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JERONYMO. GUEIROS : A Reforma = 2 = — 0 GHristianismo Conferencia realizada no Recife, 4s 19 horas do dia 34 de Outubro de 1921. EDITADA PELA 2. EGREJA PRESBYTERIANA DO RECIFE EM BENEFICIO DA EDIFICACAO DO SEU TEMPLO ede IMPRESSA NA * Typ. da Revista Commerciale Indusinal RECIFE—1981, ce JERONYMO GUEIROS A Re or Chris ‘anist Conferentia realizada no Recife, as 19 horas do dia 31 de Outubro de 1921. EDITADA PELA 2,2 EGREJA PRESBYTERIANA DO RECIFE EM BENEFICIO DA EDIFICACAO DO SEU TEMPLO Sen etal Exmas. SENHORAS, Meus SENHORES Faz, hoje, quatrocentos ¢ quatro annos que se iniciou © grande reavivamento espiritual do Christianismo sob o in- fluxo de cujas santas liberdades recebeu 0 mundo o que de methot se vé na vida dos povos cultos. Reaccdo providencial do espirito christao contra a si- mora e 0 mundanismo pagao reinantes no seculo XVI, a Keforma protestante foi a garantia da promessa de que “as portas do Inferno nao haviam de prevalecer” contra a Egre- - ja fundada sobre o “Christo Filho do Deus vivo” da ins- pirada confissdp do apostolo dos Judeus. Dotada com a vida abundante que borbotou da cruz a0 consummar-se no Golgotha a redempgdo do mundo, e animada pelo Espirito Santo, a Egreja de Jesus Christo tem pudido rejuvenescer atravez dos seculos, conservando, no sagrado deposito do Novo Testamento, a dottrina da salva- go pela #€ naquelle que “foi entregue por nossos peccados e resuscitou pata nossa justificacdo” (Rom. 4:25), Entretanto, man grado os depoimentos mais insuspei- tos e fidedignos da Historia, tem-se divulgado, por toda a parte, 0 erro gravissimo de que a religiao evangelica, o christianismo propagado pelos protestantes € uma innova 4 A REFORMA E O CHRISTIANISMO: cao do seenlo XVI, filna de uma arenga de frades agosti- nianos em rivalidade com os dominicanos. E’ preciso reinvindicar a verdade historica sobre esse momentoso advenio que ianta imfluencia tem exercido no des- tino espiritual do mundo. Assitp como a catidal immensa do Amazonas, que se'preci- pita indomita no Atlantico, rasgando-lhe o seio gigante e vericendo-lhe a furia das revoltas ondas, nao pode ser o re- sultado de um perenrso de pobres aguas em vertente de poucas leguas—tambem o tio immenso de bengans_ espiri- tuaes que as doutrinas propagadas pela Reforma trouxeram ao mundo, nem podiam nascer do seculo de decadencia mo- ral ein que appareceram, nem da fonte turva de uma sim- ples rivalidade de frades. Acompanhemos, pois, alumiados pelo clarao da Histo- ria, 0 curso dessas aguas divinas que as areias dos erros humanos interromperam na media edade, mas que irrom- peram, de novo, de 14 de dentro dos claustros, espraiando- se pelo mundo em féra em torrentes fertilizadoras dos co- ragdes desertos daquella verdade que sé 0 Evangelho ou torga. E ver-se-4, ent&o, que a Reforma nao foi obra dos # homens, sendéo eifeito da operagdo mysteriosa do Espirito Santo, inspirando a volta de um novo capliveiro do povo de Deus para a liberiada Jerusalem, cujas muralhas e cujo templo de novo se edificam no meio de Iuctas e epini cios. Ver-se-4 mais que a Reforma foi para o Christianismo romanizado o que foi o advento de Christo para o Judais- mo em decadencia; porque, assim como, em nome das Escripturas Santas que os escribas € phariseus escrupulosa- mente guardavam na velha Egreja da gente de Abrahao, impugnou Christo a apostasia religiosa em meio da qual tinham invalidado os mandamentos de Deus para observa- rem a tradigéo dos antigos—tambem, na reivindicagao es- piritual da pureza da primitiva doutrina ensinada por Christo @ seus apostolos, a Biblia, guardada pela Egreja medieval © por ella invalidada mediante tradicées fhumanas, foi o li- vro coniraposto, no seculo XVI, ao trafico das indulgencias com que, em grosso e a retalho, se vendia o perdao dos peccados e se transformava o templo de Deus em casa de mereadores, ot JERONYMO GUEIROS Analysemos esse movimento, esiudaudo-lhe synthetica- mente aS origens e causas responsaveis. ee © Christianismo é 0 systema religioso iundado por Chris- to como a realizacao do que predisseram as Escripturas do Velho Testamento. Elle contrasta com a Lei, como uma dispensacdo de. graca e.misericordia em que a Verdade mostra o Caminho por onde o homem pode encontrar a Vida que procede de Deus. “A Lei, disse o Apostolo do amot, foi dada por Moysés; a graga.e a _verdade foram trazidas por Jesus Christo’. (Jodo, 1: 17). E Christo mesmo disse: “Eu sowo caminho, e a verdade e a vida; ninguem vem ao Pae setiao por mim’. (Joao, XIV: 6). Christo—como Verdade que expressa a Lei de