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REVISTAINSPIRAR

Volume 1 • Número 3 • novembro/dezembro de 2009

Revista Eletrônica Inspirar [recurso eletrônico] - Curitiba:


R454 Centro de Estudos, Pesquisa e Extensão em Saúde,
2009-

Bimestral, v. 1, n. 3, nov/dez 2009-


ISSN 2175-537X
Modo de acesso: www.inspirar.com.br

1. Saúde - Periódicos.
CDD 610
CDU 614

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Volume 1 • Número 3 • novembro/dezembro de 2009

A REVISTA
A Revista Eletrônica da Inspirar é um periódico de acesso aberto, gratuito e bimestral,
destinado à divulgação arbitrada da produção científica na área de Ciências da
Saúde, de autores brasileiros e de outros, contribuindo, desta forma, para o cresci-
mento e desenvolvimento da produção científica.

MISSÃO
Publicação de artigos científicos que contribuam para a expansão do conhecimento
da área da saúde, baseados em princípios éticos.

OBJETIVO
Propiciar meios de socialização do conhecimento construído, tendo em vista o es-
timulo à investigação científica e ao debate acadêmico.

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CONSELHO EDITORIAL
Prof. Dr. Alfredo Florencio Cuello - ARG
Prof. Alonso Romero Fuentes Filho - SC
Prof. MSc. Álvaro Luiz Perseke Wolff - PR
Prof. MSc. Antônio Carlos Magalhães Duarte - BA
Prof. MSc. César Antônio Luchesa – PR
Profa. MSc. Cynthia M. Zilli - PR
Profa. Denise Dias Xavier - PR
Profa. MSc. Elisiê Rossi Ribeiro Costa - PR
Prof. Francimar Ferrari - PE
Prof. Dr. Gustavo Alfredo Cuello - ARG
Prof. MSc. José Roberto Prado Junior - RJ
Prof. MSc. Manoel Luiz de Cerqueira Neto - SE
Prof. MSc. Marcelo Zager - SC
Prof. Dr. Marcos Antonio Tedeschi - PR
Profa. Maria Ayrtes Ximenes Ponte da Silveira - CE
Profa. Dra. Silvia Valderramas - BA
Profa. MSc. Telma Cristina Fontes Cerqueira - SE

EDITORES
Prof. Dr. Esperidião Elias Aquim - PR
Prof. MSc. Marcelo Márcio Xavier - PR

COORDENAÇÃO EDITORIAL
Profa. MSc. Elisiê Ribeiro Costa - revistacientifica@inspirar.com.br

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA
Marcos Leandro Cachinski - marketing@inspirar.com.br

ATENDIMENTO
Mariane Mansur Garbuio - contato@inspirar.com.br

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Profa. MSc. Elisiê Ribeiro Costa
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SUMÁRIO
EDITORIAL ......................................................................................................................... 6

Atuação Fisioterapêutica na Manifestações Climatéricas Decorrentes


do Hipoestrogenismo ............................................................................................................ 7
Application Physiotherapy in Decurrent Manifestations Climaterics of the Hypoestrogenism
Ana Cristina da Nóbrega Marinho Torres Leite, Jannayna Lima Fernandes

Equoterapia: Tratamento Especializado para Pacientes com Lesão Medular ..................... 12


Riding Therapy: Especial Treatment for Patientes with Spinal Injures
Jerusa Colombaroli de Souza

Bioética na Saúde Pública e na Produção de Alimentos Funcionais e Medicamentos ....... 17


Bioethics in the Public Health and in Manipulation of Food and Medicines
Patricia Nancy Iser bem, Simon Skarabone Rodrigues Chiacchio, Paulo Celso Pardi, Renata Gorjão

Prevalência dos Fatores de Risco para Incontinênia Urinária de Esforço entre as


Funcionárias do Centro Universitário do Pará .................................................................... 22
Prevalence of Risk Factors for Urinary Incontinence between the employees of the Center of the
University Pará
Fabiana Valente do Couto Sousa, Kerolaynne Hestefany Barbosa da Silva, Larissa Pompeu e Silva,
Tereza Cristina dos Reis Ferreira, Denise da Silva Pinto

Avaliação e Intervenção Fisioterapêutica em um Posto de Trabalho .................................. 26


Physioterapy Assesssment and Intervention in a Porker Position
Aline Martinelli Piccinini, Pâmela Bilig Mello , Andressa Silva, Daiane Müller Bem, Letícia Marangon,
Natalí Schwanke, Luís Ulisses Signori

Influência do Treinamento de Força Muscular na Flexibilidade de Alunos de uma


Academia de Ginástica de Muriaé-MG ............................................................................... 29
Influence of Strength Training on Muscle Flexibility of Students of a Gymnasium for Muriaé-MG
Pedro Henrique Silva, Natanael Teixeira Alves de Souza, Valdinei Muniz, Diego Scalla Gonçalves Dutra

Análise da Capacitade Funcional do Paciente Geriátrico Institucionalizado por


Meio da Escala de Barthel ................................................................................................... 32
Analysis of the Functional Capacity of the Elderly Patients Institutionalized they had used it
Barthel’s Scale
Jurailton Calixto da Silva, Joyce Maria Alves, Samantha Christina Souza Lisboa

Ginástica Laboral no Setor de Informática: Abordagem Fisioterapêutica .......................... 36


Gymnastics Labor in the Information Techology Sector: Approach Physiotherapeutic
Fernanda Aparecida de Ornelas, Daniela Costa Censoni Guerra, Paola de Paula Zacharias,
Taciana Juan D’Aprile

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Cirurgias Suspensas: as conseqüências para o Paciente ..................................................... 45


Surgeries Suspended: the consequences for the Patient
Elaine Bione Lima Afonso, Elaine Rossi Ribeiro

A Psicologia Judiciária e o Direito ...................................................................................... 50


The Psychology of the Judiciary and the Law
Berenice dos Santos Morozowski, Roberto L. L. de Moura

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EDITORIAL
Às portas do final do ano de 2009, entregamos mais uma edição da Revista
Inspirar.
Consolida-se como uma iniciativa da mais alta relevância científica, pois
tem recebido um número crescente de material para publicação, o que revela o
interesse da sociedade de modo geral e da comunidade científica, em particular,
pela divulgação e socialização do conhecimento produzido.
O monitoramento diário dos acessos eletrônicos possibilita afirmar que a re-
vista configura-se como um importante instrumento de publicização do saber. Sa-
ber este, de grande diversidade temática, característica típica da prática
interdisciplinar na Saúde.
Voltaremos com nova edição no mês de Janeiro de 2010, certamente subsidi-
ados por mais assuntos inovadores, buscando sempre o aprimoramento profissio-
nal de pesquisadores, alunos, orientadores e outros. Ganha a sociedade científica.
Avança a Revista Inspirar!

Prof. Dr. Esperidião Elias Aquim - PR


Prof. MSc. Marcelo Márcio Xavier - PR

ERRATA!
O nome correto de um dos autores do artigo “Redução do Edema em Membros
Inferiores através da Drenagem Linfática Manual: Um Estudo de Caso.”, do
Volume I número 2 - Agosto/Setembro de 2009 da Revista Inspirar, é PATRI-
CIA VIANA DA ROSA.

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Atuação Fisioterapêutica na Manifestações Climatéricas


Decorrentes do Hipoestrogenismo
Application Physiotherapy in Decurrent Manifestations Climaterics of the
Hypoestrogenism
Ana Cristina da Nóbrega Marinho Torres Leite1, Jannayna Lima Fernandes2

Resumo Abstract
O climatério, frequentemente chamado de menopausa, é The climateric, frequent menopause call, is the period of
o período da vida da mulher no qual a função ovariana diminui the life of the woman in which the ovarian function diminishes
gradualmente e finalmente cessa. O aumento notável da expec- gradually and finally it ceases. The increase notable of the life
tativa de vida em nosso país, que no caso das mulheres é de 72 expectancy in our country, that in the case of the women is of
anos, condicionou que um terço de suas vidas ocorra durante a 72 years, conditioned that one part of its lives occurs mainly
etapa do climatério e principalmente na pós-menopausa. Este during the stage of the climateric and in the after-menopause.
estudo teve como objetivo mostrar, por meio da literatura, a This study it had as objective to show, by means of literature,
importância do tratamento fisioterapêutico nas manifestações the importance of the phisio therapy treatment in the decurrent
climatéricas decorrentes do hipoestrogenismo. Observou-se que climateric manifestations of the hypoestrogenism. It was
a atuação do profissional fisioterapeuta contribui bastante na observed that the application of the professional physiotherapist
melhora de qualidade de vida das climatéricas, uma vez que contributes sufficiently in the improvement of quality of life of
este conscientiza e prepara a mulher para conviver com todas the climateric, a time that this acquires knowledge and prepa-
essas alterações orgânicas, proporcionando assim o alívio ou res the woman to coexist all these organic alterations, thus
resolução das manifestações advindas desta fase. providing to the relief or resolution of the happened
manifestations of this phase.
Palavras-chave:
Manifestações climatéricas; Fisioterapia; Saúde da Mulher. Key-words:
Climateric manifestations; Physiotherapy; Womens’s Health.

ressecamento vaginal, ganho de peso e diminuição da libido,


Introdução entre outros. Com o tempo, também começam a perder, com
Segundo a Sociedade Brasileira do Climatério (2006), o maior rapidez, o cálcio dos ossos, além de se tornarem mais
termo menopausa refere-se à última menstruação que se apre- sujeitas a doenças do coração e doenças degenerativas do siste-
senta pela diminuição da função ovariana com redução dramá- ma nervoso, como o Mal de Alzheimer, um tipo de demência
tica da produção de estrogênios. A maioria dos casos ocorre (ATHAYDE, 2006).Antigamente, não havia grande preocupa-
entre os 45 e 55 anos. Na América Latina a média etária na qual ção com esta fase da vida da mulher, pois a maioria morria cedo.
as mulheres experimentam a menopausa é aos 50 anos, similar Hoje, com o aumento da longevidade, as mulheres podem viver
à média mundial, lá existem cerca de 243 milhões de mulheres, muitos anos após a menopausa, tendo que se manterem ativas
das quais estima-se que 37 milhões estão na fase climatérica, como mulher, como mãe e como profissional.Com base nestas
ou seja, em idade entre 45 e 64 anos; cifra que representa 8% da considerações, este estudo teve como objetivo mostrar a atua-
população total. Atualmente, a proporção de mulheres no ção do fisioterapeuta nas manifestações climatéricas decorren-
climatério em países em desenvolvimento oscila entre 5% e 8% tes do hipoestrogenismo.
da população, enquanto que em países desenvolvidos a cifra
aumenta para 15%. No entanto, estima-se que para o ano 2030, Métodos
esta cifra aumentará em países em desenvolvimento para 17%.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), afirma A proposta do trabalho foi de investigar, através de uma
que mais de 13,5 milhões de mulheres se encontram no revisão bibliográfica, a atuação do fisioterapeuta nas manifes-
climatério no Brasil (IBGE, 2000).Climatério, que pode ser tações climatéricas decorrentes do hipoestrogenismo.
acompanhado de sintomas como: ondas de calor (fogachos), O estudo é caracterizado pela revisão de literatura atra-
insônia, depressão, variação de humor, falta de memória, vés de livros e artigos,onde procurou-se pesquisar sobre o

1. Dra. em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Recebido: maio de 2009
Professora do Departamento de Fisioterapia da União de Ensino Superior de Campina Aceito: agosto de 2009
Grande-PB. Autor para correspondência: Ana Cristina da Nóbrega Marinho Torres Leite
E-mail: anacmm@hotmail.com
2. Graduada em Fisioterapia pela União de Ensino Superior de Campina Grande-PB.

