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ICTIOLOGIA

Até recentemente,
acreditava-se que a
diversidade de peixes no mar
brasileiro fosse pequena,
mas novos estudos têm
mostrado que essa idéia
é falsa. No caso dos chamados
peixes recifais, são muitas
as espécies descobertas.
Conhecer melhor tais espécies,
e muitas outras ainda
por descobrir, é essencial
para que o Brasil administre
racionalmente essa riqueza,
fonte de alimento para
a população litorânea,

Riqueza de
de renda para empresas
de pesca e de coleta de peixes
ornamentais e de diversão
para pescadores amadores
e mergulhadores esportivos.

Ricardo Zaluar P. Guimarães


Laboratório de Biodiversidade
de Recursos Pesqueiros,
Universidade Federal do Rio de Janeiro
João Luiz Gasparini
Departamento de Biologia,
Universidade Federal do Espírito Santo
Carlos Eduardo L. Ferreira
Departamento de Oceanografia,
Instituto de Estudos do Mar Antes mesmo que o naturalista sueco Karl von Linné (1707-1778)
ILUSTRAÇÃO LUIZ BALTAR SOBRE FOTO DO PEIXE LABRISOMUS SP, POR R. ZALUAR
Almirante Paulo Moreira publicasse a décima edição de seu Sistema naturae,
Luiz Alves Rocha obra que marca o nascimento da zoologia moderna,
Departamento de Pesca e Ciências com a utilização de nomes duplos (indicando gêne-
Aquáticas, Universidade da Flórida ro e espécie) em latim, os peixes marinhos brasilei-
(Estados Unidos) ros já eram objeto de estudo de viajantes europeus.
Sergio R. Floeter O registro mais antigo conhecido é o do naturalista
Departamento de Ecologia, alemão Georg Marcgraff (1610-1644), que, em suas
Universidade Federal do Espírito Santo andanças pelo Nordeste do país, catalogou algumas
Carlos Augusto Rangel dezenas de espécies (figura 1), referindo-se a elas
Laboratório de Biodiversidade através de seus nomes indígenas (ver ‘Arte e ciência
de Recursos Pesqueiros, no Brasil holandês’, em CH nº 15).
Universidade Federal do Rio Janeiro Nos séculos seguintes, outras expedições parti-
Gustavo W. Nunan ram da Europa mercantilista em busca de novos
Setor de Ictiologia, conhecimentos sobre riquezas naturais brasileiras,
Museu Nacional, e diversos autores publicaram informações disper-
Universidade Federal do Rio de Janeiro sas sobre peixes marinhos dessa nova terra (figura

1166 •• CCIIÊÊNNCCIIAA HHOOJJEE •• vvooll.. 2288 •• nnºº 116688


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sconhecida e ameaçada

2). Mas só no início deste século surgiriam as pri-


meiras publicações ictiológicas (relativas a peixes)
de autoria de um brasileiro. Com base em seu
trabalho no Museu Nacional, fundado em 1818
como Museu Real, o zoólogo Alípio de Miranda
Ribeiro (1874-1939) publicou em cinco volumes o
catálogo Fauna brasiliense, registrando mais de 370
espécies de peixes marinhos do Brasil, muitas antes
desconhecidas pela ciência.
Hoje, muitos pesquisadores da área de ictiologia
trabalham ligados a museus ou universidades que
mantêm coleções científicas. Tais coleções são como
bibliotecas, mas, em vez de livros, abrigam amostras 4

j a n e i r o / f e v e r e i r o d e 2 0 0 1 • CCIIÊÊNNCCIIAA HHOOJJEE • 1 7
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Figura 1. de peixes preservadas em recipientes com álcool

