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Entrevista Muhammad Yunus v Imobiliário 10 milhões por um duplex v Marketing Luxo verde

N.º 5 v Maio 2010 www.exameangola.com 700 kz

ESPECIAL
MICROCRÉDITO
Como o Banco Sol, BPC
e BAI Micro Finanças
querem dinamizar
o sector

É o maior investimento de
sempre, para a maior exposição ALBINA
de sempre. A antiga ministra ASSIS,
comissária
dos Petróleos explica o que nacional
da Expo
Angola vai ganhar com a Xangai 2010

exposição mundial

A DAMA DE XANGAI
1 | www.exameangola.com
CartadoDirector
Director: carlos rosado de carvalho
Carlos Rosado de Carvalho
(carlosrosado@exameangola.com)
Director Executivo: Jaime Fidalgo

Crédito a quem
(jaimefidalgo@exameangola.com)
Editores: Faustino Diogo
(faustinodiogo@exameangola.com)

não tem crédito


Francisco Moraes Sarmento
(moraessarmento@exameangola.com)
Assistente de Redacção: Ninette Figueiredo
(ninette@exameangola.com)

A
Arte: Jorge Ribeiro (director), banalização do crédito bancário é uma
Filipa Silva e Frederico Fernandes (editores)
Armindo Dalas, Demóstenes Paulino das imagens de marca da sociedade con-
e Pedro de Oliveira Monteiro (paginadores)
temporânea. Apesar da crise financeira
Fotografia: Carlos Moco (editor), Carlos Augusto, Daniel
Miguel, Jacinto Figueiredo, Malocha, Pedro Nicodemus, que assolou o planeta, anúncios cor-de-rosa con-
Nuno Santos (fotógrafos), Rojú (assistente)
tinuam a prometer-nos dinheiro para comprar

Carlos Moco
Colaboradores Regulares:
Herculano Coroado, Manuel Cruz, Mário Paiva (texto) este mundo e o outro. Casas, mobílias, electro-
António Martins (revisão); Kamene Traça (fotografia),
Jorge Ribeiro e Frederico Fernandes (infografia)
domésticos, carros ou férias de sonho estão à dis-
e Horácio Dá Mesquita (caricatura) tância de uma simples visita à agência bancária
Colaboraram nesta edição: Camila Fusco, Felipe Carneiro, mais próxima.
Giulliana Napolitano, João Wenger Grando, José Roberto
Caetano, Luiza Dalmazo, Mariana Barbosa, Tatiana Gianini Se nos dias que correm, em quase todo o mundo, obter crédito para comprar
Direitos Internacionais: Exame Brasil (texto e imagens), não importa o quê é fácil, por vezes demasiado fácil, as franjas mais vulneráveis
AFP, Graphic News e IStockPhoto
da sociedade que recorrem aos bancos para pedir um pequeno empréstimo
Multimédia e Internet: Géraldine Correia (directora),
Nara Rosa e Isabel Dalla (site@exameangola.com) para criar ou manter o seu próprio emprego esbarram com um sem-número
Marketing: N’Dalo Rocha de obstáculos. Se, além de pobre, quem necessitar do crédito for mulher, as
www.exameangola.com coisas pioram.
Sem acesso aos bancos, muitos dos muito pobres que precisam de meia dúzia
Publicidade: Sofia Costa (directora comercial),
Luís de Almeida (consultor), Bruno Fundões, David de tostões para trabalhar acabam por cair nas mãos de agiotas sem escrúpulos
Machado, Leandro Ascenção (coordenadores), Djamila
Miguel, Firmino Pinto, Seco Camará e Wilson Major
que cobram juros exorbitantes.
(comerciais); Delegação em Portugal: Tânia Vicente A ausência de garantias e o facto de os empréstimos envolverem quantias
muito baixas — que não cobrem sequer os custos com a papelada — são as
Contactos Publicidade
Angola - Tel.: 222 006 409
duas principais razões que fazem com que os bancos rejeitem dar a mão a pes-
comercial@medianova.co.ao soas a quem a vida virou as costas.
Portugal (Delegação)
Tel.: +351 211 543 365 / 384
Para quebrar este ciclo vicioso em que milhões

Registo Minist. Comunicação Social: MCS-560/B/2009


de pobres não têm acesso ao crédito, porque são
pobres e não conseguem sair da pobreza porque
O acesso
Tiragem: 10 mil exemplares. ninguém lhes dá crédito, Muhamad Yunus criou, ao crédito
Depósito Legal: 261-09
Distribuição: MN Distribuidora
em 1974, no Bangladesh, seu país natal, um novo
modelo de negócio bancário. Trata-se do mi-
é um direito
Impressão: Damer Gráficas, SA crocrédito, que consiste em emprestar pequenas de todos e não
quantias a pessoas com competências profissio-
EXAME — Zona Residencial ZR6-B, lote 32.
Sector de Talatona; Luanda-Sul, Angola;
Tel.: 222 003 275; Fax.: 222 003 289; nais para criarem o seu próprio emprego, mas um privilégio
info@exameangola.com que por alguma razão não têm acesso aos canais
bancários tradicionais.
de alguns
A revista Exame (Angola) é um licenciamento
internacional da revista Exame (Brasil),
propriedade da Editora Abril.
Ao longo de quase 40 anos, o trabalho de Yu- consumistas
Propriedade: IMPRESCRITA
Imprensa Escrita, SA
nus, laureado em 2006 com o Prémio Nobel da
Paz, provou que emprestar dinheiro aos pobres
compulsivos
N.º de Matrícula: 1279-07 numa óptica comercial é possível. Os pobres que
Conservatória do Registo Comercial de Luanda beneficiam do microcrédito sabem que o auto-emprego é o passaporte para
Director-Geral: saírem da pobreza e por isso são os primeiros interessados em pagar os emprés-
Pedro Narciso da Cunha Manuel
timos que obtêm. Esta é a principal garantia para quem lhes concede crédito.
Administrador Único:
João B. Vieira Dias Van Dunem O pai do microcrédito esteve em Luanda, no final de Abril, para partilhar
com os angolanos a sua experiência e deixar uma mensagem muito clara: o
acesso ao crédito é um direito de todos e não um privilégio de alguns consu-
mistas compulsivos. Como prova o especial que publicamos nesta edição, a
semente lançada por Yunus começa a dar frutos em Angola. Ainda bem! b

maio 2010 | 3
REVISTA mensal — ANO 1 — N.o 5 — maio DE 2010
TIRAGEM DESTA EDIÇÃO: 10 000 EXEMPLARES — Foto de capa: kamene traça

nEGÓCIOS
34 Imobiliário A Torre Ambiente tem 120 metros de altura e uma vista
magnífica sobre Luanda. O T5 duplex custa 10 milhões de dólares
40 Estratégia Há 18 anos tinha apenas duas empresas. Hoje, o
Progroup tem 11 filiadas, entre as quais, a mediadora Proimóveis

global
46 Índia Os irmãos Ambani são dois dos homens de negócios mais
ricos do mundo. A zanga entre os dois é igualmente lendária
50 Europa Em 2005, eram conhecidos como os “Tigres do Báltico”.

daniel Miguel
Hoje, Estónia, Letónia e Lituânia ainda estão a braços com a crise

gestão

40
João Venichand
54 Microcrédito/Seminário Muhammad Yunus, Nobel da Paz, veio
a Luanda explicar como o conceito já tirou milhões da pobreza
62 Microcrédito/Entrevista O novo livro de Yunus é sobre a chegada
e José Luis de dos negócios sociais. A Danone e a Adidas são dois casos pioneiros
Carvalho: capital 72 Microcrédito/BPC Em parceria com a World Vision, o BPC criou
100% angolano bancos comunitários que já mudaram a vida de 5 mil famílias
78 Microcrédito/SOL Foi a primeira instituição de microcrédito do país.
Este ano tem 20 milhões de dólares para apoio aos pequenos negócios
80 Microcrédito/BMF Nasceu em 2009, fruto da parceria entre o maior
62
Muhammad
banco a operar em Angola, o BAI, e a maior petrolífera, a Chevron

marketing
Yunus gostava 82 Consumo A McDonald’s já não quer ser associada ao fast-food.
de abrir um Agora oferece lojas e serviços diferenciados para cada mercado
Kamene traça

Grameen Bank 84 Ecologia As marcas do luxo — como a Cartier, a Louis Vuitton ou


em Angola aBentley — renderam-se ao marketing verde para conquistar clientes

finanças
90 Perfil Chamam-lhe “a Oprah das finanças”. Suze Orman ensina às
mulheres os segredos do investimento e tornou-se uma celebridade

tecnologia
92 Twitter Dizem que é uma espécie de SMS da internet. A rede social
tem 105 milhões de utilizadores e quer bater o Google e o Facebook

livros
96 Petróleo Peter Maas explica o que é a “maldição do ouro negro”
secções
Editorial 3

72
Microcrédito:



Cartas
Primeiro Lugar
Grandes Números
8
10
18
as mulheres Mundo Plano 44
são mais sérias Gestão Moderna 53
e gerem melhor Gestão 2.0 70
as poupanças Dinheiro Vivo 88
o país

Exame Final 98

4 | www.exameangola.com
30
A Expo Xangai
já é a maior de
sempre. Q uer
ter 70 milhões

Jiang ren ©AFP


de visitantes

capa
20
As esculturas
20 ALBINA ASSIS A comissária nacional acredita que esta vai ser
a melhor participação de Angola numa exposição mundial.
Conheça a equipa que está a zelar pela imagem do país
do Mestre
Makiese têm 30 EXPO XANGAI Dizem que Xangai é a sala de visitas da China.
lugar de honra Saiba o que mudou na cidade, devido à organização deste evento
no pavilhão
jacinto figueiredo

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maio 2010 | 5
Cartas&e-mails
SEMPRE “QUENTINHA”
Parabéns, pela excelente iniciativa que tiveram em representar e publicar
a realidade económica angolana e não só, nesta que é já há muito e em bons
lugares como uma das melhores vias de informação (a revista Exame).
A maneira como os assuntos têm sido expostos é espectacular, a linguagem
é tecnicamente clara e digerível para quem a lê. O nível de qualidade também
está num excelente patamar. Espero que, tal como sucedeu até agora, todas
as edições do vosso bom trabalho se continuem a pautar pela imparcialidade
e pela crítica racional. Espero num futuro próximo poder ser assinante desta
vossa revista e recebê-la sempre “quentinha”.
Josino Samora
Licenciado em Relações Internacionais

Quero dar os parabéns a toda a vossa equipa Desejos do maior sucesso neste novo lan- Adorei a revista. Notei algumas, ligeiras,
pelo excelente trabalho que estão a fazer çamento da revista EXAME. confusões de nomes. Votos de muitos suces-
na revista EXAME. O mercado angolano Munir Aly sos neste novo empreendimento.
estava ávido por um periódico com a qua- Comandante Gika Teresinha Lopes
lidade apresentada e que já pode ser con- FBSL – Advogados
siderado um sucesso. A edição angolana da EXAME só vem con-
António Botto firmar a qualidade da revista que todos nós Estou certo do maior sucesso da EXAME,
Escritor/Jornalista conhecemos, mas, agora com o nosso cunho num mercado em que somos cada vez mais
e sobre a nossa economia e mercado. Esta- interpelados para a qualidade.
Felicito-vos pela revista EXAME, uma ini- mos todos de parabéns. Ganhou a revista, Manuel Gonçalves
ciativa de grande relevância para o jorna- os leitores e, sem dúvida, ganhou o país. Presidente da ENSA
lismo económico em Angola. Inokcelina dos Santos
Carlos José Silva Directora coordenadora do BAI Ler com um sorriso
CEO do Banco Privado Atlântico Li com um sorriso no rosto a “nossa” revista
Estou certo de que a revista EXAME será EXAME. Os meus parabéns, pela edição
Publicação de referência um êxito em Angola. de algo mais do que uma revista, mas, sim,
Os maiores votos de sucesso para a revista Mario Plácido Cirilo de Sá Ita um merecedor destaque para o sector finan-
EXAME. Acredito que rapidamente se tor-
nará, uma publicação de referência no meio
empresarial angolano.
Ricardo Silva

DinheiroVivo
Conselhos e diCas que interessam à sua Carteira
O meu objectivo é destronar o Bill Gates em cinco anos.
O Brasil tem ser o número um da lista da Forbes.
Eike Batista, na altura da divulgação da listagem da revista Forbes de 2009

Chairman Zenki Group Angola RANKING DOS BILIONÁRIOS


4.º
… e as dez mulheres
Os homens mais ricos do mundo…
Mukesh AMbAni
Fortuna: 29 mil milhões

mais afortunadas
Sector: Petroquímica, petróleo e gás
Idade: 52 anos
Nacionalidade: indiana lAkshMi MittAl
5.º
todos os anos a revista Forbes divulga a lista dos homens mais a louis Vuitton, dior e moet & Chandon, subiu oito lugares e

Os nossos sinceros parabéns, pelo lança-


Residência: Bombaim (Índia) Fortuna: 28,7 mil milhões
ricos do mundo. invariavelmente Bill Gates e Warren Buffett
alternam-se na liderança. mas, na última listagem, relativa a
ocupa a sétima posição, à frente do milionário brasileiro eike
Batista, dono da empresa de petróleo e gás oGX. os veteranos
Estado civil: Casado, três filhos Sector: aço
Idade: 59 anos Christy WAlton
1.ª
2009, ambos foram ultrapassados pelo empresário mexicano amancio ortega, fundador do grupo galego inditex (que, Nacionalidade: indiana Fortuna: 22,5 mil milhões

mento desta importante revista de econo-


Residência: londres (inglaterra) Sector: distribuição (Wall mart)
Carlos slim, que construiu um império na telecomunicações. entre outras, detém a Zara) e o alemão Karl Nacionalidade: norte-americana
Estado civil: Casado, dois filhos
a sua fortuna ultrapassa o PiB de mais de 100 países no mundo albrecht, da grossista aldi, completam
(igual ao de angola em 2007). os investimentos mais sonantes a lista de 2010. CArlos sliM lAWrenCe ellison 6.º
de Carlos slim helú são as empresas telmex e américa móvil. Fortuna: 53,5 mil milhões 2.ª
mia e negócios em Angola.
Fortuna: 28 mil milhões
AliCe WAlton
nos dez primeiros estão dois indianos, mukesh ambani, líder Sector: telecomunicações Sector: informática (oracle)
Fortuna: 20,6 mil milhões
Idade: 70 anos Idade: 65 anos
da maior empresa do país, a reliance industries, e lakshmi
mittal, fundador da arcelor mittal, a maior empresa de aço do
Nacionalidade: mexicana
Residência: Cidade do méxico
Nacionalidade: norte-americana
bernArd ArnAult 7.º Sector: distribuição (Wall mart)
Nacionalidade: norte-americana
Residência: Califórnia

Luís Lélis
mundo. lawrence ellison, o presidente da oracle, caiu para Estado civil: Viúvo, seis filhos Estado civil: Casado, dois filhos Fortuna: 27,5 mil milhões
o sexto lugar. Provando que o sector do luxo é imune às crises, Sector: luxo (lmVh)
Idade: 61 anos
o presidente da lVmh, Bernard arnault, dona de marcas como Nacionalidade: Francesa lilliAne bettenCourt 3.ª

Banco BAI
Residência: Paris Fortuna: 20 mil milhões
Carlos
WArren buffett slim 1.º eike bAtistA 8.º
Estado civil: Casado, cinco filhos Sector: Cosmética (l’oréal)
Nacionalidade: Francesa

53,5
Fortuna: 47 mil milhões
Fortuna: 27 mil milhões
Sector: Fundo de investimento
Sector: minérios e petróleo
Idade: 79 anos
Nacionalidade: norte-americana
mIl mIlhõES Idade: 53 anos
birGit rAusinG
4.ª
Residência: omaha (nebraska)
Nacionalidade: Brasileira
Residência: rio de Janeiro AMAnCio orteGA 9.º Fortuna: 13 mil milhões
Estado civil: Viúvo, três filhos Sector: embalagens (tetra laval)

Para a equipa e para a revista votos de sucesso


Estado civil: divorciado, dois filhos Fortuna: 25 mil milhões
Sector: Vestuário (Zara) Nacionalidade: sueca
sAvitri JindAl
5.ª
Idade: 74 anos Fortuna: 20 mil milhões
Nacionalidade: espanhola Sector: aço e energia (Jindal Group)
Residência: la Coruña 6.ª

Emídio Pinheiro
AbiGAil Johnson Nacionalidade: indiana
Warren
3.º
Estado civil: Casado, três filhos
buffett bill GAtes Fortuna: 11,5 mil milhões

47 Fortuna: 53 mil milhões Sector: seguros (Fidelity)


Sector: informática (microsoft) Nacionalidade: norte-americana
susAnne klAtten
7.ª

Presidente do BFA
mIl mIlhõES
Idade: 54 anos Fortuna: 11,1 mil milhões
Nacionalidade: norte-americana Sector: automóvel (BmW)
Residência: medina (Washington) kArl AlbreCht 10.º iris fontbonA
8.ª Nacionalidade: alemã
Estado civil: Casado, três filhos
Fortuna: 23,5 mil milhões Fortuna: 11 mil milhões
Sector: distribuição (aldi) Sector: mineiro (antofagasta)
Idade: 90 anos
Nacionalidade: alemã
Nacionalidade: Chilena
JACqueline MArs
9.ª
Residência: mulheim an der ruhr Fortuna: 11 mil milhões
bill
Gates 2.º Estado civil: Casado, dois filhos
Anne Cox ChAMbers
10.ª
Sector: alimentar (mars)
Nacionalidade: norte-americana
53
Carlos Barria ©reuters

Fortuna: 10 mil milhões


luis aCosta ©aFP

mIl mIlhõES Sector: Media e telecom (Cox)


diVulGação

Nacionalidade: norte-americana
Valores em dólares. Fonte: revista Forbes.

8 | www.exameangola.com 76 | www.exameangola.com abril 2010 | 77


EspEcial — a mãE dE todas as bolhas vEm por aí?
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Edição Quinzenal
ceiro com o relevo que merece no nosso
país após provas dadas de recuperação. Parabéns, pela revista EXAME. Está mesmo
Alexandre Diniz muito boa, editorialmente, comercialmente.
Think Positive JAmIE DImON,
Ian Levy
Founder, CEO
o maior banqueiro
O consultor
Vicente Falconi da atualidade, fala a
EXAmE: “Emergente?

Os meus calorosos parabéns. EXAME Não. O Brasil já


emergiu” TailorMade Media
Angola ficou linda, interessante, empol-
gante, fruto do competentíssimo trabalho de O guru do Brasil
Bom senso, metas, resultados, meritocracia. Com uma fórmula óbvia — mas
Parabéns, por terem trazido a revista
todos vocês. Desejo sucesso na trajectória. eficiente —, o consultor Vicente Falconi se tornou uma espécie de oráculo de
alguns dos maiores empresários do país. Entenda por que Jorge Paulo Lemann,
Jorge Gerdau e Pedro moreira Salles escutam quando ele fala
EXAME para Angola!
Cláudia Vassalo Abigail Dressel
Directora da EXAME Brasil Chefe do Gabinete de Imprensa e Cultura
Irmã brasileira e portuguesa Embaixada dos
Os maiores sucessos à empreitada da Apreciador da revista EXAME, tanto da ver- Estados Unidos da América
revista EXAME e à sua liderança do mer- são brasileira, quanto da portuguesa, fico
cado. Como angolano, sinto-me honrado satisfeito com o arrojo do grupo MediaNova
pelo surgimento de iniciativas que digni- em lançar a edição angolana. Demonstra A sua opinião é importante!
fiquem o nosso país, trazendo boas práti- a viabilidade do mercado e a necessidade
cas e métodos ao nosso mercado. de diversificar a oferta. Envie as suas sugestões e críticas para:
Mário Cruz Norberto Benjamim info@exameangola.com
Director do BPA Funcionário Público

maio 2010 | 9
PrimeiroLugar
angola essencial. pequenas notícias sobre um grande país

Carlos Moco

Carlos Moco
consumo

N’Gola superstar
A marca de cerveja já existe há 34 anos e é A festa de apresentação da nova imagem,
das que têm maior notoriedade em Angola. decorreu no Chill na Ilha de Luanda e contou
A cerveja é produzida na Huíla, sendo uma com as actuações da cantora Pérola e de um
referência no sul de Angola, onde estão os grupo de 60 bailarinos que animaram a
consumidores mais fieis. Segundo eles a noite com exibições de kuduro, kizomba e
N’Gola é uma cerveja especial porque é semba. A sessão de boas vindas ficou a
produzida com a água captada na nascente cargo de Samuel Jerónimo, presidente
da fenda da Tundavala. executivo da Sabmiller Angola, e de Luís
Foi decerto a pensar nisso que os donos – Fernandes, director de marketing.
o grupo sul-africano Sabmiller, um dos A dupla fez a apresentação da nova garrafa
maiores do mundo, detentor, entre outras, de 330 ml assim como do restyling do
das cervejas Miller, Castle, Peroni e Grolsch logótipo e do rótulo. “A N´Gola é uma marca
– decidiram apostar forte na N´Gola e jovem. Tem um logotipo elegante, moderno
transformar a marca regional em nacional. e apelativo. E a garrafa, não retornável, tem
Segundo os responsáveis, a fórmula da curvas sexy”, afirmaram divertidos.
cerveja manteve-se inalterável. O que Durante a festa foi também apresentado o
mudou foi a embalagem e o logotipo. video promocional, sofisticado a nível
O objectivo é, numa primeira fase, ganhar tecnoloógico, da cerveja que apela ao
quota de mercado em Luanda e nas coração dos angolanos (de referir que A festa da N´Gola
províncias do Norte. Numa segunda fase “N´Gola” é a antiga designação bantu de foi ao estilo de
chegar a todas as províncias. Faz “Angola”). A promoção da marca está a ser Hollywwod.
igualmente parte dos planos de expansão apoiada por uma forte campanha de “N´Gola é Angola”
Carlos Moco

da Sabmiller a internacionalização da marca marketing e publicidade, que inclui é o slogan


para os países vizinhos. televisão, rádio, imprensa e outdoors.

O baixo investimento na agricultura foi a principal


razão para a fome e a má nutrição em África
Jacques Diouf, director-geral da FAO durante a 26ª Conferência Regional realizada em Luanda

10 | www.exameangola.com
Krugman
Mais um Prémio Nobel em Angola
Paul Krugman é um economista que desperta amores e ódios na Academia.
No plano profissional, Krugman foi consultor do Banco da Reserva Federal de
Nova Iorque, do Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional, das Nações
Unidas e da Comissão Europeia. Actualmente é professor de Economia e Rela-
ções Internacionais na Universidade de Princeton. Foi galardoado, em 2008,
com o Prémio Nobel da Economia “pela sua análise dos padrões do comércio
e da localização das actividades económicas”. Virá a Luanda para animar um
seminário no dia 24 de Junho no Centro de Convenções de Talatona, organi-
zado pelo FACIDE e em que a revista EXAME é media partner. Estarão tam-
bém presentes neste Fórum de Estratégia e Competitividade, o
Ministro da Coordenação Económica, Manuel Nunes
Júnior; o presidente da ANIP Aguinaldo Jaime
e os professores universitários Manuel Alves Krugman gosta de ir
da Rocha, Carlos Rosado Carvalho e Jorge “contra a corrente”.

MIKE CLARKE ©AFP


Vasconcellos e Sá. Imperdível. Foi critico de Bush e
da “nova economia”
PrimeiroLugar
conferência
Constituição
em debate

Carlos augusto
“Os Grandes Desafios da Nova Cons-
tituição de Angola” foi o tema esco-
lhido para a primeira conferência Nuno Serôdio, administrador da Fil — Tubos Angola (à esquerda): “Queremos exportar para África”
realizada pela firma angolana de advo-
gados LCF e a portuguesa SRS que indústria
juntou no Hotel de Convenções de
Talatona os especialistas do ramo. Fábrica de tubos plásticos de parabéns
O evento teve como principal ora-
dor o constitucionalista português O vice-ministro de Geologia, Minas e Indústria, A FIL — Tubos Angola, que apenas tem pos-
Marcelo Rebelo de Sousa, que salien- Kiala Gabriel, e o coordenador da Agência Nacio- tos de distribuição em Luanda e no Lobito, pre-
tou ser importante que a nova Cons- nal de Investimento Privado, Aguinaldo Jaime, tende expandir para as outras províncias do país
tituição angolana não se transforme visitaram a fábrica de tubos plásticos FIL — Tubos e exportar para mercados em África. Recorde-
num factor de discórdia, “O grande Angola (foto acima), localizada na zona industrial -se que a empresa angolana é uma filiada do
desafio é não se começar a falar já da do município de Viana, que começou a ser erguida grupo Fersil, que emprega 300 pessoas em Por-
revisão da Constituição”, esclareceu. em 2008, numa área total de 80 mil metros qua- tugal e Espanha. O grupo ibérico tem uma fac-
Durante a sua intervenção, Marcelo drados, com um investimento de 20 milhões de turação anual de 120 milhões de dólares. A Fil
Rebelo de Sousa argumentou ainda dólares e serve o mercado nas áreas da constru- — Tubos Angola conta com 100 trabalhadores,
que entre os desafios mais imedia- ção civil, infra-estruturas e rega agrícola. dos quais 80 são angolanos e 20 estrangeiros.
tos na aplicação da Lei Magna estão
a estabilidade constitucional, a legi-
timação, a concórdia institucional e a Banco
pedagogia. O evento contou com a
presença do procurador-geral da Caixa Totta quer estar nos dez maiores
República, João Maria de Sousa, o con-
selheiro do Tribunal Constitucional, O Banco Caixa Totta (BCT) resulta da reestrutu- cária privada mais antiga do pais, com 11
Anofre dos Santos, o bastonário da ração do Banco Totta de Angola (BTA). Com 109 agências (sete das quais em Luanda). Registou
Ordem dos Advogados, Inglês Pinto, milhões de dólares de capital social, a nova ins- no ano passado um crescimento de 35,76% em
entre outras figuras. tituição conta com a participação da Sonangol, depósitos (que corresponde a uma quota de
EP (24%), da Sonangol Holding, Lda. (1%) e da mercado de 1,7%) e 8,15% no crédito a clientes
Partang (51%), uma empresa detida pela Caixa (quota de 1,3%). O banco encerrou o ano pas-
O professor Geral de Depósitos e pelo Banco Santander, em sado com um activo total de 768 milhões de
Marcelo Rebelo partes iguais. António Mosquito e Jaime Freitas dólares e um resultado líquido de 45 milhões
de Sousa diz que também participam na estrutura accionista, cada (aumento 63% face ao ano anterior). Com a nova
a Constituição qual com 12%. Daniel Chambel lidera a comissão marca, a intenção é posicionar o BCT no top ten
é ambiciosa executiva, constituída por Santos Domingos dos bancos angolanos. Durante este ano, o número
(vice-presidente), Mário Nélson e Valentim Bar- de agências crescerá para 21 e a rede comercial
bieri. Recorde-se que o BTA é a ins- abrangerá todas as províncias. Laranja, amarelo
tituição ban- e azul são as cores do BCT que traduzem os valo-
divulgação

res da nova instituição: tradição, rigor e con-


fiança. “Uma conduta, uma
voz, uma identidade, um
objectivo e uma ambição”
são os pontos-força do BCT.
daniel Miguel

O banco vai abrir mais dez


agências ao longo de 2010

12 | www.exameangola.com
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Os vencedores são...
Mais parcerias
Os responsáveis do sector imobiliário estiveram
com África do Sul em peso na primeira edição do Salão Imobiliário
de Angola (Sima), que decorreu nas instalações
Empresários sul-africanos estiverem da Filda, em Luanda. Co-organizado pela Asso-
a debater, em Luanda, as oportuni- ciação dos Profissionais Imobiliários de Angola
dades de investimento em diferentes (Apima) e a Feira Internacional de Luanda (FIL),
sectores da económia angolana, numa o Sima decorreu de 6 a 9 de Maio e contou com
iniciativa da Parceria de Infra-Estru- a participação de 103 expositores. No final do
turas para o Desenvolvimento Afri- evento, a organização distinguiu as melhores
cano (IPAD). Segundo o secretário de participações no certame. Foram premiadas as
Estado para a Indústria, Kiala Gabriel empresas do sector imobiliário Escom (Melhor
“os 11 pólos industriais do país esta- Stand Sima 2010); a LR Grupo (Melhor Projecto
rão abertos ao investimento privado Social) e a província de Benguela (Melhor Repre-
e contribuirão para o desenvolvimento sentação Provincial). Foram distinguidos com
das regiões onde estão inseridos”. O menções honrosas os governadores das provín-
director executivo da Câmara do cias do Kwanza-Norte, Huambo, Benguela e de

Daniel Miguel
Comércio África do Sul/Angola, Roger Luanda, Henriques Júnior, Faustino Muteka,
Ballard-Tremeer, disse que “os empre- Armando da Cruz Neto e Francisca do Espírito
sários sul-africanos estão especial- Santo, respectivamente. Matos Cardoso: presidente da FIL, em Luanda
mente bem preparados para investir
na exploração de petróleos e energia
eléctrica. Recordou que existem par-
cerias em curso entre os dois países
como a indústria de tubos e a fábrica
que fornece gás industrial. O desen-
volvimento da cooperação regional,
assim como o papel dos corredores
logísticos na promoção do comércio,
foram outros temas em foco durante
o 2.º Fórum IPAD.

carlos augusto
Conferência no Belas: Angola vai assumir a presidência regional da FAO, nos próximos dois anos

fao
Fome de soluções
Os ministros da Agricultura de África estiveram Sob o lema “Investir na agricultura em África
reunidos, em Luanda, na 26.ª sessão da Confe- para uma segurança alimentar sustentada”, a
rência Regional da FAO, na busca de estratégias Conferência de Luanda serviu também para
para o desenvolvimento da produção agrícola e Angola assumir, durante os próximos dois anos,
da segurança alimentar no continente. Questões a presidência regional do Fundo das Nações Uni-
como as mudanças climáticas, a reforma do das para a Alimentação e Agricultura (FAO). O
Kiala Gabriel, comité de segurança alimentar, o grau de cum- seu director-geral, o senegalês Jacques Diouf,
secretário primento das recomendações da última confe- alertou na abertura da Conferência, para o facto
de Estado rência que se realizou em Nairobi, Quénia, de apenas nove países africanos terem atribuí-
carlos augusto

para a Indústria mereceram a atenção dos cerca de 400 partici- do 10% do orçamento ao sector agrário, um com-
pantes que se deslocaram ao nosso país. promisso assumido pela União Africana em 2003.

