Вы находитесь на странице: 1из 59
k ee uposfundap Net Publicago da Fundacdo do Desenvolvimento Administrative - FUNDAP - Ano 11n91 - 1983 Estudos Fundap Governo do Estado de Sio Paulo Fundac&o do Desenvolvimento Administrativo Fundapio do Desenvolvimento Adminittrative - FUNDAP, roo do ‘AdministracSo Indieta do Estado de Sio Paulo, crioda pela Lei n@435 de 24 ce marco de 1974, Seus estatutos foram aprovados pelo Dec n@ 7.611, de 23 de fovereiro de 1976, estabelecondo os eritérioe que Crientam’ esta Intiuigso na rellzagSo de seu objetivo fundamental: blovar os nives de eficincia do Administapso Pébliea. CConeatho de Curadores Membros Etetivos ‘Ary Oswaldo Mattes Fitho Joeques Marcovith ‘of Manoel Cardoso de Mello Lulz Antonio de Oliveira Lima Musile Macedo Membres Suplontes Adalberto America Fiche ‘Alberta Pereira de Castro Cid Jose Sitranguto Roberto Siqueira Costa Wiloa Cane Diretor Executive Dalimo do Valle Nogueira Fiho Diretores Adjuntos Joss Zaneaner Neto Orlando Figueiredo Silvio Eid Witter Bonini Gorents Adminintrativo # Finanesico Nestor Damado ‘Ano 1 99 1 - Mareo/1883 Publicepio editada pola Funder do Desenvolvimento Administrative - FUNDAP Edigdo © Rovisio Lisle M. Chacon do Amaral Lyra Litian Maria Mayer Maris Eloisa Pires Newton T. Louzado Sodeé Cape (Olga Ozaki D’Agostini Foto da Capa Paulo Henrique de Barros Miguel Produede Grafica ‘Adie de Lima ‘Arta Final, Composigoo Impressio- FUNDAP Coordonagio Rul Fontana Lopez Contros CCaniro de Estudos ¢ Projetos em Sistemas de Administragio GGerente- Adio Hernandes Filho ntro de Estudos € Projetos em Administragso Energétiea, Urbaniza $80. Economia 1 erento -Plnio L. Pimenta ' Centro de Estudos « Projetos om Estrutura ¢ Comportemento Organiza: sional | GGerente- Maximino Loschiavo de Berros } Centro de Estudos ¢ Projetos em Adminisragso Social t Gorenta- Vanye Mundim Sant’Anna h Centro de FormagEo © Aperfeigoamento em Administragio | t Gerente- Regina Marta Barbosa Faria CCantro de Estudos ¢ Projatos om Gestio do Empresas Poblicas Serenta - Sabartifo Alvee Fersira Santor CGontro de Cooporacio Cientifice, Técnica © Tacnolégica Internacionst GGerente - Fernando Assumpeio Gallo Nctoor [cleo de Residénets Medics CChefe - Neide S. Hahn [Nicleo de Novas Teenologas om AdministragSo CChefe - Hadjimu Miyashi [Nacteo de Informagées Institucionais CChete - Eaval Freitas da Siva [Nacleo de Estudos Juridicos Aplicados 8 Administregio Chote - Vaiir Vicente Bartoli Nacleo de Editoragio e PublicapSes Chefe - lui Fontana Lopes Centro de Documentarso e Biblioteca Jayme A. de Albuquerque aval. | CChefe - Norma Batista Norcia Programss Expecias Programa para 0 Aprimoramento do Miédicos @ Outros Protisionais des Nivel Superior Atuantas no Sator Sade q Comisio Especial - membros ‘Anoi Castro Cordeiro, Carléé Eduardo Martinall, Domingos Alves Meira, Mario Mantovani, Roberto Brandi, Ruy Geraldo Bevilacqua e ‘Vicente Amsio Programa de Goleas para Aprimoramento do Extudantar de Cursos Re: ‘glares de Niveis Técnico # Superior CComissSo Especial - membros (suplentes) Massemero Sugawara (Jackson Vitoriono de Uthos) representante da Secretaria de Economia ¢ Planejamemo, lbrein 060 Elias (Marco AAurélio Machaco de Mello) representante da Secretaria ds Fazenda, Otavio de Otivira Junior (Antonio Ivo Pezzotti rpresontante da Cass Goi, Joab Jamil Chusry José Eduardo Boneder) represntante do | Secretaria da AdminisragS0, Orlondo Figuelcedo representantes Fundapio do Desenvolvimento Adminisvative - FUNDAP e Walter Bonin (Secreério Executivo) l REFERENCIA BIBLIOGRAFICA ESTUDOS FUNDAP. A Questia Urbana e oF Se¥igos Publis. Sz0 Paulo, n® 1, 1983, Ps 600. 711.405 ‘Sendo a Série Estudos FUNDAP uma publicagio aberts bx mais diversas tendEncis & pontos de vita, os artigos @ resenhas so de total exclusi- 2 va € Unica responsabilidad dos autores. € permitida a pubicarso d2 ‘wechos de artigos, desde que identificada a fonte. Tode correepondé- ‘deve ser enviada para ESTUDOS FUNDAP - A/C Nécleo de Editors: io © Publicsgdes~ Fundago do Desenvolvimento Administrative» RUa Cristiano Viena, 428 - CEP 05411 ~ Fone: 881-5311 - Telex (011) 0658 - FDAD-ER - Endereco Telerético FUNDAP - So Paulo SP. ESTUDOS FUNDAP N21 See cceemuscheamtne aie esjuposfundap net Indice 03 Apresentagio o> 04 Nota Introdutéria Sobre @ Construgdo de Um Objeto de Estudo: O Urbano, Azael Rangel Camargo, Celso Monteiro Lamparellie Peciro Concei¢ao Silva George 04 Introducao : 05 0 Processo de Formacéo do Urbano: Uma Descricio Tentativa n Estado e Urbano no Brasil: Visio Geral e Hipéteses Exploratérias ” A Construego do Objeto do Estudo i 20 Questées de Método | 2 Possiveis Objetivos de Uma Andlise dos Meios Coletivos 23 Esbogo de um Método de Anélise para os Melos Coletivos fo 2 oe a Bibliografia 28 Uso do Solo Urbano e Direito de Propriadade, Celso Monteiro Lamparelli 28 Introdueso 20 Problema do Solo Urbano | 30 Propriedades, Uso @ Mercado do Solo Urbano 4 31 A Acio Estatal: Ordenagio, Regulacao e Controles ‘Crescimento Econémico, Urbanizacfo ¢ Pobreza: 0 Caso de Sio Paulo, As Tendéncias do Crescimento Urbano no Estado de Sao Paulo Pobreza @ Exclusio Social no Estado de Sio Paulo Gee fees ‘ ESTUDOS FUNDAP N°1 a B25 5 64 56 Conelustes | Referéncias Bibliogrsticas | Equipamentos Coletivos e Consumo Social, Edmond Pretecsille Introducso Equivamentos Coletivos » Ciéncias Sociais j Melos, Relagdes e Priticas de Consumo, sua Socializagdo Consumo Socializado e Distribuigso Social Referéncias Bibliogréticas Resenha: ManifestagSes da Relagio Estado-Urbano no Estado de $f Paulo, Mary Lou Paris Bibliogratia PPPUR « UFR BIBLIOTECK 2 ON ON /Aome o80a5i~2 «4 x | Iniciamos com este volume, dedicado 20 tema A Questo Urbana e os Servicos Coletivos,a série ESTUDOS FUNDAP. © propésito fundamental dessa nove série & levar 3 Admi- nistragz0 Pablica em geral, e a setores especificos da mes- ‘ma, resultados de trabalhos de pesquisa, assistncia técnic tensino e cooperagio técnica desenvolvides pela Fundacdo do Desenvolvimento Administrative, Nossos CADERNOS FUNDAP, periédico trimestral, tém apresentado trabalhos deservolvides pela FUNDAP com a preocupacdo bésica de exercer uma ago modernizadora junto 20s rg80s piblicos. A série ESTUDOS, fiel a esse principio, scolhers, contudo, trabalhos de outra envergadu: publicaré estudos e relatérios sobre temas de maior es- pecificidade, podendo publicar também trabalhos mais volu: moses, que dificilmente se adaptariam a série CADERNOS. ESTUDOS FUNDAP se inicia tratando do tema A Questéo Urbana ¢ os Servigos Coletivos. Os problemas urbanos e seus miltiplos desdobramentos so, desde alguns anos, uestdes centrals com que se defrontam 0 Poder Pablico e a Administragio, Identificar, diagnosticar © dar tratemento 208 divarsos aspectos que @ questo urbana suscita sf0, des- se modo, atribuigSes e responsabilidades a que o Estado ndo pode escapar. Uma melhor compreensio do fen@meno urbano e das politicas pblieas correlatas pode, do ponte de vista da FUNDAP, subsidiar a intervencgo e « administrago de certos setores da Administrago Publica. Para isso, tamos realizado estudos, pesquisas, semindrios e cursos. Nesse sentido, jé foram publicados os resultedos de duas pesquisas bésicas: a primeira, em colaborago com a Secretarie de Economia e Planejamento do Estado de So Paulo, Manifes- tagdes da RelagSo Estado-Urbano no Estado de Séo Paulo - Levantamento Sistemético de Aspectos da Interveneio do Governo Estadual 1947-1977 (série Estudos © Pesquisas, Apresentacao nO 28, fev. 1979, 342 pégs.); a segunda, em colaborago com 2 Coordenadoria Geral de Planejamento - COGEP -da Prefeitura do Municipio de So Paulo, O Planejamento Urbano om S30 Paulo: Documentos (série Informagies & Apoio ao Planejamento, n° 3, 1979, 78 pigs.), Este ESTUDOS FUNDAP N° 1 apresenta outros resultados das