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DIREITO CIVIL

NOVO DESAFIO DO
DIREITO DE FAMÍLIA
CONTEMPORÂNEO:
a mediação familiar*
Beatriz Helena Braganholo

RESUMO

Analisa, de forma crítica, se a mediação familiar pode ou não ser uma alternativa viável para a superação dos conflitos familiares da sociedade atual,
haja vista a incapacidade do Direito de Família tradicional de regular as novas configurações da família brasileira.
Entende ultrapassada a rígida contraposição entre o Direito Público e o Privado, devendo o Estado garantir a realização pessoal do indivíduo, não
apenas acolhendo as questões referentes a patrimônio nas relações jurídicas de família, sem disponibilizar meios de superação das eventuais rupturas
dos laços de afetividade.
Conclui que a mediação familiar é a alternativa indicada para a superação de crise existente na área em questão, sendo que a potencialidade normativa
dos princípios e direitos fundamentais proporciona elementos capazes de fundamentar a nova perspectiva do Direito de Família, considerados tanto
os aspectos afetivos quanto os jurídicos.

PALAVRAS-CHAVE
Direito Civil; Direito de Família; constitucionalidade; mediação familiar; conflito; sociedade conjugal; arbitragem, conciliação.

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
*
Conferência proferida no “I Congresso de Direito de Família do Mercosul”, realizada pelo Instituto Brasileiro de Direito de Família, de 2 a 4 de junho
de 2004, no campus da PUC, em parceria com a Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica, em Porto Alegre-RS.

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1 NOVAS TENDÊNCIAS DO DIREITO te, na dimensão obrigacional dos pro- Assim, a Teoria da Reper-
DE FAMÍLIA CONTEMPORÂNEO blemas psicossociais que envolvem sonalização das Relações de Famí-
os trâmites legais da Justiça na área lia4 deve ser entendida como uma

E
m qualquer direção para qual do Direito de Família. Ao verificar as forma de redimensionar conceitos até
se olhe, nota-se uma preocupa- grandes inovações trazidas pela então estabelecidos, reconduzindo o
ção eminentemente patrimonial Constituição Federal de 1988, cons- indivíduo à posição central de sujeito
sempre que ocorrem rompimentos tata-se que: O legislador não cria a de direitos. Tal teoria configura-se,
afetivos. Esta parece ser a ótica do família, como o jardineiro não cria a pois, como uma maneira crítica e
Direito de Família tradicional: uma primavera (...) soberano não é o le- científica de superar o antigo modelo
preocupação quase exclusiva com as gislador, soberana é a vida. Onde a do Direito de Família tradicional.
conseqüências patrimoniais das se- fórmula legislativa não traduz outra
parações judiciais, dos divórcios, do causa que a convenção dos homens, 2 INADEQUAÇÃO DO DIREITO DE
término de uma união estável; dele- a vontade do legislador impera sem FAMÍLIA TRADICIONAL FRENTE À
gando a outras áreas do conhecimen- contraste. Onde, porém, ela procura REALIDADE DA FAMÍLIA BRASILEIRA
to qualquer efeito, e sempre há, rela- regulamentar um fenômeno natural ou
cionado com o afeto dos envolvidos, o legislador se submete às injunções Mesmo tendo a família nuclear,
ou melhor, com a ausência de afeto da natureza, ou a natureza lhe põem nos moldes contemporâneos, resga-
e/ou novos sentimentos. em cheque a vontade. (...) O homem tado os fundamentos centrados na
Se então, continuar-se rele- quer obedecer à natureza, e por toda afetividade, estabelecido uma reper-
gando à esfera do Judiciário, quan- parte constitui uma família, dentro da sonalização do suporte fático da fa-
do se trata de Direito de Família, uni- lei se possível, fora da lei, se é ne- mília, substituindo a prevalência dos
camente questões de ordem patri- cessário 2. interesses patrimoniais, que antes
monial, como se toda problemática Conforme pode ser constatado, vigoravam, pelos interesses pessoais
envolvida fosse objetivamente solu- a preocupação com as questões so- e comuns do grupo familiar, ainda
cionada pelo mundo do legalmente ciais presentes na Constituição Fe- permanece amparada e vigiada por
estabelecido e obedecido, não esta- deral brasileira de 1988 substitui o in- um Direito de Família tradicionalmen-
remos enfrentando o desafio que se dividualismo, o patrimonialismo e o te centrado nas questões patri-
apresenta. formalismo do Direito privado, dando moniais.
Sabe-se da importância de se uma nova dimensão ao atual Direito Logicamente, o conceito de
reconhecer a existência, quase em de Família. família mudou. Apesar de ter muda-
uma pista paralela – de sentimento Mesmo assim, é evidente a do a estrutura de convívio familiar e
– pela qual transitam discussões aca- exclusão das questões afetivas – ina- encontrar-se resistência viva à trans-
loradas de cunho hermenêutico. Al- dequadamente isoladas do processo formação e às necessidades que se
guns processos, nas varas de famí- judicial. Fica, então, desrespeitado impõem pelos fatos, o papel a ser
lia, arrastam-se simplesmente por- esse aspecto das partes envolvidas exercido, nesse campo, pelos ope-
que os reais motivos que levam às nos julgamentos das ações decorren- radores do Direito, (...) há de ser sub-
terríveis desavenças entre os casais tes das relações heterossexuais de metida a prova 5.
nem sempre dizem respeito ao competência das varas de família, As concepções didáticas6 re-
patrimônio destes. consistindo num verdadeiro apartheid passadas em alguns cursos de gra-
Paradoxalmente, parece que jurídico, ferindo o princípio da digni- duação 7 permanecem evidenciando
qualquer tentativa de avanço no es- dade humana. uma realidade já superada do Direito
copo legal, mesmo as mudanças de- O Estado, sobrecarregado, de Família, negando-se que a reper-
terminadas expressamente em lei or- mostra-se incapacitado de solucionar sonalização do sujeito com a publi-
dinária 1, é adiada ou evitada em fun- situações tão complexas quanto a cização dos vínculos familiares po-
ção das conseqüências, que afetarão, relação entre o vínculo jurídico e emo- derá ser um fator decisivo para a
possivelmente, o patrimônio dos en- cional das pessoas envolvidas em construção da identificação dos su-
volvidos ou dos seus sucessores. É processos de separação judicial e di- jeitos, com relevantes desdobramen-
necessário, portanto, que haja mudan- vórcio. Sentimentos de amor, ódio e tos na esfera psicanalítica e jurídica
ças para a superação desse modelo dor inerentes aos conflitos jurídicos de conformação dos sujeitos à luz
já desgastado. acabam determinando conseqüências das transformações sociais surdas as
Decidir pela parte “inocente ou permanentes na vida dos envolvidos. doutrinas clássicas oitocenistas 8.
culpada” na separação judicial litigio- As partes envolvidas acabam discu- Ainda é preciso admitir que a
sa é comum. Adota-se, em alguns tindo questões afetivas no espaço até aparência é de que as regras legais
exemplos, a postura de culpa mútua, agora destinado unicamente à discus- de proteção da família fazem parte,
permanecendo, em certos casos de são de aspectos jurídicos e patri- unicamente, da esfera privada, como
ruptura da união, a atribuição da cul- moniais. se o Estado fosse um ente distante e
pa somente a um dos cônjuges. E Em função disso, o desafio que supervisor, afastado de uma função
mais: consideram-se ainda os efeitos se coloca ao jurista e à legislação é a de protetiva tutela constitucional.
patrimoniais, que envolvem as rela- capacidade de ver as pessoas em De fato, os limites demarcados
ções entre o ex-casal, mas excluem- toda sua dimensão ontológica e não entre a liberdade da família e do Es-
se as relações entre os parceiros e como simples e abstratos pólos de tado são sempre complexos 9, embo-
seus reflexos sobre a família originá- relações jurídicas. A pessoa humana ra juridicamente, será possível
ria de ambos, entre eles a coletivida- deve ser recolocada como centro das encontrá-la a partir dos valores cons-
de e o Estado. cogitações jurídicas, valorando-se o titucionalmente estabelecidos10. Mor-
Delega-se ao conservado- ser e não o ter, isto é, não sendo me- mente os métodos de interpretação
rismo, às implicações ideológicas e diada pela propriedade, que passa a constitucional e a subjetividade exis-
religiosas e o sustento, basicamen- ter uma função complementar 3. tente em cada legislador e intérprete