Deus em toda a sua espiritualidade e offerece 4 justica do tribu- nal divino a satisfagao exigida dos transgressores dessa Lei —abre, atravez de seu corpo ferido na cruz, qual denso véo mysteriosamenie rasgado ante o Santo dos Santos, um Caminho novo, um Caminko de Vida, por onde os perdi- dos e mortos em delictos e peccados, podem, reanimados, redivivos pelo poder que o arrependimento e a fé alcancgam, regressar ao seio bemdito de Deus que, como o Pae do prodigo, tecebe o filho arrependido com osculo, amplexo, banquete e festiva symphonia. Em outras palavras: o Christianismo € a revelacao plena do amor de Deus firmado na justiga dé um substitu- to dos peccadores. E’ o annuncio da justificagao mediante a fé em Christo como nosso representante, de modo que sua perieita obediencia 4 Lei pode ser por nds apropriada, assim como péde elle assumir na critz a responsabilidade das nossas transgress6es, morrendo como “‘victima de propi- ciagdo pelos nossos peccados”. Avessa nova alvicareira de salvacdo gratuita e perfeita, para 0$ que, descorocgoados e iristes sob o regimen da Lei, viam o bem eo approvaverd e seguiant 6 mal que repro- vavam (Rom. 7: 15); 4 proclamacio da. grande verdade de que “Deus estava em Christo reconciliando 0 mundo comsigo mesmo, nado {the imputando os seus pecca- dos” (I Cor. 9) € que o Novo Tesiatnento chama Evangeiho, vocabulo cuja significacao etymologica é—“boa 6 A REFORMA & O CHRISTIANISMO ee mensagem” (do grego: angelos—mensageiro, anjo, e eu, ev —bom, alegre). Foi essa a consoladoradoutrina de que os apostolos se fizeram arautos no mundo, em obediencia 4 palavra do Redempior : “Ide por todo mundo, e prégae o Evangelho a toda a creattira. O que crer ¢ for baptisado sera salvo; o que, porém, nado crer sera condemnado.” (Mare., 16 15, 16). Sao Pedro prégava depois : “Atrependei-vos e cada um de vds seja baptisado em nome de Christo para remisséo de. vossos peccados e rece- bereis 0 dom do Espirito Santo”. (Act., 2: 38). * Sao Paulo, extraordinariamente chamado pata o apos- tolado dos gentios, escrevia mais tarde aos romanos: “Concluimos, pois, que. o homem é justificado pela f, sem as obras da Lei.” (Rom., 3:28). E aos ephesios: “Pela graca € que sois salvos, mediante a fé,“e isto nao vem de vés, porque € um dom de Deus. Nao vem das obras, pata que ninguem se glorie...” (Ephs., 2:8,9), E mostrando que o Evangelho é para salvar ¢ regene- rat, pela graca trazida por Christo, os perdidos e condem- nados, ensinou que ‘onde abundouo peccado ahi supera- bundou a graca”’. Em ial doutrina, de nada vale o homem com seus meritos, sempre imperfeitos perante Deus. As boas obras, a santidade da vida, em vez de causas, sao effeitos da vida que Christo outorga. “Sem mim—ensinou elle—nada podeis fazer”? Como os ramos da videira nao podem fructificar, se nao estiverem unidos ao tronco, assim os christios nao podem, produzir os fructos moraes que séo as obras agradaveis a Deus, se nao estdio ligados, pela fé a Christo, a fonte de vida espiritual, oO mesmo que disse: “Se nao crerdés em quem eu sou, morrereis nos vossos peccados”. (Joao, 8:24) Eis ahi o principio basico do Evangelho, sem o qual nao se comprehende verdadeiro christianismo. Sem uma communhao vital, intima e pessoal com Deus, estabelecida pela [é em Christo, 0 unico mediador, o homem esta morto “em delictos e peccados”; nao péde, absolutamente, palmilhar 0 caminho de Deus; e, qual cada- JERONYMO GUEIROS ver, nao pdde ter sendo a aceao deleteria que produz a putrefacao. No Eyangelho, porém, assim fala Jesus Christo: “Aquelle que crér em mim, ainda que esleja_morio vivera”. (Joao, 11:25). Essa consoladora doutrina estava destinada, segundo va- ticinios do Novo Testamento, a se espraiat por todo o mun- do e perdurar atravez dos tempos. Mas Christo, que garan- tira sua victoria contra os -poderes do inferno, predisse, ao mesmo tempo, que no seu espraiamento, como a semenie que o semeiador sahiu a semear, seria na maior parte es- tragada, porque cahiria em coragoes abertos como estradas a 40 destruidora dos maus; em coracdes empedernidos, de modo a nao tolerarem o sol’ da tribulagéo que os pro- vasse. Predisse mais que os semeadores dotmiriam, o mau semearia 0 joio no meio do grande trigal (Math. 13) e que Os sets, 4 semelhanga das virgens que esperam de noi- te 0 esposo que tarda, toscanejariain e, por fim, dormiriam (Math., 25). O prenuncio da decadencia da fgreja toma, na lingua- gem apostolica, forma cada vez mais clara. Sao Paulo de- clara, explicitamente, que o mysterio da iniquidade ja se ope- rava em seus dias (II Thes., 2:3) e que, nos ultimos tem- pos