atividades de ensino e pesquisa na érea de Administra- fo € Politica Urbanas, O artigo Nota Introdutéria sobre a Construgio de um Objeto de Estudio: 0 Urbano, trabalho coletivo editado pelo Arquiteto Pedro Concei¢o Silva George, sbre 3 publicagio, seguido pela transcriggo da aula Introdut6rla do Curso sabre Uso do Salo Urbano e Direito dle Propriedade, coordenado pelo Arquiteto Celso Monteiro Lamparel No desenvolvimento dos trabalhos, pudemos contar com a colaboragio de diversos especialistas, convidados para am- pliar e enriquecer o campo de andlise. Assim, 0 Prof. Vilmar Faria apresente, neste volume, artigo em que examina o Impacto do crescimento econémico brasileiro dos diltimos ‘30 anos sobre © processo de urbanizaglo no Estado de So Paulo, Outro especialista convidado a colaborar com 0 programa da FUNDAP sobre a questo urbana, especialmente no curso Prastagio de Servios Coletivos Urbanos realizado em 1979, foi o Prof. Edmond Pretecsille, pesquisedor francés do Centre National des Recherches Scientifiques - CNRS & do Centre de Sociologie Urbaine - CSU, de Paris. Pela im- pporténcia de sua contribuigéo, inclufmos uma traduco de ‘s2u artigo Equipements Collects et Consommation Sociale, publicado originalmente no International Journal of Urban and Regional Researches, vol. 1, n° 1, marco 1977. AA série ESTUDOS ter continuidade, no volume 2, com um ‘nGmero especialmente dedicado ao tema Processo Adminis: trative Disciplinar. ESTUDOS FUNDAP N°1 Nota Introdutéria Sobre a Construcao de um Objeto de Estudo: O Urbano Introdugao Este pequeno texto 6 apenas uma introduedo ao debate so- bre a especificidade do urbano ¢ como capté-la, O tom por vezes peremptério é meramente “estil’stico, pois as propo: siges destinam-se ao debate e todo o documento deve ser lido como um conjunto de hip6teses, e no de conclusées. Compée-se o texto de uma primeira parte em que 6 tentada uma descricdo geral do processo de formacdo do urban ‘sem conotacées googriicas, utilizando os conceitos de divi ‘Bo social e téenica do trabalho, de socializapio e de aglo meraeio. Dentro das duas etapas de desenvolvimento do modo de produedo capitalista (M.P.C.), concorrencial e mo- nopolista, propde-se aqui uma descrieZo da influéncia da di- visio social e técnica do trabalho na constituicéo das condi ‘des gerais para a reprodueo da populacdo e para a produ- ‘630 © na sua gradual socializardo e aglomeraedo, provessos esses que desembocam no urbano de hoje. Na parte referen te 20 urbano do estégio monopolista do M.P.C. relaciona-se © que de especifico tém as condicdes gerais e 0 espaco nese estégio @ delimita-se a intervencdo do Estado tanto num ‘Azaol Rangol Carkargo Engenheiro Civil, Professor Assstente Mestre ds Universidade de ‘So Paulo, Boluite de FAPESP no lastitut &'Urbaniame de Paris Colso Monteiro Lampareli Arquiteto, Professor Adjnto de Usbaniema na Universidade do S50 Paulo, Coordensdor do Nécleo de AdministroeSo ¢ Politica Urbana-Fundep Pedro Concsicio Siva Georae Arauitato, mestre em ptansiamento urbana pela Universidade de Londres, Profesor Mestre Assistonte de Arauitetura no Universidade de Lisboa como noutro desses elementos. Essa Interveneio é uma ca acter stica fundamental do estégio em questo. Continuamas com uma breve visio do processo de forma: 0 do urbano no contexte brasileiro, realcando algumas de suas pecullaridades que o fazem diferenciarse do que se ppassou nos pafses centrais, Distinguem-se quatro etapas no processo: 0 perfodo colonial e pés-colonial até meados do século XIX, 0 ciclo cafeeiro da economia (com especial re- feréncia a0 Estado de So Paulo), a primeira vaga de indus- trializapdo (até meados deste século) © 0 perfodo de pene- taco do capit vimento industrial mais acentuado. 1 monopolista internacional e de desenvol- Tenta-se, nesta segunda parte do trabalho, analisar 0 proces- £0, utilizando os conceitos desenvolvidos na primeira. Emi- ‘tem-se em soguida algumas hip6teses referentes ao tema. Segue-se uma colocaeio sobre 0 recorte (e a metodologia {que nele prevalece) de um possivel objeto de estudo, a que se convencionou chamar “urbano", um pouca por falta de melhor palavra. Adotou-se essa terminologia também com 0 Intuito de entrar na briga ideolégica de que é 0 fulero, para, a0 incluir no coneeito toda uma série de fendmenos que consideramos importantes, ligélo com os horizontes mais, vyastos do processo de acumulaedo, do processo politico & do processo de urbanizacdo (como fenémeno social-iemo- Nota Intiodutbris Sobre a Construcdo de Um Objeto de Estudo: 0 Urbsno grifico) e assim, de certa forma, explodito fazendo apare- cer as claras a natureza das contradigées que encobre. ‘Trata-se, portanto, nfo de criar uma nova catagoria, nogo ou conceito abstrato que se prestaria a manipulacdes ideolé- |gicas, mas sim de dar um novo conteddo a um conceito jf existente, com o intuito de estabelecer a sua articulaggo ‘com o discurso que analisa os processos gerais acima men cionados. Esta articulaeo permite, no nosso entender, exe tamente a desideologizac3o do concelto (ou talvez a sua ologizago com objetivos diferentes). Ao recortar um ‘grupo de fendmenos na realidade, que esto por naturaza li- gados aos processos gerais de acumulacd9, politico e de ur- bbanizacéo,e ao propor um conceito que os identifique, esta- ‘mos langando as primeiras pedras na construego de um tenunciado tedrico que deverd desenvolver-se necessariament- te através da formulacio de mediagBes que nos levem da compreenséo interna do objeto de estudo a sua explicaezo os processos gerais mencionados e vice-versa. Na seco seguinte abordam-se questées metodolégicas que se constitufram em problemas no decorrer dos trabalhos. Nas duas dltimas partes do texto delineam-se os objetivos e exp3e-so um primsiro esboro do método que estamos pro- pando para levar a cabo a anilise de um meio coletivo, ou seja, de um dos fenémenos que constituem e dio especifici- {dade 20 urbano de hoje. Deve ser resssltado que, sobretudo nas duas diltimas partes deste texto, abordaremos primordialmente questées refe- rentes aos meios coletivos mais ligados a0 consumo, embo- a, inovitavelmente, tenhamos que examinar suas relacdes com aqueles mais voltados & producio, pols nfo 6 posstvel separar dicotomicamente uns dos outros. Mesmo que 0 fos- se, a0 por de lado a érea da producZo, perder-so-iam deter- ‘minadas relagdes, essenciais na andlise, que podem vir a contribuir para 2 riqueza do trabalho. Por outro lado, a ‘tengo que deveria ser dispensada pelo Estado 20s proble- mes da reproducio da forea de trabalho faz com que se proponha come érea prioritéria de andlise © campo de interagdo dos meios coletivas com esses problemas, ¢ 0 posicionamento do Estado nesse campo. ‘Ao longo de todo © texto, baseamo-nos nas idgias de Marx. sobre 0 assunto e no desenvolvimento destas levado a cabo por Jean Lojkine (enquanto representante da chamada “no: va escola francesa de sociologia urbane”) e por David Harvey. (1) Vide Bioiograiaeitada n0 final do texto. ULF. RL J. RBUOTELA 2P PUR O Processo de Formacao do Urbano: Uma Descricao Tentativa A realidade urbang & objeto de. mltiplas eonceituaces. Existem viios conceitos de “urbano'; ou sea, pela mesma palavra subentendem-se conteidos diferentes (isto pode ser uma prticaideolégica, mas nfo entraremos na andlse desse campo!). Os “arquitetos", por exemplo, incluem nessecon- cto 2 problemética liad as questdes do espaco constru do. Jé a chamada “nova escola francese de sociologia urbe na tende a ver nele ndo s6 os problemas espacias, como também aquelesligados 3 producdo e reprodugdo da forea de trabalho e as praticaspolitco-ideotogicas que se do no Jimbito da cidade. Se analisissemos 0 conceito de urbano usado pelos poderes piblicos no Brasil terfamos ainds ou- tra definigdo. Neste contexto, precisamos, antes