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BETHENCOURT, DIOGO RAMADA CURTO (DIR) FRANCISCO BETHENCOURT, DIOGO RAMADA CURTO (DIR) A EXPANSAO MARITIMA PORTUGUESA, 1400-1800 70) | | A Bownso Mantra Poeevoues, 400-1800 (Salvador, 2000, 2+ ed, Rio de Janeiro, 2004), Gilberto Ferez, As Cidades do Salvador ¢ Rio de Janeiro no Séouo xv (Rio de Janeiro, 1963), oferece uma ‘imensio iconogréfiesescadémiea comparative, A bibiografia em lingua ingles & mais escasa, Uma boa introduséo ¢ 0 enstio exiemamente interpretative de Richard M. Morse, «Branls Urban Development: Colony and Empire», Jounal of Urban History 1 (Novembro de 1974), pp. 39-72. Os posts so dscuides em A. 5 R, Russel-Wood, «Ports and Colonial Brazil, in Alan K. Karras e J. R. McNeill (eds), Atlante American Societier from Columbus through Abolition, 1492-1888 (Londres, 1976), pp. 174-211. Roberta M, Delson abre novas perspectivas para 0 ‘stud ds urbaniaagio no ensaio «Planner and Reformers: Utban Architect of Lat ighteenth-Century Brazil, Eighteonth-Century Studies 10 (1976), pp. 40-51, ema sua monografia New Towns for Colonial Brasil Spatial and Social Planning ofthe ighicenth Century Syracuse, NY, 1979). ( abrangente Sugar Plantarions in the Formation of Brazlian Society, 1550- 1835 (Cambridge, 1985), de Start B. Schwartz, demonstra como algumas pln tags tnham muitos dos atributos de uma pesiena sei. Sobre as adeias estas ‘no eontesto do povoamento brasileiro, ver Joo Licio de Azevedo, Os Jesutas no Grio-Pard:Suas Misstese a Colonizagao (2. Coimbra, 1950), 0 dis livros {e John Hemming j6referidos. HS cada vez mais bibligrafla em Mga poraguesa sobre os qulombos; os Ieitores de lingua ingless poder ler o ensaio seminal de RK. Kent, Palmares: An Aftican State in Brazis, Journal of Afhean 6 (1963), 1p. 161-175, eo artigo de Stuar B. Schwartz reeditado no seu Slaves, Peasants, and Rebels: Reconsidering Brazilian Slavery (Urbana I, 1992) Para uma dimensio comparativa da. colonizagio, ver Joyce Lorimer (ed), Setlement Patterns in Barly Modern Colonization, 160h-i8¢h Centuries (Aldershot! rooktield, VT, 1998); A.J. R Russel: Wood (ed), Lac Government in European Overseas Empire, 430-1800 (2 vals, AldershtfBrookfeld, VT, 1999); e Russell ‘Wood, Government and Governance of European Empires, 450-1800 (2 vols, AldershovBrookfield, VF, 2000), 7 Configuragdes Politicas e Poderes Locais Francisco BETHENCOURT Entre 1415 e 1822, o Império Portugués apresentou ums geometria varié- vel, baseada em teritrios distantes, descontiauos e fragmentados. A con- figurago do impétio, em constante mutaglo, revela movimentos intet- continentais permanentes de expansio, retracgio e compensapio, ¢ 4 sua mmanutengao requereu, a nivel inter-regional, a mobilizagao de recursos © um poderoso apoio militar, objectivos politicos comuns e uma idenidade tnica parithada pelas comunidades portuguesas. A pergunta subjacente, bordada no presente capitulo, € como & que o immpétio foi mantido coeso apesar dos desafios colocados pelos poderes locais e regionais, para nio {lar da ameaca das outras poténciss expansionistas europeiss, Embora a s0gio ea organizago pottcas no baster, por si s6, para explicar a perpe- ‘ago do Império Portugués, estas questdes so cruciais para a abordagem do tema, ‘Comego por rejetar a perspectiva nacionalista de um impétio altamente centralizado (Esta abordagem anacrénica impede-nos de compreender «8 (©) O caso exteme Joaquin Verio Ser, His de Prcgal (12 vols Lisbon, 1978-1990; una vero bere repubicna da histrigatia nacional coon na Sl History of Portugal (2, Nova erga, 1916), de A. H. de Olivia Margie a0 A Enso Mantra