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levam-nos a destinos algumas vezes Diante disso, questiona-se qual mação específica para entender os
diversos daquele pretendido. “o papel jurídico do afeto nas relações conflitos afetivos, aponta para impos-
A Constituição vigente procla- de família”17. Há muito que o senti- sibilidade da solução jurídica tradicio-
ma que a família é a base da socie- mento de afeto ou desafeto ingres- nal para esse tipo de situação.
dade. Deduz-se que a família, por sou no meio jurídico. A situação O processo de mediação pode
conseguinte, não pode ser impune- afetiva é enfrentada sem se dar mar- ser uma maneira de aproximar as
mente violada pelo próprio Estado 11. gem a qualquer discussão, ou seja, partes para discutir questões de in-
Traçar limites precisos entre decisões considerando-a sem relevância para teresse mútuo ou não, observando e
exclusivas da família e a imprescin- o Direito de Família na solução de lití- mediando pontos de vista convergen-
dível interferência do Estado é neces- gios18. tes e divergentes. Dessa forma, é
sário para que se saiba quando entra Diante do atual sistema norma- possível iniciar uma batalha contra os
o interesse social em jogo 12. tivo e processual legal, pode-se dis- conflitos em questão, e então, discu-
Todas essas colocações le- cutir quais as dimensões do rompi- tir as razões e motivos que interfe-
vam-nos a crer que urge o surgimento mento familiar, em casos de separa- rem nas decisões dos envolvidos.
de uma realidade formal de proteção ção e divórcio, visto que a família é o As partes do conflito precisam
à família, disposta na Lei maior. Po- centro da realização pessoal e afetiva. resolver questões complexas instau-
rém, como se pode estabelecer uma Enquanto a família permanece unida radas muito além do aspecto, unica-
igualdade real entre homens e mulhe- pelo afeto, os conflitos podem ser mente, legal. E a mediação é uma
res enquanto a sociedade não esta- entendidos/solucionados distantes da forma de possibilitar momentos de
belece uma igualdade social entre esfera jurídica. Mas, uma vez rompi- comunicação entre o casal resolven-
ambos13? dos os laços de algum dos envolvi- do questões emocionais que possi-
dos – pai e mãe –, há conseqüências bilitem uma separação ou divórcio
3 FAMÍLIA: MEIO DE REALIZAÇÃO legais e afetivas para eles mesmos e baseado no bom senso, e não na vin-
PESSOAL E AFETIVA seus filhos: a moderna concepção gança pessoal.
jurídica de família apresenta meios de Antes de tudo, a mediação dos
A afetividade surge como ele- enfrentamento de situações fáticas, conflitos familiares é uma oportunida-
mento essencial e marcante da união viabilizando que o julgador decida de para o crescimento e a transfor-
familiar, nas mais diferentes formas através de mecanismos adequados. mação dos indivíduos. E o mais im-
sociais. Na tendência evolutiva da portante: um crescimento que pres-
família, um fato que registra o novo 4 EM BUSCA DE NOVAS supõe desenvolvimento da capacida-
modelo de família é: o compromisso SOLUÇÕES: A MEDIAÇÃO FAMILIAR de, como pessoa humana, para ex-
dos vínculos afetivos. pressar e fortalecer a capacidade de
Segundo Paulo Luiz Neto Lôbo14: Em conflitos envolvendo ex-
A função afetiva, que unifica e cônjuges, é importante preservar um
estabiliza a família, pressupõe a mínimo de respeito, para que ambos
concretização de princípios que pas- expressem seus sentimentos, emo-
saram a ser claramente consagrados ções, raivas e angústias. Isso facilita
pela nova Constituição: a) princípio da a comunicação e os leva a pensar nas
(...) a mediação dos conflitos
igualdade absoluta entre os cônjuges diferentes opções possíveis para re- familiares é uma oportunidade
e entre os filhos; b) princípio da liber- solver o conflito. para o crescimento e a
dade, conducente da auto-responsa- Muitos casos de rompimento
bilidade, da participação, da colabo- da vida em comum poderiam ser evi- transformação dos indivíduos. E
ração; c) princípio da pluralidade de tados, mas os envolvidos, algumas o mais importante: um
entidades familiares, permanecendo vezes por orgulho, vergonha ou medo,
a norma da indução, não mais da acabam não revelando o desejo de crescimento que pressupõe
cogência, com relação à família legí- tentar novamente. Por isso, é neces- desenvolvimento da capacidade,
tima. sário que o judiciário promova meios
São princípios que marcam o apropriados para se atingir uma pos- como pessoa humana, para
rompimento da estrutura da família sível reconciliação. Além do mais, vê- expressar e fortalecer a
patriarcal e dão início ao resgate dos se, mesmo nas classes economica-
valores significativos para a realização mente mais privilegiadas, que as pes- capacidade de uma preocupação
pessoal e afetiva da família brasileira. soas relutam em buscar o auxílio de pelos outros. Essa situação é
Entretanto, não se pode negar que psicólogos, psicanalistas ou psiquia-
evidentemente, as relações de família tras. Então, cabe ao Judiciário pro-
muito difícil de ocorrer, num
também têm natureza patrimonial 15. porcionar um acesso rápido e possí- processo de rompimento
Se tantas lacunas legais ainda vel a esses recursos nas circunstân- conjugal de união estável,
pairam no ar16, ainda assim, o cami- cias de rompimentos familiares, um
nho lógico percorrido pelo Direito de momento crucial, de máxima neces- separação ou divórcio, no atual
Família é o de andar em consonância sidade dos envolvidos, porque todo sistema jurídico brasileiro, que
com a família atual. Deve-se, para rompimento causa cicatrizes.
tanto, abandonar a forma tipicamen- Para Maurique19, o fato (...) de não respeita a complexidade
te vinculada aos bens e ao patrimônio nós, operadores jurídicos, estarmos existente em relacionamentos que
dos envolvidos em situações legal- apoiados nos conceitos clássicos de
mente estabelecidas, os conflitos ju- casamento e separação, obrigados a envolvem vínculos afetivos.
rídicos, sabendo-se que elas também seguir rígidas formas esquemáticas
apresentam elementos como amor, e a necessidade de produzir núme-
ódio e dor. ros estatísticos, aliado a não ter for-

