquilo a que se ‘opunham, ou seja, @ elaboragdo formal do modernismo ¢ suas pre- IntRoDUucAO 3 1. Lous Kah, stu Sak a la, Calo, 1959-65, missas sociais e politicas subjacentes. Ficariam isentos desta eritica edificios como o Instituto Salk, em La Jolla, California (1959-65), de Louis Kahn, que a muitos parece transcender os piotes fracassos do modernismo da década de 60 nos Estados Unidos, sobretudo a fetichizagao da estrutura e da tecnologia. Majestosamente localiza- do defronte ao Oceano Pacifico, o Instituto Salk demonstrou toda a ‘gama de interesses formais de Kahn: sistemas mecinicos e de ser- vigo integrados e instalados em andares separados entre os labora- trios, a exploragio de “vazios positivamente expressos”. Kahn res- pondeu ao programa relativamente simples com a proposta de uma divisio espacial de fungées, com escritérios isolados dos laborats- rios para estudo e pesquisa solitiria e salas de reunides separadas. Deixou claros e visiveis os aspectos funcionais do programa 30 mesmo tempo que celebrava o local ¢ seu tratamento virtuosistico do conereto armado. © movimento moderno teve seu florgscimento mai giv. o maior prestigio historico nas décadas entre as duas Guerras co e atin- 4 ARQUITETURA CONTEMPORANEA, Mundiais, quando nasceu com um espirito de renineia ao velho ‘mundo, um compromisso de se voltar para as necessidades habita- cionais das massas © um entusiasmo de explorar o poteneial arqui- tet5nico de matetiais e tecnologias muitas vezes desprezados pela ‘geragio anterior. Exigiu a energia de arquitetos talentosos e dedica- dos em toda a Europa, embora representasse as idéias de um grupo de arquitetos relativamente marginal e socialmente homogéneo e $6 resultasse em uma quantidade modesta de edificios. Embora marcadas por énfases diversas — de um lado, o determi nismo tecnol6gico ¢, de outro, a idéia de auto-expressio estética — as idéias de muitos arquitetos modernistas mantiveram, como cons- tante basica, a crenga no poder da forma para transformar o mundo, ainda que geralmente vinculada a alguns objetivos amplos ¢ vagos de reforma social. Os arquitetos acreditavam de forma apaixonada que a falta de moradias e outros problemas sociais poderiam ser resolvidos com o uso das superficies lisas, polidas a maquina, e do racionalismo estrutural da arquitetura moderna. Esses pressupostos Consttuam o mbssamento ieolgico dos projets urbanos de Le Corbusier para Paris, Marselha ¢ norte da Africa, mas também de seus projetos menores de residéncias particulares, como a Villa Savoye. [Em meados da década de 30, a doutrina do movimento moderno cra eclipsada, em varios locais, pela modernidade interpretada como m classicismo monumental, estimulada em parte pelo interesse e pelo patrocinio do governo da Russia soviética, da Alemanha nazis- ta, da Itilia fascista e dos Estados Unidos. Incentivado por isso pelo exilio de grandes expoentes alemacs do modernismo, como Ludwig Mies van der Rohe, Walter Gropius ¢ Erich Mendelsohn, ‘encorajado pelo apoio entusiasmado de importantes historiadores ‘como Sigfried Giedion, Nikolaus Pevsner e Henry-Russell Hitchcock, ¢, finalmente, pela explosdo de construgées do pés-guerra, o movi- mento moderno adquiriu um significado mitico muito maior que suas realizagdes concretas de antes da Segunda Guerra Mundial. ‘© movimento moderno nao foi alimentado apenas pela nova tec- nologia e pela rivalidade entre geragdes, mas também por concep- ‘bes bastante especificas do papel da arquitetura e da fonte da for- ‘ma arquiteténica, Mary McLeod e Alan Colquhoun exploraram, de ‘modo frutifero, as varias correntes de pensamento caracteristicas do ITRODUCAO 5 ‘movimento moderno sobre a questo de como a forma arquitetOni- ca é gerada, De um lado, alguns arquitetos enfatizavam o funciona- lismo e a geragdo da forma por um tipo de determinismo biotécri co. De outro, os arquitetos enfatizavam