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apropriada ou estocada em sistema de banco de dados, desde
que não tenha objetivo comercial e seja citada a fonte (autor
Manual para fazer
e editora). das crianças pobres
churrasco
tradução e prefácio Clarah Averbuck ou

ilustrações Fabia Bercsek Modesta proposta para evitar que as crianças da Irlanda
projeto grafico Pinky Wainer sejam um fardo para os seus pais ou para o seu país.
produção gráfica GFK

isbn 85-60054-01-4 Jonathan Swift

prefácio e tradução Clarah Averbuck


ilustrações Fabia Bercsek
Nihil obstat
Imprimatur
ANO DA GRAÇA DE 2006

Editora Clara Ltda.


rua Melo Alves, 278
CEP 01417-010 SP SP Brasil
tel 55 11 3064 8673
www.editoradobispo.com.br
Sobre O Autor

O irlandês Jonathan Swift (1667-1745),


autor de um dos livros mais fabulosos da
história, “As viagens de Gulliver”, teve uma
infância tão difícil quanto a das crianças que
são personagens deste manual, escrito em
1729. Órfão de pai com apenas um ano de
idade, foi levado, secretamente, por sua ama,
para a Inglaterra, de onde retornaria dois
anos mais tarde, por causa de conflitos
políticos naquele país. Passa a ser criado por
um tio grosseiro, de quem se queixaria mais
tarde da falta de afeto. Somente aos 21 anos,
com a morte deste tio, vai morar com a mãe,
enfrentando sérias dificuldades financeiras.
Além desta sátira política que a Editora do
Bispo apresenta em novíssima tradução,
Swift escreveu ainda “História de um tonel”
(1704), “Argumento contra a abolição do
cristianismo” (1708), “Diário para Stella”
(1710), entre outros.

7
Jonathan Swift (1667-1745)

9
E ainda dizem que a humanidade caminha
por Clarah Averbuck*

A miséria da Irlanda, em 1729, e a do Brasil,


em 2006, não têm muita diferença. Mulheres
em trapos rebocando filas de crianças
indesejadas com pais desconhecidos, que ficam
jogadas por aí, dormindo ao relento, crescendo
com ódio e pedindo um troco no sinal fechado,
enquanto fecham-se os vidros elétricos e os
corações já endurecidos. A miséria é terrível,
mas o mais terrível é se acostumar com ela e
deixar endurecer o coração.

O que fazer com todas essas crianças?


Jonathan Swift e sua língua afiada sugeriram:
ora, se não podemos alimentá-las, vamos comê-
las. Por um bom preço, claro. “Admito que esta
comida será um tanto cara e, sendo assim, muito
apropriada para Senhores de terra que, tendo já
devorado a maioria dos pais, parecem ter maiores
Direitos sobre os filhos.”

11
Mas não estamos falando de canibalismo.
Você tem em mão um manifesto político
atemporal que não precisa sequer ser
contextualizado. E ainda dizem que a
humanidade caminha.

Jonathan Swift morreu surdo e louco.


Mas nem morto calou-se. Eis seu auto-epitáfio:

“AQUI JAZ O CORPO DE JONATHAN


SWIFT, DOUTOR EM TEOLOGIA E DEÃO
DESTA CATEDRAL, ONDE A COLÉRICA
INDIGNAÇÃO NÃO PODERÁ MAIS
DILACERAR-LHE O CORAÇÃO. SEGUE
PASSANTE, E IMITA, SE PUDERES, ESSE
QUE SE CONSUMIU ATÉ O EXTREMO PELA
CAUSA DA LIBERDADE”.

*Clarah é escritora e jornalista,


autora de “Máquina de Pinball”,
entre outros livros, mãe,
nunca assou uma criança.
13
É
19
um Foco de ira*
para aqueles que andam por esta grande
Cidade ou viajam para o Interior, quando
vêem as Ruas, as Estradas e as Soleiras
das Casas abarrotadas de Mendigas
seguidas por três, quatro ou seis Crianças,
todas em trapos e importunando cada um
dos Passantes por uma Esmola. Essas
Mães, em vez de poderem trabalhar para
seu sustento honesto, são obrigadas a
empregar todo seu tempo em Perambu-
lações para implorar sustento a suas
Crianças desamparadas, que, à medida
que crescerem, ou viram Ladrões por
falta de trabalho, ou deixam sua Terra
Mãe querida para lutar pelo pretendente
na Espanha ou se vender aos Barbados.
* Acreditava-se em
quatro humores, sendo
a Bile Negra um deles, que
tornava a pessoa passível a
ataque de ódio e ira, descritos
como Melancholly.

