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IV Seminário de Estudos Linguísticos e Literários da Fafipar

Língua, Literatura e Interfaces: outras Artes, múltiplas Linguagens


ISSN 2178-2873

CONTOS DE FADAS E ELABORAÇÃO DE CONFLITOS INFANTIS

Dr. Emérico Arnaldo de Quadros (Fafipar)

Os contos de fadas têm um importante papel no desenvolvimento infantil. Embora


atualmente muitos pais prefiram apresentar a seus filhos as estórias na forma de filmes ou
desenhos, a tradição oral desde muito tempo foi utilizada na transmissão desses conteúdos,
sendo que o fato dos pais ou adultos significativos contarem estórias às crianças propicia,
como veremos adiante a elaboração de conflitos inerentes à infância.
A escola também trabalha com contos infantis, em geral estórias com conteúdo
moral. Vigostki (2003) ao escrever sobre a educação estética expressa que as bibliotecas
infantis são formadas para que as crianças extraiam dos livros exemplos morais que
servirão de lição, diz então: “...assim, a tediosa moral convencional e as falsas lições se
transformam no estilo essencial da insincera literatura infantil” (p.225).
O adulto supõe que o sentimento sério não seja acessível para a criança, e muitas
vezes diz Vigostki (2003) adoça os acontecimentos e heróis, substituindo o sentimento pela
pieguice e a emoção pelo sentimentalismo. Tendo-se então como resultado que a literatura
infantil geralmente é um brilhante exemplo de falta de gosto, de alteração do estilo artístico
e da mais “desoladora incompreensão do psiquismo infantil” (p.226).
O texto de Vigostki, embora seja elaborado na década de 20 do século passado, isto
é há quase cem anos, parece ter uma atualidade enorme, pois percebe-se ainda hoje nas
escolas que muito da literatura trabalhada tem um conteúdo moral e muitos dos textos
apresentados à criança são suavizados.
Um exemplo que Vigostki (2003) traz é o da fábula „A cigarra e a formiga‟, onde a
simpatia das crianças foi provocada pela despreocupada e poética cigarra que cantava
durante todo o verão, e a responsável e tediosa formiga lhes parecer odiosa, na opinião
delas, toda a fábula apontava para a obtusa e arrogante avareza da formiga.
A leitura de Vigostki não é a leitura psicanalítica, mas se tomarmos esse exemplo,
pode-se pensar a fabula dentro de um processo de conflitos entre o principio de prazer e o
principio de realidade, onde a cigarra busca o prazer e canta e diverte-se.
Os contos de fadas, como projeção de fantasias inconscientes, diz Radino (2001), ao
mesmo tempo em que ajudam a elaborar conflitos inerentes ao processo de
desenvolvimento e socialização, constroem um sistema simbólico e metafórico, podendo
ser considerado um poderoso instrumento pedagógico. No dia a dia da sala de aula
constatou-se que “são pouco utilizados e, quando o são servem como subsídios para
atividades pedagógicas e são transformados em pretexto para tarefas escolares, perdendo a
função lúdica e estética”(p.73).
Radino (2001) diz que em sua função alfabetizadora, “a escola valoriza a escrita de
tal maneira que menospreza a função da oralidade na formação da subjetividade” (p.74). A
construção da subjetividade e do imaginário é a construção do sujeito, afinal o sujeito
humano só torna-se sujeito pela entrada na linguagem, e o ato da palavra funciona como um
duplo espelho, reflexo do que somos e do que dizemos. Metamorfoses revelam-se não
apenas nos personagens das estórias mas também naqueles que escutam e naqueles que
narram o conto.
Para a psicanálise o inconsciente é o grande determinante da maioria dos
comportamentos. Bettelheim (2007) diz que para dominar os problemas psicológicos do
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crescimento a criança necessita entender o que esta acontecendo dentro de seu inconsciente.