FOTO R. ZALUAR
As primeiras etílico. O desafio desses pesquisadores está não só
ilustrações
em classificar as espécies, ou seja, reconhecer suas
de peixes
marinhos diferenças, mas também inseri-las em um sistema
brasileiros de classificação que reflita suas relações evolutivas.
foram As diretrizes para esse trabalho mais complexo
publicadas foram propostas inicialmente pelo zoólogo alemão
na obra do
Willi Hennig (1913-1976) (ver ‘Descobrindo paren-
naturalista
alemão Georg tescos nos seres vivos’, em CH nº 98). Uma dificul-
Marcgraff dade a mais para esse trabalho está nas diferenças
em 1648: entre as numerosas espécies desses animais que
o cangulo-rei
(Balistes vetula),
acima, e o

FOTO C. E. L. FERREIRA
peixe-pescador
(Antennarius sp.) O QUE SÃO PE IX
PEIX
IXEE S?
Desde crianças somos acostumados com a idéia
geral de um peixe: um animal que vive na água,
move-se usando nadadeiras, respira através de
brânquias e tem o corpo coberto de escamas.
Então crescemos e ficamos perplexos quando
alguém jura que existem peixes com os dois
olhos do mesmo lado da cabeça, outros sem
escamas ou nadadeiras e alguns que respiram
através de pulmões, que se arrastam no seco ou
que até voam. Procuramos nos livros e descobri-
mos que tudo isso é verdade. Mas como um
mesmo bicho pode fazer tantas coisas? A respos-
ta é simples: estamos falando de vários bichos
diferentes. São conhecidas hoje mais de 22 mil
espécies dos animais que chamamos de peixes,
Figura 2. e nem sequer conhecemos todas. E não existe
Outros uma característica que seja comum a todos eles.
desenhos Dos peixes que conhecemos, só dois grupos
de peixes – Chondrichthyes e Actinopterygii – vivem em am-
marinhos
bientes recifais. Pertencem ao primeiro grupo tu-
brasileiros
surgiram barões, raias e quimeras. Esses peixes têm es-
em livro queleto cartilaginoso e ciclo de vida longo. Mui-
do século 19, tas espécies têm sido exploradas pela pesca co-
e mostram o mercial, e algumas estão ameaçadas de extinção.
michole-quati
O tubarão-baleia (Rhincodon typus), que atinge
(Pinguipes
brasilianus), mais de 18 m de comprimento, é o maior peixe co-
acima, nhecido. Já entre os Actinopterygii figuram todos
e o badejo-sabão os peixes com esqueleto ósseo e apêndices for-
(Rypticus mados por raios. É o grupo de vertebrados mais
bistrispinus)
diversificado em ambientes aquáticos, atingin-
do sua diversidade máxima em ambientes
recifais tropicais. Têm os mais variados formatos
e tamanhos: todos os peixinhos coloridos de
aquário e a grande maioria dos peixes explora-
dos pela pesca são actinopterígios. No mar, os
menores são alguns gobiões recifais, que não ul-
trapassam 1 cm, e os maiores são os marlins do
FOTOS R. ZALUAR

gênero Makaira, que podem medir mais de 4,5 m


e pesar quase uma tonelada.

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chamamos de peixes (ver ‘O que são peixes?’).