viria,a desergdo da fé, caracterisada pelo celibato obri- gatorio, a abstinencia de viandas, etc. (I. Thim. 4:1), Sao Pedro. positivamente, prophetisa que falsos douto- tes*introduzitiam no seio do povo de Deus seitas de per- dicéo e fariam do povo “uma especie de negocio” (If Pe- dro, 2:3). Advertidos, dest’arte, pelas Santas Escripturas, nao é para admirar 0 que a Historia refere a respeita da decaden- cia _espiritual que chegou ao seu acume tio seculo XVI. Vercedora nos tres primeir culos pela fé invicta dos martyres naquelle que ia abalando os coracoes pelo poder do coracao ferido no Calvario, a Egreja, a partir do seculo IV, hybridamenie unida ao sanguinario Constantino, insuiflou se de animo bellicoso e ambic&o do fausto, pompae gran- deza do culto pagdo; e, de humilde esposa do Cordeiro que mandara Pedro embainhar a espada, passou a. allia- da dos reis deste mundo, esquecida de que o Principe da 8 A REFORMA E O CHRISTIANISMO Paz, seu esposd celesie, dissera a Pilatos: “O meu reino nao € deste mundo”. y Dahi por deante, a Egreja vae progredir no seculo, brandindo a espada do terror, mas—doloroso phenomeno! —vae retrogradar na fé que inspirara a resignagaio dos mar- tyres. A torrente impetuosa’e turva do paganismo com seu culto aparatoso e sensital, vae toldar a limpida corrente de- rivada dos labios daquetle que, promettendo a agua da vida 4 Samatitana, proclamara 4 beira‘do Pogo de Jacob, 0 cul- to universal (catholico), nao preso ao tempo e€ ao espago, porque ttibutado “em’ espitito e verdade” ao Deus que é Espitito (Joao, 4:23,24) nao. estaria. adsiricto a Jerusalem, Samaria, Constantinopla, Roma ou outra qualquer séde nacional, mas ao Espirito Supremo presente em todos os tempos elogares e promptoa recolher,em seu seio gracioso, as homenagens dos que delle seapproximam pelo unico mediador —Christo, 0 Filho Deus humanado. Perdida a primitiva indole de paz, perdao, misericor- dia € amor de que foram exemplos Christo ¢ seus apostolos, a Egreja coineca a sobresahir no theatro ensanguentado da vida politica dos povos. A lenda do—/m hoe signo vinces & por ella perpetuada e, em nome da cruz, onde Christo sé deixara suppliciar por amor dos homens, ordena-se a guerra para destriigdo destes, e de tal modo que, mais tarde, quando a Europa e a Asia s¢ ensanguentam em batalhas de fe- rocidade indescriptivel, sobresahem, na carnificina, os que tentam uma cruz ao peito animados pelo sentimento guer- reiro despertado pelos eloquentes prégadores do celebre: “Deus o quer!”. Invertida, assim, a idéa christa, de santi dade, eis que se santificam os homens na destruicdo de vi- das... Tal foi a negregada obra que a Inquisicao depois perpetuow, caracterisando essa intolerancia que transformou . a terta num inferno de supplicios maiores que os do fo- gO... Levada officialmente no bojo turvo dessa corrente de dominagao secular, a Egreja foi, a pouco € pouco, assimilan- do os elementos do paganismo em decomposi¢ao e voltan- do ao aparatoso ceremonial do judaismo antiquado. Assim, em vez do culto simples, em espirito e verda- de, vem 0 culto supersticioso e material das imagens, nao JERONYMO GUEIROS 9 obstante a prohibicdo tetminante do capitulo XX de Exodo, onde Deus diz: “... nao Ihes dards culto.” Em vez do «examinae tudo» de S. Paulo, e da recom- mendagéo de Christo “examinae as Escripturas”, vem © monopolio do manuseio dos livros santos por uma clas- se privilegiada que os “sepulta no pé de uma lingua morta”. Em vez da santidade, como demonsitacao da verda- deira fé, vem o dogma da indeffectibilidade doutrinaria de Sua Santidade... com o ensino de que a fé pode estar alliada a uma vida ma e, dest’arte, proclama-se a infallibi- dade de Alexandre VI, nao obstante seus crimes e sua vida impura € escandalosa. Em vez do precioso sangue de Christo que, segundo ensina S. Joao, “nos purifica de toao o peccado”, vém as chammas do Purgatorio, nao obstante sé haver Christo falado do caminho estreito que leva para a vida eteriia ¢ do largo para a perdigao eterna. (Math., 7: 13). Em vez da Santa Ceia, memorial de expressivo sym- bolismo do corpo e do sangue do, Redemptor, mediante © pao é€ o vinho eucharistico, vem a doutrina da transubs- fanciagao na qual se traisforma o pao na carne e m9 sangue de Christo, tao real e perfeitamente como esta elle no céo, omittindo-se, porém, o Calix, parte integrante da Communhao ea respeito do qual foirecommendado “Bebei delle todos”. Em vez de Christo, fundamento e chefe unico da Egreja, consideram-se chefes infalliveis homers que, quaes Calixto e Zeferino, foram ficados como perigosos hetejes por Santo