Porreoues, 400-1800 realidades no terreno, onde as deciées tomadas pels agéncias centais da ‘coroa nfo moldaram a verdadeira ago csofteram a oposigo constant de iniciativase esposts politica loeis aos desafios quotidiaos. A historo- srafa nacionalist, que continua a prevalcer em todos os pases do mundo, ‘no nos permite compreender a rea intracso entre os colons, as popul- es leas os pderesregionss. Qualquerhistoriadr que se deie influen- Siar por esta perspeciva fica encuralado nas suss prépris referéocas nacionas,reproduzindo odiscurs de legitimasso do Estado que era tradi cionalmente avibudo 2 sua profissio. Um impéio é sempre improvisado, formado por um equifrio ambiguo entre as esratgias centais, as incite ‘as locas eas possibildadespolitcasconcebides por poderesantagénieos Um impéci constri-se sobre a conguists, a negociagio € compromissa com diferentes culturas organizacionais¢ pavos. Estes aspectosericaissio evitados pla abordagem nacionalista, que confunde a alse sia com sen- timenos 6icose propaganda esata No eatant, também ndo comungo da perspectiva pis-moderna de um immpéti facoeaesfalo @), Esta vio minimiza a posigSo da coro no imp fio, exagera a imporincia dos podereslecais ¢ foge & pergunta principal: como € que este império descontinuo conseguiu manter-e coeso durante séeulos. roncamente, s consequéncasideolgicas desta perspeciva pol tica horizontal e frouxa reforgam a visio nacionaista: se 0 Estado era tio fraco, eno 0 tnico poder capaz de sustntar as comunidades ltamariaas portuguesas foi aIgrejaCatéica Ist levanos drectamente As comemort- es salazarstas dos descobrimentos, nas décadas de 1930 e 1960, que ra: ) Rat Kant Ray, nan Society an th stair of ritsh Supremacy, 765- 18, in PJ. Marsal, The ford History of the Bish Empre, . 2, pp. 508.529 HV. Boma, «Brits ins 1765-815: The Metopoltn Comtex, PJ, Maal, The Oxford sory of he Brgh Empire, ol. 2 pp 580 5h 29 | | | A Benisko Mazin Portvauiss, 400-1800 interesses privados através de contratos © concessdes, com una forte com- ponent de redisribuito de proveitos pelos virios nveis da administrasto, ‘As tentativas portguesas para copiar 08 modelos inglés ¢ holandés de com- ppanhias comerciais com accionistas experimentadas em 1628 fracassaram vido falta de empenho dos investidores privadas A Expansio Atlantica A diferenga principal entre o império portugues aa Asa ea império por tugués no Atlntico ¢ que este nunca esteve sob o contolo de uma ica estrutura governamental, No entanto, o prinfpio goveratvo gers imple- rentado no Brasil, ainda que seguindo uma logic diferente, inspinada na experincia do sistema das eaptenias donatarais, que nunca fo insttudo na Asia. De facto, fio sistema de eitorase capitanias que se adaprou 0 con- texto asitico apss a primeira experitncia no Atlntico, Os diferentes tipos de controle politico no Alintco seguiram uma cera sequéncia logic (mas ‘no cronoldgica), pois alguns ~ 0 govern separado por eapitania, a feito- Has(fores e o sistema das capitanias donateriais, que se mantiveram,nalgu- mas regides, até a0 séeulo xvi — tinham sido implementados no séeulo xv Alguns modelos de controle territorial resultaram das primeira experigncias no Atlintico especialmente o controlo das cotas a partir de ilhas, como a relagdo entre a Madeira eo Norte de Avice ou entre o arquipélago de Cabo Verde ea Guiné, mas afiguraram.se menos pertinentes no context indiano, Em comparasio, a necessidade de solugdes nepaciadas foi mais dbvia na Asia do que no ALlintico devido as diferentes complexidades dos poderes ubanos, polices e militares locais. A tansferéncia de estuturas de poder curopeias para