a intuigdo e o génio do ar- uiteto enquanto criadores da forma. Os primeiros modernistas mais importantes ~ Le Corbusier, Mies van der Rohe e Gropius — conse- uiram combinar as duas concepgdes aparentemente opostas, mas foram excegdes, A ruptura entre esses dois modos de entender o modernismo tornou-se bem visivel na arquitetura da década de 60. McLeod argumentou que arquitetos como Eero Saarinen e Jorn Utzon consideravam 0 projeto como um meio de expresso altamen- te pessoal, embora sua arquitetura seja mais bem compreendida ‘como estudo das possibilidades expressivas da construco, dos ma- teriais ¢ do programa. Outros comentaristas, como Cedric Price € ‘Tomés Maldonado, enfatizaram a geragao quase auténoma da for- ‘ma. No entanto, 0 que unia ambas as posigdes era a relativa indife- renga quanto & historia ea tradigao, e cada uma delas atraiu seu pro- prio grupo de seguidores. ‘© modernismo adquiriu vida nova depois da Segunda Guerra Mundial, principalmente nos Estados Unidos, onde a estética do ‘movimento modemno, polida, mecanica ¢ sem ornamentos, voltou- se para teenologias como as estruturas de ago e as paredes de vidro para produzir arranha-céus, prédios de escritério e centros comer- ciais a um custo vidvel. Ao mesmo tempo, a nogdo do arquiteto come grandioso criador de formas comegou a dominar as escolas e, depois, a profissio. (Os custos reduzidos © a construgdo mais rapida tornaram os pré- dios modernistas atraentes para incorporadores © administradores urbanos, que aproveitaram a oportunidade para remodelar o centro das cidades nas décadas de 50 e 60, quando a classe média norte- americana fugiu para os subirbios. Como parte das grandes campa- nnhas para “revitalizar” as reas urbanas que se tornavam despovoa- das, as cidades realizaram amplos programas de renovagao urbana, com moradias de aluguel a precos razodveis ¢ grupos de baixa ren- da (principalmente minorias raciais e étnicas) sendo expulsos em favor das brilhantes caixas de vidro que Le Corbusier e Mies van der Rohe haviam previsto mais de um quarto de século antes. Go- vvernos, bancos, grandes empresas ¢ instituigdes culturais como os {6 ARQUITETURA CONTEMPORANEA 2. Avert. Marin & Asoc, Arco Towes, Ls Angles, Califia, 1973. 3. John Prt Asoc, yet Regency Aart, Peeve Cente, Alan, Geico, 1967 aa cental cm ea rmuseus adotaram a arquitetura moderna como sua marca, em pré- dios geralmente bem construidos. Mas os arquitetos ganharam eres cente prestigio ao produzirem edificios para incorporadores mais preocupados com a rapidez, 0 custo baixo e o efeito espetacular. ‘Quando a estética modemnista passou de tendéncia marginal a corrente dominante e 0 mundo assimilou as atrocidades da Alema- nha nazista, as bombas A e H c a possibilidade iminente de destru «ao nuclear, as posigdes politicas opostas articuladas por alguns dos principais expoentes do modernismo no periodo entre as grandes ‘2uerras mundiais desapareceram, principalmente nos Estados Uni- dos, Privados da fé na possibilidade de transformar 0 mundo, as es- perangas e os sonhos dos primeiros utopistas, embora equivocados © parciais, foram suplantados por uma reafirmagio funda enta InrRooUG ‘mente branda que, nos Estados Unidos, veio a asse belido, mas ao poder do capitalismo. As torres de Lake Shore Drive ‘860-880, em Chicago, de Mies van der Rohe (1948-51) e seu Edifi- gram, em Nova York (1958), armaram o paleo para o grande nimero de arranha-eéus esguios € quadriculados que foram cons- truidos nos quinz m contribuigdes, nos Estados Unidos, de outras firmas como Skidmore, Owings & Merrill (SOM), s, John C. Portman Jr, Johnson/Burgee, Al- tin & Associates, Kohn Pederson Fox e Welton Becket Associates. O hotel Hyatt Regency Atlanta, de Portman (1967), em Peachtree Center, Atlanta, Georgia, exemplifica as inovagdes apr tadas por um arquiteto ambicioso que se tornou incorporador. Promovido como