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BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL MANUELA D. DOMINGOS INES LOPEZ A. BRAZ DE OLIVEIRA I. ANTECEDENTES DA BIBLIOTECA Quando a Real Biblioteca Publica da Corte foi criada, por Alvaré de 29 de Fevereiro de 1796, apresentava-se como Instituicdo de cultura ao ser- vico de todos os vassalos de $.M. a Rainha D. Maria I (1734-1816), pron- ta a abrir as suas portas num curto prazo de tempo, antecipando, quanto possivel, 0 acesso ao acervo que jé guardava. Nao se tratava, porém —contrariamente as tradiges das Bibliotecas europeias suas congéne- res— de colocar a disposicio de sébios, eruditos ou curiosos os tesouros manuscritos ¢ impressos, coleccionados de modo mais ou menos osten- tatorio, de uma Biblioteca Real tornada piiblica. As bibliotecas portuguesas até meados do sécwlo xvii De facto, a tradi¢4o real dos livros «adjuntados no Paco» que remon- tava a D. Alfonso V (1432-1481) e onde estariam reunidos talvez, até os livros de uso e composicao dos primeiros monarcas da Dinastia de Avis —D. Joao I e D. Duarte— esbatera-se completamente em vicissitudes ca- tastr6ficas. A Biblioteca Real que até ao séc. XVII atingira ja proporgées conside- raveis, aurnentara para niveis magnanimos ¢ exuberantes com D. Joao V (1689-1750), que construira bibliotecas 4 medida do impacto que impri- mia a todos os seus actos, na construcéo espectacular do Absolutismo real triunfante. A capital chegavam os livros em avalanches, remetidos de todos os cantos da Europa: 0 Magnanimo distribuia-os prodigamente e, ao mes- 364 B. ANABAD, XLII (1992), NUM. 3-4 mo tempo, elevava a Biblioteca Real do Palacio da Ribeira a grandeza que 0 mesmo nao podia comportar nem exibir. Para a ordenar e esta blecer os seus catdlogos. chamou os mais doutos e experientes Académi cos. As livrarias conventuais, como a recentemente instituida dos Orato- rianos nas Necessidades ou a dos Clérigos Regulares da Divina Providén ia —verdadeiro alfobre de Académicos da Historia Portuguesa—, rece. beiam igualmente os favores directos ¢ as visitas do Rei interessadas e atentas. Também elas constituiam riqueza literaria digna da Corte, que muito honravam, qornato» dela que nao podia perder-se. Outras ainda funcionavam indissociavelmente unidas aos centros de ensino mais prestigiados do Pais ~universitarios ou nd0—, A sombra das Ordens Religiosas que os animavam, como no caso das livrarias dos co legios da Companhia de Jesus, da Ordem dos Pregadores, etc. Mas, apenas comecado o reinado de D. José, o terramoto de Novem: bre de 1755 arruinou Lisboa. Como un simbolo de todo um Reino que derrocava, para dar lugar aos novos rumos sociais, econdmicos € cultu- rais que adviriam a breve trecho. Reconstruir e refazer, desde as origens; levantar os edificios —da ca- pital ¢ do Estado— sobre a plataforma dos destrocos, poderiam sinteti zar as «palavras de ordem» do vulto emergente da catastrofe, 0 Conde de Oeiras, futuro Marqués de Pombal. O despotismo esclarecido cons truiu a «Lisboa das Luzesy na expressio feliz de J.-A. Franca —os novos edificios ¢ as novas instituigées, incluidas as de caracter cultural mais evi dente: Universidade, centros de ensino e bibliotecas. A heranga directa da Biblioteca da Real Mesa Censoria Frei Manuel do Cendculo Villas-Boas ao propor a D. José a criacao, cerca de 1771, no ambito da Real Mesa Censéria, de uma Biblioteca Pui- blica dimensionada & medida das melhores europeias, contava, positiva mente, com o vasto nticleo inicial de muitas livrarias dos colégicos da Companhia de Jesus (extinta em 1759), mandadas conduzir a Lisboa, com © regozijo de recuperar un amplo territério da meméria bibliogrdficay do Reino salvo do terramoto, que poderia e deveria, pela esclarecida orientacdo da Mesa Censoria, reverter a favor da nova orientacdo das Re- formas de estudos. Desse ponto de partida organico, deveriam continuar a florescer os novos ramos das preocupacées ¢ saberes do Século, pela sucessiva agre gacio das novidades editoriais a adquirir com verbas do «Subsidio Lite- rario» a esse fim destinadas. BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL Biblioteca Nacional de Portugal. 365 366 B. ANABAD, XLII (1992), NUM. 3-4 O favor Real Josefino tudo isso aprovou com fartas rendas proprias; tal como lhe destinou —por Decreto de 2 de Outubro de 1775—as am- plas instalagdes da ala ocidental do Terreiro do Paco em vias de cons trucdo. Pela mao do Marqués de Pombal passaram, sucessivamente, as so- lucdes dos problemas concretos quer dessa edificacio magnanima, quer da mimicia das verbas a aplicar na Biblioteca, por compras de obras no mercado libreiro ou na oportunidade tinica do grande leilio da época —o da livraria de D. José Pessanha. Nas décadas seguintes, porém, as circunstancias politicas e culturais nao foram propicias 4 continuidade de tais projectos. Il. FUNDAGAO E ESTRUCTURAGAO DA REAL BIBLIOTECA PUBLICA DA CorTE (1796-1816) A experiéncia do famoso Lente ¢ Desembargador Antonio Ribeiro dos Santos, cerca de 20 afios a frente da Biblioteca da Universidade de Coimbra, depois da reforma desta, viria a ser preciosa para enfrentar 0 ciclépico trabalho que se lhe confiou nos finais de 1794: o de preparar a criacdo ¢ abertura da Real Biblioteca Piiblica da Corte que se anunciava, com base na que tinha pertencido 4 Mesa Censéria. Tarefa relativamente facil se aquela Livraria existisse como tal. O panorama que lhe foi dado apreciar, foi bem diferente. Em ver de uma Livraria, até ha pouco aos cuidados da Real Mesa da Comissao Ge. ral do Exame € Censura dos Livros, encontrou amontoados de livros, nao clssificados, a desfazer-se em grande parte, provenientes dos Colégios dos Jesuitas 4 mistura com alguns novos, comprados nos tempos da Mesa Censoria, extinta em 1787. O seu relatorio «Conta» (Janeiro 1795) é um diagnéstico frie, quase impiedoso, de um conjunto de situagdes ¢ actuagdes que conduaira 4 rui na daquela fazenda preciosa. Mas é também um programa de emergéncia para acudir a maiores perdas —quantitativas e qualitativas. Daquela con. fusdo emergia a certeza da existéncia de algun livros raros, preciosos, tini cos mesmo; ¢ também a conviecdo de que, daquela massa informe, de todas as classes do saber, seria possivel extrair 0 catdlogo metédico ca paz de raadiografar © organismo nuclear da Biblioteca possivel, a fundar, com 0s meios imprescindiveis, O biblidgrafo eminente tinha bem desenhada a Biblioteca que queria fazer, que achava digna de tornar-se a Real Biblioteca Piiblica. O seu dis curso projecta-se na (futura) grandeza da Instituic&o, mesmo quando aten- to 4s minudéncias praticas do trabalho a realizar, sem delongas. E. con: trapde-se, desde logo, com un discurso do Poder que, aprovando, certa BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL, 367 mente, os objectivos finais, ignora ou subestima os meios para atingi-los. Vejam-se a titulo de exemplo, duas situagées esclarecedoras. No referente a contratagio do pessoal, Ribeiro dos Santos preocupa: se com © perfil profissional de quem pode empreender os tabalhos da arrumacio material ¢ da catalogacio das espécies, dos seus auxiliares na organizacdo da Biblioteca, como instituicéo dinamica, com projectos e ob- Jectivos que, alids, incansavelmente voltard a reiterar. Porém, logo a Por- taria de nomeacao dos colaboradores sugeridos sera feita com a restrigéo de que, «acabada a arrumacio», se dispensem os excedentérios, numa perspectiva redutoramente estatica. De modo perfeitamente similar, ira travarse, ao longo dos anos, a sua luta para conseguir «rendas» proprias para a gestio corrente da Bi blioteca. Acaba por lograr algumas verbas para a compra de publicacdes periddicas e certa actualizacio dos saberes, mas as despesas do dia-a-dia (desde a compra de tinta e penas, a limpeza dos livros, das «mios de pa pel» para os catélogos, as despesas com 0 transporte dos livros...) vao-se fazendo por conta de uma yerba, dada de uma ver, sem horizonte de repe- ticdo. O Alvard fundacional, de 29 de Fevereiro de 1796, na sua extensa arti- culacao doutrinal e nas suas vertentes mais pragmaticas, consagrard prin. cipios muito caros ao primeiro Bibliotecario-Mor. E na vivéncia das pri- meiras décadas da Biblioteca ficou esculpido a seu modo pessoalissimo de levé-los a pratica. Em primeiro lugar, a afirmeao e preservacéo da dignidade do Servico Publico nascente, apenas ¢ s6 subordinado ao poder real, atrvés do seu braco mais directo —o Mordomo-Mor (a €poca também Ministro e Se- cretario de Estado dos Negécios da Fazenda), que se tornava Inspector Geral do estabelecimento. Em seguida porque, nesse territério sui generis, 0 Bibliotecario-Mor era investido em fungdes (quase) directamente herdeiras do Guarda.Joias des- sa parte da Fazenda chamada Real Biblioteca da Corte, mas Publica. O mesmo € dizer que ela se erguia, logo a partida, como auténoma e intei- ramente independente daquela outra Livraria Real que, no Paldcio da Aju- da, renascia das cinzas, entre doagdes e algumas compras, com pessoal privativo e a caminho de obter Estatuto préprio. Finalmente, viria a consagrarse-se uma nota particularmente distinti- va destes Estabelecimentos: a do papel que assumia a Biblioteca Publica, como lugar privilegiado da ostentacdo erudita da realeza, nos finais do nosso Antigo Regime. Vejam-se, nesse contexto, os casos exemplares da compra magnnima do Monetério Fontenelle ou ainda da Coleccio Bo- doni, directamente agenciada pelo Inspector-Geral. Tratou-se, afinal, de realizar, paulatinamente, a «Real consideracio» 368 B. ANABAD, XLII (1992), NUM. 3-4 fundacional de promover eficazmente os progressos da Literatura Portu guesa, reunindo numa Livraria Publica os livros mais preciosos e raros, os monumentos das Artes ¢ das Ciéncias que constituissem um «riquis- simo deposito nao s6 de todos os conhecimentos humanos, mas também dos meios mais proprios para conduzir os homens (...) a virtuosa sabedo: ria que constitue a felicidade e tranquilidade publica dos Estados (...)». Ficam-nos como ideias-forca desta primeira época, que a Biblioteca Piiblica soube o que queria ser, mas viveu na tensio do que teve que ser. Ora, este ter que ser traduziu-se, essencialmente, pelo imperativo de gerir pesadas herancas, mais do que crescer a sua maneira, com as huzes do século e/ou esclarecimento dos seus mentores. A heranca da Biblioteca da Real Mesa Censéria fou uma pesada carga, s6 muito lentamente assimilada e tornada operacional: conhecida, meto- dicamente arrumada, feita acessivel e, efectivamente, utilizada por aque les que dela foram necessitando. Mas a carga veio tornar-se, enfim, gran de tesouro da Biblioteca, porque Ihe deu os meios necessarios para ser utilizével ¢ porque revelou os tesouros, restritamente considerados, que en- cerrava, quer em impressor raros —exemplares escolhidos dos primeiros séculos da tipografia—, quer em manuscritos, mais tardiamente avalia- dos na sua originalidade ¢ importancia. Neste contexto, mais brilharam as escolhidas doacdes que a emrique- ceram, logo nos primeiros anos, provenientes de livrarias famosas ou co: leccionadores impares, como foram os Clérigos Regulares da Divina Pro- vidéncia (Teatinos) e Frei Manuel do Cendculo. As amplas e sucessivas doacées deste ilustre Prelado marcaram posicéo de destaque nos acervos da Instituicdo, coroando a obra que iniciara aquando da fundacio da Bi- blioteca Publica no ambito da Real Mesa Censoria. As grandes doagies ¢ aquisigées fundacionats Entre as Bibliotecas de Lisboa, minimizadas, embora, na sua maior parte, pelo Teatino D. Thomaz Caetano de Bem, quanto as suas qualida- des intrinsecas, distinguirse-ia pela erudita € orientada selecgdo dos seus fundos, a do seu préprio Convento em parte salva por ele do terramoto. Depois, grandemente sob os seus cuidados, sobreviveria, vindo, final: mente, a transformar-se numa das mais notdveis doacées fundacionais da Real Biblioteca Publica da Corte. As marcas de origem impressas nessa Biblioteca da Casa de Nossa Sen: hora da Divina Provindéncia viriam