14 | www.exameangola.com
PrimeiroLugar
MUNDIAL DE FUTEBOL
CURTAS Messi no Lubango...
luanda
hospital do caxito recuperado A cidade do Lubango foi o palco escolhido pela
A construtora Edifer Angola e o CISA selecção da Argentina para o seu último estágio
(Centro de Investigação na área da antes da participação no Mundial da África do Sul,
Saúde em Angola) formalizaram um que começa a 11 de Junho. Segundo o encarre-
acordo para a reconstrução do
gado de negócios da Embaixada da África do Sul

JUAN MABROMATA ©AFP


laboratório do Hospital do Caxito,
localizado 60 quilómetros a norte de
em Angola, a selecção azul-celeste optou pela
Luanda, avaliada em 500 mil dólares. província da Huíla dado que a cidade de Joanes-
burgo, onde jogará na primeira fase, tem caracte-
huíla rísticas semelhantes às do Lubango ao nível da
mais hotéis no lubango altitude. Outra razão é a qualidade das infra-estru- Tundavala construído de raiz para o CAN, e ainda
O ministro da Hotelaria e Turismo, turas já testadas durante o CAN. Messi e compa- uma rede hoteleira renovada à altura das neces-
Pedro Mutindi, anunciou, na cidade do nhia vão ter à sua disposição o novo Estádio da sidades dos pupilos de Diego Armando Maradona.
Lubango, a construção de 14 hotéis,
com 50 quartos cada um, nos
municípios que compõem a província
da Huíla, no âmbito do programa
de expansão da rede hoteleira solidariedade
que o governo pretende
implementar ate 2012.
... Zidane em Benguela...
lunda-sul Os amigos de Akwá, ex-capitão dos Palancas
Preço do quilate sobe Negras, e do internacional português Luís Figo
A Sociedade Mineira de Catoca (SMC) vão realizar uma partida de carácter solidário
registou um aumento entre 49 e 70 na província de Benguela, no próximo dia 15 de
dólares no preço de venda do quilate Maio, em saudação ao 393.º da cidade. A receita

Canal+ / The Kobal Collection ©AFP


de diamantes, informou director- do jogo, que vai contar com a participação de
geral da empresa, José Manuel Ganga antigas estrelas do futebol como Romário, Zidane,
Júnior, que falava no acto provincial Frank Rijkaard, Desailly, Chiquinho Conde, Abel
alusivo ao Dia Nacional do Xavier, entre outros, vai reverter a favor de um
Mineiro e das festividades
lar da terceira idade e da Aldeia CS Criança.
do 15.º aniversário da empresa.

NAMIBE
um Porto de diamante
O Porto do Namibe foi distinguido, IMOBILIÁRIO
este mês, com o International Star
Aword for Qualitiy, na categoria de ... Pelé na Cidade Alta
Diamante, pela Business Initiative
Directions (BID). O prémio, atribuído O rei Pelé voltou a Angola para promover o complexo habita-

FRANCK FIFE ©AFP


anualmente, destina-se a reconhecer cional Bem Morar, dirigido à classe média, que foi inaugu-
a excelência empresarial e foi rado em Benfica. O astro não é apenas o rosto do
entregue em Paris. marketing da empresa Build Brasil. Ele é também um dos
investidores, o que justificou o facto de ter sido recebido,
com pompa e circunstância, pelo Presidente da República, José
Eduardo dos Santos, no Palácio Presidencial. Aguinaldo Jaime,
coordenador da comissão de reestruturação da Agência Nacional
de Investimento Privado (ANIP), que acompanhou Pelé e a delegação bra-
sileira à Cidade Alta, disse que Angola está a ter uma preciosa ajuda da estrela do
futebol. “Quando Pelé vem a Angola e aceita emprestar o seu nome a vários pro-
o país

jectos, está a fazer a promoção da marca Angola em todo o mundo”, afirmou.
 No


dia 21 de Maio, no Huambo, será lançado o segundo condomínio “Bem Morar”.

16 | www.exameangola.com
GrandesNúmeros
para saber ler os sinais de uma economia em mudança

Os campeões da liberdade económica


Angola registou uma ligeira melhoria e está no 154.º lugar entre 183 países no ranking da liberdade
económica da Heritage Foundation. A nível continental ocupa o 33.º lugar entre 46 nações
Desvio
face à média
Angola obteve a classificação geral de 48,4 , o que representa uma subida de 1,4 ACIMA DA MÉDIA
pontos face ao ano anterior. A melhoria mais significativa ocorre na liberdade de Liberdade Fiscal 85,1 +9,7
investimento. A corrupção continua a ser a principal causa do mau desempenho Explicação As receitas fiscais
representam 6,2% do PIB.
Os impostos individuais são baixos
As notas de angola (máximo 15%). Os que incidem sobre
empresas são altos (Max:35%)
Média
A escala vai do 0 aos 100 (nota máxima)
EM LINHA COM a MÉDIA *
Liberdade fiscal 85,1 Gastos do Governo 62,8 -2,4
Explicação Gastos representam
Gastos do Governo 62,8 35,2 do PIB o que é um valor aceitável
Liberdade de comércio 70,4 Liberdade Comércio 70,4 -3,8
Explicação Restrições
Liberdade monetária 62,6 às importações e os custos
de desalfandegamento
Liberdade financeira 40

Liberdade de investimento 35
ABAIXO DA MÉDIA
Liberdade Monetária 62,6 -8
Liberdade detrabalho 45,2 Explicação Taxa de inflação
média foi de 12,5 entre
Liberdade de negócios 43,4 2006 e 2008
20 Direitos de propriedade Liberdade Financeira 40 -8,5
Explicação Inauguração da Bolsa
19 Nível de corrupção de Luanda continua adiada
Liberdade Investimento 35 -14
Explicação As restrições
ao investimento estrangeiro
Melhores do mundo ainda são elevadas
liberdade de trabalho 45,2 -16,9
Maurícias são um paraíso africano, Hong-Kong é a mais livre do mundo
Explicação Leis do trabalho
restritivas e elevado custo
Ranking África Ranking Mundial dos despedimentos
Mauricias 76,3 Hong Kong 89,7 Liberdade negócios 43,4 -21,2
Botswana 70,3 Singapura 86,1
Explicação Criar um negócio
demora 68 dias versus a média
Madagáscar 63,2 Austrália 82,6 mundial de 35 dias.
África do Sul 62,8 Nova Zelândia 82,1 Direitos de Propriedade 20 -21,5
Uganda 62,2 Irlanda 81,3 Explicação O sistema legal
Namíbia 62,2 Suiça 81,1
e judicial é ineficiente.
Registo de propriedade é caro
Cabo Verde 61,8 Canadá 80,4
nível de Corrupção 19 -21,5
Gana 60,2 Estados Unidos 78,0
Explicação O próprio Presidente da
Burkina Faso 59,4 Dinamarca 77,9 República já alertou para o problema
Ruanda 59,1 Chile 77,2 * Quando o desvio é inferior a cinco pontos.

Fonte: The Heritage Foundation (www.heritage.org).

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dezembro 2009 | 19
capa Expo XANGAI

Angola
SEDUZ China
Fruto da relação de amizade e cooperação com os chineses,
Angola investiu cerca de 10 milhões de dólares na Expo Xangai.
Albina Assis, a comissária nacional explica por que valeu a pena
Jaime Fidalgo

‘‘
D
ia 30 de Abril de 2010. Abertura oficial -se de uma sala para 24 pessoas, onde está a ser exi-
do Pavilhão de Angola, na Expo Xangai. bido um filme a três dimensões sobre as paisagens de
Abrimos as portas do pavilhão às 11h30 Angola, que narra a história de um casal chinês que
e demos assim início à maior participa- ganha uma viagem turística ao país como prenda
ção de sempre de Angola em exposições mundiais. de casamento. “Chamamos-lhe Angola 4D porque a
O pavilhão fechou por volta das 21h30, com o registo quarta dimensão é a sensorial. O espectador imagina
de 2750 visitantes. No dia seguinte, recebemos 8890 que está no local. Por exemplo, quando surgem as ima-
visitas, mais do triplo das verificadas no dia anterior. gens das quedas de Kalandula, as cadeiras tremem e
O espaço Angola 4D continua a ser a atracção mais os espectadores sentem as gotas de água”, diz Albina
procurada pelo público, registando grandes filas de Assis, comissária nacional para a Expo Xangai 2010.
espera. Os shows foram superanimados. Os visitantes
gostaram da música e ficaram muito interessados em
aprender as nossas danças. Ontem, foi aberta a expo-
sição do artista plástico angolano Leutério Sanches,
que também foi muito apreciada.”
Este foi o relatório enviado à EXAME pela equipa
angolana que está no terreno, durante 148 dias, a dar o
seu contributo para que a presente Expo seja a melhor
GUIA PRÁTICO
de sempre. A julgar pelo que aconteceu nos primeiros Localização do Pavilhão
dias, esse objectivo deverá ser atingido. Os visitantes Zona C (ao lado dos pavilhões da Argélia e Nigéria)
Área 1000 metros quadrados
têm elogiado a arquitectura moderna e arrojada do
Investimento 10 milhões de dólares
pavilhão, inspirada na planta do deserto Welwitschia Número de visitantes estimado 4,8 milhões
mirabilis, espécie rara e endémica do Sul de Angola. Número de visitantes (1.º dia) 2750 visitantes
Recorde-se que a construção do pavilhão foi entregue Datas da exposição 1 de Maio a 31 de Outubro
à Spice Idea, ao passo que a decoração esteve a cargo Participações de angola Sevilha, Espanha (1992),
da Lunatus, de Barcelona. A empresa catalã é também Lisboa, Portugal (1998), Nagoya, Japão (2005),
a responsável pelo Angola 4D acima referido. Trata- Saragoça, Espanha (2008), Xangai, China (2010)

20 | www.exameangola.com
Albina Assis
Africano:
Kamene traça

“Temos a
obrigação
de fazer melhor
do que em 2008,
em Saragoça”
capa Expo XANGAI

A componente dos negócios não foi esquecida. O


pavilhão tem um business center, construído em par-
ceria com a ANIP — Agência Nacional de Investi-
mento Privado e a Associação Industrial de Angola,
onde o visitante encontrará documentação actuali- Visita guiada
zada sobre oportunidades de negócios em todas as
O recinto ocupa 1000 metros quadrados, prevendo-se que possa
províncias do país. Os potenciais investidores têm a
ser visitado por cerca de 5 milhões de visitantes. A construção
oportunidade de ver vídeos promocionais que espe- foi entregue à Spice Idea e a decoração foi da responsabilidade
lham o crescimento económico de Angola e as priori- da Lunatus, uma empresa especializada de Barcelona, Espanha.
dades em termos de parcerias, nomeadamente no que
diz respeito à indústria, agricultura, turismo e ener-
gias renováveis. Como o tema desta Expo é dedicado
às cidades sustentáveis (“Better City, Better Life” — 1
“Melhores Cidades, Melhor Qualidade de Vida”) a
comunicação dá ênfase ao sector imobiliário. Para
dinamizar os investimentos estrangeiros no sector
foi elaborada uma brochura em três línguas — por-
tuguês, inglês e chinês — com toda a legislação ango-
lana sobre urbanismo e habitação.

Imagens: divulgação
Uma montra mundial para a cultura angolana
A cultura é, no entanto, o principal ingrediente das
exposições mundiais. Tal preocupação é visível logo
Exterior do pavilhão
à entrada do Pavilhão de Angola, onde surgem as
A arquitectura, moderna e arrojada, onde pontificam os folhos coloridos, é
imponentes colunas com estátuas da Rainha Ginga inspirado na Welwitschia mirabilis, um símbolo de Angola. A entrada tem
e do Rei do Congo, da autoria do artista angolano um painel gigante com imagens das dunas no deserto e da própria planta.
conhecido como Mestre Makiese (veja caixa “Visita Mas a grande referência são as duas colunas com as imponentes estátuas
guiada”). No interior do pavilhão, a primeira área, inti- da Rainha Ginga e do Rei do Congo.
tulada “Angola Antiga”, procura mostrar ao mundo
que o país já detinha cidades organizadas e um povo
com uma cultura forte e diversificada, antes da che-
gada dos colonizadores portugueses. Destacam-se as
imagens de arte rupestre e a réplica da igreja ancestral
2 Angola antiga
O visitante pode
erguida em Mbanza Kongo, a actual capital da pro- observar painéis
que arte rupestre
víncia do Zaire. “Trata-se da representação exacta da
que provam que
primeira igreja erguida a sul do Equador, na África Angola é habitada
Negra”, esclarece Albina Assis. desde há milhões de
No átrio seguinte, num contraste de belo efeito visual, anos. Destaque para
surge a área “Angola Moderna”, onde são expostas as os reinos antigos,
grandes construções e infra-estruturas, muitas delas em especial o Congo
feitas em parceria com técnicos chineses, tais como e o NDongo.
pontes, estradas, portos, aeroportos e hospitais.

Catedral do
3
Angola já tinha
kulumbimbi
A réplica das

cidades organizadas
ruínas de uma das
catedrais mais

e uma cultura rica


antigas de África,
localizada no

antes da chegada
M’Banza Congo,
assinala a entrada

dos colonizadores
na área da “Angola
Moderna”.

22 | www.exameangola.com
4 Zona institucional 9 Business center
Construído com a colaboração da Agência Nacional de Investimento
Inclui os dados Privado e da Associação Industrial de Angola, fornece documentação
essenciais sobre o país actualizada sobre as oportunidades de negócios em todas as províncias.
e os seus principais
órgãos de soberania,
em particular,
o Presidente
da República. 10 História da moeda
Do zimbo (búzio
do tamanho de um
Responsabilidade
Social
Painel sobre
bago de café, que o que as empresas
serviu como moeda) fazem de positivo
Campo e cidade
O constraste
5 à macuta (moeda de
cobre), ao angolar, ao
pelos trabalhadores.

entre a Angola rural


e a urbana, um tema
escudo e, finalmente,
ao kwanza.
11
em foco na presente
edição da Expo Xangai

12
dedicada à qualidade
de vida nas cidades.

Natureza e ecologia

6
Área económica
Destaque para os esforços feitos para salvar
a palanca negra gigante, símbolo nacional
e uma espécie que corre risco de extinção.
A descrição
das principais
riquezas do país
desde a indústria,
à agricutura,
transportes,
pescas e turismo.
13 14 Bar e
restaurante
Espaço de

7 Animação 4 D
Chama-se Angola 4D porque, além da
Galeria de arte
Obras variadas,
em particular
degustação de
comida angolana
passagem de um filme sobre as belezas preparada pelo
a pintura e chefe do Miami
naturais de Angola em 3D, o visitante terá
escultura, Beach.
uma dimensão adicional: a de se imaginar
da autoria
dentro do filme e de sentir as experiências
de artistas
como se estivesse realmente no local.
angolanos.

8 Stands Sonangol e Endiama


As maiores empresas nacionais
15 Área desportiva 16 Palco de
diversões
nos dois sectores importantes Imagens dos atletas Vários artistas
da economia — petróleo e mais conceituados nacionais vão
diamantes – têm direito a uma (caso dos campeões animar este
zona própria. No pavilhão da africanos de espaço de festa
Sonangol pode ficar a saber tudo basquetebol) e e divulgação
sobre petróleo. No da Endiama dos quarto novos da cultura
a atracção é o diamante virtual. estádios de futebol. angolana.
capa Expo XANGAI

Comissão Nacional para a expo 2010 xangai-china / Expo angola 2010


Imagens do dia Mais uma vez a cultura não foi esquecida. Existe
da abertura da uma galeria de arte, onde serão expostas várias peças
exposição, onde de artes plásticas, fotografia e artesanato. Há ainda um
o Pavilhão de espaço dedicado ao entretenimento, um restaurante de
Angola recebeu
2750 visitantes
pratos típicos de Angola e o Mussulo Bar no qual está
montado um palco. O “prato forte” serão as actuações
ANGOLA DÁ SHOW
musicais ao vivo. Haverá animações permanentes por 25 de Maio — Dia de África
parte de artistas angolanos que vão actuar no pavi- A primeira caravana de artistas que participarão na
lhão por um período de 15 a 20 dias. Nos dias espe- Exposição Mundial de Xangai vai exibir-se de 18 a 29
ciais (veja caixa “Angola dá show”) haverá “caravanas deste mês para assinalar o Dia de África (25 de Maio).
artísticas” com shows ao vivo dos melhores músicos Será composta pelos músicos Paulo Flores, Big Nelo, Ary,
angolanos da actualidade. A primeira dessas carava- Nanutu, Agre G, o grupo Kituxi e ainda o cabo-verdiano
nas vai actuar já este mês. Tito Paris e o guineense Manecas Costa.
Para comemorar o Dia de África (25 de Maio) está
1 de Junho — Dia da Criança
agendada a actuação de Paulo Flores, Big Neto, Tito Está prevista uma delegação de músicos infantis,
Morais e Manecas Gomes. Lina Alexandre, Pérola, que integrará o pequeno kudurista Alegria, os grupos
Gabriel Xiema, as Gingas, a Orquestra Sinfónica das de violinos Kapossoka, da Samba, Malta da Paz e da Alegria,
Crianças, Bonga, Nanutu, Agre G, Yuri da Cunha, Young Game, Helga Santos e Milu.
Margareth do Rosário são outros dos artistas con-
vidados. “Estarão presentes os principais nomes do 31 de Julho — Dia da Mulher africana
semba e do kuduro. Há que divulgar os kuduristas, Para comemorar a efeméride, o certame vai contar
um estilo que nasceu em Angola e está a conquistar com a presença da ministra da Família e Promoção
os mundo”, diz a comissária nacional com indisfar- da Mulher, Genoveva Lino. A caravana cultural inclui
çável orgulho. as cantoras Pérola, Yola Semedo, Patrice Ngangula, Noite
e Dia, Gabriel Tchiemba, Matias Damásio, Semba Muxima
No seu conjunto, o recinto de Angola ocupa 1000
e o grupo feminino de precursão da Celamar.
metros quadrados (o dobro da Expo de Saragoça, em
2008), prevendo-se que possa ser visitado por cerca 26 de Setembro — Dia de Angola
de 4,8 milhões de visitantes (um acréscimo de 20% Estarão presentes os músicos Bonga, Yuri da Cunha,
face aos 4 milhões registados em Espanha). O valor Margareth do Rosário e Danny L, o grupo de dança
do investimento, segundo confidencia Albina Assis, Kilandukilo, As Gingas do Maculusso, os modelos
deve rondar os 10 milhões dólares. da agência Step Models e a estilista Lucrécia Moreira.

24 | www.exameangola.com
fec
24 de Junho | Centro de Convenções do Talatona
fórum
estratégia e
competitividade

programa key note speakers


9hoo :
CRESCiMENTo Professor Paul Krugman
VS DiSTRibUição Do RENDiMENTo Prémio Nobel da Economia
Key Note Speaker: Professor Manuel Alves Um dos mais aclamados top contributors das políticas económicas
da Rocha mundiais, líder em economia internacional.

9h40 : - Professor de Economia da Universidade de Princeton


AbC. PolíTiCA ECoNóMiCA ANgolANA: - Vencedor da medalha John Bates Clark da American Economic As-
AS liçõES DA CRiSE sociation para “Melhor economista com menos de 40 anos“
Key Note Speaker: Professor Carlos Rosado - Nomeado “mais importante colunista americano”pela Washington
de Carvalho Monthly e “Colunista do ano” pela Editor and Publisher magazine.
- Membro do President’s Council of Economic Advisors.
10h20 :
oN CARViNg SUCESS oUT of ThE CRiSE. Professor Manuel Alves da Rocha
“ WhAT PETER DRUCKER WoUlD hAVE
TolD US” Conferencista; Investigador e consultor económico; Professor
Key Note Speaker: Jorge Vasconcellos e Sá Associado na Universidade Católica de Angola; Licenciatura em
Economia (ISEG), Pós-graduações (modelos económicos e práticas
11h45 : económicas restritivas - França).
Questões e Respostas
Carlos Rosado de Carvalho
12h30 :
Apresentação da obra “Drucker on Carving
Sucess out of the crise. What Peter Drucker
would have told us” de
Docente na Universidade Católica de Angola,
Jorge Vasconcellos e Sá
Director da revista EXAME, Luanda.
11h45 : Almoço
Jorge A. Vasconcellos e Sá
14h00 :
CoMPETiTiViDADE NACioNAl
Conferência i MBA Drucker School
Key Note Speaker : PhD Columbia University
Dr. Aguinaldo Jaime Cátedra Jean Monet

15h30 : Dr. Aguinaldo Jaime


CoMPETiTiViDADE NACioNAl
Conferência ii
Key Note Speaker : Professor Manuel Presidente da Agência Nacional para o Investimento Privado
Nunes Júnior
Ex Governador do Banco Nacional de Angola e Ministro das
Finanças
16h00 :
Questões e Respostas
Professor Manuel Nunes Júnior
16h40 – 18h30
CoMo CoNSTRUiR UMA ECoNoMiA foRTE Ministro da Coordenação Económica
Key Note Speaker : Professor de Economia da Universidade Agostinho Neto
Paul Krugman, Prémio Nobel da Economia Ph.D em Economia pela York University - UK
e autor de “The Returnof Depression Mestre em Economia Internacional pela Universidade de Essex
Economics and the crisis of 2008”
help Desk 222 326 650 CoMo CoNSTRUiR
924 843 882 iNSCRiçõES liMiTADAS: UMA ECoNoMiA
924 650 174 Uma iniciativa direccionada foRTE
a gestores de topo, a classe Professor Paul
www.facide.com empresarial e decisores políticos. Krugman
facide@facide.com

ThINK TANK: TrAINING EXECUTIVE MANAGErS: MEDIA PArTNErS:


capa Expo XANGAI

Apesar de se estar a entregar ao projecto de alma e


coração, Albina Assis confessa que organizar a pre-
sença numa exposição mundial é uma tarefa muito
exigente. “Nem tudo corre como planeado. É pre-
ciso ser determinado, persistente e um bom negocia-
dor. Mas, por vezes, também é preciso ter paciência
e saber lidar com as adversidades”, diz. O relaciona-
mento como a organização nem sempre é fácil. “Mui-
tos países têm feito queixas devido aos problemas na
concessão de vistos, ao excesso de zelo relativamente
à segurança e ao elevado preço das construções. Mas
é visível que o governo chinês está fortemente empe-
nhado no sucesso desta exposição”, esclarece.