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uma preocupação pelos outros. Essa antes, durante e depois do proces- iniciar a mediação colocando aspec-
situação é muito difícil de ocorrer, num so. Estes aspectos, de caráter pura- tos positivos do conflito. A parte pre-
processo de rompimento conjugal de mente subjetivo, quando afetados, cisa sentir como o outro compreen-
união estável, separação ou divórcio, são, geralmente, compensados com de, também, sua posição. Dessa for-
no atual sistema jurídico brasileiro, um ressarcimento financeiro. ma, seria forma adequada de propi-
que não respeita a complexidade Deve-se considerar, inclusive, ciar o entendimento entre as partes
existente em relacionamentos que que nem sempre a ruptura acontece levar homem e mulher a compreen-
envolvem vínculos afetivos. plenamente: as sentenças são pro- derem ou perceberem algumas ra-
Por isso, é essencial distinguir feridas, mas os casais não conse- zões da outra parte, sem que para
os interesses patrimoniais e materiais guem se separar emocionalmente. A isso sejam necessárias definições
das questões afetivas. O que se vê dissolução da sociedade conjugal jurídicas do que é de direito ou não.
muitas vezes é a utilização do provoca mudanças subjetivas e ob- No âmbito da mediação de fa-
patrimônio, de bens, da guarda dos jetivas na vida das pessoas envolvi- mília, todas as relações se constituem
filhos para vingar-se de outras e ver- das, pois todos perdem. Os confli- e se transformam na medida em que
dadeiras razões do rompimento, as tos externos podem ser resolvidos são processadas. Mesmo assim, al-
quais não podem ser discutidas e quando os conflitos internos são com- guns autores afirmam que quando os
trazidas ao processo. Assim, no lu- preendidos, uma vez que o caminho clientes dão vazão às suas emoções
gar das verdadeiras razões, cons- da busca por si mesmo leva à com- ou fazem perguntas legais, o media-
cientes ou inconscientes, acaba-se preensão dos mecanismos gerado- dor ignora (deve ignorar) esta parte
utilizando a partilha de bens para tra- res de conflitos. Isso equivale a di- da comunicação e resume (resumir)
zer à tona vinganças, mágoa, dor, ódio zer que, enquanto as partes não bus- as partes úteis 22.
existentes no momento do rompimen- carem resolver ou identificar seus No entanto, ocorrendo o tipo de
to das relações afetivas. Aparente- verdadeiros conflitos internos, não se situação afirmada pelos autores, fica
mente, acaba-se discutindo questões pode alterar o seu comportamento e impossível chegar a uma mediação
meramente patrimoniais, ou seja: os a sua forma de lidar com as dispu- que se proponha a pôr fim ao confli-
bens tomam o lugar do afeto. tas. Assim, os interesses não pode- to. Se as questões “escondidas” não
A mediação é uma forma de rão ser satisfeitos. puderem ser discutidas e comuni-
favorecer, promover e facilitar o alcan- É recomendável buscar um cadas, jamais ocorrerá o rompimento
ce dos objetivos constantes na legis- meio mais eficiente, menos moroso, das barreiras que entravam o proces-
lação constitucional e infraconstitu- possível de ser realizado nos casos so de negociação.
cional, buscar o entendimento das de rompimento conjugal, propician- Alguns mecanismos de nego-
partes sem levar em conta unicamen- do que os interessados possam ciação para um possível fim do con-
te as provas e alegações constantes (re)aprender a utilizar a sensibilida- flito emergente podem ser definidos
no processo, sem precisar ficar atre- de, a empatia, a compreensão um como possíveis intervenções, tais
lado ao “culpado”, definição um tan- para com o outro, trazendo alternati- como23:
to ultrapassada no que diz respeito vas que beneficiem ambos. O dese- 1. Relacionadas aos valores:
às verdades relativas e ao relaciona- jável, portanto, é uma mediação ca- - evitar tratar o problema em
mento entre pessoas, ligadas tanto paz de ajudar os envolvidos a supe- termos que definem valor;
pelo sentimento de amor quanto pelo rar em as naturais dificuldades emo- - permitir que as partes concor-
de desamor. cionais e as conseqüências jurídicas dem e discordem;
A mediação traz a possibilida- decorrentes da mudança de vida pro- - buscar um objetivo superior
de de arejamento e consideração das movida pelo término da união. e que independa de critérios de
questões emocionais irrelevantes valoração.
para o procedimento judicial 20. Tanto 5 A MEDIAÇÃO FAMILIAR, COMO 2. No relacionamento:
é uma realidade, que após o rompi- MEIO DE APLICAÇÃO DOS DIREITOS - realizar encontros privados
mento, na constância de nova união, INDIVIDUAIS E SUA TUTELA entre cada um dos envolvidos;
as partes podem repetir “erros” e vol- - promover a expressão e com-
tar a se deparar com alguns dos “pro- Primeiramente, é preciso deta- preensão das emoções;
blemas insolúveis” da união anterior. lhar um pouco mais o que será de- - melhorar a qualidade e a for-
É dever do Direito de Família nominado como mecanismos de ne- ma de comunicação existente.
constitucionalizado utilizar a multidis- gociação e de solução dos conflitos, 3. Nos dados em questão:
ciplinaridade, ou seja, o direito à psi- os quais passam, necessariamente, - conseguir determinar quais
cologia, à psicanálise, à sociologia e por uma transformação, sem que têm importância;
a conhecimentos de outras áreas para dada solução seja idêntica ou seme- - reunir dados no início do pro-
conseguir alcançar uma mediação lhante ao modelo imaginário estabe- cesso;
familiar. No dizer de Juan Luis lecido. - utilizar especialistas como
Colaiácovo e Cynthia A. Colaiácovo21: Aparece claro que o meio mais terceira parte, para romper impasses
O método do contencioso, que inte- eficiente de intervir no entendimento e determinar diversos enfoques.
gra o mapa filosófico do advogado, entre as partes ou auxiliar nele é per- 4. De interesse:
baseia-se em que: 1. As partes na mitir a verbalização do sentimento da - concentrar-se nos interesses,
disputa são adversariais; 2. As dis- parte que está comprometida. Promo- meios utilizados e manifestos para
putas se resolvem pela aplicação da ve-se, então, compreensão que ultra- alcançá-los;
lei apropriada. Por isso, muitas vezes passa uma visão pessimista e de - realizar questionamentos ob-
se dá pouca atenção a carências auto-piedade pela situação que se jetivos e direcionados;
emocionais das partes, como honra, apresenta. Quem tem uma visão ne- - desenvolver técnicas que au-
respeito, segurança, dignidade, etc., gativa do desentendimento jamais xiliem a determinação dos verdadei-
inclusive carência da devida atenção aceitará a intervenção se o mediador ros interesses envolvidos.

