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[Conto para análise #0486]

[Autor: Miguel Angel Perez Corrêa]


[Título: Campo de Girassóis]
[Gênero: Fantasia]
[Número de palavras: 950]

Ele vagava pela planície gelada, já não sabia quanto tempo. Sue mente parecia
uma flecha, com um único alvo. Seus pensamentos ha anos, não divisam outra imagem
senão a da vingança. Esta alimentada vez por outra, pelas lembranças de uma família que
jamais teria novamente.
A criatura surgira do nada, com força inacreditável, olhos diabólicos e sem
piedade, rasgou o ventre de sua amada que caiu inerte no mesmo instante. O demônio, não
tardou em voltar sua fúria para a criança, imediatamente após devorar as entranhas da
mulher. Parecia uma mistura de urso com lobo e algo mais. Muita força e maldade.
A criança não teve a menor chance. Com seus recém completos quatro anos,
emitiu apenas um breve gemido de dor e terror, antes de ter sua chama extinta para sempre.
O homem, gravemente ferido e acovardado, não conseguiu reagir. Tremia como uma
menina assustada. Por algum motivo inexplicável a criatura o deixou para traz. Talvez para
amargar sua falta de coragem.
Quando finalmente conseguiu levantar, percebeu não ser a sua família a única
coisa morta no lugar. Em verdade ele era a única coisa viva. Não exatamente viva, mas
respirava.
Num trabalho desumano sepultou todos os parentes, amigos e inimigos, deixando
para o final os restos de sua mulher e filho. Descobriu as lágrimas. A dor e a vergonha o
consumiam.
O ódio nasceu. Sua alma ganhou força. Seus dias tornaram-se suportáveis na
companhia do sentimento.
Sua velha aldeia na planície ensolarada já estava anos, talvez décadas no passado.
O tempo transcorre sempre igual nas andanças pelos vales e montanhas, na sua busca
insana.
Já não sabe nem mesmo falar direito. Não encontra as palavras quando precisa delas.
Acostumou-se a dialogar consigo mesmo, com as lembranças. Mês esse diálogos não usam
palavras. Somente imagens, gestos, sentimentos.
Neste momento está com fome.
Seu olhar vaga por sobre o gelo em busca de um sinal. Um saltitante ponto,
apenas um pouco mais escuro que a neve, chama sua atenção. A imagem de um coelho vem
a sua mente. Sem palavras. Só imagem, som, sabor...
Com a experiência de anos perambulando por essas terras aproxima-se sem ser
notado. O animalzinho o percebe, mas como se não temesse, não corre. Continua por ali.
Saltitando, buscando um arbusto aqui, outro ali, em maio aos montes de neve. Ele por um
momento se distrai. A imagem do pequeno filho correndo em uma planície mais quente,
atrás de um coelho como aquele o leva dali e o deixa descansar por alguns segundos.
Suficientes para que o coelho se afaste, ele volta à realidade e o segue.
O animal entra em uma caverna. A princípio clara. Por onde passa um pequeno
córrego de águas cristalinas. O som parece música aos ouvidos daquele homem
amargurado.
Agacha-se. Retira uma das luvas. Leva um pouco de água a boca e mantendo os
dedos submersos, avista o grito das águas do grande rio em que o córrego se transformará.
Seu corpo e sua mente são um só com aquele mundo, no qual parece que só ele existe.
Se não fosse todo aquele ódio.
Algo no clima da caverna parece alertá-lo. Na verdade nada mudou. A luz é a
mesma. O brilho das notas musicais emitidas pelo córrego também. Mas uma sombra
parece crescer mais ao fundo. Uma sombra apenas percebida pelo seu olhar interior. Um
peso sobre seus ombros.
Ele se ergue e caminha a passos lentos, porém decididos, rumo as profundezas do
lugar. O coelho passa por ele em disparada, rumo à saída. Ele o deixa passar.
Seus olhos se iluminam. Enchem-se de força. Após tanto tempo, sente que o
confronto será ali. Sente um cheiro que não sentia desde aquele enfadonho dia em que tudo
perdera. Em que suas horas começaram a se amontoar, vazias, cinzentas.
Concentra-se nos ouvidos. Procura por pequenas pistas. Mas não ouve nada. Só a
sinfonia funesta das memórias mortas toca em sua mente. Passos lentos. Silêncio. Um pé no
chão, firme, antes de deslocar o outro. As batidas do seu coração ameaçam denunciá-lo.
Um forte dor no peito. Olhos injetados.
Retira a adaga da bainha feita de couro. A escuridão já tomou conta do lugar. A
luz ficou para traz a vários passos. Uma pequena pedra desloca-se sob seus pés e a caverna
é tomada por urros, gritos, maldições e sangue.
Sente o hálito quente da fera em sua perna esquerda e consegue evitar a mordida
dilacerante num reflexo. Um empurrão. Socos. A mão que sustenta a adaga está presa. Não
consegue entender onde, mas luta para liberá-la enquanto segue no seu ataque-defeza
frenético.
Garras estraçalham os músculos de seu braço esquerdo. A dor é profunda. Ouve a
voz do filho brincando ao longe. As gargalhadas da mulher. Mais uma vez as garras o
atingem. A mão ainda presa. A dor. Doce.
Lembranças de uma infância a muito esquecida. Irmãos. Pai.
Dentes afiados arrancam a mão do braço dilacerado. A outra mão se solta.
Um abraço da mãe.
A mão livre desloca-se como se por entre nevoas, sem obstáculos. A criatura
avança para o golpe fatal. Dentes se aproximam da sua garganta. A adaga atinge o peito do
animal-fera. Um rígido grave. O som do córrego. Uma torção na adaga.
O homem se vê num campo de girassóis. Sente a adaga em suas mãos. A dor
ouve-se ao longe. Deitado. O filho sobre ele. Os girassóis balançando com o vento. O sol
brilhante no alto. A mulher rindo ao seu lado, acariciando os cabelos do menino.
A adaga. Onde está a adaga?
Anda pode senti-la. Não quer mais a adaga. O último giro. O fatal. Não quer.
Solta a adaga.
Se sonho, não quer acordar. Se real, quer ficar.
Não quer mais voltar.

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