Hyppolito, e outros como Liberio e Honorio, monothelista este, e subscriptor aquelle do credo ariano. Finalmente, em vez da salvacao pela fé na obra Re- demptora consummada na cruz, vem 0 esqueciménto da gra- ¢a de Christo e predomina a doutrina ‘da salvacao por meio de jejuns, flagellagdes, abstinencias, rezas, romarias, votos, promessas, e — cumulo da apostasia! — mediante o dinheiro que compra indulgencias tariladas pelos acumu- ladores dos meritos humanos no chamado ‘thezouro de obras Stipererogatorias ””, Christo havia reconmendado: “Dae de gracao que de gtaga recebestes. S. Pedro escrevera que “fomos resga- tados nado por ouro nem por prata que sao cousas corrup- 10 A REFORMA EO CRI JANISMO tiveis, mas pelo precioso sangue de Christo” (1 Pedro I: 18; 19); ©, porque se propozera Sim4o Mago adquirit com dinbeiro um dom do Espirito Santo, o apostolo dos Judeus lhe bradou, santamente indignado: “O teu dinheiro perega comligo, uma vez que te persuadiste que o dom de Deus se compra com, dinheiro.” (Act, 8: 20). Nao obstante esse ensinamento antisimoniaco, veio a predominar na Egreja do seculo XVI a doutrina. de que. por meio de indulgencias de precos tarifados, se obteria até 0 perddo dos peccados que tivessem de ser commetti- dos no futuro. Atiento 0 uxo e a ostentagéo mundana da corle pon- lificia e de toda a hierarchia sacerdotal, 6 facil de imaginar a que abysmo chegaria o trafico das almas predito por S. Pedro. O faustoso solic -papal, rico como se_tonara. com a empreza fabricadora de Dullas de indulgencia, era mais disputado que o throno dos reis.. Dahi, as convulcdes dos Papas tivaes com seu corlejo macabro de trahicées, enve- nenamentos e de toda sorte de maldade na disputa da. co- bigada cadeira da infallibilidade... Referindo-se a esse calamitoso estado espiritual, 0 his- toriador catholico Cesar Cantu, nao obstante sua parcialida- de como intransigente subdito’ do papa, €screveu, em sua Historia Universal, emendada, como se sabe, segunde a feigaéo do Indice Expurgatorio, estas significativas palavras que ja tive de citar em minha conferencia commemorativa do 4.° centenario da Reforina: “so. Durante quarenta annos, a opinido pudera duvidar da perpetuidade que se dizia promettida ao throno dé. S, Pedro, e 0s papas rivaes haviam recorrido & Protecgao e d forga dos reis para susientarem a verdade e o erro... “Obedecendo 4 tendencia geral do seculo para cons, tituir_principados -sobre as tuinas das republicas ¢ das communas, querendo tirar vantagens mundanas do poder espititual, os papas applicaram-se avidamente a promover Os seus interesses temporaes; para assegurarem 4 familia elevadas posigdes, afagavam os poderosos, cuja opposicao temiam, e, ao mesmo tempo, Opprimiam os fracos para os explorar. Assim foi que puzeram em accdo essa politica vergonhosa, tecida de fraudes e violencias, que seviu para forfalecer a sta antoridade terrestre em detrimento dos pes JERONYMO GUEIROS 11 quenos senhorios da Romania. Vimos Alexandre VI dar exemplos detestaveis; se porem, como homem foi perverso © como papa escandaloso, é forgoso confessar que algum bem fez como principe, embora, por meios indignos. , “.. € 0S meios perfidos de que Julio (0 papa) se ser- viu pata fazer e desfazer ligas e alliancas, e a violencia extrema de seu caracter e das suas accées contrastaram repugnantemente com as attribuigées do vigario de Christo” * Do papa Leao X, 0 celebre impugnador da attitude de Luthero, escreven 0 mesmo historiador : “Deixou-se dominar ‘pelas ambigdes da familia que o envolveram em contendas com os principes e o levaram a injustos rigores; pot isso dizia delle 0 povo: “Elevou-se rastejando como uma rapoza, reinou como um ledo e:aca- bow como um cao”. “0 paganismo tinha invadido a cérte pontificia, onde se favoreciam todos os homens de merecimento sem se cttrar do uso que faziam do talento. Bembo escreve da_chancellaria apostolica que Leao X foi elevado por mer- cé dos deuses immortaes; jalla em applacar 0s manes e os deuses. subterraneos, assim como de votos feitos 4 des Laarentana e do sopro do sephyro celeste.. Nos. seus ver- Sos 0 goso de ver a sua dama parece-lhe mais doce do que os -prazeres dos eleitos no céo; chama collegio dos augures a0 collegio cardinalicio...” “E’ raro nao influir a forma sobre as idéas; 0 brilho da antiguidade tinha causado tal deslumbramento que ja se nao via o christianismo; ..Bembo, monsenhor della Casa, 0 cardeal Hyppolito d’Este e muitos outros tinham filhos e nao os escondiam,.: O. cardeal Bibiena tinha man- dado construir sobre o Vaticano uma villa ornada de nym- phas voluptuosas, pintadas