nicleo da renovagao do centro da cidade, 0 Peach- tree Center abandonou a tipologia modernista de hotéis em bloco © criou um grande étrio interno com a altura de vinte ¢ dois an Num projeto reproduzido em incontiveis hotéis posteriores de Port- man e de outros, todos os quartos do para o dtrio central e para os elevadores envidragados que levam os visitantes a um restaurante girat6rio encimado por uma ciipula de vidro azul Como os hotéis em arranha-céu de Portman demonstram com tanta elogiiéncia, nas décadas de S0 ¢ 60 0 capital empresarial ja forjara com a estética arquitet6niea moderna o mesmo tipo de alian- ¢¢a mantido com a economia keynesiana, eliminando por completo as conotagdes esquerdistas © recuperando ambas com objetivos diferentes. Durante a década de 30 a comunidade empresarial ame- ricana se opusera ao projeto de John Maynard Keynes de gastos ‘macigos para reequilibrar a economia por consideri-lo financeita- ‘mente frigil e potencialmente ameagador para a ordem politica e social. No final da Segunda Guerra Mundial, porém, os empresi- trios haviam criado um novo consenso sobre despesas defi imaginarem um modelo de keynesianismo, conservador ¢ voltado para os investimentos, que servisse a seus prdprios objetivos. Com essa nova parceria, o capital dos Estados Unidos eomegou a pene- trar em todos 0s cantos do globo; os emblemas arquitet6nicos da modernidade acompanharam outros entulhos culturais americanc como Levi's © Coca-Cola, para a Europa, a Asia, a Aftica ea Am rica Latina, onde substituiram tradigdes nativas locais e reafirm: ram a hegemonia do capital e das instituigdes americanas anos seguintes, {8 ARQUITETURA CONTEMPORANEA, Da década de 50 em diante, a confluéncia de interesses econémi- 05 e estéticos disseminou-se rapidamente a partir dos Estados Uni- dos ¢ tornou-se a quintesséncia da expresso do capitalismo empre- sarial em regides distantes do globo. O sonho de padronizagio que animara alguns segmentos do movimento moderno realizou-se bem mais do que 0 esperado nas construgdes comerciais, e em meados dda década de 60 comegou a formar-se uma reagio. A tarefa de repe~ tir estruturas de ago e paredes de vidro mostrou-se pouguissimo exi= gente, sobretudo em termos de criatividade. Enquanto grandes fir- ‘mas como Skidmore, Owings & Merrill e C. F. Murphy Associates seguiam a direedo indicada por Mies van der Rohe © produziam prédios de alta qualidade, apesar de sébrios e imitativos, outros gru- pos buscavam variantes do movimento moderno de tipo bem dife- rente, hipercelebragdes das possibilidades supostamente libertado- +as do infindével desenvolvimento tecnolégico. Buckminster Fuller nos Estados Unidos, o grupo Archigram na Inglaterra, o Superstu- dio na Itilia € os metabolistas japoneses foram os exemplos mais importantes. As pesquisas pessoais de Fuller com projetos utiité- rios de tecnologia sofisticada, de preferéncia para serem produzi dos em massa, datavam do final da década de 20. Ele mantinha um senso de realidade em seus projetos e reconhecia a necessidade de propor solugdes viaveis para problemas sociais reais. Mas Archi- gram, Superstudio e, em menor grau, os metabolistas puseram fim a. qualquer conexdo tediosa com a realidade. Com uma série de pu- blicagdes vistosas e imagens de quadrinhos e fiegdo cientifica, dei- Xaram sua marca sem levar a sério questées sobre como as coisas setiam construidas, como suportariam a ago do tempo e quais se- riam as conseqiiéncias sociais para as pessoas destinadas a ocupar suas cidades Fantisticas. Quase ninguém levou a sério Superstudio © Archigram, menos ainda os incorporadores e banqueiros respon siveis pela encomenda ¢ pelo financiamento de projetos em estilo ‘modernista. Ainda assim, em conjunto eles assinalaram o fim do en- canto do modernismo racionalista, a reagao a um estilo de constru- «20 que passou a ser visto como tedioso, indiferente