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23-36, 1997
O Plato de Nietzsche
O Nietzsche de Plato
ser um morto, para contemplar, com a alma nua, a alma nua de cada um,
prontamente, quando cada um morrer, desnudado de todo parentesco e
depois de ter deixado para trs, sobre a terra, todos aqueles ornamentos,
para que seja julgado (523-4). Tal julgamento, pelo qual se dar cum-
primento ordenao moral do curso do mundo, ser proferido sobre o
relvado onde duas sendas se bifurcam em fatal encruzilhada: um dos
caminhos conduz ilha dos bem-aventurados, o outro ao Trtaro (cf.
ibidem).
Trata-se aqui, sempre ainda, de um juzo final, de recompensa e
de punio, de tribunal e de carrasco. Aqui seria indispensvel ouvir,
ainda uma vez, a palavra radicalmente anti-platnica de Zaratustra: No
me agrada vossa justia fria; e de dentro dos olhos de vossos juizes
olham-me sempre o carrasco e seu ferro frio. (Za/ZA I Da mordida da
serpente). Eis, ento, enunciado o estrato mais fundamental do projeto
de reverso do platonismo: no o retorno puro e simples ao ideal grego
pr-socrtico, nem a simples retomada da retrica e da sofstica, contra
Scrates e Plato, mas a superao da perspectiva da vingana, do juzo
e do carrasco.
Abstract: The aim of this article is to compare certain rhetorical devices in Plato
and Nietzsche, in order to clarirify central aspects of Nietzsches project of invert-
ing Platonism.
Key-words: Ethics metaphysics sophistry perspectivism inversion of
platonism
36 Giacaia Jr., O., cadernos Nietzsche 3, p. 23-36, 1997
Referncias Bibliogrficas