Apesar do crescente número de pesquisadores de- O QUE SÃO R ECI
ECIFF E S?
RECI
dicados ao tema, acreditava-se até muito recentemen-
te que a ictiofauna marinha brasileira fosse bastante Recifes são ambientes de fundo consolidado, isto é, resistentes à
pobre e composta por espécies, em sua quase totali- ação de ondas e correntes marinhas. Podem ter origem biogênica ou
dade, com ampla distribuição na margem ocidental não (figura 3) e servem de moradia para grande variedade de
do oceano Atlântico. No entanto, o aperfeiçoamento organismos. Recifes biogênicos – os chamados recifes de coral – são
dos instrumentos óticos de observação e fotografia e formados por organismos marinhos (animais e vegetais) providos
dos equipamentos de mergulho autônomo permitiu de esqueleto calcário, destacando-se os corais pétreos. Esses orga-
constatar que essa ictiofauna é mais rica e diver- nismos crescem uns sobre os outros ao longo dos anos, criando um
sificada do que se supunha. Isso pode ser demonstra- ambiente cheio de reentrâncias, nas quais se estabelece grande
do com os peixes que vivem em recifes (ver ‘O que são variedade de peixes e invertebrados. Os recifes de coral estão entre
recifes?’). Para se ter uma idéia, das cerca de 400 os ecossistemas mais produtivos e ricos em biodiversidade, só
espécies de peixes recifais hoje reconhecidas em comparáveis às exuberantes florestas tropicais, e desenvolvem-se
águas brasileiras, estima-se que mais de 50 sejam em áreas rasas e quentes afastadas da desembocadura de grandes
endêmicas (ou seja, só existem aqui). Destas, a gran- rios. No Brasil, diferentes tipos de recifes orgânicos são encontra-
de maioria foi descoberta nos últimos 20 anos. dos na região Nordeste (ver ‘S.O.S. corais’, em CH nº 26).
Além de peixes, espécies de muitos outros orga- Recifes de origem inorgânica também podem ser de diversos
nismos, como corais, crustáceos e moluscos, tam- tipos. Os costões rochosos, formados onde o mar se encontra com
bém são endêmicas de águas brasileiras. Essa área de rochas do embasamento cristalino, representam o tipo predominan-
endemismo, uma das várias reconhecidas em am- te nas regiões Sudeste e Sul. Beirando grande parte da costa do
bientes recifais do Atlântico, é chamada por alguns4 Nordeste são encontrados os recifes de arenito, formados pela
compactação sedimentar de linhas de praia antigas. Existem ainda
recifes artificiais, estruturas construídas pelo homem
A para os mais diversos fins, que acabam servindo de
base para o estabelecimento de algas e invertebrados.
Estes, por sua vez, atraem os peixes que ali vêm buscar
alimento e refúgio. Os pescadores sabem que pilares
de pontes, dutos submarinos, quebra-mares, platafor-
mas de petróleo ou navios naufragados são excelentes
atrativos para peixes recifais. Em algumas regiões,
recifes artificiais são lançados ao mar com o objetivo
específico de incrementar a pesca.

FOTO C. SECCHIN
C

Figura 3. Alguns dos diferentes tipos de recifes encontrados no


FOTOS R. ZALUAR

Brasil: recife rochoso com pouca cobertura de corais da baía da


Ilha Grande, no Rio de Janeiro (A); recife rochoso com rica
cobertura de corais de Abrolhos, na Bahia (B); e chapeirões do
Parcel das Paredes, na Bahia, de origem 100% orgânica ( C)

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Figura 4.
As zonas
de endemismo
(ou províncias
zoogeográficas)
existentes
no mar
brasileiro são
a ‘província
brasileira’
(em verde),
a província
argentina
(em vermelho),
as ilhas
de Trindade
e Martim Vaz
(em azul),
o arquipélago
de Fernando
de Noronha
e o atol
das Rocas
(em amarelo),
e os penedos
de São Pedro
e São Paulo
(em preto)
e outras
resultantes
da combinação
de duas ou
mais destas

de ‘província brasileira’, e inclui essencialmente os peixes não estão distribuídos de forma homogênea
recifes tropicais distribuídos do Maranhão até Santa em todos os mares do mundo? A resposta depende
Catarina. Mas não é a única província nas águas da combinação de conhecimentos que vão desde os
territoriais do país. A costa das regiões Sul e Sudeste aspectos básicos da biologia desses animais até a
abriga elementos de uma fauna subtropical perten- formação e deslocamento de ilhas e continentes,
centes a outra área de endemismo, a ‘província passando pelo entendimento sobre dinâmica de
argentina’. Além dessas duas, outras áreas apresen- populações e teorias evolutivas.
tam, cada uma, fauna singular: o atol das Rocas, o O primeiro aspecto relevante diz respeito à ca-
arquipélago de Fernando de Noronha, as ilhas de pacidade de dispersão dos organismos. Peixes gran-
Trindade e Martim Vaz e os penedos de São Pedro e des, que nadam ativamente em oceanos abertos,
São Paulo (figura 4). Diversas novas espécies de como os atuns, têm grande capacidade de dispersão
peixes endêmicas dessas ilhas foram recentemente e, portanto, tendem a apresentar ampla distribuição
descobertas. geográfica. Já os peixes que dependem dos recifes
para obter alimento e abrigo deslocam-se pouco e,
assim, tendem a viver em áreas geográficas restritas.
Como surgem os endemismos Além disso, os peixes recifais podem apresentar
dois modos reprodutivos básicos: o pelágico, no
Mas por que existem espécies endêmicas de peixes qual os ovos são lançados diretamente na coluna
recifais na costa brasileira e em nossas ilhas, se d’água, onde se dispersam ao sabor das correntes
todos os oceanos estão interligados? Por que os até a eclosão; e o demersal, no qual os ovos têm