as cercanias também a propria tradigao da disciplina, Os ataques mais sérios ao Movimento Modernista tiveram im- pacto duradouro, Quatro livros publicados em menos de uma d&ca- da assinalaram a mudanga que estava por vir: The Death and Life of INTROOUCAO 9 Great American Cities, de Jane Jacob (1961), Complexity and Con- tradiction in Architecture**, de Robert Venturi (1966), The Architec- ture of the City***, de Aldo Rossi (1966), © Architecture for the Poor, de Hassan Fathy (intitulado, na primeira edido de 1969, Gour- nna: A Tale of Two Villages). Embora seu efeito fosse sentido em épocas diversas em diferen- tes culturas, devido ds datas de tradugao e publicagio, e embora tam- bém tenham surgido outros livros basicos, juntos esses quatro indi- ‘eam a dimensio das mudangas de atitude em relagdo & arquitetura, Jacobs contestow as idéias de planejamento de Le Corbusier e de ‘outros projetistas do movimento moderno, assim como o programa dda Cidade-Jardim de Ebenezer Howard, popularizado nos Estados Unidos por Clarence Stein, que considerou inadequado para as cid des, Louvando a heterogeneidade dos bairros urbanos e dos prédios antigos, Jacobs usou seu proprio distrito em Nova York como forma de realcar a diversidade e a vivacidade possiveis das ruas das cida- des, que contrastayam com a mortificante regularidade dos projetos habitacionais para populagio de baixa renda que matavam a rua. Ao contrério de muitos criticos de arquitetura da época, Jacobs reco- nihecia a ligagdo entre 0 dinheiro das incorporagdes © a mudanga urbana, entre as praticas financeiras ¢ a decadéncia das cidades. ‘Alguns de seus argumentos mais clogiientes demonstram como 0 projetistas seguiram a ideologia de planejamento do movimento moderno em vez de seu préprio instinto no caso dos bairros urba- nos. Jacobs afirmava que a ordem oculta da rua no reprojetada sus- tentava uma vida urbana rica e variada, além de aumentar a segu- ranga. Alguns dos pontos que enfatiza — a experiéneia vivida da ar- uitetura, os rituais e padres da vida cotidiana, a rede de relagdes hhumanas que forma nossa experiéncia de cidade e que a arquitetura ‘€0 planejamento modernos ignoraram — s6 aos pouicos comegaram a dar frutos. Ela concluia que as cidades contemporiineas nao deve- riam sofier novas e devastadoras renovagdes urbanas segundo os principios equivocados do movimento moderno, e sim ser alimen- tadas como os espacos vitais ¢ atraentes que realmente sao. Coma aceitagdo gradual das idéias de Jacobs veio uma aprecia- ‘do renovada da variedade visual da paisagem urbana. Os urbanis- ad, bras. Moree vida de grandes cidaces, Sao Paulo, Martins Fontes, 2000. +a. bras.Complendadee contac em arquteta, Sic Pal, Maris Fontes, 1995, “++ Trad, bras. A argutetura da cidade, Sao Paulo, Martins Fontes, 1985, 10 ARQUITETURA CONTEMPORANEA 4. Frank Gehry, cola de Dreto Loyola, Los Angeles Calfomi, 1981-84 tas comecaram a justapor elementos diferentes, em vez de buscar uma tela Continua ¢ uniforme, ea aceitar 0 valor dos variados ele mentos existentes na cidade. A nova preferéncia estética chegou in- clusive & construgio de complexos individuais de edificios, alean- ¢gando total fruigo muito tempo depois, em um projeto como aE: cola de Diet Loyola, de Frank Gehry (1981-84), em Los Angeles, onde a justaposigao de volumes dessemelhantes e de cores vivas sugere tum tecido urbano diferente, Para a Universidade de Castel- (1990), Aldo Rossi ndo inventou a heterogeneidade, mas de a e aperfeigoou-a. Para 0 campus, ele simplesmente pegou uma fibrica de tecidos abandonada e a transformou, aceitando como vilidas as diferentes estruturas O livro de Hassan Fathy, que detalha a construgio da cidade de Nova Gourna, no Egito, na década de 30, constitu ao mesmo tempo ima erénica de sua tentativa de resistir & importagio de teenologias estrangeiras de construgio, que, segundo ele, fracassaram