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5. Nas estruturas: renascer, falarem-se a si mesmas, cológico profissional. Por isso, cabe
- definir o papel de cada um refletir e impulsionar mecanismos in- ao Judiciário proporcionar um aces-
no processo; teriores que as situem em uma posi- so rápido nas circunstâncias de rom-
- estabelecer uma tomada de ção ativa diante dos conflitos. O me- pimentos familiares, um momento
decisão justa e aceitável por ambos; diador estimula a cada membro do crucial, de máxima necessidade dos
- alterar o relacionamento físi- conflito para que encontrem, juntos, envolvidos, porque todo rompimento
co e ambiental das partes. o roteiro que vão seguir para sair da causa cicatrizes.
É de fundamental importância, encruzilhada e recomeçar a andar Enfim, o que se quer afirmar é
ainda, oferecer oportunidade, median- pela vida com outra disposição 24. a viabilidade de um procedimento de
te técnicas, jogos, entrevistas, e ou- A mediação visa reaproximar mediação anterior ao processo judi-
tros, de interagir num ambiente onde as partes para que estas encontrem cial, com vistas a resolver de forma
cada um dos envolvidos tenha pos- seus reais conflitos e seus verdadei- verdadeiramente justa os conflitos
sibilidade de se expressar, demons- ros interesses, proporcionando-lhes, relacionados ao Direito de Família.
trar seus sentimentos de outras for- de forma consciente ou inconsciente,
mas além da verbalização. Desse a percepção de diversos ângulos da 6 A FAMÍLIA NOS MOLDES ATUAIS E
modo, será possível verificar as rea- mesma questão, dificilmente obser- O RESGATE DA AFETIVIDADE: A
ções, os impulsos, defesas, angús- vados ao assumirem suas posições REPERSONALIZAÇÃO COMO
tias, modos de reagir aos conflitos e no litígio, devendo, para tanto, englo- SUPORTE FÁTICO PARA O
inclinações interiores de cada um dos bar a busca pela resolução dos pro- ENFRENTAMENTO DE LITÍGIOS
envolvidos. blemas e, também, o relacionamento
A mediação aqui abordada entre as partes. Visa, enfim, auxiliá- O Brasil, a partir da Constitui-
configura-se como um procedimento las a encontrar um acordo que aten- ção Federal de 1988, adotou princí-
distinto da conciliação e, ainda mais da aos seus interesses, reconhecen- pios constitucionais cuja eficácia de-
distante da arbitragem, já que ape- do que não existe melhor sentença pende, além de instrumentos que
nas na mediação se consideram as do que a vontade comum. viabilizem o seu exercício, de uma
relações conflituosas e os sentimen- Já em conflitos de ex-cônju- nova visão e de novas posturas fren-
tos dos envolvidos, bem como as ges, um cuidado que se deve ter é o te ao Direito de Família tradicional.
possíveis conseqüências para as de preservar um mínimo de respeito, Mesmo diante da nova visão constitu-
partes. para que ambos expressem seus cionalista do Direito de Família, urge
A arbitragem e conciliação tam- sentimentos, emoções, raivas e an- aplicar recursos capazes de enfren-
bém são meios extrajudiciais de re- gústias, facilitando a comunicação e tar os litígios de acordo a nova ordem:
solução de conflitos que utilizam ter- levando-os a pensar nas diferentes
ceiros como mediadores. Contudo, na opções possíveis de resolução do
conciliação esses terceiros conduzem conflito.
o processo na direção do acordo, Deve-se salientar, mais uma
opinando e propondo soluções. Na vez, que a autocomposição dos con-
arbitragem, o terceiro define a solu- flitos implica a necessidade da utili-
ção. No caso da mediação, no entan- zação de recursos voltados para a
to, o mediador não opina, não sugere solução dos conflitos, já que os con-
nem decide pelas partes. Ela deve, flitos externos só podem ser resolvi-
sim, ir além do acordo, visando tam- dos quando os internos forem com- A mediação visa reaproximar as
bém à melhora da relação entre as preendidos, e o caminho da busca por partes para que estas encontrem
partes. si mesmo leva à compreensão dos
Em suma, no caso da concilia- mecanismos geradores de conflitos. seus reais conflitos e seus
ção e da arbitragem, não ocorre a Isso significa que, enquanto as par- verdadeiros interesses,
autocomposição dos conflitos. Estes tes não buscarem resolver ou identi-
são ignorados, impossibilitando a ficar seus verdadeiros conflitos inter-
proporcionando-lhes, de forma
transformação entre os envolvidos, nos, não se pode alterar o seu com- consciente ou inconsciente, a
como pretende o mediador. portamento e a sua forma de lidar com percepção de diversos ângulos da
Os objetivos principais da me- as disputas, ou seja, os interesses
diação devem ser: não serão satisfeitos. mesma questão, dificilmente
a) desenvolver a sensibilidade Mas, então, como seria possí- observados ao assumirem suas
para entender o outro; vel transformar o comportamento pre-
b) desenvolver a harmonia in- judicial das pessoas frente ao mun- posições no litígio, devendo, para
terior; do? As respostas são complexas, e tanto, englobar a busca pela
c) deixar de aparentar para ser incluem a utilização de métodos apa-
autêntico; rentemente simples: o trabalho de resolução dos problemas e,
d) abandonar opiniões e argu- autoconhecimento faz com que as também, o relacionamento entre
mentos preconcebidos contra o outro. pessoas solucionem seus conflitos
O mediador deve funcionar, internos, sem mesmo saberem a for- as partes.
portanto, como um timoneiro, que ma como isso ocorreu. Solucionam os
orienta a direção do navio sem inter- problemas descobrindo a resposta
ferir no seu curso. Deve-se ter em em seu próprio silêncio e preenchen-
mente que o mediador tem que aju- do as lacunas existenciais.
dar cada pessoa do conflito para que Mesmo nas classes economi-
elas o aproveitem como uma oportu- camente mais privilegiadas, as pes-
nidade vital, um ponto de apoio para soas relutam em buscar o auxílio psi-