de mais 4a, examinar 0 aue para nés vai conter 0 conceito de urba- ro. O texto que se segue é uma tentative ness sentido, Assim, propomos como processo determinante do urbano @ dindmica do desenvolvimento das forces produtivas, art culada com a producdo e reproducao da popu! ‘questdes politicas dentro de uma formaedo social. E te que a cada etapa desse desenvolvimento e seu correspon: dente modo de producdo deverd estar associado um deter- minado urbano. Nao tentaremos aqui oxaminar em dotalhe a situago anterior & implantaco do modo de pradugzo ca- 2, pois 36 @ partir desse momento nos interessa 0 roblema. Ha que frisar que as questdes relacionadas com 0 urbano (espaco e condicbes gerais) no esgotam nem con- densam todos 05 problemas inerentes a0 deseavolvimento do modo de producio capitalists; elas s80 apenas uma parte destes diltimos, Urbano ¢ o Modo de Produeao Capitalista no seu estdgio concorrencial (© desenvolvimento das forces produtivas e a gradual im- plantagio do modo de produgfo capitalista carregam consigo ‘uma particular e mais avangada divisio do-trabalho. A divi ‘0 do trabalho pode-se subdividir em diviséo técnica e divi- so social do trabalho. Estas duas divisBes do trabalho dife- rom profundamente, Na divisio técnica do trabaiho que se 4 no seio das unidades produtivas (empresas, fabricas, ofi- cinas) sfo os instrumentos de trabalho que comandam e que instituem uma ordem de interdepencéncia. Os trabalhos s30 complementares. encadeados uns nos outros por uma cone- xo racional; existem af unidade esolidariedade, complexida- de, complementaridade ¢ cooperapio. A esta cooperacéo, justapGe-se a separacdo das funces em funses de comando, f funeSes produtivas, Esta separagiio 6 um fato social e no enico. No moda de producio capitalista a diviséo social do trabalho fax-se no mercado, a partir das exi Note Introdut6ris Sobre a Construedo de Um Objero de Estudo: 9 Urbano Fo que este comporta. Ngo hi nela a ra- lidade que é possivel exercer-se na empresa. No merca- do hé concorréncia e, logo, possibilidade de conflitos, segu! da de conflitos reais entre individuos, grupos e classes®. A ‘complementaridade dos trabalhos (dos produtos) opée-se © caréter conflitual do conjunto das relagées sociais, Na so- ciedade capitalista a divisSo do trabalho, em ligagio com as formas de propriedade, ngo gera apenas unidade social mas ‘também rivalidades e conflitos. Enquanto no interior de uma fébrica a divisio do trabalho & samente organi zada pelos engenheiros e regulamentads pela autoridade do ‘empresério, a sociedade néo tem, para a distribuigSo do tra- balho, outra regra, outra autoridade além da livre concor- AA divisfo técnica do trabalho consubstancia-se em processos produtivos que so tipicos do modo de producdo capitalis- ‘a: maquinaria mais sofisticada e poderosa, acionada por no- vas formas de energia, técnicas mais avaneadas ¢, sobrotudo, lum fendmeno novo que ¢ a unidade produtiva tipo fébrica, ‘ou seja, a aglomeracio de meios de producio e forca de tra- balho num ponto do espaco. Esse simples (2) fato imolice toda uma série de fendmenos que irgo modificar profun- damente as cidados e criar, genericamente, o urbeno ho- dierno. A concentracgo de melos de produeso num s6 lugar implica que a populagéo, enquanto forca de trabalho, se ‘concentre também. Isso faz com que tenha necessariamente que viver num espaco relativamente préximo do local de trabatho, na cidade (ou na drea onde esté a fébrica). Para ‘que isso aconteea tem que se estabelecer toda uma série de condigdes (nfo interessa aqui sua seqiiéncia cronolégica, ou ‘mesmo a sua existincia roal, mas sim a tendéncia) necesss- Flas para que ela se reproduza enquanto forca de trabalho e fenquanto populacéo. Podemos assim enumerar essas cond ‘9Ges (ndo exaustivamente): habitacdo, alimentagio, trans porte, energia, assisténcia & sadide, lazer, comunicagées, saneamento goral et: Da mesma forma, a unidade produtiva tipo fébrica requer para 0 seu funcionamento, ou soja, para que atue como uni- dade de acumulacéo de capital, toda uma série de outras condigdes (por vezes coincidentes com at anteriores, mas no necessariamente) que também podemos enumerar no exaustivamente: transporte para matérias-primas, energia industrial, saneamento, comunicagies, sorvigos de apoio & produgo, escrit6rios, bancos, transportes para 0 produto ‘acabado, unidedes de distribuicio e comercializagao etc. No decorrer do tempo, as unidades produtivas iro erescer, ‘multiplicar-se . sobretudo. articular-se entre si. O cresci memo de uma unidade produtiva pode, por sua vez, causar (2) Ver, 2 respeito deste probiemstics, (1972) far dos elssicos 1 leitura que Lofebwe, H. © aparecimento de outras, a ela subordinadas, que the dara insumos ou dela receberéo produtos, perfazendo assim pe- ‘quenas partes do processo produtivo original, partes esses ‘que por necessidades de economia e eficiéncia no convém ‘englobar numa mesma unidade. Além disso, as proprias Uunidades produtivas originals. 30 crescerem, articulam-se cada vez mais entre si, transacionando prdutos de uma @ ‘outra, formando-se assim cadeies de unidades produtivas in- terligadas. Esta crescente articulacgo e complexidade do processo produtivo geral aumenta a necessidade de condi- ‘pdes gerais © impde uma determinada configuragao 30 espa- {0 ocupado. E necessétio ressaltar que qualquer tipo de produglo (agré- ria ou industrial) requer certas condigdes gerais para que se complete o ciclo econémico de produggo de valor, sua rea- liza¢do e a acumulacio de excedente; isto em qualquer épo- ‘ca historica, Essas condigdes gerais evidentemente variam de poca para época. Nos parigrafos acima tratemos com mais relevo a unidade produtiva industrial pois é ela que influen- cia fundamentalmente as transformagies histricas que cul- minam no urbano de hoje, mas poderfamos raciocinar da mesma forma em relacio & unidade produtiva agréria. Se as unidades produtivas tipo fabrica, e as cadeias por eles formadas, so fruto quese exclusivo da divisfo técnica do trabalho @ das necessidades téenicas e econémicas do pro- cess0 produtivo, elas tém como eontrapartida e muitas ve- 225 como condigo necesséria uma divisio social do traba- Iho, que se consubstancia na separacio entre trabslhador & reios de produco na constituicdo das classes sociais. A crescente complexidade da intera¢o conflitual dessas clas- sas faz com que elas criem dralos e instituigBes (associa- ‘oBes, sindicatos, partidos politicos etc) que por sua vez vem requerer condigSes gerais para a sua operaco e funcio- namento. Por outro lado, as relacdes entre essas classes den- tro de uma formagdo social, que condicionam e so condi- ionadas pelo modo de produeo nela dominant, sfo a se séciorpolitica que necessita ser mantida para assegurar a continuldade de um detarminade modo de producio @ de apropriacdo do excedente. Esta dindmica dé azo {(supostamente pela sociedade como um todo, na realidade pelo Estado como guardiio de certos interesses das classes dominantes e da coesio do todo social) de uma série de condigdes gerais (talvez caiba aqui uma distingo entra instituigdo e suas condigdes de operaco) para que se man- tenham essas relagdes socials ese assogure a sua reprodugSo. ‘Temos assim os servicos de justica e afins, a polfcia e demais, Grados repressivos, a educario, certos aspectos dos organis- ‘mos culturais e de lazer, a previdéncia social nos sous aspec- tos de “seguro-desemprego” ete. {As classes sociais confrontam se em lutas séclo-politicas nas ‘quais 0 objetivo ¢ obter maior poder econémico e politico. A apropriacdo de condigtes gerais também faz parte dessa Nota Introdutérie Sobee @ Construgdo de Um Objeto de Estudo: 0 Urban \ ita. Uma ciasse social articula préticas de apropriacdio das condigdes gerals que servem de sustentéculo as atividadas ue asseguram a sua sobrevivéncia e sua propria reproducdo enquanto classe. Essas préticas de apropriacio das condi: es gerais 6 prenhe de contradicdes ¢ contlitos pois, no fundo, trata-se de recursos escassos cula apropriacio se dé ‘na maior parte através do mercado, onde vigora a concor- réncia e a competicao. © processo descrito nio implica de forma alguma que, num momento anterior aquele em que se inicia a descric&o, os vérios elementos em jogo, unidades produtivas (mas ainda ‘no fébricas!) © agentes da produedo e do consumo ngo tivessem necessidades e no se beneficiassem jé das condi- ‘¢Bes mencionadas acima, numa certa forma. 