21
A cho que é um consenso de todas as
Partes que esse prodigioso número de
Crianças nos Braços, nas Costas ou nos
Calcanhares de suas Mães, e freqüente-
mente de seus Pais é, do deplorável pre-
sente estado do Reino, um considerável
malefício adicional; e, portanto, quem
quer que pudesse encontrar um método
justo, barato e fácil de tornar essas
Crianças úteis e saudáveis Membros dos
Bens-comuns, mereceria ter por parte do
público a sua Estátua como preservador
da Nação.

M as minha intenção está muito longe


de se limitar a prover apenas Filhos dos
proferidos Mendigos. É de uma Extensão
muito maior e deve englobar o Total de
Crianças em determinada Idade, tanto

23
nascidas de Pais efetivamente pouco
capazes de sustentá-las, quanto aquelas
que demandam a nossa Caridade nas Ruas.

D a minha parte, tendo debruçado


meus pensamentos por muitos Anos
sobre este Importante assunto, e tendo
pesado maduramente as Propostas de
outros Planejadores, Eu sempre os achei
grosseiramente enganados em seus cálcu-
los. É claro que uma criança recém-saída
de sua Mãe pode ser sustentada por seu
Leite por um Ano Solar com um pouco
mais de alimento, provavelmente com não
mais do que a Quantia de dois Shillings,
que a Mãe pode certamente conseguir, ou
o valor em migalhas, por sua legal
Ocupação de Mendigar. E é exatamente
com um Ano de Idade que eu proponho

27
olhar por elas de tal maneira que, em vez
de serem um Fardo para seus pais, ou para
a Paróquia, ou querendo Comida e Roupa
para o resto de suas Vidas, elas deverão,
pelo Contrário, contribuir para a
Alimentação e em parte pelo Vestuário de
muitos Milhares.

Há igualmente outra grande


Vantagem em meu Projeto, que previnirá
aqueles Abortos Voluntários e aquela
horrenda prática de Mulheres assassinan-
do seus Filhos Bastardos infelizmente fre-
qüente demais entre nós, Sacrificando os
pobres inocentes Bebês, desconfio que
mais para evitar as Despesas do que a
Vergonha, o que traz Lágrimas e Pena até
ao mais Selvagem e desumano peito.

29
S endo o número de Viventes neste
Reino geralmente estimado em um
Milhão e meio, desses calculo que deva
haver mais ou menos duzentos mil Casais
cujas Mulheres sejam Parideiras, número
do qual subtraio trinta Mil Casais capazes
de manter seus próprios Filhos, embora
tema que possam não ser tantos, com as
atuais Aflições do Reino. Mas, assim
sendo, sobrarão cento e setenta Mil
Reprodutoras. Novamente Subtraio
cinqüenta Mil, para aquelas Mulheres
que abortam naturalmente ou cujas
Crianças morrem por acidente ou
doença durante o primeiro Ano de Vida.
Sobram apenas cento e vinte Mil Filhos
de Pais Pobres nascidos anualmente.
Logo, a pergunta é: como serão criados e
sustentados? Como já disse, nas atuais

31
Circunstâncias, é terminantemente impos-
sível pelos Métodos propostos até agora,
pois não podemos empregá-los na
Indústria ou na Agricultura; nem cons-
truímos casas (digo, no Campo) ou culti-
vamos Terra: eles raramente podem ga-
nhar a Vida Roubando, antes de chegar
aos seis Anos, a não ser que sejam muito
Precoces, embora, confesso, eles aprendam
os Fundamentos bem mais cedo. Durante
este período, entretanto, podem ser consi-
derados apenas Aprendizes, como fui
informado por um cavalheiro dirigente no
Condado de Cavan que me assegurou que
nunca soube de mais de um ou dois Casos
abaixo dos seis Anos, mesmo em uma
parte do Reino tão conhecida pela mais
ágil competência nesta Arte.

33
F oi-me assegurado por nossos
Mercadores que um Garoto ou uma
Garota antes dos doze anos não é uma
Mercadoria vendável; mesmo quando
atingem essa idade não rendem, na troca,
mais do que três Pounds, ou três Pounds
e meia Coroa, no máximo, o que não pode
reverter em Lucro nem para os Pais ou
para o Reino, pois O Custo em Alimen-
tação e Trapos é de pelo menos quatro
vezes este Valor.