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a repersonalização das relações fa- das durante um longo período pelo prioritário com o fortalecimento do
miliares. tradicional estudo do Direito. No en- Judiciário, de um Judiciário diferen-
Se já é considerada impres- tanto, alguns profissionais que atuam te, e muito mais forte se redefinido
cindível a inclusão da afetividade na no âmbito do Direito Familiar e pos- por uma cultura de mediação 26.
relações familiares e, por decorrên- suem um conhecimento amplo das Até então, o Direito de Família
cia nos litígios relativos aos fatos outras áreas conexas estão incorren- preocupava-se em resolver, de for-
abrangidos pelo Direito de Família tra- do no perigoso equívoco de atuarem ma adversarial, questões direcio-
dicional, também há necessidade de em situações que não lhes cabem nadas ao destino patrimonial em ca-
incluir a mediação familiar como al- por falta do devido domínio profun- sos envolvendo rompimento de vín-
ternativa viável para atingir o mode- do do assunto, como é o caso da culos afetivos. Percebe-se que o sis-
lo de família brasileira constitucio- mediação familiar. tema jurídico ainda continua a preo-
nalizado: o afeto deve ser conside- Surge, então, um sério risco: cupar-nos com esse aspecto.
rado pelo sistema judiciário. em vez de evoluir acompanhando as O que se verifica, pois, é um
Até então, o sistema jurídico novas tendências do Direito de Fa- redimensionamento de antigas posi-
brasileiro tradicional acolhia apenas mília no mundo contemporâneo, aca- ções, uma vez que a legislação
as questões patrimoniais, sem ba-se tratando com superficialidade infraconstitucional se tornou incom-
disponibilizar qualquer meio de su- outras áreas, as quais poderiam con- patível com os princípios constituci-
peração dos rompimentos afetivos. tribuir com o mundo jurídico para uma onais. Além disso, as regras do novo
Para Warat, o desamor é uma des- mais adequada solução de conflitos Código Civil brasileiro27, especial-
pedida de um vínculo ou de um modo familiares, fazendo o sistema judiciá- mente do capítulo referente à famí-
de nos relacionarmos. No desamor, rio parar de discutir questões patri- lia, sem qualquer discussão, devem
existem perdas e ganhos. Perde-se moniais no lugar de questões afeti- ser interpretadas lado a lado com a
a história vivida, mas ganha-se algo vas, pois, como já dito, a estrutura Constituição, superior a ele.
dessa história, se dela conseguimos atual é ineficaz diante dos conflitos Para que haja uma plena e con-
tirar alguma lição e abrir-nos as pers- surgidos no âmbito familiar. creta mudança na estrutura clássica
pectivas de futuro. O desamor é com- O Estado, hoje, encontra-se do Direito de Família brasileiro, urge
plicado porque as pessoas não sa- sobrecarregado, incapacitado de so- que os operadores dessa área per-
bem dizer adeus, botar um ponto fi- lucionar situações tão complexas cebam a real dimensão constitucio-
nal em uma história. Colocar um pon- quanto o rompimento do vínculo jurí- nal dada a este ramo do Direito.
to final, dizer adeus, sem gerar con- dico e emocional das pessoas en- A partir de uma interpretação
flitos de despedida é uma tarefa volvidas em processos de separa- do Direito de Família baseada nos
muito difícil, então as pessoas pre- ção judicial e divórcio. Isso prova que princípios da dignidade da pessoa
cisam ser ajudadas, principalmente, o Direito, em constantes transforma- humana, no direito à cidadania, na
a descobrir que estão em uma fase ções, necessitaria implantar mudan- igualdade e, ainda, nas disposições
de desamor. Ninguém nos ensinou a ças na sua esfera pública e privada, da Convenção das Nações Unidas,
amar, muito menos nos ajudará a especialmente uma prática inovado- quando se trata de crianças e ado-
aprender a desamar, a fazer do de- ra em questões familiares envolven- lescentes, à qual o Brasil aderiu, cer-
samor uma boa despedida25. do conflitos e desavenças. tamente será alcançada a proteção
Existem aqueles que relutam Essa mudança imediata nos aos direitos individuais e fundamen-
em aceitar que as questões afetivas currículos dos cursos de Direito po- tais da família, que tanto se busca.
façam parte do mundo jurídico. Al- derá possibilitar a formação de ba-
gumas pessoas acabam argumen- charéis preparados para tratar de as- 7 UMA PERSPECTIVA DE
tando não ser papel do advogado suntos que envolvam os conflitos de SUPERAÇÃO DA CRISE: MEDIAÇÃO
orientar e administrar a esfera do relacionamento humano, promoven- PRÉVIA À INSTÂNCIA DO JUÍZO
emocional, mesmo que ela inegavel- do uma mudança nas concepções COMO RESOLUÇÃO ALTERNATIVA
mente faça parte do processo judi- objetivas e legalistas, adaptando cri- DO CONFLITO
cial e que não haja disputas claras térios adotados para solucionar
ou conflitos aparentes. questões que envolvam o Direito de O padrão de comportamento
Na medida em que se avança Família e, por conseqüência, os con- do brasileiro quanto à dissolução de
no conhecimento das ciências e suas flitos familiares. Com isso, é fácil união e/ou casamento acarreta a ne-
ligações, não se admitindo mais uma perceber que conflitos do Direito de cessidade de imposição, por parte
divisão estanque e bem delimitada Família têm mais a ver com sentimen- do Estado, da presença das partes
entre uma área de conhecimento e tos do que com leis. Esse aspecto, para uma tentativa de mediação pré-
outra, constata-se a necessidade de portanto, deve ser contemplado no via à instância do juízo. Deve-se lem-
o profissional da área jurídica conhe- processo pedagógico contemporâ- brar que, no momento do rompimen-
cer algumas das noções básicas que neo. to, sob emoções fortes, imprecisão
envolvem certos conflitos familiares. Assim, seria possível criar de percepção, má-comunicação e
Mesmo que não seja um mediador, uma nova concepção do Direito, mais comportamento negativo, não se
ele precisa perceber e identificar a sincronizada com o mundo globa- poderia exigir uma escolha dos en-
interdisciplinaridade e multidiscipli- lizado, onde todas as ciências esta- volvidos entre a forma alternativa
naridade envolvidas no estudo e na riam interligadas, com uma mútua co- para a resolução de conflitos – a
compreensão do Direito de Família. laboração e uma abordagem interdis- mediação - e o processo tradicional
O campo das relações familia- ciplinar. de separação ou divórcio, daí a ne-
res está profundamente ligado às di- Para que se alcance o exercí- cessidade de se falar em imposição.
versas áreas do conhecimento huma- cio da cidadania fática (não a formal- Então, acredita-se na determi-
no, como a psicologia, a sociologia, mente estabelecida), o Direito do nação da presença dos envolvidos
a antropologia e a filosofia, esqueci- novo século terá um compromisso no processo de separação ou divór-