2) A primeira grande e fundamental diferenga entre o antes © 0 depois 6 que antes da penetracdo e desenvolvimento do M.P.C. essas condigbes eram asseguradas (na sua maior par~ 1c) 0 dmbito individual (através do trabalho individual) is to tanto em relagSo as unidades produtivas quanto em rela ‘0 8 populacio consumidora. Apés o desenvolvimento do M.P.C,, essas condicdes passam para 0 dmbito coletivo, pas- sam a ser produzidas coletivamente, s80 portanto socializa- das, até porque a divisSo técnica @ social do trabalho tam bém atua na esfera da producio dessas condides, agora sim, gorais (gerais porque soctalizadas, produzidas coletiva: mente, geridas e consumidas dentro de regras, normas @ gerais @ coletivas) Poderiamos aqui mencionar a titulo de exemplos as ques- ‘Wes da dgua, da educacio e da energia, em suas formas ex ‘tromas. Primeiro assoguradas individualmente através de po: ‘G08 ou localizacées perto de cérregos, através de precepto- res ou professores particulares, através de formas de eneraia primitives — lenha © carvdo extrafdos ou angariados ma: nualmente; depois, asseguradas coletivamente, através de ‘grandes sistemas icos de captardo e conducio, atra- vvés do escolas piblicas ou privadas, mas para grande nimero de alunos, através de grandes centrais hidroelétricas ou de ‘grandes sistemas de captacio, processamento e distribuigdo de petréleo e gs. Na medida em que 0 M.P.C. se desenvolve, estabelece-se uma dindmica nessa passagem das condigdes necessérias & produgdo © 20 consumo, que tom uma légica propria deriva- da da necessidade de eficiéncia econdmica na procura de maiores lucros. Assim, na esfera da pradugdo, as pequenes irmas familiares podem conservar ainda no seu dmbito ser- vicos tais como limpeza da fabrica, “estudos” de processos ‘téonicos etc. A medide que erescem ¢ se estabelecem as ce dias de firmas, tendem a langar para fora do seu Smbito es- s0s servigas, indo eles cair no urbano, coletivizados. Estabe- Tecem-se assim pequenas firmas, ou apenas pessoal “especie lizado” que faz esses servigos contratualmente. Num outro yento, paderé ser que a firma tenha es- cala suficiente para roenglobar no seu dmbito esses servicos, constituindo os seus préprios servicos de limpeza, o seu pré- prio departamento de estudos ¢ pesquisa. Ou entéo, a firma de limpeza ou consultoria téenica cresce e estabelecesse in- ependentemente, vendendo os seus servigos a uma unidade produtiva, a vérigs ou a uma cadeia de firmas jé mais ou ‘menos consolidada. A mesma, ou semelhante dindmica, po- derfamos detectar em outros servicos ou setores (trenspor- tes, autopecas, energia ete). 'Na esfera do consumo, estavam no &mbito da unidade fami- liar todas (ou quase) as condigBes necessérias & reproducdo de seus membros: équa (poros), energia (lenha ou carvao apanhados na natureza pelos préprios), saneamento (fossa negra ou estrumeira prépria), alimentagio (angariada e pre- parada individualmente e multas vezes de producio pré- transporte (a pé ou por meios préprios) etc. Em se- ‘uida, essas condicdes sio gradualmente coletivizadas: gua passa a ser coletada e distribuida por grandes redes hidréull- cas, energia é gerada e distribuida por companhias, sanea- mento é realizada por sistemas gerai, alimentago passa a ser distribuida por lojas, produzida por grandes firmas rmuitas vezes até prepsrada por restaurantes @ refel instalam-se transportes coletivos etc. Algumas dessas condigdes gerais materializam-se em ativi dades que, como veremos na parte final do texto, s# con- vencionou chamar de meios coletivos de consumo. Nao eabe, no entanto, no ambito deste trabalho, urna andli- se aprofundada do desenvolvimento hist6rico dés meios co- letivos de consumo. Propomos aqui, a titulo de registro, l- ‘gumas idéias que poderdo formar o embrigo de uma tal and lise, Uma forma de se tentar a andlise do processo de constitui- ‘so dos meios coletivos de consumo seria através do exame das transformagSes por que passou a unidade de reproduc dda forca de trabalho ao longo do desenvolvimento dos vé- ios modos de produedo, no que respeita ao bindmio traba~ Iho produtive/trabalho individual de consumo, ou seja tra- balho necessério para realizar a reproduefo ds forea de tra- batho. Nas épocas anteriores ao modo de produgio capitalist, es- ses dois tipos de trabalho coincidiam. A explorario se dava através do cessfo gratuite de uma parte do excedente, ou de uma parte perfeitamente distinta de tempo de trabalho. No ‘que respeita & subsisténcia da unidede familiar, os dois tipos de trabalho coincidiam. O desenvolvimento do modo de Produgio capitalista vem gradualmente instaurar a separe- Wo entre o trabalhador e os meios de produgo, e como co rolério separagio entre estes dois tipos de trabalho. A ‘mercantilizac30 e monetarizac3o da economia estabelecem Nota introdutéria Sobre 2 Gonstupso de Um Objeco de Estudo: 0 Urbano © vinculo entre ot dois, que ¢ 0 salirio e a possibilidade de com ele adquirir as mereadorias que servirio ao consumo para reprodugfo da forca de trabalho. No solo da unidade familiar estabelece-se uma dicotomia entre os dois tipos de trabalho. Num primeiro momento, o sistema capitalista tenta aumen- tar a acumulapo através do aumento da mais-valia absoluta, (ou soja do tempo de trabalho produtivo, Num segundo mo- mento, com o mesmo objetivo, tenta aumentar a mats-valia relativa, através da teducio do valor da forca de trabalho e portanto do tempo de trabalho necessério para a sua repro- duco. Em ambos os casos, a redugo do tempo de traba- Iho para consumo ou do valor da forea de trebslho requer {que se fagam economias no trabalho de consumo. No primsiro caso, 6 ébvio que, sendo 0 dia compost por uma parte de trabalho produtivo e outra de trabalho de consumo, para aumentar a primeira hé que diminuir a alti ‘ma, No sogundo, sendo 0 valor da forca de trabalho o valor dos bens e servicos consumidos polos trabalhadores para as- segurar a sia reproducSo. a0 se conseauir prover esses bens servigos de forma socializada e racionalizada, obtémse economias de escala que abaixam 0 seu valor e portanto © dda forca de trabalho. Retorando o caso da educacio e de gua, se cada famflia tivesse que providenciar individual mente edueagio para os filhos e égua para 0 seu consume, estas duas coisas teriam custos e um valor muito maior do que sendo obtidas socializadamente através de sistemas or- ganizados e com escala maior. Essa é a razo por que se comecam a desenvolver os meios coletivos de consumo, que virdo a permitir grandes econe- mias de escala nesse consumo. Por outro lado, a aglomera- ‘edo também vern permitir as chamadas economias de aglomeragao no consumo, Esta é uma das razBes por que @ cidade, forma de organizacao espacial aglomerada, & condi do necesséria (embora ndo suficiente!) para o desenvolut mento do modo de produeio capitalista. Uma outra é a mesma necessidade de economias no ambito da produezo, sendo que, evidentemente, uma viabiliza a outra, b) A segunda grande e fundamental diferenea entre antes @ depois da penetracio do M.P.C. se dé a nivel espacial. Se antes jé s@ notave uma certa tendéneia & aglomeracdo, essa tendéncia 6 