Falta de patrocinadores e apoios financeiros

Kamene traça
Angola sentiu dificuldades acrescidas porque não pla-
neou a participação no evento com a antecedência
devida. “Fizemos a inscrição tardia. Para mais, desta
vez , não era suposto eu ser a comissária nacional. Só
A jovem equipa Aos que julgam ser um valor elevado, Albina Assis que os prazos começaram a derrapar e eu lá acabei
de Albina Assis responde: “Não creio que seja caro. Na Expo do Japão, por ser nomeada novamente. Só entrei oficialmente
está confiante: em 2006, Angola estava num pavilhão comum, ao passo em funções em Julho de 2009, ou seja, dez meses antes
“Será a melhor que a Nigéria, por exemplo, construiu um recinto pró- da inauguração, o que é um prazo muito curto para
participação prio no valor de 40 milhões de dólares. Em Saragoça, planear todos os detalhes.” Apesar de, a nível insti-
de sempre” em 2008, já construímos um pavilhão individual que tucional, a Comissão incluir representantes de vários
custou cerca de 4 milhões de dólares. Agora, na China, organismos públicos, a equipa que trabalha no terreno
numa altura em que o país tem uma economia mais (ver foto à esquerda) é composta maioritariamente
forte e que está a ganhar outra projecção internacional por jovens dedicados e entusiastas. “Há 30 pessoas
nós tínhamos de fazer mais e melhor.” A comissária a trabalhar na Comissão. Curiosamente, o director
explica porquê: “A China é um parceiro privilegiado do nosso pavilhão é um angolano que vive na China.
de Angola. As relações de amizade e cooperação com Também vamos ter de recorrer aos serviços de profis-
os chineses têm produzido resultados visíveis. A Expo sionais chineses para a tradução”, esclarece.
Xangai é uma grande oportunidade para dar a conhecer Paralelamente, Albina Assis queixa-se que tem tido
o país na vertente cultural, económica e social e para dificuldades em honrar os compromissos financeiros.
promover a riqueza e a diversidade do seu povo.” Os “Temos algumas dividas por pagar a fornecedores.
benefícios ao nível da imagem externa também foram Ainda só nos disponibilizaram 50% do orçamento”,
enfatizados por Albina Assis. “Não podemos esque- lamenta. Os apoios também escasseiam por parte dos
cer que hoje Angola tem responsabilidades acrescidas privados. “Apenas recebemos patrocínios financeiros
ao nivel de África e do mundo. A título de exemplo, da Sonangol e da Endiama, que, aliás, têm um espaço
a SADC (Comunidade para o Desenvolvimento da próprio no interior do pavilhão. Foram solicitados
África Austral) pediu-nos para sermos nós a organi- pedidos de patrocínio a outras entidades e empresas
zar o dia dessa instituição”, justifica. privadas que não tiveram resposta.” Outro ponto que
Albina Assis critica é a falta de pacotes de viagens a
preços acessíveis. “Gostava de ver mais angolanos a
Temos de ter uma visitar a Expo. Infelizmente, a Taag subiu o preço das
tarifas. As agências de viagens têm de se entender com
presença condigna. a Taag de modo a oferecer pacotes atractivos para os
visitantes angolanos”, argumenta.
Hoje, Angola tem Tais problemas serão decerto esquecidos finda mais
uma exposição mundial onde Angola terá deixado a sua
responsabilidades marca de originalidade e riqueza cultural. A próxima

acrescidas no mundo será realizada na Coreia. Com Albina Assis? “Quem


sabe”, diz a comissária com um sorriso largo. b

26 | www.exameangola.com
capa Expo XANGAI

A DAMA DE XANGAI
Os engenheiros são conhecidos pelo seu rigor e paixão pelos números. à cultura não é, no entanto, estranha a Albina Assis,
Albina Assis é engenheira de formação e passou grande parte da sua conhecida pela simpatia, profissionalismo e frontalidade
carreira no sector dos petróleos. No início da sua carreira foi com que encara os desafios. A própria confessa que
professora de Físico-Química. Esteve oito anos no Laboratório gosta de poesia e chegou a fazer teatro na
Nacional de Saúde Pública. E foi engenheira da refinaria de juventude. Também gosta muito de música.
petróleos da antiga Fina (hoje Total), onde trabalhou “Sou fã de Carlos Burity”, confessa.
durante dez anos. O seu talento não passou A sua entrada no mundo das
despercebido à Sonangol, onde chegou a presidente exposições sucedeu por acaso. “Fui
do conselho de administração em 1991. Em visitar a Expo de Hanover, na
Dezembro do ano seguinte, foi nomeada ministra dos Alemanha, como ministra da Indústria
Petróleos, cargo que exerceu durante seis anos. Foi a e fiquei chocada pelo facto de Angola
primeira mulher nomeada ministra para uma área não estar representada.” A primeira
técnica. No ano 2000, passou a assumir a tutela da Expo, sob a sua liderança, foi a do
Indústria e a partir daí tornou-se conselheira do Japão. “Apesar de estarmos num pavilhão
Presidente da República para a Integração comum, tudo correu muito bem. A
Económica e Regional. interacção com a organização foi muito
A par dos cargos públicos, Albina fácil.” A melhor, no entanto, terá sido,
Assis nunca abandonou o seu segundo Albina Assis, a de Saragoça.
vínculo ao mundo académico. “Tivemos imensa sorte. Ficámos numa
Estudou a fundo as matérias zona movimentada em frente à entrada
relacionadas com o principal, por isso, registámos 4 milhões de
petróleo. Defendeu, com visitantes. Claro que havia muitos angolanos,
veemência, o muitos deles vindos de Lisboa, mas a maior
aprofundamento das parte dos visitantes eram estrangeiros. Recordo
relações de cooperação que houve angolanos que choraram quando
com a Noruega, pais visitaram o nosso pavilhão”, conta. Albina
que é considerado um Assis gosta do trabalho que faz,
caso exemplar de embora se queixe de algum
boa gestão dos cansaço. “Já não estava à espera
recursos petrolíferos. de ser nomeada para este cargo.
“A minha tese de Tivemos muito pouco tempo para
mestrado, desenvolvida preparar uma presença condigna.”
na Universidade Getúlio A sua determinação é elogiada pelos
Vargas, no Brasil, foi membros da sua equipa que destaca
sobre a gestão as suas artes de negociadora e a
sustentável do petróleo capacidade para obter consensos. Mas
bruto angolano. Foi escrita Albina Assis também não receia dizer o
em 2005, quando o caso da que pensa e exercer a sua autoridade.
horácio dá mesquita

Noruega ainda não era tão Recorda, por exemplo, uma célebre
conhecido. Os noruegueses greve na refinaria que teve de gerir com
colocam parte das receitas do pulso e mão de ferro. Sobre os alegados
petróleo num fundo soberano que gastos excessivos de Angola na Expo
reverte para as gerações futuras. Tantos anos, depois Angola vai Xangai, limita-se a desdramatizar.
finalmente seguir esse exemplo”, diz satisfeita. Exemplo que a “Angola tem de estar presente nos
Nigéria, por sua vez, não tem seguido. O país que parecia estar grandes eventos internacionais.
em vias de se tornar uma potência económica regional está hoje A China está na moda e Xangai é
mergulhado em dificuldades económicas e conflitos violentos. uma cidade cosmopolita.
Com tal currículo sempre associado a áreas técnicas, parece Chamam-lhe a sala de visitas
estranho que Albina Assis tenha sido nomeada comissária da China. Não podíamos
nacional para as últimas três exposições mundiais em que ficar de fora do evento”,
Angola participou: Japão, Espanha e agora China. A ligação justifica.

28 | www.exameangola.com
capa Expo xangai

Xangai
no centro do mundo
Já começou a maior exposição mundial de sempre dedicada ao tema
das cidades sustentáveis. Uma oportunidade de ouro para a cidade
de Xangai se posicionar como uma grande metrópole mundial.
Jaime Fidalgo

30 | www.exameangola.com
A MAIOR EXPO
DE TODOS OS TEMPOS
184 190 55 000
dias de Expo países táxis a
(até 31 de Outubro) participantes circular na cidade

70 000 000 22 420


de visitantes esperados dólares custa um bilhete quilómetros de linhas
(estimativa) para um dia normal de metropolitano

58 000 000 000 20 000 13 000


de dólares investidos espectáculos jornalistas registados
(estimativa) previstos para cobrir o evento

525 13 1 700 000


hectares de portas de entrada voluntários treinados
área ocupada no recinto para a Expo

LOGóTIPO
A imagem com três pessoas abraçadas
simboliza a grande família humana em
harmonia e felicidade. É inspirada no carácter
chinês que significa “mundo”.

MASCOTE
Inspirado num carácter chinês que significa
A cerimónia “pessoa”, a mascote chama-se Haibao (cuja
de abertura, tradução é “Tesouro do Mar”). O nome é fácil de
cujo anfitrião foi decorar e, segundo a tradição chinesa repleta
o Presidente Hu de superstições, é portador de boa sorte.
Jiantao, encheu
Shanghai Daily ©AFP

os chineses de
orgulho no país

O
s chineses já habituaram o mundo à sua ção da Expo Xangai, que já entrou na história como a
capacidade de mobilização para os grandes maior exposição mundial de sempre. Os chineses pul-
eventos. Os Jogos Olímpicos de Pequim de verizaram todos os recordes ao nível da área edificada
2008 foram unanimemente considerados (525 hectares), do número de visitantes (esperam-se 70
um dos melhores jamais organizados. O mundo tão milhões) e do orçamento. Os números oficiais dizem
cedo não esquecerá a monumental cerimónia de aber- que o governo investiu 4,2 mil milhões de dólares (o
tura no Estádio Olímpico, conhecido como o “Ninho dobro do que foi gasto com os Jogos Olímpicos). A
de Pássaro”, obra de grande complexidade técnica que imprensa diz, no entanto, que os verdadeiros custos
demorou três anos e meio a concluir. O ano de 2010 são de 58 mil milhões de dólares, incluindo os inves-
vai ser inesquecível para os chineses devido à realiza- timentos em infra-estruturas.

maio 2010 | 31
capa Expo xangai

SHANGHAI PACIFIC INSTITUTE ©AFP


A Expo Xangai Entre elas destaca-se a construção da maior rede A Expo Xangai ocupa mais de 5 quilómetros quadra-
é a maior em de metropolitano do mundo, de dois novos termi- dos (é 20 vezes maior do que a realizada em Saragoça,
termos de área nais de aeroportos e da requalificação da nova “mar- em 2008), ao longo das margens do rio Huangpo. No
ocupada, de ginal” junto ao rio Huangpo. Subordinada ao tema centro, está o monumental Pavilhão da China, o maior
orçamento “Melhor Cidade, Melhor Qualidade de Vida”, o slogan e o mais alto de toda a Expo, designado por “Coroa
e de número da Expo 2010 é baseado na ideia de espaços urbanos Oriental”. É uma estrutura inspirada na arquitectura
de visitantes mais humanos e sustentáveis, com melhores acessos, imperial, de cor vermelha, a mesma da Cidade Proi-
maior eficácia energética e menos poluição. Ninguém bida, em Pequim. Os restantes pavilhões estão divi-
discute a pertinência do tema. Afinal, segundo dizem didos pelas cinco primeiras letras do alfabeto. África
os especialistas, 55% da população mundial vivem está na zona “C” (Angola tem um pavilhão próprio,
em cidades, um número que não cessa de aumentar. ao lado dos da Argélia e da Nigéria).
A exposição mundial é também uma oportunidade No total haverá pavilhões de 190 países (onde se
de ouro para a cidade de Xangai, tida como a mais incluem estreantes como a Coreia do Norte e Timor-
cosmopolita da China, assumir a sua “candidatura” -Leste) e de várias organizações internacionais. Existi-
à posição de uma das grandes metrópoles mundiais. rão ainda cinco pavilhões temáticos ligados às cidades,
Com 18 milhões de habitantes, Xangai é uma das dez ao urbanismo e ao desenvolvimento sustentável. Outro
maiores cidades mais populosas do mundo. De Maio a recorde importante é do número de presenças africa-
Outubro, deverá receber 70 milhões de visitantes, em nas (43 nações), uma prova das boas relações entre a
148 dias (dos quais, segundo as estimativas, apenas potência asiática e os países do continente. Cada qual
um quinto será de estrangeiros) e um “exército” de 70 terá direito a escolher o seu dia nacional de celebração
mil voluntários com a missão de orientar os turistas. (o de Angola será no dia 26 de Setembro).
O Presidente Hu Jintao fez a abertura da Expo, onde
estiveram presentes, entre outros, o líder francês Nico-
las Sarkozy e o presidente da Comissão Europeia,
A cosmopolita Xangai Durão Barroso (que fez questão de visitar o Pavilhão
de Angola). A cerimónia foi apresentada pela cantora
é a sala de visitas chinesa Song Zuying e pelo actor Jackie Chan. A pia-
nista Lang Lang e o cantor Andrea Bocelli foram alguns
da China. Tem uma dos artistas convidados. Mas o verdadeiro espectáculo
realizou-se no exterior, com um espectacular fogo-de-
população de 18 artifício (arte em que os chineses são exímios), fontes
de água dançantes e raios laser. Os chineses dizem com
milhões de habitantes orgulho que foi o maior espectáculo do mundo. b

32 | www.exameangola.com
NEGÓCIOS IMOBILIÁRIO
xxxxxxxx xxxxxxxxxxxxx

É o novo ex-líbris do luxo.


Tem 28 pisos, 120 metros
de altura e uma vista deslumbrante
sobre a baía de Luanda. Os T5 Duplex custam
cerca de dez milhões de dólares. Haja Deus!

A catedral
do imobiliário
Francisco Moraes Sarmento

34 | www.exameangola.com
maio 2010 | 35
Jacinto Figueiredo
negócios imobiliário

Q
uem vem da marginal de Luanda e se dirige ao
Largo do Ambiente poderá ver à sua esquerda
a discreta Igreja de Nossa Senhora da Nazaré.
Uma torre com
Construída em 1664, é a mais antiga de Luanda ambiente de luxo
e, para muitos, a mais carismática. O templo Total 28 pisos
era um lugar de peregrinação para os “caluenses” (gen- inauguração Início de 2011
tes do mar). Monumento nacional, a igreja é conhecida Altura 120 m
pelos seus belos painéis de azulejos e pela “santa negra”, Área bruta 40 mil m2
Santa Ifigénia da Etiópia. A madre Catarina, senhora de Promotora CR ROCA (detida por José Cristóvão,
rosto vivido, olhar alegre e sorriso aberto, afirma-nos que Carlos Serralheiro e Rogério Leonardo)
a veneração a Nossa Senhora da Nazaré — Mama Nasi Arquitecto Luís Marvão
como é conhecida entre os crentes — tem aspectos mira-
culosos que nunca reconheceu noutros cultos à Virgem Heliporto
Mãe, seja em Fátima (Portugal) ou Guadalupe (México).
Longe vão os tempos em que o templo era banhado pelas T5 Duplex
águas da baía. Hoje, totalmente em terra firme e vários
Apartamentos 4
metros do mar, mantém-se como um refúgio espiritual Áreas Entre 995 m2 e 1167 m2.
da cidade. “À Mama recorrem pessoas com e sem fé, de Localização Entre o 26.º e o 28.º andar
várias confissões religiosas. Até os maldosos chegam a Descrição Mais de 1000 m2, piscina privativa,
visitar-nos antes de cometerem o crime”, refere a madre terraços e uma vista soberba sobre a baía
divertida. “Nossa Senhora da Aflição”, “Nossa Senhora da de Luanda e a cidade
Fecundidade”, são outros nomes que os crentes adoptam Preço Começa nos 9,950 milhões de dólares
conforme o problema que apresentam à virgem. “Há tam-
bém os que a Ela recorrem por causa dos negócios”, diz- APARTAMENTOS
-nos lembrando-se de que está a falar para a EXAME. pisos 17
Área total 21 900 m2 (apartamentos de luxo)
Um novo templo da arquitectura moderna Apartamentos T4 - 30, T3 - 16, T2 -24, T1 – 16)
A alusão ao mundo dos negócios é justificada por outra Áreas dos apartamentos entre 93 m2 e 1167 m2.
razão. É que a poucos metros da pequena igreja salta à vista Preço por metro quadrado 10 mil dólares
um edifício imponente com 28 andares que se erguem
a 120 metros de altura, encimados por um heliporto. O Sétimo Piso
contraste é evidente entre as linhas arredondadas da torre
Área 1100 m2
sineira e as linhas mais duras e contemporâneas de um
Descrição Restaurante e esplanada com deck
arranha-céus, com 40 mil metros quadrados de área bruta, de madeira, piscina exterior, ginásio e spa
que marca o perfil de Luanda. A nova “catedral” do imo-
biliário em Luanda chama-se Torre Ambiente, nome que
a promotora, a CR Roca, foi buscar ao largo. Esta empresa Escritórios
é constituída por três empresários com provas dadas no pisos 6
mercado angolano: José Cristóvão, proprietário do conhe- Área 12 000 m2
cido Hotel Presidente; Carlos Serralheiro, ligado do sec- Descrição Em open space, com entrada independente
e quatro elevadores exclusivos
tor de transporte e logística; e Rogério Leonardo, homem
Preço por metro quadrado 8 mil dólares
relacionado com construção civil, e promotor do Edifí-

Comércio

O apartamento mais pisos 2


Área 2800 m2

barato, um T1, custa LOJAS Cinco, com áreas que variam entre 222 m2 e 1111 m2.

930 mil dólares. Abaixo do solo


caves 5
Os mais caros, T5 Duplex, Descrição Para estacionamento, com capacidade
para 300 automóveis
começam nos 9,95 milhões
36 | www.exameangola.com
Com érc io,
escritó rios
hab itação de
luxo, com spa ,
hea lth club,
res tau rante
e pisc ina

divulgação
NEGÓCIOS IMOBILIÁRIO

cio Rey Katyavala. Marco Cardoso, director comercial


da CR Roca, salienta que “o empreendimento pretende
ser uma referência na cidade em termos de arquitectó-
nicos, qualidade de construção e localização”.
Os traços do edifício saíram do estirador do arquitecto
Luís Marvão, autor de projectos de referência noutros
países tal como o Hotel Mirage, em Cascais, Portugal.

divulgação
“A Torre Ambiente é um edifício marcante. Destaca-
se pela qualidade de construção, porte e presença no
skyline de Luanda”, afirma Luís Marvão que acrescenta:
“A sua forma permite a integração no local e um diálogo
estreito com o meio envolvente.” A este propósito Marco Essa não é, no entanto, a norma do mercado, dado que
Cardoso salienta: “Os arquitectos souberam tirar par- geralmente os escritórios têm um custo mais elevado do
tido de uma localização única e de uma vista exclusiva.” que as habitações. Prevê-se que a construção da Torre
Além dos átrios amplos e altivos, uma das característi- Ambiente possa estar terminada no início do próximo
cas mais apreciadas do edifício é a ausência de paredes ano. “Neste momento, cerca de 40% do edifício já estão
exteriores. “A alvenaria foi substituída pelo vidro, o que vendidos”, esclarece Marco Cardoso.
permite aos seus futuros habitantes desfrutarem cons- Mas a “imagem de marca” da Torre Ambiente são os
tantemente da vastidão do horizonte e garante lumino- luxuosos T5 Duplex com áreas que variam entre 995 e
sidade natural no interior dos apartamentos”, destaca o 1167 metros quadrados, com piscina, terraços e uma vista
responsável comercial do empreendimento. soberba sobre a baía de Luanda. O preço de venda des-
tes apartamentos (quatro no total) é de 9,995 milhões de
Entrega no primeiro semestre de 2011 dólares e ocupam os 26.º, 27.º e 28.º andares. A este pro-
No total, a Torre Ambiente é constituída por 90 fogos pósito, Marcos Cardoso sublinha que “o preço do metro
com tipologias de T1 a T5 Duplex e áreas diversificadas, quadrado está dentro do mercado para a habitação de
entre 93 e 1167 metros quadrados. No total, o edifício luxo. O que os distingue são as suas grandes áreas, o que
possui 21 900 metros quadrados dedicados à habitação faz subir o preço de venda”.
Entrada para de luxo (19 pisos), assim distribuídos: 4 duplex T5, 30
os pisos de apartamentos T4, 16 de tipologia T3, 24 fogos T2 e 16
escritório é do tipo T1. Os seis primeiros pisos da Torre Ambiente
independente.
Preço é 8 mil
destinam-se a escritórios, num total de 12 mil metros
quadrados, com entrada independente e quatro eleva-
Quanto custa...
dólares por dores exclusivos. O metro quadrado custa 8 mil dólares
metro quadrado (ao passo que a habitação é cerca de 10 mil).
T5 Duplex 26.º andar
Preço 9,95 milhões de dólares*
Área 995 m2
Descrição Cinco suites, quarto de serviço, sala comum
com 175 m2 , dois terraços (o maior com 283 m2), piscina
e vista para a marginal.
t4 18.º andar
Preço 3,86 milhões de dólares*
Área 386 m2
Descrição Duas suites, dois quartos, quarto de serviço,
sala comum com 109,35 m2, dois terraços
(um com 10,60 m2, outro com 64,65 m2 )
t1 11.º andar
Preço 930 mil dólares*
Área 93 m2
Descrição Uma suite, sala comum, cozinha e um terraço
com 22 m2.
divulgação

* 10 mil dólares por metro quadrado.

38 | www.exameangola.com
O preço por metro quadrado No 7.º piso, entre a área de escritórios e habitação,
existe um plateau com restaurante panorâmico, espla-
A localização
mesmo em
está dentro dos valores nada, um ginásio, um SPA e piscina exterior. Trata-se
de uma área com 1100 metros quadrados, “um espaço
frente à baía,
a luminosidade
de mercado para a habitação exclusivo de lazer com ambiente seleccionado e distinto”,
segundo Marco Cardoso. A esplanada tem um deck de
e a vista são
argumentos
de luxo. Cerca de 40% madeira com vista para a baía de Luanda.
Ao nível da rua grandes montras marcam o espaço.
de venda

do edifício já está vendido No total são 2800 metros quadrados, vocacionados para
o comércio. Abaixo do solo, a Torre Ambiente dispõe de
cinco caves para estacionamento, com capacidade para
O apartamento mais barato situa-se no oitavo andar. 300 automóveis. Os promotores prevêem a entrega do
Trata-se de um T1 com 93 metros quadrados que custa imóvel durante no primeiro semestre de 2011. “O edi-
930 mil dólares. Os valores são comparáveis aos dos edi- fício ganhará vida própria e vai responder aos desafios
fícios mais caros do mundo tais como o Donald Trump do século em termos de qualidade de vida, tecnologia
Building, em Manhattan (veja comparativo abaixo). e segurança”, refere Marco Cardoso com orgulho. b

... com esse dinheiro compra-se...


O apartamento de Tom Cruise, na Donald
Trump Building, em Nova Iorque, com
terraço, quatro quartos, seis casas de
banho, biblioteca, vista panorâmica
sobre Manhatan

ou... O apartamento de Gisele Bundschen


no Gávea Green Residencial, do Rio
de Janeiro, com quatro suites, cinco
casas de banho e acesso ao clube de
golfe com piscina, spa, sauna e ginásio

ou... Três apartamentos semelhantes


ao de Madona e Jesus Luz, no Upper
East Side Building, em Nova Iorque,
totalmente equipado com móveis
Armani, um terraço e jacuzzi privativo.

Fonte Semanário Económico

maio 2010 | 39
Negócios estratégia

Um grupo
de prós
Há dezoito anos tinha apenas duas empresas:
na área de protecção pessoal e na de limpezas.
Hoje, é uma holding com 11 filiadas. Entre elas,
destaca-se a Proimóveis, que, segundo os
responsáveis, é líder em mediação imobiliária
Faustino Diogo

A
história do Progroup é “Os nossos técnicos são, na sua
mais um exemplo do maioria, angolanos e treinados para
espírito empreendedor resolver os problemas dos clientes”,
e da capacidade de adap- reforça João Venichand, o director-
tação dos empresários nacionais que, -executivo do grupo.
de acordo com as circunstâncias do
mercado, vão criando novos produ- Limpeza a bordo dos aviões da TAAG
tos e serviços inovadores. O Progroup A qualidade do serviço é outra ban-
é um grupo empresarial de capital deira do Progroup, que se orgulha de
angolano, com o objectivo de se tor- ter a primeira empresa angolana no
nar líder de mercado nos segmentos ramo da limpeza com a certificação
em que actua — desde o imobiliário, de qualidade ISO 9001-200, a Pro-
limpeza, segurança, consultoria, for- meteus. Garantia que fez com que a
mação, alimentação, petróleo e cons- TAAG lhe adjudicasse a responsabi-
trução — e uma referência no mercado lidade de limpar as suas aeronaves.
internacional. “Este crescimento só foi A ProGroup ambiciona terminar
possível porque as pessoas acredita- igualmente o processo de certifica-
ram em nós”, diz José Luís de Carva- ção ICAO, o que não impede que
lho, fundador e principal accionista. alguns aviões voem já com o brilho
O grupo tem 4 mil funcionários Prometeus. Paralelamente, a Pro-
(90% dos quais são nacionais) distri- tector (empresa de segurança) tam-
buídos por quase todo o país e gasta bém adopta as melhores práticas do
cerca de 1 milhão de dólares em des- programa ISO 9001, tendo ganho,
pesas com o pessoal. José Luís de Car- em 2004, o Quality Award Century
valho sustenta que a aposta no capital Quality Era — Business Initiative
humano é a prioridade número um Directiones, atribuído na Suíça. O
da empresa. Esse esforço é promo- plano de desenvolvimento da Pro-
vido através do seu “braço” ligado à group para este ano requer um inves-
formação, a Proforma. timento de 11 milhões de dólares.

40 | www.exameangola.com
Carteira diversificada
O Progroup criou 11 empresas nos últimos18 anos.

Data de fundação 1991


Trabalhadores 4 mil (90% nacionais)
Capital 100% angolano
Sócio Maioritário José Luís de Carvalho
Investimento previsto para 2010 11 milhões de dólares

Protector estudos de viabilidade para


Sector Segurança a construção de empreendi-
Criação 1991 mentos.
Foi a primeira empresa do
grupo e é 100% angolana. Os Inforgestão
serviços de segurança pes- Sector Consultoria
soal e patrimonial correspon- e formação
dem a 80% do volume de Criação 2007
trabalho. As escoltas, trans- Foi criada inicialmente para
porte de valores e aluguer de atender as empresas do grupo
viaturas representam os res- e agora oferece um serviço
tantes 20%. de consultoria especializada
nas áreas administrativa e de
Prometeus informática. É a represen-
Sector Limpeza tante do software Primavera,
Criação 1991 o mais utilizado pelas médias
É uma das primeiras empre- e grandes empresas no país.
sas privadas a oferecer solu-
ções completas no sector de Pronutry
limpeza industrial, higiene e Sector Restauração
conservação de imóveis e Criação 2007
áreas públicas. É responsável É a proprietária do Restau-
pela produção de mais de dez rante Mamma Mia, no Bellas
produtos químicos, específi- Shopping.
cos para cada tipo de limpeza.
Premium
Technoil Sector Gestão de
Sector Serviços para condomínios
petrolíferas Criação 2010
Criação 2005 Foi criada como marca de um
A Technoil oferece diversos serviço da Progroup para a
serviços de assistência téc- gestão de condomínios. A
nica e suporte para a indús- adesão por parte dos clien-
tria petrolífera, desde o tes justificou a criação de um
Nome José Luís de CARVALHO fornecimento de mão-de- negócio independente.
cargo PCA – Fundador do grupo -obra especializada até ao
e sócio maioritário transporte e o aluguer de Procerâmica
nacionalidade Angolana longa duração de viaturas. Fabricação de tijolos para
estado civil Casado construção civil.
Proimóveis
Sector Imobiliário Acrópole
Criação 2006 Promoção imobiliária.
A empresa actua em todas as
áreas do segmento de imó- Renaissance
Nome João Venichand veis: venda e arrendamento Prestadora de serviço de
cargo CEO - Director-executivo de imóveis de particulares; catering.
idade 37 anos cadastros actualizados das
nacionalidade Luso-moçambicana lojas disponíveis em Luanda; Proforma
estado civil Casado assessoria a empresas. Prestação de serviço e
A Proimóveis faz também formação.

maio 2010 | 41
Negócios estratégia

Dentro das participadas do grupo, uma


das empresa que tem revelado maior dina-
mismo é a mediadora imobiliária Proimó-
veis. Foi fundada em 2006, depois de os
responsáveis do grupo terem verificado que
estavam a nascer diversos projectos habita-
cionais faltando, porém, quem os pudesse
promover e comercializar de forma pro-
fissional. A empresa foi liderada, desde o
início, pelo brasileiro Cleber Corrêa, 43
anos, com formação em Direito. Ele traba-
lha no sector desde os
13 anos, altura em que A empresa
se juntou ao pai para se investe na
dedicar ao comércio de formação
casas na metrópole de como forma
São Paulo. “É impos- de fidelizar
sível uma empresa ou os melhores
um estrangeiro vir para mediadores
Angola sem contar com
o capital nacional”, diz Cleber, recordando salário mensal — só ganham comissões de 2007 e 2008 muito dificilmente se vol-
o início dessa aventura empresarial. sobre as vendas). Os próprios garantem tarão a repetir”, sustenta o director-geral.
Numa primeira fase, o grupo apostou na que a falta de um salário no final do mês
mediação de imóveis novos. Depois, passou em nada prejudica a motivação. “Ganham Casas acessíveis à classe média
para os usados, o mercado de arrendamento uma comissão que vale a pena”, justifica Tal como sucede na casa-mãe, a Proimó-
e a avaliação e venda de terrenos. A equipa Cleber Corrêa. É necessário, no entanto, veis procura apostar a fundo na formação.
de mediadores é formada por 19 assalaria- saber gerir os rendimentos das comissões “O trabalhador é fiel à empresa se sen-
dos — 15 dos quais angolanos — aos quais porque há períodos bons e outros menos tir que ela está a apostar em si. Por outro
se juntam 25 comissionistas (que não têm bons. “Anos de grandes lucros como os lado, uma pessoa bem preparada desem-

Vende-se...
Aluga-se...
Segundo os responsáveis,
a Proimóveis é a maior
empresa de gestão e mediação
imobiliária a operar em Angola.
Está presente nos segmentos:
• Venda de lançamentos;
• Aluguer e venda de imóveis de
particulares; Quinta das Mangueiras Ville Vermont
• Gestão de património imobiliário; Lançamento Novembro de 2009 Lançamento Junho de 2010
• Atendimento individualizado para Target Classe média-alta Target Classe média-alta
empresas e repartições; Localização Benfica Localização Benfica
• Cadastros actualizados de lojas; Preço A partir de 398 mil dólares. Preço A partir de 600 mil dólares.
• Assessorias a empresas; Descrição Condomínio fechado, com apartamentos T4 Descrição Condomínio fechado,
• Estudo de viabilidade para a e coberturas dúplex, segurança 24 horas e o conforto de dois segurança 24 horas. Possui
construção de empreendimentos. lugares de estacionamento por apartamento e arrecadação. Está vivendas (T4 e T5), cada uma com
Saber mais: localizado numa das áreas mais valorizadas da cidade, com forte anexos, piscina, dois lugares para
www.proimoveis.com grau de crescimento e alta rentabilidade nos investimentos. viaturas e cozinha completa.