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cio, na sessão de mediação. Entre- para revertê-las, devido ao alto cus- tente. Isso ocorre porque as razões
tanto, deve caber às partes o to emocional, financeiro e à dificul- subjetivas não os deixam transpa-
continuum após o estágio inicial, no dade em demonstrar, por meio de seu recer. Acontece o contrário: a reação
qual o mediador explicará aos parti- procurador, o contexto da situação é de fechar-se ou fingir indiferença.
cipantes a sua função e os procedi- vivida. Razões verdadeiras ou falsas nem
mentos a serem utilizados na medi- Com isso, pode-se ter uma sempre fazem parte da situação de
ação. O momento também seria idéia a respeito da importância de comunicação, servindo de causa
oportuno para definir aquilo que se- procurar uma alternativa que possa objetiva para ser eliminada qualquer
ria – no processo tradicional – deter- ajudar os envolvidos a acordarem chance de conciliação ou de possi-
minado na audiência de conciliação, entre si, sem a imposição de uma bilidade de novas oportunidades de
com vistas à homologação de um decisão, como ocorre no atual siste- relacionamento.
acordo entre as partes. ma judiciário brasileiro. Os advogados, por sua vez,
Certamente, uma escolha, an- O que se quer não é simples- acabam intensificando o conflito, pois
tes da mediação, estaria baseada mente encobrir o conflito ou protelá- agem de forma equivocada ao ouvir
nos sentimentos vivenciados no mo- lo, com a única finalidade de dimi- somente um dos envolvidos e julgar
mento da ruptura da vida em comum, nuir a crise que a Justiça atravessa verdadeiras todas as afirmações fei-
do qual fazem parte a apreensão, a ou a sobrecarga de processos, mas tas, sem questionar a subjetividade
angústia e a tristeza. No entanto, não sim acelerar soluções para as rela- dos envolvidos. Geralmente, os ad-
se pode esperar que alguém movi- ções humanas, priorizando o diálo- vogados não estão preparados para
do pela raiva, indiferença ou rancor go entre as partes envolvidas. A in- intervir nas situações de impasse ou
decida adequadamente a respeito de tenção é proporcionar a real compre- de rompimento de outros vínculos,
algo. ensão dos problemas e interesses além dos jurídicos.
A mediação em casos de se- das partes, esclarecer a verdade dos O que deve, nesse sentido,
paração e divórcio é plenamente pos- fatos, sem prejuízo à lei. destacar é que desde os mais remo-
sível, desde que aconteça com o A mediação como alternativa tos tempos a humanidade tem pro-
acompanhamento de mediadores ca- prévia à instância do juízo proporcio- curado encontrar formas justas de
pacitados e treinados. na uma intervenção precoce, limitan- resolver conflitos e desavenças re-
O procedimento judicial ado- do a hostilidade e o dano emocio- lacionados à vida a dois, visando,
tado atualmente não condiz com as nal 29. com isso, atingir uma vida mais ple-
atuais necessidades e anseios da Embora a mediação deva es- na de felicidade.
comunidade. Certamente os juízes gotar todas as possibilidades de so- Daí a proposta de uma media-
das Varas de Família nem sempre lução pacífica do conflito, ela não im- ção transformadora, capaz de desen-
são suficientemente informados nem pede que se resolva o litígio em um
possuem condições adequadas de processo judicial tradicional. Deve-
perceber as mudanças ocorridas se considerar, porém, que por se tra-
depois de algum tempo entre os en- tar de uma forma consensual de
volvidos no processo de separação (re)solução de conflitos e por ser um
ou divórcio. processo totalmente conduzido de
O objetivo principal do tipo de acordo com a vontade das partes,
intervenção proposto é evitar que os ela pode se tornar mais rápida e com
conflitos familiares acabem se tor- menor custo emocional e financeiro. O procedimento judicial
nando crônicos, ao contrário do pro- Haja vista fatores como desgastes
cesso adversarial, que não se preo- psicológicos, emocionais e pessoais adotado atualmente não condiz
cupa e não tem espaço, em seu pro- e continuidade do relacionamento – com as atuais necessidades e
cedimento, para resolver as crises e mesmo modificado – entre as partes.
conflitos familiares de maneira que A esse respeito, Christopher anseios da comunidade.
as partes possam decidir por si mes- Moore30 comenta: A interferência pre- Certamente os juízes das
mas. Deseja-se que as partes não coce diz respeito às vantagens pro-
precisem renunciar a sua própria au- cessuais. A interferência pode Varas de Família nem sempre
tonomia em nome de advogados, de- desencorajar o comportamento da são suficientemente
fensores ou juízes, os quais se en- negociação improdutiva, pode enca-
contram na difícil situação de julgar minhar as partes para o comporta- informados nem possuem
a partir do relato breve dos envolvi- mento ou os procedimentos que vão condições adequadas de
dos e dos autos do processo. resultar em acordo, podem deter as
Já há, inclusive, registros de respostas que drenam energia, as
perceber as mudanças
casos solucionados dentro dessa quais podem acirrar uma disputa e ocorridas depois de algum
metodologia em outros países. No criar barreiras ao acordo mais base- tempo entre os envolvidos no
sistema jurídico de conciliação con- ado no processo deficiente do que
jugal da Califórnia, por exemplo, nos em diferenças substanciais. processo de separação ou
casos de guarda dos filhos é solici- Em suma, há necessidade da divórcio.
tado às partes que tentem a media- mediação prévia à instância do juízo
ção antes da ação judicial 28. visto que a audiência de conciliação
Tendo em vista a dificuldade não proporciona a auto-avaliação e
em pleitear, no Judiciário, uma dis- o autoconhecimento capazes de pro-
cussão que transcenda a esfera jurí- porcionar aos envolvidos razão para
dica, os pares acabam submetendo- justificar, perante o outro, com
se às decisões judiciais, sem lutar critérios racionais, a situação exis-