enormomente potencializada e realizada pela penetragdo do mado de produefo capitalista na formacio social, pois este acarreta, como vimos, uma aglomerago no esparo de meios de produgdo, uma aglomerardo das unida- des produtivas, da populagdo enquanto forca de trabalho (e conseqilentemente enquanto consumicores) @ uma aglome- ragdo das proprias condigdes gerats. O fato de se ter eriaco ‘uma concentracio de melos de produgo e de populacdo implica que essas condigées estejam também concentradas, Este fato permite que se realizem determinadas economias te de escala no fornecimento dessas condicBes, 0 que por sua vez condiciona e permite que elas seiam fornecidas de uma determinada maneira e com uma certa forma. Essas aglome- rages so (grosso modo) as cidades modernas. No entanto essa aglomeracto espacial nfo se poderia dar, evidentemen- 18, num s6 ponto do espaco; constituem-se assim vérias ci ddades, que so especializam funcionalmente devido a condi 60s. geogréficas, econdmicas e politicas. Progride-se assim na divisdo do trabalho, visto que esta se instaura entre as c- dades. Temos aqui, com toda a clareza, uma divisdo social do trabalho, que s reflete numa divisio social do espaco, imposta pelo mercado ¢ sua extensio, Com efeito ¢ através dda compatiga0 e da concorréncia dos prepos dos seus pro- dutos no mercado que as atividades de cada cidade gradual- mente se ampliam, estagnam ou nem sequer chegam 2 nas- cer. € evidente que presidem aqui certas condigées, a que poderfamos chamar de técnicas, que esto presentes, ou do, om cada cidade. Mas o fato 6 que a dingmica deste processo de especializacdo se dé no mercado, através da concorréncia, no havendo nele nenhuma “‘racionalidade técnica”, nenhuma l6gica da cooperacdo. Hé entdo a neces- sidade de estabelecer ligagSes entre essas aglomeracdes, constituindo-se assim uma rede de cidades, dentro da qual cada uma tem a sua especificidade, mas depende, para se realizar enquanto “urbano", das outras cidades e das suas Ii aces com o resto da rede. E preciso realcer aqui que esos. aglomeraebes € a constituiedo da rede so a propria materia Tizacdo, a nivel espacial, do modo de produeio capitalista. ‘So a sua exprassio espacial! Néo ha desenvolvimento capi: talista sem aglomeracdes, num primeiro momento, e sem re- de, num segundo. Pade haver aglomeracdes sem capitals ‘mo, mas rio hd capitalismo sem aglomerapbes, O espaco do ‘capital exprime essa tendéncia cupla do MP.C. que é a de aglomerar cepital fixo num ponto e de se expandir através da multiplicago desses pontos, abarcando dreas cada vez maiores e causando assim chamado “desenvolvimento desigual © combinado". O que é a chamada “‘integragdo nacional” (capitalists) seno exatamente a constituigio de aglomeraeées e de uma rede, cobrindo todo 0 espaco nacional, como 0 seu corolério, a constituigio de um mercado integrado e nacional para todos os produtos do capital? Nese momento de passagem (que, escusado seré dizer, nfo s@ dé em bloco) das atividades que asseguram e produzem as ‘condi¢Bes (gerais), do ambito individual para 0 ambito cole- tivo, dé-se a transfigurago do velho urbano e materializa-se ‘© novo, visto que essas atividades, aglomeradas plas pré pias necessidades e imposicGes da divisfo técnica e social do trabalho, “caer” no velho espace urbano, expiodem-no, aumentando-Ihe 06 limites, e constituem um novo espaco turbano, com outra escala e dimensio. Este processo de aglomeracgo e a conseqiiente estruturacdo do espaco urbe- ‘no no so do sem atritos @ conflitos. A divisdo técnica do espago dentro das unidades produtivas (e/ou de consumo} I Note Introdutéria Sobre a Construgdo de Um Objevo de Estudo: 0 Urbano se dé (como a do trabalho) de acordo com uma ordem de interdependéncia imposta pelos instrumentos de trabalho, Estamos af no ambito da complementaridade e da coope- ragéo. O “lay-out” da fébrica, determinado pelos instru- ‘mentos de trabalho (méquinas) e sua concatenagio légica no processo de producio, é organizado pelo engenheiro da ‘mesma forma que na unidade habitacional se processa uma ‘organiza¢ao do espaco de acordo com as atividades que nele se levam a cabo € portanto com os “instrumentos” nelas usados. Jé na estruturagdo do espaco urbano como um todo. s@ da uma divisio social do espago que, na sociedade capita lista concorrencial, se processa através dos mecanismos de ‘mercado, Estamos no ambito da concorréncia, da competi 680 e portanto do conflito potencial e real. Essa concorrén- ia se dé entre agentes utilizadores do espago urbano que tim diferencas de poder econdmico e politico. A localize fo real de cada um deles fruto do jogo das necessidades locacionais com as suas possibilidades em termos econdmi- 08 e politicos, isto tanto para as unidades procutivas (em- presas e fébricas) como para as classes sociais ¢ os préprios individuos. As priticas de apropriagio que se dio no seio deste processo de estruturago do espaco urbano ilustram. bem a contradicéo fundamental que se dé no seu seio. Por ‘um lado 0 espaco urtano 6 cada vez mais socializado, quer no que respeita ao seu potencial de expansio (visto que este 6 determinado pelo crescimento geral das atividades econé: micas, que s30 de cardter social), quer no referente & sua produgao, quer ainda no que diz respeito as necessidades dos seus utilizadores. Por outro lado, a sua apropriaglo é no eral privada, prevalecendo af a lei do econdmica ou polit camente mais forte. Essas contradigSes resolvem-se, na pré- tica, sempre (ou quase) a contento de um tercsiro ator do drama urbano, 0 proprietirio do solo que, através do insti- tuto da propriedade privada, neste caso aplicado a0 solo ur- bano, consegue apropriarse de uma parte da mais-val dda om outros setores, sob a forma de renda fundi tabelece-se assim a divisio téonico-social do espaco que te- mos frente a nés na realidade. Deste modo, vai-se concretizando 20 longo da histéria do desenvolvimento do M.P.C. 0 tipo de urbano que the cor- responde e Ihe supre as prOprias necossidades de desenvol- vvimento, de acordo com 0 estégio em que se encontra Urbano e o Modo de Produgdo Capitalista no seu estégio monopolista Podemos detectar no entanto um outro momento de mu- danga do urbano, que esté ligado & transformagao do modo de producio capitalista, do seu estégio concorrencial para 0 ismo monopolista. Este novo estigio, ca respeito da problemétiea da rend fundisria urbana, am pertieular Lipiotz A. (1974). racterizando-se pela constituig¥o de grandes unidades de producdo complexas, pela formacdo de um capital financei- To que comanda as operacGes de grande monta, pela inter- nacionalizagdo do capital a nivel mundial (penetrando até 105 pafses socialstas!), ver requerer do urbano condicdes, gerais de um novo tipo, € portanto transforma-o radical~ ‘mente outra vez. As unidades de produgo complexas, pelo seu porte, pela sua sofisticacdo, pela avancada diviséo técni- 2 do trabalho que nelas se manifesta, ¢ pela conseqiiente divisio social do trabalho também mais complexa, resultam ‘numa procura de condigdes gerais, que devido ao seu porte, organizago e necessidade de capital sfo cada vez mais as- sumidas pelo préprio Estado. Na esfera do consumo, as necessidades de realizacdo do ca pital monopolista, bem como as lutas sociais dos trabalha- dores organizados por melhores condiges de vida, provo- cam 0 aparecimento do consumo de massa, sob duas for- ‘mas: na esfera dos bens privados de mercado, através de au- mentos relativos de salério; na esfera dos “bens publicos”, através de uma crescente intervencdo do Estado na sue pro: duo, Os circuitos de distribuigSo aumentam enormemente racionalizam-se. Caracteriza-se essa nova fase do urbano por uma crescente intervencéo do Estado na esfera do acondicionamento, ges to e provisio das condigdes gerais tanto para a