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propriedades aderentes, sendo depositados sobre deslocassem para perto do Equador) e o recuo do
superfícies duras no fundo e protegidos pelos pais nível do mar, causado pelo aumento do volume de
até a eclosão. água retido nas calotas polares. Durante a chamada
Embora em ambos os casos a larva gerada passe ‘regressão’ do Pleistoceno Superior (entre 16 mil e
por uma fase planctônica inicial, esse período nor- 14 mil anos atrás), a superfície do mar estava 130 m
malmente tem maior duração na reprodução abaixo do nível atual, o que expôs grande parte da
pelágica. Em conseqüência, peixes recifais com re- plataforma continental ao longo da costa brasileira.
produção demersal tendem a ocupar uma área ainda Também ficaram expostos os cumes das cadeias
mais restrita. De fato, a maioria das espécies recen- submarinas Vitória-Trindade e de Fernando de
temente descobertas na costa brasileira vive em Noronha (seqüências de montanhas hoje submersas,
recifes e tem estratégia reprodutiva demersal. situadas entre o continente e essas ilhas), permitin-
O segundo aspecto importante para o surgimento do o fluxo gênico entre as populações da costa e das
dos endemismos diz respeito à história da Terra, ou ilhas.
seja, ao mosaico de eventos paleogeográficos, Quando a Terra se reaqueceu, entre 14 mil e sete
tectônicos, eustáticos, climáticos e oceanográficos mil anos atrás, o nível do mar subiu gradualmente
que, ao longo de milhões de anos, isolaram, uniram até chegar ao nível atual. Com isso, a faixa litorânea
e extinguiram populações de organismos, em um continental recuou e os cumes dessas cadeias sub-
processo intimamente ligado à evolução dos mes- mergiram. Desde então, Trindade e Fernando de
mos (ver ‘Rastros de um mundo perdido’, em CH nº Noronha estão separados do continente por uma
15). Que eventos, então, teriam contribuído para a extensa faixa de mar, o que levou ao isolamento e
formação dessas áreas de endemismo em águas diferenciação de algumas populações residentes
brasileiras? Estudos recentes indicam que os últi- (figura 5).
mos ciclos glaciais, ocorridos no Pleistoceno, tive- Apesar de todas essas descobertas, o que co-
ram papel decisivo nesse processo. nhecemos atualmente sobre as espécies de peixes
Nesses ciclos, que duraram milhares de anos, a recifais brasileiros, suas distribuições, suas rela-
Terra alternou períodos frios e quentes. Nos perío- ções evolutivas e os processos históricos que as
dos frios, ocorreram o estreitamento da zona tropi- originaram está, de modo geral, muito aquém do que
cal (como se os trópicos de Câncer e Capricórnio se se conhece para outras regiões do mundo. 4

Figura 5.
Alguns pares
de peixes recifais
revelam a
diferenciação
ocorrida após
o último ciclo
FOTO R. ZALUAR

glacial entre
espécies
endêmicas
da ilha da
Trindade
(à esquerda)
e espécies
endêmicas da
costa continental
brasileira
(à direita):
no alto,
Malacoctenus
oceanicus e
Malacoctenus sp.;
FOTOS J. L. GASPARINI

embaixo,
Stegastes
trindadensis e
Stegastes fuscus

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Figura 6. Conhecer para vagens faz com que estudos baseados em