Assim para superar decepções narcísicas, dilemas edípicos, rivalidades fraternas, ser capaz
de abandonar dependências infantis; obter um sentimento de individualidade e
autovalorização a criança utiliza as narrativas dos contos infantis como um grande auxiliar.
A forma e estrutura dos contos de fadas sugerem imagens à criança com as quais elas
podem estruturar seus devaneios e com eles dar uma melhor direção à sua vida.
As figuras nos contos de fadas não são boas ou más (não são ambivalentes) ao
mesmo tempo, como somos todos na realidade, diz Bettelheim (2007). Nos contos de fadas
uma pessoa é boa ou má, sem meio-termo; um irmão é tolo, outro é esperto; uma irmã é
boa, virtuosa e trabalhadora, as outras são vis e preguiçosas, um dos pais é bondoso, outro é
todo maldade, o que leva a criança a fazer opções sobre quem quer ser, esta decisão básica
sobre a qual todo desenvolvimento ulterior da personalidade se construirá, é grandemente
facilitada pelas polarizações nos contos de fadas.
Bettelheim (2007) diz que enquanto diverte a criança, o conto de fadas a esclarece
sobre si mesma e favorece o desenvolvimento de sua personalidade. Oferece significado em
tantos níveis diferentes enriquecendo a existência das crianças. As crianças se identificam
com algum dos personagens, em outros projetam suas angustias e medos, tendo também os
contos de fadas o papel de ajudá-las a elaborar situações conflitivas.
Uma questão interessante a ser observada na relação do adulto com as crianças
pequenas quando se conta uma estória é a busca da criança pela repetição da estória. O que
remete à questão da repetição inconsciente, pois segundo a psicanálise o sujeito humano
vive continuamente dentro de um processo repetitivo de situações que ocorreram no inicio
de sua vida. Ao contar-se uma estória que a criança goste, a mesma irá pedir que se repita a
mesma estória até o momento em que a situação interna que a estória ajudava a trabalhar
esteja elaborada.
Se a psicanálise estiver certa em diferenciar as fases da sexualidade infantil, diz
Chauí (1998), pode-se observar que a repressão atua nos contos seguindo essas diferentes
fases: as crianças são punidas se muito gulosas (fase oral), se perdulárias ou avarentas (fase
anal), se muito curiosas (fase fálica ou genital). Os contos também operam com a divisão
estabelecida por Freud (APUD: Chauí, 1998) entre o principio de prazer (excesso de gula,
de avareza ou desperdício, de curiosidade) e o principio de realidade (aprender a postergar
o prazer, a discriminar condutas e afetos e a moderar os impulsos). Impulsos esses que
remetem ao sexual e agressivo.
Chauí (1998) divide os contos em duas grandes vertentes: aqueles que asseguram à
criança o retorno à casa e ao amor dos familiares, depois de aventuras em que se perdeu
tanto por necessidade quanto pos desobediência, e aqueles que lhe asseguram que é
chegada a hora de partir, que isso é desejável, bom e definitivo.
Alves e Emmel (2008) ao trabalharem com técnicas de contação de estórias com 03
(três) crianças vitimizadas observaram que pôde-se perceber que a narrativa das estórias
infantis durante as sessões operou como um eco, produzindo ações que expressam uma
realidade interna e uma realidade externa (como a punição física). Os autores dizem que “é
possível que o conto enquanto uma metáfora tenha oferecido um distanciamento seguro que
possibilitou à criança chegar até seus conflitos sem que se sentisse ameaçada, o que sugere
seu potencial terapêutico” (p. 97).
Para Vieira (2005) os contos de fadas são narrativas extremamente simples,
simbólicas e primitivas, com capacidade de transmitir experiências subjetivas complexas e
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vivências emocionais delicadas às crianças e pessoas mais ingênuas. Os contos de fadas