pelo famoso Raphael; ... Ditigia todas as magnificencias da cérte de Leao X, os divertimen- tos do carnaval e as mascaradas. , “Foi elle que fez com que o papa mandasse ‘repre- sentar a Mandragora de Machiavel e a sua Calandra, cujas scenas, que até num prostibulo pareceriam impudicas fizeram rir muito a Ledo, Isabel, d’Este e as damas mais) clegan- tes d'Italia... (*) E nossa a emphase, ‘ 12 A _REFORMA E O CHRISTIANISMO “Por uma parte — contintta o-historiador ultramonta- no — havia affectagéo de conhecimentos e costumes dos classicos; por outra, nos pulpitos e nas reunides ecclesias- ficas imperava a ignorancia. A theologia tomava quasi sem- pre o logar do Evangelho, e, mercé dos atidos methodos da escolastica, estabelecia-se distingdo entre as cousas ver- dadeiras philosophicamente e nao theologicamente. Os ser- mes eram de um gosto detestavel; os pregadores mistura- vam 0 profano com o sagrado, 0 jocoso com o serio, € buscavam 0 novo, o extravagante, o surprehendente... “Entre o povo espalhavam-se outros pregadores vul- gares que Ihe ensinavam eérros, supersticoes e que termina- vam invariavelmente pedindo dinheiro... “Dizia um delles: ““Perguntaes-me, carissimos irmaos, como é que se ganha 0 paraiso. Os sinos do convento estao dizendo com o seu som: Dando, dando.” “O alto clero diz o mesmo historiador — absor- vido por cuidados inteiramente mundanos, nao pensava em sé instruit nessa fé que era obrigado a defender e a con- servar impolluta: os ecclesiasticos de categoria inferior, como sempre, regulavam o seu procedimento pelo dos chefes.”” E referindo-se 4 venda das indulgencias, causa occa- sional da Reforma, diz Canit “Fez-se uma tarifa, cujos pregos se encontram deter- minados em alguns livros penitenciaes, € os frades recebe- tam a incumbencia de effectuar a troca das penitencias.”’ E mais adeanie: “A venda das bullas de indulgencia totnou-se um dos rendimentos mais pingues da curia. O povo via no dinhei- tO que dava o preco da coisa santa, e os frades encarrega- dos da cobranga encareciam protanamente a virtude do perdao; e estimulava-Ihes o zelo a porcentagem que tece- biam do producto da venda..” “Joao Tetzel, dominicano de Pirna, encarregado pelo arcebispo eleito de Moguncia de cobrar na Allemanha o tendimento das indulgencias, desempenhou-se do catgo de um modo escandaloso; atravessou a Saxonia com caixas cheias de cedulas ja assignadas. Quando chegava a algu- ma povoagéo, arvorava uma cruz na praca e apregoava a Sua mercadoria: “Comprent, comprem, dizia o espectilador, * JERONYMO GUEIROS 13 porgue ao som de cada moeta que cae no mei cofre, sae uma alma do purgatorio.” .O povo acodia em tropel a trocar thalcos ¢ sequins por indulgencias; 0 negocio fazia- se até nas tarbernas; s6 de Froyberg levou dois mil florins, com grande desprazer do eleitor da Saxonia e profanda indignacao das pessdas verdadeiramente religiosas.” Eis ahi o'calamitoso quadro da Egreja no seculo XVI, como © pinta um dos mais celebres e fidedignos historiado- res romanos. Foi essa lastimavel condicao espititual que um po- bre frade, cheio de f¢ na Biblia, como Palavra de Deus, enfrentou em nome do Evangelho que 0 Novo Testamento perpettia Esse frade foi Martinho Luthero. Descontente com a condic¢aéo de sua alma, debalde procurou a paz na vida claustral. Desilludido, expdz as incerlezas que: ainda o° amarguravam ao_ padre Staupitz, seu superior, e recebew deste um Novo Testamento, cuja leitura Ihe rasgou um novo horisonte espiritual, em que o Evangelho, com todo o esplendor de sua primitiva simpli- cidade e pureza, lhe mostrou como podé Deus justificar ao iniusto que cré naquelle Justo que morreu pelos transgresso- res da Lei, Depois dessa consoladora leitura e apés ter elle verifi- cado em sta visita a Roma que os dirigentes da Egreja estavam influenciados pelo sépro do paganismo € distanciados da f€ salvadora que se manifesta pelas obras, clega 4 Sa- xonia 0 celebre dominiciano Joao Tetzel, vendendo as in- dulgencias arrendadas pelo papa Leao X ao arcebispo de Moguncia. Pode-se imaginar a santa indignagdo do piedoso frade “ agostiniano que aprendera na Biblia ser a salvagao’ inteira- mente gratuita, mediante a f€ no sangue de Christo, ao ou- vir a prégracéo impudente de Tetzel, anunciandoa venda de bullas assignadas por Ledo X eo arcebispo de Moguncia, com as quaes se obtinha o perdao dos peccados, alé mesmo que tivessem de ser commettidos no futuro... Logo que chegou aos seus ouvidos a voz horrenda e clangorosa do mensageiro da. simonia reinante, disse elle ; ‘Hei de fazer um furo naguelle tambor!” E fel-o, em nome de Christo, para