42 | www.exameangola.com
Cleber Corrêa acredita que o mercado
imobiliário está a mudar devido a dois Estamos a propor
factores principais: “ao mesmo tempo que
existe menos liquidez no mercado, têm sur-
algo que é novo
gido projectos com um menor custo por
metro quadrado, que permitem à classe
no mercado. O cliente
trabalhadora comprar imóveis mais bara-
tos”. A Proimóveis atenta a essa “demo-
pode receber a chave
cratização” do mercado já está a trabalhar antes de pagar a casa
nesse segmento. Trabalha, por exemplo, na
comercialização de 2800 apartamentos na
zona do Camana e de Para os profissionais da mediação a
Cleber 400 apartamentos em mudança é positiva. “Hoje, os imóveis já
Corrêa, Viana, onde uma casa começaram a baixar os preços, o que faci-
director-geral com 120 metros qua- lita a compra de uma casa. Antigamente,
da Proimóveis: drados de área vai cus- os bancos, em muitos casos, não conce-
“Apostamos tar 168 mil dólares. Há diam empréstimos devido aos altos valo-
na honestidade ainda outras 500 casas, res das habitações que, infelizmente, ainda
das pessoas” também em Viana, com se vão praticando na nossa praça”, diz Isa-
preços entre 75 mil e 80 bel Almeida, uma mediadora que está na
penha melhor as suas actividades. Logo, a mil dólares cada uma. A novidade é que o profissão há dois anos. Antes era técnica
formação é um bom negócio para ambos. comprador poderá dispor da chave antes média de construção civil, mas desde
Quanto mais se preparam as pessoas, mais de ter pago a casa, o que não acontecia até muito cedo se mostrou interessada em
as empresas ficam competitivas. Mesmo aqui. “Estamos a propor aos promotores contribuir para que o sonho da casa pró-
que essa pessoa saia e vá para a concorrên- algo inusitado, que ainda não existe, que pria, comum à maioria dos jovens ango-
cia será sempre alguém que saiu do nosso é o cliente pagar a casa depois que entra lanos, se tornasse uma realidade. Hoje, a
seio. Você sabe que essa pessoa é um bom nela. Porquê não apostar na honestidade venda de casas entrou no roteiro de vida
profissional e que pode contar com ela para das pessoas e dar um voto de confiança”, de Isabel. “É uma alegria quando ajuda-
fazerem negócios juntos”, justifica. questiona Cleber Corrêa. mos alguém a concretizar o seu sonho.” b

Quedas de Kalandula Edifício São Paulo


Lançamento Outubro de 2008 Lançamento Outubro de 2009
Target Classe alta Target Classe alta
Localização Talatona Localização Centro
Preço A partir de 923 mil dólares Preço A partir de 990 mil dólares
Descrição O mais vantajoso e aconchegante Descrição Situado em pleno coração
condomínio de vivendas no coração do Talatona. de Luanda, na Avenida Ho-Chi-Min,
Um clube privativo com diversas opções de lazer, o Edifício São Paulo ergue-se com uma
como campos de ténis, piscina e salão de festas. área de contrução de 14 000 m2.
terraço com churrasqueira para todas as unidades. São 54 apartamentos de luxo T3 e T4.

maio 2010 | 43
MundoPlano
Tendências que marcam a agenda do gestor global

China

Coca-Cola cresce
a todo o gás
Nos próximos dez anos, a Coca-Cola quer duplicar a sua facturação, atingindo
os 200 mil milhões de dólares de receitas anuais. Para o objectivo ser alcançado,
a empresa americana vai colocar em acção um plano para triplicar as suas
vendas na China. Potencial não falta. Cada chinês consome hoje uma média
de 28 garrafas de refrigerante por ano, o mesmo que a média africana.
O plano de expansão inclui o aumento da rede de distribuição do produto
no país, com a criação de quase 5 milhões de novos pontos
de venda. Actualmente, a Coca-Cola é líder na China, com
quase 15% do mercado de bebidas gaseificadas.

ROBERT HARDING PICTURE LIBRARY LTD/ALAMY


Cabul: casas mais caras, apesar da guerra

AFEGANISTÃO
A bolha improvável
Desde 2008 que a maioria dos países sofre os
efeitos da bolha imobiliária. Nalguns deles, como
o Dubai, muitas obras estão paradas. Há outros,
porém, onde a procura está mais efervescente
do que nunca. Por incrível que pareça é o caso
de Cabul, a capital do Afeganistão? Os analis-
tas dizem que está a formar-se uma bolha imo-
biliária, improvável num país assolado por
guerras e pobreza, no mercado afegão. De acordo
com corretores locais, os preços de casas e
apartamentos nalguns bairros da cidade subi-
Coca-Cola ram 75% no último ano. A alta ocorreu graças
na China: um ao aumento da procura por parte dos estran-
símbolo dos geiros e dos afegãos ricos que costumavam
imaginechina

novos tempos investir em Dubai, mas que agora migraram para


Cabul. A verdade é que a cidade de 3 milhões
de habitantes ficou pequena para tanta procura.

44 | www.exameangola.com
Para uma indústria que já tinha perdido 9,4 mil milhões
de dólares no ano passado, esta crise é devastadora.
Giovanni Bisignani, presidente da Associação Internacional de Transportes Aéreos,
sobre o caos nos aeroportos provocado pela erupção do vulcão na Islândia

Líbano
Degustação
de vinho: A conquista
35 milhões
de garrafas das passarelas

NABIL MOUNZER/epa/Corbis
produzidas
por ano Vivendo um período de
estabilidade política desde
2008, o Líbano vê
finalmente a sua
economia a prosperar.
O crescimento do PIB em

Abdelhak senna/AFP PHOTO


2009 foi de 7%, segundo
os dados do FMI.
Um dos sectores em
ascensão é a moda. Na
capital do país, Beirute, é
marrocos cada vez maior o número
de lojas de alta-costura
Um pecado tolerado de estilistas libaneses
consagrados, como
Para os muçulmanos, o consumo de o país produziu 35 milhões de garrafas Georges Chakra,
álcool é considerado um haram (pecado, de vinho. Os produtores vendem ape- Georges Hobeika
em árabe). Mas, em Marrocos, a tole- nas para o exterior e aos comerciantes e Elie Saab. As suas
rância religiosa tem permitido à indús- marroquinos autorizados pelo Estado, criações estão na
tria do vinho prosperar. No ano passado, que podem revendê-los aos turistas. moda e já foram
usadas pelas
estrelas Angelina
Jolie e Beyoncé.
Divulgação

A nova versão de We Are the World: uma das campeãs do iTunes

haiti
Uma ajuda de 60 milhões de dólares
Lançada no mês passado, a nova ver- fício das vítimas do terramoto que devas-
são do video We Are the World, liderada tou o Haiti em Janeiro. Os autores Desfile
por artistas como Quincy Jones, Tony esperam que a nova versão supere rapi- em Beirute:
Bennett e Barbra Streisand, já entrou damente a marca de 60 milhões de dóla- alta-costura
para a lista de músicas mais vendidas res, quantia amealhada pela primeira árabe está
do iTunes. A receita reverte em bene- versão da música, produzida há 25 anos. na moda

maio 2010 | 45
global índia

Mukesh:
dono da maior
empresa
privada da Índia

Manan VATSYAYANA ©PHOTO

Ambani x Ambani
Os irmãos indianos Mukesh e Anil Ambani estão entre os homens mais ricos do planeta.
Controlam impérios empresariais e lideram uma das maiores guerras familiares do mundo
Tatiana Gianini

J
untos, os irmãos indianos Mukesh grupo Reliance, um dos maiores con- dos homens mais ricos do mundo, se-
Ambani, de 51 anos, e Anil, de glomerados empresariais da Índia, com gundo o ranking da Forbes, continuam a
49, controlam uma fortuna de 85 mais de 100 empresas. Na altura, ficou lutar — publicamente e na Justiça.
mil milhões de dólares. É mais claro que os irmãos não se entenderiam e
do que têm Carlos Slim, Warren Buffett o grupo foi dividido em dois. A Mukesh, A mãe é a mediadora do conflito
ou Bill Gates, os três homens mais ricos o primogénito, coube a gestão da área in- Anil tem em curso um processo judicial
do mundo segundo a revista Forbes. Tal dustrial, a Reliance Industries Limited. contra o irmão mais velho por difamação.
como sucede nos dramas familiares do Anil passou a controlar os bancos e as O motivo da acção foi uma entrevista que
cinema, os Ambani, unidos para sempre empresas de telecomunicações. Mukesh concedeu ao jornal americano
por laços de sangue, estão separados pela Seguindo a tradição de uma socieda- The New York Times. Onde, o empresá-
ambição, pelo ressentimento e pelas lutas de patriarcal como é a indiana, as duas rio insinua que Anil fazia “jogo sujo” nos
do poder. filhas de Dhirubhai — Deepti e Nina — negócios, liderando uma rede de lobistas
Os problemas de relacionamento entre permaneceram alheadas dos negócios. e espiões para ser beneficiado nos acor-
Mukesh e Anil tornaram-se públicos em A divisão do grupo, porém, não foi sufi- dos com o governo indiano e prejudicar
2002, ano da morte de Dhirubhai Am- ciente para selar a paz entre os herdeiros as actividades dos concorrentes. Inconfor-
bani, patriarca da família e fundador do varões. Mukesh (4.º) e Anil (36.º), dois mado com as declarações, Anil foi para os

46 | www.exameangola.com
Anil:
dono da maior
produtora de
Bollywood

Punit Paranjpe/Landov

tribunais, exigindo uma indemnização de


2 mil milhões de dólares e um pedido ofi- Família em conflito
cial de desculpas do irmão. Quem são Anil e Mukesh Ambani, os irmãos que hoje administram os negócios da família
Essa não foi a única batalha entre os mais poderosa da Índia, dona do grupo Reliance 
dois que foi parar à Justiça. Outro pro-
cesso, também em curso, envolve uma Mukesh Ambani Anil Ambani
disputa pela distribuição de gás de um IDADE 51 anos Idade 49 anos
campo controlado por uma das empre-
sas de Mukesh. No acordo, que resultou Fortuna pessoal 43 mil milhões de dólares Fortuna pessoal 42 mil milhões de dólares
na divisão do grupo Reliance, Mukesh
comprometeu-se a fornecer gás ao irmão Família Casado, três filhos Família Casado, dois filhos
a um preço determinado, que Anil agora
alega ser impraticável. Negócios Negócios
Devido à frequência com que os Ambani Reliance Industries Limited, que reúne Reliance ADA Group, que abrange negócios
a carteira de investimentos do grupo nas áreas de telecomunicações, infra-estruturas, energia
comparecem nos tribunais, um juiz ape-
de exploração e produção de petróleo e gás, e entretenimento, entre outros.
lou a Kokilaben, a matriarca da família,
petroquímicos, têxtil e distribuição.
para que ela se tornasse a mediadora de Formação Licenciado em Ciência, pela Universidade de
um novo acordo entre os seus filhos. Na Formação Licenciado em Engenharia Química, pela Bombaím, e pós-graduado em Administração pela escola
altura da morte do fundador do grupo, foi Universidade de Bombaím, na Índia. de administração Wharton, da Universidade da Pensilvânia.
Kokilaben que ajudou a convencer Mukesh
Fonte: Forbes
e Anil de que a divisão do Reliance seria a
melhor solução para os negócios. milhões de dólares e um lucro de 6 mil empresarial liderado por Mukesh abriu o
A Reliance Industries Limited, a parte que milhões, o que representa, em ambos os seu primeiro hipermercado — e o maior
coube à Mukesh Ambani, é hoje a maior casos, um aumento de 27% em relação ao da Índia —, o Reliance Mart, na cidade de
empresa privada da Índia, com uma fac- ano anterior. As suas áreas de actuação vão Ahmadabad, no Norte do país. Até ao final
turação que corresponde a cerca de 3% do da exploração de petróleo e gás à produ- deste ano, outros 500 hipermercados com
PIB do país. O grupo de empresas regis- ção de petroquímicos, produtos têxteis e a bandeira do Reliance deverão ser inau-
tou um volume de negócios de 34,7 mil distribuição. Em Agosto de 2007, o grupo gurados na Índia.

maio 2010 | 47
global índia

Em 2007, presenteou a sua mulher com


uma aeronave Airbus A319 de 70 milhões
de dólares. Em breve, a sua família deve
mudar-se para uma mansão de 27 pisos e
167 metros de altura, erguida numa das
ruas mais sofisticadas de Bombaim. Orçada
em 2 mil milhões de dóla-
Os negócios res, a nova mansão dos
na área das Ambani terá nove eleva-
Prakash SINGH ©AFP

comunicações dores, parque de estacio-


ficaram a namento para 168 carros,
cargo de Anil cinema com capacidade
para 50 pessoas e um heli-
porto com espaço para três helicópteros.

Anil aprecia a fama e os holofotes


Anil casou-se com a ex-estrela de Bollywood
Tina, de quem teve dois filhos. Adora rou-
pas de estilistas famosos e, nas horas vagas,
corre maratonas — sempre seguido por
seguranças. “Os dois são muito diferen-
tes. Mukesh sempre foi mais tímido e tra-
dicional, e nos negócios gosta de saber
os detalhes do chão da fábrica. Já Anil é
sociável, adora conhecer pessoas e era a
face pública da empresa.”
O império Reliance
Mukesh tem nasceu nos anos 50.
PANKAJ NANGIA/Landov

o negócio da Vindo de uma casta de


distribuição, mercadores, Dhirubhai
uma tradição Ambani estabeleceu,
da família em 1958, a Reliance
Commercial Corpora-
Entre os negócios de Anil estão empre- vagas, passa o tempo com os seus três filhos tion, pequeno escritório em Bombaim
sas de telecomunicações, infra-estrutu- e a mulher assistindo a jogos de críquete que começou por exportar especiarias
ras, energia e entretenimento. O seu grupo do Mumbai Indians, equipa que comprou para o Iémene e importar de lá fibras de
controla uma das maiores produtoras de por 112 milhões de dólares, ou assistindo a poliéster. Dhirubhai percebeu que fica-
Bolly­wood, a emergente indústria cinema- filmes de Bollywood (vê cerca de três por ria rico se as conseguisse produzir na
tográfica indiana. Os planos agora são ainda semana no seu cinema privado). Mukesh, Índia. Menos de uma década depois,
mais ambiciosos: entrar em Holly­wood. porém, é um típico bilionário, ávido por montou um moinho têxtil, em Naroda
Em Outubro do ano passado, a Reliance impressionar a sociedade em que vive e — perto da cidade de Bapunagar —, e criou
fechou um acordo com o famoso realiza- — talvez ainda mais — o irmão rival. a famosa marca de tecidos Vimal.
dor Steven Spielberg para criar um novo Dhirubhai prosperou e expandiu-se para
estúdio na meca americana do cinema. outras áreas. Ao morrer, tornou-se uma
Anil investirá 550 milhões de dólares
nesta parceria. A Reliance Communica- Anil é sociável. Casou lenda dos negócios. O seu funeral levou às
ruas de Bombaim milhares de indianos.
tions, a sua principal empresa, facturou no
último ano fiscal 4,8 mil milhões de dóla-
com uma ex-estrela Nas fotos da cerimónia, Anil e Mukesh
aparecem lado a lado, à frente do cortejo,
res, o que representa um crescimento de
31,8% em relação ao ano anterior.
de cinema. Mukesh carregando o corpo do fundador. Foi uma
das últimas vezes em que foram vistos jun-
Os irmãos têm estilos opostos — embora
ambos amem o poder e tenham lutado por
é mais introspectivo. tos. Como na obra-prima de Dostoievski,
os irmãos Ambani encontram a sua pró-
ele. Mukesh é introspectivo. Nas horas Adora ver críquete pria maneira de ser infelizes. b

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Global europa

Os tigres
perderam
os dentes
Antes chamavam-lhes os “Tigres do Báltico”.
Mas a crise desfez o sonho da Estónia, da Letónia
e da Lituânia, cuja retoma ainda parece distante
Felipe Carneiro

E
m Novembro, a União Europeia encontrar construções interrompidas. São
anunciou oficialmente a sua saída obras começadas no início desta década,
da recessão. Apesar dos vaticí- quando esses países cresciam acima da
nios tenebrosos dos analistas, a média europeia. Em 2007, a maior dessas
União Europeia (com 27 países) apresen- economias, a Estónia, com 1,4 milhões de
tou, nesse trimestre, um crescimento eco- habitantes, cresceu mais de 7%.
nómico de 0,2%, apesar de ter terminado A palavra-passe para o progresso foi
o ano com um decréscimo de 4,2%. dada nos anos 90, quando essas ex-repú-
Essa sensação momentânea de alívio, blicas soviéticas atingiram uma certa esta-
porém, ainda não chegou — cinco meses bilidade política e conseguiram realizar No auge desse processo, o preço do metro
depois — à emergente região do mar Báltico, reformas fundamentais — desde a priva- quadrado nas capitais destes países supe-
berço de três países que, até pouco tempo, tização das velhas empresas públicas até à rou o das ricas Copenhaga ou Estocolmo.
eram conhecidos por “tigres”, numa refe- abertura ao capital externo. O novo cená- “Quando a crise global chegou, as eco-
rência ao crescimento brutal das nações rio atraiu várias empresas da Europa Oci- nomias da região entraram em colapso e
asiáticas durante a década de 90. Os cida- dental, em busca de mão-de-obra barata. ficaram sem armas para reagir”, afirmou à
dãos da Lituânia, da Estónia e da Letónia Os turistas, travados no passado pela “Cor- EXAME Viktor Trasberg, coordenador do
comprovam hoje, na vida real, o que pen- tina de Ferro”, descobriram atracções como Centro de Estudos Bálticos da Universidade
sadores como Keynes já diziam no passado o esplendor barroco de Vilnius, capital da de Tartu, na Estónia. Na fase mais aguda
— há muito de imponderável na economia. Lituânia. A adesão do trio à União Euro- da recessão, os investimentos estrangeiros
E o que era uma maravilha ontem pode peia, em 2004, só fez aumentar a euforia fugiram e as exportações caíram. O Parex,
tornar-se um pesadelo amanhã. em torno dos Tigres do Báltico. maior banco privado letão, foi nacinalizado
O pesadelo já chegou para estes três paí- em Novembro de 2008 para evitar a ban-
ses. As suas economias terminaram 2009 Salvem os felinos carrota e a possível contaminação de todo
com as maiores taxas de contracção do PIB Aos poucos, porém, esses países começaram o sistema financeiro. No mês seguinte, o
da Europa: –14,1%, –18% e –15%, respec- a envenenar-se com as mesmas substân- governo pediu um empréstimo de 11 mil
tivamente. Em Abril, um em cada cinco cias tóxicas que abalaram as outras grandes milhões de dólares ao FMI.
letões estava desempregado. As lojas e os economias, como a endividamento exces- Com a deterioração da economia, o
restaurantes estão “às moscas” nas capi- sivo, o consumo desenfreado e a especu- primeiro-ministro Ivars Godmanis não
tais desses países, onde se tornou comum lação imobiliária. resistiu aos maiores protestos populares

50 | www.exameangola.com
Crise no Báltico
Depois de um período de euforia,
os países da região registam algumas
das piores taxas de crescimento
da Europa (crescimento do PIB)

Estónia
2005 9,4%
2006 10%
2007 7,2%
-3,6% 2008

-14,1% 2009

Letónia
2005 10,6%
2006 12,2%
2007 10%
-4,6% 2008

-18% 2009

Lituânia
Comércio em 2005 7,8%
Riga, capital 2006 7,8%
da Letónia: um Ints Kalnins/reuters 2007 9,8%
em cada cinco 2008 2,8%
habitantes está -15% 2009
desempregado
Fonte: Eurostats.

desde o fim da era soviética e demitiu- nacionais, que poderia estimular a recupe- os países adoptaram medidas de emergên-
-se no início de 2009. Hoje, enquanto o ração das exportações, tem sido adiada. Os cia, como cortes nos gastos públicos em
resto da Europa inicia o processo de retoma, governos temem que uma queda na cota- 40%. A expectativa é que essas políticas
os Tigres Bálticos estão longe de ver a luz ção terá um impacte imediato nas dívi- suavizem a queda, a tempo dos grandes
ao fundo do túnel. Uma das medidas mais das nacionais, todas elas cotadas em euro. da União Europeia terem força suficiente
urgentes, a desvalorização das moedas Enquanto não resolvem o dilema cambial, para tirar os ex-Tigres do fundo do poço. b

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GestãoModerna
ideias para gerir a sua empresa, negócio ou carreira

O painel de bordo
dos executivos
Tal como os pilotos controlam o avião através da leitura dos intrumentos que
estão no cockpit, também os gestores podem reunir num único painel os
indicadores-chave da sua empresa. O método chama-se balanced scorecard
e um dos seus autores, David Norton, veio a Luanda explicar a metodologia.
No passado, cerca de 80% do valor de mercado das empresas era relativo
aos seus activos tangíveis (edifícios, máquinas e capital) e 20% a intangíveis
(marca, pessoas ou talento). Hoje a relação é inversa: 80% intangíveis versus
20% tangíveis. Essa nova realidade é o pesadelo dos gestores financeiros,
habituados a compilar os mais diversos indicadores sobre o desempenho
económico e financeiro da sua empresa – desde os rácios mais simples, até
aos mais sofisticados. Só que essa informação incide apenas sobre o passado
e o património quantificável da empresa. Mas como contabilizar activos que, David Norton,
como o próprio nome indica, não são mensuráveis? E como tornar o co-autor
somatório dessas informações num auxiliar para a gestão estratégica? do conceito
É essa a especialidade de David Norton, que esteve em Luanda no passado de balanced
dia 20 de Abril, para animar um seminário sobre a metodologia do balanced scorecard
scorecard, da qual é autor, juntamente com Robert Kaplan. O conceito em Luanda
significa, em termos simplistas, quantificar o desempenho da empresa
através de indicadores quantitativos que fazem o balanceamento entre
quatro perspectivas: financeira; processo interno; cliente; aprendizagem e Guru das finanças
crescimento. Segundo Kaplan e Norton, o balanced scorecard reflecte o nome David Norton
equilíbrio entre os objetivos de curto e longo prazo, entre medidas financeiras Experiência Profissional Fundador e presidente
e não-financeiras, entre indicadores de tendências e ocorrências e, ainda, da consultora Palladium Group e co-fundador da Balanced
entre as perspectivas interna e externa de desempenho. Dessa forma Scorecard Collaborative
contribui para que as empresas acompanhem os seus resultados actuais, Formação Licenciatura em Engenharia Eléctrica pelo
monitorando, ao mesmo tempo, a aquisição dos activos intangíveis Worcester Polytechnic Institute, MBA pela Florida State
necessários para o crescimento futuro. Ou seja, permite que as empresas University e doutoramento em Gestão pela Harvard
Business School.
tenham simultaneamente um “pé” no presente e outro no futuro.
Livros Co-autor de cinco livros que venderam um milhão
Recorde-se que a ferramenta do balanced scorecard foi escolhida pela de cópias e estão traduzidos em mais de 23 idiomas.
prestigiada revista Harvard Business Review como uma das práticas de The Balanced Scorecard (1996)
gestão mais importantes e revolucionárias dos últimos 75 anos. David Norton The Strategy-Focused Organization (2000)
já escreveu cinco livros sobre o tema (ver lista à direita). O seminário foi Strategy Maps (2004)
organizado pela empresa especializada em formação e eventos IIR que, em Alignment (2006)
Novembro de 2008, já tinha convidado Tom Peters (ver EXAME n.º1). The Execution Premium (2008)
saber mais www.iirangola.com

O mal dos gestores não é a falta de recursos.


O problema está na falta de imaginação.
C. K. Prahalad, guru da estratégia falecido no dia 22 de Abril

maio 2010 | 53
gestão microcrédito

A banca DOS

54 | www.exameangola.com
OS POBRES
Imagine ser dono de um banco que cobra taxas de juro acima do
mercado e em que 99% dos clientes pagam a dívida a tempo e horas.
Esse banco existe, nasceu no Bangladesh e chama-se Grameen
Bank. Muhammad Yunus, o fundador, é considerado o pai do
microcrédito, uma ideia que tirou milhões de pessoas da pobreza,
O Nobel da Paz esteve em Angola para partilhar a sua experiência
Jaime Fidalgo Kamene traça

maio 2010 | 55
gestão microcrédito

E
ra grande a expectativa. Não é
todos os dias que Angola tem
a honra de receber um Prémio
Nobel. O evento começou atra-
sado. Muhammad Yunus foi chamado à
Cidade Alta para uma audiência com o
Vice-presidente de Angola, Fernando da
Piedade Dias dos Santos, na qual o con-
vidou a visitar o Bangladesh e a conhecer
como funciona o microcrédito.
Regressado ao Centro de Convenções de
Talatona, surge um novo momento que fez
as delícias da comunicação social. Ana Paula
do Santos, primeira-dama de Angola, iria
fazer a intervenção de abertura do semi-
nário. Caso para dizer que, ainda antes
de começar, este evento já era um grande
sucesso mediático. Ana Paula dos Santos
confessou ser uma admiradora de Muham-
mad Yunus que já conhecera na Cimeira
de Microcrédito de 1997, em Washington.
A primeira-dama recordou, cronologica-
mente, as principais iniciativas já realiza-
das em Angola e colocou especial enfâse
nas instituições de responsabilidade social
a que preside. É o caso do Fundo de Soli-

Kamene traça
dariedade Social Lwini — que apoia, entre
outros, as vítimas de minas e os portado-
res de deficiência — e do Comité Nacional Ana Paula dos Santos “Yunus é uma inspiração para o combate à pobreza”
para a Promoção da Mulher Rural.
Da mesma forma que abriu, a conferência
também terminou de uma maneira insti- -geral da Golfrate, que produz e comercia- 150 milhões de pessoas (a sétima maior
tucional, com o discurso de Manuel Nunes liza em Angola algumas marcas da multi- do mundo) e uma área de 144 mil quiló-
Júnior, ministro de Estado e da Coordena- nacional Unilever, como o Omo, Sunlight, metros quadrados. Logo, é a nação com
ção Económica. O responsável salientou Skip ou Dona Xepa. Através do vibrante a maior densidade populacional do pla-
as virtudes do microcrédito: “Uma pode- grupo ficámos a saber que existem cerca neta. A economia é rudimentar. O Ban-
rosa ferramenta de combate à pobreza e de 200 naturais do Bangladesh a trabalhar gladesh tem um PIB per capita de apenas
da prossecução dos objectivos do milénio, em Angola. No dia seguinte ao evento, a 1300 dólares (o 153.º em 181 países). Não
relativos à redução da pobreza até 2015.” comunidade recebeu a visita de Yunus tem quaisquer recursos naturais e a agri-
De salientar ainda a presença na audiência e fez questão de homenagear o distinto cultura, a principal actividade, é prejudi-
de representantes do Governo, das autori- compatriota. “Ele é uma pessoa simples cada pelas catástrofes naturais.
dades provinciais e de organismos públi- e encantadora. Todos o adoram”, confes- Devido a estar localizado próximo do
cos que aproveitaram o período de debate sou Clotilde Saraiva, líder da Internatio- Trópico de Câncer, o Bangladesh tem um
para colocar questões, mais de ordem prá- nal Talents, que organizou a conferência clima de monções, caracterizado por chu-
tica do que filosófica, ao palestrante. e que teve a EXAME como media partner. vas intensas, temperaturas moderadamente
Talvez a presença mais notada tenha quentes e uma elevada humidade. O país é
sido a comitiva de cinco compatriotas de Uma ideia que nasceu no Bangladesh afectado por ciclones a uma média de 16 por
Yunus que não escondiam a emoção de E foi precisamente a falar da sua terra natal década. Em Maio de 1991, um deles matou
estar na sua companhia. “Muhammad é que Muhammad Yunus, Nobel da Paz em 136 mil pessoas. Outras calamidades como
um herói nacional. Alguns habitantes do 2006, começou a sua palestra. O “guru” as inundações são normais todos os anos.
Bangladesh podem não saber quem é o confessou, numa expressão bem ango- “Quando chega a época das chuvas o país
Presidente actual, mas todos conhecem lana, que “viver no Bangladesh é com- pára. Se as águas chegam ao nível do solo
Yunus”, salienta Isahaque Ali, director- plicado”. O país tem uma população de das casas, a vida continua sem sobressal-