o Allintico Sul foi mais fi, espocislmente para o Brasil © em menor gran ~ para Angola, devid as diferentes formas de resist. cia demonsradas pelos autéctones.Indepeadentemente dos constrangimen tos locas verifcados,verficou-se inguestonavelmente uma transferéncia reefproca de experiéncias entre os dominios portugueses no ocean Inco © no Atlintico Sul. Por esta azo, importa elisa os verso esquemas tn- tadosno Attica, Cada forte portgués no Norte de Attica era comandado por um capitio, «que deserapenhava um papel fuadamentalmente militar mas também exerci © contro judicial fiscal da populagdo.O exerci deste tipo de poder dew ‘origem a coafitos constants com a populagéo mugulmana host das éess (@) Aaithony R. Disny, Twilight ofthe Pepper pie: Portuguese Trade in Southwest Indian the Bary 7 Century (Cambridge, A, 197). 240 ‘Conmcunagdes Ptinens Poser Loca circundantes. Esta opedo militar, implementada apés a tomada de Ceuta, em 1415, fi repetida no seguimento das conguistas de Alcfoer Ceguer (1458), Arzila © Tanger (1471), Santa Cruz do Cabo de Gué ou Agadir (1505), Mogliouro ou Essaouira (1506), Safi (em 1508, mas sob int lvéaia port sguesa desde 1481), Azamor (em 1513, mas 0b influéneiaportiguesa desde 1486) Mazagio,hoj El Jadida (1514). Emboa a extratégia nical de con quista de teritérios do Interior tena sido apotads pela identiticagio dos capities com os gueteiros de fronteira YPontios) iéricos meievais, objective fundamental fo a criagdo de wma rede de posiosfrtificados para controlar movimento maimo naregitoe para o Adéntico Sul Esta estr- tura de poder permancceu activa durante mais de 200 anos, emibors a pe senca portuguesa no Norte de Afica se tena reduxida consideravelmente enite 1541 € 1550, com a perda de Agate aretrada de Mogadouro, Salim, AAzamor, Aleicer Ceguer © Arzila. Estes acootecimentos ocorreram apés @ ascenso do xerife de Suz que em 1549 conquistowo rein de Fe efudou uma nova dinastia (0s capties dos véros fortes portagueseseram nomeados pelo rie res pondiam spenas perante ele). A prética das nomeagSes por rs anos para 0 virios cargos administrativosestava em vigor desde a segunda fase das conquistas seria sucessvamente aplicada a todo 0 Império Portugués Emibora estes capitiestvessem incialmeate un estattoidntco perate 0 rmonarca a resisténcia de Mazagio a um longo eee, em 1562, lev aque, dois anos mais tarde, o titulo de capito fase elevado para «govemador Apesar dos constantesconfitesescaramugas, no existem incios de quale quer tetatva para tir um gover centalizad para administrar as pragas- -fores da regio, 0 que teria possbilitado uma acgSo coordenads, Esta ausncia de uma Tideranga cenralizada explcs-s pela proximidade com Portugal e com a Madeira, que funcionavam como spoios militares. Outra plicagio € que algunas familias, como of Meneses © os Carvaos, que herdaram continuamente 0s cargos, aeabaram por cantor os fortes durante nuit tempo. Como jéobservimos, o Norte de Attica proporcionava aos nobres un mundo de experiéneiase formasSo militar, um estigio do cursus honorum (@) David Laps, «A expunebo em Marcos, in Antnio Bit, Hemi Cie © Manual Mais (ei), Mitra da Exponoo Portgussa no Mind (Lisboa, 1937, 91 Pare I pp. 131-210; Chasles-Ande Slew, Mire de PApgue du Nord Tas, Ale, Maroc (28 e 2 vel, Pars, 1958) Robert Par, Eres our Thistore des portage Maroc (Coimbra, 1955), Antnio Diss Fatah, itr de Macagdo darnteo Perode Filipino (Lisboa, 1970} Farina, Porgale Marrocas no Séela WY (2 vol, Litho (997 Farha, Nore de Afican, tr Bathencoure Chas, istrs do Expand Portuese, vol pp 118136, mt i | } Eee A Rannssho Manisa PoRTeouEs, 1400-800 ue desembocaria