Вы находитесь на странице: 1из 2

2

CONTEÚDO

PROF. ASSAID
01 SOCIEDADE TUPI-GUARANI
A Certeza de Vencer EG120208

De forma geral, as informações passadas pelos cronistas di-


QUEM ERAM OS ÍNDIOS zem respeito quase sempre aos tupis e quase nunca a outras
Fale conosco www.portalimpacto.com.br

tribos. E é exatamente essa falta de informação que levou diver-


Sabe-se que a América já era habitada há cerca de 10 à 13 sas pessoas, de pintores a escritores, a atribuir hábitos tupis a
mil de anos. Existem indícios, como fogueiras pré-históricas1, tribos não-tupis, como a antropofagia, por exemplo.
que especialistas acreditam remontar à cerca de 40 mil anos,
mas esta datação ainda não é muito aceita. De qualquer manei-
ra, é certo que a cultura indígena já se desenvolvia por aqui mi-
lhares de anos antes de Cabral chegar com a sua esquadra.
A ocupação populacional ocorria em toda a extensão do atu-
al território brasileiro. Por volta de 700-900 a.C., o litoral brasilei-
ro era habitado por diversos grupos indígenas. Daí em diante, as
migrações tupi-guaranis levaram à expulsão desses grupos para
o sertão. Alguns deles ainda permaneceram no litoral, como os
charruas, no Rio Grande do Sul, os aimorés (botocudos), na Ba-
hia e os tremembés, entre o litoral do Ceará e o Maranhão. Es-
ses grupos, juntamente com os que foram expulsos para o ser-
tão, ficaram genericamente conhecidos como “tapuias”. A per-
manência dessas nações “tapuias” no litoral era uma exceção,
pois do estuário do Amazonas até o Rio Grande do Sul predo-
minou a presença dos tupi-guaranis, que era um conjunto de
nações que falavam a língua tupi, que foi aprendida com certa
facilidade pelos portugueses.

ÍNDIOS E ÍNDIOS
Não levou muito tempo para os portugueses perceberem que
havia diferenças entre os vários índios que habitavam o litoral.
Cronistas, como Fernão Cardim, por exemplo, observou que a
maioria dos tapuias usava o tacape como arma, em vez do arco
e fecha, além de não conhecerem a agricultura e não praticarem UMA SOCIEDADE GUERREIRA
a antropofagia, embora fossem muito hábeis em táticas de lutas
e emboscadas. Quando da chegada dos portugueses, as tribos tinham rela-
Voltemos ao assunto da língua. Você já percebeu que muita ções diversificadas umas com as outras. Entretanto, um aspecto
gente pensa que todos os índios do Brasil falam o tupi? Essa i- chamou a atenção e intrigou os lusitanos: os índios viviam em
déia, ou como diz o antropólogo Júlio Cezar Melatti, essa “su- constante estado de guerra. Conflitos entre tribos de etnias di-
pervalorização da língua e dos índios Tupi diante dos demais in- ferentes ou até entre etnias próximas ou aparentadas eram
dígenas do Brasil”, remonta ao tempo que os primeiros portu- constantes. Essa situação, para o europeu, era difícil de enten-
gueses, ao chegarem, depararem com o litoral quase todo ocu- der. Américo Vespúcio, por exemplo, se perguntava por que os
pado por tribos que falavam o tupi. Daí que ela foi a primeira lín- índios lutavam se eles não tinham propriedades, nem reinos ou
gua aprendida por navegadores, aventureiros, colonizadores e senhores para defender?
missionários. E isso levou a uma visão preconceituosa com as
nações chamadas tapuias, pois como falavam línguas que os Por que a Guerra?
portugueses não compreendiam, acabaram sendo chamados de
povos de “língua travada”. A verdade é que ainda hoje não está completamente escla-
Os missionários não apenas aprenderam muito bem o tupi, recida a razão das guerras indígenas. Várias hipóteses foram
como chegaram a elaborar uma gramática. Curioso, para não levantadas, desde a pilhagem até a vingança. Alguns cronistas
dizer trágico, é que como esses religiosos só conheciam essa da época consideravam que elas ocorriam por vingança. André
2
“língua geral” , era ela que servia de meio de comunicação Thevet, por exemplo, afirma que “todas as suas guerras não se
3
mesmo com tribos que falavam outras línguas. Ou seja, a “lín- devem senão a um absurdo e gratuito sentimento de vingança” .
gua geral” acabava sendo imposta, daí que várias tribos indíge- Alguns estudiosos chegaram a concordar com Thevet, conside-
nas acabaram aprendendo o tupi...com os jesuítas. rando que a vingança pelos antepassados mortos era uma for-
Importante ressaltar é que a classificação dos indígenas do ma de integrá-los ao mundo dos vivos.
Brasil em tupis e tapuias foi feita pelos portugueses. Certamente Ora, é interessante observar que nações indígenas iam a
que esse não é o ponto de vista dos próprios índios ou de como busca de novos territórios, provavelmente porque o território an-
eles entendiam suas diferenças. Entretanto, por mais paradoxal tigo sofria ameaça de esgotamento de recursos, levando a tribo
que pareça, essa distinção em dois grandes grupos foi assimila- ao risco da fome. Esse deslocamento poderia resultar na expul-
da pelos portugueses a partir do “preconceito” que os tupis ti- são de outras nações indígenas da área conquistada. É o que
nham em relação às nações não-tupis, justamente aquelas pode ter ocorrido quando os tupis-guaranis desalojaram os “ta-
VESTIBULAR – 2009