producdo ‘como para o consumo, ou seja para a reproducdo ampliada do capital e da forca de trabalho, Essa intervencdo & causa- da por méltiplas razBes. Neste estigio de desenvolvimento do M.P.C. embora o problema da baixa tendencial da taxa de lucro se ponha ainda, vern juntar-se a ele o problema da realizagao do valor materializado nos produtos. Nas suas in- tervengées o Estado visa atingir um triplo objetivo: 19) con- trariar a baixa tendencial da taxa de lucro; 2% facilitar a realizago do valor e 39) minimizar os conflitos socials. A sua intervencio, nas condigBes gerais © particularmente nos eios coletivos, contribui sobremaneira para que estes obje tvos sejam atingidos. Por um lado, ele baixa os custos de reprodueo da forca de trabalho, nfo s6 20 proporcionar bens @ servicos de forma racionalizada e com economias de ‘scala, mas também ao socializar os custos através da forma de financiamento, baseada no sisteme tributério, no mais, das vezes bastante regressivo. Além disto, os meios coletivos 0 utilizados (ou pelo menos podem sé-lo) para veicular novos produtos @ hébitos de consumo estandardizados, que ccontribuem para a formago de um “homem racional cat tlista”, consumidor padrdo de tudo 0 que & produzido, ‘Abrem-se assim novos mercados para sorem, mais tard ‘ocupados pelos produtos do capital privado, de forma dire- ta. Por outro lado, o Estado torna-se consumidor de uma vasta gama de produtos do capital privado e ainda por cima fornece:the processos de trabalho e valorizapo que permi- tem o desenvolvimento da acumulacSo ne esfera privads. Nota introdutéria Sobre a Construcdo de Urn Objeto de Extuso: 0 Urbano Finalmente fornece a custos subsidiados os equipamentos necessérios & manutenedo de um determinado padrdo de vi- da para as classes trabalhadoras, 0 que minimiza as tensGes sociais (ndio sem causar outras contradig6es, como se pode verificar). ‘Além do mais, os melos coletivos de consumo passam tam- bém a cumprir funeGes no processo de reprodugo das rela- ‘¢6es socials. Tém eles umn papel ideoldgico de grande impor- tancia, tanto no que respelta ao seu potencial de legitima- fo para o Estado que 0s fornece, como também no que tespeita & sua capacidade de veicular a ideologia dominante. E ela veiculada tanto a0 nivel das relagdes interpessoats Que 12 estabelecem no seio dos meios coletivos (0 caso do aten: dimento hospitalar 6 6bvio, onde o relacionamento médico! paciente 6 um reflexo, e ao mesmo tempo novo reforco, dat relarSes de dominagdo mais gerals), como ao nfvel do con- ‘twido do que thes 6 dado distribuir (o contetido da educe- Gio altamente ideoldgico — como 0 6 a forma em que é sada, sendo o relacionamento professor/aluno seme. Ihante ao do médico/paciente). © urbano tal como ¢ entendido aqui passe cada vez mais para 0 &mbito do Estado, e a socializago mencionada aci rma_ passa a assumir crescentemente uma forma estatal. Esta socializacdo dé-se no ambito do desenvolvimento do M.P.C. no seu estigio de capitalismo monopolista, ¢, portanto, no 6 de admirar que 0 M.P.C. penetre também a propria pratica estatal de produgdo dos bens e servicos socializados. Nada, ‘ou muito pouco, distingue hoje em dia no caso brasileiro @ pratica e organizagio de uma SABESP ou CESP das de uma firma privada qualquer. Neste aspecto da produgo dos bens e servicos pelo Estado, hd que distinguir « produgio do bem ‘em si, da sua gestdo e operagdo e por sua vez do resultado final. Por exemplo: um servigo de “"metrd"”. Temes primeiro 2 produgio do bem em si, ou seja os tinels, as estapdes, 3 férrea, 0s trens & vagGes, os sistemas de controle etc.; ‘tems em seguida a operacdo desse “matrd", ou seja o seu funcionamento efetivo; e temos finalmente 0 resultado (produto?) final que é 0 fato de determinado numero de pessoas serem transportadas de forma mais eficiente, de um onto A @ um ponto B. Estes trésitens sfo geralmente obje- to de tratamento ou anélise diferentes. O primeiro é entre: ‘Que 8 “iniciativa privada’” que tem af um processo de traba- Iho pars a valorizaco do seu capital; 0 segundo corre por conta integral do Estado que normalmente assume e subsi- dia 0s custos; o terceiro ¢ apropriado em parte pelo capital privado, que pode assim contar com forca de trabalho mai descansada, fresca e produtiva (com os custos dessa melho- Fie arcados pelo Estado), em parte pela populago em geral que dispde assim de um meio de transporte mais répido & eficiente quer seja para ir trabathar quer seja para obj de lazer, entre outros. A intervene do Estado é determinada por maltiplas cau- 10 sas. O capital monopolista, que detém poder suficiente para Influenciar decisivamente a ado estatal através de vérios mecanismos, tenta initrumentalizé-to no sentido de fazer com que as suas intervencées beneficiem diretamente a acumulaggo de capital, quer através de dJudas diretas & pro- dugio, quer pelo viée dos subs(dios ao custo de reproducdo da forea de trabalho, quar faclitando a realiza¢zo do valor, como vimos. Por outro lado, o Estado, sobretudo em peri dos de democracia formal, & sensfvel as lutas que se travam rna sooledade civil @ age multas vezes ém funcdo dessas Iu tas, levando assim, em alguns casos, os beneficios de suas intorvenges as classes dominadas. Essas lutas refletem-so ainda no seu pr6prio sefo, influenciando a prética politico ‘administrativa num sentido ou noutro, em funeo da corre- Jago de forcas conjuntural. Toda e qualquer intervencdo estatal nas condigBes gerais 6, no fundo, multifacetada, & ‘um mesmo conjunto de ages, ou politicas, pode “benef. iar, a0 mesmo tempo, interesses divergentes. E nesta ca- racteristica (entre outras) que reside a possibilidade do Es- tado fazer crer na sua insengo politico-Ideologica, perpe- tuando assim 0 mito do “Estado-neutro”. Como se pode prever, no seio desta dinémica, geram-se con- ‘tradigées num momento, para se resolverem ou “‘acalme rem” noutro, contribuindo assim para 0 avango do processo hhistotico. Se a visSo apresentada até aqui tende a enfocar fesse processo do ponto de vista do capital, a verdade 6 que, no processo de constituigéo dos meios coletivos, trabalha- dores e populacio em geral jogam um papel importante, do apenas como objeto, mas também como sujeitos do processo. Uma vez que se estabelecem os meios coletivos, e multas ve- 2zes por no se terem ainda constitufdo, eles passem a ser ‘objeto de luta por parte da populace (© espaco dessa pré- pria luta), que vé neles formas de socializago necessirias ‘mas insuficientes, precisando ser aprofundadas e desenvol- Vidas tanto quantitativa quanto qualitativamente. Sao elas entio pretexto para por formas de socializaco ainda mais avancadas, transformando-se assim, dialeticamente, de pu- ros instrumentos de dominacdo, em patamares para lutas or objetivos mais avancados (nos momentos de avanco das forgas progressistas) ou em ‘locus’ de resisténcia as pressBee da classe dominante (nos momentos de refluxo dessas for- gas). Os chamados movimentos sociais urbanos, que se a cculam tendo o mais das vezes esses meios coletives como ‘objeto de luta, nada mais so do que a concretizacio dessas resisténcias no contexto urbeno. A nivel espacial, as grandes cidades de hoje constituem-se fem escala muito maior do que na fase anterior. Do ponto de vista qualitativo, ao nivel da estruturacso do seu espago, so mais sofisticadas e complexes, refletindo @ maior diviséo so- cial e técnica do trabalho, que se transforma numa divisio social e técnica do espaco. A pradueio do espaco atinge no- Note introdutéria Sobre 2 ConstrucSo de Um Objeto de Estudo: 0 Urbano vos patamares técnicos e a estrutura das rendas fundidrias e sua apropriago tornamse também mais complexas; tado es- ‘te setor passa aser objeto de penetrago do capital financeiro ‘que leva os processas especulativos a0s niveis mais