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climatério e suas manifestações. Em relação a literatura, teve- mento das estruturas do assoalho pélvico, associado à atrofia
se dificuldade em encontrar livros e artigos que comentem es- genital pós-menopausa (POLDEN;MANTLE, 2000).
pecificamente sobre o tratamento fisioterapêutico direcionado
para os sintomas decorrentes do hipoestrogenismo. Alterações emocionais
Diante da escassa bibliografia encontrada a pesquisa foi
desenvolvida em cima das principais manifestações climatéricas. Ferreira (1999) afirma que as alterações psíquicas são
Desta forma, o trabalho buscou explicitar o tratamento decorrentes da modulação que o estrogênio tem sobre a ativi-
fisioterapêutico utilizado para tais complicações encontradas. dade dos neurotransmissores cerebrais, principalmente a
serotonina que influencia o humor. Assim, teores baixos de
Manifestações Climatéricas estrogênios diminuem a serotonina, levando, muitas vezes, à
depressão.
O climatério é caracterizado por manifestações decor- Para Polden e Mantle (2000) , os baixos níveis de
rentes de disfunções endócrinas, que desencadeiam alterações estrogênios afetam as faculdades mentais das mulheres, bem
podem ser ginecológicas (principalmente as disfunções como os estresses da vida que uma mulher nesta faixa etária (de
urogenitais) e não-ginecológicas (representadas pelos sintomas 40 a 50 anos) costuma passar. Muitas mulheres vivenciam esse
vasomotores, psíquicos e sexuais, alterações atróficas da pele e período de forma assintomática ou com sintomas inexpressivos,
anexos e ainda, distúrbios do metabolismo cardiovascular e entendendo-o como o início de uma nova etapa, ou seja, a de
ósseo (BONDUKI, 2003). amadurecimento existencial que lhes permitirão uma vida com
maior segurança e confiança; outras, porém, vivenciam-no de
Disfunções urogenitais forma negativa e exarcebada, principalmente àquelas que per-
deram seu papel social e não redefiniram seus objetivos exis-
Com a diminuição do estrogênio circulante ocorre uma tenciais.
alteração na tonicidade e no trofismo das fibras musculares De acordo com Schindler (1987), dentre os sintomas mais
pélvicas, levando a atrofia da mucosa uretral produzindo um comumente encontrados no climatério destacam-se as doenças
alargamento da uretra, e conseqüentemente uma menor resis- depressivas,que são consideradas as desordens psiquiátricas
tência ao fluxo. Sendo assim, há uma diminuição do volume da mais prevalentes da metade para a última fase da vida, sendo
musculatura estriada da uretra, pois o hipoestrogenismo reduz que as mulheres são mais vulneráveis do que os homens. A cor-
a irrigação sanguínea nos tecidos urogenitais impedindo a ati- relação entre depressão e climatério ainda é assunto controver-
vidade muscular, sendo substituído o tecido muscular por teci- so; trata-se de questão complexa, pois durante esse período
do conjuntivo determinando uma diminuição na pressão uretral outras inquietudes tornam-se evidentes, tais como o envelheci-
(FONSECA, 2004). mento, a morte dos pais, a saída dos filhos de casa em busca de
Atrofia, inflamação e infecção da vagina podem ter efei- independência e a dificuldade no relacionamento conjugal após
tos secundários na uretra e bexiga, e pode haver atrofia da uretra, muitos anos de vida em comum. Essas intercorrências podem
trígono e ligamentos de apoio conjuntos. A deficiência de provocar uma reavaliação de seus papéis de mãe e mulher, fa-
estrógenos mostrou também resultar em uma redução da turgidez zendo-a deparar-se com questionamentos relacionados a sua
das células que formam a uretra. Esses fatores devem ser leva- existência pregressa e futura.
dos em conta quando as mulheres se queixam de cistite, uretrite,
disúria, freqüência, urgência ou incontinência de estresse du- Sexualidade
rante o climatério (POLDEN;MANTLE, 2000).
Conforme Marinho (1997), nos primeiros 5 a 10 anos após O estado de hipoestrogenismo após a menopausa pode
a menopausa é que o sistema geniturinário sofre alterações, levar a diminuição da lubrificação, da elasticidade e do número
dentre elas, a incontinência urinária é o mais freqüente, sendo de contrações rítimicas da vagina, dificultando a tolerância à
esta patologia considerada como perda involuntária de urina, penetração peniana mais profunda e continuada causadas pelas
objetivamente demonstrável, ocasionando problema social ou alterações anatomofisiológicas e pela sensação de incapacida-
higiênico à mulher”. A incontinência urinária de esforço é a de que este desconforto pode desencadear (HAIDAR et al,
forma mais freqüente, causada quando a pressão vesical excede 2004).
a uretral, na ausência do detrusor. Podendo ocorrer, segundo As mulheres geralmente se queixam de redução do dese-
Bonduki (2003), disúria, polaciúria, noctúria, sensação de es- jo sexual na menopausa, o qual está relacionado à diminuição
vaziamento incompleto e urgência miccional provindos da da testosterona e não à redução estrogênica. Quando decresce a
atrofia urogenital. produção estrogênica na mulher climatérica, a lubrificação va-
Uma mulher no climatério com incontinência urinária, ginal é lenta, em torno de um a cinco minutos, enquanto que na
sofre com o impacto físico, emocional, sexual e social, pois jovem é de quinze a trinta segundos. Há, também, diminuição
tem que lidar constantemente com o receio e o constrangimento das dimensões e da capacidade expansiva da vagina e, se a atrofia
da eliminação involuntária de urina e com o uso constante de vaginal for importante, pode haver dispareunia. Se a mulher
fraldas. Conseqüentemente, isso pode levar a diminuição da tinha prazer sexual antes da menopausa, continuará com ativi-
auto-estima, aumentar a insegurança no convívio com outras dade sexual regular (SOUZA, 2002).
pessoas e receio de participar de atividades físicas e sociais Estes fatores são os responsáveis pela diminuição da libi-
como: caminhadas, aulas de dança, de ginástica, festas e com- do na menopausa que ocorre juntamente com a dispaneuria que
pras. Também o prolapso genital que é considerado como outro é secundária ao ressecamento e atrofia vaginal. Já para Schiff
fator a se destacar pela deficiência de estrogênio e pelo enve- (1989), embora as mulheres idosas mostrem diminuição tanto
lhecimento. Incide, principalmente, em mulheres multíparas e da intensidade quanto na duração da resposta sexual, apesar
idosas com importantes fatores causais, relacionados ao relaxa- disto, estão capacitadas a ter uma relativa vida sexual. Para elas,

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o sexo representa uma importante parte dos anos da menopau- causa de doença na mulher pós-menopausática é a doença
sa. Realmente, parece que quanto mais suas atividades sexuais arterosclerótica, podendo causar doença coronariana isquêmica
são intensas, maior capacidade para uma resposta sexual ou acidente vascular cerebral. Em países desenvolvidos, as do-
satisfatória. enças cardiovasculares (principalmente isquemia do miocárdio)
Conforme Freitas et al (2004), as alterações sexuais são representam a primeira causa de mortalidade masculina e a se-
conseqüências do estilo de vida da mulher, de seus relaciona- gunda entre o sexo feminino (FREITAS;SILVA; SILVA, 2004).
mentos, do amadurecimento sexual e afetivo, podendo enfren-
tar o climatério e a menopausa sem temores ou sentimentos Pele e anexos cutâneos
negativos de forma consciente e segura, onde deve-se levar em
conta as alterações de interesse sexual e orgasmo, além do des- Com relação as alterações da pele e anexos cutâneos ,
conforto durante a relação sexual, podem estar relacionadas ao Guyton e Hall (2002) afirmam que os estrogênios atuam na sua
estado de hipoestrogenismo e as alterações dos níveis de textura, deixando-a mais lisa e macia e atuam no conteúdo de
testosterona, caracterizando assim os transtornos sexuais. colágeno da pele; com a redução estrogênica, reduzindo tam-
bém colágeno, resultará numa pele mais delgada e menos elás-
Doenças cardiovasculares tica além de que os receptores de estrogênios foram encontra-
dos nas glândulas sebáceas, o que pode ser responsável pela
Bonduki (2003), afirma que em decorrência do sua secura.
hipoestrogenismo a mulher climatérica apresenta redução na Flores (2002) esclarece que além das alterações já men-
luz do vaso como conseqüência da formação da placa de cionadas, há estreitamento das arteríolas cutâneas, interferindo
arteroma que ocorre devido as alterações do metabolismo dos com a nutrição tissular e com o metabolismo do tecido conjun-
lipídios, lipoproteínas, carboidratos, insulina, do sistema tivo elástico dos vasos, do tecido adiposo e músculos. Assim, o
homeostático, obesidade e da pressão arterial. Também a coxim cutâneo dissolve-se e a pele perde o apoio aparecendo
climatérica poderá apresentar alteração na vasoatividade arte- rugas e sulcos em todas as direções: horizontais no nariz; pre-
rial (vasoespasmo) decorrentes de modificações no bloqueio gas nas pálpebras e canto externo dos olhos, de onde se espa-
dos canais de cálcio, alterações nos peptídeos vasomotores, nas lham rugas oblíquas verticais na glabela, no lábio superior e na
prostaglandinas, no metabolismo do tecido conjuntivo, além da frente da orelha, além de uma ruga oblíqua importante no sulco
ausência da ação direta do estrogênio sobre os receptores do nasolabial.
endotélio. Assim, tanto a redução da luz do vaso como altera- Com a idade, há uma progressiva redução do número de
ções na vasoatividade arterial irão determinar redução do fluxo melanócitos dopa-positivos da pele com conseqüente formação
sanguíneo tecidual. de manchas hipocrômicas. Há também formação de sardas (pe-
O estrogênio endógeno aparentemente exerce um efeito quenas manchas pigmentadas, castanhas) que surgem no rosto
protetivo no sistema vascular. Dados da American Heart e no corpo de certas pessoas, sobretudo nas de pele muito clara,
Association (2005) indicam que a prevalência de problemas devido ao aumento da deposição de melanina. Surgem também
cardiovasculares em homens com idade variando entre 45 e 64 melanoses (pigmentos pretos pelo depósito abundante de
anos é superior a de mulheres na mesma faixa etária. Após a melanina). Estas alterações ocorrem em 50% dos indivíduos
menopausa, observa-se que a prevalência entre os sexos é bas- acima de 45 anos, devido à hiperplasia localizada de melanócitos
tante similar, chegando a ser superior entre mulheres em idades da junção dermoepidérrnica ((POLDEN;MANTLE, 2000).
mais avançadas, 95% das complicações cardiovasculares sur- As alterações mais freqüentemente observadas nos cabe-
gem nas mulheres que já atingiram a menopausa . los, no climatério, são o embranquecimento e a queda. O
O estrogênio exerce efeito vasodilatador sobre o sistema embranquecimento inicia-se nas têmporas, em faixa etária que
cardiovascular, além de promover maior rendimento cardíaco, depende de raça e hereditariedade, disseminando-se, gradual-
diminuição da resistência vascular e maior fluxo mente, pelo couro cabeludo. O cabelo branco, por si só, não
cerebrovascular. O mecanismo exato da ação estrogênica so- pode ser considerado como uma expressão de pré-senescência,
bre os vasos ainda é desconhecido, acredita-se que este hormônio podendo estar presente até em indivíduos de pouca idade. A
possa estar relacionado com a síntese do óxido nítrico e de queda de cabelo se processa de maneira difusa, há uma mudan-
prostaglandinas vasodilatadoras pelo endotélio, além de atua- ça gradual na espessura dos cabelos do occipto para o ápice.
rem sobre os canais de cálcio nas células musculares lisas da Geralmente, essa diminuição de cabelos é imperceptível cos-
parede vascular (TOSTES et al, 2003). meticamente, mas torna-se evidente na senilidade (SOUZA,
Até o período da menopausa, as mulheres se beneficiam 2002).
de uma relativa “imunidade” a tais patologias em relação aos
homens. Após a menopausa, ocorrem modificações metabóli- Fogachos Vasomotores
cas e, em geral, há aumento da pressão arterial, intensificando a
arterogenicidade . A mulher antes da menopausa apresenta ní- No que se refere às ondas de calor e suores noturnos
veis pressóricos menores do que os homens de mesma idade, Polden e Mantle (2000) deixam claro que estes ocorrem de re-
porém, após a menopausa, os níveis de pressão sistólica e pente, em geral na parte superior do tórax, pescoço e rosto, em
diastólica feminina ultrapassam os dos homens de mesma faixa geral sem motivo embora às vezes, sejam desencadeados por
etária, portanto, o hipoestrogenismo do período pós-menopau- uma situação estressante, uma bebida quente ou alimento muito
sa causa tendência ao aumento de pressão sangüínea e, condimentado e quente. Podem haver palpitações, com taxa de
consequentemente, aumenta o risco de doença cardiovascular ( pulsação elevada. As mulheres podem despertar à noite banha-
MARINHO, 1997). das em suor. Esses sintomas parecem relacionados com baixos
Sob este aspecto é importante ressaltar que a principal teores de estrógenos no sangue, e podem também ser devido a
elevações temporárias de FSH e LH.

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Schiff (1989) relata que esses sintomas são incontestá- estrógeno, e pelo efeito estressante do maior peso no esqueleto.
veis e proeminentes nesse período da mulher; cerca de 60 a
70% delas apresentam de forma irregular e sem ritmo, perdu- Alterações na gordura corporal
rando por um ou dois anos e gradativamente desaparecem, em-
bora cerca de 25% podem permanecer por mais de cinco O estrogênio promove e mantém a distribuição ginecóide
anos.Caracteriza-se por uma hiperemia de face e elevação da da gordura corporal no período pós-puberal. Com a deficiência
temperatura corporal, quando ocorre à noite leva sensação de estrogênica ocorre redistribuição da gordura corporal com au-
cansaço durante o dia, degradando a qualidade de vida da mu- mento da deposição da mesma na área visceral, caracterizando
lher climatérica. a distribuição andróide. Esta se caracteriza pelo aumento da
O fogacho caracteriza-se por um avermelhamento da face relação cintura-quadril que parece relacionar-se a uma maior
e pela elevação da temperatura corporal. A mulher que apresen- morbimortalidade cardiovascular, diabetes e a hiperinsulinemia
ta o sintoma tem a sensação de duração de poucos minutos, mas (LEY;LEES;STEVENSON, 1992).
a monitoração da temperatura da pele do metacarpo indica que
a temperatura permanece elevado de 20 a 30 min. Quando a No metabolismo da glicose
temperatura cai, a mulher pode sofrer um episódio de exsudação
com temperatura corpórea baixa. A recidiva desses sintomas A deficiência estrogênica promove redução na produção
constituem a síndrome completa do fogacho vasomotor. de insulina pelo pâncreas, além de provocar maior resistência
A instabilidade vasomotora que produz as ondas de calor periférica à sua ação. A hiperglicemia resultante pode causar
é indubitavelmente devida a um distúrbio ou desequilíbrio do dano ao endotélio vascular. A resistência insulínica, associada a
sistema nervoso autônomo que o estrogênio exerce uma ação hiperinsulinemia, parece ser o distúrbio metabólico piloto na
protetora sobre os vasos sanguíneos subcutâneos. Quando se patogênese da doença cardiovascular
remove este amortecedor, a resposta a qualquer estímulo, como (GASPARD;GOTTAL;DBFA, 1995).
o calor, a emoção, confusão ou exercício produz uma rápida
reação que desencadeia o fogacho (NOVAK; JONES;JONES, Na coagulação e fibrinólise
1974).
Sabe-se que o aumento dos níveis do fator VII e do
fibrinogênio é fator de risco para a doença cardiovascular. A
Osteoporose
menopausa parece ser responsável por uma aumento de 6% nos
Conforme Guyton e Hall (2002), o déficit de estrogênio níveis do fator VII e por 10% nos níveis de fibrinogênio. Pouco
causa redução da atividade osteoblástica nos ossos, deficiência se sabe a respeito dos efeitos da menopausa sobre a função
da matriz óssea e deposição diminuída de cálcio e fosfato nos plaquetária; há, no entanto, relatos que o estrogênio exógeno
ossos. Esse conjunto de fatores pode resultar em osteoporose, diminui a agregação plaquetária e a liberação de adenosina
com aparecimento de fraturas ósseas graves, trifosfato. A complexa relação entre o estrogênio e a coagula-
caracterizada pela redução da massa óssea e pela tendência a ção não está completamente elucidada; pelo contrário, compli-
fraturas secundárias e traumatismos pouco intensos, frequente- ca-se pela emergente evidência de uma correlação positiva en-
mente observada em mulheres pós-menopáusicas. tre a administração exógena de estrogênio no climatério e
A deficiência estrogênica aumenta a remodelação óssea, tromboembolismo venoso (BARRET, 1998; MEADE, 1983)).
porém ocorrendo aumento maior na reabsorção do que na for-
mação, havendo perda de massa óssea. Esta osteoporose, cha- Tratamento Fisioterapêutico
mada tipo I, estrogênio-dependente difere da osteoporose senil
que acomete homens e mulheres igualmente. Os locais mais O fisioterapeuta como conhecedor do declínio das capa-
acometidos por fraturas são: coluna lombar, colo do fêmur e cidades funcionais tais como capacidade respiratória, massa
rádio distal, gerando dor, redução na altura e deformidade na muscular, massa óssea e velocidade de condução nervosa, é in-
coluna vertebral. Assim, pode ser calculado que após a meno- dispensável que ele seja um agente incentivador à prática de
pausa, as mulheres em média podem perder mais de 20% de exercício como ato preventivo, e não apenas curativo, já que
sua massa óssea por volta dos 70 anos de idade. Perde-se o osso apresar dessas alterações, o corpo apresenta uma boa
cortical e o trabecular (POLDEN;MANTLE, 2000). plasticidade com relação às atividades físicas específicas. Sen-
Segundo Marinho (1997), há receptores nos osteoblastos do assim, a fisioterapia tem como objetivo geral promover uma
para os estrogênios, podendo assim, atuarem no osso direta- boa atividade física e ajudar a mulher a ajustar-se as mudanças
mente, ou indiretamente através do aumento da eficácia na ab- deste período, tornando-os mais esclarecidas, preparadas e sau-
sorção de cálcio, alterações em citoquinas, vitamina D, dáveis (CAMARGO, 1999).
paratormônio, calcitonina e fatores de crescimento. Martins (2005) afirma que a prática regular de atividade
Polden e Mantle (2000) defende que 50% das mulheres física tem seus benefícios já bem comprovados em ambos os
pós-menopáusicas correm risco de apresentar uma osteoporose sexos, porém no sexo feminino deve-se levar em consideração
de importância clínica. Não somente pelo conteúdo mineral do os hormônios, as respostas e as adaptações ao exercício e a
osso, mas também pelo colágeno que é perdido. Afirma ainda incidência de certas patologias, como a doença arterial
que há uma maior prevalência de osteoporose entre as mulhe- coronariana. O exercício físico regular, realizado de maneira
res pequenas, talvez devido aos andrógenos produzidos pelas correta e associado a ingesta alimentar adequada, não interfere
glândulas adrenais serem convertidos a estrógenos no tecido na função hormonal, se constituindo num importante instrumento
gorduroso. Supondo-se assim que a obesidade possa dar algu- para ganho de massa óssea, capaz de fazer, a partir da adoles-
ma proteção contra a osteoporose auxiliando na produção de cência, a prevenção primária da osteoporose pós-menopáusica,
com inclusive alívio dos sintomas pré-menstruais.