D evo agora, portanto, humildemente


expor meus próprios Pensamentos, que
espero não sejam passíveis da menor
Objeção.

F oi-me assegurado por um ameri-


cano muito entendido, amigo meu em
Londres, que uma Criancinha saudável

35
bem tratada é, com um Ano, um Alimento
delicioso e nutritivo, seja Cozida,
Grelhada, Assada ou Fervida; e eu não
tenho dúvidas de que serviria também
em um Guisado ou um Ensopado.

E u, então, humildemente ofereço à


apreciação do público que das cento e
vinte Mil crianças já calculadas, vinte Mil
sejam reservadas para Reprodução, das
quais um quarto seriam Machos, mais do
que admitimos para Ovelhas, Bovinos ou
Suínos. Meu Argumento é que essas
Crianças raramente são Frutos do
Matrimônio, uma Circunstância não
muito levada em conta por nossos
Selvagens, sendo portanto um Macho
suficiente para servir quatro Fêmeas. Que
as cem Mil restantes, com a Idade de um
ano sejam postas à Venda para pessoas de

37
39
Boa Posição Social e Fortuna em todo o
Reino, sempre aconselhando a mãe que as
deixem Sugar abundantemente durante o
último Mês, de modo que as entreguem
Gordas e Rechonchudas para uma boa
Mesa. Uma Criança daria dois Pratos em
uma Recepção para os Amigos, e quando
a família jantar sozinha, o Quarto
dianteiro ou traseiro daria um Prato
razoável. Temperado com um pouco de
Pimenta ou Sal ficaria muito bom fervido
no quarto Dia, especialmente no Inverno.

C alculei que uma criança recém-


nascida pesa, em média, umas doze libras
e que, em um Ano solar, se razoavelmente
bem cuidada, aumentaria para vinte e oito
libras.

41
A dmito que esta comida será um
tanto cara e, sendo assim, muito apropri-
ada para Senhores de terra que, tendo já
devorado a maioria dos pais, parecem ter
maiores Direitos sobre os filhos.

A Carne de Bebê seria de Estação


durante o Ano inteiro, porém mais abun-
dante em março e um pouco antes e um
pouco depois; porque foi dito por um
sério Autor, proeminente Médico Fran-
cês, que sendo o Peixe um alimento prolí-
fico, existem nos países Católico-Roma-
nos mais crianças nascidas nove meses
após a Quaresma do que em qualquer
outra época; então, contando um ano após
a Quaresma os Mercadores estariam mais
cheios do que de costume, pois o número
de Bebês Papistas* é pelo menos três
* Partidários da supremacia do
papa; expressão usada pelos
43 protestantes para se referir aos
católicos.
para um neste Reino, tendo assim outra
Vantagem, que seria a de diminuir o
Número de Papistas entre nós.

J á avaliei o Custo para sustentar um


Filho de Mendigo (onde incluo todos os
Camponeses, Trabalhadores e quatro
quintos dos Agricultores), que deve girar
em torno de dois Shillings por Ano,
Trapos incluídos. Acredito que nenhum
Cavalheiro negaria Dez Shillings pela
carcaça de uma Criança bem gorda, que,
como eu já disse, dará quatro pratos de
excelente Carne Nutritiva, quando ele só
tivesse um Amigo íntimo ou sua própria
Família para o jantar. Assim, o Dono das
Terras aprenderá a ser um bom Senhor e
se tornará popular entre seus Inquilinos,
a Mãe terá Oito Shillings de Lucro líquido

45
e estará apta para trabalhar até que pro-
duza outra Criança. Aqueles mais
econômicos (e devo admitir que os
Tempos pedem isso) poderiam esfolar a
Carcaça; a Pele, Artificialmente tratada,
daria admiráveis Luvas para as Damas e
Botas de Verão para os finos Cavalheiros.

Q uanto à nossa cidade de Dublin,


Matadouros poderão ser designados para
este propósito, em suas partes mais con-
venientes, e podemos ter certeza que
Açougueiros não faltarão; se bem que eu
prefiro recomendar que as Crianças sejam
compradas vivas e preparadas quando saí-
das quentes do espeto, como fazemos com
Porcos assados.