na sua nomeaso pa os posts mais importantes fin do Brasil 2). A desesrosatetativa de congusta teitorialconduzia por D. Sebastifo, em 1578, baseos-se nn iden de que a rconguista crit da Peninsula Ibérica deveria estender-se 20 Norte de Africa, Mas igualmente importante fio facto de a emergéncia de um novo complexo econémice to Alinco Sul, confgurto pelo comério do Brasil, ser ameagaa polos pirates curopeus e berberes. Significatvamente, 08 Porgiesstinham deseavlvido uma exratégadecriago de fortes em Martocos com o objce- tivo de controler os princpais ports, « navegagio marina e 0 aces0 20s mercados do Interie. Embora esta exratia fea fracassadodevido relativa bomogensiade das potecias que se opunm os Portuguses, fot temporariamente bem sucedia aqundo da sa fansporigz para costa do Malabar, onde a disersto dos poderes lcsis rion condigdes ideas par. a sua implementasSo. Exceptund os breves momentos de paz com as poténcas locas, as pragas-fores norte aicenas 86 consepiram sobeviver ‘om o apoio do Sul da Pennsul bic e recomend ao contabando com 0 Interior: Em termos religiosos, a populagio ds prags era eltivamente homogénea porque os muelmanos capturados era imediatamente conve. tidos muitas vezesvendidos como esravos a Portugal a comunidades jndscas mantveram a sua idetdede durante algum tempo, em contac om politica de excliso adoptada na metdpole apart de 1496(8), Por ‘aries de orem diplomstica e comercial, et ipo de susp de xcepsio registar-se-ia também em certas pragas portuguesas na Asia, ‘A cexplrago da costa africana segue oextabeecimento de feitoria, ums pote iicada durante a goverasio senboral do Infante D. Hen uz, 2 qual haviam sido outorgaos os dieto de exporagao da eae que trabathou com iteresesprividos sb o seu patocini at sun morte, em 1460. Um contrato entre D. Afonso V e 0 meatorlsoeta Femi Gomes concluido em 1468, estpuiow que est imo teria de explora analmente 100 Iégua de cost © pagar uma renda anual de 200 000 sis em troca do ‘monopelio do comécio da Gung. Este conrto,prolongado até 1474, foi responsive pela exploaso do golf da Gung © dasha de Ferando 6, Sto-Tome, Principe e Ano Bom, ste modelo de uma carta pars comercar,noalmente temporiria © coutorgada pea corons a frma de menopslio comercial também fo ple (©) Ver eps du curs de FBethencout, in Bethencourt ¢ Chaudhri da Bxpanso Poriguese, val. 1, 9p. 32-345; v0.2, op. 329335. (ost lero Roigues a Siva Tain, Os Judeur nz Exponsso Portgueee em Marocesdivanse Séelo Yi: Origen Actividades dima Comunidade (Baga, 1997) (8) Dani Peres, Hitra dos Descobvientas Partaguses (1, 143; or, 182), PR 116.120 166168, 2m CConretunncdes Poumieas Pons Loca cado n0 Brasil. Bm 1502, D. Manuel assinow um contrato de uma companhia comercial, oncedendo-Ihe © monopio do comércio (prin- cipalmente de pau-brasil) em troca da explorasio de 300 iéguas de cost, da instalagdo e manutenglo de uma fetoria, e do pagamento anual de uma renda de 4000 cruzados. O contratoestipulava que nio havetia lugar qual {quer pegamento de direitos sobre os bens durante 0 primeiro ano de activi- dade, mas que seriam pagos um sexto sobre as rectitas no segundo ano e um quart no terceiro (5. O éxito deste contrato levou, em 1504, & concessio regia da tha de Sto Joto (posterionmente conhecida como ilha de Fetnando Noronha) a Femdo de Loronha, homem de negécios residente em Lisboa & ‘eavaleiro da casa do rei Ao abrigo deste acordo, vide por duas geragées, [Loconla teria de povour o teritrio e pagar ao soberano tum dfzimo ¢ um quarto sobre todas as receitas, com a excepgao das associadas is droga, tn las eespeciarias, pois @coroa detinha © monopstio