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Para Souza (2002) a prática de exercícios físicos favore- lheres na Pós-Menopausa. [citado 2003 jul 30]. Disponível em:
ce o controle ponderal, reduz o estresse cardiovascular, melho- http://www.unifesp.br/dpsiq/polbr/ppm/atu3-5.htm.
ra o metabolismo da glicose, prevenindo a diabetes, reduz o CAMARGO E. Atividade Física no Climatério.
colesterol total e aumenta a massa óssea, evitando fraturas e a Gineconews, 1999.
instalação da osteoporose. Sob o aspecto emocional, essa práti- FERREIRA JASA. Perimenopausa. In: Fernandes CE,
ca pode melhorar a imagem corporal e aumentar a liberação de Melo NR, Wehba S. Climatério Feminino.Fisiopatologia: Diag-
endorfinas no sangue. nóstico e Tratamento.São Paulo:Lemos,1999.p.41-53.
Segundo Polden e Mantle (2000) a atividade física pode FREITAS KM, SILVA ARV, SILVA RM. Mulheres
ser um grande benefício na menopausa por apresentar diversos vivenciando o climatério / Women in the climacteric phase.Acta
fatores positivos, entre eles: melhoram a função pulmonar, au- Sci., Health Sci; 26(1):121-128, 2004. 14- AMERICAN HEART
mentam a disposição; favorecem a circulação sanguínea; dimi- ASSOCIATION. [citado 2007 mai 10].Disponível em:
nuem o estresse, a ansiedade e a depressão; melhoram a circu- www.americanheart.org.
lação cardíaca; reduzem a pressão arterial em hipertensos; faci- FLORES AB. Menopausa e climatério. [citado 2002 set
litam o metabolismo de açucares e gorduras; diminuem as do- 10].Disponível em: www.http//sites vol.com.Br/adreflores/
res na coluna; reduzem as taxas de LDL (mau colesterol); dimi- climatério.htm.
nuem a prisão de ventre; estimulam a produção do HDL (bom FONSECA AM. et al. Climatério: Abordagem atual de di-
colesterol); liberam a beta endorfina; ajudam na perda de peso; agnóstico e tratamento. Revista Brasileira de Medicina, v. 61,
aumentam o condicionamento físico; retardam o processo de n. 1/ 2, janeiro - fevereiro, p. 65-69; 2004.
envelhecimento. FUNDAÇÃO IBGE . Anuário Estatístico do Brasil -: 2000.
Dessa forma, os exercícios aplicados durante esta fase Rio de Janeiro, 2000.
devem ser praticados regularmente de forma leve e moderado GASPARD U.J, Gottal J-M, DBFA. Postmenopausal
visando combater doenças cardiovasculares (devido o aumento changes of lipid and glucose metabolism: a review of their main
do nível de colesterol HDL, responsável por proteger as aspects. Maturitas; 21:171-178, 1995.
coronarianas); o diabetes (através da melhora do metabolismo GUYTON AC, Hall JE. Tratado de Fisiologia Médica.10ed.
da glicose); a instalação da osteoporose (através do aumento da Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002.
massa óssea); as algias vertebrais; a obesidade; a hipertensão HAIDAR MA, Mameri Filho J, Nunes MG, Soares Junior
arterial; a ansiedade e a depressão. Podendo melhorar ainda a JM, Costa AMM, Lima G et al. Terapêutica estro-androgênica
flexibilidade, a resistência, o tônus muscular, a postura e a auto- no climatério / Estrogen androgen therapy in the climacterium.
estima, sem contar que os exercícios físicos ajudam também na Femina: v.32, n.3, p. 185-189, 2004.
síntese de mais hormônios a trazerem enormes benefícios à saúde LEY CJ, Lees B, Stevenson JC. Sex and menopause
(SCHIFF, 1989). associated changes in body fat distribution. Am J Clin Nutr;
Há uma evidente associação de atividades físicas com a n.55, p 950-954, 1992.
redução do risco de doença cardíaca (coronariana). O exercício MARINHO RM.Climatério. Efeitos sobre os sistemas
físico atua elevando os níveis de colesterol de alta densidade geniturinário, cardiovascular e ósseo. In:Manual para Tego/
(HDL), que tem efeito protetor. E, também, na melhora das con- Técnico especialista em ginecologia e obstetrícia.Rio de
dições circulatórias, observando-se evidente melhora do desem- Janeiro:Medsi,1997.p.153-157.
penho nas testes de esteira e efeitos positivos no tratamento da MARTINS WG. Posicionamentos Oficiais da SBME. [ci-
hipertensão arterial (SOUZA, 2002). tado 2005 ago 01]. Disponível em: http://
O exercício físico assume-se particularmente relevante www.medicinadoesporte.com/Posicionamentos.htm.
na transição da menopausa, na medida em que proporciona uma MEADE TW, Haines AP, Imerson JD et al. Menopausal
sensação de força e controle numa altura da vida em que a mu- status and haemostatic variables. Lancet, 1983.
lher pode sentir o seu corpo como escapando ao seu controle, NOVAK RE, Jones SG, Jones W H. Ginecologia.Rio de
por exemplo quando sentem as alterações fisiológicas na me- Janeiro: Guanabara Koogan; 1974.
nopausa. É consensual que o exercício físico acarreta benefíci- POLDEN M, Mantle J. Fisioterapia em Gineocologia e
os psicológicos. Por um lado, aumenta a resistência ao estresse Obstetrícia.2ed.São Paulo: Santos, 2000.p281-287;312-314.
e a distração de pensamento ou fontes de estresse na medida em SOBRAC. Sociedade Brasileira de Climatério. Terapêu-
que alivia as tensões acumuladas; por outro lado, aumenta a tica Hormonal na peri e pósmenopausa. [citado 2006 fev 27].
auto-estima, o controle e a satisfação com o corpo. Disponível: http://www.comuniquese.com.br/images/mail/
release_mm/sbc_20040827/miolo.pdf.
SCHINDLER BA. The psychiatric disorders of midlife.
Referências Bibliográficas Med Clin Noth Am 1987; 71:127.
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www.endocrino.org.br/oqtrata_005r.php. Acesso em 28 de fe- cípios e práticas.Rio de Janeiro:Manole,1989, p.595-604.
vereiro de 2006. SOUZA EB. Fisioterapia Aplicada à Obstetrícia: Aspec-
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and Ruth. Maturitas; 31: 1-7, 1998.
BONDUKI CE.Terapia de Reposição Hormonal em Mu-

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Equoterapia: Tratamento Especializado para Pacientes com Lesão


Medular
Riding Therapy: Especial Treatment for Patientes with Spinal Injures
Jerusa Colombaroli de Souza1

Resumo Abstract
A lesão medular é uma condição catastrófica que, depen- The injury to medular is a catastrophic condition that,
dendo de sua gravidade, pode causar alterações dramáticas na depending on its gravity, can cause dramatical alterations in the
vida da vítima. O efeito da lesão tem impacto não somente na life of the victim. The effect of the injury not only has impact
vida do paciente e de sua família, mas também em toda a soci- in the life of the patient and its family, but also in all the society.
edade. Os pacientes portadores de lesão medular podem se be- The carrying patients of injury to medular can benefit themselves
neficiar de terapias alternativas como a equoterapia. Ela pro- of alternative therapies as the equoterapia. It provides to profits
porciona ganhos sensório-motores através dos movimentos sensório-engines through the three-dimensional movements and
tridimensionais e das inflexões laterais que potencializam a of the lateral inflections that potencializam would circuitaria it
circuitaria sináptica evocando a modulação de tônus muscular, sináptica evoking the muscular modulation of tônus, posturais
ajustes posturais, coordenação motora, equilíbrio, força mus- adjustments, motor coordination, balance, muscular force and
cular e dissociação de cinturas. Uma vez que esses pacientes dissociação of waists. A time that these patients need
necessitam de reabilitação por um longo tempo, a equoterapia whitewashing for a long time, the equoterapia can assist in the
pode auxiliar na melhora da funcionalidade desses pacientes. improvement of the functionality of these patients. Two patients
Dois pacientes com diagnóstico de lesão medular nível C5 – with injury diagnosis to medular C5 level - C6 Young chicken
C6 foram submetidos ao tratamento no Parque de Exposição had been submitted to the treatment in the Park of Exposition
João Bernardo Pinto Sobrinho, em São Sebastião do Paraíso, Bernardine João Nephew, in Is Sebastião of the Paradise, Mi-
Minas Gerais, com uma sessão semanal, de 30 minutos, duran- nas Gerais, with a weekly session, of 30 minutes, during six
te seis meses. Foram realizadas avaliação das atividades funci- months. Evaluation of the static and dynamic functional
onais estáticas e dinâmicas, avaliação do tono muscular e o Ín- activities, evaluation of tono muscular and the Index of Barthel
dice de Barthel. Houve melhora do controle proximal e distal had been carried through. It mainly had improvement of the
dos membros inferiores principalmente nas posturas de proximal and distal control of the inferior members in the
quadrupedia e sedestação. Isso foi alcançado através do ganho positions of quadrupedia and sedestação. This was reached
de equilíbrio e ajustes posturais que culminou na melhora das through the profit of balance and posturais adjustments that
atividades de vida diária. Evidências demonstram que a culminated in the improvement of the activities of daily life.
equoterapia auxilia nas aquisições de padrões motores, propor- Evidences demonstrate that the equoterapia assists in the
cionando-lhe funcionalidade e ampliando sua socialização. acquisitions of motor standards, providing functionality to it
and extending its socialization.
Palavras-chave:
Equaterapia; biopsicossocial; cavalo; lesão medular; interação. Key words:
Equaterapia; biopsicossocial; horse; injury to medular;
interaction.

Os efeitos da lesão têm impacto não somente na vida do


Introdução paciente e de sua família, mas também em toda a sociedade.
A lesão da medula espinhal é uma das mais devastadoras Ela tem sido identificada como uma incapacitação de baixa
síndromes incapacitantes que acometem o ser humano, pois incidência e alto custo, que exige diversas alterações na quali-
estabelece alterações e disfunção na condução nervosa das in- dade de vida do paciente [2].
formações sensoriais e motoras, trazendo como conseqüência: As Lesões medulares podem ser grosseiramente dividi-
paralisia dos segmentos e déficit sensorial superficial e profun- das em 2 categorias etiológicas: lesões traumáticas e não-trau-
do abaixo do nível lesionado, disfunções vasomotoras e altera- máticas. Os traumas são de longe a causa mais freqüente de
ções autonômicas, alterações esfincterianas com deficiência para lesão em populações de reabilitação de adultos. A incidência
esvaziamento vesical e intestinal e disfunção sexual [1]. das lesões traumáticas é mais elevada, sendo que a lesão é cau-

1. Fisioterapeuta graduada pela UFSCar e com pós-graduação em Fisioterapia Recebido: maio de 2009
Neurológica pela UNIFRAN. 56º Curso Básico de Equaterapia e 5º Curso Avançado de Aceito: setembro de 2009
Equaterapia pela ANDE-BRASIL. 1º Curso de Equitação especial para o 4º Programa de Autor para correspondência: Jerusa Colombaroli de Souza
equaterapia e Hipismo Paraolímpico. I Curso Nacional para Atletas e Treinadores de E-mail: jcolombaroli@yahoo.com.br
Adestramento Paraolímpico. Classificadora Nacional de Hipismo Paraolímpico.