A diversidade coleções zoológicas representem uma im-
dos peixes explorar racionalmente
portante ferramenta no julgamento
recifais
endêmicos Conhecer melhor os padrões his- sobre o status de conservação das
de águas tóricos, as interações ecológicas, espécies. Assim mesmo, o nú-
brasileiras pode as relações evolutivas e outros mero de especialistas em sis-
ser demonstrada processos biológicos envol- temática (classificação de
pelo grande
vendo os peixes recifais seres vivos) e os
número
de espécies existentes no Brasil é recursos dispo-
recentemente fundamental para níveis para a
descobertas, que se possa ad- manutenção de
muitas ainda ministrar ra- coleções cien-
sem nome na
cionalmente tíficas não vêm
literatura
científica: essa riqueza, acompanhando
nesta página, que pode ser coleti- a demanda ge-
Prognathodes sp. vamente tratada como a rada pela crise
e Gramma biodiversidade dos recursos ambiental. Por isso, o Bra-
brasiliensis;
ictiológicos recifais brasileiros. Sua sil é tido no plano interna-
na página
da direita, importância pode ser ilustrada pelo fato de cional, incorretamente, como
Clepticus sp., que tais recursos são uma importante fonte de um país com poucos problemas
Ptereleotris sp. e proteína para as populações litorâneas, além de quanto à conservação de peixes recifais.
Opistognathus sp. serem explorados comercialmente por empresas de Segundo a União Internacional para a Conserva-
pesca e para a aquariofilia. Só na região Sudeste, por ção da Natureza, de todos os peixes endêmicos do
exemplo, são capturadas 3,5 mil toneladas de peixes Brasil, só o peixe-donzela (Stegastes sanctipauli) e o
recifais comestíveis por ano. peixe-borboleta (Chaetodon obliquus), ambos en-
O comércio de organismos ornamentais recifais, contrados apenas nos penedos de São Pedro e São
que movimenta US$ 28 bilhões por ano no mundo Paulo, estão ameaçados. A inclusão de outros peixes
todo, também é atuante no Brasil: algumas empresas recifais brasileiros na lista das espécies ameaçadas
coletam peixes ornamentais tanto para venda local – entre elas duas espécies de cavalo-marinho e
quanto para exportação. O turismo, que no país é algumas de serranídeos de grande porte, entre eles
mais desenvolvido no litoral, também depende da o mero (Epinephelus itajara) e o badejo-de-areia
manutenção da integridade dessa (Mycteroerca microlepis) – deveu-se a
biodiversidade, notadamente no especulações baseadas em
caso do turismo ecológico. levantamen-
No entanto, a lacuna tos feitos em
no conhecimento outras regi-
dessa fauna é ões, e não na
tão grande que nossa costa.
muitas espé- Será que S.
cies de pei- sanctipauli
xes recifais e C. obli-
brasileiros, co- quus são as
mestíveis ou orna- únicas espécies
mentais, exploradas ou potencial- de peixes recifais cujos es-
mente exploráveis, ainda não têm toques estão ameaçados no Brasil?
nome na literatura científica (figura 6).
Não existem, para muitas formações recifais da
costa brasileira, levantamentos ictiofaunísticos Os possíveis danos
satisfatórios. Além disso, ao contrário do que ocor- da pesca
re com os recursos pesqueiros, quase nada se sabe
sobre o estado de conservação ou disponibilidade A pesca, seja de peixes usados como alimento ou
de exploração comercial dos peixes ornamentais ornamento, é uma atividade econômica como qual-
marinhos do Brasil. quer outra, que gera emprego, bens de consumo e
Essa carência de pesquisas que envolvam estima- circulação de capital. No entanto, se executada de
tivas do número de indivíduos em populações sel- modo desmedido pode trazer danos irreparáveis aos