do comércio destes bens Na verdade, este sistema foi uma variaeio do modelo das capitanias (elebrasio de um novo rei) ou da etradis2o> (os festivais anuais dos solsti- ios de Verto e de Invemo). Na época, os presentes enviados pelo gover- nador de Sio Joo Baptista de Ajudé foram avaliados precisamente em ‘moeda portuguesa: 400 000 réis, um montante significative que indica inequivocamente um tributo. De facto, o padre Pires, que passou seis anos no Daomé como embaixador apostolico da coroa portuguesa nomesdo a0 abrigo do Padroado Régio (0 patrocinio rel da Igreja), documenta cuidado- samente 0 protocolo do ritual da «oferta», com os potentados europeus spre sentando-s primeiro,seguidos dos potentados africanos, demonstrando uma clara hierarquia poltica 9), Esta regido revela efectivamente a aplicagio do modelo da Madeira, no qual 0 forte estabelecido ao largo, um bastid0 dos colonizadores europeus, «era usado como apoio das pracas nort-africanas. Assim, as feitorias dos ros «de Guiné dependiam do apoio de Cabo Verde, enquanto as do golfo da Guiné beneficavam do apoio de retaguarda das ihas de SSo Tomé e Principe @"), Hoowve efectivamente um modelo portugués de colonizagio das ilhas desa- bitadas do Adtantico. Primeito, a terra era arroteada e usada para a agricul ‘ura: cana-de-agicar na Madeira eem So Tomé, criagio de gadoe produgio de cereais nos Agores. Além disso, as thas foram uilizadas como depdsitos comerciais, nomeadamente para o tifico de escravos, em Cabo Verde, © * = osu eahorado por Jos Joaquin Lopes de Lima oe eas Eris sobre 1 Ena, vl. 2, pp. 89-10, que concise com 9 elation, um manastio g onsale na Bibles jd, 7?) Relatvamente 20 aero de afcanos que choos x extas hus proveinte da ost, er abel Casto Henriges, Sto Tame Prisipe A dmenco de wna Sociedade (Lis bea, 2000. 216 ‘conmcunacces Pouincss = Pooenss Loci ‘como porto, nos Agores, para as fotas que regressavam das Indias). Estas dus fungSes reforgaram o apoio logistico e militar aos navios portugueses € os colonatos costeiros. (s Portugueses tetaram exportar © modelo de controlo naval a partis do largo para 0 oceano fndico quando conquistaram Socotoré, em 1507, mas sbandonaram rapidamente esta ideia devido & diferenca radical no context. Estabeleceram colonatos na costa do Malabar © no golfo Pérsico, mas nfo conseguiram fundar nenhum no mar Vermelho nem na costa suai, a norte de Mombaca, 4 idea de tentar manter ume forga militar numa itha habitada cera estencialmente inexequivel e errada, Teriam sido necessétios esforgos cconstantes para conttolar a populagio nativa, que nifo produzia qualquer cexcedente agricola nem negociava com 0 continente. Estes problemas expli- ‘cam porque foram dadas ordens, em 1511, para destriro forte e abandonar ‘Socoterd. © modelo da Madeira nfo voltaria a ser usado durante © processo de expansio na Asia, Embora 0 monarca portugués tivesse chamado a si a responsabilidade pela realizago das viagens de descoborta, a coroa concedeu terit6rios colo- aizados no Atlintico Sul Central aos capities-donatérios, sob condigdes preestabelecidas, Na pritica, os concessionérios tinham ~ até certo ponto poder militar, judicial e fiscal sobre os seus territérios em troca do compro- ‘isso de assumirem a responsabilidade pela organizagio do provesso de povoamento e distributer as tetas para cutivo, De 1433 até A sua morte, ‘em 1460, o Infante D. Henrique, o primeiro a benefiiar do sistema das capi- tanias donatarias, deteve o coatrolo senhorial sobre a Madeira e 0s Agores, embora o tenha delegado. Exta forma de vassalagem feudal de concessio do poder nos territérios lttramarinos nfo era