a perdurar na memoria dos vindou: ros. Compendiavam-se nelas as mais apuradas escolhas dos Padres ilus: tes que a fundaram e enriqueceram, com especial destaque para os ini BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL 369 ciadores da Real Academia da Historia Portuguesa como D. Manuel Caeta- no de Sousa, D. Rafael Bluteau, e, depois, os seus continuadores, na Casa € na Academia, D. Anténio Caetano de Sousa, D. Tomaz Caetano de Bem. O Padre Manuel Caetano de Sousa, tendo viajado em Italia, entre os anos de 1709 ¢ 1711, trouxera experiéncias e contactos enriquecedores com as melhores Bibliotecas, Bibliotecarios e sdbios daqueles reinos. No regresso esperavam-no novas tarefas —dentro ¢ fora da Ordem— a que deixaria, para sempre, ligado o seu nome: bastem os trabalhos de fundacdo e desenvolvimento da Academia da Historia para testemunhar, a amplitude da sua acco. F, com os trabalhos, as recompensas genero- sas do Maganimo Rei, D. Joao V, que ele aplicaria grandemente nas as- colhidas ¢ abundantissimas compras de livros —para seu uso pessoal ¢ para a grande Biblioteca da Casa. Ora, todo o grande espélio colectivo dos Teatinos ¢ o particular das suas figuras cimeiras veio a reverter —em doacdes sucessivas— a favor da Real Biblioteca Publica: os impressos, os manuscritos, a colecc4o nu- mismatica de Caetano de Bem. E ainda, singularmente, por esta via indi- recta, os estudos (incompletos ou acabados) a documentac4o que perten- ceram ou se destinaram aos trabalhos da Academia Real da Historia, de- saparecida, como tal, por volta dos anos 1735-36. Pelo conjunto e riqueza destes niicleos a Biblioteca Publica enrique- ceu 0 seu acervo inicial, configurando uma meméria bibliogréfica mais vas- ta e organica que a antecede quase um século. Alguns dos «tesouros» que, hoje, a Biblioteca Nacional pode exibir, tém o timbre, directo ou indirecto, destas proveniéncias. Nao emergiram, por acaso, de grandes massas documentais ou de heteréclitas acumu. lagdes bibliogréficas. Foram fruto das apuradas pesquisas e do mais puro calor biblidfilo desses qualificados colecionadores setecentistas. Estas eram, alias, as herangas que os Bibliotecdrios-Mores mais apeteciam, subs- tituindo as poucas possibilidades Reais de sair prontamente ao.encontro do comércio de ocasido, onde circulavam as obras mais raras, € os leildes, cujos catdlogos atravessavam a curiosidade erudita da Europa, movimen- tando somas extravagantes/espectaculares. Na verdade, se era funcio prioritéria dos correspondentes, alertar para essas cocasides fugidiasy —no dizer de Ribeiro dos Santos—, era & Fazenda que pertencia, atempadamente, dar a ultima palavra. Isso acon: teceu com a aquisicao da «dia das jdias» da Biblioteca: a Biblia hebraica de Cervera, do século xi, exemplar tinico no mundo; pela antiguidade do texto ¢ pela riqueza das suas iluminuras, anunciada para venda na Haia e comunicada pelo Secretario da Embaixada, Francisco Maria de Bri- to. A rapidez da proposta de Ribeiro dos Santos, correspondeu a exce- Iencia € prontidao do Mecenato Real. 370 B. ANABAD, XLII (1992), NUM. 8-4 O ciclo fundacional encerra:se, praticamente, com Ribeiro dos San: tos. Foram, afinal, vinte anos de construgdo interna, intelectual ¢ material, da Biblioteca Piiblica incluindo a sua radicacéo em Lisboa, mesmo quando se opera a translacao da Corte para o Brasil. Ou, mais adiante, quando sob a pressdo das Invasées francesas, se encaixotaram, para esse destino, os maiores tesouros bibliograficos ¢ o Monetario... que nao chegaram a partir. Ill. A DIFICIL CONTINUIDADE (1816-34) Nomeado para suceder ao primeiro Bibliotecario-Mor, Mons. Joaquim José Ferreira Gordo —Prelado da Patriarcal, Doutor em leis pela Univer: sidade de Coimbra e sdcio da Academia das Ciéncias— dirige a Instituicao no conturbado periodo de 1816 a 1834. Com a tempestade oscilante dos alvores do liberalismo aos finais da Guerra Civil a reflectir-se na Biblio- teca, tem um mandato obviamente dificil. Correspondewlhe por em pratica os decretados alargamentos do ho: ririo da Biblioteca, com dificultades de pessoal evidentes, num quadro que viu, superiormente, aumentado ¢ restringido. Tal como competiu a Biblioteca fazer executar as sucessivas ¢ louvaveis disposicées sobre o De- posito Legal decretadas entre 1821 € 18% Recebeu em depésito o espdlio da Inquisicio de Evora, Coimbra, Lis- boa, cujo destino ficou indeterminado durante anos, com riscos mate. riais evidentes das proprias instalacdes. Processo equivalente teve lugar com a recepcao, inventariagao € depésito das Livrarias sequestradas aos Miguelistas. Estes séo alguns tracos da wadministracdo corrente» desta época, a que deve apenas acrescentar-se a gestao de dificuldade maior, de ordem politico-cultural. De facto, o transporte para o Brasil da Livraria Real largos meses de pois da ida da Corte, em diversas fases, de modo quase catastréfico —sal- dou-se com a abertura, no continente Americano, dessa Biblioteca Real tornada ptiblica, no Rio de Janeiro em 1809. No regresso a Portugal, D. Joao VI trouxe apenas os «Manuscritos da Coroa», tendo doado ao Bra- sil a Biblioteca Real. Em Lisboa, com o definitivo assentamento da Corte Portuguesa, sur- giu, obviamente, a ideia de restaurar a antiga Real Biblioteca do Palécio de Nossa Senhora de Ajuda com o maior numero de livros» que fosse possivel coligir. Procedeu-se da forma mais rapida e exequivel que podia imaginar-se, ou seja, literalmente, a custa da Real Biblioteca Publica. Pelo menos as in- tencées superiores apontaram nesse sentido. BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL 871 Mediante uma série de Avisos, concatenados, a partir de Nov’ de 1825, ordenouse que a Biblioteca remetesse para a Ajuda um exemplar das obras duplicadas; deslocou-se, para aquele servico, um oficial da Bi- blioteca ¢, mais adiante, argumenta-se que, achando-se a Real Biblioteca Publica «assaz enriquecida de muitas obras, ndo precisava de applicar para a compra de livros toda a consignacdo que recebia do Real Erario, a qual em taes circunstancias, podia dividir-se em partes iguaes, destinan. do-se uma delas para o augmento da Real Bibliotheca do Palacio de Nt Sr da Ajuda». © modo como a Biblioteca Publica reagiu, poder presumir-se, pelo duro Aviso que lhe € dirigido, sete meses depois, em Setembro de 1826. Pela mao de Francisco M. Trigoso de Aragio Morato pedem-se expli cacbes «sobre a falta de exacciio que se encontrou entre os livros remie- tidos ¢ as relagées respectivasy: relacionando livros nao enviados e co- metendo «o outro notavel descuido de remeter os livros duplicados, e tri- plicados (...) € outros muito volumozos, que nao vem relacionados». Ordens terminantes exigem novas relacdes € outros livros a remeter, apesar de constar, na Real Biblioteca Publica, o envio de cerca de 30 caixotes! Perante esta avalanche de cortes nos recursos ¢ no patriménio, com alguma naturalidade, pode entrever-se a confusio, para ganhar tempo, pelo menos. Entretanto, das magras verbas, o biblifilo Bibliotecério-Mor tera encaminhado boa parte para a preservacio e melhoramento das €s- pécies, encomendando abundantes encadernacées aos artistas portugue- ses € aos franceses mais famosos da época —A. N. Pozier, M. Robin, C. Delange. Significativamente, na tradicao do seu antecessor, Ferreira Gordo pen- sou tornar-se Doador da Instituicdo, legando-lhe todos os manuscritos proprios. Fez lavrar 0 seu padrao no Livro dos Doadores, a 18 de Out? de 1832: «Faco doacio a Biblioteca Publica da Corte de todos os Manuscri- tos que tenho mandado passar para ella, ¢ existirem, quando eu fallecer, nos armarios do gabinete aonde se acha 0 Cofre. Mas no caso de ser remo- vido do lugar de Bibliothecario Mér, que actualmente occupo, antes do meu fallecimento, por se julgar que o nao sirvo bem, ou por qualquer ou- tro motivo, ndo valerd esta doacdo, e poderei reclamar os ditos Manuscrip- tos, como se tal doac4o nao houvesse» (...). Previséo ou pressentimento? A vitéria do liberalismo trouxe «as fa- tais revindictas politicas» (Ratil Proenca) ¢ um decreto de 24 Fev’ 1884, em nome da D. Maria Il, exonera-o «por nao convir ao servico da mes. ma Augusta Senhora e da Nacdo que ele continue a exercé-lon. Os manuscritos —reclamados e restituidos meses depois—depositou- os na Academia das Ciéncias. 372 B, ANABAD, XLII (1992), NUM. 3-4 IV. HISTORIAL DO ESPOLIO DOS CONVENTOS AOS FUNDOS DA BN (1834-65) Coincidindo com 0 triunfo liberal e consequéncia dele, inicia-se um longo e decisivo periodo da histéria da Biblioteca. Comecara a chamar-se Nacional pela nova lei de Dezembro de 1836 € respectivo Regulamento, redigido, a modo de Balanco das primeiras déca- das de funcionamento, pelo Bibliotecario-Mor Vasco Pinto Balsemao. Mu- dara também de instalagdes para, emblematicamente, se redicar num dos muitos edificios «devolutos» por forca da lei de extincao das Ordens Re ligiosas (masculinas) de Maio de 1834 —num dos mais vastos conventos de Lisboa, ele préprio, autora, possuidor de importante biblioteca, en tretanto arrolada nos bens nacionai: © Convento de S. Francisco passara, assim, em 1837, a ser partilhado pela recém-criada Academia de Belas Artes, pela Biblioteca Nacional pelo organismo constituido, por forca das circunstancias, para reunir ¢ administrar as Livrarias e Quadros dos conventos extintos. Para comple. tar a «ocupacdo» do imével também a Administracdo do Distrito conti: nuaria, provisoriamente, nas dependéncias onde, alias, ja se instalara, Quanto a Biblioteca Nacional, enfrentou-se, ao longo das trés déca- das seguintes, talvez com a maior carga da sua historia. De facto, entre 1834 e 1864-5, seis Directores em nao menos que oito mandatos. —mar- cados pelo vai-e-vem das confiancas politicas, por vezes efémeras— terao que receber, gerir ¢ assimilar grandes guantidades de livros provenientes das Livrarias Conventuais extintas. Essa extensa ¢ complicada vertente do processo mais amplo de desa- mortizacio dos bens das Ordens Religiosas, cxtintas pelo decreto de 30 de Maio de 1834, aguarda o seu historiador. E que a Portaria de 4 de Ju nho remeteu para artigos especificos a inventariacdo ¢ arrendacao das li vrarias € dos objectos preciosos e, a regulamentacio posterior, minuciosa ¢ complexa por natureza, veio a revelar-se de aplicacao ainda mais dificil ¢ lenta, no meio de evidentes e justificadas suspeitas de descaminhos dos mais diversos géneros. Por agora, tentaremos anotar apenas alguns dos aspectos mais rele. vantes, na éptica da Biblioteca Nacional. Correspondeu a efémera direcc4o de Joaquim Larcher —entre Feve reiro e Abril de 34~ 0 mandato de recolher na Biblioteca a Livraria do Mosteiro Cisterciense de Alcobaca, uma das mais justamente famosas do pais, pelo volume das suas existéncias e pela antiguidade, raridade e pre- ciosidade dos seus fundos impressos e manuscritos— fruto evidente da secular actividade dos seus tradutores ¢ adaptadores e dos copistas do res- pectivo Seriptorium. BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL 378 Enquanto nicleo conventual quase completo, cobrindo os séculos xt @ XVIILXIX, constitui um dos grandes Tesouros da Biblioteca Nacional. Logo nos finais de Marco de 1834 vieram de Alcobaga —remetidos via Peniche, € apesar das depredaces sofridas— algumas dezenas de «caixotes de livros e manuscritos». Note-se, entretanto, que nesse mesmo més fora pedido, superiormen- te, 4 Junta do Exame do Estado Actual e Melhoramento Temporal das Ordens Regulares» uma relacdo das Casas Religiosas suprimidas cujas liv- arias devessem ser postas & disposicao da Biblioteca Publica, para esta designar 0 edificio onde recebélas. E, simultaneamente, a chegada daque- la remessa fora pedida a relacdo dos cédices e 0 Catdlogo da Livraria do Mosteiro de Alcobaga. A sucesstio dos acontecimentos seguir, de perto, a efervescéncia le- gislativa —quando se Ihe nao anticipa, como sugere este caso paradigms tico. O depésito dos Livros, Quadros, etc. € decididamente instalado no convento de S. Francisco, sendo nomeado, para administré-lo, 0 Consel- heiro