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volver habilidades necessárias para filhos. É chegada a hora de transfor- tratar das relações familiares procura
o ser humano lidar com seus confli- mar os litígios dos foros judiciais em delimitar, em vão, impondo linhas di-
tos internos e externos. Essa é a pro- procedimentos mais rápidos e eficien- visórias, permissivas ou não, na ten-
posta inovadora que permite recupe- tes, os quais permitam um envolvi- tativa de que um sistema normativo
rar a sensibilidade perdida no direito mento das partes na busca de solu- dê segurança e estabilidade para as
de família. ções e da autocomposição de alter- regras determinantes do direito de
A mediação proposta não se nativas para questões em que as re- cada indivíduo. Nesse processo, os
espelha nas formas tradicionais, mas lações de afeto estejam envolvidas. princípios constitucionais, nortea-
sim abre uma nova concepção de di- Quando o sistema jurídico bra- dores de todo e qualquer limite entre
reito mais compatível com o mundo sileiro adotar a prática de realizar um o direito e liberdade de cada homem,
globalizado, onde todas as ciências serviço de mediação familiar anterior precisam ser descritos (como se fos-
estão interligadas, com necessidade à instauração do processo judicial, se possível) e especificados, dos
de mútua colaboração e uma aborda- então, estarão as partes – obrigatoria- quais se extrai como conseqüência
gem interdisciplinar. mente – presentes na sessão de me- lógica uma situação que não abriga a
A atual sociedade enfrenta pa- diação, podendo estas, num determi- rapidez e complexidade de evolução
radoxos e questionamentos nunca nado momento, negar-se ao acordo. das relações sociais.
antes sentidos. Ações nunca pensa- Para tanto, são essenciais me- Ao longo dessa reflexão, bus-
das começam a aflorar. Surgem bre- diadores que não tenham como úni- ca-se demonstrar a atual crise enfren-
chas por onde a claridade começa a co propósito chegar a um acordo, tada, mesmo após a Constituição Bra-
entrar. E perceber como os conflitos mas sim conseguir a transformação sileira de 1988, que possibilitou ino-
do Direito de Família têm mais rela- da relação entre as partes, evitando vações no modelo jurídico da entida-
ção com sentimentos do que com leis o surgimento de conflitos posteriores de familiar. Perplexamente alguns
faz parte do momento atual. ao rompimento emocional, quando operadores jurídicos aguardavam o
Seria ingênuo supor que os esse for necessário e jurídico. surgimento do novo Código Civil bra-
envolvidos no processo judicial de De qualquer forma, ainda que sileiro para que as mudanças almeja-
separação ou divórcio, sobrecarrega- o acordo não aconteça, o processo das tivessem o devido amparo legal.
dos emocionalmente, estariam em de mediação permite aos envolvidos Mais uma vez, o Direito Constitucio-
meio a tais circunstâncias, capazes um resultado impossível no proces- nal, aqui abordado estritamente no
de solucionar seus conflitos enfren- so tradicional: ter o controle da deci- enfoque da constitucionalização do
tando temas legais e questões obje- são e sair melhor do que entrou. Direito de Família brasileiro, é relega-
tivas. do a um plano secundário. E, quase
Com efeito, faz-se necessária 8 TEXTO INFRACONSTITUCIONAL como um contra-senso, assiste-se à
uma reestruturação do currículo dos ACOLHENDO GARANTIAS E imprensa divulgar – em 2003 – que
cursos universitários de Direito no MECANISMOS DE DEFESA AOS as novas mudanças são advindas da
Brasil. E, como decorrência, haverá DIREITOS CONSIDERADOS aprovação do novo Código Civil31,
mais advogados, juízes, promotores FUNDAMENTAIS com uma moldura de regulador das
e todos aqueles que atuam no âmbi- relações privadas, assim excluindo o
to do Direito de Família, dotados de Portanto, enfrentar questões importante papel do Estado e con-
suficientes conhecimentos da área da que envolvam o Direito como um seqüentemente, desconsiderando a
psicologia e afins para enfrentar os todo, e, principalmente, os conflitos Constituição Brasileira como meio de
intensos conflitos conjugais. envolvendo o Direito de Família sem proteção aos direitos individuais e fun-
Nesse contexto, há necessida- considerar a importância da media- damentais da família.
de de conciliar nossos desejos com ção para composição dos litígios é Em função da nova realidade
a liberdade do outro, tarefa nem sem- negar a complexidade das relações jurídica e social, o Direito de Família
pre possível, pois os próprios anseios humanas e tudo que as envolve, mol- tradicional tem sofrido profundas
muitas vezes vão de encontro ao dando a vida conforme conceitos mudanças, devendo o atual Direito
mundo exterior e seus valores. Mes- prestabelecidos, como, aliás, alguns de Família viabilizar uma concepção
mo assim, existem desejos comuns juristas têm feito. de justiça mais aberta e preocupada
e essenciais para uma vida em que O Direito buscou, em vão, en- em harmonizar suas diretrizes com
se tenha vontade de buscar aquilo quadrar as relações familiares em leis, os princípios fundamentais e direi-
que falta para a promoção do bem- regras e modelos únicos, em nome tos inalienáveis da pessoa humana
estar individual e social. de uma segurança, na esperança de garantidos pela Constituição Brasi-
É justamente no âmbito do ter uma resposta pronta para todas leira.
bem-estar que se percebe o quanto as situações de divergência gerado- A sociedade depara-se, cons-
a maioria das famílias está deses- ra de conflitos. Encontrar formas que tantemente, com situações comple-
truturada: o afeto, a proteção amoro- possibilitem mediar e racionalizar con- xas, como o rompimento do vínculo
sa deveriam permitir a construção de flitos é promover a justiça, transfor- jurídico e emocional entre indivíduos.
uma estrutura emocional capaz de mando a sociedade e as pessoas; Seria contrário ao bom senso negar o
superar traumas e enfrentar a realida- harmonizando interesses entre os envolvimento do Direito na atual pers-
de. O Direito Civil constitucionalizado, envolvidos. pectiva, em que o Direito ainda dito
de sua parte, tem procurado resolver Uma observação mais apura- “Público” e o “Privado” não mais se
os conflitos familiares basicamente da permite verificar a transparência contrapõem, mas se completam, com
ouvindo as partes, e estas, muitas de um dito novo Código Civil que ten- um Direito de Família constitucio-
vezes não expressam verbalmente ta efetivar, ou mesmo, dar uma base nalizado. Sem dúvida, o Direito deve
sua vontade, a qual acaba encoberta regulamentadora jurídica às relações estar embasado em princípios capa-
por um discurso a respeito da culpa, chamadas “privadas” existentes na zes de sustentar os valores deste
do valor da pensão, da guarda dos sociedade; mais especificamente, ao novo século que emerge, os quais