56 | www.exameangola.com
do professor Yunus o pedido foi remetido
à sede que, oito meses depois, continua-
va sem dar resposta. Até que o econo-
mista decidiu oferecer-se como avalista
do empréstimo. Passados dois meses veio
finalmente o parecer favorável.
Nos primeiros anos, foi assim que o
microcrédito se desenvolveu no Bangla-
desh. Mas o verdadeiro impulso só sur-
giu quando se criou o Grameen Bank,
uma instituição totalmente vocacionada
para os pequenos empréstimos dirigidos
aos pobres. Nascido em 1976, só ganhou
formalmente o estatuto de banco em 1983,
através de uma lei especial. Essa legislação

Os ricos não
podem ganhar
Kamene traça
dinheiro à custa
dos pobres.
Manuel Nunes Júnior “Microcrédito tem potencial de crescimento em Angola”
Foi para lutar
tos. Se chega ao nível das camas as pessoas todos os problemas do mundo, mas depois, contra os agiotas
são obrigadas a dormir no telhado e mui-
tas crianças escorregam durante a noite e
quando saía à rua, via as pessoas a mor-
rer de fome e sentia-me impotente. Tinha
que criei o
morrem. Quando as chuvas chegam aos
telhados, as pessoas perdem tudo e têm de
de fazer algo. Passei a ir às aldeias onde,
todos os dias, procurava ajudar uma pes-
Grameen Bank
recomeçar a vida do zero”, conta Muham- soa. Essa era a minha meta: auxiliar uma
mad Yunus, Prémio Nobel da Paz, numa pessoa por dia”, recorda. Foi numa dessas
das partes mais comoventes da sua apre- visitas à aldeia de Jobra, que Yunus veri- especifica faz sentido porque o Grameen
sentação realizada no dia 30 de Abril, no ficou que havia agiotas que emprestavam Bank difere, em quase tudo, da banca tra-
Centro de Congressos de Talatona. dinheiro, cobrando juros altíssimos. No dicional. “É como o futebol na Europa e
Muhammad Yunus não viveu sempre total, eram 41 aldeões que deviam ape- nos Estados Unidos. A palavra é a mesma,
no Bangladesh. Em 1965, ganhou uma nas 47 dólares. “Resolvi pagar as dívidas mas as regras são totalmente distintas.”
bolsa de estudo e foi estudar para os Esta- do meu próprio bolso. Passados uns dias, De facto, enquanto para a banca tradi-
dos Unidos, país onde se licenciou e tirou recebi o dinheiro de volta”, sublinha. cional quanto mais rico é o cliente, melhor;
um mestrado em Economia. Regressou a para o microcrédito é o inverso — quanto
“casa” em 1971, logo após a independência O banco é que vai ter com o cliente mais pobre, melhor. No Grameen Bank o
face ao Paquistão. O jovem Yunus estava Animado com a experiência, foi pergun- banco é que se desloca até ao cliente e não o
cheio de esperança de ser útil à jovem tar ao banco mais próximo porque é que contrário. Por fim, são os beneficiários que
nação e participar no esforço de recons- eles nunca tinham pensado em emprestar detém a propriedade. “Se o banco der lucro,
trução nacional. Dava aulas de Economia dinheiro aos aldeões. A resposta foi des- esse montante é distribuído pelos clientes
na Universidade de Dhaka. “Nas aulas eu concertante: eles não podiam emprestar sob a forma de dividendos”, afirma. Uma
dizia aos alunos que a economia resolvia dinheiro aos pobres. Devido à insistência das diferenças mais importantes é o facto

maio 2010 | 57
gestão microcrédito

Compatriotas de Yunus “Existem cerca de 200 naturais do Bangladesh a trabalhar em Angola. Para nós, Muhammad é um herói nacional”

de trabalhar essencialmente com mulheres. Hoje, o Grameen Bank empresta cerca


“Elas eram uma classe ignorada pelos ban- de 100 milhões de dólares por mês. Esse
cos. Quando começámos o banco eu colo- capital não vem do governo ou do sistema
quei como objectivo ter 50% de mulheres. financeiro. Vem dos depósitos dos clientes
Todas as pessoas, O problema é que as aldeãs não queriam
essa responsabilidade. A maioria nunca
e dos juros dos empréstimos. O financia-
mento também não vem da sede. “Cada
ricas ou pobres, tinha tocado em dinheiro e recusava-se a
conversar comigo. Tive de usar as minhas
agência actua localmente e é auto-sufi-
ciente”, afirma.
com ou sem estudantes como intermediárias. A pouco e

instrução, pouco fui ganhando a confiança”, recorda.


Valeu a pena o esforço. As mulheres
Filhos dos beneficiários têm de ir à escola
As taxas de juro são diferenciadas consoante
podem ser revelaram-se excelentes empresárias e hoje
representam 99% dos clientes do Grameen
a natureza da operação. Os empréstimos
são remunerados a uma taxa superior à do
empreendedoras. Bank. “Quando as mulheres têm sucesso
no negócio isso reflete-se imediatamente
mercado, mas, em contrapartida, o crédito
à habitação e à educação são sujeitos a uma
Todas merecem na família. Os filhos vão à escola e estão
melhor alimentados e vestidos. Nos homens
taxa inferior. Yunus justifica: “Uma das con-
dições que colocamos a quem emprestamos
uma oportunidade não vemos o mesmo progresso”, diz. Essa
mudança teve reflexos na própria organi-
dinheiro é que os filhos vão à escola. Pelo
menos que tenham a instrução básica. O
zação social do Bangladesh. “Há 25 anos banco encarrega-se de financiar os estudos.
as mulheres tinham seis filhos, em média, Hoje, já temos famílias que recorreram ao
hoje têm apenas três”, revela. microcrédito e cujos filhos são estudantes

58 | www.exameangola.com
de mestrado. Quando vejo uma filha uni-
versitária ao lado de uma mãe sem instru-
ção, penso sempre que a diferença entre elas
é apenas uma: a sociedade nunca deu uma
oportunidade à mãe. A pobreza resulta da
falta de oportunidades”, resume.
Yunus acredita piamente que todas as
pessoas, ricas ou pobres, com ou sem ins-
trução, podem ser empreendedoras. A UMA IDEIA QUE MUDOU O MUNDO
prová-lo está o facto de há quatro anos o
Grameen Bank ter começado a emprestar Sede Bangladesh
dinheiro (sem juros) aos pedintes. “Demos- Fundação 1983
-lhes dinheiro para eles comprarem fruta, Agências 2564
bebidas, doces e brinquedos. As coisas cor- Localidades 81 351 aldeias e vilas
Empréstimos 9,09 mil milhões de dólares (97% taxa de recuperação)
reram tão bem que a maioria tornou-se
Clientes 8,07 milhões (97% dos quais são mulheres)
vendedor porta a porta. Apesar de nunca
Pedintes 111 713 (19 193 tornaram-se vendedores porta a porta)
terem estudado marketing eles sabem seg- Bolsas de estudo 2,12 milhões de dólares (para 113 643 crianças)
mentar os clientes por produto.” Funcionários 23 133 funcionários remunerados
Outro desafio foi ajudar os cegos. saber mais www.grameen.com
“Quando percebemos que eles, em regra,
pediam dinheiro em locais estratégicos
— debaixo de árvores em ruas de grande
circulação — resolvemos emprestar-lhes
Quanto cobra...
dinheiro, também a fundo perdido, para Grameen Bank só ganha dinheiro com os empréstimos
montarem uma pequena banca de comér-
cio. Mais uma vez funcionou. Recorde-se 20% Empréstimos
Kamene traça

que nós não damos qualquer formação. Só


emprestamos dinheiro. Eles sabem, melhor
15% Taxa de juro do mercado
do que nós, o que fazer com ele”, esclarece. 10% Remuneração dos depósitos
8% Crédito à habitação
Clientes são perdoados, as dívidas não
Outra razão de orgulho para Muhammad
5% Crédito à educação
Yunus é o facto da taxa de reembolso dos 0% Apoio social (pedintes, deficientes, etc.)
empréstimos ser de quase 100%. Para o
Nobel de Paz a explicação está na meto-
dologia do Grameen Bank que tem sido ... Máximo tolerável...
testado em todo o mundo com a mesma
Um spread superior a 15% não é moralmente aceitável
taxa de sucesso. A instituição é gerida de
uma forma que faz inveja aos gigantes do
sector. Os trabalhadores estão motivados. 1 Verde Até 10% acima da taxa de juro do mercado

Os salários são similares aos dos bancos do


1 VermelhoAtéAcima
Amarelo 15% acima da taxa de juro do mercado

Estado. A diferença é que as reformas são


1 dos 15% já não é microcrédito

melhores. A partir dos dez anos de “casa”


o trabalhador é livre de partir e acumu-
lar o rendimento com outras actividades.
... Agências cinco estrelas
Os funcionários beneficiam de seguros Como o Grameen BanK reconhece e premeia o mérito
de saúde e planos de pensões. As promo-
ções são atractivas e inteiramente justifi- b Estrela Azul Agência lucrativa
cadas pelo mérito. Cada agência é avaliada b Estrela Violeta
Estrela Com mais dinheiro em caixa do que empréstimos
segundo o sistema de cinco estrelas (veja b Estrela Castanha 100%taxaclientes
Verde 100%de de reembolso
caixa à direita). Cada empregado é avaliado b Estrela Vermelha 100% famílias estão na escola
segundo o mesmo sistema. Logo é promo- b deixaram de ser pobres
vido quem tiver mais estrelas.

maio 2010 | 59
gestão microcrédito

Outra máxima de Yunus é que as dívidas


nunca são perdoadas. “Se alguém não con-
Bancos vs Microcrédito seguir pagar o empréstimo nós não accio-
tradicionais namos qualquer processo legal. Se a pessoa
voltar será recebida de braços abertos. Mas
Ricos Pobres terá de pagar o que deve.” Nem as catás-
Homens Mulheres trofes naturais são motivo para excepção.
Cidades Aldeias “Todos os gastos são apontados. Quando a
tragédia passa as pessoas têm de restituir
Garantias reais Não há garantias o dinheiro, sem juros. O montante não vai
Burocracia Não há papéis para a agência, mas, sim, para um fundo
Cliente vai ao escritório Escritório vai ao cliente de emergência. Nessa altura, a principal
missão das agências passa a ser a de sal-
Há créditos malparados Taxa de reembolso é quase de 100% var pessoas”, diz.
É detido pelos accionistas É detido pelos clientes
Baseado em contratos Baseado na confiança Alerta contra os tubarões do crédito
O problema é que há quem se aproveite das
Visa maximizar o lucro Visa tirar pessoas da pobreza fraquezas alheias. “O conceito foi criado
para combater os tubarões do crédito, não
para os beneficiar”, justifica. Um dos casos
de abuso mais mediáticos foi o do banco
Compartamos, no México, que cobrava
taxas de juro astronómicas e acabou por
MICROCRÉDITO 579 315
se tornar uma estrela de Wall Street. “O
microcrédito não pode ser uma forma dos
EM ANGOLA 2008
ricos lucrarem com os pobres”, diz acres-
centando: “Qualquer banco que cobre
91 940 juros superiores a 15% acima do preço do
115 863 2006 mercado já não é microcrédito”, sentencia
2008
38 388 Muhammad Yunus.
2006 As estatísticas provam que ainda há
muito trabalho a fazer. Yunus recorda que
Famílias beneficiadas Pessoas beneficiadas
directamente directamente dois terços da população mundial ainda
não têm acesso ao sistema bancário. “No
início havia apenas 7 milhões de pessoas
Cronologia abrangidas pelo microcrédito, das quais 5
milhões estavam no Bangladesh. Na altura
1999 > Lançamento do microcrédito 2005 > Ano internacional do eu disse que queria chegar a 2015 com 100
em Angola. microcrédito segundo a ONU.
milhões de pessoas abrangidas. Todos jul-
2001 > Criação do Banco Sol, > Governo disponibiliza 10
primeira instituição bancária milhões de dólares para os garam que eu era louco.”
vocacionada ao microcrédito. Bancos BPC e SOL expandirem A ONU deu uma ajuda considerando
2003 > Criação da rede angolana do o microcrédito em todo o país. 2005 como o ano Mundial do Microcré-
sector de micro empresas. 2006 > Realização do segundo fórum dito. “Não conseguimos chegar lá, mas ficá-
2004 > Criação do núcleo de sobre o microfinanças no
Kwanza Sul. mos muito perto”, recorda. O objectivo foi
microfinanças do BNA.
2007 > Criação da comissão multi- atingido dois anos depois, em 2007. No ano
> Criação do Novo Banco, virado
a microfinanças (hoje chamado sectorial para o microcrédito. anterior, em Halifax, no Canadá, já tinha
BAI Micro Finanças). 2008 > Realização do terceiro fórum sido definida uma nova meta ambiciosa
> Criação do programa empresarial sobre microfinanças na cidade — 175 milhões de famílias abrangidas até
angolano em parceria com o de Benguela.
2015. Nesse mesmo ano pretende-se que
PNUD e Chevron Texaco.
100 milhões de famílias passam a ganhar
> Realização do primeiro fórum Fonte I ntervenção da primeira-dama, Ana
nacional sobre microfinanças Paula dos Santos, na conferência de
mais de 1 dólar por dia. Utopia? Yunus já
em Luanda. Muhammad Yunus, em Talatona. nos habituou a ter uma taxa de 100% no
cumprimento de objectivos difíceis. b

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OS PAIS...
DA CONFERÊNCIA

Clotilde Saraiva nasceu na Ingombota em


Luanda. Foi estudar para Portugal e regressou
em 2002. “Sempre quis voltar”, confessa.
Quem a desafiou foram os seus alunos.
Clotilde dava aulas de Gestão na Universidade
Autónoma, em Lisboa. Tinha muitos alunos
angolanos que lhe perguntavam porque não
regressava e se tornava professora. Por ironia
já está no pais há oito anos e nunca deu aulas
numa universidade. “Tenho três convites em
carteira e ainda não aceitei nenhum. São todos
meus amigos. Receio desiludir algum deles”.
Mas a sua actividade profissional está ligada
ao ensino. Fundou em 2004, com Ellsio Manuel,
a empresa de consultoria e formação IT –
International Talents. Na área da consultoria a

Kamene traça

Kamene traça
IT acompanha, sobretudo,
as áreas administrativas e financeiras ou os
processos de reestruturação. Já a formação
incide sobre os temas de gestão embora a IT
Clotilde Saraiva Elsio Manuel
já tenha organizado cursos em áreas mais
Idade 48 anos Idade 30 anos
técnicas como a dos petróleos. “Fazemos
Naturalidade Luanda Naturalidade Luanda
cursos à medida das empresas. Consoante
Formação académica Gestão Formação académica Gestão
as necessidades vamos à procura dos
Cargo CEO da IT-Center Cargo Partner da IT-Center
formadores adequados”, esclarece.
Em 2009 a IT, que também tem escritórios
em Portugal, resolveu crescer para o negócio
das conferências. Com esse objectivo criou
uma parceria com a multinacional HSM que Governo forneceu a segurança de Muhamad especializadas em microcrédito, não apoiaram,
representa os grandes pensadores da área da Yunus, a primeira-dama fez questão de estar nem inscreveram mais participantes – ao
gestão em todo o mundo. A título de exemplo presente e fazer a comunicação de abertura contrário do que fizeram alguns organismos
é a HSM que organiza anualmente a Expo e o Nobel da Paz foi recebido no Palácio pelo públicos e autoridades provinciais – num
Management, um ponto de encontro anual Vice-presidente”, esclarece Clotilde Saraiva. seminário com a mais eminente referência na
entre os profissionais da gestão. O A parte que correu menos bem foi a matéria. Afinal não é todos os dias que Angola
posicionamento da IT pretende ser diferente negociação com os potenciais patrocinadores, recebe um Nobel. Bem mais fácil foi o
das outras empresas que já estão no mercado. cuja resposta que se arrastou até muito perto entendimento com a revista EXAME que
“Não queremos trazer oradores internacionais da data do seminário. Isso fez com que a aceitou, em menos de 24 horas, o convite para
só porque estão na moda. Queremos trazer campanha de marketing se atrasasse. “Tinha ser media sponsor do evento, a par das outras
especialistas reconhecidos, em áreas que têm os materiais de comunicação todos prontos há publicações do grupo MediaNova. “Sinto-me
um interesse prático para o país”, confessa. vários meses só aguardava pela confirmação realizada”, afirmou Clotilde Saraiva com
É nesse contexto que surgiu a ideia de trazer do patrocinador. Mas eu tinha decidido trazer orgulho no final da sua aventura.
Muhamad Yunus, o “pai” do microcrédito. “Foi Yunus a Angola custe o que custar, mesmo que Apesar das contrariedades Clotilde Saraiva
mais fácil do que pensávamos. É uma pessoa perdessemos dinheiro. As dificuldades só nos já está a pensar no próximo evento. “Este foi o
muito acessível e tinha interesse em conhecer deram força para sermos ainda mais primeiro de muitos seminários. Vamos
Angola”, diz. A ideia nasceu em Outubro do ano determinados”, recorda. O certo é que talvez organizar mais uma grande conferência até ao
passado e os preparativos começaram em devido à falta de divulgação atempada o final do ano, com a mesma dimensão e numa
Janeiro. Pela positiva, registe-se o seminário registou apenas “meia casa”. área com interesse para o país”. Luanda, como
envolvimento das intituições angolanas, ao É, de facto, incompreensível como é que o se vê, está realmente na moda no circuito
mais alto nível, no sucesso do evento. “O Banco Sol, BPC ou BAI, instituições internacional de conferências.

maio 2010 | 61
gestão entrevista

No anterior modelo de sociedade – o egoísta –, as pessoas queriam


tudo para elas e nada para os outros. No novo modelo –o altruísta –,
sucede o oposto: tudo para os outros e nada para mim. Bem-vindo ao
mundo dos negócios sociais, tema do novo livro de Muhammad Yunus
Jaime Fidalgo

do egoísmo a
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Kamene traça

o altruísmo
maio 2010 | 63
gestão entrevista

roque santeiro Yunus diz que os vendedores de rua devem ser apoiados em vez de perseguidos. O seu espírito empreendedor é de louvar

M
uhammad Yunus acredita que disse que o mundo precisa de
as crises são uma boa oportu- reinventar a banca. Como fundador
nidade para a mudança. Na do Grameen Bank, como viu a crise
sua opinião esta é a altura per- mundial de 2009 ano e as tentativas
Os negócios feita para erguer um novo modelo de orga-
nização, onde os “negócios sociais”, tema
de políticos como Obama para regular
o sistema financeiro à escala global?
sociais devem do seu novo livro, ocupam lugar de des- A crise financeira foi uma chamada de alerta

ser rentáveis. A taque. Os negócios sociais apenas diferem


dos tradicionais pelo facto de o objectivo
para o mundo. Alguma coisa estava errada.
As pessoas tendem a encará-la como um
diferença é que não ser o lucro. Yunus dá como exemplos
a parceria do Grameen Bank, que fundou,
fenómeno isolado, mas isso não é verdade.
A crise de 2009, não foi apenas financeira.
os lucros não com a multinacional Danone para a pro-
dução de iogurtes saudáveis que comba-
Houve um conjunto de crises que começou
muito tempo antes. Em 2008, por exem-
revertem para tem a má nutrição. Ou a parceria com a
Adidas, que este mês vai lançar, uns novos
plo, houve uma crise energética que fez dis-
parar o preço do petróleo. Muitos países
os accionistas ténis que combatem as infecções nos pés e
custam menos de 1 dólar. Embarque nesta
continuam a sofrer uma crise alimentar e
de escassez de água. As alterações climá-
viagem ao mundo dos negócios sociais con- ticas estão a gerar uma crise ambiental. O
duzida pelo Nobel da Paz. que está em causa é algo mais vasto. Nós,
enquanto seres humanos, cometemos um
Na abertura do Congresso Mundial do erro fundamental no modo como pensá-
Microcrédito, realizado em Nairobi, mos e organizámos a nossa vida.

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o país

o país
MULHERES Honram dívidas. São mais responsáveis do que os homens

Como podemos emendar esse erro? casino. Há muito tempo que eu digo que os negócios sociais, o dinheiro é reciclado, no
As crises são uma excelente oportuni- bancos têm de estar centrados no mundo sentido que vai e volta, continuadamente,
dade de mudança. Não para falar, mas real e não em mundos de papéis imaginá- para benefício de todos.
para agir. “Pensos rápidos” não chegam. rios. A crise, repito, é uma oportunidade
É preciso repensar tudo e mudar as coi- para se redesenhar a actividade bancária. Pode dar-nos exemplos?
sas. As pessoas querem que tudo volte a No Bangladesh, cerca de 50% das crianças
ser como era rapidamente. Eu não tenho No seu novo livro, Building Social têm problemas de nutrição. Em parceria
pressa nenhuma. Pelo contrário, acredito Business, fala de um novo modelo de com a Danone nós criámos uma fábrica
que o mundo não deve voltar a ser o que sociedade. Pode explicar-nos em que de iogurtes que pretende resolver o pro-
era. Temos de experimentar novas aborda- consiste esse modelo? blema. Os iogurtes foram enriquecidos com
gens. Este é o melhor momento para tentar. É uma nova arquitectura que passa do inte- todos os micronutrientes que as crianças
resse egoísta (selfish) para a ausência de precisam. Basta as crianças tomarem dois
O que podemos fazer de diferente? interesse individual (selfless). No anterior iogurtes por dia, durante nove meses, para
As mudanças devem ser estruturais. Temos modelo, o egoísta, as pessoas queriam tudo os problemas de subnutrição desaparece-
vivido segundo um modelo em que as pes- para elas e nada para os outros. No novo rem. Além de saudáveis, os iogurtes são
soas são movidas pelo interesse indivi- modelo, o altruísta, é o oposto: tudo para deliciosos e muito baratos. Não se gasta
dual. Pelo egoísmo. Pelo desejo de serem os outros e nada para mim. Muitos dizem dinheiro em marketing, nem em emba-
ricas. Nós não somos máquinas de fazer que isso é impossível, mas a filantropia é lagens luxuosas. A Danone, porém, não
dinheiro. É a ganância e a ambição que isso mesmo. Há pessoas que, chegados a ganha nenhum dinheiro com o negócio.
fazem com que o homem esteja a destruir um certo ponto da sua vida, resolvem dar Mas também não perde. A ideia é que, den-
o ambiente. A crise financeira teve que ver tudo aos outros. Só que esse dinheiro vai e tro de dez anos, recupere todo o dinheiro
com essa ganância. O mercado não é um não volta. No modelo que proponho, o dos que investiu. Sem juros. É assim que fun-

maio 2010 | 65
gestão ENTREVISTA

AFP
cheias no Bangladesh O país é vítima de inúmeras calamidades naturais. O microcrédito é um instrumento de coesão e solidariedade

cionam os negócios sociais. São negócios saudáveis. Muitas pessoas no Bangladesh Mas o seu banco também empresta
como os outros só que não geram lucros. têm parasitas no pés. Os investigadores da dinheiro a taxas de juro mais altas?
Ou melhor, a empresa pode ter lucros, os Adidas tentaram resolver esse problema. Sim. Mas o Grameen Bank é detido por
accionistas é que não. Na parceria com a aqueles a quem se empresta o dinheiro. Se
Danone, em vez de perguntarmos quanto A invenção é patenteada pela Adidas? houver lucros, o dinheiro regressa aos clien-
dinheiro ganhámos, queremos saber o Outra característica dos negócios sociais tes sob a forma de dividendos. Eu defendo
número de crianças que salvámos. é que não há patentes envolvidas. Não há o modelo no livro, que os negócios devem
copyright (direitos protegidos) há copyleft ser rentáveis. Apenas acrescento que esses
Como é que convenceu a Danone? (risos). Como se diz em linguagem infor- lucros devem servir apenas para recuperar
Bom, ao princípio não foi fácil. Quando lhes mática é tudo feito em open source (código o investimento feito, não para enriquecer
falei na parte de não ganharem dinheiro, o aberto) em que todas as pessoas têm acesso à os accionistas. A partir daí o dinheiro deve
entusiasmo esmoreceu. Ficaram um tempo informação e podem colaborar no projecto. ser “reciclado”. Ou reinvestido em novos
sem me dizer mais nada e eu até julguei Muitas pessoas dizem que estas multina- projectos, ou distribuído pelos beneficiá-
que tivessem desistido. Afinal resolveram cionais estão a usar o Grameen Bank para rios dos empréstimos.
avançar e o êxito da Danone deu origem a promover a sua imagem. Sempre que ouço
mais negócios sociais como o da Veolia, na dizer isto respondo: “Por favor usem-me.” Quanto tempo levou a escrever o livro?
água, ou da BASF com as redes mosquitei- Cerca de dois anos. No meu livro anterior
ras para protecção da malária. A Adidas Como vê a actual popularidade Creating a World Without Poverty (Criar
também fez uma parceria connosco para do microcrédito à escala mundial? Um Mundo sem Pobreza) eu já falava nes-
criar sapatos desportivos, a preços acessí- Com muito entusiasmo e optimismo mas tas ideias. Durante as conferências que fui
veis, para os mais carenciados. também com alguma apreensão. O conceito fazendo pelo mundo fora, respondi a inú-
de microcrédito foi criado para erradicar meras dúvidas e perguntas, às quais pro-
Quanto custarão os ténis da Adidas? os “tubarões” do crédito. No entanto, eu curava adicionar exemplos. As pessoas
Pedi-lhes para “inventarem” sapatos que hoje vejo que muitos bancos se apropria- perguntaram-me por que não escrevia um
custam menos de 1 dólar. Eles acharam ram do conceito para cobrar taxas de juro livro com base no material das prelecções.
que eu estava a propor um desafio impos- demasiado altas às populações necessita- Foi assim que o livro nasceu. Ensina como
sível. Mas conseguiram. No próximo mês das. O microcrédito não pode ser um negó- criar, passo a passo, um negócio social.
vão trazer 10 mil pares de ténis para o cio em que os ricos lucram com os pobres.
Bangladesh para testar se as pessoas gos- Por isso, acredito que a ideia do microcré- Hoje ,o conceito de microcrédito
tam do produto e se o preço é suficiente- dito funciona melhor se for gerido pelas está a ser estudado nas melhores
mente barato. Mais uma vez, serão sapatos ONG do que pelos bancos. universidades em todo o mundo,

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grameen Bank

grameen Bank
PARCERIA COM DANONE Metade das crianças do país sofre de má nutrição. Os iogurtes têm todos os nutrientes que elas precisam

Sociais. Outras universidades nos Estados Um cliente até pode não pagar o dinheiro
Unidos e na Alemanha também o fizeram. de volta e aguentar-se durante alguns anos.
Tudo isso são sinais muito positivos. Mas ao fim de um certo de tempo acaba
por vir ter connosco outra vez. As nossas
Muitos bancos Como concilia as vertentes de orador
e escritor com a de banqueiro?
portas estão sempre abertas. Não fazemos
nenhum julgamento moral, nem vamos aos
apropriaram-se O banco já funciona por si próprio. Estou
mais de metade do ano em conferências
tribunais. As pessoas só têm de pagar o que
devem, nem que seja em pequenas presta-
do microcrédito pelo mundo fora. É importante esse esforço, ções, e só depois é que voltam ao sistema.