Anténio Nunes de Carvalho. E a sua jurisdicao, inicialmente s6 re- ferente aos conventos da Extremadura, vem a ser alargada as demais Pro- vincias do Reino. Porém, a notéria complexidade da operacdo de recol- ha das Porém, a notéria complexidade da operacio de recolha das pre- ciosidades, quadros ¢ livros, junta-se a da sua distribuicao por instituicdes de ensino e pelas recém-criadas bibliotecas de todo o ambito e género. Ao principio legislativo basico, extremamente simples, de «dotar a Bi- blioteca Publica dos livros que no possuisse» e distribuir pelas outras ins- Uituicdes «os duplicados de que no ncessitassen, nao parece terem-se jun- tado os meios de execugdo adequados, havida conta das dezenas de mil- har de livros ¢ objectos em questo e da falta de pessoal do Depésito. Daqui, possivelmente, o terem surgido solucées, legalmente decretadas, mas na pratica intermédias, de compromisso-miituo, entre o Depésito e os Administradores Distritais. Primeiro, foram as disposicées relativas a formagao de inventarios das livrarias de cada jurisdicao (para deles «se escolherem» os livros ¢ pinturas e racolher); depois, a formagio dos De- Pdsitos distritais e, pouco adiante, com a escolha dos edificios mais ade- quados, a prevista instalacio das Bibliotecas Distritais «criadas», sempre com 0s livros duplicados. Nao € dificil fazer o balanco de tantas medidas desta natureza. No mesmo clima, vem a ser instalada a «Comissao Administrativa do Depésito das Livrarias dos Extintos Conventos», sob a Presidéncia do Conde da Taipa, trés anos depois (em 1837), incluindo entre os seus mem- bros o director anterior e, também, o Bibliotecrio-Mor da Biblioteca Na- cional, Vasco Pinto Balsemao. aaa B. ANABAD, XLII (1992), NUM. 3-4 Dos diferentes critérios organizativos ¢ estratégicos da Comissio, dardo fé epidédios sem conta, desde a demisso de A. Nunes de Carva Iho, & sua ida para o Arquivo da Torre do Tombo, a sua insisténcia em derivar para ele certas preciosidades, como a Biblia do Mosteiro dos Je- rénimos, que tinha «ido parar», com toda a Biblioteca, a Casa Pia, etc. Entretanto, para o Depésito, chamado geral —no dizer de J. F. Castil- ho— s6 terdo ido as Livrarias ¢ 0s Quadros de alguns dos Conventos da Extremadura; «estravios ¢ desbaratesy também nio terio faltado, em di versas instancias. E, o resultado final, salda-se com a letra da lei de Nov” de 1841, que extingue a Comissao, atribui as suas fungdes ao Biblioteca- rio-Mor e confia a administracdo do Depésito a Biblioteca Nacional, a par: tir de 81 de Dezembro, sem verbas suplementares, nem empregados pré- prio: O balango da situacdo espelhase bem no Inventério final, quase pa tético, «desenhado» por mao anénima, que mais nao pode que arrolar 08 livros por linguas e formates e, distribuir, quantitativamente, os «Li- vros Liturgicos», «grandes de coro» e as «brochuras € folhetos de diferen- tes formatosy, truncados € quase todos em mau estado. No total: cerca de 176.700 volumes, além dos «outros» 6.800; ou seja mais de 183 mil espé- cies! Vasco Pinto Balsemao averba, no final da sua geréncia (1834-43), um incremento de cerca de 22.000 volumes impressos. Correspondewlhe re- ceber, da primeira vez, $ mil volumes do Depésito, ainda na época de Nu- nes de Carvalho; coube-lhe receber parte do espélio de Alcobaca. Mas pode, também, fazer algumas compras importantes de livros recentes e, ainda, outras qualificadas, que tém a honra de incluirse entre os Tesou- ros de qualquer Biblioteca do mundo. Foi 0 caso, da assinatura, em fas ciculos, da que viria a ser considerada a obra-prima da litografia Oito- centista: a monumental edicéo The Birds of America devida a John Audu bon, impressa em Londres nesses anos (1827-38). No terreno dos manuscritos portugueses, entre outros de valis, con- segue 0 Cancioneiro de Luiz Franco Corréa, «companheiro ¢ amigo de Cambes», comecado na India pelos anos de 1557, de origem ainda obscu- ra. A nova regulamentacao da Biblioteca, que se Ihe deve, nao veio alte rar profundamente a estruturacdo fundacional de Ribeiro dos Santos, compendiada no Alvard de 1796 € no Estatuto do ponto que fez aprovar, logo a seguir, pelo Inspector Geral da Biblioteca, D. Tomaz de Lima Te. lies da Silva, Marqués de Ponte de Lima. Os documentos citados comple. taram-se, na pratica, pelas «Regras interinasy que adoptou, esclarecendo € plasmando 0 seu espirito organizativo, rigoroso mas humanizado, no re: ferente ao pessoal da Instituicao, Balsemao, cumprindo, embora, a or BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL 375 dem de preparar o Regimento e a nova lei, apoia-se, sistematicamente, na experiéncia daquelas primeiras décadas do funcionamento da Biblioteca, utilizando como fontes explicitas essas regras transitérias, ditadas pelo muito saber e exigéncia do primeiro Bibliotecario-Mor. De facto, Ribeiro dos Santos terminara, na Real Biblioteca Publica da Corte, o inmenso programa de institucionalizacéo formal e adequacio pragmatica que iniciara na Biblioteca da Universidade de Coimbra, a par- tir de 1777, quando tivera também a seu cargo abrir ao publico —e por verdadeiramente em funcionamento— aquela instituicdo nuclear da Re- forma de Estudos. Com marca indelével, o douto Lente ¢ Desembargador gizara a orga- nizacao da Real Biblioteca Publica, «distribuindo as salas» do edificio de que dispunha, no Terreiro do Paco, pelos miiltiplos «saberes» em que s¢ desdobrava 0 seu espirito humanista, atento as novas emergéncias de ra- mos € sub-ramos disciplinares, muito para além das «Facultadesy —base, tecendo as arvores do conhecimento, insaciavel e sem fronteiras, que animava. Por isso, ainda nos anos 20 deste século, outro insigne Bibliotecério —Ratil Proenga— anotando, mais uma vez, a falta de adequacio das ins- talagées de 8. Francisco, realcava a dificuldade de geracdes em adaptéla as crescentes necessidades de modernizacio bibliografica, com o sugesti- vo apontamento de que os «saberes» ainda se identificavam com as «sa- las», como se a Biblioteca nao tivesse saido do Terreiro do Pago... Nos seus dois mandatos —interrompidos por uma meteérica Ppassa- gem de A. Oliveira Marreca— José Feliciano de Castilho, entre 1843 ¢ 47, teve oportunidade de apontar as grandes linhas de acco Para tornar operacional a Biblioteca que herdou submersa pela administracdo forcada do Depésito dos Conventos e os trabalhos conexos, sem quaisquer meios humanos e financeiros especificos. Homem de projectos e de accdo, sem duvida. Acabava de inventa- iar, em notavel Relatério, os problemas que se levantavam ao Arquivo da Torre do Tombo pelas funcées de direccdo que Ihe eram cometidas ¢, logo a seguir, no espaco de dois meses, € deslocado para a Biblioteca Nacional onde o aguardavam idénticas tarefas. O grande impulso para a organizacao daquele Depésito ficousethe a dever, executando, em curtissimo prazo de tempo, o minimo indispensé- vel para salvar os quadros ali guardados, em vias de ruina total. Outro tanto aconteceu com os livros depositados ¢ mal organizados. Transita- ram para a Biblioteca alguns exemplares raros que esta nao possuia ¢ completaram-se obras incompletas; distribuiram-se pelas instituicgées os livros que pediam, etc. O seu extenso Relatério, logo em 1844, com os seus trés importantes 376 B. ANABAD, XLII (1992), NUM. 3-4 volumes de Apéndices mostram bem, nao s6 as dificuldades que se apre- sentavam, como 0s passos a dar para resolvé-las: dos pequenos arranjos materiais, até ao plano que promete apresentar, a breve trecho, para ins talar a Biblioteca em edificio condigno e amplo (era a Igreja de S. Fran- cisco que se lhe afigurava aproveitavel!) Ensaia a reformulacdo da catalogac’o, comencando pelos catalogos que pretende tornar mais operacionais ¢ facilmente actualizaveis; sobre, tudo, empenha saudavel ¢ competentemente nas suas tarefas imensas, 0 pessoal mais qualificado. Desses trabalhos conjuntos saem obras pionei ras na Bibliografia Portuguesa da época —o primeiro Catélogo de obras do éc. XV, pela mao do Conservador Francisco Martins de Andrade: os Ca- tdlogos das obras raras, magistrais ou ricas_e 0 Catdlogo das Biblias. Forma a Sala das Biblias, onde reune as melhores edigées ja existentes na Biblio. teca, enriquecidas com as que pode ir apurando do Depésito, «onde to davia cheragam mui poucas das raras ou de conhecido valor, em compa racio com as que se sabia possuirem alguns dos conventos, cujas livra rias vieram para este depésito» -afirma-com a conyiccao de que, se isso tivesse sucedido, poderia a Biblioteca posssuir uma das melhores co leccdes da Europa. Apesar disso, reune na referida sala cerca de mil edicgdes em 1.496 volumes, uma coleccdo «preciosa em edicdes antigas, raras € monumentais». Outro Apéndice do Relatério sera dedicado as «obras raras, magistrais ou ricas» destacando-se, em seccdes préprias,-a preciosa coleccio Bodo: niana, tesouro fundacional da Biblioteca, comprado directamente a Fran- cisco Vieira, que coleccionara em Italia a maior parte das edicdes de G. B. Bodoni ¢ forma oferecida pelo Principe Regente (1804); e a Coleccdo Eleviriana, possivelmente constituida nesta época, reunindo muitas das magnificas edicdes da «dinastian dos impressores Elzevier que, hoje ain. da, constitui, no seu conjunto, outra preciosidade da Casa. A mostra destes fundos bibliograficos, corn o projecto de, a curto pra 10, comecar a publicar os Catdlogos gerais da Biblioteca —ideia que, apon- tada desde A. Ribeiro dos Santos, nao veio a concretizar-se— teve, como corolario, outro tipo de divulgacio. Tratava'se de abrir Cursos Puiblicos (€ gratuitos) de Numismatica, com o duplo fim de dar a conhecer esse sector importante ¢ rico da Biblioteca, ¢ de vir a preparar as pessoas que quisessem dedicar-se a trabalhar em seccées afins de estabelecimentos do género. Assim, foi encarregado das respectivas aulas tedricas e praticas (com base nos fundos da Instituicdo) o Conservador de Manuscritos e An- tiguidades, F. Martins de Andrade. Anos mais tarde, em 1855, veio a ser criada a cadeira de Numismatica, com objectivos semelhantes. Noutro campo ainda, J. F. Castilho empreendeu uma persistente acco que teve resultados imediatos, quantitativamente assinalaveis: 0 re- BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL. 377 forco da accio no controlo do Depésito Legal, agenciando os meios ne- cessdrios para exigi-lo a todos os impressores, com a ajuda das autorida- des competentes. O mimero de obras obtidas quadriplicou num sé ano. Coube ao Director da Biblioteca José Canaes de Figueiredo Castelo Branco, cuja actividade na Casa costuma ser pouco assinalada, escrever uns Estudos biographicos, ou noticias das pessoas retratadas no quadros hist6ricos pertenecentes & Biblioteca Nacional (1854) onde mostra ter-se ocupado desse acervo, também ele pesado depdsito que continuava, a pesar das trans- ferencias feitas para a Academia de Belas Artes. No entanto, a Biblioteca desenvolveu uma vertente de crescimento particularmente importante ¢ inesperada, dado o perfodo dificil que atra- vessava, de aumento quantitativo indefinido pela existéncia «paralela» do Depésito, ainda sem assimilar: referimo-nos as compras importantes de coleccées ¢ bibliotecas particulares. Tiveram grande relevo as aquisicées da coleccio de Cipriano Ribeiro Freire ¢ da magnifica livraria de D. Francisco de Melo Manuel (Cabrin- ha), considerado 0 maior colecionador da época, que foi adquirida aos seus herdeiros, em 1852, por 25 mil cruzados. As duas importantes coleccées trouxeram & Biblioteca cerca de 15 mil volumes impressos, além de centenas de manuscritos e medalhas. Mas, qualitativamente impressionante, foi a Livraria Cabrinha, cujas co- lecgdes de Incundbulos ¢ de livros portugueses do século xvi —para apoiar-nos nos recentes Catdlogos impressos desses dois micleos da Bi- blioteca que registam muitas marcas de posee dos exemplares— conse- guem igualar ou ultrapassar o ntimero dos volumes provenientes dos Co- légios dos Jesuitas ou dos Conventos extintos (através da geografia do pais, contrariando, em boa