gloria de Deus ‘e perpetuidade da fé que vence o mundo. Jace A_REFORMA E 0 sCHRISTIANISMO A 31 de outubro, de 1517, affixou 4 porta da abbadia de Wittemberg 95. theses, refutando a doutrina de Tetzel. Travou-se a lucta: Tetzelsustentava a doutrina do seu trafico ena sua victoria estava empenhada a cérte pontifi- Cia, pois fora Lefio X quem mandara prégar as indulgencias, no intuite de obter dinheiro pata o seu fausto, para a égte- ja de Sao Pedro e para uma cruzada contra Selim, cheie dos turcos; Ltthero sustentava a doutrina de salvacao pela f€, sem bullas, nem quaesquer innovacdes humanas e com elle estavam os milhares que em todo 6 mundo se acha- vam como que em captiveiro babylonico, suspirando pelo tegresso 4 Terra Santa da liberdade christa. Vendo o perigo que corria a sua empreza de indul- gencias, Leao X citou Luthero a comparecer a sua presenca. Pela interveneao de seu amigo Frederico, 0 magnani. mo, Luthero conseguiu ser ouvido pelo cardeal Caetano, na dieta de Augsburg. Mas, no dizer do grande reformador, o cardeal era to apto para julgar das cousas espirituaes quanto um asno para tocar harpa. Condemnado pelo representante do papa, Luthero ap- pellot ainda para elle, suplicando-he que se informas- se melhor de seu caso. Até aqui, imaginava o piedoso monge poder fazer a teforma dentro da propria Egreja. © frade — diz Cesar Cant —acostumado a todos os rigores da obediencia ecclesiastica, 0 theologo por muito tempo compenetrado das doutrinas em que se baseava a legitimidade do poder pontificio, nao podia de subito des- assombrar-se do respcito por esse poder; ao mesmo tempo, porem, 9 pensador austero que tinha visto de pertto as or gias de Roma, forgosamente se havia de insurgir no intimo foro de sta consciencia e sua raz4o contra o degenerado successor de Pedro que presidia a essas orgias”. Pergunta depois Canta : “Seria possivel uma reforma conciliatoria ?”” “Adriano VI e Melanchton eram muito proprios para a promover, porque ambos tinham caracter conciliatorio.” “Mas, —contintia o historiador —durante o governo deste pontifice, Roma mostrou quanto estava realmente cor- rompida.”” JERONYMO_GUEIROS 15 a RS ed Em resposta ao appello de Luthero, mandou o papa © cardeal Miltitz, que conseguin um accordo mediante o qual se calariam ambas as partes contendoras. Atacado, porém, 0 douto frade, por Joao Eck, feriu-se novamente a pugna em Leipzig (1519), sustentando Luthe- to, entte outros pontos, a liberdade de conscienci Estava verificado nao haver conciliagao possivel. Era chegado o momento do choque decisivo da consciencia christé com a prepotencia ecclesiastica da Egteja mundani- zada. Chegara, effectivamente, o tempo suspirado por tantos crentes atravez de tantos seculos. Como Joviniano, no seculo 1V; Vigilancio, no V; os bret6es, os escossezes e as egrejas da Gallia e da Hespa- nha, no Vi e VII; os 338 bispos reunidos em Constantino- pla e 300 em Francfort, no VII; os bispos francezes no IX; Jodo Scoto, no X; os waldenses e paulicianos, no XI; os albigenses e petrobrucianos, no XII; 20.000 albigenses no XIII; Joao Wicklit e os lollardos, no XIV; Joao Huss, Jeronymo de Praga, Joao Jerson, Joao Wesselias e Jeronymo avonarola, no XV — ergue-se, agora, definitivamente victo- tioso, Martinho Luthero, dizendo, cheio de Té, aos seus companheiros que o queriam deter: — “Mens padres, se 0 que fiz nao foi enr nome de Deus, cahird por terra; mas se Deus o quer, entreguemo- nos em suas mdaos.” Ante essa altitude de fé sobranceira e inabalavel, o papa brandiu a arma com que amedrontata os povos na edade media e publicou em 15 de Julho de 1520 a bulla de excommunhao do intrepido impugnador do commercio pon- tificio. Luthero, firme, respondeu coma publicacao do livro que ja havia esctipto sob o titulo — Captiveiro. de Babylonia = e, a 10 de dezembro, acompanhado pelos professores e es- tudantes de Wittemberg, queimou, publica e solennemente, aquelle papel que, emanado de quem estava fora” da dou- trita de Christo e engolphado no mundo, carecia de qual- quer valor espiritual, Estaya, deste modo, gaihardamente rebatido o dardo do poder espirituai, O papa, entretanto, dispunha de outros dardos postos sua. disposigao pelo imperador Carlos V, para cuja elei¢ao 16 A_REFORMA E O CHRISTIANISMO tinha a cérte pontificia contribuido. com os votos de. tres cardeaes eleitores. Quando em 1521 se reune a dieta de Wormes, surge ahi o legado do papa, solicitando a condemnacdo do refor- mador, medida a quese oppdem os principes aliemaes, allegar do que nao se podiacondemnar um homem sem-n-o ouvir Tntimado a comparecer a Wormes, Luthero se