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estoques naturais. Nos últimos anos, por exem-


plo, empresas de coleta de peixes ornamen-
tais marinhos deslocaram-se do estado
do Rio de Janeiro para o Espírito
Santo, onde os estoques ainda
não estão exauridos. A coleta
desses organismos também é
intensa no Nordeste, em espe-
cial na Bahia e no Ceará, onde
muitos peixes capturados morrem
antes mesmo de chegar às lojas, em função
do uso de técnicas não apropriadas de manu-
seio e estocagem.
Se o extrativismo descontrolado compromete os que o quadro irá mudar de uma hora para outra
estoques, que dizer de alterações dos ambientes é ingenuidade. Diante de tal perspectiva, o que
costeiros geradas pela ocupação humana desorde- pode ser feito? Independentemente das possíveis
nada, pelo despejo de efluentes tóxicos, por modifi- estratégias político-econômicas para o desenvolvi-
cações do fundo oceânico produzidas pela pesca de mento do país, uma constatação se impõe: não há
arrasto, pela mineração de bancos de algas calcárias como gerenciar biodiversidade sem conhecer em
e pelo extrativismo também descontrolado de corais detalhes as unidades biológicas básicas envolvi-
e rochas incrustadas com invertebrados (conheci- das, ou seja, as espécies.
das na aquariofilia como ‘rochas-vivas’)? A seleção de áreas para preservação, por exem-
Na verdade, é possível que muitas áreas superex- plo, exige o conhecimento prévio dos níveis de
ploradas pela pesca sejam recolonizadas na-
turalmente, já que as larvas
produzidas em regiões
adjacentes não im-
pactadas podem co-
lonizar as áreas de-
gradadas. No entan-
to, um costão rochoso
substituído por uma parede de brita,
um manguezal aterrado ou uma baía onde biodiversidade, e estes, por sua vez, só podem ser Sugestões
haja despejo de resíduos tóxicos só recuperam a estabelecidos através de levantamentos faunísticos. para leitura
biodiversidade original através de processos que Por outro lado, não há como cobrar da população
AMORIM, D. S.
podem durar décadas e custar fortunas. A atual baía iniciativas de preservação desses recursos sem Elementos básicos
da Guanabara certamente não lembra nem de longe investir em educação ambiental, o que deveria ser de sistemática
aquela estudada por Miranda Ribeiro no início do incentivado através da construção e manutenção filogenética, São
Paulo, Sociedade
século, apesar do orçamento de US$ 793 milhões do de museus de história natural ou outras exposições Brasileira de
programa de despoluição dessa baía (ver ‘As águas informativas sobre biodiversidade. Da mesma for- Entomologia, 1997.
FIGUEIREDO, J. L. e
da Guanabara: despoluir ou sanear?’, em CH nº 155). ma, não há como esperar um uso sustentado dessa MENEZES, N. A.
A situação dos ambientes costeiros do Brasil riqueza, no Brasil, sem a conscientização prévia Manual de peixes
certamente não deve ser analisada com romantis- das pessoas envolvidas, direta ou indiretamente, marinhos do
Sudeste do Brasil,
mo. Há grandes concentrações populacionais de com a exploração de recursos biológicos. ■ São Paulo, Museu
baixa renda no litoral, o que torna de Zoologia (USP),
1978 a 2000 (seis
muito difícil conter a ex- volumes).
ploração desor- HETZEL, B. e CASTRO,
C. B. Corais do sul
denada de rique- da Bahia, Rio de
zas renováveis. Janeiro, Nova
Muita coisa ain- Fronteira, 1994.
PAIVA, M. P. Recursos
da precisa ser fei- pesqueiros
ta para garantir que marinhos e
estuarinos do
empresas de extrativismo, Brasil, Fortaleza,
indústrias poluidoras ou comu- Universidade
nidades litorâneas respeitem a Federal do Ceará,
1997.
legislação ambiental. Imaginar

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