muito diferente de algomss priticas medievais da Europa e derivon de uma necestidade de conseguir capital para investr em cequipamento, navios e recursos humanos que excedia as capacidades finan ceiras da coroa, Assim, o sistema das captanias donatariais desempenhou ‘um duplo papel: assumindo tanto a delegaeo de poderes tradicionalmente ‘exercdos pelo monarca como a responsabilidade pela colonizayio dos teri= {6rios concessionados. Com 0 tempo, os donstrios, que habitalmente per- ‘maneciam em Portugal, desenvolveram um programa administrativo semel- hante ao do rei, nomeando capitis para os terit6rios, fundando municipios definindo as formas de tributagao adequadas. Também autorizaram 0 esa belecimento de estruturas eclesifsticas, inicialmente sob 0 controlo da ‘PF Rai Cast Histria do Mader (3 vols, Fanta, 1989-1991); Joo Maio dos Santos, 0s Agores ns Séculos x (2 vole, Pots Delgads, 1989); Aino de reas de Meneses, Or Agores nar Enraihadas de Stecentcs (1740-1770) 2 vols, Ponta Degas, 19951995), ‘A Bxrassto Masui PorrueuEss, 1400-1800 Ordem de Cristo, & qual fore delegado o Padrosda régio das estrutras reli siosas no ultramar quando a concessio tettorial foi outorgada ao Infante Henrique, que ers 0 governador desta erdem militar. Um dos elementos Aistintvos do sistema das capitanias donatariais era a possibilidade de trans- missio hereditéria da concessio, No entanto, alguns factores, como a sucessdo citcunstancial de D. Manuel as ilhas atlinticas ou a morte de um reizo grupo uum acesso mals fil aos conselhos municipai, excepto to caso {de Sto Luis do Maranhio A origem social da olizarquas locais variou mas no seguu a elimpeza de sangue» nem a origem nobre requeridas pela legis- ‘CH Vera analiso © tiblogafin dor capitulo sobre os cones munca in Bethencomt © Chandni, Hira da Exper Prtgnes, vol. 1, pp. 358-360, vol 2, 343-35, vol. 3, pp. 270-280. (0) Cos Agostino das Neves, Sao Tomé Principe na Segunds Metade do Sul (isos, 1989); Boxe, Pornguese Sly inthe Topics, pt (8 John Manuel Monto, Negros da Tera dae Bandirantes nas Origen de S40 Paul (Sto Paso, 1988), pp. 11011. 236 aE (Conmurapoes Poutcas Peoss Locas uso régia. Isto teve um precedente em Sio Tomé, em 1520, quando D. Manic atorizou os malatos que fonsem «homens de fortuna ou cxa- dos» prestar servigo no conelho, uma excepsa0 qe foi estendia, em 1546, hha de Santiago (Cabo Verde), onde o5 emulates epretos»podiam ser memos do conssho No Brasil a arstocacia do aicar contoava os conslhos muni eas Miercérdias de Salvador, Olinda outs centos importants dostent- trios nen, excepto o Recife, onde ums elite mereanslconseuin eri 0 seu prSprio const municipal, em 1710(!2). Noutos casos, come no Rio de Janeiro,» arintocracia fundiria contepuit master 0s mercadores ™ acsados de serem de orgem judaica~ fora do conselho municipal, pesr das posigdesadopadas pelos sucessvos govemadores. A poderotaprestio teria plos mereadres sobre aati oligasia local no fim do séclo _xvil e principio do século xvm(!!3) poderd ter contribufdo para a violenta repessio por parc da inguisigo, entre 1707 ¢ 1714(1), quando cerea de 130 existfos-navos acusads de serem judeus foram enviaos para Lisboa para julgamento, O impacto da repress foi patculamente forte no Rio de fanerodevido ao envolvimento de vériosexratossocias~ ncuindo pro prctros de tras, donos de engenhos, mercadres, ues, advogades, Intios, stdanes,soldados catxios. A interven da inguisig prove: ou o declinio dos recursos fnanceirs da cidade, o que poder er favore- ido 0 sage do Rio pelo fancés Duguay-Trouin, em 1711. O mesmo == poder der em relagdo visita do inquisdor a Salvador, cem anos