para cobrar juros pois o Grameen Bank está a fazer experi-


ências com microcrédito em vários locais Porque é que as mulheres são os
loucos. Gostava do mundo, exactamente da mesma forma
como o faz no Bangladesh. Uma das mais
maiores clientes do Grameen Bank?
De facto, elas representam 97% dos clien-
de abrir o Grameen interessantes começou há dois anos e meio
no bairro de Queens, em Nova Iorque. O
tes. Isto sucede porque as mulheres têm
uma visão de longo prazo. A maioria tem
Bank em Angola Grameen America tem 3 mil clientes, quase
todas mulheres. A média de empréstimos
filhos que precisam de ser alimentados e
vestidos. São, em suma, mais sérias e mais
ronda os 500 dólares e a taxa de recupera- responsáveis do que os homens.
ção é de 99%. Não deixou de ser irónico ver
inclusivamente em programas de os bancos de Wall Street a colapsar com a Em Angola existe um dos maiores
MBA. Como vê o actual interesse da crise e o nosso programa de microcrédito a mercados a céu aberto de África, o
academia pelos mais carenciados? florescer. Nos Estados Unidos, vamos abrir Roque Santeiro. Como é que o país
Os estudantes são o meu público predilecto. este ano em Ohmaha, Nebrasca, Washing- pode tirar o melhor partido dessa
Os jovens têm uma mente mais aberta, logo, ton e São Francisco. energia empreendedora?
são mais propensos a aderir ao conceito Essas pessoas deviam ser condecoradas.
de negócios sociais. Um pouco por todo o Como consegue ter taxas de retorno Elas estão a tomar conta da sua vida. Não
mundo estão a nascer os social business clubs dos empréstimos de quase 100%? precisam de licenças para isso. Para eles, o
que, quando se tornam mais formais, dão Isso só acontece no Bangladesh ou mercado formal ainda é algo muito distante.
origem aos social business centers. No ano também noutras partes do mundo? A pior coisa que o Governo pode fazer é
passado, o Hautes Études Commerciales, Os problemas são iguais e a nossa meto- persegui-los e impor-lhes leis de ricos que
de Paris, criou uma cátedra em Negócios dologia também é igual em todo o mundo. não são adequadas para os pobres. Deve,

maio 2010 | 67
gestão ENTREVISTA

Muhammad Yunus, o Nome


banqueiro dos pobres Muhammad
Yunus
Idade
Foi com apenas 27 dólares concedidos a 42 famílias, 70 anos
em 1976, que Muhammad Yunus deu início ao Nacionalidade
microcrédito, termo cunhado em 1970 para designar Bangladesh
um tipo muito específico de crédito cujo objecto Estado Civil
principal são as populações pobres, que não têm Casado,
acesso a qualquer outro tipo de crédito. A ideia de dois filhos
microcrédito deu origem a uma nova visão do mundo Formação
e da própria economia. Passados 34 anos desde esse académica0
primeiro empréstimo, Yunus, através do seu Licenciado
Grammen Bank, já concedeu financiamento a mais de em Economia
8 milhões de empreendedores, maioritariamente em Bangladesh,
mulheres. Um sucesso que foi construído na base da doutorado
confiança e não em garantias. Uma lição para todos nos Estados
aqueles que vêem na erradicação da pobreza uma Unidos, professor
utopia. Jimmy Carter, antigo Presidente do Estados na Universidade
Unidos, escreveu que “dando aos pobres o poder de de Dhaka
se ajudarem a si próprios, Yunus ofereceu-lhes algo
muito mais valioso do que um prato de comida, mas
segurança na sua forma mais fundamental”.
Muhammad Yunus nasceu
a 28 de Junho de 1940
na aldeia de Bathua, no
Bangladesh, e era o terceiro de
14 filhos, dos quais cinco
morreram na infância. O seu pai
era um ourives de sucesso que
sempre incentivou os seus
filhos a estudarem. Mas foi na
sua mãe, Sufia Khatun, que
sempre ajudou qualquer
pobre que batesse à porta,
que maior influência teve no
carácter de Yunus. Isso
inspirou-o a comprometer-se
com a erradicação da pobreza.
Ele foi o fundador, em 1983, do Grameen Bank, que
significa “banco da aldeia”, fundado com base em
princípios de confiança e solidariedade. Actualmente,
no Bangladesh o Grameen Bank serve 2,1 milhões de
clientes em 37 mil aldeias, dos quais 94% são
mulheres e mais de 98% dos empréstimos são pagos
de volta, o que se traduz numa taxa de recuperação
dos créditos de meter inveja a qualquer banco. O
sucesso do Grameen Bank valeu, em 1996, a Yunus o
Prémio Internacional Simón Bolívar, que recompensa
as pessoas que trabalham pela liberdade,
horácio dá Mesquita

independência e dignidade dos povos. E em 2006, por


toda a sua obra, Yunus e o Grameen Bank foram
laureados com o Prémio Nobel da Paz.
Manuel Cruz

68 | www.exameangola.com
Nunca teve problemas de segurança? agricultura, as pessoas são muito dinâmi-
Pelo contrário. O nosso negócio é baseado cas. Vi inúmeras pessoas na rua a vender.
na confiança. Muitas das pessoas com quem Não vejo razões para que não possa crescer.
lidamos são iletradas. Nós nem sequer as A nossa metodologia funciona em qualquer
Daqui a obrigamos a assinar papéis. local do mundo. Temos uma equipa numa
das zonas mais pobres da Guatemala, que
30 anos espero O microcrédito em Angola é associado nem sequer fala a língua e o negócio flo-

que o mundo à banca pública. É uma boa solução?


O importante é que quem trabalhe com o
resceu. Em África temos um programa em
curso na Zâmbia e vamos agora iniciar a

já tenha microcrédito acredite no que está a fazer e


tenha um foco nas pessoas. Mas, em muitos
actividade na Tanzânia.

conseguido casos, creio que as ONG estão mais habili-


tadas a fazê-lo do que a banca tradicional.
Angola pode ser o próximo destino?
Gostávamos muito. Mas para isso preci-
colocar a pobreza No nosso tipo de negócio acreditamos nas
pessoas até prova em contrário. A banca
samos de ser convidados por um parceiro
local do sector público ou privado.
no museu tradicional tende a desconfiar das pessoas
até prova em contrário. É importante ter Que objectivos é lhe falta alcançar?
legislação específica para microcrédito. E A minha ambição é erradicar a pobreza.
os bancos que quiserem entrar nesse negó- Os objectivos do milénio traçaram a meta
em contrapartida, dar-lhes condições para cio deverão criar estruturas autónomas. de reduzir a pobreza em 50%, até 2015.
melhorarem o seu negócio. Por exemplo, Penso que a próxima meta deverá ser a
fechando as ruas ao trânsito em dias de Crê que existem boas oportunidades de, nos 30 anos seguintes, erradicarmos
mercado. Ou colocando protecções para a para o microcrédito em Angola? definitivamente a pobreza. O meu desejo
chuva e para o sol. O essencial é não deixar No Bangladesh somos 150 milhões de pes- intimo é que nessa altura se possa colocar
esmorecer o espírito empreendedor dessas soas, não existem recursos naturais e as um cartaz de recompensa a quem encon-
pessoas. À medida que têm sucesso passa- catástrofes naturais são constantes. Angola trar um pobre. O meu objectivo íntimo é
rão naturalmente para a economia formal. tem minérios, excelentes oportunidades na o de colocar a pobreza num museu. b

Livros de auto-ajuda para o planeta


A nova obra será lançada no dia 11 deste mês. O autor fez a antevisão para a EXAME

O Banqueiro Criar Um Mundo Building Social


dos Pobres Sem Pobreza Business
Neste primeiro livro, que Neste segundo livro Este terceiro livro é um
se tornou um êxito Yunus vai além do verdadeiro guia para a
global, Yunus revela o microcrédito, aplicação do conceito
verdadeiro significado descrevendo o conceito de negócio social,
da economia como do negócio social, que desenvolvido na obra
ciência social. visa utilizar a criatividade anterior. Segundo Yunus,
O Banqueiro dos Pobres empresarial para um negócio social é um
é uma aula sobre o combater os problemas modelo de negócios inovador
microcrédito que se mistura com a história sociais da pobreza, da poluição, dos cuidados que visa resolver um problema social e não
do seu mentor e do Gramenn Bank. Yunus médios e do ensino. Para isso, Yunus descreve as apenas maximizar o lucro. Cada negócio social
escreve na primeira pessoa, traçando os várias parcerias que criou com alguns dos líderes gera emprego, boas condições de trabalho e
passos e os resultados que algumas das suas empresariais mundiais mais visionários com trata de desafios sociais específicos, tais
ideias tiveram no terreno por via da sua quem teve oportunidade de trabalhar na como a falta de educação, a saúde e a boa
preocupação central de restituir à mulher implementação dos primeiros negócios nutrição. Inclui casos de estudo como o da
o papel principal no seio da família. exclusivamente sociais do mundo. Danone, da Adidas, da BASF, ou da Veolia.

maio 2010 | 69
Gestão2.0
Por jaime fidalgo

O guru dos pobres


Faleceu C . K. Prahalad, um dos maiores especialistas em estratégia de sempre.
No seu último livro explicou como as empresas podem ter lucros e ajudar
os pobres. Pessoas como ele (e Yunus) tornam o mundo melhor para se viver

D
esde os estudos de Michael Porter que a Estratégia se Os factos deram razão a Prahalad. Nunca, como agora, se falou
tornou a disciplina nobre da Gestão. O problema é tanto das oportunidades de negócio nos países emergentes, da
que o distinto professor de Harvard nunca mais lan- ascensão dos pobres à classe média e dos milhões de pessoas que
çou nenhuma ideia realmente nova desde o lança- tentam aderir à economia formal. O guru (expressão indiana que
mento do livro Competitive Strategy, em 1990, que continua a ser significa “líder espiritual”) apontou as estratégias adequadas para
usado como obra de referência nas faculdades. Desde então, os se ter sucesso junto dos consumidores com baixos rendimentos.
especialistas tentam encontrar o novo “rei” da estratégia. O norte- Muitos exemplos vêm da Índia, o seu país natal. É lá que pontifica
-americano Gary Hamel e o indiano C. K. Prahalad foram indica- o grupo Tata, que se tornou famoso à escala global por ter criado
dos por muitos (incluindo o autor deste artigo) como os grandes o Nano, o automóvel mais barato do mundo (custa menos de 2500
candidatos à sucessão. A dupla escreveu a obra Competing for the dólares). Mas há mais exemplos. Desde os computadores portáteis
Future, em 1990, que influenciou toda uma geração de gestores, a menos de 100 dólares, das cirurgias às cataratas por apenas 30
na qual os autores popularizaram os con- dólares, dos quartos de hotel a 20 dólares ou
ceitos de “intenção estratégica” (strategic das chamadas de telemóvel a menos de 1
intent) e “competências distintivas” (core cêntimo por minuto.
competences). Este último foi particular- Coimbatore Krishnarao Prahalad, tam-
mente útil. Numa época repleta de fusões bém conhecido como o “guru da estratégia”,
e aquisições falhadas, Hamel e Prahalad faleceu no dia 16 de Abril, aos 68 anos de
aconselharam os gestores a centrarem os idade, em San Diego, na Califórnia. Nascido
seus esforços nas competências que real- no estado de Tamil Nadu, foi sempre um
mente dominavam e onde eram melhores aluno brilhante. Apaixonado pela Gestão,
do que a concorrência. “Faz apenas o que tirou a licenciatura da disciplina no Indian
sabes fazer bem e delega tudo o resto”, era Institute of Management e fez o mestrado
Julio Bittencourt / VALOR / ag. o globo

o pensamento dominante nessa época. na prestigiada Harvard Business School,


Nos anos seguintes, Gary Hamel passou nos Estados Unidos. A par da escrita e
a dedicar-se mais aos temas da inovação, da actividade de consultor, foi professor
aproveitando a “boleia” da “nova econo- catedrático da Universidade de Michigan.
mia” e das redes sociais. Prahalad, por seu Ao contrário de tantos outros pensadores,
turno, apostou no estudo da pobreza. O C. K. Prahalad pôde assistir em vida ao
autor indiano não percebia porque é que as triunfo das suas ideias. Quem o conheceu na
grandes empresas continuavam a lutar ferozmente por um pouco vida privada define Prahalad como um homem sábio e bom. Iguais
mais de quota nos mercados saturados, quando nos países emer- objectivos podem ser atribuídos a Muhammad Yunus, Nobel da Paz
gentes — como a China, a Índia ou o Brasil — havia uma enorme em 2006, que esteve recentemente em Angola, a pregar as virtudes do
massa de consumidores com um poder de compra em ascensão. O microcrédito e dos negócios sociais. Ambos têm a mesma missão na
guru indiano chamou a esse grupo de consumidores o “fundo da vida: erradicar a pobreza. Ambos pertencem àquele grupo restrito
pirâmide” (bottom of the pyramid). São 2,5 mil milhões de pessoas de pessoas que conseguiram mudar o mundo, não pela força, mas
que vivem com menos de 3 dólares por dia, mas que representam pelo poder das suas ideias. Se houvesse mais pessoas como Prahalad
o maior mercado do mundo, um autêntico filão para as empresas. e Yunus, o mundo seria melhor para se viver. b

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gestão casos

Bancos de

72 | www.exameangola.com
esperança
O BPC, em parceria com a ONG World Vision, criou vários bancos
comunitários que mudaram a vida de 4700 famílias no Huambo.
Saiba porque é que as mulheres são as campeãs do microcrédito.
Faustino Diogo

daniel miguel

maio 2010 | 73
gestão casos

daniel miguel
banco comunitário Mulheres formam grupo de 20 elementos e elegem órgãos sociais. Se uma delas não paga, o grupo assume a responsabilidade

O
microcrédito tem sido um tal. Segundo os responsáveis do BPC, o ponsabilizam) toda a comunidade para o
poderoso aliado no combate à crédito jovem é o que menos tem respon- sucesso da operação. A parceria fez elevar
pobreza em todo mundo. No dido ao desafio lançado com uma taxa para mais de 30 mil pessoas o número de
nosso país começou a ganhar de incumprimento de 64%. “A experiên- beneficiários do microcrédito cedido pelo
forma, em 2005, através do financiamento cia do crédito jovem não foi muito agra- BPC. Destes, 19 mil (63%) são mulheres e
de 10 milhões de dólares, por parte do dável. Trabalhamos com jovens que não 13 mil são homens, rácio que comprova
Ministério das Finanças. O valor foi repar- tinham experiência de gestão. A formação a tese de Muhammad Yunus, segundo a
tido entre o Banco de Poupança e Crédito incidiu mais na criação do negócio do que qual as mulheres são o maior público-alvo.
(BPC) e o Banco Sol para a concessão de na sua administração no terreno”, diz Isa-
crédito aos pequenos produtores agrícolas, bel Miguel, directora do microcrédito do A responsabilidade é solidária
professores e enfermeiros das zonas rurais. Banco de Poupança e Crédito. Passados cinco anos, aquilo que come-
Paralelamente, o BPC foi criando outros O mesmo não se pode dizer do crédito çou por ser uma experiência-piloto entre
programas e parcerias com organismos concedido às populações rurais, onde o o BPC e a World Vision transformou-
públicos e privados, visando o financia- retorno dos empréstimos está na ordem -se no sustento de mais de 4700 famílias
mento de pequenos negócios. Assim nas- dos 95 por cento. Para esse valor muito na província do Huambo. O microcré-
ceram três programas. O do Instituto contribuiu a parceria com a Word Vision, dito transformou a vida de mulheres e
Nacional do Café (INCA), com sede no que de forma inovadora lançou no país os homens da Caála, uma área rural de-
Kwanza-Sul, que teve direito a uma linha bancos comunitários que envolvem (e res- pendente da agricultura e da pecuária,
de crédito de 2 milhões e 500 mil dóla- devolvendo-lhes os sonhos que o passa-
res. O do Ministério da Juventude e Des- do quis apagar. O valor máximo posto à
porto, de âmbito nacional, no valor de 2
milhões de dólares, dirigido aos jovens A linha de crédito disposição das mulheres agricultoras foi
de 22 500 kwanzas (240 dólares).
que se encontram a exercer actividade no
mercado informal. E um bem-sucedido
inicial, para cada uma Em contrapartida, elas foram obrigadas
a formar um grupo (no máximo, com 20
programa de parceria com a ONG norte-
americana World Vision, no Huambo, no
das 20 mulheres pessoas) para terem acesso aos financia-
mentos. A criação de bancos comunitá-
valor de 1,25 milhões de dólares.
Tais parcerias têm gerado resultados
do grupo, é de apenas rios foi a solução encontrada para dar o
melhor aproveitamento à verba de 1,2
distintos em termos de retorno do capi- 240 dólares milhões de dólares cedida pelo BPC.

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daniel miguel

daniel miguel
Paula Alves, da ONG norte-americana World Vision Isabel Miguel, directora do microcrédito do BPC

Assim nascia a primeira organização Muitas dessas empreendedoras, que já perativas como o Clube de Multiplicado-
comunitária da Caála, o Banco Comuni- vão no terceiro microcrédito entre 100 mil res de Sementes de Batata Rena, também
tário Esperança, onde a confiança serve e 250 mil kwanzas (2680 dólares), querem contempladas com um microcrédito do
de garantia entre os membros. Lidera- lançar-se para um desafio ainda maior, BPC. O financiamento, que começou com
do por Rosa Cecília, o Banco Esperança que passa pela solicitação de um emprés- 10 mil kwanzas (107 dólares) já vai em 40
começou a sua aventura com a referi- timo pessoal fora do banco comunitário. mil kwanzas (430 dólares). Eduardo João
da linha de crédito de 240 dólares para Algumas confessaram à reportagem da foi um dos beneficiados. Ele orgulha-se
cada uma das 20 mulheres do grupo. O EXAME sonhar com o momento em que de fornecer sementes de milho, batata e
prazo de reembolso era de apenas qua- poderão comprar um carro que lhes per- outros tubérculos mais produtivas e com
tro meses, uma condição fundamental mita o transporte de produtos para a cidade. maior capacidade de germinação.
para aceder a futuros financiamentos. O êxito da experiência-piloto deu origem
“Tínhamos que cumprir com os prazos. ao nascimento de 25 bancos comunitários Mulheres honram os compromissos
Só assim poderíamos aumentar o valor espalhados pela província do Huambo. As mulheres ainda são, no entanto, as
do financiamento na segunda solicitação “Todos têm por base o conceito de garantia campeãs do microcrédito no Huambo.
de crédito”, explica Rosa Cecília, 40 anos, solidária: se um membro não poder pagar Elas beneficiam de mais de 75% dos 1,25
mãe de 10 filhos. a prestação a comunidade assume o reem- milhões de dólares postos à disposição da
O sucesso da operação permitiu ao Banco bolso”, explica Imaculada, do Banco Comu- população rural pelo BPC. Revelam uma
Esperança aumentar o crédito para 50 nitário Okuseteka. “O lucro do primeiro notável capacidade de trabalho e para hon-
mil kwanzas (537 dólares) por pessoa. O empréstimo foi de 70 mil kwanzas (cerca rar os compromissos financeiros.
segundo microcrédito fez aumentar a capa- de 750 dólares). Metade foi para pagar ao A sua vida, porém, não é fácil. Tipica-
cidade de investimento. Para além da venda BPC e o restante ficou na comunidade para mente são as mulheres que trabalham no
dos produtos do campo, as “zungueiras” emprestar àqueles membros do banco que, campo, assumem as lides domésticas e
passaram a apostar noutros negócios como por qualquer situação, não possam reem- cuidam dos filhos. Foi a pensar nelas que
o comércio de roupas e de outros bens vin- bolsar o que pediram”, esclarece. a World Vision resolveu criar programas
dos de Luanda. Tal “salto qualitativo” tor- Pequenos em números, mas grandes em de formação ligados ao microcrédito e à
nou as mulheres mais independentes e a acções, as comunidades rurais da Caála alfabetização. “As mulheres sempre tive-
principal fonte de sustento das suas famí- estão a desenvolver-se com as mulheres ram pouco acesso ao crédito e, mesmo
lias. “Os meus dez filhos e o meu marido no comando. Os homens, por seu turno, assim, sempre honraram os compromis-
vivem do que faço”, diz a líder do Banco. não querem ficar para trás e criaram coo- sos”, revela Paula Alves, da World Vision.

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gestão casos

Fundação
2004
Total de Crédito concedido
45,4 milhões de dólares
Total do microcrédito
17,4 milhões de dólares (38%)
Número total de beneficiários
42 006

PROGRAMAS

daniel miguel

daniel miguel
Foram assistidas 200 mil pessoas
(o que equivale a 42 mil famílias)
nos cinco programas disponiveis
Maria P. Imaculada, do Banco Okusuteka Rosa Cecília, presidente do Banco Esperança
Programa do Governo
Âmbito Nacional
Crédito 5, 4 milhões de dólares
Os homens do campo, por seu turno, O empenho das mulheres que trabalham
Beneficiários
gostam de assumir mais riscos, o que cria com o microcrédito é demonstrado por
18 104 (60% mulheres)
mais dificuldades para o reembolso do Maria Madalena. Viúva de 47 anos e mãe
crédito e para a própria “saúde” do pro- de 12 filhos, conseguiu reembolsar os seus
Instituto Nacional do Café grama. Este tem como base o aval solidá- dois empréstimos, de 22 500 (241 dólares)
Âmbito Kwanza-Sul rio, onde cada membro responde por um e 50 mil kwanzas (537 dólares). Ela já vai
Crédito 2,5 milhões de dólares outro membro. “Os homens não querem no terceiro empréstimo, 100 mil kwanzas
Beneficiários 22 mil kwanzas, mas, sim, 100 mil kwan- (1073 dólares), com o intuito de alargar
4894 (70% mulheres) zas. Se eles não demonstraram que con- a sua plantação de batatas e comerciali-
seguem pagar 22 mil kwanzas como é que zar outros produtos. “Com este dinheiro
Crédito Jovem nós lhes podemos emprestar 100 mil kwan- e com ajuda das minhas ‘irmãs’ (colegas)
Âmbito Nacional zas?”, questiona Paula Alves. A compra de tenho conseguido cuidar e educar os meus
Crédito 6,5 milhões de dólares
uma motorizada para fazer “processo” (ser- filhos sem dificuldades”, esclareceu a viúva.
Beneficiários
viço de táxi) é a justificação dos homens A próxima aposta passa pela criação de
4800 (60% mulheres) para a necessidade de um crédito de 100 uma linha crédito para as mulheres de
mil kwanzas. “O problema é que eles não 500 mil kwanzas (5364 dólares). A taxa
fazem uma planificação de como vai ser de reembolso é de 3%. Os beneficiários
Parceria World Vision feita a amortização do capital”, reforça. podem deixar cativos 20% dos lucros de
Âmbito Huambo cada membro do banco comunitário para
Crédito 1,9 milhões dólares emprestar a outros membros, a uma taxa
Beneficiários
6000 (70% mulheres) São as mulheres que de juro superior. Paula Alves, engenheira
de técnicas agrícolas, com especialidade

Microcrédito BPC
trabalham no campo, em microcrédito, acredita que a experiên-
cia dos bancos comunitários pode ser alar-
Âmbito Cabinda, Luanda,
Kwanza-Sul, Namibe
asseguram as lides gada a outras regiões do país para melhorar
a qualidade de vida dos mais pobres. Em
Crédito 1,2 milhões de dólares domésticas e ainda umbumbu, acrescenta que tem um sonho:
“A criação de um banco de microcrédito
Beneficiários 316 (90% mulheres)

Fonte: BPC — Relatório Anual de Microcrédito 2008.


cuidam dos filhos para ajudar os meus conterrâneos.” b

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gestão casos

À procura de um
H
á coisas extraordinárias que A sua colega Adriana José Manuel, Depois de analisar as experiências
acontecem às pessoas comuns cliente do Banco Sol há cinco anos, já internacionais – sobretudo a do Nobel
através do microcrédito. Foi o conseguiu comprar duas viaturas Hia- Muhammad Yunus, no Bangladesh, e de
que sucedeu com José Valente, ces para o transporte urbano. Aliás, as outros países na Ásia e América Latina —,
beneficiário do Banco Sol. Há nove anos, mulheres estão entre as mais destacadas o Banco Sol decidiu avançar para o micro-
era um simples vendedor de rua. Hoje, tor- clientes do microcrédito. Geralmente, crédito. “Procurámos responder a um con-
nou-se empresário, abriu dois colégios e elas são as líderes dos chamados “grupos texto nacional onde o lançamento de um
emprega 50 trabalhadores. Embora tenha solidários” — compostos por cinco —, produto específico para as camadas mais
destacado a importância do microcrédito pessoas onde todas são simultaneamente desfavorecidas era algo urgente”, afirma.
para o início do seu negócio, José Valente fiadores e responsáveis. Na prática, são elas O início da actividade foi no ano 2001,
lamentou à reportagem da EXAME, a que gerem os negócios informais e a econo- com experiências no Bengo (em Caxito,
burocracia associada e pediu mais apoios mia doméstica e que cuidam da educação Barra do Dande, Sassa e Musseque).
para as PME. João Gonçalves, responsá- e da saúde dos filhos. Há mesmo pessoas, Actualmente, o microcrédito comercial é
vel pelo microcrédito na UNACA (União como o senhor António, que diz ter come- desenvolvido em todos os municípios das
Nacional de Camponeses), parceiro do çado no seio de um grupo solidário que províncias de Luanda, Bié (Kuito, Chian-
Banco Sol, identificou outro tipo de pro- recebia 500 dólares no ano 2000. Hoje, guar e Kunje), Bengo, Huíla, Malanje e
blemas que se levantam às cooperativas ele trabalha com 10 mil dólares por mês. Benguela. Em Abril de 2003, concederam-
e pequenas unidades agrícolas. “Devido -se os primeiros créditos rurais na provín-
às dificuldades no escoamento dos exce- 67 mil clientes desde a fundação cia da Huíla (na localidade de Humpata).
dentes de produção, os beneficiários do Há dez anos, a situação não era tão riso- Hoje, o crédito rural desenvolve--se na
microcrédito enfrentam dificuldades no nha. “Quando iniciámos a aventura do província do Bengo, nas localidades de
reembolso”, alerta o especialista. microcrédito, em 2001, não poderíamos Boa Esperança, Mabuia e Dungo. “Em
Feliciana Luís é outra cliente feliz. imaginar que, volvido este tempo, já 2001, dois dias depois de termos começado
Embora trabalhe há dez anos como comer- tivéssemos concedido créditos no valor com a experiência de Caxito, no Bengo,
ciante, só há dois é que aderiu ao microcré- de quase 68 milhões de dólares, a cerca a localidade foi invadida — ainda existia
dito. Antes vendia 100 caixas de bebidas de 67 mil clientes”, afirma Paulo Sérgio o conflito armado — e saqueada”, conta
diversas. Hoje vende 2 mil. Lavrador, administrador do Banco Sol. Paulo Lavrador. “Só voltámos na semana

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istockphoto
O Banco Sol é um dos pioneiros do microcrédito no país.
Em 2001, era um negócio insignificante. Hoje, é responsável
por 20% dos lucros do banco. Conheça também a oferta do
Banco Micro Finanças, uma parceria entre o BAI e a Chevron
Mário Paiva

m lugar ao sol
seguinte. As pessoas tinham perdido quase Indagado sobre a rendibilidade do negó- Paulo Lavrador acredita no futuro do
tudo: bens pessoais, documentos, dinheiro. cio com este produto, Paulo Lavrador microcrédito em Angola. “O microcré-
Tivemos que ser flexíveis e recomeçar do mostra-se optimista: é um negócio ren- dito ajuda as pessoas a sair do sector
zero em termos de prazos e condições de tável, embora menor do que outros pro- informal da economia. Algumas conse-
pagamento”, recorda. dutos. “A grande questão é o risco, mas guem ultrapassar os limites da pobreza,
A verdade é que a experiência de Caxito prefiro fazer 1 milhão de dólares com 100 outras transformam-se em empreende-
— que decorreu num meio rural onde uma clientes do que com uma única empresa. doras bem-sucedidas”, alerta.
abordagem comunitária era fácil — não Assim diluo os riscos”, acrescenta. Outra das vantagens do microcrédito,
resultou em Luanda. Por isso, o Banco segundo Paulo Lavrador, é o aumento dos
Sol foi obrigado a moldar o microcrédito Os desafios que falta ultrapassar níveis de “bancarização” do país. “Angola
à filosofia dos grupos solidários. “Ocor- O administrador admite que as taxas de é um país muito extenso e com uma popu-
reram situações onde éramos recebidos à juro do microcrédito são muito superiores lação pequena e dispersa. Como chegar às
porta com armas quando íamos saber das às do crédito normal, mas realça um ele- pessoas?”, questiona Paulo Lavrador. “O
garantias. No meio rural é mais fácil loca- mento positivo: “A taxa de incumprimento problema é que a maior parte da população
lizar as pessoas do que na cidade”, conta. é de 2% ao longo de dez anos e de quase nem sequer possui bilhete de identidade”,
Hoje, a situação melhorou radicalmente. 5% nos restantes produtos de crédito.” dizem os operadores do Banco. Estima-se,
O Banco Sol teve, em 2009, um resultado por isso, que, apesar de existirem 20 ban-
líquido de 30 milhões de dólares, para os cos em Angola, apenas 7% da população
quais o microcrédito contribuiu com uma
fatia de 20%. Só este ano serão disponibi- O microcrédito pode estão no sistema bancário. “A dispersão
da população é um problema real”, subli-
lizados 20 milhões de dólares no âmbito
do programa de microcrédito para apoio
aumentar os níveis de nha Paulo Lavrador, que conta uma expe-
riência recente que ocorreu no Cubal, num
a pequenos negócios. Do total de benefi-
ciários de microcrédito, 20% a 25% tor-
bancarização. Só 7% programa rural de parceria com a British
Petroleum. Nesta iniciativa, os beneficiá-
nam-se clientes normais na medida em
que atingem valores superiores ao tecto
da população estão rios residiam a 30 quilómetros da agência
mais próxima. Para mais, eles deslocavam-
máximo — 20 mil dólares. no sistema bancário -se à pé e não falavam português.