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são direcionados, principalmente, à REFERÊNCIAS 28 MOORE, op. cit., p. 85.
realização do ser humano e da sua 29 Idem, p.91.
afetividade. Isso somente será al- 30 Idem, p. 85.
31 BRASIL. Lei n. 10.406, de janeiro de 2002,
cançado com a ruptura de antigos 1 Parece ter sido esta a postura de uma boa
publicado no Diário Oficial da União de 11
preconceitos, os quais já não cabem parte dos doutrinadores brasileiros: aguar-
de novembro de 2002, que institui o novo
mais em uma realidade social tão dar o registro em lei específica daquilo que
Código Civil brasileiro.
já possui aplicação imediata determinada
explícita e, mesmo, ainda implícitos
pela Constituição Federal de 1988 em seus
da alma humana. princípios e normas. REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES
Em decorrência dos princípios 2 HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes
traçados pela atual Constituição Bra- Novaes. Família e casamento em evolução.
sileira, essa nova possibilidade de- Revista Brasileira de Direito de Família, BARCELLOS, Ana Paula de. A eficácia
veria ter trazido profundas modifica- Porto Alegre, n. 1, p. 7, abr/jun. 1999. jurídica dos princípios constitucionais: O
3 LÔBO, Paulo Luiz Neto. A Reperso- princípio da dignidade da pessoa humana.
ções aos fundamentos do Direito Pri-
nalização das Relações de Família. In: Rio de janeiro: Renovar, 2002.
vado, mais especificamente ao Di- BITTAR, Carlos Alberto (Coord.). O Direito BARRETO, Vicente (Coord.). Direito de
reito de Família como parte do Direi- de Família e a Constituição de 1988. São família: problemas e perspectivas. Rio de
to Civil. Ocorre, no entanto, que al- Paulo: Saraiva, 1989. p. 71-72. Janeiro: Renovar, 1998.
gumas instâncias jurídicas revelam 4 Idem, p. 53-81. BRASIL. Novo Código Civil Brasileiro. 3.
o não-rompimento da tendência de 5 FACHIN, Luis Edson; LIRA, Ricardo Pereira ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003.
aguardar normas infraconstitucionais (Org.). Elementos críticos do direito de BRAUNER, Maria Claudia Crespo. Direito,
família: curso de direito civil. Rio de Janeiro: Sexualidade e Reprodução Humana. Rio
como única fonte possibilitadora de Renovar, 1999. p. 6. de Janeiro: Renovar, 2003.
operacionalidade e, portanto, con- 6 Idem, p. 7. CAHALI, Francisco José. Contrato de
cretude dos direitos fundamentais 7 Constata-se que alguns dos estudantes Convivência na União Estável. São Paulo:
buscados pela sociedade e já cris- de graduação da Faculdade de Direito de Saraiva, 2002.
talizados no texto constitucional, fato Passo Fundo, preferem adquirir as cha- CAHALI, Yussef Said. Divórcio e sepa-
esse que revela uma estreita visão madas “obras clássicas” que estão ração. São Paulo: Revista dos Tribunais,
vinculadas a outra época e a conceitos já 2003.
privatista do Direito de Família.
superados. __________. Dos alimentos. 4. ed. São
O novo Código Civil surge 8 Apud: ZAMBERLAM, Cristina de Oliveira. Paulo: Revista dos Tribunais, 2003.
como ferramenta básica de trabalho Os novos paradigmas da família contem- CARVALHO NETO, Inácio de. Respon-
do operador jurídico. Todavia, as su- porânea: uma perspectiva interdisciplinar. sabilidade Civil no Direito de Família .
postas inovações nele introduzidas Rio de Janeiro: Renovar, 2001. p. 12. In: Curitiba: Juruá, 2002.
há muito já estão estabelecidas na FACHIN, op. cit., p. 6. DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo
ordem constitucional. As grandes ino- 9 LÔBO, op. cit., p. 58. da Cunha. Direito de Família e o Novo
10 Idem, p. 58. Código Civil. 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey,
vações atribuídas ao Código Civil, 11 Idem, p. 58. 2002.
que vem substituir o Código Civil 12 Idem, p. 59. DONADEL, Adriane. Efeitos da consti-
brasileiro de 1916, na parte referen- 13 Idem, p. 73. tucionalização do Direito Civil no Direito de
te à disciplina das relações especiais 14 Idem, p. 79. Família. In: USTÁRROZ, Sérgio Gilberto P.
da família, tais como: poder familiar 15 Idem, p. 67. D. (Org.). Tendências Constitucionais no
dividido entre homem e mulher, ado- 16 A exemplo da omissão verificada nos casos Direito de Família. Porto Alegre: Livraria do
referentes ao exercício da paternidade e/
ção de nome da cônjuge por parte ou maternidade vinculado à união homos-
Advogado, 2003. p. 9-21.
do marido, direito do marido à pen- ENGELS, Friedrich. A origem da família,
sexual. da propriedade privada e do Estado. 12.
são alimentícia, entre outros, já fo- 17 RAMOS, Carmen Lucia Edson (Coord.). ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1991.
ram reconhecidos pela ordem cons- Repensando os fundamentos do direito civil FACHIN, Rosana Amara Girardi. Em busca
titucional. contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, da Família do Novo Milênio: Uma reflexão
É injustificada, portanto, a atri- 1998. p. 273. crítica sobre as origens históricas e as
18 Idem, p. 274-275.
buição ao novo Código Civil brasilei- perspectivas do Direito de Família brasileiro
19 MAURIQUE, Jorge Antônio. Mediação e contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar,
ro – na parte referente à família – a Direito de Família. Revista da Faculdade
responsabilidade por uma Justiça 2001.
de Direito da Universidade Católica de
GRISARD FILHO, Waldyr. Guarda Compar-
mais moderna, quando veio a ser pro- Petrópolis, Rio de Janeiro, v. 3, p. 23, 2001.
tilhada. 2. ed. São Paulo: Revista dos
mulgado anos após a Constituição 20 SERPA, Maria de Nazareth. Mediação de
Tribunais, 2002.
Federal de 1988. Família. Belo Horizonte: Del Rey; 1998. p.
MADALENO, Rolf. Novas perspectivas no
Mesmo com todos os avanços 25.
direito de família. Porto Alegre: Livraria do
21 COLAIÁCOVO, Juan Luis; COLAIÁCOVO,
na Constituição, o Estado tenta trans- Cynthia Alexandra. Negociação, Mediação
Advogado, 2000.
formar as relações afetivas em insti- e Arbitragem. Rio de Janeiro: Forense,
MORAES, Alexandre de. Constituição do
tuição e solenizar o casamento, sem- Brasil Interpretada e legislação consti-
1999. p. 63.
tucional. São Paulo: Atlas, 2002.
pre preocupado com os aspectos 22 HAYNES, John M; MARODIM, Marilene.
_____________. Direito Constitucional.
patrimoniais das uniões e relações Fundamentos da Mediação Familiar. Porto
11. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
afetivas. Alegre: Artes Médicas, 1996. p. 24.
23 MOORE, Christopher W. O Processo de _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ . Direitos Humanos
Assim, a vontade de alcançar Mediação: Estratégias Práticas para Fundamentais. 4. ed. São Paulo: Atlas,
a justiça, a igualdade e a solidarie- Solução de Conflitos. 2. ed. Porto Alegre: 2002.
dade acompanharão o desejo íntimo Artes Médicas, 1998. p. 62 - 63. PERLINGIERI, Pietro. Perfis do Direito Civil:
de todo ser humano na busca da fe- 24 WARAT, Luis Alberto. O Ofício do Mediador. Introdução ao Direito Civil Constitucional.
licidade. Enfim, é necessário encon- Florianópolis: Habitus, 2001. p. 76-77. Rio de Janeiro: Renovar, 2002.
trar caminhos mais precisos para a 25 Idem, p. 132. REIS, Clayton. Inovações ao novo Código
26 Idem, p. 162 – 163. Civil. São Paulo: Forense, 2002.
condução de um Direito de Família RIOS, Roger Raup. O princípio da igualdade
27 BRASIL. Lei n. 10.406, de janeiro de 2002,
transformador, não como utopia, mas publicado no Diário Oficial da União de 11 e a discriminação por orientação sexual.
dentro de uma da realidade que exi- de novembro de 2002, que institui o novo São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.
ge mudanças. Código Civil brasileiro. ROCHA, Sílvio Luiz Ferreira da. Introdução

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ao Direito de Família. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2004.
RODRIGUES, Maria Alice. A mulher no
espaço privado: da incapacidade à
igualdade de direitos. Rio de Janeiro:
Renovar, 2003.
SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da
Pessoa Humana e Direitos Fundamentais
na Constituição Federal de 1988. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2001.
SEREJO, Lourival. Direito Constitucional da
Família. Belo Horizonte: Del Rey, 1999.
TEPEDINO, Gustavo. Temas do Direito
Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 1999.
ZAMBERLAM, Cristina de Oliveira. Os
novos paradigmas da família contem-
porânea: uma perspectiva interdisciplinar.
Rio de Janeiro: Renovar, 2001.

Artigo recebido em 16/12/2004.

ABSTRACT

The authoress critically analyses if


family mediation may or may not be a feasible
alternative to overcome family conflicts of
current society, because of the inability of the
traditional Family Law to rule the new patterns
of the Brazilian family.
She understands that the strict
contraposition between Public and Private Law
is outdated, and that it is the duty of the State to
guarantee individual’s personal achievement,
not just to rule cases related to assets in family
judicial matters, without providing means to
getting over the eventual rupture of affection
ties.
She concludes that family mediation is
an alternative indicated for overcoming the
existing crisis in the mentioned field, since the
normative power of the principles and
fundamental rights provides elements capable
of establishing the new Family Law view,
concerning both the affective and juridical
aspects.

KEYWORDS – Civil Law; Family Law;


constitutionality; family mediation; conflict;
matrimonial society; arbitration, conciliation.

Beatriz Helena Braganholo é Advogada


e Professora da Universidade de Passo
Fundo-RS.

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