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sada por um evento traumático como acidente automobilístico, nada figurado, de quatro patas que, através do seu movimen-
queda de alturas, mergulhos em locais rasos, por ferimentos to cinesioterapêutico, transmita cerca de 1.800 a 2.000 estí-
com armas brancas, por ferimentos com armas de fogo (projé- mulos ao corpo dessa pessoa, que está inserida num ambien-
til), etc [3]. te simbolicamente preparado para a valorização das suas
Estatísticas indicam que os acidentes envolvendo veí- potencialidades [9].
culos automotivos são a causa mais freqüente de LM trau- Ela também propõe às pessoas, novas experiências e
mática (36,6%), seguidos por atos de violência (27,9%), situações ricas em desafios que venham a contribuir para o
quedas (21,4%), lesões em esportes recreativos (6,5%) e desenvolvimento e o aprimoramento de suas potencialidades.
outros traumas (7,6%) [4]. Facilita a organização do esquema corporal e aquisição das
A lesão medular geralmente ocorre em pessoas ativas, estruturas têmporo-espaciais; estimula a aprendizagem,
independentes, que em um determinado momento têm con- memorização e concentração, trabalha a cooperação, socia-
trole sobre suas vidas e no momento seguinte estão paralisa- lização e espírito de grupo; regula o tônus muscular, além de
das, com perda de sensibilidade e das funções corporais e estimular o equilíbrio e a boa postura, aumentando também
dependentes de outros para suas necessidades mais básicas a autoconfiança e o autocontrole [10, 11, 12].
[5]. Diante desta realidade, é de extrema importância que os Na Equoterapia, faz-se necessária a participação do cor-
portadores de lesão medular estejam engajados em progra- po como um todo, contribuindo para o desenvolvimento do
mas de reabilitação física, com objetivos de resgatar os mo- tônus e da força muscular, relaxamento, conscientização cor-
vimentos perdidos e adquirir a independência em suas ativi- poral, equilíbrio, aperfeiçoamento da coordenação motora,
dades de vida diária (AVD’s), sendo a Equoterapia um trata- orientação espacial e temporal, melhora a atenção, raciocí-
mento global e de ótima indicação para tais casos. nio, memória, percepção visual, auditiva e tátil, auto-estima
A lesão medular pode ocorrer em diversas alturas e for- e autoconfiança, bem como a interação do praticante (paci-
mas, por diversas causas. Conforme a altura na medula e gra- ente) com o meio ambiente, favorecendo e estimulando a so-
vidade da lesão, há mais ou menos comprometimentos dos cialização [13, 14]. Todos estes aspectos justificam que a
movimentos, sensibilidade, controles de esfíncteres, funcio- Equoterapia é um programa de reabilitação motora impor-
namento dos órgãos, circulação sanguínea e controle de tem- tante para os portadores de lesão medular, atuando em suas
peratura, pois, além da lesão na medula espinhal, pode ocor- novas condições físicas e psicológicas.
rer também uma lesão no sistema nervoso autônomo ou alte- Os benefícios que o cavalo proporciona ao ser humano
rações no mesmo, devido a lesão causada na medula espi- são ressaltados desde o tempo de Hipócrates que destacou a
nhal. Tal lesão ocorre devido a morte dos neurônios da me- ação da equitação como elemento regenerador da saúde. O
dula e a quebra de comunicação entre axônios oriundos do cavalo é o elemento terapêutico que proporciona ganho di-
cérebro e suas conexões com os neurônios da medula, inter- ferenciado para o praticante, pela afetividade, pelo movi-
rompendo assim, a comunicação entre o cérebro e todas as mento tridimensional, pelo contexto do ambiente e pela
partes do corpo que ficam abaixo da lesão [6]. interdisciplinaridade [15]. Neste método, ele entra como um
As LM são normalmente divididas em duas categorias agente facilitador, proporcionando aos praticantes ganhos fí-
funcionais amplas: tetraplegia e paraplegia. Tetraplegia re- sicos e psicológicos, exigindo um trabalho muscular inten-
fere-se à paralisia parcial ou total dos quatro membros e tron- so. Durante a sessão, o praticante recebe várias informações
co, incluindo músculos respiratórios, e resulta de lesões da proprioceptivas que provém das articulações, músculos, ten-
medula cervical. Paraplegia refere-se à paralisia parcial ou dões, com abordagens diversas das terapias convencionais
total de parte ou ambos os membros inferiores e do tronco, [16, 17,18, 19].
resultando de lesões da medula espinhal torácica, lombar ou
das raízes sacrais [7].
Tendo em vista todas as alterações acima citadas, oca-
Metodologia
sionadas pela lesão medular, este trabalho visa elucidar as
Sujeitos
melhoras e os benefícios oferecidos pelo tratamento
equoterápico, sendo este um método recente, tanto na parte Foram avaliados dois pacientes com diagnóstico de le-
motora como nas AVD’s dos portadores de lesão medular. são medular incompleta, nível C5-C6, sendo um paciente do
A Equoterapia é a única terapia que trabalha o indiví- sexo feminino, J.R.M., 17 anos, e o outro do sexo masculino,
duo como um todo, ou seja, em sua forma biopsicossocial. C.B.P., 29 anos. Ambos vítimas de acidente automobilístico.
Ela apresenta características únicas. Trata-se de uma terapia
que utiliza o cavalo como instrumento reabilitador. Cada in- Material
divíduo é visto como uma pessoa especial, que sente, pensa,
deseja, realiza e aprende. Se caso não lhe é permitido agir Foram selecionados dois cavalos específicos, e com seus
com uma boa desenvoltura motora, são criados mecanismos respectivos encilhamentos, sendo a sua principal característi-
para vencer as suas dificuldades [8]. ca a docilidade.
O atendimento terapêutico dos pacientes portadores de O protocolo utilizado para a avaliação do tônus muscu-
lesão medular proporciona um aprendizado e uma experiên- lar foi a Escala de Ashworth Modificada [20], a avaliação das
cia enriquecedores. A Equoterapia é uma ótima proposta de atividades funcionais estáticas (sedestação, quadrupedia, ajo-
tratamento para os portadores de lesão medular, pois ela be- elhado, semi-ajoelhado e bipedestação) que variam de zero a
neficia pacientes que apresentam lesões em seu sistema ner- nove e baseia-se nos critérios de adoção ou não da postura
voso em desenvolvimento ou já maduro. Dito de outra for- examinada e as atividades dinâmicas [21, 22] e o Índice de
ma, ela beneficia pessoas carentes de “um braço que as em- Barthel para avaliar as AVD’s [23]; avaliação fotográfica uti-
purre” rumo ao desenvolvimento natural. Ou, num sentido

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lizando máquina digital Samsung, modelo Digimax 300, 3.2 Escala de Ashworth Modificada
megapixels. Estes critérios de avaliação foram adotados em
função das maiores dificuldades encontradas pelo portador de
lesão medular: a espasticidade e a perda de movimentos ati-
vos que refletem nas atividades de vida diárias.
Tabela 1: Escala de Avaliação do tônus Muscular.
Situação
Escala das Atividades Funcionais Estáticas
As sessões de Equoterapia foram realizadas no Parque de
Exposição João Bernardes Pinto Sobrinho, EXPAR, em São
Sebastião do Paraíso - MG. Os pacientes foram atendidos em
terrenos regulares (gramado central do Parque), percorrendo
sempre o mesmo trajeto, e utilizando o mesmo cavalo e o mes-
mo encilhamento escolhido para cada um.

Procedimento Tabela 2: Escala de avaliação das atividades funcionais estáti-


cas.
Os pacientes foram selecionados pelo tipo e local da
lesão medular. Previamente, foram esclarecidos sobre o es-
tudo em questão e assinaram o Termo de Consentimento Li- Escala de Avaliação das Atividades Funcionais
vre Esclarecido, aceitando participar deste estudo. Dinâmicas
Eles foram avaliados previamente com as escalas de
Asworth Modificada (para avaliar a espasticidade, sendo que
esta interfere consideravelmente na aquisição motora e na
realização das AVD’s), escalas de atividades funcionais es- Tabela 3: Escala de avaliação das atividades funcionais dinâ-
táticas e dinâmicas e índice de Barthel. Eles foram tratados micas.
por um período de seis meses, totalizando 26 sessões, sendo
estas realizadas semanalmente e com duração de 30 minu- Índice de Barthel
tos. Um protocolo de exercícios foi estabelecido e seguido
neste período de tratamento. Os pacientes deste estudo fo-
ram reavaliados no término das 26 sessões programadas. Os
protocolos utilizados na reavaliação foram os mesmos utili-
zados na avaliação inicial.
A andadura escolhida foi o passo, sendo que as suas
desestabilizações e o seu movimento tridimensional são im- Tabela 4: Índice de Barthel para avaliação das AVD’s.
portantes para se obter os ajustes posturais e tônicos essen-
ciais para as novas aquisições motoras. Os cavalos foram Avaliação Fotográfica:
encilhados com sela e os pacientes usaram estribos em todas
as sessões de tratamento. Praticante I: J.R.M.

Protocolo de exercícios
Foram realizados, em todas as sessões, treino de equi-
líbrio com o cavalo parado e em movimento, e sem apoio na
alça da sela (mãos na crina, na garupa, no capacete), associ-
ando as estes treinos de dissociação das cinturas escapular e
pélvica; também foram realizados exercícios gerais de coor-
denação motora para os membros superiores, estando o ca-
valo, ora parado, ora ao passo; realizaram exercícios para a
musculatura abdominal e paravertebral, com o cavalo para- Praticante II: C.B.P.
do. E nos 5 minutos finais de cada sessão, foram realizados
exercícios de alongamento e relaxamento.

Resultados
As tabelas abaixo tiveram como objetivo quantificar o
grau de tônus muscular encontrado, assim como a evolução
das atividades funcionais estáticas e dinâmicas e as AVD’s.

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Discussão des na postura mantendo o alinhamento desde da avaliação inicial.


Nas posturas semi-ajoelhada e bipedestação, a praticante evo-
Os resultados obtidos neste estudo são de grande relevância, luiu do grau 3 para 4, indicando que ela passou a realizá-las com
considerando-se a dificuldade em realizar estudos em grupos de auxílio, mantendo sem apoio e com alinhamento. Isto evidencia gan-
indivíduos com disfunção neurológica, pois a constituição de um ho de força muscular, equilíbrio e coordenação motora.
grupo homogêneo depende de vários fatores como: local de lesão, Ao avaliar a escala de atividades funcionais estáticas do prati-
quadro motor, faixa etária, entre outros aspectos importantes. cante II, verifica-se que nas posturas de decúbito ventral, decúbito
Existem poucos estudos realizados sobre os benefícios da lateral direito e decúbito lateral esquerdo evoluíram do grau 7 para
Equoterapia para os portadores de lesão medular. 8, significando que o praticante passou a realizá-las sem auxílio,
As dificuldades nas aquisições, em decorrência da lesão, mantendo sem apoio e com alinhamento.
podem ser amenizadas, pois o SN, mesmo lesado, é uma estrutura Na sedestação houve melhora do grau 4 para 8, também rea-
plástica e responsiva à estimulação ambiental. Portanto, devemos lizando sem auxílio, mantendo sem apoio e com alinhamento.
buscar a estimulação apropriada para melhor proporcionar a reor- Na quadrupedia evoluiu de grau 3 para 7, ou seja, o praticante
ganização deste sistema. Segundo EDWARDS (1999), consi- passou a realizar a postura sem auxílio, mantendo sem apoio, mas
dera-se que após uma lesão do sistema nervoso central, pode ocor- sem alinhamento.
rer um movimento desordenado ou um repertório de movimentos Nas posturas de ajoelhado e bipedestação, que o praticante
limitados, produzindo um input sensorial anormal para o SNC e não realizava na avaliação inicial, na avaliação final evoluíram de
originando uma resposta compensatória[24]. E, segundo FONSE- grau 0 para 2, realizando com auxílio, mantendo com apoio e com
CA (2004), “andar a cavalo” proporciona ao indivíduo com defici- alinhamento.
ência, uma experiência sensorial e motora normal, que contribui Na postura semi-ajoelhada, que não era realizada na avalia-
para o desenvolvimento, manutenção e reabilitação das capacida- ção inicial, grau 0, evoluiu para grau 1, significando que o praticante
des físicas e traz ainda benefícios no nível físico, psicológico e passou a realizá-la com auxílio, mantendo com apoio, mas sem ali-
social. Para este autor, a utilização de atividades em cima do cava- nhamento.
lo proporciona um ambiente controlado de input sensorial, que irá Os avanços relatados nos dois praticantes em relação às ativi-
desencadear respostas adaptativas apropriadas para os praticantes. dades funcionais estáticas evidenciam o ganho de força muscular,
Os movimentos da cintura pélvica induzem vibrações nas regiões equilíbrio e coordenação motora, havendo ganhos no aprendizado
osteoarticulares, que através dos nervos periféricos e medula, che- motor dos mesmos. DEBUSE et al. (2006), enfatiza que nenhum
gam ao cérebro [25]. outro meio terapêutico, além do cavalo, pode oferecer tantas oportu-
A evolução dos praticantes, ao longo dos 6 meses de trata- nidades para o aprendizado motor como a Equoterapia [26]. BENDA
mento equoterápico, pode ser observada nas tabela 1, 2, 3 e 4 que et al. (2003) afirma que a Equoterapia não só promove estimulação
contêm dados de tono muscular, atividades funcionais estáticas e física, cognitiva, emocional e social, como também desenvolve ca-
dinâmicas, e realização das AVD’s (atividades da vida diária), res- pacidades não aprendidas através do tratamento convencional [27].
pectivamente. Em relação às atividades funcionais dinâmicas, especificamen-
A hipertonia foi quantificada e os dados podem ser observa- te a marcha, não houve ganhos quanti-qualitativos em ambos os pra-
dos na tabela 1, onde se verifica que os membros inferiores apre- ticantes. A praticante I manteve seu padrão “alterado”, relatando mais
sentavam maior acometimento que os membros superiores em agilidade e menos esforços para realizá-la. O praticante II, que não
ambos os pacientes; e a melhora foi observada em todos os seg- realizava a marcha, permaneceu na cadeira de rodas, mas adquiriu
mentos avaliados. Em um outro trabalho, FONSECA (2004) afir- condições para iniciar o treino de marcha com uso de órteses. Se-
ma que o calor e a adaptação do cavaleiro ao ritmo do cavalo exige gundo TEIXEIRA (2001), os movimentos e respostas equilibratórias
contração e descontração simultânea dos músculos agonistas e an- que o cavaleiro deverá executar para manter-se sobre o cavalo são os
tagonistas, promovendo o relaxamento, e também podem ajudar a mesmos necessários para a marcha humana [28], justificando os dados
reduzir a espasticidade muscular, principalmente dos membros in- obtidos após as 26 sessões de tratamento equoterápico com portado-
feriores [25]. res de lesão medular.
As atividades funcionais estáticas e dinâmicas também fo- Ao avaliar o Índice de Barthel, verificou-se que ambos os
ram quantificadas como pode observar nas tabela 2 e 3, respectiva- praticantes obtiveram ganhos nas suas AVD’s. A praticante I evoluiu
mente. da nota 90 para 100, e o praticante II evoluiu da nota 75 para 85.
Ao avaliar a escala de atividades funcionais estáticas da pra- Mostrando como a Equoterapia pode auxiliá-los na melhor execu-
ticante I, observa-se que ela já se encontrava em um bom estágio ção de suas atividades da vida diária. ARTUSO (2000) relata que
de recuperação e a Equoterapia acrescentou ganhos à sua reabilita- um dos principais alvos da Equoterapia é transferir a melhora das
ção. Nas posições de decúbitos, não houve grandes ganhos, pois funções comprometidas ao cotidiano do paciente, para atingir uma
ela já estava com grau 9, realizando sem auxílio, mantendo sem maior independência nas atividades comuns e relacionais [29].
apoio e realizando atividades na postura mantendo o alinhamento. A melhora adquirida com a Equoterapia também foi visível
Somente no decúbito lateral esquerdo que apresentava grau 8 na no modo de montar dos dois praticantes. A praticante I montava com
avaliação inicial, ou seja, realizando sem auxílio, mantendo sem boa postura e alinhamento corporal, mas não conseguia realizar to-
apoio e com alinhamento, mas sem realizar atividades na postura, dos os exercícios necessários, necessitando de apoio para realiza-
e evoluiu para grau 9. los. Após o período do estudo, 26 sessões, ela não mais necessitava
A sedestação e a quadrupedia evoluíram de grau 7 para 9, de apoio da teraputa e adquiriu total independência sobre o cavalo.
significando que a praticante obteve melhora nas posturas, pois Já o praticante II, apresentava má postura ao montar (postura cifótica),
passou a realizá-las sem auxílio, sem apoio e realizando atividades cansaço físico intenso durante a execução dos exercícios e necessita-
na postura mantendo o alinhamento. va de apoio constante na sela e da terapeuta; poucos exercícios eram
Na postura ajoelhada não houve ganhos, afinal, a praticante realizados com o cavalo ao passo e mesmo com ele parado. No
já realizava sem auxílio, mantendo sem apoio e realizando ativida- término dos 6 meses, sua postura melhorou e ele conseguiu realizar