por muitas InrRoDUCAO 11 razies nas virias tentativas de atender as necessdades do Egito rural A parte da dentncia do alto custo desses sistemas edo conhecimento tEenico, ue os punha fora do aleance do egipeio medio, quanto mais do pobre, Fathy também lamentava a perda dos métodostradicionais de construgio e da competéncia cultural eausada por esta imensa onda de tecnologia estrangera. Além de resstrainfluéncia avassala- dora de estilose métodos ocidenais de construgao, Fathy questionow 2 idgia do arquiteto com prineipalmente um projtista, defendendo, da radigio, ea consirugio mais como express de cultura do que da vontade ou do ego de um indviduo. £ uma triste ironia que, apesar de insstir com persstencia na erenga em que seus métodos © abori- gens da construgio poderiam beneficiar sobretudo os eamponeses, Fathy tena terminado por dedicarse, com poucas excecdes a proj tos para os ricos em estlostradcionas, em grande parte como ex- pressdesnacionalistas daresistincia contra o poder ocidental. Apesar de sua arquiteturaengajada, Nova Gourna também no consezuiu evitar que scus residentesvivessem de roubartumbas 12 ARQUITETURA CONTEVPORANEA O livro de Fathy assinalow a resisténcia generalizada a0 moder- nismo ocidental e 6 confronto muitas vezes litigioso com legados ¢o- Joniais em muitos paises nao ocidentais. Nova Gourna também evi- denciou confltos profundos de valor e uma miriade de problemas sociais e politicos subjacentes apenas parcialmente abordados pelo “arquiteto de uma forma que se possa considerar emblematica de mui- tos projetos de prédios governamentais em todo © mundo. O Com- plexo do Parlamento de Geoflrey Bawa (1982), em Sri Jayawardha- napura, Kotte, Colombo, Sri Lanka, confrontot e transcendeu tanto ‘© modernismo quanto a tradigao em um edifcio projetado para abri- 10 parlamento de um pais profundamente dividido por diferengas Einicas ¢ religiosas. O proprio projeto envolvia a transferéncia do Parlamento para um lugar distante e relativamente inacessivel, a fim de limitar os confrontos entre faegdes rivais, Construido como 6. Geo Bawa, ans de InTRODUGAO 13 uma ilha cereada de lagos, alude stradigdes locais de templos in- sulares, mas também as fortalezas das poté cessivamente dominaram o pais. O projeto paisagistico ¢ especial- mente sensivel, embora em escala muito maior do que alguns pro- Jetos extraordinérios de Bawa, como os Jardins de Lunuganga, em Bento, Sri Lanka (1950), Com o uso de imagens polivalentes e de pelos diretos a tradigdo no teto e na elaboragio das partes em ma- deira, Bawa buscou produzir um prédio piblico que englobasse as tradigdes de todas as facgdes ~ aspiragio mais fil de realizar em construgdes do que na sociedade. © Projeto da Praca de Habitagio de Ju'er Hutong, em Pequim, China, iniciado em 1987 e ainda em andamento, incorpora idéias semethantes is apresentadas por Fathy, mas introduz uma colabora- Gao entre arquitetos, moradores e governo, Planejado e projetado no Instituto de Estudos ArquitetOnicos e Urbanisticos da Universi de Tsinghua, com o professor Wu Liangyong como arquiteto prin- cipal, o objetivo principal do projeto era reabilita as residéncias de ‘um bairro antigo do centro da cidade para melhorar o ambiente fisi- co €, ao mesmo tempo, integré-lo as exigéncias modernas de mora- dia continuidade cultural. Também pretendia servir de modelo de reforma habitacional e de desenvolvimento de meios para incorpo- ido incorpora confortos modernos trutura através da adaptagao de tipologias tradicionais, ma por trabalhar em estreita cooperagdo com os moradores. A abordagem de Robert Venturi diferencia-se da de Jacobs por voltar-se especificamente para o que ele via como construgdes sem sentido projetadas pelos seguidores do Movimento Modernista, dependentemente de suas motivagdes sociais ou de seus imper vos econémicos. Sua agenda envolvia diretamente estratégias