parte, a ideia de que s6 teriam recolhido ao Depésito as obras dos comventos da Extremadura). De qualquer modo —por mais grosseiras que sejam as estimativas—, desde o «Balanco» de V. Pinto Balsemao (em 1848) até este final de man- dato de J. Canaes de Figueiredo Castelo Branco (1857), os fundos impres- sos da Biblioteca duplicaram largamente, atingindo mais de 147 mil vo- lumes, nao incluindo os do depésito (que eram quase outros tantos!). Mas € dificil determinar exactamente quando e porqué se deu tal crescimento. Corresponder a J. S. Mendes Leal —pela segunda vez na Direccio da Biblioteca— a chonra» de liquidar o Depdsito, com a efectiva colabo- racéo dos conservadores que serviam, rotativamente, de Bibliotecdrios- Mores Interinos, Anténio da Silva Tulio e Francisco Martins de Andrade. Assim, o Conselho da Biblioteca nomeia uma comissio, que trabalha de Agosto 1862 a Junho 1864, para finalmente inventariar, catalogar ¢ apreciar tudo quanto ainda existia. Consagrados bibliogréfos, redactores de intimeros catdlogos de leildo, Francisco Cassassa € Luiz Carlos Rebello 378 B, ANABAD, XLII (1992), NUM. 3-4 Trindade, trabalhando exaustivamente aqueles fundos, apresentam —ao cabo de 18 meses efectivos de trabalho em horas extraordindrias— um eloquente «Relatérion do que fizeram, mas também do estado lamenta:- vel em que tinham encontrado tio interminavel Depésito, apés tantos anos de precdrios trabalhos Milhares de livros mal catalogados —segundo critérios divergentes—, tornados ora «truncados», ora de autores diversos as obras completas do mesmo autor, disperso por diversos apelidos; em estado de grande dete. rioracdo, volumes sucessivamente aniquilados pela humidade e pela traca, constantemente solicitados para toda a sorte de bibliotecas € instituicées. Todo um patriménio wirculantey, finalmente reduzido ao aproveita- vel, a diferentes niveis, teve os destinos pertinentes. O Depédsito veio a saldar'se por um notavel crescimento a prazo da mesma Biblioteca que, du- rante 20 anos, 0 suportara como pesado fardo. E, isto, por duas vias. Em primeiro lugar, por virtude prépria, pela quantidade ¢ qualidade dos fundos que forneceu a primeira Biblioteca do pais; pelos Tesouros in dividuais que depurou e pela «meméria bibliograficay da Nacdo, que em boa parte reconstituiu. Em segundo lugar, por forca dos /ucros gerados com as vendas, em gran- des lotes, em leilées selectivos —de livros espanhdis e, especialmente, la- tinos— que permitiram pagar to ida a gigantesca operacdo global da ca talogacdo ¢ do leiléo. Lucros que, eficazmente, foram em parte investi dos na compra de livros novos de que a instituicao tanto carecia Finalmente, foi possivel ainda arrumar a casa, vendendo-se «a peso» 98 remanescentes «volumes completamente inutilizados pela traca e, pela agoa», além de capas de pergaminho, num total de 25.000, nesta fase (1862-4), Assim, dos 184.250 volumes contabilizados quando a Comissio ini- ciow 08 seus trabalhos (incluindo 22 mil volumes de «obras incompletas»), foram distribuidos por diversas entidades mais de 2 mil. O resultado fi- nal saldava-se em mais de 77 mil que ficavam no Depésito, mas devida: mente catalogados, por linguas € formatos; obras completas ¢ incomple: tas; ¢, ainda, as 19 mil obras latinas incluidas no Catalogo impresso do leilo que teria lugar. Anunciado internacionalmente, no momento oportuno em que este tipo de obras tinha especial procura — segundo J. $. Mendes Leal afir: mara no seu Relatério (1858-9)—foi o grande lote do Catélogo arremata- do, em 1865, na quase totalidade por Rey & Belhate, sociedade de livrei- ros de origem francesa, com antigas raizes em Portugal e, entio, a ope: rar em Paris, com quem a Biblioteca mantinha relacdes comerciais havia muito tempo. © esquema imparivel prosseguira depois do Leildo: obras vendidas BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL 379 em lotes, mais de 40 mil; a peso quase 17 mil; distribuidas cerca de 4 mil, trocadas por outras que a Biblioteca nao tinha 2 mil. Pese, embora, as oscilacées de critério de inventariagao e catalogacio registradas ao longo dos anos, podemos, grosso modo, dizer que, sas 183 mil obras recebidas em 1841, & Biblioteca restavam, em depésito, em 1865, apenas 13 mil! Dificil avaliar «os ganhos», percepcionar «as perdas», sobretudo quan- do estas se devem aos habituais factores «corrosivosy do patriménio. Fi- que, porém, o saldo quantitativo que as elementares estatisticas foram paulatinamente registando, nos sucessivos mandatos das direccGes da Bi- blioteca. ‘A mesma equipa de Conservadores, que efectivamente a dirigiram du rante o longo mandato de Mendes Leal —ocupado em multiplas fungdes oficiais— corresponderam as tentativas de reorganizacées da Casa em 1868 e em 1884. Pela lei de 1863, alargou-se o hordrio de funcionamento, reduziu-se 0 quadro, criou-se o lugar de secretério; manteve-se o conselho literdrio € administrativo, alternando-se, anualmente, os conservadores na substi- tuicdo do Bibliotecario-Mor. Organicamente dividiu-se a Biblioteca em trés Treparticdes —Ciéncias ¢ Artes, Historia e Literatura, Manuscritos e Numismatica. Por outro lado, preconizava-se uma nova classificagio bibliografica e a incorporacao, nas secgdes citadas, de todas as obras do Depésito que a Biblioteca nao ti- vesse. Lembremos que, uma Portaria de 1861, ordenara a distribuicdo dos duplicados pelas Bibliotecas do Reino, que deveriam pedi-los, por lis- ta; € permitia a Biblioteca trocar os restantes por outros que nao possuis- se, Tudo isso foi feito com os resultados finais que citémos. No entanto, a nova classificacdo bibliogrdfica poucas alteracées intro- duziu, criando-se apenas as seccdes de Belas Artes e Numismatica. Mas, anova Reforma, em 84, rep6s a divisio em duas seccOes e reduziu os qua- dros do pessoal. V. A VIRAGEM DOS FINAIS DO SEC. XIX. INVENTARIOS E EXPOCICOES (1880-90) Sera Antonio José Enes, nomeado director por morte de Mendes Leal, em Set” de 1886, a trazer modificacées substanciais 4 organizacio da Bi- blioteca, assistindo-se, sob seu influxo, a criagdo da Inspeccao das Biblio- tecas ¢ Arquivos Publicos, logo no ano seguinte. A integracio da Biblio- teca Nacional nessa rede de servicos trouxe novas perspectivas a um tra- balho de fundo, de organizacdo e articulacao das diversas instituicSes; pre- 380 B. ANABAD, XLII (1992), NUM. 3-4 conizava-se a constituigéo de um catdlogo colectivo, segundo regras de ca- talogacao uniformemente preceituadas, obrigava-se a constituicao de di versos tipos de catdlogos; organizava'se 0 empréstimo entre as bibliote cas € arquivos, ete. A Inspecdo —integrada por um inspector da Biblioteca Nacional e ou- tro da Torre do Tombo— competiria organizar, imprimir c distribuir 0 Ca- tdlogo Colectivo das Bibliotecas Portuguesas; instaurava-se formacdo técnica dos bibliotecarios e arquivistas. Desaparecia a designacao de Bibliotecario. Mor, passando os Conservadores a aservir como Directores, em comissio. Assim, desta Direccéo de 1 ano saira o quadro da nova organica bi bliotecas-arquivos, passando Anténio Enes a Inspector Geral; sendo cha mados Rebello Trindade para Inspector das Bibliotecas ¢ Gabrial Pereira para Director da Biblioteca. Apesar de algumas variacées nas denominacdes —tendo voltado a existir 0 cargo de Bibliotecério-Mor o de Inspector Geral— Gabriel Pe reira manter-se-4 na Direccéo da Biblioteca entre 1887 e 1902. Notavel na pesquisa histérica, erudito € trabalhador infatigavel, «a sua meméria era um guia perfeito das riquezas bibliograficasy da Casa, dir4 Ratil Proenca. A arrumacdo da Biblioteca —divisdo das seccdes em séries de forma tos € numeracdo progressiva—, iniciada na época de Anténio Enes, vird a dar os seus resultados, conseguindo iniciar-se a publicaio —paulatina, embora— dos Inventdrias gerais das Seccdes, num esforco conjunto dos mais qualificados e «produtivos» conservadores da Biblioteca. Paralelamente, correrao os trabalhos, breves mas eruditos de Gabriel Pereira € outros, dando a conhecer o melhor e mais original dos fundos da Biblioteca: veem a imprensa os estudos sobre os Alcobacenses, os cé digos Iuminados, os retratos, e telas, as medalhas. A perspectiva das Aulas piblicas alarga-se, na Numismitica, com J. Leite de Vasconcelos, ja escritor polifacético de cantigualhasy etnografi cas, linguistica, numismatica...; com o infatigével José Anténio Moniz, transmitindo nas Aulas de Bibliologia muito do saber que deixou plas. mado nos intimeros Catdlogas que a Biblioteca Ihe deve; o de manuscritos {antigo Fundo Geral}; 0 da coleccdo Pombalina, recém-adquirida; o indi- ce da Camoneana, a ampliacao ¢ remodelacéo do Catélogo de Reserva dos; os Inventarios de Literatura, Historia e Geografia. Por outro lado, a Biblioteca abre caminho, ao encontro com o estu: dioso ¢ 0 leitor, na dinamica das primeiras Exposicdes Bibliograficas que promove, em tomo de figuras da cultura Portuguesa ¢ universal ou de temas marcantes da Historiografia. Assim se desenrolam as Exposices Antoniana (1895) ¢ do Pe. Antonio Vieira; a Cervantina, a Petrarquiana; as de Oceanografia ¢ da Guerra Peninsular; a de Garret, etc. BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL 381 Desta actividade diversificada vao emergir, ainda, em diferentes ins- tancias, produtos préprios e lugares de encontro de trabalhos e investi- gacées bibliograficas e biblioteconémicas: o «Boletim das Bibliotecas e Ar- chivos Nacionaes» (que viré a derivar, mais tarde, nos «Anais das Biblio- tecas € Arquivos»), orgio da Inspeccio e, a nivel associativo, o «Boletim da Sociedade de Bibliofilos Barbosa Machado», agregando figuras cimei- ras da bibliofilia e bibliografia, ligadas directamente a Biblioteca como D. José S. Pessanha, Martinho da Fonseca, Julio de Castilho, Xavier da Cunha. Este, presente nessas areas de saber, impulsionador de Exposicdes, es- tudiosos atento de livreiros e impressores, escritor polifacético e biblid- filo erudito, teve uma dificil actuacio como Director. © advento da Republica liquidara —de modo inglério e (talvez) injus- to— o rasto pessimista dos seus minuciosos relatérios trimestrais, da sua limitada capacidade de agir e dirigir. VI. O ADVENTO DA REPUBLICA E A «CRISE DE IDENTIDADE» DA BN (1910-17) O novo director, nomeado logo em 1911, sera Faustino da Fonseca que, no seu radicalismo republicano exacerbado, veio a aplicar mais do que 4 letra da nova reforma da Biblioteca. Transforma a sua reserva humanista, essencialmente erudita, em in- discriminadamente acessivel, «popularizando-a» nos seus objectivos edu- cacionais, a maneira de «Universidade Popular», local de certo estudo mas, sobretudo, leitura de lazer —jornais incluidos, de forma abundan- te—, chegando ao ponto de instalar uma Sala de «leitura infantily (na an- tiga Sala da Rainhal)... A «confusdo» entre Biblioteca Nacional e Biblioteca Publica —mais ainda, Biblioteca Popular— nao se estabelecia por ignorancia tedrica, mas por efectiva mudanca de objectivos, instrumentalizando, revolucionaria- mente, uma instituicéo despeitadamente vista como produto da Monar- quia destronada. Os resultados obtidos no plano da leitura —a multiplicacao de leito- res logo nos primeiros meses desta «gestion— esgrimen-se como a vit6- tia do novo espirito que chegara ao operdrio, «ao povon, que ja nao se atemoriza com a vetusta Instituicéo mas, confiantemente a frequenta, Para ler... sobretudo jornais, folhetos, romances. Cumpria-se, enfim, 0 programa «educativo» que a lei enunciava e o Director-reformador apli cava, com amplissimos poderes e particulares interpretac6es. To coerente como este objectivo, foi o das Exposicdes biblio.icono- gréficas, pedagogicamente montadas para sensibilizar ensinar 20 povo 382 B, ANABAD, XLII (1992), NUM. $-4 © significado das Constituicées, comencando por 1822, nas vésperas de novas eleicées; ou o de fazer a chistoriaimediatay do movimento repu blicano triunfante, exibindo bibliografia e muitas recordacées. De facto, tratavase de todo um programa internamente coerente, mas desajustado para o Orgao em questdo. Dai