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os exercícios propostos com mais facilidade, estando o cavalo parado mundo. Revista da associação nacional de equoterapia. n. 5, p. 3,
e em movimento. 2001.
Assim, por todos os dados obtidos, evidenciamos que a BRACCIALI, L. et.al. Cavalgar: recurso auxiliar no tratamento
Equoterapia, como tratamento especializado, é benéfico para os paci- de crianças com paralisia cerebral. Fisioterapia em movimento,
entes que sofreram injúria no Sistema Nervoso Central. Curitiba, v. 11, p.131-136, abr.set. 1998.
Podemos comprovar com este estudo, que a Equoterapia CIRILLO, L. Equoterapia, hipoterapia e equitação: terapêuti-
incrementou o controle motor nas atividades funcionais estáticas e nas ca. Revista da associação nacional de equoterapia. Brasília,v.1, n.1, p.
dinâmicas e os ganhos foram acompanhados de modulação do tono 32-36, setembro de 1998.
muscular, melhora de força, coordenação motora e precisão nos movi- FRAZÃO, S. Equoterapia – Recurso terapêutico em discus-
mentos voluntários. Assim, é possível afirmar que estes progressos são. O Cofitto. n. 11, p. 66-81, jun. 2001.
foram obtidos através dos movimentos tridimensionais e das inflexões DURAN, M. Equoterapia: aspectos neurológicos em pacien-
laterais provocadas pelo cavalo que potencializou a circuitaria sináptica tes com encefalopatia infantil não progressiva com transtorno motor.
envolvida na motricidade voluntária, evocando maior controle motor. I Congresso Brasileiro de Equoterapia – Coletânea de trabalhos.
Pela avaliação fotográfica, nota-se grande diferença na postura Brasília, 1999.
ao montar dos dois praticantes. Ambos, na avaliação inicial (figura 1 e CALDAS,APM. Fonoaudiologia aplicada à equoterapia.Cur-
3), necessitavam de apoio da terapeuta para executar os exercícios so básico de equoterapia. Piracicaba : ANDE, junho de 2003.
propostos e apresentavam postura incorreta, desequilíbrio e MORELLI, SP.; Ortiz, P.; Venturini, PJF.; Vieira, TC. A
incoordenação motora. Já na avaliação final (figura 2 e 4), ambos equoterapia associada ao tratamento fisioterápico na paralisia cere-
melhoraram a postura e não necessitavam de apoio constante da bral: um estudo de caso. Arquivos de neuropsiquiatria, v. 59, supl.1,
terapeuta para realizar os exercícios. p. 32-49, set. 2001.
MARCHIZELI, JC. A equoterapia antes e depois da monta-
ria. Equoteapia, Brasília, ano 2, n. 4, p. 44-68, agost./ set. 2000.
Conclusão WICHERT, H. O cavalo como instrumento cinesioterapêutico.
Os resultados obtidos neste estudo puderam ser visualizados de Equoterapia, Brasília, n. 3, p. 23-28, dez. 1999.
forma mais padrônica através da utilização dos protocolos para avali- RICARDO, ARB; Parra, CC. A equoterapia na prevenção da
ação de tono muscular, de atividades funcionais estáticas e dinâmicas osteoporose. Revista de equoterapia, n.9, p. 27, junho de 2004.
e pelo índice de Barthel, avaliando a realização das atividades da vida PIZZI, A.; Carlucci, G.; Falsini, C.; Verdesca, S.; Grippo, A.
diária. Evalution of upper-limp spasticity after estroke: a clinical and
Assim, podemos concluir que a Equoterapia é uma proposta neurophysiologic study. Arch phys med rehabil, n. 6, p. 54-58, mar.
alternativa eficaz, uma vez que auxilia na aquisição de padrões essen- 2005.
ciais do desenvolvimento motor, preparando o paciente para uma ati- DURIGON, OFS.; Piemonte, MEP..Desenvolvimento de um
vidade motora subseqüente mais complexa, ampliando a sua sociali- protocolo de avaliação do desempenho motor e funcional de crian-
zação, dando condições para que possam desenvolver simultaneamente ças com paralisia cerebral. Arquivo de neuro psiquiatria, v.54, supl. II,
outras habilidades que estão internamente relacionadas com o desen- p. 55-68, 1996.
volvimento da capacidade motora global. Concluímos também, que a DURIGON, OFS.; Piemonte, MEP.; Sá, CSC.; Sita, LV. Valida-
Equoterapia, como uma terapia não-convencional, vem proporcionando ção de um protocolo de avaliação do desempenho motor e funcional
inúmeros benefícios aos seus praticantes, e em especial, neste estudo, de crianças com paralisia cerebral. Anais do XIII Congresso nacio-
aos portadores de lesão medular. nal da associação brasileira de paralisia cerebral. São Paulo, 1998.
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Bioética na Saúde Pública e na Produção de Alimentos Funcionais


e Medicamentos
Bioethics in the Public Health and in Manipulation of Food and Medicines
Patricia Nancy Iser bem1, Simon Skarabone Rodrigues Chiacchio2,
Paulo Celso Pardi3, Renata Gorjão4

Resumo Abstract
O presente artigo tem como objetivo promover uma re- The aim of this article is to promote a debate on bioethics
flexão sobre a bioética na saúde individual e coletiva principal- in individual and collective health, especially in relation to the
mente em relação à elaboração e prescrição de medicamentos. preparation and prescription of medicines. Changes made to
As alterações sofridas na lei no decorrer da história, na saúde individual and collective health laws in the course of history
individual e coletiva, alteraram todo o processo em relação às altered the process for patient guidance, work and service. The
práticas na orientação, prescrição, trabalho e atendimento ao methodology used in this study was to review the themes of
indivíduo. A metodologia utilizada no presente trabalho foi à public and private health care as well as technical work related
revisão bibliográfica nas temáticas da saúde pública e privada to allopath and homeopathy. It is concluded in this study that
bem como trabalhos técnicos de Alopatia e Homeopatia. Con- practices of health professional should be increasingly devoted
clui-se no artigo que as práticas dos profissionais da área da to the welfare of the individual and community. However, the
saúde devem ser cada vez mais voltadas ao bem-estar do indi- scenario is often contrary to what ethical aspects may require.
víduo e da coletividade. No entanto, o cenário muitas vezes é
contrário ao pré-suposto ético. Key words:
Bioethics; Functional food; Pharmacy Manipulation;
Palavras-chave: Medication Errors and Advertising.
Bioética; Alimento Funcional; Farmácia de Manipulação; Er-
ros de Medicação e Publicidade.

Introdução pela Administração Pública para controlar as atividades, direi-


tos individuais e coletivas em benefício da saúde comum.
A defesa e a proteção da saúde surgiram na legislação A bioética estuda sistematicamente a conduta humana na
brasileira através das constituições federais de 1937, 1947, 1967 área de ciências e da vida, bem como a atenção da saúde sobre
até 1988. Estas se referem à autoridade do Estado de legislar a base de valores morais (GONZALEZ,
sobre a saúde, conquistando um espaço ainda maior com a cri- 2002;BENITEZ;GIGLIO;VALLE;MURACCOLE;LYNCH,
ação do Ministério da Saúde (1950). Neste contexto, surge a 2004)
Vigilância Sanitária, compreendida como um conjunto de ações Não é necessário ir muito além para percebermos que tam-
capazes de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de bém é direito do cidadão ter em mãos um receituário médico de
intervir nos problemas sanitários, da produção e circulação de acordo com padrões éticos. Desta forma, entende-se que ao
bens e da prestação de serviços de interesse da saúde menos este receituário esteja legível a fim de evitar a dispensação
(LEITE;BARBOSA;GARRAFA, 2008). deste medicamento de forma errônea. O que de início propicia-
O crescente número de alimentos industrializados e fun- ria a melhoria na qualidade de vida do paciente, pode terminar
cionais, produtos fitoterápicos e magistrais, bem como de espe- em um desastre na saúde do mesmo. Tais parâmetros infringem
cialidades farmacêuticas e medicamentos homeopáticos requer a autonomia e são cerceados pela beneficência.
cada vez mais intensamente, a intervenção do Estado. É a ne- Segundo Arreguy e Schramm (2005), a bioética foi cria-
cessidade de segurança que gera obrigação moral, ética e trans- da na tentativa de compreender e dissolver conflitos de interes-
forma o princípio de responsabilidade em precaução. ses e valores no campo da saúde, sendo uma ferramenta no au-
Ações da Vigilância Sanitária garantem principalmente xílio da prática gestora de serviços públicos de saúde.
aos menos favorecidos, a prevenção e proteção necessárias à Desta forma, o presente artigo visa promover uma refle-
saúde. xão sobre a bioética na saúde individual e coletiva em relação à
Cabe ressaltar que são ferramentas da bioética à preven- produção e prescrição de medicamentos alopáticos e homeopá-
ção, proteção, precaução e prudência, tais ferramentas são apli- ticos, erros de medicação bem como a inserção de alimentos
cadas pelo poder de polícia da Vigilância Sanitária delegados com propriedades funcionais.
1. Farmacêutica Homeopata e Mestranda em Farmácia; Professora da Universidade Nove Recebido: maio de 2009
de Julho. Aceito: setembro de 2009
2. Mestrando em Gestão Integrada de Saúde do Trabalho e Meio Ambiente, Professor da Autor para correspondência: Patricia Nancy Iser Bem
Universidade UniRadial Estácio. E-mail: sepia.sepia@hotmail.com
3. Professor Doutor de Farmácia da Universidade Bandeirantes.
4. Professora Doutora de Farmácia da Universidade Bandeirantes.