chamadas de tapuias. Na verdade, os tapuias eram formados puias” e os empurraram para o interior. Porém, observe que es-
por diversas tribos, completamente diferentes umas das outras. se expansionismo não resultou em submissão e nem na destrui-
ção dos derrotados. que não foram transformados em escravos
1 e nem submetidos a quaisquer tipos de trabalhos forçados. Além
Foram encontradas na serra da Capivara, no Piauí disso, a conquista não resultava em mudanças nas estruturas
2
o tupi original foi, ao longo do tempo, “enriquecido” com outros ter-
mos e neologismos, e até mesmo regras, dando origem ao uma língua
3
que ficou conhecida como “língua geral”. André Thevet esteve por aqui entre 1555 e 1556.
FAÇO IMPACTO - A CERTEZA DE VENCER!!!
Fale conosco www.portalimpacto.com.br

sociais. No caso dos tupis e tapuias, por exemplo, observa-se Nesse sentido, esquartejar e depois devorar o guerreiro sig-
que eles continuaram vivendo em uma sociedade igualitária e nificava que ele não fora abandonado para ser comido por bi-
guerreira. chos ou deixado apodrecer pelo tempo. Os inimigos que o devo-
Veja, a sociedade indígena é igualitária na sua essência e na ravam reconheciam nele o valor sublime do guerreiro. Fernão
compreensão de si mesma. Assim, a submissão do inimigo à Cardim conta que testemunhou um índio afirmar que preferia ser
escravidão, por exemplo, comprometeria esse igualitarismo. Do devorado pelos seus inimigos a ser “comido pelos bichos”.
mesmo modo, a exterminação dos inimigos não faz sentido den-
tro da lógica da guerra indígena, pois a falta de inimigos, caso Trabalho e Tempo Livre
fossem eliminados, faz do guerreiro um sujeito sem função, visto
que não teriam a quem combater. É lógico que isso não quer di- O navegador Américo Vespúcio esteve em uma aldeia indí-
zer que não havia mortes nos conflitos. Havia, e brutais. Mas gena e escreveu o seguinte:
esse não era o objetivo final da guerra O historiador Luiz Koshi-
ba diz que “a guerra indígena não poderia redundar na completa “Em cada casa destas (as malocas) vivem todos muito con-
aniquilação do inimigo, pois, como guerreiros, os índios só podi- formes, sem haver nunca entre eles nenhumas diferenças: antes
am existir uns contra os outros.”4 são tão amigos uns dos outros, que o que é de um é de todos, e
Quem decidia a guerra era um conselho formado por anciãos sempre e qualquer coisa que coma, por pequena que seja, to-
e pelos guerreiros mais valentes. Para que os homens se entu- dos os circunstantes hão de participar dela.”
siasmassem com a guerra, um chefe escolhido pelo conselho
conclamava durante horas as glórias dos antepassados. Quan-
do partiam para a guerra, a preocupação não era buscar rique-
zas, como já se viu, mas conseguir o maior número de prisionei-
ros.