47
49
U ma Pessoa de muito valor, um ver-
dadeiro Amante de seu País e cujas
Virtudes muito estimo, recentemente, dis-
cutindo esta questão, deleitou-se ao ofere-
cer um refinamento ao meu Projeto. Ele
disse que muitos Cavalheiros neste Reino,
tendo ultimamente dizimado seus Veados,
imaginou que a Procura por esta Carne de
Caça poderia bem ser suprida pelos
Corpos de jovens Rapazes e Moças, com
não mais de catorze anos, nem menos de
doze. Grande é o Número, de ambos os
Sexos, em todos os Países estando agora a
ponto de Morrer de Fome, por falta de
Trabalho e deles se livrariam seus Pais, se
vivos, ou então seus Parentes mais próxi-
mos. Mas com o devido respeito a tão
excelente amigo e tão meritório Patriota,
não posso concordar totalmente com sua
Visão, porque quanto aos Machos, meu

51
conhecido americano assegurou-me com
vasta experiência que sua carne é normal-
mente Dura e Magra, tal como a de nos-
sos Escolares devido ao exercício e seu
gosto desagradável. Engordá-los não
resolveria a Questão. Quanto às Fêmeas,
acredito humildemente que seriam uma
perda para o Público, porque elas em
breve se tornariam Parideiras. Além
disso, não é improvável que algumas
Pessoas escrupulosas pudessem Censurar
tal Prática (embora muito injustamente)
de beirar um pouco a Crueldade, o que
confesso ter sempre sido para mim a mais
forte Objeção contra qualquer Projeto,
por mais bem intencionado que seja.

M as com o intuito de justificar o meu


amigo, ele confessou que este expediente
lhe fora posto em Mente pelo famoso

53
Sallmanaazor, um Nativo da Ilha
Formosa, que de lá veio para Londres
há mais de vinte Anos e durante uma
Conversa contou ao meu amigo que, em
seu País, quando acontecia de qualquer
Jovem ser condenado à morte, o Carrasco
vendia a Carcaça para Pessoas de Boa
Posição Social como algo Delicioso e que,
em seu tempo, o Corpo de uma
rechonchuda de quinze que fora crucifica-
da por uma tentativa de envenenar o
Imperador foi vendido para O Primeiro
Ministro de Estado de Sua Majestade e
a outros grandes Mandarins da Corte,
aos pedaços, por quatrocentas Coroas.
Tampouco posso negar que se o mesmo
Uso fosse dado a várias garotas
rechonchudas da cidade, que, sem um
único Tostão por Fortuna, não podem ir

55
muito longe sem uma Cadeira, nem
aparecer no Teatro ou Reuniões com
Adornos importados, que nunca poderão
pagar, nem por isso o Reino estaria pior.

A lgumas pessoas de Espírito desen-


corajado estão muito preocupadas com
aquele imenso Número de pessoas Pobres
que são Idosas, Doentes ou Mutiladas. Fui
solicitado a empregar meus Pensamentos
para o Curso que deve ser tomado, para
aliviar a Nação de tão penosa
Incumbência. Mas não estou preocupado
com esta questão, porque é muito bem
sabido que eles estão todos os Dias mor-
rendo e apodrecendo, de frio, de fome, de
sujeira e de vermes, tão rápido quanto
pode ser esperado. E quanto aos Lavra-
dores mais jovens, eles agora estão em
Condição quase que tão promissora quanto.

57
Não conseguem Trabalho e, conseqüente-
mente, desfalecem por falta de Alimento, a
tal ponto que se fossem eventualmente
contratados para algum Serviço comum
não teriam Forças para realizá-lo, estando
assim o país e eles mesmos alegremente
livres dos Males por vir.

M inha digressão foi muito longa,


portanto devo retornar ao meu Assunto.
Eu acho que as Vantagens da Proposta
que fiz são óbvias e muitas, da maior
Importância.


P rimeiramente, como já observei,
diminuiria bastante o Número de Papistas,
pelos quais somos Anualmente infestados,
sendo os principais Reprodutores da

59
Nação, assim como nossos mais perigosos
Inimigos, e que permanecem em casa de
propósito com a Intenção de entregar o
Reino ao Pretendente, na esperança de
aproveitar a Ausência de tantos bons
Protestantes, que preferiram deixar seu
País a ficar em casa e pagar, ainda que
contra sua consciência, o Dízimo a um
Vigário Episcopal.