que, a par dos aplausos da imprensa de feicdo, surgissem as vores de alarme de quem visse 0 pa- triménio cultural a degradar-se, em riscos de perder-se, em aras desse pro jecto apressado de «alfabetizacaon. Destaquese a lucidez € 0 desassombro de Pedro de Azevedo que, como poucos, dentro da problemitica, escalpeliza a lei ¢ a sua aplicacao. Nao poupa ninguém nas suas criticas: nem os «presumiveis autores» da quelas teorizaces incrediveis que amalgamaram organismos quase im- compativeis; nem os funcionarios médios autopromovidos a Inspectores: nem as sobreposicées de poderes entre as Inspeccdes € a Direccio. Passados os fervores iniciais, Faustino da Fonseca, também dedicado a outros negécios politicos, acaba por desinteressar-se bastante da Biblio teca, E, depois do movimento de Dezembro de 1917, é demitido ¢ des tacado para as Bibliotecas Populares ¢ Méveis. Apés esta «crise de identidade» (1910-17), a Biblioteca recuperou, ten- tando desenhar fisionomia propria, redifinir-se As reformas da época de Fidelino de Figueiredo —no seu primeiro mandato (1918-19)— visaram conseguir autonomia administrativa para a instituicdo; aprovar novo regulamento interno; reorganizar as bibliotecas eruditas € arquivos do Estado. Tentou, em resumo, apontar 0 objectivo essencial de salvaguardar a bibliografia portuguesa em curso de publicagdo, tal como a reserva his térico-cultural, posstvel do Pais, composta e salvaguardada através das vi cissitudes da Histéria nacional. Mais uma vez, com a queda do Regime —o Sidonismo~ a Biblioteca mudou de timoneiro. Mas, no essencial, aquelas propostas, rimo a uma modemidade biblioteconémica, mais acertada pelo que se fazia no es- trangeiro, seriam ampliadas a levadas a cabo pela Direccdo seguinte. Mas, depois da proclamagio da Republica viera (lentamente) nova he- ranga, algo desmedida, pelo menos inesperada, para o patriménio da Bi. blioteca. Em vex de compras esporddicas sao as Livrarias de Congregacées ¢ Conventuais, re-feiths e, de novo, extintas que virio desembocar na Bi: blioteca Nacional, mesmo com interposta passagem pelos carimbos do “Arquivo das Congregacées», para onde tinham sido deslocados alguns funciondrios da Biblioteca. Trabalharao no servico da Inspeccao de Bi. bliotecas Eruditas ¢ Arquivos —dirigida por Juilio Dantas— que ser a ins tituicdo encarregada de verificar in loco aqueles repositérios bibliografi- cos ¢ dar-lhes cabimento ¢ destino. BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL 383 Dois grandes espélios virdo dos Colégios de Campolide e do Barro da Companhia de Jesus. Outro ser4 o do Convento de St.° Anténio, da Or- dem dos Frades Menores, de Varatojo (Torres Novas), de onde virdo, além dos livros, estantes, mesas € objectos de valor. Todo este conjunto constituiu um micleo separado, a «Sala Varatojon, mantida por Fidelino de Figueiredo com aquele mobilidrio, o retrato de Frei Antonio das Chan- gas, uma cruz com relicdrios incrustados, etc. Com a mudanga da Biblio- teca para as actuais instalacées perdeu-se 0 conjunto das estantes onde reluziram, por décadas, os letreiros indicando as «faculdades» dos livros © uma grande mesa, que fora também da Biblioteca. Finalmente, de S. Vicente de Fora, onde estava instalado 0 Patriarca- do, além de importantes manuscritos ¢ impressos, vieram os quantiosos € valiosos materiais do Arquivo da Camara Eclesidstica de Lisboa e parte dos do Porto e Castelo Branco. Da responsabilidade da mesma Inspecclo, serao as aquisices —por compra ou doacio— de coleccées importantes de livros e manuscritos pertencentes a diversas personalidades da cultura portuguesa, entre os quais se destacam as de Ribeiro Saraiva, diplomata miguelista de grande importancia para a historia politica de primeira metade do século XIX; as de Brito Aranha, Fialho de Almeida, Costa Lobo... VIL MODERNIDADE E INTERVENCAO. DIMENSIONAMENTO E PROJECGAO CULTURAL (1919-27) Jaime Cortes4o, com a eficaz e competente colaboracéo de Rati Proenca (Conservador ha alguns anos) que viria a ser nomeado Chefe de Divisio dos Servicos Técnicos, protagonizariam, entre 1919 e 27, uma das épocas mais florescentes da Biblioteca Nacional. Mais do que grandes modificacées legislativas, empreenderam uma profunda estruturagdo dos Servicos, assumindo a modernizacdo técnica como meio prioritario para projectar a instituicéo como «verdadeiro ins. trumento de investigacées cientificas originais, especialmente histéricas, bibliogréficas, e biblioteconémicas». Conseguir levar a Biblioteca a assumir a plenitude dessas funcées, con- tribuindo para um progresso cultural aberto aos valores nacionais, sen- sivel ao mundo cincundante, néo foi taréfa linear. Uniram-se-lhes os esforcos de alguns competentes técnicos da Casa ¢, também, de muitos intelectuais dos seus mundos de intervencio social € cultural. Toda uma pléiade que estravasou, para o plural, o chamado «Grupo da Biblioteca» (Anténio Sérgio) —que David Ferreira veio a designar, cer. 384 B, ANABAD, XLII (1992), NUM. 3-4 teiramente, por Grupos da Biblioteca, fazendo emergir uma constelacio de iniciativas e realizacées. Ao nivel da organizacao dos servicos brotarao —directamente de Ratil Proenca— directivas ¢, depois, as Regras de Catalogacdo, auténtico marco na Biblioteconomia nacional, perspectivando os trabalhos futuros de co- laboragao normativa com as Bibliotecas, confrontando-as com idénticas abordagens la de fora, de que muidamente se informou. Parece suficiente apontar, entre as grandes realizacées bibliograficas € culturais, o esforco de inventariacéo de micleos fundamentais, como 0 dos Cédices de Alcobaca ou a seccdo Ultramarina, para além dos estu- dos, ao longo dos anos, pontualmente publicados nos «Anais das Biblio- tecas ¢ Arquivos» pelos conservadores € bibliotecdrios responsaveis pelos principais sectores. Uma curta série de «Publicagdes da Biblioteca Nacional» deu corpo as suas contribuicdes Biblioteconémicas mais inovadoras. Tratava-se de uma colecciio que ilhes foi muito cara, na linha da formacao biblioteco: némica que preconizavam para todos os colegas. Dessa «Biblioteca do Bi bliotecario € Arquivistay fez parte a Bibliografia das Bibliografias Portuguesas de Anténio J. Anselmo, utilissima resenha das fontes duma Bibliografia geral Portuguesa, que fez o balanco do que existia e abriu caminho para trabalhos futuros. Coroa, sem dtivida todos estes trabalhos criteriosos € eruditos de Anténio J. Anselmo e Rauil Proenca a indespensavel Bibliogra- fias das obras impressas em Portugal no século xvi. Produto acabado do pro: fundo conhecimento dos fundos da Biblioteca e de otras muitas ¢ da preo- cupacao por divulgé-los da melhor forma, com os estudos pertinentes in tegradores que permitiram a elaboracdo de instrumento de referencia to indispensavel para a Investigacao. Noutra linha complementar, apresentam-se as edicdes facsimiladas ¢ di plomaticas —como a de Os Lustadas (edigao de 1572}, 0 Marco Polo, as Obras de Gil Vicente— © as publicacées anotadas de documentos importantes para a Histéria ¢ a Cultura albergados na Instituicao. No entanto, s4o bem sabidas as resisténcias interiores de muitos, den tro da Biblioteca, a seguir o ritmo de produtividade e competéncia exi gidas pela Divisdo de Servicos Técnicos! Da responsabilidade editorial de Ratil Proenca sairéo ainda os volu mes inaugurais do Guia de Portugal, publicacao que congregou muitos dos intelectuais mais intervenientes dos Grupos, que —nao s6 pela impress4o nas Oficinas Tipograficas da BN, que foi outro dos sonhos realizados des: ta Direcc4o— deve ligarse a Biblioteca Nacional, como instituicao cultu ral, radicada no seu tempo € no seu meio, profundamente preocupada com 0 Pais mais real. Ocioso seria, nesta oportunidade, tentar esbocar a S trajectorias inte. BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL 385 lectuais globais de J. Cortesao ¢ Raul Proenca. Tém tido historiadores e ensajstas atentos que, em notavel trabalho de aprofundamento do seu in- fluxo, tém projectado as suas figuras ¢ accZo politico-cultural para o pla- no que lhes € devido. Muitas dessas iniciativas promovew-as a Biblioteca Nacional, quer com a Exposico comemorativa de h4 poucos anos, quer com a publicacao de inéditos de e sobre cada um deles —no caso de Raul Proenca, tratou-se de material do Espélio, hoje pertenca da Instituicdo. A modo de balanco da sua actividade na Biblioteca, convém referir ainda os esforcos desenvolvidos na dinamizacao do Depésito Legal e das Trocas Internacionais, a par da crescente consciéncia do défict bibliografi- co do pais, falho de meios para dotar a Biblioteca da capacidade de ac- tualizar os seus fundos ¢ espelhar, mesmo remotamente, o desenvolvi- mento cientifico, técnico, literario ou filosofico nas primeiras décadas des- te século. Apenas uma cuidadosa atencdo ao mercado livreiro de ocasio con- seguiu trazer a Biblioteca alguns fundos patrimoniais importantes, como algum cimélio da tipografia portuguesa de que nao havia noticia. Mas, a compra mais excepcional teve lugar em Itdlia, onde expressa- mente se deslocou J. Cortesio —por informacao de Carolina Michaelis— para adquirir © Cancioneiro Colocci-Brancuti, hoje conhecido como Cancio- neiro da Biblioteca Nacional e um dos seus Tesouros mais notaveis. ‘VII. O «TRAUMAs DOS ANOS 80-50 Paginas menos brilhantes aguardavam as décadas seguintes. Fidelino de Figueiredo voltara a Directo, por poucos meses, sucedendo-lhe no car- go 0 Coronel Augusto B. da Costa Veiga. Produzem-se remodelacées nos servicos técnicos € na tutela da Biblio- teca que, durante algum tempo, depender4 da Direccio Geral do Ensi- mo Superior. Em 1931, novo Decreto-Lei reorganizard Bibliotecas e Ar- quivos, de modo perduradvel: até 1980 a legislacdo nao sera adequada as realidades do seu crescimento, amplitude de funcgdes, papel cultural, etc. Costa Veiga faz a publicacao, jé preparada anteriormente, do Inven- tério dos Cédices Alcobacenses, assim como levard a cabo outras iniciativas li- adas a inventariacdo de fundos: 0 Index das Notas dos tabelides de Lisboa (1889-1747); as Habilitagdes ade Genere» da Camara Eclesidstica, que no teve seguimento, numa perspectiva pouco articulada de fazer uma co- lecao de «Subsidios para a investigacdo historica em Portugal». Algumas bibliografias, como a notavel Bibliografia Vicentina devida a Luisa Maria de Castro ¢ Azevedo, ¢ os catélogos das exposicdes realizadas —a Virgi- liana, a da Restauracdo, a Horaciana, a Olissiponense— constituem os marcos mais importantes da producdo editorial. 