pat prédios individuais e para projetos de urbanismo, em especial aque- les produzidos por uma pequena classe de arquitetos de elite, Ao pas- sar dois anos na Itélia admirando as maravilhas da Antiguidade e Renascenga com a bolsa do Rome Prize’, Venturi descobri as i= intiga es bem. * Este rtm, concede anualmente pela America Acadeny in Rome a jovens atstas plisticos,aqutetos, designers, misicose etudantes de oncashumanas ote-amet 18 “4 ARQUITETURA CONTEMPORANEA, cas possibilidades da historia arquitet6nica. Seguindo 0 caminho indicado por Gropius na Bauhaus, 0s estudos historicos haviam sido excludes do curriculo da maioria das escolas de arquitetura nos Es- tados Unidos (embora no em Princeton, onde Venturi se formara), ‘Venturi via nisso uma enorme perda para os arquitetos, pois s6 essa auséncia poderia explicar seu persistente fascinio por eaixas de vi- dro sem graca e pelas magantes construgdes do modernismo. Opon- do-se a “arquitetura moderna ortodoxa”, Venturi louvava o predo- minio da “vitalidade confusa sobre a unidade bvia”, da riqueza so- bre a clareza de significado e, em um trecho muito citado, do “nao 56, mas também” sobre 0 “ou isto ou aquilo”. Ele também insistia ‘em que a complexidade da vida contemporanea no permitia pro- ‘gramas arquitetdnicos simplificados, razao pela qual, a ndo ser no caso de construgdes com um tinico objetivo, os arquitetos precisa- voltar-se para programas multifuncionais. Nesse livro € em ou- tro posterior, escrito com Denise Scott Brown ¢ Steven Izenour, Learning from Las Vegas (1972), Venturi adotou posigo nio muito diferente da de Jacobs ao insistir para que os arquitetos levassem ‘em consideracao € inclusive homenageassem 0 que ja existia, em vez de tentarem impor uma utopia visionaria nascida de sua propria fantasia. Embora a maioria de seus exemplos de uma arquitetura capaz-de cexprimir as idéias que prezava fossem tirados da Itilia entre 1400 & 1750, ele também incluiu prédios de Le Corbusier, Alvar Aalto © Louis Kahn, o que indicava que ndo era ao modernismo propriamen- te dito que se opunha, e sim as suas verses pouco imaginativas. A primeira tentativa de Venturi de enfientar estes problemas foi o pro- jeto da casa de sua mae, a Casa Vanna Venturi, em Chestnut Hill, Pensilvania (1964), onde fez experincias com alusdes historicas na fachada ao mesmo tempo que desenvolvia um interior complexo e curioso, em seguida a Guild House (1960), prédio de apartamentos para idosos em Filadétfia. Em cada caso, o projeto ineorporava prin- cipios delineados em Complexidade e contradigao: énfase na facha- da, em elementos histéricos, no jogo complexo de materiais ¢ alu- des histéricas, © em fragmentos e variagdes. ‘anos, const em uma bola de es meses a dois anos para que os vencedres do con. uso posta se aperfeigoarem sua especiaidade e desenolver lgum projto er Roa ita) INTRODUCAO 15 17,8. Ventut and Short Acchiteets (Robert Venture Aru Jones, Casa Vanna ‘Venta Chestnut Hil, Pensivania, 1964 fachada ¢ planta baba. A arquitetura da cidade do arquiteto e te6rico italiano Aldo Rossi no combateu as cidades americanas devastadas pela renovagao ‘urbana, mas sim as cidades européias que sofriam os efeitos da des- truigo da guerra e da reurbanizagao do pés-guerra. Assim como Ja- cobs e Venturi, Rossi ejeitava o que chamava de funcionalismo in- xzénuo, ou seja, a idéia de alguns arquitetos modernistas de que “a forma segue a fungdo”, Seus alvos especificos eram os arquitetos que louvavam © determinismo teenolégico e desdenhavam a rica complexidade das cidades, ndo s6 de seus prédios como de sua his- tori, formas urbanas, redes de ruas ¢ historias pessoais, Rossi tam- bbém voltou-se para passado, para a cidade européia, com 0 obje- tivo de identificar primeiro como as cidades eresceram e se trans formaram com 0 tempo e, depois, como os tipos de construgio par- 16 ARQUITETURA CONTEMPORANEA