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gestão casos

o país
Fundação 2009 (refundação Banco pequeno, com coração grande
do Novo Banco, criado em 2004) O Banco Micro Finanças foi criado em 200 9 em substituição do Novo Banco.
Clientes apoiados 40 mil A administradora assegura que o banco vai lutar pela liderança do segmento
Total de crédito concedido
10 milhões de dólares
Crédito máximo por cliente Um acordo com a Associação de Vendedores de sucesso como, por exemplo, o do senhor
50 mil dólares Ambulantes de São Paulo (AVASP) para a António Nekubu, que recebeu um crédito inicial
Taxa de incumprimento 25% concessão de crédito é a mais recente de 4 mil dólares para comercializar produtos
agências 9 iniciativa do Banco Micro Finanças (BMF), uma da Coca-Cola. Actualmente, já lhe foram
instituição especializada neste segmento que concedidos mais quatro créditos para
resulta de uma parceria entre o BAI (que detém expansão da actividade (no valor de cerca de
85% do capital social) e a petrolífera Chevron. 50 mil dólares). “Com o nosso apoio, ele
De acordo com Ludgero Fernandes, director aumentou a capacidade de comercialização
CASO PRÁTICO comercial e do BMF, “esta iniciativa visa para 30 mil grades”, refere Neusa Ribeiro.
Se pedir 10 mil dólares ao banco fomentar o pequeno comércio, no sentido da Outro exemplo similar é Norberto Azevedo,
terá de pagar (em dólares) ... sua formalização, e estimular os vendedores proprietário de uma pequena firma pesqueira.
ambulantes a criar planos de negócios Começou com um crédito de 8 mil dólares.
em 12 meses rentáveis”. Uma das consequências é forçar os Hoje, já vai no terceiro crédito, no valor de 25
Prestação mensal 1059 comerciantes a optar pela venda em mercados mil dólares. O financiamento serve para
Total a pagar 12 708 licenciados pelas autoridades. Aquele aumentar a capacidade de produção e a
responsável afirma que “o acordo
em 20 meses enquadra-se no programa do governo para o
Prestação mensal 729
Total a pagar 14 580
combate à pobreza e para a melhoria das
condições da população”. As zungueiras, os
em 24 meses
Prestação mensal 649
Ludgero Fernandes acredita que a iniciativa
vai estimular a adesão dos vendedores lavadores de carros
Total a pagar 15 576
Em 30 meses
ambulantes aos programas de microcrédito,
uma vez que a própria AVASP vai ser avalista e os engraxadores
Prestação mensal 571
Total a pagar 17 130
dos seus associados. Dum universo de 30 mil
sócios, cerca de 60 foram seleccionados para são profissões onde o
aderir ao programa. Zungueiras, engraxadores
e lavadores de automóveis são algumas das microcrédito funciona
Taxas de juro profissões dos que recorrem ao financiamento
bancário e que se vão juntar às cerca de 40 mil
de referência pessoas que já receberam apoios do BMF. aquisição de duas novas embarcações.
De acordo com Neusa Ribeiro, administradora Para se obter apoios semelhantes é preciso
da instituição, o BMF concedeu créditos no preencher alguns requisitos, porque o risco é
montante de 10 milhões de dólares. O elevado para o BMF. O primeiro deles, é ser
objectivo, a prazo, é liderar o segmento: cliente do BMF. Depois há que ter experiência
“Vamos desenvolver e utilizar recursos e superior a um ano no negócio que se pretende
46,80% capacidades, sistemas e relações para desenvolver. Possuir boas referências
anual conquistar a posição de líder no segmento do pessoais e conseguir um avalista, são outras
microcrédito”, afirma. “O nosso alvo são as exigências do BMF. Recorde-se que o BMF foi
micro e pequenas empresas e empresários, criado em 2004, então com a designação Novo
3,90% sem descurar alguns nichos da banca de Banco, tem nove agências. É um micronegócio
mensal particulares”, refere Neusa Ribeiro. onde participam o maior banco comercial
Apesar de a taxa de incumprimento atingir e a maior petrolífera do país.
cerca de 25%, Neusa Ribeiro apresenta casos Francisco Moraes Sarmento

80 | www.exameangola.com
Outro problema a ultrapassar é o dos
seguros para o microcrédito. Nelo Bumba, menu de produtos
originário de Malanje, conta que a maio- Limites Prazos
ria dos clientes do Banco vive em bair- Produto
Taxas
de Juro
(em (em
ros periféricos, onde reina a insegurança. Fundação 2001
dólares) meses)

Embora em Angola as seguradoras não 6,12% 100 De


façam um “microsseguro”, Carla Van Créditos disponilizados Microempresa
mês a 20 mil 12 a 18
68 milhões de dólares
Dunem, directora de microcrédito, asse-
gura que o Banco Sol está disponível para Número de clientes 67 mil Grupo 6,12% 100 De
comercial mês a 10 mil 6 a 18
analisar os problemas caso a caso. Lucros em 2009
Por fim, há os que se queixam da falta 6 milhões de dólares 1,39% 100 Até
de legislação específica. Embora em textos Grupo rural
mês a 20 mil 18
legislativos mais recentes existam referên- Clientes-alvo 
cias ao microcrédito, acredita-se que esta Pobres economicamente activos: Crédito 1,39% 100 Até
agrícola mês a 20 mil 18
matéria deverá ser legislada em norma pró- Microempreendedores em actividades
pria. Alguns analistas dizem que existe um de comércio tradicional, pequenas
Até
consenso entre os diferentes intervenien- unidades produtivas e serviços. Crédito ao 1,39%
10 vezes
Até
consumo mês 18
tes, incluindo o Banco Central, que ainda Excluídos do sistema bancário clássico: o salário

não é a altura certa, pois o mercado está Todos aqueles que dependem de
muito verde. Com ou sem lei própria, a empréstimos familiares e amigos Montante disponível para 2010
verdade é que o microcrédito já conquis- para constituir um negócio. 20 milhões de dólares
tou o seu lugar ao sol em Angola. b

maio 2010 | 81
marketing estratégia

Ao gosto
do cliente
Comida de plástico, em locais desconfortáveis, já era.
Depois de se render aos alimentos saudáveis, a cadeia
McDonald’s iniciou a nova etapa da sua mudança, com
lojas e serviços diferenciados para cada região do mundo
Mariana Barboza

D
ono de uma personalidade no- visibilidade de um Big Mac com Coca-
tável e um excepcional espíri- -Cola, com certeza ficará surpreendido
to empreendedor, Ray Kroc, com as opções em cada país.
o criador da rede de fast food As unidades da McDonald’s espalhadas
McDonald’s, costumava dizer que não sa- em mais de 100 países, antes fechadas em
bia se a sua empresa estaria a vender ham- torno de um modelo de refeições padro-
búrgueres no ano 2000, mas tinha certeza nizadas, processos homogéneos e menus
de que, seja lá o que estivesse a vender, idênticos, hoje incorporam elementos locais, A segunda vida
seria a líder mundial do sector. Passados
26 anos da morte de Kroc, o hambúrguer
tanto na aparência, como nos produtos à
venda. Em França, por exemplo, os restau-
da McDonald’s
ainda é o “prato forte” da maior empresa rantes da marca vendem vinho e as sanduí- Agora a rede procura adaptar-se ao
de fast food do mundo, mas para manter ches contêm ingredientes locais, como o gosto específico dos consumidores de
a liderança o McDonald’s mudou — nal- queijo Reblochon. Em Itália, a McDonald’s cada país. Anote as novidades do menu
guns casos tornando-se irreconhecível, oferece esparguete e em Inglaterra servem-
como demonstra a foto. Os bancos de -se ovos e bacon ao pequeno-almoço. Na
plástico, as mesas de “cantina de colégio” Europa, onde a rede conta com cerca de 6
e a decoração fora de mil lojas, foram investi- dos por arquitectos e designers de renome,
moda em tons de ver- dos perto de 800 milhões como o francês Phillipe Avanzi e o dina-
melho e amarelo, que
se tornaram um sím-
O desempenho de dólares na mudança
de imagem das unidades
marquês Arne Jacobsen. Até nos Estados
Unidos, a pátria do hambúrguer, a rede
bolo da rede, são hoje na Bolsa mais antigas e na instala- tem adoptado mudanças, como a inclu-
coisa do passado na Valorização das acções ção de novos restauran- são de cafés especiais — uma espécie de
maioria das lojas. Até o da McDonald’s em Nova Iorque tes que respeitem o gosto versão mais popular dos produtos ofere-
menu insípido e enfa- (média mensal, em dólares) 70 dos europeus, conhe- cidos pela rede Starbucks.
donho — sempre com cidos por passar lon-
61 62 63
o mesmo pão, carne ou 57 gas horas à mesa. Para Acusada de promover a obesidade
queijo, acompanhado isso, o centro de design A sofisticação da imagem da McDonald’s
de batatas fritas e re- da rede nos arredo- começou há cerca de seis anos, quando
frigerantes — rejuve- Crise res de Paris oferece aos a rede passou a ser apontada como uma
42 financeira
nesceu. Um cliente que global franchisados europeus das responsáveis pelos alarmantes índi-
visite hoje as lojas da oito modelos diferen- ces de obesidade da população america-
Dez 06 Dez 07 Set 08 Dez 08 Dez 09 Abr10
rede em busca da pre- tes de restaurante, cria- na. Identificada como um dos ícones do
Fonte: Bolsa de Valores de Nova Iorque (NYSE).

82 | www.exameangola.com
Restaurante
da McDonald’s
na Alemanha:
conforto e
design em vez

REUTERS/Michaela Rehle
de talheres
e cadeiras
de plástico

Estados Unidos Europa áfrica


A rede mudou o horário de atendimento dos A McDonald’s investiu em design e conforto O primeiro McDonald’s do continente abriu em
restaurantes, que agora abrem mais cedo para atender melhor os consumidores que Marrocos, em Dezembro de 1982. Seguiu-se
— para “esticar” o período do pequeno-almoço — costumam passar mais tempo à mesa. A rede o Egipto em 1994 e a África do Sul em 1995. Em
e fecham no início da madrugada — para atender investiu também em cafés e introduziu menus 2006 abriu na Argélia e no Quénia. A marca é
os noctívagos. Também reforçou a sua oferta saudáveis com base em produtos biológicos uma das patrocinadoras e o restaurante oficial
de café para concorrer com a “rival” Starbucks. (leite, ovos e carnes brancas) e vegetais. do Mundial de Futebol de 2010 na África do Sul.

american way of life (estilo de vida ame- da Amazónia. A perseguição teve impac- mente, as acções da McDonald’s valem
ricano), a McDonald’s também se tornou te nos números. Entre 2000 e 2003, o va- mais do dobro (cerca de 70 dólares) e o
o alvo favorito dos protestos antiglobali- lor da marca caiu 9%, de 27 mil milhões último relatório da Interbrand posiciona
zação, contra a guerra no Iraque, contra para 24 mil milhões de dólares, segundo o McDonald’s como a sexta marca mais
os transgénicos e até contra a devastação um relatório da consultora especializada valiosa do mundo, avaliada em 32,275 mil
Interbrand. Era preciso reagir. milhões de dólares. “A McDonald’s agiu
Sob intensa pressão, a rede iniciou um rápido e de forma enérgica para se rein-
A marca é uma das grande processo de reconstrução de ima-
gem. Alimentos saudáveis como saladas,
ventar e se adaptar às novas condições do
mercado”, diz Alejandro Pinedo, director-
patrocinadoras e o frutas, sumos e vegetais foram incorporados
no menu. Os sinais de que a McDonald’s
-geral da Interbrand. Em 2009, foi a empresa
mais bem-sucedida do sector, com uma
restaurante oficial finalmente havia encontrado um novo
rumo começaram a verificar-se a par-
facturação de 22, 7 mil milhões de dóla-
res e um lucro de 4,5 mil milhões (cresci-
do Mundial de Futebol tir de 2005, quando as acções voltaram
ao patamar do fim da década de 90, em
mento de 6% face ao ano anterior). É um
desempenho espectacular dado o avolu-
da África do Sul torno dos 30 dólares por acção. Actual- mar da crise internacional. b

maio 2010 | 83
Marketing MARCAS

Ecologia
já não é
um luxo
As marcas mais prestigiadas renderam-se
ao marketing verde para conquistar novos
clientes. Desse modo, esperam aliviar a
consciência dos consumidores que pagam
caro pelos seus produtos
João Werner Grando

A
s grandes marcas de luxo sem- Para enfrentar esses tempos difíceis, as Maio de 2009, o maior império do luxo
pre foram conhecidas pela sua marcas de luxo aderiram à consciência do mundo adquiriu 50% de participação
incrível capacidade de lançar ecológica e à postura “politicamente cor- na marca de vestuário Edun. Criada pelo
tendências. Basta que um aces- recta” de fazer com que o consumidor não rocker das “boas causas” Bono Vox, voca-
sório, uma cor ou um tecido seja apresen- se sinta tão culpado quando desembolsa lista da banda U2, a Edun nasceu para
tado, com sucesso, nas passerelles, para a uma pequena fortuna por uma simples promover o desenvolvimento económico
novidade ser copiada desde as pequenas bolsa ou um vestido. “O ‘verde’ tornou- dos países pobres — o algodão usado nas
fábricas dos “tigres asiáticos” até aos gran- -se a nova cor da moda no sector de luxo”, peças de roupa, por exemplo, é cultivado
des costureiros de Paris ou Milão. A crise afirma Manfredi Ricca, director da consul- por pequenos produtores africanos.
económica inverteu esse processo. Agora, tora Interbrand em Milão, Itália. No mês seguinte, o grupo rival PPR,
são as grandes marcas que perseguem uma dono das marcas Gucci e Yves Saint Lau-
“moda”: a da sustentabilidade. Bono: o rocker das boas causas rent, patrocinou um documentário de uma
Mais do que sentir um repentino amor Entre os jovens, esse apelo é ainda mais efi- hora e meia sobre a devastação do pla-
pelas florestas, pelos ursos polares ou pelos caz. Uma sondagem feita pela consultora neta, que foi exibido em mais de 100 paí-
países devastados pelas guerras e pela Luxury Institute, de Nova Iorque, junto de ses. Pouco tempo depois, a Tiffany passou
miséria, as marcas de luxo foram sensibi- mais de mil pessoas com idades entre 18 e a enfeitar as montras das suas lojas de jóias
lizadas por uma lógica puramente econó- 25 anos, mostrou que 60% dos consumido- em todo o mundo com corais sintéticos,
mica. Nos últimos dois anos, segundo os res são sensíveis à questão ecológica antes em vez dos naturais que, como é sabido,
dados da consultora Bain & Company, o de comprarem um produto de consumo correm risco de extinção.
mercado do luxo sofreu uma retracção de — versus 40% da média dos americanos. Em Outubro, foi a vez da aristocrática
10% — o que equivale a 25 mil milhões de O primeiro a aderir ao “luxo com cons- fabricante de carros Bentley lançar o seu
dólares. A expectativa dos analistas é que ciência” foi o grupo francês LVMH, dono primeiro modelo com motor flex, o Con-
a retoma só irá ocorrer em 2012. de marcas como Louis Vuitton e Dior. Em tinental Supersports, por uns “módicos”

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Tiffany: JÓIAS
O que fez Deixou de
empregar corais no
fabrico das suas jóias.
Para assinalar essa
mudança, a Tiffany
montou montras nas
suas lojas em todo o
mundo, com peças
sintéticas, que imitam
os corais verdadeiros.

Bentley: AUTOMÓVEIS
O que fez Lançou o seu primeiro
modelo com motor flex, o Continental
Supersports, em Outubro. Segundo
a construtora, o automóvel emite cerca de
70% menos carbono. Isto se for considerada
toda a cadeia de fabrico do etanol, desde a
produção até a queima do combustível.

Muito luxo,
pouca culpa
O que algumas marcas
de prestígio estão a fazer
para adquirir uma atitude
mais ecológica

PPR: PELES NATURAIS


Cartier: DIAMANTES O que fez A estilista Stella McCartney,
O que fez Lidera um programa mundial que não utiliza couro nem peles naturais
de certificação na exploração de nas suas peças de roupa, patrocinou um
pedras preciosas. A ideia é que a exploração documentário de uma hora e meia sobre a
de ouro e o diamante das suas jóias não seja devastação do planeta. O filme foi exibido
feita em zonas de conflito armado, nem utilize em mais de 100 países.
mão-de-obra infantil, sobretudo em África.

LVMH: COMÉRCIO JUSTO


O que fez A casa-mãe dos ícones do luxo como
a Louis Vitton e Dior adquiriu 50% da marca de
WWD/CondÈ Nast/Corbis

vestuário Edun. Criada pelo cantor Bono Vox (dos U2),


e pela sua mulher, a Edun nasceu com o propósito de
ajudar países pobres. As suas roupas são feitas com
algodão do Uganda, do Quénia e da Índia.

maio 2010 | 85
Marketing marcas

a investir no desenvolvimento de tecnolo-


gias limpas desde 1995 e hoje é considerada
a “fábrica de CO2” pela Federação Euro-
peia para Trans­porte e Meio Ambiente.
Além de reduzir quase 30% das emissões
dos seus 27 modelos, a BMW tomou outras
iniciativas originais como usar gás metano
de aterros sanitários para gerar energia
para as fábricas. “A maior parte das mar-
cas de luxo reconhece a
Cena do filme importância da susten-
Diamante tabilidade”, afirma Jem
de Sangue: Bendell, conselheiro do
a Cartier foi WWF e um dos cria­dores
questionada do ranking. “O problema

divulgação
sobre a origem é que elas não sabem
das suas pedras como colocar isso em
prática”, sustenta.
270 mil dólares. Nas últimas semanas, a Embora o ideal da empresa sustentável Apesar do empenhamento demons-
Lincoln, divisão de luxo da Ford, anunciou se tenha intensificado de 2009 para cá, trado pelas marcas de luxo, ainda é cedo
que pretende fazer a mesma coisa. Nessa algumas marcas de luxo já se aventura- para saber se o apelo ecológico veio mesmo
corrida “verde”, algumas ideias chegam a vam numa espécie de “marketing ecoló- para ficar, ou se não passa de um mero tru-
ser bizarras. A italiana Ermenegildo Zegna gico”, há pelo menos cinco anos. Porém, que de marketing. “Como nenhuma des-
lançou, em 2008, um casaco de couro com os resultados foram medíocres. Em 2004, sas empresas revela quanto é que, de facto,
pequenos painéis solares nas mangas, uti- na tentativa de reduzir as suas emissões de está a investir na sustentabilidade, é difí-
lizados para abastecer uma bateria que poluentes, a LVMH diminuiu o número de cil saber quão comprometidas elas estão,
aquece a gola da roupa. “A sustentabili- viagens do grupo e pôs fim ao transporte realmente, com a mudança”, diz Carlos
dade e a ecologia são as grandes apostas aéreo dos seus produtos. A PPR, por sua Ferreirinha, diretor da consultora MCF,
das marcas de luxo para se diferenciar e vez, divulgou a criação de uma direcção especializada no sector do luxo.
continuar a crescer ”, diz Ricca. de responsabilidade social só para gerir O maior pesadelo para uma marca de luxo
temas como o meio am­bien­te e a biodi- seria a acusação de greenwash, termo que
Imagem verde, ou coração verde? versidade. No entanto, uma pesquisa rea- designa as empresas que apenas simulam
Uma das estratégias mais estruturadas é a lizada pela ONG ambientalista WWF em um compromisso com a sustentabilidade.
da Cartier, responsável pela compra de 1% 2007, atirou um balde de água fria sobre A Mercedes-Benz pagou um preço alto ao
de todos os diamantes usados em jóias no o impacte desse tipo de medidas isoladas usar esse expediente. No final do ano pas-
planeta. A empresa francesa mobilizou o junto do público. No ranking de sustentabi- sado, a construtora anunciou, em Ingla-
Responsible Jewellery Council, que reúne lidade da organização, a nota obtida pelas terra, os modelos E-Class com índices de
150 fabricantes de jóias, para convencer marcas de luxo foi um tímido “C+”, dado à emissão de gás carbónico abaixo dos 139
todos os associados a exigir dos seus for- LVMH, à Hermès e à L’Oréal (a PPR ficou gramas por quilómetro (a nova lei da União
necedores uma certificação ambiental e com um “D”). Dentro desse grupo de pio- Europeia prevê que as emissões sejam redu-
social — de modo a garantir que as pedras neiros — geralmente mal-sucedidos —, a zidas a 140 g/km até 2012). O que a Merce-
preciosas utilizadas nas suas peças não alemã BMW é a excepção. A empresa está des se “esqueceu” de avisar é que isso só é
tenham nenhuma ligação com zonas de possível em duas, das 24, combinações de
conflitos armados, sobretudo em África. versões do mesmo carro. O anúncio foi sus-
“Depois do filme Diamante de Sangue,
em 2006, passámos a ser questionados nas O marketing ecológico penso pela Advertising Standards Autho-
rity, mas o estrago já estava feito. Blogues
lojas no que diz respeito à procedência das
pedras”, diz Pamela Caillens, directora de
é um conceito em alta especializados foram inundados de críti-
cas à construtora. “Comprar um produto
responsabilidade empresarial da Cartier.
“Apesar de os nossos diamantes não serem
desde 2009. Porém, ‘pintado de verde’ é mais grave quando se
trata do luxo”, diz Carlos Ferreirinha. “O
provenientes de zonas de conflito, decidi-
mos dar um passo além e mostrar aos con-
só agora é que chegou consumidor está disposto a pagar mais por
produtos ecológicos. Mas ficará furioso se
sumidores que somos uma empresa limpa.” às marcas de luxo sentir que está a ser enganado”, diz. b

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DinheiroVivo
Conselhos e dicas que interessam à sua carteira
6 2
5

10
ÁFRICA 9 1

Homens mais ricos... A África do Sul


Existem 11 africanos no ranking dos 500 homens mais ricos do mundo, publicado e o Egipto são
anualmente pela revista americana Forbes. O nigeriano Mohammed Al Amoudi, os dois países
o egípcio Nassef Sawiris e o sul-africano Nicky Oppenheimer são o trio que do continente
lidera a lista, dominada pelos grupos familiares. O petróleo, o sector mineiro, com maior número 7
a construção e as telecomunicações são as áreas de negócio mais apetecíveis. de milionários 8 4
3

1 2 3 4 5
Mohammed
Al Amoudi
Nassef Sawiris Nicky
Oppenheimer
Patrick
Shoo-Shiong
Onsi Sawiris

& family

10 mil milhões 5,9 mil milhões 5 mil milhões 5 mil milhões 3,1 mil milhões
Ranking mundial 64.º lugar Ranking mundial 127.º lugar Ranking mundial 154.º lugar Ranking mundial 154.º lugar Ranking mundial 307.º lugar
Nacionalidade Etíope Nacionalidade Egípcia Nacionalidade Sul-africana Nacionalidade Sul-africana Nacionalidade Egípcia
Sector Petróleo e construção Sector Construção Sector Diamantes Sector Farmacêutico Sector Construção
Empresa Svenska Petroleum Empresa Orascom Empresa De Beers Empresa Abraxis Empresa Orascom
e Midroc Idade 48 anos Idade 64 anos Idade 58 anos Idade 80 anos
Idade 48 anos Estado civil Casado, 1 filho Estado civil Casado, 2 filhos Estado civil Casado, 3 filhos
Estado civil Casado, 8 filhos

Nasceu na Etiópia, mas vive na Filho mais novo de Onsi Sawiris, Gere o maior produtor mundial de O pai era médico na China Fundador da dinastia empresarial
Arábia Saudita. É dono de duas o fundador do grupo Orascom, um diamantes. Juntamente com o res- e emigrou para a África do Sul mais famosa do Egipto.
refinarias na Suécia que, desde dos maiores do continente africa- to da família Oppenheimer controla durante a Segunda Guerra Mundial. Reconstruiu o seu império depois
1974, opera no Mar do Norte e no. Nassef está à frente da divisão 40% da De Beers. Possui a Tswalu Hoje, vive nos Estados Unidos. da nacionalização nos anos 60.
em África. Investiu mais de 3 mil de construção e fertilizantes desde Kalahari Reserve, a maior reserva A sua APP Pharmaceutical vende Os seus três filhos gerem
milhões de dólares na agricultura 1998. Está a investir em projectos de caça da África do Sul. produtos para hospitais e a Abraxis as divisões de construção,
e na indústria da Etiópia. em África e no Médio Oriente. desenvolve medicamentos. telecomunicações e turismo.

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... e as maiores 73 790 Sul-africanas dominam

empresas
Nove das dez maiores pertencem ao “país do arco-íris”.

55 231
A estrela marroquina. A Itissalat Al Maghrib
é a maior operadora nacional. Tem mais de
O ranking da revista African Business é dominado 11 mil empregados e oferece serviços de
telecomunicações móveis, fixas e internet.
pelas empresas sul-africanas, em particular do
sector mineiro. Inclui apenas empresas cotadas.
Na ordenação por países, seguem-se o Egipto e 27 355
25 248 23 807
Marrocos. Por sectores de actividade, o mineiro é 20 667
o mais importante. Nos lugares seguintes estão a 19 154
15 990
13 803 13 363
banca e as telecomunicações. O facto de o ranking
ser baseado no valor de mercado (que pressupõe a
cotação em Bolsa) impede gigantes estatais, como
a angolana Sonangol, a Nigeria National Petroleum BHP Anglo SAB Sasol MTN Anglo Standard Itissalat Impala Kumba
Corporation e a Sonatrach, da Argélia, de fazerem Billiton American Miller Group American Bank Al Maghrib Platinium Iron Ore
Platinium Group Holdings
parte da listagem. Do mesmo modo, estão ausentes
Minas Minas Bebidas Petróleo Telecom Minas Banca Telecom Minas Minas
empresas privadas não cotadas, como a De Beers. e gás
Valor de mercado em mil milhões de dólares. Fonte: Revista African Business.