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Neste contexto fica evidente a prudência garantida pela


Metodologia legislação. Para Gracián (2006), a prudência é composta pelo
Para abordar a situação problema descrita, optou-se como conhecimento, discernimento, sabedoria, inteligência, razão,
primeira etapa à busca de referências acerca da temática que reflexão, ponderação, decisão, benevolência, beneficência, con-
norteia todo o artigo, sua aplicação no cotidiano e nas relações descendência e sensatez.
da saúde individual e coletiva e a bioética como pressuposto Segundo Moraes e Colla (2006), no Brasil, o Ministério
que norteiam a problemática em questão. da Saúde, através da Agência Nacional de Vigilância Sanitária,
O estudo foi realizado a partir de uma revisão de literatu- regulamentou os alimentos funcionais através das seguintes re-
ra, para tanto, foram utilizados artigos científicos em idiomas soluções: ANVISA/MS 16/99; ANVISA/MS 17/99; ANVISA/
português, espanhol e inglês publicados respectivamente, bem MS 19/99. As essências das resoluções estão a seguir:
como referências nos mesmos idiomas de revistas e livros téc- a) ANVISA /MS 16/99 –Trata de procedimentos para
nicos da área do conhecimento no contexto da Saúde Publica. Registro de Alimentos e ou Novos ingredientes (BRASIL,
Procurou-se enfatizar as questões do trabalho nas pesqui- 1999b);
sas bibliográficas, pois nessa temática existem recentes estudos b) Resolução da ANVISA17/99: Aprova o Regulamento
e abordagens que podem de forma estrutural, ajudar a trazer a Técnico que estabelece as Diretrizes Básicas para a Avaliação
tona o diálogo em relação às questões da Bioética na Saúde de Risco e Segurança de Alimentos que prova, baseados em
Pública e na Produção de Alimentos Funcionais e Medicamen- estudos e evidências ciêntíficas, se o produto é seguro sob o
tos. ponto de risco à saúde ou não(BRASIL,1999b);
A pesquisa é de revisão bibliográfica de abordagem des- c) Resolução ANVISA/MS 18/99-Aprova o Regulamen-
critivo-reflexiva com abordagem direcionada ao referencial bi- to Técnico que estabelece as Diretrizes Básicas para a Análise e
bliográfico e aos resultados secundários desenvolvidos acerca Comprovação de Propriedades Funcionais e/ou de Saúde,
da bioética, no intuito de apresentar a complexidade dessa alegadas em rotulagem de alimentos (BRASIL, 1999c);
temática de acordo com as evidencias presentes nos estudos d) Resolução ANVISA/MS 19/99-Aprova o Regulamen-
desenvolvidos pelos autores pesquisados. to Técnico de Procedimentos para o Registro de Alimentos com
Alegação de Propriedades Funcionais e ou de Saúde em sua
Rotulagem (BRASIL, 1999d).
Revisão da Literatura
Em decorrência dos processos de ajuste em relação aos
Alimento Funcional processos descritos na saúde publica e individual, as resolu-
ções serviram como fatores de ajuste e padronização técnica
Para a inserção de um alimento com propriedades funci-
nessa área do conhecimento. Dentro desse contexto as resolu-
onais é necessário atender às determinações previstas na reso-
ções em relação aos alimentos funcionais são consideradas re-
lução n°19/3 de 1999, visando abranger as diretrizes básicas
cente, no entanto extremamente relevante no que diz respeito a
para a análise e comprovação de propriedades funcionais e ou
sua aplicação no cotidiano.
de Saúde alegadas em rotulagem. A ANVISA define como pro-
Em linhas gerais é possível dizer que as questões de saú-
priedade funcional àquela relativa ao papel metabólico ou fisi-
de estão diretamente ligadas ao processo de aplicação das ques-
ológico que o nutriente ou não nutriente tem no crescimento,
tões legais e ajustes vinculados aos medicamentos e alimentos
desenvolvimento, manutenção e de outras funções normais do
funcionais presentes nas resoluções descritas.
organismo humano.
Neste caso, a ferramenta de bioética é a proteção, pois
ela visa normatizar as práticas humanas por meio da antecipa- Farmácias de Manipulação Alopática e Homeo-
ção dos efeitos positivos, prevenindo eventuais efeitos negati- pática
vos. Não fosse a intervenção da legislação, seria impossível
estabelecer critérios para a inserção desta classe de alimentos A Resolução da Diretoria Colegiada nº 67 de Outubro de
dito funcionais. As indústrias poderiam colocar à disposição 2007 para farmácias de manipulação dá algumas diretrizes para
da população qualquer alimento prejudicial à saúde com um a manipulação de medicamentos e produtos magistrais. A legis-
rótulo alegando propriedade funcional em uma conduta antiética. lação define a atenção farmacêutica como um modelo de práti-
A bioética de intervenção considera no campo público e ca farmacêutica, desenvolvida no contexto da assistência far-
coletivo, a priorização de políticas e ações que privilegiem um macêutica.
maior número de pessoas. Qualquer informação ou proprieda- Compreende atitudes, valores éticos, comportamentos,
de funcional ou de saúde de um alimento ou ingrediente veicu- habilidades, compromissos e co-responsabilidades na preven-
lada por qualquer meio de comunicação, não poderá ser dife- ção de doenças, promoção e recuperação de saúde, de forma
rente em seu significado daquela aprovada para constar em sua integrada à equipe de saúde. Consiste na interação direta do
rotulagem. farmacêutico com o usuário, visando uma farmacoterapia raci-
A legislação ainda prevê a utilização de processos cientí- onal e a obtenção de resultados definidos e mensuráveis volta-
ficos que comprovem a eficácia do alimento tais como ensaios dos para a melhoria da qualidade de vida (ANVISA, 2007).
nutricionais e ou fisiológicos e ou toxicológicos em animais de Esta interação também deve envolver as concepções dos seus
experimentação, ensaios bioquímicos, estudos epidemiológicos sujeitos, respeitadas as suas especificidades bio-psico-sociais
e ensaios clínicos. Também prevê a comprovação de uso tradi- sob a ética da integralidade das ações de saúde.
cional observado na população, sem danos à saúde; evidências Antes da intervenção da vigilância sanitária a qualidade
da literatura científica, organismos internacionais de saúde e dos medicamentos manipulados deixava a desejar em vários
legislação internacionalmente reconhecida sobre as proprieda- quesitos tais como, qualidade, responsabilidade e eficiência.
des e características do produto também são consideradas. Neste conjunto de ações integrativas de saúde entra uma ferra-

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menta da bioética utilizada pela fiscalização, que é a preven- homeopata, ou que seja realizada a capacitação específica em
ção. A prevenção se antecipa às possibilidades de danos a saú- temáticas e atividades que poderiam ser realizadas considera-
de, sendo um referencial que busca a ação antecipada. das de baixa complexidade e dessa forma possível. Tal necessi-
Atualmente, as farmácias de manipulação contam com um dade, no entanto, ainda não é atendida nas auditorias da vigi-
espaço físico tecnicamente preparado, assim como de uma in- lância sanitária, ou seja, a formação específica não se aplica de
dústria de especialidades farmacêuticas. As farmácias magis- forma ampla e direcionada, dificultando assim esse trabalho focal
trais são consideradas como pequenas indústrias dadas as atu- e de extrema necessidade na saude publica e individual.
ais exigências da legislação. É necessário entender que os primeiros passos já foram
Antes destas mudanças, certamente os riscos que envol- dados, todo começo requer cuidado e precaução, agora é espe-
viam a saúde pública eram imensuráveis e infinitos. Neste caso rada a adequação e o ajuste na direção desse movimento na
foi necessária a intervenção do Estado para garantir a proteção saúde coletiva e individual.
e prevenção de possíveis danos à saúde pública.
A atual presença do farmacêutico em tempo integral, ou- Erros de Medicação e Publicidade de Medica-
tro ganho para a saúde pública exigida pela legislação, garante mentos
a qualidade de todas as etapas de manipulação e controle de
qualidade de medicamentos manipulados, inclusive a Segundo Storpirts (2007), atualmente os hospitais con-
dispensação dos mesmos, reforçando o elo entre o usuário e o tam com diferentes sistemas de distribuição de medicamentos.
profissional de saúde, o farmacêutico. Os sistemas incluem coletivo, individual e unitário.
Tais mudanças ocorreram a partir da publicação da RDC A dose unitária criada em 1960 por farmacêuticos hospi-
nº214 em 12 de dezembro de 2006, em uma tentativa de talares é capaz de diminuir a incidência de erros de medicação,
minimizar os danos que há anos eram causados à saúde das pes- custos de medicamentos, perdas, furtos, bem como melhorar o
soas. aproveitamento dos profissionais envolvidos e melhorar o ní-
O regulamento deixa claro, pois fixa requisitos mínimos vel de assistência oferecido ao paciente.
exigidos para o exercício das atividades de manipulação de pre- Tais erros de medicação interferem na qualidade de vida
parações magistrais e oficinais das farmácias, desde suas insta- e recuperação do paciente. A autora aponta ainda algumas con-
lações, equipamentos e recursos humanos, aquisição e controle dutas responsáveis pelos erros de medicação tais como; má
de qualidade da matéria-prima, armazenamento, avaliação far- qualidade da grafia médica, utilização de diferentes pesos e
macêutica da prescrição, manipulação, fracionamento, conser- medidas adotadas em um mesmo hospital, utilização de abrevi-
vação, transporte e dispensação das preparações, além da aten- aturas não padronizadas, medicamentos com nomes comerciais
ção farmacêutica aos usuários ou seus responsáveis, visando à semelhantes, informações médicas incompletas e confusas.
garantia da qualidade, segurança, efetividade e promoção do Neste contexto inclui-se a drogaria e farmácia de manipulação
seu uso seguro e racional. onde tais erros se estendem.
No campo da saúde pode-se destacar a ciência homeopá- Estes erros deveriam ser evitados pelos profissionais
tica como um campo pouco explorado do ponto de vista de in- médicos, pois os mesmos são os maiores responsáveis por pro-
formação por parte da população brasileira. ver a recuperação do paciente em conjunto com outros profissi-
Trata-se de uma medicina humanística que ainda não está onais da saúde incluindo o farmacêutico e enfermeiro. Mas como
ao alcance de todos, e que atualmente foi implementada de for- manipular ou administrar um medicamento de acordo com uma
ma sucinta no SUS. Mas como é apenas uma recomendação prescrição errônea ou duvidosa?
feita através da Portaria número 3237, de dezembro de 2007, A lei 8078 de Setembro de 1990 dispõe sobre a proteção
do Ministério da Saúde não obteve ainda a inserção necessária ao consumidor e apresenta outras providências: declara que são
dos medicamentos homeopáticos para a população em geral direitos do consumidor, artigo 6°, a proteção à vida, saúde e
(GUTIERREZ, 2009). segurança contra os riscos provocados por práticas no forneci-
De acordo com Dra Márcia Gutierrez, Presidente da As- mento de produtos e serviços considerados perigosos ou noci-
sociação Brasileira de Farmacêuticos Homeopatas, a mesma vos.
declarou em entrevista que o Brasil possui cerca de 5500 Muni- Sobre o código de ética médica do Conselho Federal de
cípios e apenas 157 deles oferecem homeopatia. Medicina, de 1988, já estabelecia no artigo 39 que é vedado ao
Para a manipulação de medicamentos homeopáticos a médico: “receitar ou atestar de forma secreta ou ilegível, assim
RDC 67 segue o mesmo rigor ético de cobrança, o grande pro- como assinar em branco folhas de receituários, laudos, atesta-
blema é que não existe uma legislação que atenda às dos ou quaisquer outros documentos médicos”.
especificidades da manipulação homeopática. Simplesmente Em Outubro de 2008 foi sancionada uma lei no DF, que
adequaram a legislação de produtos alopáticos aos homeopáti- obriga o receituário médico e odontológico, bem como pedidos
cos, sem respeitar as características e particularidades da de exames médicos, serem redigidos em computadores.
homeopatia. A discussão direcionada de farmacêuticos por prescrições
Neste caso, o agravo é ainda maior, uma vez que os pro- legíveis tem sido grande, uma vez que isso pode ocasionar séri-
fissionais da vigilância sanitária que fiscalizam as farmácias e os danos a saúde da população. Mais uma vez se dá necessária
que, no entanto são de fato, farmacêuticos homeopatas são ra- a bioética da intervenção, aprimorando assim o processo de tra-
ros, e dessa forma identificar as especificidades inerentes ao balho de quem prescreve e o processo de trabalho de quem aten-
processo produtivo tornando assim a atividade pouco de essa necessidade, ou seja, nesses dois contextos existe uma
direcionada. interdependência que causa muitas vezes dano a um outro su-
Cabe aqui a ressalva de que para entender as particulari- jeito quem efetivamente necessita do medicamento e nesse caso
dades da homeopatia é necessário que este profissional seja acaba sendo prejudicado no seu direito à saúde e bem estar.

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A Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara dos


Deputados em Brasília aprovou projeto, de autoria do deputa-
Discussão
do federal Cezar Silvestri (PPS-PR), que pune médicos que es- A bioética de intervenção aplicada pela autoridade sani-
crevem prescrições e prontuários com letra ilegível. O Conse- tária deve ser vista como uma ferramenta de proteção à socie-
lho Regional de Farmácia apresenta que para se transformar em dade e ser continuamente exercida com relação à solicitação de
lei, o texto precisa ser apreciado em duas comissões da Câma- registro de alimentos funcionais, publicidade de medicamentos
ra, seguir para o Senado e receber a sanção do Presidente da bem como a legibilidade de receituário médico e adequação
República. das farmácias de manipulação frente a RDC 67.
Prescrições médicas ilegíveis são responsáveis por danos Esta revisão constatou que embora muitas mudanças le-
muitas vezes irreparáveis a vida de muitos pacientes, neste caso, gais tenham ocorrido nos últimos anos, ainda continuam ocor-
o Estado deve intervir a fim de evitar conseqüências drásticas a rendo irregularidades, em desacordo com a legislação vigente.
saúde da população. Nos últimos anos farmácias de manipulação cresceram a ponto
Para alguns autores (AVORN, 1982; de abrirem uma sala de manipulação de medicamentos homeo-
WADE;MCDONALD;MANSFIELD, 1989; LEXCHIN, 1993; páticos sem respeitar os critérios e diretrizes preconizadas na
BARROS, 1995; MANSFIELD, 1996) diversos estudos apre- RDC 214.
sentam que a propaganda consegue realmente alterar o padrão As farmácias de manipulação não possuíam até ha pouco
de prescrição dos médicos. tempo atrás, farmacêutico homeopata habilitado para preparar
É evidente que a publicidade de medicamentos define os medicamentos homeopáticos, colocando em risco o trata-
padrões de mercado e de comportamento das pessoas exercen- mento do paciente bem como de sua saúde. O farmacêutico
do impacto sobre as práticas terapêuticas. Os médicos neste alopata, muitas vezes se via obrigado a se responsabilizar pela
contexto, induzidos pela publicidade e benefícios de grandes manipulação de medicamentos homeopáticos sem o mínimo
laboratórios nem sempre prescreverão medicamentos que de preparo, por pressão do proprietário da farmácia de manipula-
fato são mais eficazes na terapia do paciente (BARROS, 1995; ção. Hoje já se tem um grande progresso com relação à
MANSFIELD, 1996). obrigatoriedade deste especialista no estabelecimento farma-
Um estudo feito por Barros(2000), comparou as infor- cêutico.
mações disponíveis no Dicionário de Especialidade Farmacêu- Também nos dias atuais é necessária a presença do far-
tica (DEF) para os produtos campeões de vendas, com aqueles macêutico em tempo integral, fato que há pouco tempo atrás
presentes no Physician´s Desk Reference (PDR) e no Drug não existia. Isto é de suma importância, uma vez que, além do
Information for the Haealth Care Professional (USP-DI), onde armazenamento, compras, treinamento de pessoal, controle de
se verificaram discrepâncias significativas no que diz respeito qualidade o farmacêutico está presente na dispensação de me-
às reações adversas, contra-indicações e interações. dicamentos garantindo assim a assistência integral ao paciente.
No DEF, não constavam mais freqüentemente, alusões Em relação às prescrições médicas ilegíveis, tal fato ocor-
aos efeitos adversos e mecanismos de ação, inexistiam em 50% ria com muito mais frequência em todos os setores de saúde
dos produtos avaliados. Considerando que quase todos os me- (público e privado). Atualmente esta situação está diminuída
dicamentos são fabricados pelas mesmas empresas com a presença do farmacêutico, pois o mesmo está presente
multinacionais, corrobora a idéia de que há um duplo padrão de desde a triagem desta prescrição tanto em hospitais como em
conduta dos fabricantes, conforme o país ou de acordo com farmácias e drogarias até a dispensação dos medicamentos ma-
exigência ou não de maior rigor na regulamentação existente nipulados, fracionados ou industrializados. Em todas as etapas
ou no grau de cumprimento efetivo da de produção, manipulação distribuição e fracionamento de me-
mesma(WADE;MCDONALD;MANSFIELD, 1989). dicamentos há obrigatoriedade da presença do farmacêutico
Com relação a este rigor, cabe citar que basta observar- garantida pela legislação, isto significa um grande progresso na
mos nas grandes redes de drogarias para verificarmos os gran- saúde coletiva e individual.
des cestos de medicamento dispostos próximo as caixas para Segundo Souza (2003), em relação aos alimentos funcio-
induzir a automedicação, dispostos na forma de “self-service” nais, também previstos na legislação, hoje são necessários os
(GARRAFA;PESSINI, 2003). Medicamentos não são merca- cumprimentos de algumas diretrizes para que o mesmo possa
dorias que possam ser oferecidas da mesma maneira que outros ser considerado funcional. Os alimentos funcionais se caracte-
bens e serviços, passíveis de regras do livre mercado. rizam por oferecer vários benefícios à saúde, além do valor
Na RDC 102/2000, regulamenta-se questões inerentes à nutritivo inerente à sua composição química, podendo desem-
propaganda tais como, tamanho e espaçamento das letras, com- penhar um papel potencialmente benéfico na redução do risco
posição do produto, precauções, posologia, etc. Tais questões de doenças como hipertensão, diabetes, câncer, osteoporose e
se referem à proteção da saúde dos indivíduos. A partir desta coronariopatias.
RDC 102/2000, vários mecanismos de publicidade enganosa
foram cerceados por grandes laboratórios multinacionais. A
verdade é que, estamos rodeados de um capitalismo que trans- Conclusão
cende valores éticos e morais da saúde pública, desta forma se
faz necessária a bioética da intervenção. Quando o cidadão com sua saúde debilitada procurar um
Assim a bioética da intervenção possui responsabilidade médico, é fundamental que o mesmo garanta um atendimento
social através de propostas efetivas para os direitos das classes adequado a fim de que o indivíduo possa recuperar sua saúde.
hipossuficientes, pelas dificuldades de acesso a saúde, pelo aban- Do mesmo modo, é direito do cidadão ao procurar com uma
dono social e pela manutenção do bem comum. receita médica os serviços de uma farmácia de manipulação,
que esta esteja dentro dos parâmetros da legislação sanitária, a
fim de subsidiar uma manipulação adequada do receituário