386 B. ANABAD, XLII (1992), NUM. 8-4 Nos «Anais das Bibliotecas € Arquivos» (inteiramente a cargo da Ins- peccao) so publicados alguns dos Relatérios do Director e, ainda, nova tentativa de inventariar os Incunabulos. De maior félego foi a publicacio do «Boletim de Bibliografia Portw- guesay, que se veio a fazer regularmente, a partir de 1935, consagrando se como titil repositério das publicacées feitas no pais ¢ entradas na Bi- blioteca através do Depésito Legal. Nos anos 60 adopta a arrumacio pela DU, continuando a ser indispensavel instrumento de referéncia para as instituicSes afins ¢ os investigadores. O episddio mais tristemente marcante desta época, que repercutiu ne- gativamente na Instituicdo, por efeitos directos ¢ indirectos, foi o dos rou bos perpetrados, tal vez ao longo de anos, em alguns dos tesouros mais importantes da Biblioteca —nos Iluminados e nos Alcobacenses. Perdas irreparaveis de iluminuras en pergaminhos seculares, acrescentadas a ou tros desaparecimentos, nunca esclarecidos, na area da Numismatica, trau: matizaram profundamente as pessoas ¢ a instituicdo. Foi o retorno, jus tificavel mas «imperdodvel» ao conceito de Biblioteca-reserva, no sentido mais estrito; a cbiblioteca-cofre» que avaramente contém mas nao exhi: be, dificilmente estuda ou deixa estudar. Foi um instalar de regras e pre caucées contabilisticas do patriménio, inventariais ¢ anguilosantes: uma espécie de reverso absoluto da Biblioteca popular de bairro, de Faustino da Fonseca. © aumento positive do acervo deu-se, certamente, pela via da opor- tuna aquisicdo de bibliografia portuguesa, ento abundante ¢ acessivel no mercado livreiro de alfarrabistas e promotores de leildes, a boa dis: tancia da ceuforia biblidfilay dos finais do século xix. Tecnicamente, a Biblioteca modernizou-se em duas vertentes funda- mentais. Em primeiro lugar, a adopcao (tardia) do sistema classificativo conhecido por CDU (Classificacéo Decimal Universal) , pelo lado da Direccdo —personificada na pessoa de M. dos Santos estevens—, a preocupacdo da moderizacao concentrava-se nos estudois para corporizar a «promessa fundacional», nunca cumprida, de dotar a Biblioteca de instalagdes proprias, adequada e funcionalmente estudadas. IX. Os ULTIMOs 20 ANOS A distancia de mais de um século ¢ meio, arquivaram-se definitiva mente no passado, todos os muiltiplos planos e projectos, desde os son- hos de A. Ribeiro dos Santos de construir um edificio —«a maneira da Biblioteca de $. Marcos de Venezay— as necessidades imperiosas de alar- gar ou melhorar os existentes: fosse o Convento de S. Francisco, ha mui BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL 387 to esgotado nas suas ceminentemente impréprias condicdes» (R. Proenca), passando pela hipstese de J. F. Castilho de fazer da Igreja de S. Francisco a grande Sala da Biblioteca ou os esbocos de instalagdo em S. Bento, para s6 indicar alguns. Os estudos definitivos —em grande parte devidos a Santos Estevens— arrancaram, finalmente, com a vantagem do conhecimento das grandes Bibliotecas Nacionais do estrangeiro ¢ dos seus estrangulamentos, apli cando:se tais saberes 4 solucdo minuciosa dos «circuitosy internos do liv. 0, dos leitores, dos funciondrios, do depésito legal; dos espagos de apoio & consulta, aos lugares de estudo ¢ distensio; as zonas para as activida- des de animagao cultural. Atendia-se, sobremaneira, as necessidades presentes e as do futuro crescimento, prevendo bem em quantos sentidos seria possivel estender a emblematica torre dos depésitos, ou a Sala de leitura geral. O Arquitecto Pardal Monteiro projectou esse grande e sélido edificio —depois de decidida a sua implantagao quase na Cidade Universitéria—, com a magnitude das maiores obras do Estado Novo. Exactamente 174 anos depois de D. Maria I prometer instalar a Real Biblioteca Publica em edificio préprio no lugar que ja lhe tinha destina- do... € inaugurada a sede definitiva, em abril de 1969. A estruturacdo interna da Biblioteca Nacional manteve-se a mesma, acentuando-se mais —apés 0 25 de Abril de 1974— a necessidade de le var a cabo profundas modificagdes que adequassem a Instituicdo ao seu tempo e as novas realidades. Em 1978, é nomeada a primeira Comissio de Gestao e de Reestrutu- racdo, que prepara um projecto de nova lei para a Biblioteca. No entan- to, acaba por vir a ser promulgada uma outra, em Agosto de 80 —a lei orgdnica actualmente vigente—, sendo entdo nomeado Director Joao Pal- ma Ferreira, que ja presidira A segunda Comissio de Gestio. A carquitecturay da lei projecta a Biblioteca Nacional para atender as multifacéticas funcdes de uma grande instituicdo de Cultura do seu ge nero, no mundo de hoje; consigna-lhe autonomia administrativa ¢ finan- ceira, técnica e cientifica. A proximidade da tltima década, ndo impede que se assinalem algu mas linhas de forca das realizagdes e das modificacdes operadas, como no pode ocultar que ha dificuldades estruturais que nao foram ultrapassadas. O recente arranque da informatizacio e a instalacio da PORBASE. ~base nacional de dados da producdo bibliogréfica portuguesa— permi: tiram 0 rapido acesso a essa informacio, dentro e fora da Biblioteca, uma vez que nela intervém muitas Bibliotecas cooperantes. Projecto arrojado de inovacio tecnolégica, fruto de enorme esforco conjunto, veio a colo- Céla ao nivel do que tém feito as Bibliotecas Nacionais estrangeiras. 388 B. ANABAD, XLII (1992), NUM. 3-4 Sao bem recentes ¢, infelizmente tnicos, os Catdlogos como o dos Jn- cundbulos ou da Tipografia Portuguesa do século XVI, indispensaveis instru mentos de Referéncia, ferramenta e produto de investigacao bibliografi- ca apurada. Outros trabalhos de sondagem na tipografia nacional e es- tangeira —por zonas geograficas— ja revelaram raridades nunca descri- tas € insuspeitadas dimensées de certos nucleos, Constituem outras areas de trabalhos a levar a cabo, para construir esses pilares do proprio con- hecimento interno, que sio os Catdloges Bibliograficos indispensaveis numa instituicdo com as responsabilidades € o papel de uma Biblioteca Nacional. Noutro campo, estreitamente relacionado —o do restauro ¢ preser: yacio das espécies— miuito se comecou a fazer, mas imenso € 0 que ha de fazer, para prevenir e atacar a destruicio silenciosa do Patriménio. Pro blema estrutural que A. Ribeiro dos Santos, quando tomou conta da Bi- blioteca, logo apontou como de urgente solucio; problema que o tempo foi solucionando das piores maneiras, quando mais ndo houve a fazer que vender a peso «papel impresso»; mas problema que, hoje, € guase so: livel se houver os meios técnicos e humanos necessarios. Desafio deste passado mais recente, que se mantera no futuro, porém, com a conscién cia mais aguda do que representa conservar € transmitir um Patriménio Cultural rico, extenso e fragil. Reatando uma tradicao algo perdida, a Biblioteca acolheu Doacdes de coleccdes particulares que, sem constituirem fundos a parte, deram origem a catdlogos prdprios que perpetuam os actos respectivos e per- mitem reconstruir a meméria coleccionista dos seus patrocinadores. De modo conexo, incentivaram-se os depésitos ¢ compras de Espé- lios de figuras cimeiras da nossa cultura, nomeadamente no campo da Literatura, iniciando-se a formacao do «Arquivo de Literatura Portugue- sa Contemporanea». Entre os multiplos Espdlios representados nesse Fun: do contam-se, por exemplo, os de Eca de Queiroz, Fernado Pessoa, Vi- torino Nemésio, etc. ¢ parte da correpondénica de Palma Ferreira —que como Director da BN, foi o seu principal impulsionador—, o de Ratil Proenga ¢ 0 de Jaime Cortesio —o ultimo a dar entrada, recentemente. Os trabalhos de inventariacdo sistematica tém dado origem a publi cacdo dos indices respectivos € a edicdo de inéditos desses autores. Pode dizer'se que o crescimento da Biblioteca, nos seus quase dois sé culos de existéncia, seguiu muitas das linhas fundacionais preconizadas por Ribeiro dos Santos Apoiou-se, basilarmente, no crescimento actualizado por via do De- pésito legal, cuja primeira Lei de Set’ de 1805, tornou extensivel a todas as tipografias a obrigatoriedade do depésito ja prescrito anteriormente (1798), & Imprensa Régia. O seu cumprimento nem sempre foi facil de BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL 389 controlar, no entanto, é nele que se fundamenta o conhecimento actual € vindouro da Bibliografia Portuguesa. Quanto a grande batalha travada pelo primeiro Bibliotecdrio-Mor, para conseguir verbas («rendas») préprias para as aquisicées correntes, pode dizer-se que a ganhou com a publicac&o do Decreto de 30 de Dez" de 1801, que atribufu a quantia anual de 1 600$000 reis para «compra ¢ subscripgio de obras periddicas ¢ outros livros». Das «ustas aplicacdes» desse fundo séo prova quer or tesouro que é a Béblia de Gutemberg, com- prada em 1802 aos livreiros Borel, quer as miltiplas obras com que foi actualizando os fundos, de que deu detalhadas contas aos Inspectores Ge- rais em catdlogos metédicos devidamente elaborados. Trata:se, porém, de batalha periodicamente reacendida. A adequacao de medidas desse género continua a ser problema de hoje, pois a falta ou a extrema exiguidade de verbas para aquisicdes impossibilita 0 traca do de qualquer politica coerente para as mesmas. Por essa razio, 0 que entra na Biblioteca de publicacées estrangeiras far-se, quase exclusiva: mente, através dos mecanismos de oferta e permuta com instituigées si- milares. E, pode dizer-se, que tém sido as compras de ocasiéo, em leilées nacio- nais e internacionais, as mais beneficamente satisfeitas, mercé do recur- So ao Mecenato Cultural desde ha poucos anos instituido. De facto, por essa via, foi possivel trazer 4 BN alguns dos maiores tesouros nacionais, quer manuscritos quer impressor. Sirvam, como exemplos paradigmati- Cos, a compra do tinico exemplar conhecido do primeiro incundbulo por: tugués, 0 Tratado de Confisiom —descoberto ¢ pouco tempo depois estu- dado (1967)— adquirido em 1987; ou 0 da recente aquisicao (1990) dos originais de Mensagem e «O guardador de rebanhosy de Fernando Pessoa. Politica de Biblioteca Nacional e insergdo no sistema nacional de bibliotecas Pela Lei Organica de 1980, actualmente em vigor, a Biblioteca Nacio- nal é, por definicdo, a biblioteca normativa e de investigacao a quem cum- pre, em Portugal, o desempenho das funcées que intemnacionalmente se reconhecem proprias de uma agéncia bibliografica nacional. Destacam-se assim, em primeiro plano, as suas funcdes no tratamen- to, divulgacdo ¢ conservacao do patrimonio documental produzido em Portugal, em lingua portuguesa, referente a Portugal ou de interesse para a altura nacional. Noutro plano, e enquanto biblioteca geral de investi. Bacio de nivel nacional, uma politica de aquisic&es que pretende corres- poder as necessidades actuais de investigacdo na drea das ciéncias huma- nas. 390 B. ANABAD, XLII (1992), NUM. 3-4 Com aquela atribuicéo primodial que remonta, podemos dizé-lo, a época da sua fundacao —a partir das primeiras determinagées régias no sentido de garantir a Biblioteca a recepcdo de toda a producio tipogra fica nacional— est a BN incumbida, especificamente, de assegurar o ser vico nacional de Depésito Legal e difusio da bibliografia nacional corren- te. Apesar da importancia fundamental destas suas ja histéricas funcdes —entre as quais merece também referencia 0 centendrio Servico Portu: gués de Trocas Internacionais— nio € apenas nelo desempenho das mes- mas, a par do funcionamento da prépria biblioteca como tal, que hoje se distingue a orientacao recente e actual das actividades da BN. O processo de modernizacdo da BN iniciado em 1985, com o langa: mento do projecto de informatizaco, comecou por reflectir as inadidveis necessidades da maior biblioteca do Pais em termos de racionalizac’o, de rapidez ¢ de rigor nos procedimentos técnicos de molde a melhor corresponder as cada vez mais complexas exigéncias do mundo cultural, cientifico ¢ tecnolégico actual, de que nao pode viver alheada por forca das suas atribuicées. Desde logo esse proceso de moderiza¢o extravazou a propria BN, acondando-a para outras fungdes que, explicita ou implicitamente, a Lei ja Ihe conferia, mas cuja plena assuncdo ¢ efeitos vinham sucessivamente sendo dificultados pela caréncia de meios financeiros, técnicos e huma nos Continuando embora a enfrentar dificuldades dessa ordem na pros- secucdo dos projectos iniciados, foi possivel 4 Biblioteca Nacional —so bretudo por via da modernizacao conseguida com a introducao das no vas tecnologias. em que foi apoiada financeiramente por outros organis mos puiblicos ¢ privados— aprofundar ¢ diversificar as suas linhas de ac- tuacdo, a nivel nacional ¢ internacional. Entre essas linhas de actuacio distinguemse, pela importancia de que se revestem na revitalizacdo do contexto bibliotecondmico portugués: a melhoria do controlo bibliografico nacional e das condicdes de acesso a informacdo bibliografica; 0 apoio 4 implementacao das novas tecnologias nas bibliotecas portuguesas; 0 fomento da normalizacio ¢ 0 desenvolvi mento € aplicacdo de novas técnicas biblioteconémicas; a actualizacao da formacio profissional, interna e extema a BN; a promocio de accées vi sando a optimizacao dos recursos materiais ¢ humanos das bibliotecas e, sobretudo, a rentabilizacdo dos recursos bibliograficos existentes no Pais. No que respeita ao controlo bibliografico nacional ha a destacar, para alem das responsabilidades pelo Depdsito Legal ¢ pela producao da bi bliografia nacional corrente, as recentes fungdes da BN como Centro Na. cional ISDS a quem