Os Prisioneiros e a Antropofagia
O guerreiro que fosse capturado era levado amarrado para a
aldeia. Ao percorrer a aldeia era ameaçado e insultado. Depois
ele era colocado, segundo Gandavo, “numa casa, e junto da es-
tância daquele que o cativou lhe armam uma rede”. Aí param as
ofensas.
A decisão se o cativo seria sacrificado, trocado ou doado po-
deria durar mais de um ano. Enquanto isso deveria ser bem tra-
tado, podendo até receber uma bela companheira. Nesse tem-
po, seria alimentado e engordado.
Decidida a execução, aldeias vizinhas eram convidadas para
a festa, onde seria servido o cauim, bebida fermentada feita de
mandioca ou milho cozido. Nos dias que antecediam a execu-
ção, anfitriões e convidados bebiam e dançavam.
Escolhia-se, então, o executor, que era todo pintado e enfei-
tado, assim como o prisioneiro, que era levado para o centro da
aldeia e amarrado por duas cordas pela cintura. mas com mãos
Momento festivo da cerimônia de execução do prisionei-
e pés livres, para poder arremessar pedras e outros objetos em
ro (Gravura de Théodore de Bry)
seus algozes. Era uma maneira de demonstração do valor do
guerreiro e do destemor da própria morte. O cativo então era
A quase inexistência de bens privados entre os índios im-
semi-imobilizado e sacrificado com um golpe de tacape na ca-
pressionou os europeus. Apenas suas armas e enfeites eram
beça.
bens pessoais, todo o resto era partilhado, especialmente os
Tudo era aproveitado. O corpo, depois de esquartejado, era
produtos da caça, pesca e coleta. O fato de possuírem poucos
dividido entre os participantes. Os pedaços eram colocados nu-
bens facilitava os deslocamentos, quando as comunidades pre-
ma espécie de girau e moqueados. O miolo, as tripas e a gordu-
cisavam encontrar lugares melhores para viver.
ra eram para fazer uma espécie de mingau, servido para velhas
Mesmo vivendo basicamente da coleta (caça, pesca, etc.),
e crianças. Gandavo diz que “todos comem carne humana dos
os tupis-guaranis plantavam mandioca, além de milho, cará e
inimigos e tem-na pela melhor iguaria de quantas pode haver.”
batata-doce. Também cultivavam abacaxi,,algodão e tabaco.
A execução deve ser compreendida como um ritual guerreiro
Mas nunca formavam estoques além de suas necessidades.
ou, pelo menos, como perpetuador do espírito guerreiro. Ali não
As tarefas eram divididas por sexo. Aos homens cabia caçar,
é sacrificado um simples prisioneiro, mas um valoroso guerreiro.
pescar, cortar lenha, construir canoas e cabanas, além de limpar
Daí que, na cerimônia, ele é provocado, para que demonstre
o terreno para a lavoura, mas, principalmente, a função guerrei-
seu valor. A reação do cativo, através de atitudes de arrogância,
ra. As mulheres, por sua vez, plantavam, colhiam, preparavam a
como lembrar que matou e comeu vários parentes de seus exe-
comida, fiavam, teciam, faziam cestos e potes, colhiam frutos e
cutores, era uma atitude de coragem e bravura, como se o espí-
raízes, além de cuidar da casa e das crianças.
rito guerreiro suplantasse a própria morte
As sociedades indígenas são chamadas “sociedades do
tempo livre”, ao contrário das “sociedades do trabalho” européi-
“Contudo, dizer que a guerra reaviva a cada momento a co-
as. Os princípios são diferentes. Os indígenas estranhavam a
ragem do guerreiro é ainda dizer pouco. No essencial, trata-se
obstinação pelo trabalho dos portugueses. Para eles (os índios),
da sempre renovada demonstração de que, enquanto existir o
no máximo cinco horas de trabalho diário eram suficientes para
guerreiro, não haverá medo da morte. E um homem que não
obtenção de alimentos. Os portugueses, por sua vez, acabaram
teme a própria morte é impossível de ser dominado. A morte,
dando origem a uma visão preconceituosa dos indígenas, espe-
VESTIBULAR – 2009

para o guerreiro, será sempre preferível a qualquer forma de


cialmente dos homens, não apenas porque desempenhavam
servidão. Eis porque a guerra e o guerreiro tornam-se a chave
5 funções, digamos, mais leves que as das mulheres, mas tam-
da reprodução ‘indivisa’, assegurando a igualdade”
bém porque não se alinhavam com a rigidez disciplinar que os
portugueses queriam lhes impor. Na realidade, os europeus não
4 conseguiam compreender a natureza da sociedade indígena.
KOSHIBA, Luiz. O Índio e a Conquista Portuguesa.
5
KOSHIBA, Luiz. Op. Cit.
FAÇO IMPACTO – A CERTEZA DE VENCER!!!

Вам также может понравиться