tratam de relacionamentos humanos primitivos e por isso exprimem sentimentos arcaicos
do psiquismo humano. Embora arcaicos, não deixam de ser atuais, talvez até extremamente
atraentes e instigadores porque mostram o que se evita manifestar em nossas sociedades
contemporâneas: a raiva, a inveja, a mentira por outro lado também o amor, a fidelidade, a
generosidade, estando então embebidos de principio éticos universais. Um fato importante
também é que os contos de fadas falam da busca da totalidade psíquica, da plenitude do ser.
O conto de fadas em geral acontece em torno de um herói ou heroína que apresenta
sua origem: pai, mãe, cultura, terra. O Herói vive sempre dificuldades grandes e chegam a
um momento de impasse em que algo extraordinário precisa acontecer para que exista uma
solução satisfatória. Então entram em ação múltiplos poderes mágicos, naturais ou
sobrenaturais tanto do lado do bem como do mal, inimigos terríveis, companheiros fiéis,
personagens cheios de esperteza, insegurança, coragem, enfim figuras transcendentes como
fadas, anjos, demônios ou dragões. A luta é sempre difícil, mas em geral as narrativas
levam a um final onde se encontra a paz, a harmonia, vencendo o bem. (VIEIRA, 2005).
Ao observarem-se as narrativas da maioria dos contos de fadas que tenham um final
feliz, um fato que pode ser pensado é a “viagem” que todo sujeito deve fazer rumo à
individuação na teoria junguiana. Jung propõe que o ser humano esta imerso no
inconsciente coletivo sendo que as principais estruturas desse inconsciente são os
arquétipos. De acordo com Fadiman e Frager (2002) tais arquétipos são formas sem
conteúdo próprio que servem para organizar ou canalizar o material psicológico. Os
principais arquétipos da personalidade individual são: o ego, a persona, a sombra, a anima
(nos homens) ou animus (na mulher) e o self.
Para que o ser humano chegue à individuação, isto é tornar-se um ser único e
homogêneo, ou „tornar-se si mesmo‟, o sujeito humano deve passar por alguns processos
como o desnudamento da persona (da máscara com que se apresenta à sociedade), em
seguida deve confrontar-se com a sombra (sombra é o arquétipo que contem o núcleo do
material que foi reprimido da consciência e inclui aquelas tendências, desejos, memórias e
experiências que são rejeitadas pelo sujeito), enfrentar então o confronto com anima ou
animus (seu lado masculino ou feminino), chegando então ao desenvolvimento do self – o
si mesmo, que traz unidade à psique e integra o material consciente e inconsciente.
As pessoas que trabalham com educação buscam proporcionar a integração
psicológica, de acordo com Vieira (2005), sendo os contos de fadas um fator importante
para o desenvolvimento intelectual e emocional das crianças. Se os contos de fadas
proporcionam possibilidades de favorecer essa integração não há como desconsiderá-los,
pois se a criança pode aprender, por meio deles a identificar e a reconhecer nos outros e em
si mesma, pensamentos ou sentimentos que ajudam ou atrapalham seu relacionamento com
os outros e consigo própria, se aprende a conviver com naturalidade com fortes elementos
do inconsciente da humanidade, os profissionais de educação estarão lhe oferecendo
melhores condições para crescer e amadurecer através da narrativa e da reflexão dos contos
de fadas.
Nestes tempos de pós-modernidade, onde tudo acontece com rapidez enorme e a
escola e pais competem com várias mídias como Tv, DVD, Jogos eletrônicos (Games),
Internet, um retorno ao ensino através da oralidade dos contos de fadas pode ser
providencial para a elaboração de conflitos inerentes às crianças, a seus pais e a seus
professores.
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Referências:
ALVES, Heliana Castro & EMMEL, Maria Luisa G. Abordagem bioecológica e narrativas
orais; Um estudo com crianças vitimizadas. Paidéia, v. 18, n. 39, 2008.
BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
2007.
CHAUÍ, Marilena. Repressão sexual essa nossa (des)conhecida.12 ed. São Paulo:
Brasiliense, 1998.
FADIMAN, J. & FRAGER, R. Teorias da personalidade. São Paulo: Harbra, 2002.
RADINO, Gloria. Oralidade, um estado de escritura. Psicologia em estudo, v. 6, n.2, 2001.
VIEIRA, Isabel Maria de Carvalho. O papel dos contos de fadas na construção do
imaginário infantil. In: Revista criança – do professor de educação infantil, v. 38, p. 10,
2005.
VIGOSTSKI, Liev Semionovich. Psicologia pedagógica. Porto alegre: Artmed, 2003.

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