antes, {G618-1620) (1, quelevou mumerosos eristios novos afgirem para Lim, fnfraguecendo a esrutura financira dn cidade e felitando @ congvista holendesa, em 1624 “Tamm eram comins, nas cidades, os conte entre facgbes, bem com ente os capitis e os governadoes Tl como no Estado da india, € possiel arse de ums neblosa de poderes com competéncsssobrepostas CH Mowseente Misonaria Arcana, ef. Arai Brio, 12 afi, vo. 1 (isbn, 1950), pp 500-501; 2° se, wl 2 (Lisboa, 196), pp 386-387 (i) aldo Cabral 6¢ Mello, A Fronda dos Mazon, Nobre contra Marca, Pernauco, 16651715 ($i Pal, 1995). (1) Miia Femands Bap Bicaio, A Cidade eo ImpéiosO Rio de Jairo no Stead x Ro de Foi, 203) (i) Amold Wier Jen un Colona Broa! Nova Tego, 1960, capt 7. {5 Rodolfo Garcia (ocr ds denacigSes que se necio ma visto d Sao (fico cidade de Svar da Bain de Todor on Sant do Fado Bra ano = 1, Annas da Bibteec Nacional do Rio de Janeiro 9 (1927, pp. 7-198 Eduardo de Otis Fang Sia Sigur es), «Sop0nia visits do Santo Of 8 pars do Basil ‘lo Ingusidor vstador Marcos Toei: Liv ds emf ratifies da Bais 618-1620, Anat do Mase Paula 17 (1963) ast ‘A Bevwisko Mastrnes Portwouss, 1400-1800 para confirmar as decisbes de alto nivel, uma situagdo que permita a0 rj controlar 0 jogo politico & distincia, No Brasil, os conselhos municpaig tiveram menos peso politico do que no Estado da india devido a vastaescala dos terrtsrios que faziam parte das as captanias, No entant, a densidade dg rede, no século xvi, dew origem a estruturas idénticas, que foram sssimila, das pelas elites locaise contrbuiram para a manutengo da unidade polities aps a independéns Perspectivas Comparativas ‘Uma comparagao entre o Império Portugués ¢ os das outras nagies euro pias na dea do Atlantico revela os diferentes tempos de operacéo e as for ‘mas individuais de aogéo quando confrontados com um contexto comum. Na Africa subsatiana, « malaria, as populagSes indigenas as complexes orga nizagies estatais dificultaram a colonizagio europeia até a0 século xix A presenga europeia restringia-se As feitrias © aos robust fortes costizs, cestabelecidos através de negociagées com os poderes locals, que exigiam, na ‘maior parte dos casos, o pagamento de tributo, A presenga dos Portugueses em certas regides do Interior de Angola, do Congo e de Mogambigue pode ser considerada uma excepsio, mas durante o século xvu os colonatos cres- ceram sem assumir contralo politico © administrativo completo. Entre os séeulos XVI © xtx, 12 millbes de escravas foram levados de Africa pata 0 continente americeno, para trabalharem nas minas e nas plantagies de cana do agicar,tabaco ealgodto. Além do coméscio do otro e do marfim, foi este tnifico que justficow a presenga comercial europeia em Africa, Os escravos cram fornecidos por intermedifrios (alguns deles ex-escravos) e pelos poten ‘ados locais. No golfo da Guiné, oconflto entre as potEacas europeias insta- Jadas na costa revelou-se benéfico para Holandesese Ingleses, que consegui- ‘am controlar 0 acesso aos mercados de escravos durante os séeulos Xvi © Xvi. No entanto, os Portugueses mantiveram a sua posigo em Angola (¢ posterionmente em Mogambique), a parti da qual continuaram a baste cer o Brasil a zona do Rio da Prata. Todavia, mesmo neste dominio, as tentativas portuguesas para criar companias baseadas no modelo notte ‘europen nunca foram duradouras ~ 0 tréfico foi deseavolvido por empreet- dedores privados sob a protecsio da coro. ‘A WestIndische Compagnie (WIC), fundada em 1621 e inspirada na VOC (Verenigde Oost-Indisches Compagnie), assumiu o controlo da nave- ago © do comércio holandeses na Amética e na Africa