altos, ‘com as conseqd8ncias que podemos ver hoje na realidade das grandes motrépoles de todo © mundo capitalista. Agra vase assim ainda mais a contradigo entre o caréter soci zado do espaco urbano e a apropriacSo privada que dele é foita, ‘A rede urbana, por sua ver, torna-se mais hierarquizada, in- terdependente e integrada, proporcionando a cada elemento, dessa rede possibilidades de funcionamento mais eficiente dentro do padrdo de acumulacdo imposto pelo modo de produgéo capitalista. Cada cidade adquire funcdes espect ‘cas € caracter(sticas gerais ligadas 8 configuracdo dos meios coletivos que materializam as condigSes gerais, o que resulta numa “unidede na diversidade” do cardter urbano, mas ‘também num agravamento a nfvel inter-regional das contra igdes do “desenvolvimento desigual e combinado” fruto a divisio social do espaco (e do trabalho) perpetuada pelo mercado, © egravamento destas contradicdes & de tal ordem que o Es- tado s¢ v8 obrigado a intervir como normalizador, regulador muitas vezes produtor do proprio espaco urbano, No pe- rfodo pésil Grande Guerra, vernos por todo o mundo capi talista uma proliferacio de planos de urbanizaedo, leis de zoneamento, obras pontuais e outras manifestacbes dessa intervencao estatal, numa tentativa de resolver ou pelo me- ‘nos minimizar essas contradicBes. planejamento urbano aparece ento como a atividade que organiza e operacionsliza essa intervencio, Atividade orga- niizadora e operecionalizadora que é, baseia-se numa racio- nalidade técnica deduzida de premissas ideais, mas encontra pola frente uma realidade complexa e sobretudo contradito- ria, poucas vezes passivel de tratamentos técnico-racionais. Causa esta defasagem profundas contradigdes no sofo da disciplina e inimeras dividas existencials nos profissionais que a praticam, prensados entre os ditames dessa racionali- dade e as presses politicas, ecandmicas e socials que ema- nam da realidade. Dentro dessa dindmica, as leis de zoneamento sfo uma ten- tativa de aplicar a forca uma racionalidade técnica (2) na methor das hipéteses, baseada numa visio da cidade que a toma idealmente como um espago onde seria posstvel apl ‘car uma divisdo técnica, sem perceber {ou sem querer per- cceber) que a dinamica de estruturagdo desse espaco é er nentemente social € ndo técnica, portanto contraditéria e ‘go cooperatival E também neste perfodo histérico que 0 Estado comera a tratar com mais cuidado 0 problema das “disparidades re- " U. FL RL IBLIOTERA EP PUR sionals", produzindo planos regionais (""métropoles d'équi- libre”, “aid to depressed regions” e quejandos!) e dando tratamento econdmico espegial as regides menos bafejadas pela sorte no jogo do mercado livre, pautando a sua inter veneo pelos mesmos princfpios bisicos que orientam a sua atuago nas cidades. ‘Ao M.P.C., no seu estégio de capitalisme monopolista em ‘eseala mundial, corresponde, portanto, um novo tipo de ur- ano, com at earacteristicas que todos pademos ver nas grandes metrépoles do mundo capitalista bem como nas re- des urbanas de cada pais, cujas peculiaridades regionais s30 ‘ada vez mais apagadas pela penetracdo da uniformidade ‘cultural imposta pelo modo de produc3o dominante, que se estende hoje aos mais afastados recantos do mundo. ‘Ao distinguir estas duas etapas de desenvolvimento do M.P. . estamos conscientes de que elas ndo sio estanques ou mutuamente exclusivas. Os urbanos que criam interpene- tram-se e sobrepdem-se, pois, pele sua propria natureza, 05 ‘aspectos fisicas do urbano tém uma “inércia histérica” que 0 faz atravessar vérios perfodos, por vezes intocados em al- guns tragos ou em cortos lugares, sobrevivendo aos proces- 05 sociais que abrigavam. Assiste-se assim a um processo de sedimentagio e de interpenetragio dos aspectos Fisicos des s@ urbano, om cortos casos por corresponderem ainda a res- tos de modos de producdo anteriores ou a etapas pretéritas do M.P.C. que sobrevivem (e tém certas fungdes econdmi- cat) embora ja tenham deixado de ser dominantes, em ou- tres por no terem ainda sido objeto de atenedo por parte das forgas que produzem os aspectos fisicos das nossas cida des (quer isto dizer no deronstrarem ainda um potencial de lucto suficientemente alto!) De todo este aglomerado de processos, forcas, contradicdes, presses © rosisténcias resultam as cidades tal como as co- ‘ahecemas hoje Estado e Urbano no Brasil: Viséo Geral e Hipoteses Exploratorias As Etapas ‘Numa primeira visio do desenvolvimento historico da rela- 80 Estado/urbano no Brasil, podemos detecter virias etapas distintas que se relacionam com as caracteristicas econdmi- co-politicas da formago social brasileira, tanto internas quanto externas (ou seja referentes a0 papel do Brasil no contexto internacional) a Nota Introdutbria Sobre a Gonstruggo de Um Objeto de Estudo: 0 Urbano Assim, uma primeira etapa seria 0 periodo colonial e pos- -colonial até meados do século XIX. O urbano nasce pela mo do Estado colonizador, fundamentalmente como ‘lo- cus’ do aparelho politico e administrative que exerce a do- ‘minagio colonial e capta uma parte do excedente produzi- do. As atividades econdmicas & medida que se desenvalvem vo requerer condicdes gerais que se inserem nesse urbano, fazendo-o desenvolver-se de acordo com as nocessidades ddessas atividades: instalam-se os circuitos comercials que ppermitem a ligaeo da produeo com a circulario interna- ional de mereadories. As cidades politicas normalmente localizadas na costa (Salvador e Olinda/Recife) passam tam- bbémm 2 ser portos de exportaeio e pélos de influéneia das r ‘les produtoras que as radeiam, fornecendo-Ihes os (pou- cos) insumos necessérios e os pequenos mercados para as trocas comerciais. No interior, as proprias unidades produ- ‘vas contém no seu Ambito as condigGes necessérias 8 sua reprodueSo, tanto da orca de trabalho como das condicdes para a producao. Uma série de particularidades do processo econdmico desta ép0ca influenciaré determinantemente 0 padrdo de urban zacdo. ‘A monocultura do agdcar para exportario apenas necessite va das cidades como entrepostos para © produto no seu ca- ‘minho para o exterfor. cia das unidades produtivas, por um 5 requeressem da cidade poucas con- tribuigées para 0 seu funcionamento; e, por outro, em de de estar nelas embutida uma divisdo social do trabalho ue era a propria condigéo dessa auto-suficiéncia, impedia 0 desenvolvimento da divisio social do trabalho nas cidades e a aparigéo de toda uma série de atividades que “normal- mente" af se encontrariam. Note-se que este padrdo extremamente pobre de divisdo so- ial do trabalho no campo ocorre no porque nio haja bens « servigos, mas sim porque ndo hé troca de mercadorias. A reprodueZo se dé dentro das unidades produtivas (sem tro- 25 comerciais) e por isso se pode chamé-las de “autérqul cas". Evidentemente, sern a$ trocas comerciais, falta um ‘lo no processo que permitiria © aprofundamento da divisso social do trabalho @ portanto limita-se bastante o desenvol: vimento desta, © trabalho escravo, pelo seu lado, negava a cidade @ sua ‘condicéo de mercado de trabalho, que é um dos seus atribu- (4) Sobre » questdo da “autarcizagSo” vejase Olivers, F, (1978), ‘que cuntou 0 term e desenvaiveu 6 conceit, 2 Todos estes fatores contribuiram para que ¢ rede urbane do Brasil, noste primeiro perfodo, tomasse uma forma extre- mamente polarizada, com um pequeno némero de grandes jades e raras pequenas aglomerares entre elas e as unida- des produtivas. As grandes cidades eram assim as sedes da administragdo e do capital comercial que controlava a pro- ducio ¢ fazia 2 ligaco com a circulacéo internacional de ‘mereadorias; pouco mais. Os grandes exemplos deste tipo de cidade si0 Salvador e Olinda/Recite. Durante 0 século XVIII, 0 ciclo mineiro da economia brasi- Ieira deu lugar 20 surgimento