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médico, para então, garantir a recuperação e promoção da saú- pharmaceutical industry: what does the literature say? Canadian
de individual e comum. Medical Association Journal 1993; 149:1.
Embora seja considerável a evolução da legislação nos LYNCH, D, Muraccole MB, del Valle M, Giglio N,
últimos anos no contexto da saúde pública, esta ainda está lon- Benítez A. Encuesta sobre bioética en un Hospital de Pediatría.
ge do ideal no que se refere à sua aplicabilidade. Desde o Medicina (Buenos Aires) 2004;64:37-42.
surgimento da Agencia Nacional da Vigilância Sanitária em 1999 MANSFIELD P. Drug advertising affects your
a mesma intervém em questões que envolvem a proteção da prescribing. Australian Prescriber 1996; 19:103
saúde individual e coletiva e a prevenção de possíveis danos MORAES, FERNANDA P., Colla LUCIANE M., Alimen-
causados à saúde pública. Ao mesmo tempo, procura defender tos Funcionais e Nutracêuticos: Definições, legislação e bene-
interesses das classes hipossuficientes. Na medida em que tais fícios à Saúde. 2006, Revista Eletrônica de Farmácia, Vol. 3 (2)
ferramentas da bioética são aplicadas pelo poder de polícia que 109-122.
cabe a Vigilância Sanitária, a mesma visa garantir a diminuição SOUZA, P. H. M. ; Souza NETO, M. H.; Maia, G. A.
de riscos e danos causados na saúde comum. Componentes Funcionais nos Alimentos. Boletim da SBCTA.
Cabe ressaltar, que nos últimos anos a ANVISA vêm ten- V. 37, n. 2, p. 127-135, 2003.
tando adequar-se às necessidades da saúde pública, mas ainda STORPIRTIS, Silvia, Mori ANA LUIZA PEREIRA
encontra grandes dificuldades. Talvez uma explicação para es- MOREIRA, Yochiy ANGÉLICA, Ribeiro ELIANE, Porta VA-
tas dificuldades seja um número inadequado de especialistas LENTIA, Farmácia Clínica e Atenção Farmacêituca, 2007
para as auditorias que requerem treinamento e conhecimentos Guanabara Koogan, 161:169.
muito específicos e detalhados nas áreas que envolvem fiscali- SILVA, De Almeida ANGÉLICA, G. R. O ANA MARIA
zação de registros de alimentos com propriedades funcionais e e Dalgalarrondo PAULO, O olhar dos psiquiatras brasileiros
produção de medicamentos. sobre os fenômenos de transe e possessão, Almeida, A.A.S. et
Os primeiros passos já foram dados. Todo começo re- al. / Rev. Psiq. Clín. 34, supl 1; 34-41, 2007.
quer cuidado e precaução, agora é esperada a adequação, po- WADE VA, Mansfield PR, McDonald PJ. Drug companies
rém, essa espera resulta eventualmente em situações de impac- - evidence to justify advertising. Lancet 1989; II (8674):1.261-
to significativo em relação aos que necessitam de cuidado na 263. Disponível em; http://www.anvisa.gov.br/divulga/noticias/
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Prevalência dos Fatores de Risco para Incontinênia Urinária de


Esforço entre as Funcionárias do Centro Universitário do Pará
Prevalence of Risk Factors for Urinary Incontinence between the
employees of the Center of the University Pará

Fabiana Valente do Couto Sousa1, Kerolaynne Hestefany Barbosa da Silva1, Larissa Pompeu e Silva1,
Tereza Cristina dos Reis Ferreira2, Denise da Silva Pinto3

Resumo Abstract
Analisar a prevalência dos fatores de risco para Inconti- Analyze the prevalence of risk factors for urinary
nência Urinaria de Esforço em funcionárias do Centro univer- incontinence between at the University Center of Pará. Method:
sitário do Pará. Método: Estudo observacional composta por An observational study comprised 200 employees of CESUPA,
200 funcionárias do CESUPA, onde foram incluídas no estudo where employees will be included in the study aged 30 to 60
funcionárias na faixa etária de 30 a 60 anos e que estavam em years and they are in their respective sectors. It will be an
seus respectivos setores. Teve como critério de exclusão funci- exclusion criterion of less than 30 and more than 60 years and
onárias com menos de 30 e mais de 60 anos e que não estavam not in their areas of work at the time of visit. The collection
em seus setores de trabalho no momento da visita. A coleta ocor- occurred in May of 2009 by an individual questionnaire with
reu no mês de maio de 2009 por meio de um questionário indi- 38 closed and open questions, self fulfillment, non-identified,
vidual com questões fechadas e abertas, de auto preenchimen- applied to all collaborators of the sectors visited, present at the
to, não-identificado, aplicado em todas as colaboradoras dos time for data collection. Results: The characteristics of the
setores visitados, presente no momento marcado para a coleta variables related to urinary loss was observed that 57.6%
de dados. Resultados : as características das variáveis relacio- consider their health normal, 53.5% did not feel tired or worn
nadas à perda urinaria pôde ser observado que 57,6 % conside- on a daily basis, 69.7% have no pain in the bladder, 91, 9%
ra sua saúde normal, 53,5% não se sente desgastada ou cansada have no bladder problems, such as loss of urine, 20, 2% lost
no dia a dia, 69,7% não tem dor na bexiga, 91,9% não tem urine for weeks, 61, 9% said that the loss of urine does not
problema de bexiga, como perda de urina, 20, 2 % perde urina hinder their work, 71, 7% said that the loss of urine interferes
à semanas, 61, 9% diz que a perda de urina não atrapalha seu with their jobs home or call their daily activities outside the
trabalho, 71, 7% diz que a perda de urina atrapalha suas tarefas home such as shopping, take son to school, 70, 7% do not lose
de casa ou suas atividades diárias nominais fora de casa como: urine in physical activities such as walking, jogging, or doing
fazer compras, levar filho à escola, 70, 7% não perde urina em some sport 66, 7% do not lose urine when making small efforts
atividades físicas como: caminhar, correr, ou fazer algum es- such as coughing, sneezing, running, 73, 7% do not lose urine
porte 66, 7% não perde urina ao fazer pequenos esforços como: during intercourse, 65, 7% do not use some sort of protection
tossir, espirrar, correr, 73, 7%não perde urina durante a relação and hygienic: diapers, or absorbent lining to keep dry, 67, 7%
sexual, 65, 7% não usa algum tipo de protetor higiênico como: not get depressed when they lose urine, 75, 8% are not bad
fralda, forro ou absorvente para manter-se seca, 67, 7% não about themselves because of their bladder problems.
ficam deprimidas quando perdem urina, 75, 8% não ficam mal
consigo mesmas por causa do seu problema de bexiga. Key words:
Physical therapy; Incontinence; epidemiology.
Palavras-chave:
Fisioterapia; Incontinência; Epidemiologia.

devastador do que as conseqüências sobre a saúde, com múlti-


Introdução plos e abrangentes efeitos que influenciam as atividades diári-
A Incontinência Urinária (IU) tem trazido aflição e con- as, a interação social e a autopercepção do estado de saúde
dições de incapacidade as quais têm causado significativa (HIGA, 2004).
morbidade entre as mulheres. Entre 15 a 30% dos casos afeta a A IU é uma condição multifatorial que afeta mulheres e
vida social, ocupacional, doméstica, física e sexual das mulhe- homens em diferentes faixas etárias. Ao mesmo tempo em que
res de todas as idades. Seu efeito psicossocial pode ser mais é considerada pelos pacientes como uma condição normal do

1. Discente do Centro Universitário do Pará. Recebido: maio de 2009


2. Docente do CESUPA, Mestre em Saúde, Sociedade e endemias da Amazônia - UFAM/ Aceito: setembro de 2009
UFPA/FIOCRUZ. Autor para correspondência: Tereza Cristina dos Reis Ferreira
3. Docente do CESUPA, Mestre em Epidemiologia - U FSP, Estatutário da Fundação E-mail: terezareis@cesupa.br
Santa Casa de Misericórdia do Pará.

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processo de envelhecimento, muitas vezes também é negligen- vesical e/ou insuficiência esfincteriana (SOUZA, 2003).
ciada pelos profissionais da área da saúde. Essa condição cons- Fatores de riscos comumente citados na literatura para o
trangedora de perda involuntária de urina tem conseqüências desenvolvimento de IUE incluem idade avançada, raça branca,
avassaladoras na qualidade de vida das pessoas incontinentes, obesidade, partos vaginais, deficiência estrogênica, condições
causando muitas vezes marginalização do convívio social, frus- associadas a aumento da pressão intra-abdominal, tabagismo,
trações psicossociais e institucionalização precoce (SOUZA, doenças do colágeno, neuropatias e histerectomia prévia
2003). (GUARISI, 2001).
A perda de urina está altamente relacionada com os Neste contexto diversas evidências apontam que entre
prolapsos genitais e as várias condições clínicas severas, inclu- mulheres trabalhadoras há alteração na concentração e estresse
indo alterações neurológicas, dificuldades de locomoção, pro- emocional durante o expediente de trabalho e apresentar perda
blemas respiratórios, intestinais e patológicas do trato urinário involuntária de urina durante a jornada de trabalho, que pode
baixo (DIOKNO, 1995). vir a originar sentimentos como estresse, vergonha, irritação,
Outras causas de IU, nos adultos são dos nervos que con- constrangimento, incômodo e falta de concentração, fatores res-
trolam a bexiga urinária, perda da flexibilidade da bexiga, com ponsáveis por um impacto negativo no seu desempenho profis-
a idade, doenças ou irritação da bexiga ou uretra, dano ao sional (SILVA, 2005).
esfíncter externos da uretra ou certas substâncias. Comparados
com os não-fumantes, os fumantes correm duas vezes mais ris-
co de desenvolver Incontinência (TORTORA, 2000).
Metodologia
Diante disso, será realizado um estudo a fim de verificar Esta pesquisa foi realizada segundo os preceitos da de-
a prevalência dos fatores de risco para Incontinência Urinaria claração de Helsinque e do código de Nuremberg, respeitando
de Esforço em funcionárias do Centro universitário do Pará, as normas de pesquisa envolvendo seres humanos (Res. CNS
uma vez que é de especial importância ao profissional fisiotera- 196/96) do Conselho Nacional de Saúde, e teve início após o
peuta o conhecimento prévio de todos os fatores de risco envol- aceite das orientadoras, do aceite da responsável do setor admi-
vidos na gênese e manutenção da IUE, para que se possa inter- nistrativo do Centro Universitário do Pará, da aprovação do
vir diretamente e de forma preventiva nos cuidados relativos à projeto pelo Comitê de Ética e Pesquisa do CESUPA sob nú-
saúde da mulher. mero 020/2007, e do aceite das funcionárias estudadas por meio
da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido.
Referencial Teórico O estudo foi descritivo de corte transversal, tipo inqué-
rito institucional. A população do estudo foi composta por 200
A Sociedade Internacional de Continência, em recente funcionárias. Foram incluídas no estudo funcionárias do
publicação define incontinência urinária como sendo toda per- CESUPA na faixa etária de 30 a 60 anos e que estivessem nos
da involuntária de urina. A incontinência urinária de esforço, a seus setores de trabalho no momento da visita. Teve com crité-
sua forma mais comum, é toda perda de urina que ocorre em rio de exclusão as funcionárias com menos de 30 ou mais de 60
decorrência de algum esforço físico como, por exemplo, pular, anos de idade, que não estivessem nos seus setores de trabalho
correr, tossir. O efeito na qualidade de vida e o impacto social e no momento da visita; as professoras e as mulheres dos cargos
higiênico ainda devem ser mensurados, apesar de não fazerem de reitoria, pró-reitorias e coordenações.
parte do conceito. A coleta de dados foi realizada no mês de maio de 2009
Dentre as Incontinências Urinárias definiremos Inconti- no Centro Universitário do Pará, por meio de questionário indi-
nência Urinária de Urgência quando ocasionada pela perda vidual. Individualmente as autoras explicaram os objetivos da
involuntária de urina associada a um forte desejo miccional que pesquisa, bem com seus riscos e benefícios às individuas parti-
geralmente resulta da hiperatividade do músculo detrusor, a cipantes. Após a explicação àquelas que concordaram com os
Incontinência Urinária de Esforço (IUE) que é a forma mais termos da pesquisa, assinaram o termo de consentimento livre e
comum de queixa urinária entre as mulheres, e se dar pela per- esclarecido (TCLE).
da involuntária de urina durante manobras que aumentam a pres- Posteriormente, foi aplicado o questionário com questões
são intra-abdominal, reflete na hipermobilidade uretral, ou le- fechadas, de auto preenchimento, não-identificado, aplicado em
são esfincteriana intrínseca e a Incontinência Urinária Mista, todas as funcionarias dos setores visitados, presente no momento
que reflete componentes de Urgência e Incontinência de Esfor- marcado para a coleta de dados.
ço (ABRAMS et al., 1990). A análise dos dados foi realizada por metodologia quan-
Em condições normais o esfíncter da uretra é capaz de titativa, sendo que os mesmos foram digitados em um banco
impedir a saída de urina por ocasião de aumento acentuado e para execução análise estatístico. De acordo com a natureza
abrupto da pressão intra-abdominal, como em episódios de tos- das variáveis, foi realizada análise descritiva, sendo informa-
se, espirro ou riso forçado, na IUE ocorre uma perda involuntária dos os valores percentuais dos resultados, para todas as variá-
de urina quando a pressão vesical excede a pressão uretral má- veis avaliadas. O banco de dados, bem como as tabelas e os
xima, sem que o músculo detrusor tenha se contraído. Pode ser gráficos foram construídos no Microsoft EXCEL 2003.
um sintoma (quando a paciente nos relata) pode ser um sinal
(quando percebido ao exame físico) ou uma condição (quando
vem associado a um diagnóstico urodinâmico específico). O
Análise dos Resultados
fator determinante da IUE é a alteração do gradiente de pressão A população inicial era de 200 funcionárias do CESUPA,
entre a bexiga e a uretra. Essa mudança ocorre por falha no de todos os setores, porém devido os critérios de inclusão e
mecanismo esfincteriano extrínseco ou intrínseco da uretra. exclusão, e algumas mulheres por não concordarem em partici-
Assim, a IUE pode ser decorrente de hipermobilidade do colo par do estudo, a amostra foi de 99 funcionárias. A redução da