E m segundo lugar, os Inquilinos
mais pobres terão algo de valor, que por
Lei ficasse disponível em caso de
Necessidade e ajudaria a pagar o Aluguel
ao seu Senhor, seu Milho e seu Rebanho já
tendo sido levados, e sendo o Dinheiro
uma Coisa desconhecida.

61

E m terceiro lugar, a Manutenção
de cem mil crianças a partir dos dois
Anos, não podendo ser calculada em
menos de dez Shillings por Cabeça ao
Ano, para o Tesouro Nacional serão
então acrescidas cinqüenta mil Libras
por Ano, além da Vantagem de um Novo
Prato introduzido na mesa de todos os
Cavalheiros de Fortuna no Reino que
tenham qualquer Refinamento em seu
Gosto, e o Dinheiro circulará entre Nós,
os Produtos sendo inteiramente Produ-
zidos e Manufaturados por nós.

63

E m quarto lugar, as Parideiras regu-
lares, além de ganharem oito Shillings
Esterlinos por Ano pela Venda de suas
Crianças, estarão livres do Encargo de
mantê-las após o primeiro Ano.

Em

quinto lugar, este Alimento
traria grande Clientela para as Tavernas,
onde os Fazedores de Vinho serão certa-
mente sensatos para conseguir as me-
lhores Receitas para prepará-lo com per-
feição e, conseqüentemente, ter suas casas
freqüentadas por todos os Cavalheiros

65
finos, que se orgulham com razão de
serem Entendidos em boa Mesa. Um
Cozinheiro habilidoso, que saiba como
agradar seus Convidados, dará um jeito
de tornar tão caro quanto quiser.

Em

sexto lugar, Isto seria um
grande Incentivador para o Casamento,
que todas as Nações sábias têm estimula-
do por Recompensas ou imposto Leis e
Penalidades. Aumentaria o Cuidado e
Ternura das Mães com suas crianças
quando estivessem seguras de terem seus
Pobres Bebês um Encaminhamento na
Vida, de certa forma graças ao público,
para seu Lucro anual em vez de Despesa;
67
deveremos logo notar uma honesta
Competição entre as mulheres Casadas,
sobre qual delas poderá trazer a criança
mais gorda ao mercado. Os homens pas-
sariam a gostar mais de suas Esposas
durante a Época de sua Gravidez, assim
como gostam agora de suas Éguas e vacas
prenhes ou de suas Porcas quando estão
prontas para parir, e não bateriam nelas
ou as chutariam (Prática muito freqüente)
por medo de Aborto.

M uitas outras Vantagens podem ser


enumeradas. Por exemplo, o Acréscimo
de alguns milhares de Carcaças na
Exportação de Carne de Barril: a
Propagação da Carne Suína e
Melhoramentos na Arte de fazer Bom
Bacon, tão em falta entre nós pela grande
Destruição de Porcos, muito freqüente em

69
å nossas Mesas, que não são de maneira
alguma comparáveis em Sabor ou
Suntuosidade a uma bem desenvolvida e
gorda Criança de Um ano, que, assada
inteira, será uma Atração considerável em
um Banquete do Senhor Prefeito, ou qual-
quer outra Recepção Pública. Mas isto e
muitas outras coisas eu omitirei, sendo
ilustração adepto da Brevidade.

S upondo que Mil Famílias nesta


Cidade fossem consumidoras regulares de
Carne de Bebê, além de outras que pode-
riam tê-las em alguma Ocasião festiva,
particularmente em Casamentos e Batiza-
dos, calculo que Dublin consumiria anual-
mente mais ou menos vinte mil Carcaças;
o resto do Reino (onde provavelmente
elas seriam vendidas mais baratas), as
oitenta Mil restantes.

71 73
Não me ocorre objeção alguma que
possa ser levantada contra esta Proposta,
a menos que se retruque que o Número
de pessoas ficaria assim bastante reduzido
no Reino. Isso eu reconheço de bom
grado, sendo este, na verdade, um dos
principais motivos Pensados em oferecê-
la ao Mundo. Desejo que o Leitor observe
que cálculo meu Corretivo especifica-
mente para o Reino da Irlanda, e para
nenhum outro que tenha existido, exista,
ou Imagino, venha a existir na face da
Terra. Que não venham, então, falar em
outros Propósitos: de cobrar dos nossos
Ausentes cinco Shillings por Libra de
Imposto; de não usar Roupa ou Mobília
que não seja de nosso cultivo ou manu-
fatura; de rejeitar totalmente Materiais e
Instrumentos que promovam o Luxo