de algumas cidades de certo porte no seu auge (Ouro Preto, So Jogo Del Rei, Cuiabé, Vila Bela), mas que decaem com a exausto dos veios de minério, retrocedendo para um semiisolamento © estagna: 80 quando uma boa parte da populacio @ elas ligada se des- fora, e a que fica passa a dedicar-se a uma agricultura de subsisténcia. ‘Temos no entanto, fruto deste perfodo, o eparecimento do Rio de Janeiro como grande cidade, porto de exportacdo © ‘comércio das riquezas extrafdas, que mals. tarde se trans- formard na capital administrative do pats E exatamente através do Rio de Janeiro que iré comegar 0 lo cafeeiro da economia, ciclo este que teré conseqtién- clas importantes para a urbanizacio do pats, em particular do Estado de Sdo Paulo. Com efeito,o cultivo do café é uma atividade urbanizadora, pois 20 contrério do agicar, necessi- ta de condigdes gerais para 0 seu funcionamento que s6 po- dem ser oferecidas pelas cidades: circuitos de comercialize- ‘0, rede bancéria, entrepostos para estocagem e boneticia- mento do produto, mercado para compra de Insumos Im- Portantes e, finalmente, um local de consumo um pouco mais suntudrio para os propriatérios do excedente. Assim, entra © café pelo Rio de Janeiro, penetra em Séo Paulo através do Vale do Parafba, expande-se pelo interior do Es- tado e desvia-se para o Norte e interior do Parané. Ao longo desta marcha cria as suas cidades e as beneficia diferenci mente, pois o excedente tende a concentrar-se (através dos Circuitos de comercializacdo) em algumas que virdo a ser ci dades médias de relativa importincia, Com efeito, no perfodo de “invasdo”, expansio e auge do café numa regio, a cidade com melhor localizagdo em ter- ‘mos de comunicapGes com os grandes centros (So Paulo € Santos), e/ou rodeada pelas melhores torras, comece por concentrar os servigos necessérios & pradugio, 0 que por sua vez atrai o comércio, o banco, o médico, a farmécia, a esco- la etc. Os circuitos comercials que se estabelecem entre esta € 2s outras cidades da regio canalizam @ transferéncia do ‘excedente que se fixard em parte na primeira, formando-se © circulo vicioso no qual “quem mais tem, mais ganha”. O excedente monetirio arrecadado pelos produtores de café (dele deduzidos os gastos de consumo e as possivels aplica- a Nota Introdut6ria Sobre a Construgo de Um Objeto de Estudo:O Urbano Ges de capital noutros setores da economia) é reaplicado ‘na compra de novas terras agricolas ou de propriedades Imobiligrias na cidade polarizadora, e até mesmo om S30 Paulo (vide Avenida Paulista), 0 que contribui ainda mais para 0 processo de concentra¢ao. Forma-so assim uma rede hnlerarquizada de cidades. No perfodo de “fuga” do café (por esgotamento das terras) as varias eldades iro resistir diferenciadamente. A cidade ‘maior e algumas outras resistirZo com éxito, tendo gradual- mente substituide ou complementado as atividades de dis- tribuiggo com a produgo de mercadorias, ou sustentando- -se noutras atividadles agrfcolas quando as terras ainda o per- item, E curios notar que o préprio processo de “fuga”” do café contribu potencialmente para uma polarizago ain- dda maior, pois embora leve consigo populacdo de todas as cidades indiscriminadamente, dos quo ficam na regio, mul 105 partiréo da cidade pequena, agora “arruinada”, e irdo se fixer nos centros urbsnos que conseguiram resistir& partida do café. Nas palavras de Sergio Millie “hd na sua (das ci dades) sobrevivéncia & onda cafeeira uma espécie de ponto do equilfbrio que procisa ser atingido antes da derrocad: Assim, Taubaté, Jundiaf, Campinas, Piracicaba, Sorocaba, Bauru, se firmam; Areias, Ubatube, So Luiz do Paraitinga, Parnafba, desaparecem praticamente; outras so imobilizam. Influéncia do café? Indiscutivelmente, Grandezas e deca dncias que so ligam de um modo direto & grandoza e dece déncia do café” Quanto @ infludncia ds cultura cafosira na divisgo social do trabalho, poder-se-ia pensar que, no &mbito estrito da pro- dugio, ‘ela no the introduz aumentos signiticativos; mas Por outro lado, a sua presence numa regio chama toda uma série de atividades que vlo estimular e possibilitar as trocas de mercadorias em gerd, assim contribuir para @ aumento desta divisio, 20 longo de um lento processo. Quando o ca- {6 se retira, as cidades que resister & sua partida conserva- 10 som divide uma parte das conquistasjéalcangadas neste ‘campo. Resta saber se essas atividades “novas", ea forga de trabalho por elas criade, se adequam as necessidedes do 1 po de desenvolvimento que virs numa face posterior. A res- posta parece ser parcialmente negaiva, pois as primeira s80 na sue maioria de caréter comercial edo tipo “prestacio de servicos” (comércio de todo 0 tipo, bancos, sorvigos méi- 05 € educacionais etc). O padrdo de acumulacSo posterior teré base essencialmente industrial e s6 indirotamente se ba- searé na forga de trabalho criada e utlizada por esss ativi- dades. (5) Vide Mitt, S. (1946), tombsim, 2 propésito de toda a quest6o do influbncia da sgricultuea no processo de urbonizario, Padi, P (©. (1978). Vérias das idtias aqul enunciadss baseiam-se na an #8, por ele feita,desse probleme. 13 Assiste-se também por volta de 1850 ao “infcio" dos fluxos rmigratérios europeus. Parte do excedente do café foi utili- zado para financiar a vinda de trabalhadores europeus, que, com 0 acesso 2 propriedade da terra vedado, ‘de fato’ ainda que no ‘de jure’, pela lei 601 do 1850, tendem a afluir as cidades médias uma vez que se desloca a atividade base que serviu para os atrair, ou seja a cultura do café. Vio eles esta- bolecer-se nessas cidades de porte médio onde alguns exer- cero os misterés que originalmente tinham no seu pats (ar- tesanatos de toda a ordem). Cria-se assim uma méo-de-obra bastante especializada que serviré depois para a implantacdo dda indéstria na segunda etapa do desenvolvimento econdmi- co da sociedade brasileira, & medida em que a tendéncia é & maior, Sdo Paulo. Nesta, juntam-se adios de origem européia que tam- gram, de ‘motu préprio ou jé contratados por in- dstriais interessados nas suas especialidades. AAs crises internacionais do mercado do café e a Primeira Grande Guerra permitem @ a0 mesmo tempo requerem que a sociedade brasileira inicie a sua industrializaego, baseada na substituigdo de importacdes, utilizando o excedente ge- rado pelas atividades agricolas de exportardo. Estas (em particular a economia cafeeira) teriam ja prepara- do um mercado interno propicio a absoredo das mercado- riag industrializadas e eriado um mercado de trabalho livre ‘nas cidades, com abundancia de forea de trabalho a baixos precos (embora no qualificada), o que no todo conf ‘uma excelente situago para a inversdo de capitais nos seto- res industriai Essa industrilizagZo no podia contar, como nos patsos centrais, com uma divisd0 social do trabalho auténoma no ‘campo, consubstanciada num campesinato-artesio que Ihe fornecesse @ mio-de-obra necesséria &s suas atividades. Ela ‘eve que ser, pois, mectiatamente urbana, e ainda assim com caracteristicas peculiares devido as condicées imperentes, nessa altura, nas cidades. Como vimos, a autarcizagio das Lnidades produtivas do campo impediu também nas cidades © desenvolvimento da divisio social do trabalho e o apareci- mento de atividades que poderiam, neste novo estégio, for- rnecer @ mio-de-obra, bem como outras condigdes necessé- Flas a0 desenvolvimento industrial No que diz respeito & mio-de-obra especializada, as nece dades dessa indiistria nascente foram supridas pelos imigran- tes europeus que entretanto tinham afluido &s cidades (em- bora om nimero e qualidade insuficientes por si s6) @ pela portago” de operérios especializados agora vindos dire- ‘temente pate trabalhar na inddstria urbana. Por outro lado, (6) Vide Cano, W. (1977),

Вам также может понравиться