cabe, desde 1987, 0 registro e atribuicéo do mimero. BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL 391 internacional normalizado as publicacdes em série produzidas em Portu- gal, ¢ ainda como responsével pelo Servico Nacional de Catalogacio na Publicacao (CIP), lancado em 1990, Tao importante como o controlo bibliogréfico, a répida disponibili- zacao da bibliografia nacional e o alargamento do seu accesso foram ob. jectivos que presidiram a automatizacio dos servicos de tratamento do- cumental da BN que, desde 1989, garantem a sua actualizacao didria num catdlogo automatizado, acessivel em linha, localmente ¢ do exterior. Assumindo mais plenamente a sua responsabilidades na elaboracio € manutengao do catdlogo colectivo das bibliotecas portuguesas —tarefa que as novas tecnologias tornam mais facil e consequente— desde o ini- cio a BN incluiu no seu programa de automatizacdo, a criacio das con- digdes técnicas ¢ logisticas necessérias & compatibilidade, a portabilida- de, ¢ ao armazenamento e pesquisa de grande volume de informacio bi bliografica, de proveniéncia e tipologia diversas, num projecto coopera- tivo aberto a todo 0 pais € a todo o tipo de bibliotecas. Entre essas condicdes destaca-se o papel da BN como Centro Distr: buidor Nacional do software Mini-micro CDS/ISIS (UNESCO) desde 1986, com base no qual preparou uma aplicacdo especificamente vocacionada para ¢ catalogacdo automatizada segundo o formato UNIMARG, hoje dis tribuida a mais de 400 bibliotecas portuguesas, aptas por isso a trabalhar em cooperacdo e a trocar informacao bibliogréfica. A par da distribucao do software, a BN tem vindo a garantir também a essas bibliotecas a inerente formacao € 0 necessdrio apoio técnico na sua implementacdo, apoio esse que acaba, naturalmente, por abarcar também a consultoria sobre praticas biblioteconémicas que, desde modo, tendem a aperfeicoar-se ¢ a tornar-se mais consistentes ¢ compativeis. Tendo adquirico cm 1987 um sistema informatico de grande porte, também parametrizado em UNIMARC em consonancia com a aplicacdo do minimicro CDS/ISIS ¢ capaz, por isso, de receber a contribuicdo das bibliotecas que desejem cooperar, a BN concretizou as condicées que lhe permitiram avancar da simples automatizacdo cos seus catdlogos para a constituicao do catdlogo colectivo em linha das bibliotecas portuguesas que é, afinal, a Base Nacional de Dados Bibliogréficos -PORBASE. Tnaugurada au publico em 1988, a PORBASE, constituida a partir dos fundos bibliogréficos da Biblioteca Nacional, conta actualmente com a co- laboracio regular de 56 bibliotecas portuguesas, de todos os tipos, ¢ con. tém hoje cerca de 850.000 registos dos quais 220.000 correspondem a bi- dliografia portuguesa (cobrindo ja todo o periodo de 1950 a 1991) ¢ 150.000 a bibliografia estrangeira. Do total, a contribuicao das bibliote- cas cooperantes ascende a cerca de 100.000 registos que respeitam, so- bretudo a bibliografia estrangeira. 392 B. ANABAD, XLII (1992), NUM. 8-4 © acesso a PORBASE €, neste momento, livre € gratuito, para insti tucdes ou pessoas individuais, a partir de qualquer ponto do pais servido pela Rede Nacional de Transmissio de Dados, ou de estrangeiro. A configuracao do sistema que suporta a PORBASE —Geac Concept 9000— assenta, actualmente, em 16 discos de 340 Mb cada, 3 processa- dores e 2 unidades de banda de 16 Mb RAM, com capacidade para 500.000 registos € permitindo a ligac4o em simulténeo de um nimero maximo de 156 terminais, dos quais existem, de momento, 60 na Biblio: teca Nacional e 17 no exterior. Para além do acesso esporddico, existem ligacdes permanentes para diversas bibliotecas em diferentes pontos do pais, sendo que algumas jé optaram também pela catalogacdo em linha, enquanto a maioria coope: ra enviando os seus registros em suporte magnético para serem carrega dos na Base de Dados, em diferido. A par da informatizacio da catalogacao corrente, a BN implementou igualmente um Programa de Conversio Retrospectiva segundo o qual, se nio se verificarem restricdes de ordem financeira, sera possivel garantir a informatizacao total dos seus catélogos em 1996, ano do bicentenario da instituicdo. Também em matéria de conversdo retrospectiva a BN tem fornentado a racionalizacéo do trabalho pela cooperacao coordenada en. tre as bibliotecas portuguesas, para além de orientar a execucdo de pro. gramas de conversio retrospectiva de outras instituigées, a seu pedido. O lancamento e desemvolvimento de todos estes projectos reveste im: portancia especial noutros aspectos, como o da normalizacao biblioteco némica, vertente de actuacio tambén decisivamente assumida pela BN que é, desde 1990, 0 Organismo de Normalizacao Sectorial para a docu- mentacao ¢ a informacio, albergando a respectiva Comissio Técnica cujo ambito é, para Portugal, idéntico ao da internacional TC46 da ISO. Para além desta atribuicdo legal, tem a BN vindo a produzir e a dis ponibilizar, por iniciativa prépria, toda uma série de instrumentos nor- mativos necessérios a uma pratica biblioteconémica actualizada, por um lado, e€ indipensaveis no ambito da automatizacdo das bibliotecas portu- guesas, em termos compativeis, por outro. De facto é hoje significativo © peso da vertente biblioteconémica na producio editorial da BN, que de 1986 até ao presente conta ja com 16 publicacées técnicas. Do mes mo modo tem a BN vindo a preparar ¢ disponibilizar actualizacées da apli- cacio PORBASE ¢ o desenvolvimento de outras aplicacdes novas, basea- das no mesmo software, para outras funcées biblioteconémicas. Esse novo fomento de normalizacdo se tem limitado apenas a adopcdo de normas internacionais j4 existentes ou de solugSes j4 experimenta- das mas passa também, rialguns casos, pelo estudo e desenvolvimento de novas técnicas biblioteconémicas, ou mesmo, de inovacées tecnolégicas, BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL 393 assim contribuindo lentamente para a renovacio do contetido funcional tradicional dos profissionais de biblioteca portugueses ¢ para a sua in- sergio no contexto internacional. Nestes aspectos tem a BN privilegiado a cooperacdo com outros pai- Ses, quer promovendo a realizacao de estagios € visitas de estudo no es- trangeiro, quer apoiando a participacdo activa dos seus técnicos nas or: ganizac6es internacionais como a IFLA, a LIBER ou a EFLC, quer ainda integrando os principais projectos europeus em curso, nomeadamente os apoiados pela CEE, como sejam o Projecto Piloto CD-ROM, para as bi bliografias nacionais, ¢ © projecto EROMM, para a criacio dum Registro Europeu de Microformas. A formacio profissional € outre das dreas mais relevantes da activi- dade da BN no contexto do actual sistema nacional de bibliotecas pelo investimento € mobilizacdo que encerra ¢ que decorre, essencialmente, do langamento e deselvolvimento do Projecto PORBASE. Incidindo basi- camente sobre questées técnicas relacionadas com a automatizacao, a for- mao tem abrangido profissionais de varios niveis ¢ de todo o pais, tor- nando-se uma actividade corrente na BN, para suprir caréncias a que as estructuras académicas ndo respondem. De 1987 até ao presente a acti- vidade de formacdo na BN ronda j4 o milhar de formandos e averba a realizacio de mais de 60 acc6es diferentes. Assentando na informacio ja disponivel na PORBASE e nas novas tec: nologias de comunicacdo ao dispor —correio clectrénico, telefax, etc.— péde a BN relancar 0 Servico Nacional de Empréstimo Interbibliotecas, em funcionamento experimental desde 1990 e que conta jé com a cola. boragio activa de boa parte das bibliotecas cooperantes na PORBASE. Da mesma forma que estimula a participacdo na PORBASE e no em- préstito interbibliotecas, a BN promove também accées das quais as bi- bliotecas cooperantes possam tirar outras vantagens imediatas em ter- mos de racionalizacio do trabalho ou de rentabilizacdo de recursos ma- terials. Exemplo dessas acgdes € 0 Projecto de Catalogacio Analitica das Publicagdes em Série Portuguesas, no qual se evitam duplicacdes de tra- balho pela divisio de responsabilidades entre as bibliotecas cooperantes. Por outro, prevé também a BN concluir, no préximo ano, a criacéo das condigdes ¢ meios informiticos para a extraccdo de registros bibliogré- ficos da PORBASE para efeitos do seu carregamento nas bases de dados locais das instituigdes, solucionando assim uma das principais dificulda- des que a opcdo pela ligacao em linha ao sistema Geac apresenta por um lado, e disponibilizando também os registos referentes a bibliografia ra- cional corrente, em suporte magnético, que deixarao, entio, de ter que ser processados em cada instituicdo. A par da dinamizacéo do empréstimo e da racionalizacdio do trabalho 394 B. ANABAD, XLII (1992), NUM. 3-4 a BN procura também continuar a fazer evoluir a PORBASE no sentido de a transformar na grande biblioteca de referéncia do pais, com base na qual vanha a ser possivel estabelecer uma politica coordenada de aqui- siges a nivel nacional. Do ponto de vista da sua utilizaciéo como biblioteca de referéncia a PORBASE podera, no futuro, vir a diversificar a sua audiéncia e a facili. tar a seu acesso, através da disponibilizacao da sua informacio noutros suportes, como sejam 0 VIDEOTEX ¢ 0 CRROM. Indissociavel do préprio funcionamento actual da Biblioteca e dos ser- vicos ao utilizador nela prestados localmente, a PORBASE —de que a Bi blioteca Nacional, para além de promotora é também a entidade oficial- mente designada como gestora— é hoje um instrumento inestimavel para a prossecucao das accdes, em prol do desenvolvimento cultural ¢ cienti- fico do Pais, que dela de esperam. Secgées funcdes actwais A evolucdo que se vem verificando nas actividades de BN tem obri- gado a alteracdes funcionais em alguns servicos, 8 criacdo de novos sec tores e 4 desactivacao de outros, pelo que a sua estructura intema nao € hoje, na realidade, exactamente a mesma que a Lei Organica lhe estabe- lece. Mantém-se, no entanto, a sua estrutura geral composta por trés Di reccées de Servicos que correpondem 4s trés principais vertentes organi zacionais da instituigdo: a administracao geral, a coordenacio biblioteco nomica € a investigacao € actividades culturais. A Direccao de Servicos de Coordencao Biblioteconémica engloba to- dos os servicos que asseguram, desde as aquisicdes até aos servicos de re feréncia e leitura, as actividades de tratamento técnico, armazenamento € disponibilizacdo das colecgdes bibliogréficas que integram o patrimo: nio da BN; Fundo Geral, Colecgées Especiais (Periédicos, Cartografia, Ico nografia, Miisica) e Reservados (manuscritos e Impressos raros). Em todos estes servicos sio observadas as mesmas regras biblioteco: némicas de base: descricao bibliografica segundo as Regras Portuguesas de Catalogacdo (RPC, 1984), que implementam o padrao internacional ISBD, e o formato UNIMARC. E de referir ainda, que os varios servicos especiais e 0 de Reservados dispdem de servicos de referencia ¢ leitura préprios, bem como depési- tos separados para armazenamento das respectivas coleccées, todos eles disponibilizando ao utilizador, tal como o sector de Leitura Geral, 0 aces: soa facilidades de reprografia, BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL 395 A Area de Referéncia Geral, para além da orientacdo dos leitores e da Bestéo do catélogo geral, assegura também o Servico de Empréstito In- terbibliotecas e dispde, ainda, de um nticleo de CD-ROM, onde podem ser pesquisadas algumas bases de dados disponiveis nesse suporte, tais como a LISA, 0 ERIC, a SOCIOFILE ¢ algumas bibliografias nacionais. A Direcdo de Servicos de Investigacdo ¢ Actividades Culturais tem a Seu cargo © tratamento, conservacdo € difuséo do Arquivo de Literatura Portuguesa Contemporéna (Espélios); a investigacio bibliogréfica e de fontes solicitada do exterior ou necessaria a concretizac4o das iniciativas da BN em materia editorial ou de exposicdes, bem como a execucdo des- tas ¢ ainda a coordenacio das relacoes publicas. Outros sectores técnicos especiais existem que dependem directamen: te