6 7 8 9 10
Naguib Sawiris Patrice
Motsepe
Johann Rupert
& family
Aliko Dangote Mohammed
Ibrahim

2,5 mil milhões 2,3 mil milhões 2,3 mil milhões 2,1 mil milhões 2,1 mil milhões
Ranking mundial 374.º lugar Ranking mundial 421.º lugar Ranking mundial 421.º lugar Ranking mundial 463.º lugar Ranking mundial 463.º lugar
Nacionalidade Egípcia Nacionalidade Sul-africana Nacionalidade Sul-africana Nacionalidade Nigeriana Nacionalidade Sudanesa
Sector Telecomunições Sector Minas Sector Luxo Sector Açúcar, cimentos Sector Comunicações
Empresa Orascom Empresa Africa Rainbow Empresa Richemont Empresa Dangote Empresa Celtel
Idade 55 anos Minerals Idade 59 anos Idade 52 anos Idade 64 anos
Estado civil Casado, 4 filhos Idade 48 anos Estado civil Casado, 3 filhos Estado civil Casado, 3 filhos Estado civil Casado, 2 filhos
Estado civil Casado, 3 filhos

Filho mais velho do fundador Nasceu num bairro pobre do É CEO do grupo familiar dedicado Apesar dos problemas na Nigéria, Nasceu no Sudão, mas vive em
do conglomerado Onsi Sawiris. Soweto e hoje é o mais rico da ao luxo que detém marcas como a Dangote tem crescido de forma Inglaterra. Fundou a operadora
É o presidente da divisão África do Sul. Começou a comprar Cartier e a Dunhill. É proprietário sustentável nos cimentos devido de telemóveis Celtel, que actua
de telecomunicações Orascom minas de ouro, em situação de duas das vinhas mais famosas ao aumento da procura da China. em 23 países (em África e no
Telecom, uma das maiores precária, em 1994. Hoje, produz da África do Sul, a Rupert & Abriu novas cimenteiras no Senegal Médio Oriente). Criou a Mo Ibrahim
operadoras de telemóveis no inúmeros minérios como platina, Rothschild e L’Ormarins, e do mais e na Zâmbia. Está igualmente nos Foundation, que se dedica
Médio Oriente, África e Sul da Ásia. níquel, crómio, ferro e carvão. prestigiado campo de golfe do país. têxteis, imobiliário, petróleo e gás. à filantropia em África.

Valores em dólares. Fonte: Revista Forbes.

maio 2010 | 89
Finanças perfil

A Oprah das finanças


Suze Orman já escreveu seis livros sobre investimentos e finanças pessoais. Um deles,
dirigido às mulheres, foi um sucesso mundial com vendas de 1 milhão de exemplares.
Homossexual assumida, ela anima um show de televisão e tornou-se uma celebridade
Giuliana Napolitano

O
tema de um dos primeiros pro- pelos analistas do mercado trar outra vaga. Ainda que a
gramas de 2010 da famosa apre- financeiro, que a acusam de probabilidade de ficar sem
sentadora da televisão Oprah “propangandear” análises trabalho seja mínima, essa
Winfrey foi investimentos e simplistas dos problemas reserva financeira deve ser-
planeamento financeiro. “O que é que eu financeiros. De facto, a autora vir para cobrir imprevis-
faço se ficar desempregado?” e “Como é às vezes exagera na psicolo- tos, como gastos médicos.
que negoceio a hipoteca da minha casa?” gia financeira e nos conselhos É um dinheiro que deve
estão actualmente entre os assuntos favo- de senso comum. Em entre- ficar investido em aplicações
ritos dos americanos. vista à EXAME, Suze disse, seguras, como a renda fixa.”
Oprah sabe bem como levantar as audi- por exemplo, que ter dívidas
ências. Logo, para falar sobre finanças pes-
soais em tempos de incerteza, a apresen-
tadora convidou uma mulher — a consul-
é um mau negócio porque “as
outras pessoas podem sentir
que nós estamos endivida-
2 Pague as suas dívi-
das e não gaste mais
do que tem. “O ideal é atra-
tora financeira Suze Orman. Autora de seis dos. Nessa altura nós fica- vessar os períodos contur-
livros sobre finanças pessoais, que permane- mos mais inseguros e isso bados sem dívidas no cartão
ceram durante várias semanas na lista dos pode prejudicar a carreira ou de crédito ou em emprésti-
mais vendidos do The New York Times, Suze até impedir a conquista de uma promoção mos bancários. Um grande erro cometido
tinha acabado de publicar mais um poten- no emprego”. Não é propriamente uma reve- pelos consumidores ocidentais nos últimos
cial best-seller, 2010 Action Plan — Keeping lação. Mas os livros de Suze Orman tam- anos — e que acabou por ser responsá-
Your Money Safe & Sound (Plano de Acção bém têm conselhos interessantes, fruto da vel, em larga medida, pela crise actual —

Michael Edwards/Redux
2010 — Mantendo o Seu Dinheiro Seguro). sua vasta experiência profissional. Antes de foi gastar mais do que tinham e recorrer
Os conselhos dados por Suze, no livro e no abrir a sua empresa de consultoria finan- aos empréstimos para cobrir a diferença.
programa de Oprah, pintaram um cenário ceira, em 1987, Suze foi vice-presidente da É preciso evitar essa armadilha de “viver
sombrio para os próximos anos — ela acre- Prudential Securities, uma das maiores ges- acima das posses”. Não vale a pena com-
dita, por exemplo, que a Bolsa americana toras de activos dos Estados Unidos, e ges- prar um carro e andar durante anos a
só vai recuperar a partir de 2015. Apesar da tora de contas do banco Merrill Lynch. Eis pagar o empréstimo. É melhor comprar
crise (ou talvez por causa dela), o desempe- cinco grandes conselhos da especialista. um modelo mais barato, mas que possa
nho do seu livro tem sido excelente. A estra- ser pago em apenas alguns meses.”
tégia de Suze — que diz ter escrito Keeping
Your Money Safe & Sound em apenas duas
semanas — foi permitir downloads gratui-
1 Tenha uma reserva financeira de
emergência suficiente para cobrir oito
meses de despesas. “Dou esse conselho 3 Saia da Bolsa se precisar do dinheiro
aplicado em acções em menos de
tos. Ainda assim, foram vendidas cerca de há vários anos. Ter uma reserva financeira cinco anos. “O mercado está arriscado de
1 milhão de cópias. é ainda mais importante num ambiente mais, a sensação é de que tudo pode acon-
Conecida como a “Oprah das finanças de crise económica. Hoje, o risco de ficar tecer. Quem pretende vender os títulos que
pessoais”, numa referência ao seu estilo desempregado é maior e quem perde o estão na Bolsa em menos de cinco anos
auto-ajuda, Suze costuma ser criticada emprego demora mais tempo para encon- deve tirá-los do mercado agora e colocá-

Para quem investe no longo prazo, quanto mais a Bolsa cair,


90 | www.exameangola.com
Suze Orman
Idade
58
Nacionalidade
Estados Unidos
Residências
Florida, Nova Iorque e São Francisco
Profissão
Consultora financeira, autora, oradora,
vedeta de televisão (anima o programa
The Suze Orman Show, na CBS)
Livros
• The Nine Steps To Financial Freedom (1997).
• You’ve Earned It, Don’t Lose It (1997).
• The Courage to Be Rich (1998).
• The Road to Wealth (2001).
• The Laws of Money, the Lessons of Life…
(2003).
• The Money Book for the Young Fabulous
and Broke (2005).
• Women and Money: Owing the Power to
Control Your Destiny (2007).
• Suze Orman’s 2009 Action Plan (2009).
• Suze Orman’s 2010 Action Plan (2010).
Distinções
• Emmy Award (2004 e 2006) na categoria
de Show Host.
• Seis Gracie Awards (televisão).
• Eleita pela Time uma das 100 pessoas
mais influentes do mundo (2008 e 2009).
• Prémio Vito Russo (2009) da Gay &
Lesbian Alliance Against Defamation.
• Prémio Amélia Earhart (2008)
pela pedagogia financeira
junto das mulheres.
Site
www.suzeorman.com

-los em investimentos mais seguros, como


as obrigações de renda fixa. Pode ser que
a Bolsa valorize nesse período? Sim, mas
4 Compre acções a pensar no longo
prazo. “O investidor que tem o tempo
a seu favor, ou seja, que não vai precisar do
5 Invista em títulos públicos. “Isso
pode ser mais interessante para quem
pretende investir por prazos longos. Em
também pode acontecer que caia mais. dinheiro aplicado por, no mínimo, dez anos, 1980, aconselhei os investidores a com-
Não acho que haverá uma recuperação deve ir para a Bolsa. Diria mais: quem tem prarem obrigações do Tesouro dos Estados
real da Bolsa americana até 2015, o que um horizonte de 30 anos para essa pou- Unidos, de taxa fixa, que só venceriam em
afectará os mercados financeiros de todo pança, já fez uma reserva financeira para 2010. Na altura eles pagavam juros altos
o mundo. O prazo será menor em países emergências e não tem dívidas de curto — de 14,5% ao ano — se comparados com a
emergentes, como o Brasil e a China. Mas prazo (no cartão de crédito, por exemplo) actual taxa de 3,5%. Desde então o investi-
actualmente, compensa ser conservador.” deve colocar tudo o que sobra em acções. dor recebe juros à taxa de 14,5% ao ano. b

melhor. É uma oportunidade para comprar acções baratas


maio 2010 | 91
tecnologia internet

O que acontece
está no Twitter
O serviço de troca de mensagens curtas conquistou o mundo. O número de
utilizadores já ultrapassou os 105 milhões. O Google e o Facebook estão preocupados
Camila Fusco e Luiza Dalmazo (com Jaime Fidalgo)

A
té há bem pouco tempo, uma boa tas. Mas o dinheiro, por enquanto, é apenas para ver quem atingiria primeiro a marca
parte dos que ouviam falar do um detalhe. Com uma simplicidade frus- simbólica de 1 milhão de seguidores.
Twitter não fazia ideia de como trante, o Twitter é considerado uma ame- Claro que os famosos podem ajudar
funcionava. Apesar de existir aça crescente para o Google e o Facebook, a divulgar o Twitter, mas são as pessoas
há três anos e contar com algumas cen- e uma oportunidade enorme de marketing comuns, com os seus 50, 100 ou 150 segui-
tenas de milhares de utilizadores apaixo- para todas as outras empresas do planeta. dores, que fazem do serviço algo potencial-
nados pelo mundo fora, o serviço de troca mente transformador. Abastecido pelos
de mensagens manteve-se restrito durante O termómetro da Web curtos — mas frequentes — comentários
muito tempo aos aficionados da tecnolo- Parte do impulso recente do Twitter tem dos utilizadores, o Twitter reúne, a cada
gia. O apelo de compartilhar ideias até que ver com a avalancha de celebridades segundo, uma gigantesca base de dados
140 caracteres, em resposta à pergunta “O americanas que invadiram a rede. Arnold sobre o que as pessoas estão a falar. Com
que é que você está a fazer agora?”, pare- Schwarzenegger, actor e governador da isso, está a tornar-se o principal termó-
cia pouco atractivo. Califórnia, está lá desde o início. Barack metro da Web. Uma busca no Twitter traz
Desde o começo deste ano que muitas Obama, o Presidente americano, também resultados muito diferentes de uma pes-
pessoas decidiram experimentar o Twitter. aderiu quando ainda disputava a candida- quisa no Google. Por mais eficiente que seja
Muitas pessoas mesmo. Durante a Chirp, tura do Partido Democrata. Mais recen- o algoritmo desenvolvido pelos engenhei-
conferência do Twitter que aconteceu no temente, a apresentadora Oprah Winfrey, ros na Califórnia, o sofware automático de
mês passado em São Francisco, nos Esta- uma das personalidades públicas de maior pesquisa não é capaz de medir o pulso da
dos Unidos, Biz Stone, um dos seus funda- influência da televisão americana, tornou- conversa global com tanta velocidade. “O
dores, revelou as mais recentes estatísticas se uma “tuiteira”. O actor Ashton Kutcher Twitter é uma janela aberta para as tendên-
sobre a rede. O facto que mais chamou a travou uma disputa pública com a CNN cias do mundo”, diz Josh Bernoff, vice-pre-
atenção da imprensa foi o seu crescimento
exponencial — a conquista de mais de 100
milhões de utilizadores desde a sua cria- O furacão da internet
ção, em Março de 2006. Stone garantiu De ferramenta desconhecida, o Twitter passou a uma febre colectiva. Conheça as estatísticas.
que o Twitter tem mais de 105 milhões
de adeptos, ou seja, 25% da população do crescimento exponensial
Facebook, a rede social de maior populari-
105
dade no mundo (com 400 milhões de uti- 300 000 60% 70 Em dois anos, o Twitter
passou de 1 para 100
lizadores). Como é típico das inovações novos registos do crescimento é o número
(em milhões de utilizadores).
tecnológicas de Silicon Valley, o Twitter todos os dias. registam-se fora médio de
começou pequeno, ganhou popularidade 180 milhões dos Estados Unidos. seguidores
entre alguns utilizadores fanáticos, mas de visitantes 55 milhões de por cada
utilizador.
1,3
ainda não dá lucro — ou, para ser mais pre- únicos por mês. tweets por dia. Março 2008 Março 2010
ciso, nem sequer tem uma fonte de recei- Fonte: CHIRP; e-Life e comScore.

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Os fundadores
Evan Williams
e Biz Stone:
dois estudantes
de Berkeley
que mudaram
o mundo
sebastian willnow ©AFP/getty Images

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Tecnologia Internet

isso, que o Twitter deixa de ser uma força


A estrela Modelo de uso Como funciona poderosa. Foi graças a ele que o fenómeno
da cantora escocesa Susan Boyle tomou o
da Web Informativo
O Twitter é usado como um serviço de alerta,
para avisar sobre novas postagens em blogs
mundo digital de assalto.
De acordo com os ou reportagens de sites de jornais e revistas. Mas há quem não concorde. Algumas
dados da comScore empresas de media estão a proibir o uso
o Facebook foi Empresas fazem buscas regulares no Twitter do Twitter. Alegam que a limitação de 140
responsável por para saber, em tempo real, o que os clientes caracteres é prejudicial para um jorna-
Monitoramento
41% do tráfego estão a falar sobre os seus produtos e serviços. lismo de qualidade. O escritor José Sara-
entre as redes mago, vencedor de um Prémio Nobel da
sociais dos As empresas usam a rede para divulgar as suas Literatura, fez uma dura crítica ao Twit-
Estados Unidos. promoções. Muitas aparecem no Twitter antes ter, dizendo: “Os 140 caracteres reflectem
Seguiram-se o Promoção das outras redes, e há casos de ofertas algo que já conhecíamos: a tendência para
MySpace (24%), exclusivas para os seguidores do Twitter. o monossílabo como forma de comunica-
o Gmail (15%)
ção. De degrau em degrau, vamos descendo
e o Twitter (8%). O Twitter é usado para promover eventos
Este, porém, foi Eventos sociais, como espectáculos e festas, e depois até ao grunhido. O propósito do Twitter
o que mais cresceu. serve para medir a recepção do público. não é literário, mas, sim, informativo.”
Recorde-se que o Twitter nasceu numa
Fonte: Empresas.
universidade de prestígio (Berkeley, na
sidente de inovação da Forrester Research dizem o que comeram ao almoço. Outros Califórnia) e conquistou a imaginação
e co-autor do livro Groundswell, sobre queixam-se que chegaram 50 minutos atra- colectiva, mesmo sem ter um modelo de
redes sociais. Por exemplo, uma busca no sados a uma reunião devido ao trânsito. negócios definido. Apesar disso, a empresa
Google por “vulcão na Islândia” decerto Outros partilham os restaurantes e filmes já recebeu 55 milhões de dólares de capita-
gerará notícias e textos de referência sobre favoritos. Há um pouco de exibicionismo listas de risco. Os fundadores, Jack Dorsey,
o evento. No Twitter, os resultados pro- envolvido. Quem “tuíta” revela uma neces- Biz Stone e Evan Williams, que criaram o
vavelmente incluirão relatos em primeira sidade incontrolável de se manter em con- Blogger e depois venderam a empresa ao
mão dos habitantes da Islândia sobre as tacto com os outros. Mas será que só isso Google, afirmaram que este ano haverá
restrições impostas à circulação de aviões. explica o sucesso inacreditável da rede em mais novidades para além das alterações
apenas dois anos? de design na página de abertura. Alguns
Sem custos fixos exorbitantes especulam que o Twitter possa cobrar às
Um tipo de busca não exclui a outra, é empresas que queiram fazer um uso comer-
claro, mas o Twitter já se tornou uma con-
sulta obrigatória para as empresas que que- Alguns alegam que cial da ferramenta. Uma outra alternativa
possível é publicar anúncios de acordo com
rem avaliar a sua reputação na internet.
Os especialistas dizem que hoje 30% das
a limitação de 140 o perfil dos utilizadores. O que parece claro
é que, por enquanto, os fundadores não
opiniões sobre uma empresa na internet
vêm do Twitter. Num artigo do The New
caracteres prejudica têm motivos para ter pressa. Ao contrá-
rio do YouTube, que dá um prejuízo de 2
York Times, a jornalista Claire Cain Miller
citou o caso da fabricante de computado-
a escrita de artigos milhões de dólares por dia, o Twitter não
tem custos fixos exorbitantes.
res Dell, que através do Twitter percebeu com qualidade Esse deve ter sido um dos motivos pelos
que os clientes estavam a reclamar sobre quais o trio rejeitou, em Novembro de 2008,
a proximidade das teclas do Dell Mini 9 uma oferta de 500 milhões de dólares feita
e, de imediato, reparou o problema. Na Paul Saffo, director do Instituto do Futuro pelo Facebook. Sem a aquisição, a maior
Starbucks, os clientes costumavam recla- e professor da Universidade Stanford, na rede social do mundo partiu para a forma
mar deixando as mensagens numa caixa Califórnia, disse que o Twitter recupera o mais sincera de admiração: a cópia. No ano
de sugestões. Agora, eles podem enviar espírito dos primeiros tempos da internet. passado, o Facebook mudou o lay out do
as reclamações ou sugestões via Twitter. Milhares de pessoas desconhecidas reú- site de modo a deixá-lo muito semelhante
Mas a rede vai muito para além do uni- nem-se em torno de um tema sem preci- ao do Twitter. Diz-se que o seu fundador,
verso das empresas. Ela representa um fenó- sarem de aderir a um grupo de discussão Mark Zuckerberg, já começou a “tuitar”.b
meno cultural que tem despertado interesse ou às tradicionais comunidades virtuais.
e perplexidade pelo mundo. Muitos tweets, Um estudo da Universidade de Harvard www.exameangola.com
como são chamadas as mensagens troca- concluiu que apenas 10% dos usuários pro- Siga as notícias do Portal EXAME
pelo Twitter (www.twitter.com/exameangola)
das entre os utilizadores, são triviais. Uns duzem 90% do conteúdo. Mas não é, por

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Livros petróleo

Veneno negro
Um rasto de violência, corrupção e desigualdades sociais acompanha
a história do ouro negro em muitos dos países no qual é abundante.
Chamam-lhe a maldição do petróleo. Vale a pena uma reflexão
José Roberto Caetano

Henri Bureau/CORBIS SYGMA


O
livro Crude World —The Vio- (cuja situação é largamente descrita nesta Em muitos países, tal Campos
lent Twilight of Oil (numa tra- obra). O que Maass aborda é o lado nega- riqueza veio acompa- de petróleo
dução livre, “Mundo Bruto tivo muitas vezes associado à exploração nhada de efeitos secun- que ardem
— O Crepúsculo Violento do dos recursos naturais. Ele não defende que dários como guerras, no Iraque:
Petróleo”), do americano Peter Maass, exista um determinismo, ou seja, que ter corrupção, desigual- ter petróleo
está a suscitar polémica. Apesar da situa- petróleo seja sempre nocivo para os países dades sociais e catás- gerou mais
ção em Angola não ser visada pelo autor, — como outros estudiosos já fizeram, alu- trofes ambientais. As perdas do
as questões levantadas por Maass, jorna- dindo ao que seria uma “maldição do petró- mais recentes são rela- que ganhos
lista especializado em assuntos interna- leo”. O caso exemplar da Noruega prova o tadas pelo autor, que viu
cionais, que já trabalhou em prestigiadas contrário. O argumento do autor é que é de perto muitas dessas desgraças, em par-
publicações como o Wall Street Journal e mais difícil evitar os problemas gerados ticular no Médio Oriente e em África, e
o Washington Post, e que está actualmente pela abundância do petróleo em nações conversou com alguns protagonistas. Para
no The New York Times, merece a atenção com um tecido político e social frágil. escrever o livro, Peter Maass fez reporta-
dos angolanos numa altura em que o país A história do livro começa no século gens nos Estados Unidos, Arábia Saudita,
se tornou o maior produtor de petróleo do xx, quando o combustível fóssil se tornou Rússia, Iraque, Kuwait, Nigéria, Venezuela,
continente africano, suplantando a Nigéria a principal fonte de energia do mundo. Equador, Azerbaijão e Afeganistão.

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Antes, como repórter dos jornais The
Washington Post e International Herald
Tribune, já tinha viajado pela China, Japão,
Sudão, Cazaquistão e Noruega, nos quais
entrevistou príncipes, generais, bilionários,
ambientalistas, políticos, diplomatas, aca-
démicos, lobistas, geólogos e trabalhadores.

Do ouro negro para o ouro verde


Como resultado dessas investigações, Maass
defende que há um esgotamento do modelo
económico associado aos combustíveis fós-
seis e vaticina que a era do petróleo está
a entrar na fase de “crepúsculo”. O autor
acredita que o mundo está a caminhar

AFP
para uma situação de escassez crescente
do petróleo. Grandes reservas mundiais, nómica recuperar o ritmo anterior, a ten- Desde aquela altura Hugo Chávez de
como a de Burgan, no Kuwait, a de Can- dência será para o reinício da escalada as coisas mudaram, mas visita à fábrica
tarell, no México, ou as do Mar do Norte, dos preços para a casa dos três dígitos. O não necessariamente da PDVSA:
já entraram em declínio. Maass concorda prognóstico de um dos entrevistados no para melhor. Maass um exemplo
com os especialistas que vislumbram sinais livro, Matthew Simmons, ex-conselheiro considera que, a partir de como o
de que também a Arábia Saudita, a maior de Energia de George W. Bush, é de uma daí, a Venezuela come- petróleo pode
produtora e dona de 21% das reservas no subida não para 100, mas para várias cen- çou a galopar em direc- ser nocivo para
planeta, já estaria próxima de atingir o seu tenas de dólares por barril. ção a uma miragem. a economia
limite de aumento da produção. Isso, no Um capítulo inteiro do livro é dedicado Velhos problemas do
mundo do petróleo, significa a iminên- ao caso da Venezuela. Nos anos 90, quando país, como as infra-estruturas precárias,
cia da queda que teria como consequên- a maior parte da receita da PDVSA (com- não foram resolvidos, o regime de Hugo
cia inevitável uma nova alta de preços. O panhia pública do petróleo) era reinvestida Chávez enveredou pelo culto à personali-
mundo já teria experimentado um pouco na operação, a empresa tinha um orça- dade e a perseguição à oposição, a indús-
desse cenário apocalíptico antes da crise mento maior do que o do governo. Pos- tria e a agricultura entraram em declínio.
financeira mundial, quando, em Julho de suia igualmente uma elite de funcionários A conclusão é que a política de Chávez,
2008, o barril alcançou o pico de 147 dóla- altamente qualificados e bem pagos, num apresentada como uma maneira de termi-
res. Hoje, como é sabido, a cotação ronda país que permanecia pobre. Quando Hugo nar com a “maldição do petróleo”, está afi-
metade desse valor. Porém, Peter Maass Chávez foi eleito, a PDVSA era um poder nal a prolongar a “má sina” dos produtores.
acredita que assim que a actividade eco- quase independente do governo. O ocaso do petróleo, contudo, será lento.
O autor alerta que, até lá, é natural que
.Crude World — The Violent os conflitos violentos no delta do Níger
se agravem. Ou que o caos e a corrupção
Twilight of Oil na Guiné Equatorial persista. Ou que os
petromilionários da Rússia e dos países
Editora Alfred A. Knopf, 278 pp. do Médio Oriente continuem a dar lar-
Autor O jornalista Peter Maass gas às suas excentricidades. Ou que Hugo
Chávez continue a liquidar o que resta da
economia venezuelana. Ou ainda que os
Ter petróleo pode ser a solução para americanos continuem com a sua política
alguns problemas. Mas também ajudar ambígua no Iraque. Ou, por fim, que o
a criar novos problemas. Não podemos desfazer ouro negro não se transforme afinal num
veneno para o planeta. A expectativa de
ageologia do planeta, mas podemos tentar tornar
Maass é que o mundo acabe por mudar
os combustíveis fosseis menos valiosos no longo prazo. de trajectória para o ouro verde, abando-
Afinal, o crepúsculo do petróleo, após um século nando aos poucos o petróleo em favor de
em que ele remodelou o mundo, irá levar anos. fontes de energia renováveis menos lesivas
para o ambiente. O planeta agradece. b

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ExameFinal
Por Vicente Pinto de Andrade
Professor titular da Universidade Católica de Angola

O novo paradigma
da competitividade
A globalização, a revolução digital e o “capital
social” são os três factos que estão a mudar
as regras do jogo da competitividade

Nuno santos
entre as empresas e as nações

N
a reflexão do papel do Estado e do sector privado determinadas condições políticas, institucionais, económicas e
nas economias emergentes há três factos que têm sociais, e num espaço de uma ou duas décadas, poderão passar
chamado a minha atenção. O primeiro, tem que a ser actores. As importantes transformações estruturais a que
ver com a globalização económica; o segundo, com assistimos pelo mundo fora não são obra do acaso. São o resul-
a revolução digital; o terceiro, com o “capital social”. Os após- tado de políticas deliberadas, formuladas e implementadas por
tolos mais entusiastas da era da informação ao celebrarem o líderes visionários e audaciosos. O estatuto de actor ganha-se
esboroamento da hierarquia e da autoridade negligenciam, por com visão estratégica e com audácia. “Audaces Fortuna Juvat”
vezes, um factor crucial: a confiança e as regras éticas partilha- (A Fortuna Favorece os Audazes), escreveu Horácio, nas Odes.
das que nela estão subjacentes. Esses três factos estão na origem
da profunda alteração que se verifica no paradigma da compe- No século xix, o modelo ocidental de empreendedor industrial
titividade entre as empresas, mas também entre as nações. A confunde-se com o dono da empresa. No século xx, o surgimento de
competição entre as nações já não assenta, essencialmente, nas grandes empresas faz emergir o empresário inovador que é, frequen-
vantagens comparativas, mas, sim, nas vantagens competitivas. tes vezes, um assalariado. A transição para uma economia baseada
As primeiras, baseadas nas dotações naturais; as segundas, com no conhecimento e na inovação exige, assim, um esforço significa-
alicerces nas dotações adquiridas. São estas que explicam, fun- tivo de investimento naquilo que pode ser, actualmente, definido
damentalmente, a transição de países com estatuto de figuran- como investimento em conhecimento: investigação e desenvolvi-
tes para países com o estatuto de actores. mento (I&D), software, hardware de tecnologias de informação e
de comunicação (TIC), telecomunicações, educação e formação.
A este propósito, há a salientar que nunca a humanidade cres- Verifica-se hoje uma importante mudança no padrão de produção,
ceu e mudou tanto em tão pouco tempo. Nunca, na vida eco- disseminação e uso do conhecimento. Os países emergentes com-
nómica mundial, houve tantos actores globais como os que preenderam esta alteração adaptaram-se a ela, e têm tirado partido
existem hoje. Na América do Norte (Estados Unidos e Canadá), das grandes oportunidades em perspectiva, assumindo, desse modo,
na Europa (Alemanha, Reino Unido, Itália, França, Espanha), uma posição dominante na economia global. Os “trabalhadores do
na Ásia (Japão, China, Índia, Coreia do Sul), na América do Sul conhecimento” estão a surgir como grupo profissional dominante,
(México, Brasil), na Oceânia (Austrália) e em África (África do com níveis elevados de habilitações académicas, desenvolvimento
Sul). A globalização da economia é, assim, uma das dimensões profissional contínuo e autonomia. Muitos deles já se encontram
da emergente reconfiguração do mundo. ligados à comunidade global em evolução. Estes resultados espec-
taculares são o produto da combinação de acções governamen-
Os países pobres e subdesenvolvidos da América Latina, da tais esclarecidas e estratégias empresariais audazes. Dito de outro
África e da Ásia ainda não são actores desse processo de glo- modo, combinação de Estados esclarecidos e de sectores privados
balização: são meros figurantes. Mas alguns deles, preenchidas com capacidade de inovação. b

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