75
Estrangeiro; de sanar o Alto Custo de
Orgulho, Vaidade, Ociosidade e Jogos
Fúteis das nossas Mulheres; de introduzir
um mínimo de Parcimônia, Prudência e
Moderação; de aprender a amar nosso
País, no que diferimos até menos dos
Lapônios e dos Tupinambás; de deixar de
lado nossas Hostilidades e diferenças,
nem agir mais como os Judeus, que
estavam se matando uns aos outros no
Momento em que sua Cidade foi tomada;
de sermos um pouco cuidadosos de não
vender nossos País e nossas Consciências
por nada; de ensinar os senhores de Terra
a ter pelo menos um grau de Compaixão
para com seus Inquilinos; e, finalmente,
de colocar um Espírito de Honestidade,
Zelo e Habilidade em nossos Comercian-
tes, que, se fosse agora tomada a Decisão

77
de se comprar apenas Produtos Nativos,
imediatamente se reuniriam para nos
engabelar e nos impor o preço, a Medida
e a Qualidade; eles nunca puderam ser
trazidos a uma proposta justa de Transa-
ções Honestas, ainda que freqüente e
ardentemente solicitados para tanto.

R epito, portanto, que nenhum


Homem venha falar comigo sobre esses
Propósitos e outros similares até que
exista pelo menos um Vislumbre de
Esperança de alguma calorosa e sincera
Tentativa de colocá-los em Prática.

M as quanto a mim, tendo me desgas-


tado por muitos Anos oferecendo
Pensamentos vãos, ociosos e Visionários,
e afinal totalmente desacreditando em

79
seu Sucesso, felizmente tropecei nesta
Proposta absolutamente nova, que pos-
sui algo de Sólido e Real, de nenhum
Custo e pouco Trabalho, plenamente em
nosso Poder, com a qual não corremos
nenhum Perigo de desagradar a
Inglaterra. Pois este tipo de Mercadoria
não suportará a Exportação, sendo a
Carne de Consistência muito tenra para
resistir a uma longa permanência no Sal,
muito embora eu possa citar um país que
devoraria com prazer a nossa Nação
inteira sem ele.

E nfim, não sou tão apegado à


minha própria Opinião a ponto de
rejeitar qualquer Proposta oferecida
por Homens sábios, que possa ser igual-
mente considerada Inocente, Barata,
Fácil e Eficaz.

81
M as antes que algo desse Tipo seja
Contraposto ao meu Projeto, e seja pro-
posto outro melhor, desejo que seu Autor
ou Autores tenham a maturidade de con-
siderar dois Pontos. Primeiro, do jeito em
que As Coisas estão, como eles con-
seguirão achar Comida e Roupa para Cem
mil Bocas e Costas inúteis. Segundo,
existindo aproximadamente Um Milhão
de Criaturas em Forma Humana neste
Reino cuja toda Subsistência os deixaria
com uma Dívida de dois Milhões de
Libras Esterlinas, somando aqueles que são
Mendigos Profissionais à Massa de
Agricultores, Camponeses e Trabalhadores
com suas Mulheres e Crianças, que são
Praticamente mendigos; desejo que esses
Políticos que não gostam da minha
Sugestão e que talvez sejam ousados o
suficiente para Retrucar, que eles falem

85
primeiro com os Pais desses Mortais, se
eles Hoje não consideram que teria sido
uma grande Felicidade ter sido vendido
como Comida com Um Ano de Idade, da
maneira como estou receitando, tendo
assim evitado tal perpétuo Cenário de
Desgraças, como o que vêm atravessando
desde então pela Opressão dos Senhores
de Terra, a Impossibilidade de Pagar o
Aluguel sem Dinheiro ou Emprego, a
Falta de Simples Sustento, sem Lar ou
Roupas para abrigá-los das Inclemências
Climáticas, e a inevitável Perspectiva de
legar tal ou ainda maior miséria à sua
Prole para sempre.

87
D eclaro na Sinceridade do meu
Coração que não tenho o menor Interesse
Pessoal em procurar promover este
Trabalho necessário, não tenho outro
Motivo senão o Bem Público do meu País,
desenvolvendo nosso Comércio, suprindo
as necessidades das Crianças e dando
algum prazer para os Ricos. Não tenho
Filhos com as quais pudesse ganhar um
Tostão; o mais jovem tem Nove anos e
minha Esposa ultrapassou a idade de
Procriar.

FIM
91

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