da Direcc4o, quer porque no enquadram, dada a sua especificidade, na estrutura geral —como € 0 caso da Area de Deficientes Visuais, que gere a coleccdo de publicacdes em braille ¢ sonoras ¢ o respectivo ser. vico de empréstito— quer porque o seu ambito de actuacio tem impli- cages na generalidade de outros servigos —como acontece com a Pre- servacio ¢ Conservacdo, Encadernacao, Restauro, Laboratério fotografi- Co, Microformas (arquivo ¢ leitura) a Comissaiio de Normalizacio, a coor: denacio da PORBASE, incluindo a Divisio de Informatica e a Area de Conversao Retrospectiva e a Formaciio. Para além das fungdes técnicas internas ¢ préprias de qualquer biblio- teca, cuja distribuicéo ¢ hicrarquia se pode observar no quadro anexo, algumas das funcées de nivel nacional e como instituicéo propria, de que a BN esta incumbida, funcinam —como também se pode ver— in- seridas nor servicos internos com os quais tém mais préxima relacdo de trabalho. Assim, a area de Aquisicdes, integra o servico nacional de Depésito Legal € 0 Servico Portugués de Trocas Internacionais, a Area de Catalo- gacdo executa o Servico CIP (Catalogacao na Publicacdo), 0 Centro Na- cional ISDS funciona sob a mesma coordenacdo superior que a area de Periddicos, e a Area de Conversio Retrospectiva assegura o trabalho do Centro Distribuidor Nacional do Mini-micro CDS/ISIS em estreita relacio com o Orgao Coordenador da PORBASE, uma vez que para além de coor- denar a execugdo do Programa de conversio retrospectiva, é, também, 9 interlocutor principal com os cooperantes da Base Nacional de Dados Bibliograficos —PORBASE. O sector da Formagio, cuja criacdo recente veio institucionalizar uma pratica jé ha alguns anos corrente mas sem apoio préprio, é também uuma das areas de maior contacto com as outras bibliotecas portuguesas € assegura o funcionamento de todas as accées de formacdo que regu. larmente sao promovidas pela BN. 396 B, ANABAD, XLII (1992), NUM. 3-4 Relacdo da Biblioteca com a vida social ¢ cultural do Pais A natureza ¢ atribuicées da Biblioteca Nacional conferem-lhe, por si s6, um lugar de primeiro plano entre as mais prestigiadas instituices na cionais ao servico da Cultura. A par do estatuto, a sua dimensao e a ri queza das suas coleccées elevemna, enquanto patriménio, ao nivel dos maiores valores nacionais. Como instrumento ao servico da investigacdo é, antes de mais, o repertério das fontes fundamentais para a historia da cultura portuguesa de todos os tempos, por ser a grande biblioteca de conservacdo do patriménio documental portugués. Destinada, no acto da sua fundacao, a servir «como hum thesouro de todas as artes € sciencias...» a Bibhoteca Nacional acabou por evoluir, tal como muitas congéneres estrangeiras —bibliotecas gerais de investi- gacdio— para uma biblioteca de cariz essencialmente humanistico. Circunstancias historicas € contexto intelectual —que tém que ver com a origera dos seus fundos iniciais, com a natureza da producdo edi. torial portuguesa que a Biblioteca colectou ao longo dos seus quase du zentos anos de Historia, e ainda com a orientacdo das suas disponibilida- des orcamentais para aquisicao de colecgdes ou items raros que a BN, mais do que a qualquer outra instituicao nacional, compete preservar —tornaram-na uma biblioteca erudita cujos fundos ha muito deixaram de responder as necesidades de investigaco nas areas de ciéncia ¢ tecno- logia Por essa razio, hoje, como no passado, a Biblioteca € procurada es sencialmente por uma populacdo de estudiosos das areas de letras e cién cias sociais, na sua grande maioria escritores, professores ¢ alunos uni: versitarios € outros investigadores, face ds caracteristicas das suas co: leccGes e no sentido de diversificar a sua populacdo de utilizadores, a BN tem procurado também criar as condigdes que proporcionem a prestacao de um bom servico de referécia e as facilidades de acesso 4 informacao bibliografica, de qualquer natureza, disponivel no Pafs ou fora dele, ins talando novos servicés como a pesquisa local de bases de dados externas em CD-ROM e€ 0 Servico de Empréstimo Interbibliotecas recentemente activado. O proprio processo de informatizacao, conferindo uma dinamica nova a Instituicdo e a relacdo com outras unidades documentais do Pais e do estrangeiro, tem vindo a favorecer o intercambio nao s6 de profissionais mas também, por via destes, das respectivas comunidades de utilizadores. Por essa nova dinamica, pela desburocratizacdo introduzida nos tlti- mos anos ¢ também porque a Biblioteca, apesar de erudita e de conser- vacio continua a franquear © acesso as suas coleccdes a populacdo em BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL 397 geral, maior de 18 anos, a sua utilizacdo tem vindo a aumentar conside- ravelmente, registando-se actualmente uma média mensal de 5.000 leito- res. Mas, para além de importante centro de investigacdo, nao so nos do- minios tradicionais da pesquisa bibliogréfica e biblioteconémica como no dos estudos histéricos e literarios, a Biblioteca Nacional tem desempen- hado um papel de relevo como espaco de difustio e animacio cultural, Em diversas fases do seu desenvolvimento, encontramo-la, assim, como forum de convivio e debate entre estudiosos ¢ intelectuais ou, mes- mo, como ponto de partida de movimentos de ideias ¢ projectos de in- tervencao civica. Em meméria de alguns desses momentos, dos mais no- bres da sua histéria, ficou um gencrosos «haver» de accées culturais e de edicées, ultrapassando estas as quatro centenas de titulos. Tendo sido uma das primeiras bibliotecas europeias a publicar Ca- talogo da sua Coleccao de Incundbulos (1844), nem sempre encontrou Por partes dos Governos ¢ do piiblico a melhor compreensio para de- senvolver a sua missio de agente difusor do patriménio bibliogrdfico que conserva. As suas realizacées no dominio da divulgacio de textos classi- cos de literatura ¢ histéria portuguesas foram devidas, quase sempre, a0 esforco ¢ dedicacio dos homens de letras que a dirigiram, ou de alguns funciondrios que lhe dedicaram a maior e melhor parcela da sua inteli- gencia e do seu saber. Nesse campo, os projectos mais consequentes situam-se j4 no decur- so do presente século, nomeadamente entre 0s anos de 1920-1927 ¢ de- pois de 1980, tendo a BN alcangado o primeiro plano entre as bibliote- cas portuguesas que procuraram concertar as fungées de preservacdo e tratamento bibliografico dos fundos que conservavam com as da respec: tiva divulgaciio. Com acento na tiltima década, o Biblioteca Nacional tem assegurado um programa regular de exposig6es —sempre acompanhadas dos respec- Uivos catdlogos— sobre temas e personalidades cimeiras da historia e li teratura portuguesas (ou da cultura mundial), reunindo a bibliografia per- Unente, activa € passiva, por vezes companhada de antologias ¢ estudos interpretativos. Tranbalhando em cooperacdo com as suas congéneres, a outras instituicdes da cultura que também guardam testemunhos do pas- sado, ainca que recente, preocupa-se por tornar tanto cuanto possivel su- Bestivas ¢ atraentes as exibicées que organiza, assegurando integralmen te todas as fases da respectiva realizacio. De entre as exposicdes mais importantes, salientam-se as evocativas da Vida e Obra de Gil Vicente, Bernardim Ribeiro, Camées, Pe. Anténio Vieira, Marqués de Pombal, José Anastasio de Cunha, Cesdrio Verde, Teixeira de Pascoais, Raul Branddo, Familia Lopes de Mendoca, André 398 B. ANABAD, XLIT (1992), NUM. 3.4 Brun, Ant6nio Sérgio, Jaime Cortesao, Raul Proenga, Aquilino Ribeiro, Fi- delino de Figueiredo, Fernando Pessoa, Mario de $4-Carnciro, Anténio Pe- dro, Anténio Maria Lisboa, Pedro Oom e Mario Henrique Leiria, entre os portugueses, e Vergilio, Horacio, Sao Bernardo, Petrarca, Erasmo, Cer- vantes, Ugo Foscolo, Victor Hugo, Tolstoi, Andersen ¢ Kafka, entre os es- trangeiros. Também a historia social e politica portuguesa, desde a época dos des. cobrimentos até aos nossos dias, passando pela Restauracdo (1640), a épo- ca de D. Joao V a Revolucio Francesa, a Inquisicdo (1536-1821), a Guerra Peninsular (1807-1814), a Guerra Civil (1829-1834), a primeira Republica (1910-1926), o Estado Novo (1926-1959), ¢ os wiltimos 100 anos de Anar- quismo em Portugal (1887-1987) mereceram exposicdes e catdlogos de talhados, ao lado dos que foram dedicados aos Incunabulos e outros Ci- mélios, 4 Cartografia portuguesa {séc. XVI-XVIII), ao Cartaz em Portugal (séc. XVILXX), aos Livros portugueses de cozinha e & Moda am Portugal através da Imprensa (1807-1991). Em 1988, criou o Museu do Livro, exposico permanente de historia do livro com base nos tesouros da BN, renovada semestralmente. Um pii blico cada vez mais vasto tem acorrido, também, as exposicées de artis- tas plasticos portugueses, entre autores consagrados ¢ jovens pintores, que nos tiltimos anos tém passado pelas salas que a primeira biblioteca portuguesa Ihes tem facultado. Além das exposigdes € seus catélogos, 0 programa editorial da BN conta, ainda, com uma série de edicdes fac-similadas de impressos raros, uma serie de catdélogos dos fundos ¢ bibliografias, tematicas e retrospec- tivas, € varias séries documentais, proporcionando a edicdo de estudos ¢ documentos inéditos, desde 0 século XVI ao presente, conservados nos di versos departamentos Retomando a iniciativa lancada em 1920 com a edicao dos Anais das Bibliotecas ¢ Arquivos, que constituiu um marco decisivo na investigacao bi bliografica e bibliotecondémica em Portugal —aliada a uma vasta colabo- racao de historiadores e intérpretes de grande nomeada no dominio da historia da cultura— foi criada, em 1980, a Revista da Biblioteca Nacional que tem mantido publicacdo semestral regular. Ai se tem arquivado di versos estudos de Cultura Portuguesa, Bibliografia, Biblioteconomia, Ar- quivistica € Historia do livro. A Revista consagrou mimeros especiais ao V Centenario da Imprensa em Portugal, e aos centenarios de Fernando Pessoa, 0 maior poeta portugués contempordneo, ¢ de Jaime Cortesio, Raul Proenca ¢ Jodo Palma Ferreira, antigos dirigentes de BN e grandes animadores da sua intervencdo cultural. BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL, X. LISTA DE DIRECTORES Vasco Pinto de Souza Coutinho Balsemao José Feliciano de Castilho Barreto e Noronha Antonio de Olivera Marreca José Feliciano de Castilho Barreto e Noronha ‘José da Silva Mendes Leal ‘José Canais de Figueiredo Castello Branco ‘José da Silva Mendes Leal ‘Antonio José Enes Gabriel Victor do Monte Pereira Xavier da Cunha Faustino da Fonseca Fidelino de Figueiredo Augusto Botelho da Costa Veiga Joao Martins da Silva Marques Manuel dos Santos Estevens Antonio Henrique de Oliveira Marques Joao Pedro Palma-Ferreira Vitorino Magalhées Godinho Manuel Villaverde Cabral M.° Leonor Machado de Souza FONTES Manuscritas: Arquivo Nacional da Torre do Tombo 399 1836-1843 1848-1846 1846 1846-1847 1850-1851 1851-1857 1857-1886 1886-1887 1887-1902 1902-1911 1911-1918 1918-1919 1928-1950 1950-1951 1951-1974 1974-1976 1980-1983 1984 1985-1990 1990 — Ministério do Reino: Livros 92, 99, 362. Magos 360, 443 Biblioteca Nacional — Reservados: COD 272; 4708; 4712; 4713; 8544; 10 610; 10 612; 11 522-25; 11 590; 12 935-37 — Arquivo Histérico: Livros 642; 914 C; 917; 936; 937-939, AH/COCA: 2/1; 5/1; 5/2; 14/2 Macos: 13-doc. j); 27-doc. r) Impressas: (Colecgdes de legislaco; documentos relativos as administracées; no- tas biograficas sobre os Directores; relatorios dos Directores, etc.) 400 B. ANABAD, XLII (1992), NUM. 3-4 BIBLIOGRAFIA ABREU, Carlos: A actividade editorial da BN, 1844-1989: uma aproximacio. In: Re. vista da Biblioteca Nacional. Lisboa, S. 2, 5 (1) Jan-Jun. 1990, p. 161-220. ANAIS das Bibliotecas ¢ Arquivos de Portugal. Vol. I € II (1915-1916). Lisboa: Inspecdo das Bibliotecas Eruditas ¢ Arquivos, 1915-1916. AZEVEDO, Pedro A. de: A reorganizagae da Biblioteca Nacional de Lisboa de 18 de Maco de 1911, In: Boletim Bibliografico da Academia das Sciéncias de Lisboa, 1.* série, 1° vol., 1910-1914, p. 177-199. 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