ticiparam da evolugao morfolégica da cidade. Depois de estudar os elementos estruturais da cidade, Rossi propos nao um estilo, mas tum modo de analise ¢ uma abordagem da habitagdo urbana, de pro- Jjetos e mudangas que levassem em conta histérias, padres de mu- “danga e de tradigdes especificos, Os tipos de construgdo formavam tuma das bases sélidas de sua abordagem do desenho urbano, mas para Rossi os tipos de construgdo eram vistos como elementos en- raizados nos costumes e habitos de cidades especificas, ou de par- tes de cidades, e ndo como construtos abstratos independentes das condigdes histricas. Ele nfo pedia repetigdes, mas adaptagies cria- tivas baseadas em anlises cuidadosas de cidades especificas. Em seguida Rossi desenvolveu suas idéias no Cemitério de San Catal- do, em Médena (iniciado em 1980), e na Prefeitura de Borgoricco (1982), baseando-se em tradigdes rurais, urbanas ¢ arquitet6nicas para scus projetos. A Prefeitura, por exemplo, localizada num cam- ‘po com casas espalhadas pelas fazendas circundantes, lembra uma villa veneziana mas consiste nas formas compactas e muito diferen- ciadas de um prédio piiblico urbano. E itil comparar mais de perto as posigdes de Venturi ¢ Rossi, Porque suas diferengas de opinigo sio reproduzidas na arquitetura Posteriormente praticada na Europa nos Estados Unidos. Para am- 9. Ado oss, proto para a Preletura, ergo, Nala, 1962: perspec ta do INTRODUCAO 17 bos, 0 desafio da arquitetura transcende e, ao mesmo tempo, englo- ba as idiossincrasias dos arquitetos enquanto individuos, e foi com base nessa missdo histérica que os dois escritores criticaram a arqui: tetura ¢ 0 urbanismo do periodo posterior a Segunda Guerra Mun- dial. Ambos também se voltaram para 0 passado arquiteténico como ferramenta para devolver & arquitetura sua responsabilidade pica hist6rica, A diferenga entre suas posi¢des pode ser atribuida em boa parte a seus respectivos contextos. A tradigao milenar de continuida- de cultural urbana na Europa permitiu que Rossi ignorasse a énfase do século XIX na historia da arquitetura como uma sucesso de est los. Esta continuidade urbana incorporava concomitantemente uma ddimenso social significativa: novos prédios confirmavam e amp! ‘vam tradigdes duradouras, que também incluiam a nogdo de que os governos eram obrigados a fornecer moradia e outros servigos 10s cidadios. A ampla estrutura dessas tradigoes culturais podi dar uma consideravel invengio, além de interpretagdes pessonis, a0 ‘mesmo tempo em que mantinha o significado cultural geral ‘Venturi adotou o ecletismo como ferramenta para fazer a critica do modernismo americano, numa sociedade em que a experiéncia cultural mais ampla é determinada pela sensibilidade individual, e nao pela tradigio urbana milenar. Nos Estados Unidos, a cultura po- litica que domina a Europa é substituida pela cultura do comércio e da publicidade, Em contraste, a descrigdo feita por Rossi da cidade como experiéncia que define a socializagio na Europa é, nos Esta- dos Unidos de Venturi, a cultura da comunicagao. Em vez de unifi- car socialmente, refletir a identidade politica ou reforgar identida- des individuais, a cultura nos Estados Unidos consiste em simbolos alternativos por meio dos quais os individuos sio convidados a de- finir-se. A inclinagao de Venturi para a publicidade comercial como estrutura sobre a qual erigir a arquitetura pés-moderna encoraja, assim, uma arquitetura pessimista que transforma referéneias hist6- ricas em imagens esvaziadas e espacialidade ambigua. Portanto, 0 pés-modernismo americano tem estado fortemente associado a digos visuais e « uma visio do piblico como consumidores que, sob outros aspectos, sao indistintos, Da mesma maneira, as preferéncias estéticas do pés-modernis- mo nos Estados Unidos inclinaram-se, rauito mais do que as do mo-

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