proni- ptifica a partir e escreve a Spalatin: “...emquanto a graca de Christo ine sustiver, hei de confessar a verdade, nao re- cuando meso deante da morte” ‘A Melanchton escreve com a mesma intrepidez: “.,.se 0S meus inimigos me assassinarem, contintia iu, de todo coragéo te imploro, a ensinar a verdade e a dar testemunho della.” Quando the dizem que o duque Jorge, da Saxonia, lhe arma uma emboscada, responde immediatamente : — “Nao deixarei de me pér a caminho, ainda mesmo que houvesse uma-chuva de duques da Saxonia’. Dizendo-lhe alguem que o demonio havia de fazer- the opposicéo, exclamou com emphase indicativa de f€ ver- dadeitamente admiravel: — “Nao deixarei de comparecer a Wormes, ainda mes~ mo que 14. houvesse tantos demonios quantas telhas nos telhados”. E parte em marcha verdadeiramente triumphal, porque todo o mundo queria ver e admirer aquelle homem extraor- dinario que, confiado em Dens, vae, naqueiles dias de su- persticioso temor, enfrentar os poderes maiores e mais te- miveis do mundo: 0 imperio ¢ o papado. Cortejado pela immensa multidao que se vae agegli merando atravez de sua marcha para Wormes, entra na dade com a intrepidez com que os martyres enfrentavam outrora o rosto sanhudo dos seus algozes. O povo se acotovela nas ruas e, sobrepujando a extensio das ‘mesmas, sobé para os telhados, para contemplar 0 he- roe que subira de joelhos as escadas das egrejas de Roma e que agora vae artostar, na dieta, 200 principes, o repre- presentante do papa e.o imperador Carlos V. Em plena dieta, empilham-se livros sobre uma banca e pergunta-se a Luthero—se eram seus e se estaya prompto a retratal-os, Responde calmamente o reformador que, visto como JERONYMO_GUEIROS 17 se tratava da integridade da Palavra de Deus e da salva- ¢ao das almas, pedia um praso para responder, sendo-ihe marcado o de 24 horas. No transcurso desse praso, fez elle tocantissima oracdo, sentindo-se depois bem disposto para o grande prelio. A’ hora aprazada, compareceu 4 dieta, reconheceu como seus os livros e admitte a hypothese de haver nelles algu- ma palavra um tanto ferina que Ihe escapara no ardor do combate. Dizendo-lhe, porém, seu antagonista, Joao Eck, que aquillo era um subterfugio, pois 0 que o imperador queria era uma resposta definitiva, disse Luthero : “Vou dar uma resposta sem pontas nem dentes: ndo me retrato de cousa alguma, a mao ser que me convencam pela Escriptura ou por meio de argumentos irrefutaveis”. Proseguindo, affirmou que os papas e os concilios ti- nham errado e que nao podia deixar de submetter sua consciencia 4 Palavra de Deus. Foi, entéo, condemnado pelo imperador. Os hespanhoes ifalianos, tentaram conseguir a violacdo do salvo-conduc- to de que estava elle munido, ao que se oppuzeram os princi- pes allemaes. Antes de expirat 0 praso do salvo-conducto, retirou-se com destino a Wittenberg, seudo em caminho surprehen- dido por pessoas mascaradas que o conduziram ao Cas- tello de Wartburgo. Era o seu amigo Frederico quem, assim, 0 subtrahia 4 furia dos inimigos. Nesse retiro, onde passou muito tempo refugiado, cor- respondendo-se, entretanto, com os seus amigos, especial- mente com Melanchton, inicion Luthero a traduccdo da Bi- blia que € obra prima da vernaculidade allema. No tempo desse recolhimento providencial do refor- mador, surgiram espititos turbulentos, como sde acontecer por occasido de todas as grandes reivindicagdes. Eram os inconoclastas que, invertendo a indole tole- rante dos principios liberacs da Reforma, penetravam nos templos, quebrando-lhes violentamente os idolos, sem se ap- perceberem de que, se os idolos estao no coracao, de nada vale quebral-os exteriormente. A Reforma quebra 0s idolos do coracdo com o poder mysterioso das maos feridas e do peito alanceado daquelle 18 A_REFORMA EO CRISTIANISMO que, morrendo na cruz pelos peccadores, convida a todos, dizendo : “Vinde a mim todos vds que vos achaes cancados e carregados e eu vos alliviarei” (Math. 11:28). Sabendo Luthero que os inconoclastas commettiam des- atinos em Wittemberg, sahiu do seu refugio, arrostando as consequencias de que estava ameacado depois de expirado © praso do salvo-conducto e conseguiu, com:o imperio mo- ral do seu verbo, conter a onda furiosa dos fanaticos, sem que ninguem ousasse pdr em pratica a sentenca do impe- tador decretada na dieta de Wormes. E’ que 0 povo e os principes estavam com Luthero e Luthero sentia que estava com Deus. Vem depois a dieta de Nuremberg (1522-1524), onde os principes pedem uma junta Geral da Egreja para relorma dos abusos, e seguem-se agitacdes que assumem proporcdes de verdadeiras guerras. Carlos