Ocidental. Esta ompanhia tinha cinco conselhos citadinos regionais, representanido 06 accionistas, que nomeavam os dezanove membros do conselho superior 258 Connenacdes Pouneas ® PooeRS Loca ministrative, As acgbes da WIC estavam mais disperses do que as da ‘VOC. € um ano aps a fundaglo da companhiajtinham atingidoo valor de 7 milhes de florins ~ um investimento maior do que na VOC. Contudo, 1 conselho administrative era de tipo oligarquico © esteve ligado & classe {overnante desde o ineio. Os primeiros anos de actividade da WIC foram os fens «anos dourados», com a captura de 547 navios portugueses earregados ent 1623 e 1638, ¢ de outros 249 durante o perfodo de 1647-1648 (119). Em 1628, « WIC aleangou oretumbante sucesso de interceptar a fota do tesouro cspanhola no porto cubano de Matanzas, o que garantiu aos accionistas, no fano seguinte, os enormes dividends de 75% do valor de cada acgo. A com: ‘pati também se spaderou gradualmente do comércio do Brat tando Pernambuco em 1630 ¢ depois as capitanias do Norte, mas este periodo de éxito econdmica, cultural e politico ~ associado & governago de Joo Maurfcio de Nessau-Siegen ~chegou 20 fim com a revola dos colonos portugueses © a expulsio defintiva dos Holandeses, em 1654. A companhia onseguit sobreviver com o comércio de produtos de Africa ¢ a transfert cia da produgio de cana-de-agicar para as Antilhas, depois de conquistar CCuraga, em 1634, mas crise econdmica eutopeia da década de 1670, que fez ea a pique o prego do agicar, acelerou o dectinio da WIC e levou a sua Aissolugo, em 1674. A nova companhia criada a seguir concentrou-seprin- cipalmente 10 trifico de escravos e no transporte da cana-de-agtcar de (Curagau (1%. Qualquer comparago entre os impérios portugues e espanol na Amé- rica é viciada polos seus contextos radicalmente diferentes. Quando chege ram so México e ao Peru, os castelhanos encontraram socidaces urbaniza- ds e dotadas de complexas estruturas estatas, que controlavam uma grande vatiedade de populagGes subordinadas que ausiliaram 0s novos conguista- dores, Estes Estados amerindios possuiam formas de colecta de impostos c sistemas de exploracio dos recursos natuais que, em muitos casos, foram usados pelos castelhanos. Em contraste, os Portugueses encontraram habi- tantes seminémadas com actividades agrcolas limitadas, pouces organize es estatais, uma populagio dispersa e a aus€ncia de qualquer sistema f cal. Os Espanhéis controlaram inicialmente a populaso native através da oficiatizacdo da encomienda (a distibuigdo da miio-de-obra indigena pelos conquistadores), enquanto os Portugueses controlaram os seus terit6rios através da distribuigdo de terras bascada na sesmaria medieval, que no con- texto brasileiro excluiu os natives. | conquis- (Wt) Fike Mauro, Le Portage Aan au xa sil, 1570-1670: aie bono nique Pre, 196), 499 (0) Bose, The Duh eabarne Emp, 160-1800, aso A Bens Mantras Poaruouts, 1400-1800 0 tipo de contro politico também foi diferente, O dominio castehano nunca institu capitanias donatarsis, © a coroa exerceu controlo directo sobre 0s teritrios quase desde o inicio, A estutura pottco-administativa 4o império castethano foi comparativamente mais hierérquica e mais influen- ciada pela natureza militar da conquista (evecando o papel inicial dos ade lantados de Indias, 0 aventureiros militares em busca de conquistas e recom. pensas), sem a nebulosa de poderes ta caracteristica do Império Portugués, ‘Além do mais, em contraste com 0 caso portugués, os vice-es castelhanos imtervinham na nomeagao dos eapitdes. Entre 1S11 ¢ 1565, foram estabele-

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