V, que sonhava com o alargamento de seus do- minios, e via nessas agitagdes o enfraquecimento da Egreja bellicosa que abengoara a espada ensanguentada dos usur- padores crueis dos dominios merovingios, querendo satisfazer a0 papa, cujo prestigio poderia amparar os seus surtos da conquista, resolven porem pratica asresolugoes de Wormes, espreitando, pata isso, a opportunidade de fazel-o sem pe- tigo pata o seu poder na Allemanha. Tal opportunidade julgou-a elle chegada, quando, apds a batalha de Pavia, Ihe cahiu prisioneiro Francisco I, de Franga, e pela Confederagéo de Madrid, ficava o humilhado tmonarcha na obrigacéo de auxilial-o na conjuracao da te- volta contra a auctoridade do papa. Reune-se a dieta de Spira (1526) e o imperador tenta, debalde, fazel-a homologar o decreto intolerante contra Lu- thero e suas obras. Os principes, ao contrario, fazem a dieta promulgar o decreto em virtude do qual puderam as egrejas evangelicas organizar-se officialmente. O papa Clemente VII, receoso de ver prejudicados seus pequenos estados italianos com a approximagdo de Carlos e Francisco, acirrou o odio que ja separava os dois monarchas e, por essa politica de intrigas e traigdes, 0 om- nisciente Deus que permittiu a traigdo de Judas para que a Redempeao se constimmasse pela morte de Christo, o JERONYMO GUEIROS 19 Deus cujo dedo omnipotenie e miysteriosamente sabio regu- la a historia dos povos e rege 0 destino das nagdes, en- fraquecet o poder daquelles que pretendiam abafar o gran- de movimento providencial de que resultou a teinvidicagao do Christianismo apostolico. Proseguindo na obra da traicao, Clemente VII fez uma allianga dos estados pontificios com a Franca; e Carlos V para se vingar, fez marchar contra Roma um mumeroso exercito commandado pelo general Frundsberg, o mesmo que batera no hombro de Luthero na dieta.de Wormes, di- zendo-lhe: “Nao temas, fradinho”; e a 6 de maio de 1527 foi a cidade tomada de assalto, fugindo, por essa occasiao, pata a fortaleza de-S. Angelo, 0 papa com os cardeaes, Feita a paz com o papa em 1529, Carlos V intenta outra vez dar cumprimento ao decreto de Wormes. Marcha, porém, victoriosa a grande causa da_liberda- de christa. Reune-se, pela segunda vez,a dieta de Spira, que tenta prohibir ulteriores innovagdes e approvar a condemnagao de Luthero e seus escriptos. Mas a phalange de heroes evangelicos, presente na dieta, inspirada na intrepidez dos apostolos, como testemu- nhas da verdade, ergue 0 seu protesto, allegando que sé Deus € 0 Senhor da consciencia alheia. Vem dabi o nome de Profestan'es com que ainda hoje somos conhecidos: nome glorioso evocativo desse ex- traordinario movimento que cumpriu a promessa de Christo referente 4 victoria de sua Egreja contra os poderes do in- ferno. Salvé, 31 de Outubro — radiosa data de feito immot- redoiro ! Salvé, dia immortal, em-que a reacgéio da f€ contra a decadencia da Egreja romanizada, restituiu as almas sedentas de verdade o pao espiritual da Palavra de Deus! Salvé, dia fulgente, em que o espadanar da luz das Santas Escripturas espancou as trevas das innovacdes huma- nas e, no cahos medieval, comecou 0 Divino Espirito a obta de renovacao que hoje esplende no mundo, ao falgor da face gloriosa de Christo—o unico Redemptor dos homens, E v6s, que, porventura ainda choraes, nostalgicos, na 20 A REFORMA E O CRISTIANISMO terra do captiveiro, suspirando por Sido, levantae-vos das tibanceiras do tio em cujos salgueiros pendurastes as har- pas emudecidas dé tristeza e acompanhae os novos Esdras e Nehemias no regresso 4 Terra Santa ! E vés, christaos, que, unidos em Christo, aqui repre- senitaes as varias denominagdes evangelicas desta capital, empunhae as vossas armas espirituaes, emquanto ides. re- patando o templo e as muralhas de Jerusalem fendidas pela inimigo em dias de captiveiro ! No esttar do santo enthusiasmo que nos é hoje commum, neste dia de sagrada evocacgaéo historica, descer- rem-se nossos labios e delles borbotem, em catadupas de affecto agradecido, os accordes do epinicio de nossa redemp- ¢aio ecclesiastica, para que echée em todos os angulos da Pattia e rebde nos ambitos do mundo o som festivo dos canticos de Sido libertada ! E ao Deus omnipotente e sabio, misericordioso e ju: to que, pelo Evangelho reannunciado, nos salvou em Chii to € nos deu os santos impulsos da liberdade christé que nos congrega neste sublime templo coberto pela amplidao do céo e illumiado pelo brilho scintillante das estrellas, subam nas azas mysticas da fé, os nossos coragGes agradecidos ! ae: = @EYINIO—

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