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amostra pode ter acontecido por vergonha, preconceito ou por de bexiga, como perda de urina, 20, 2 % perde urina à semanas,
desconhecimento dos tratamentos clínicos existentes, fato este 61, 9% diz que a perda de urina não atrapalha seu trabalho, 71,
que normalmente impede a realização do diagnóstico e trata- 7% diz que a perda de urina atrapalha suas tarefas de casa ou
mento precoce, prejudicando os desempenhos sexual, social e suas atividades diárias nominais fora de casa como: fazer com-
profissional, desta forma interferindo negativamente na quali- pras, levar filho à escola, 70, 7% não perde urina em atividades
dade de vida das mulheres trabalhadoras, que por vezes se en- físicas como: caminhar, correr, ou fazer algum esporte 66, 7%
contram na sua melhor fase de produtividade e desempenho não perde urina ao fazer pequenos esforços como: tossir, espir-
profissional. rar, correr, 73, 7%não perde urina durante a relação sexual, 65,
Quanto as características das variáveis relacionadas à ida- 7% não usa algum tipo de protetor higiênico como: fralda, for-
de, raça, etilismo e tabagismo perda urinaria pôde ser observa- ro ou absorvente para manter-se seca, 67, 7% não ficam depri-
do que 48 entrevistadas (48,5%) apresentavam idade entre 30 a midas quando perdem urina, 75, 8% não ficam mal consigo
40 anos, 54 eram pardas (54,5%), 48 funcionárias (48,5%) não mesmas por causa do seu problema de bexiga.
eram etilistas e 43 mulheres (43,5%) eram tabagistas.
Tabela 02 – Características das perdas urinarias das funcioná-
Tabela 01 – Variáveis de idade, raça, etilismo e tabagismo das rias do Centro Universitário do Pará (n= 99), Belém-PA, 2009
funcionárias do Centro Universitário do Pará (n= 99), Belém-
PA, 2009

A tabela 1 mostra que das 99 funcionárias que participa-


ram do estudo, 48 (48,5%) apresentavam idade entre 30 a 40
anos, este resultado mostrou estar de acordo com o de Simenova
et al (1999), com a população em geral, em que a incontinência
urinária por esforço foi maior em mulheres com menos de 50
anos.
Brown et al (1999) cita que as mulheres da raça branca
têm maior prevalência de IU quando comparadas com as da
raça negra, supõe-se que provavelmente existem determinantes
genéticos, diferenças na anatomia ou na resistência da uretra e
nas estruturas de suporte do assoalho pélvico que protegem as
mulheres negras da IU, no presente estudo foi constatado que a
prevalência de mulheres incontinentes, 54,5% eram pardas.
De acordo com o estudo de Bump (1992), o álcool pode
causar ou contribuir para incontinência urinaria, por irritar a
bexiga, porem no presente estudo foi constatado que 48 (48,5%)
não eram etilistas e o fumante freqüentemente apresenta tosse
mais violenta, causando efeito direto ou indireto na bexiga ou
na uretra podendo danificar os componentes e o mecanismo
esfincteriano da uretra propiciando a IU e piorando a freqüên-
cia e a intensidade da IU existente, neste estudo foi constatado
que 43 mulheres (43,5%) eram tabagistas.
Quanto as características das variáveis relacionadas à
perda urinaria pôde ser observado que 57,6 % considera sua
saúde normal, 53,5% não se sente desgastada ou cansada no dia A OMS define a saúde como um estado de completo bem-
a dia, 69,7% não tem dor na bexiga, 91,9% não tem problema estar faz com que a saúde seja algo ideal e inatingível, 57,6%

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das funcionárias participantes da pesquisa consideram sua saú-


de normal.
Referências Bibliográficas
Nas amostras analisada referente ao quesito avaliação sub- ABRAMS, P.et al. Standardization of terminology of
jetiva encontramos a saúde atual, em um universo de 99 funcio- lower urinary tract function. Br. J. Obstet. Gynecol, 97: 1-16,
nárias pesquisadas, 34,3% avaliaram como boa 57,6% avaliaram 1990.
como normal 2% definiram como ruim e 6,1% não respondeu a BUMP RC, Surgerman J, Fantl A, McClisch DK. Obesity
este quesito como mostra a Tabela 2. Nossos dados divergem um and lower urinary tract function in women: effect of surgically
pouco da literatura, que retrata que a saúde pode estar bastante induced weigth loss. Am J Obstet Gynecol 1992; 167(2):392-99.
comprometida pelo impacto de outros fatores, como idade, raça, BROWN JS. Prevalence of urinary incontinence and
condição sócio-econômica e a quantidade de perda urinária, tam- associated risk factors in postmenopausal women. Hert &
bém podem ser responsáveis pelas diferenças do comportamento Estrogen/Progestin Replacement Study (HERS) Research
pessoal frente à IU. Sendo possível afirmar que, em maior ou Group. Obstet Gynecol. 1999; (94): 66-70.
menor proporção, a IU e seus sintomas associados podem reper- DIOKNO, A.C. Epidemiologymand psychosocial aspects
cutir negativamente não só na saúde física, mas em aspectos emo- of incontinence. Urol. Clin. North Am. , 22:481, 1995.
cionais e psicológicos. FONSECA ESM, Camargo ALM, Castro RA, Sartori
Comparado com Fonseca et al (2005) que ao analisar os MGF, Fonseca MCM, Lima GR, et al. Validação do questioná-
parâmetros clínicos de seu questionário identificou diferentes rio de qualidade de vida (King’s Health Questionaire) em mu-
domínios que a urgência, juntamente com a incontinência urinária lheres brasileiras com incontinência urinária. Rev Bras Ginecol
de esforço, influenciou nas atividades diárias, limitações físicas, Obstet. 2005; 27(5):235-42.
limitação social, no sono e na disposição. Neste estudo se obser- GUARISI, T, et al. Incontinência urinária entre mulheres
vou que a maioria das mulheres pesquisadas relatou não sofrer climatéricas brasileiras: inquérito domiciliar, 2001. Campinas,
algum tipo de problema ou constrangimento com o fato de per- SP: Brasil, 28 Ver Saúde Pública 2001;35(5):428-35.
der urina aos pequenos, médios e grandes esforços como se cons- HIGA, R. Incontinência urinária: problema ocupacional
tata nas perguntas mostradas na Tabela 2. entre profissionais de enfermagem.Dissertação Campinas (SP):
Rett et al (2007) relatam que foi investigado isoladamente Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP; 2004.
o quanto alguns sintomas afetavam mulheres antes do tratamen- SILVA, Anderson P. M.; SANTOS, Vera Lúcia C. G.
to, no qual pôde ser observado que os sintomas mais comuns Prevalência da incontinência urinária em adultos e idosos hos-
como o aumento da freqüência urinária em 17 (65,4%), a noctúria pitalizados, 2005. São Paulo, SP, Brasil, Rev Esc Enferm USP
e a urgência miccional em 15 (57,7%). A incontinência durante a 2005; 39(1): 36-45.
relação sexual e dor na bexiga foram em menor proporção, afe- SIMEONOVA Z, et al. The prevalence of urinary
tando apenas oito (30,8%) mulheres. incontinence and its influence on the quality of life in women
form an urban Swedish population. Acta Obstet Gynecol Scand
Considerações Finais 1999;78:546-51.
SOUZA, C.E.L. Incontinência urinaria. 2003. Disponí-
No presente estudo foi analisada a prevalência dos fato- vel em: <http://www.saudeemmovimento.com.br/conteudos/
res de risco para Incontinência Urinária de Esforço entre as fun- conteudo_exibe1.asp?cod_noticia=1036>. Acesso em: 10 abr.
cionárias do Centro Universitário do Pará, onde participaram 2007.
da amostra 99 funcionárias. Entre as 101 que foram excluídas RETT, MT. et al. Qualidade de vida em mulheres após
enquadram-se as funcionárias que não se encontravam no setor tratamento da incontinência urinária de esforço com fisiotera-
no momento das visitas, que tinham menos de 30 ou mais de 60 pia- Rev. Bras. Ginecol. Obstet.vol.29no.3Rio de Janeiro Mar.2007
anos de idade, as professoras e as mulheres dos cargos de reito- TORTORA, G.J., Grabwsri, S.R. Princípios de anatomia e
ria, pró-reitoria e coordenações e as funcionárias que não con- fisiologia. 9º ed. Rio de Janeiro: GUANABARA KOOGAN S. A.,
cordaram em responder as perguntas. 2002. 864p.
Mesmo observando uma diferença significativa na mai-
oria dos resultados avaliados é importante ressaltar que o im-
pacto destes sintomas na vida de cada uma está intimamente
ligado à percepção individual que estas mulheres têm frente à
severidade. A desinformação das funcionárias sobre os trata-
mentos e cura da IU é um fator agravante da desvalorização dos
sintomas da IU, com conseqüente não procurar por ajuda médi-
ca que muitas vezes ocorrem também por vergonha, preconcei-
to ou por desconhecimento dos tratamentos clínicos existentes,
o que impede a realização do diagnóstico e tratamento precoce,
prejudicando os desempenhos sexual, social e profissional. Desta
forma interferindo negativamente na qualidade de vida das
mulheres trabalhadoras, que por vezes se encontram na sua
melhor fase de produtividade e desempenho profissional. De-
vido a isto novos estudos precisam ser realizados principalmente
no sentido de orientar a mulher sobre o que é a Incontinência
Urinária de Esforço, quais seus sintomas e tipos de tratamen-
tos.

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Avaliação e Intervenção Fisioterapêutica em um Posto de


Trabalho
Physioterapy Assesssment and Intervention in a Porker Position
Aline Martinelli Piccinini1, Pâmela Bilig Mello2 , Andressa Silva3, Daiane Müller Bem4,
Letícia Marangon5, Natalí Schwanke6, Luís Ulisses Signori7

Resumo Abstract
O objetivo desta pesquisa é avaliar um posto de trabalho The aim of this research was access a job and then
e posteriormente desenvolver estratégias que facilitem a exe- develops strategies that facilitate the execution of worker’s
cução da função do trabalhador. A justificativa está ligada à function. The reason is linked to the possibility of developing a
possibilidade de desenvolver uma análise crítica do processo critical analysis of the work process, risk of occupational
de trabalho, risco de doenças ocupacionais causadas pela fun- diseases caused by the function in question and the establishment
ção em questão e estabelecimento de estratégias preventivas of feasible preventive strategies to the case, in order to reduce
viáveis ao caso, de forma a diminuir os riscos inerentes à fun- the risks inherent in the function. We evaluated a supermarket
ção. O posto avaliado foi um caixa de supermercado. Utilizou- worker. We used the Rapid Upper Limb Assessment (RULA),
se a planilha RULA. Os resultados obtidos na função de caixa the results indicated a little cycle time, any movement represents
indicam um tempo de ciclo pequeno, qualquer movimento re- a risk factor and the activity is so repetitive. To reduce the factor
presenta um fator de risco e a atividade é altamente repetitiva. repetitiveness we suggest rotate between the jobs positions,
Para reduzir o fator repetitividade sugeriu-se rotatividade entre replacement of the manual optical reader of bar code for one
os trabalhadores; substituição do leitor óptico de código de fixed located in front of the worker, and among others. The
barras manual por um fixo que se localizasse em frente ao tra- final score found was 7 (that means investigate and changes
balhador, entre outros. O escore final encontrado foi 7 (investi- immediately) for the two upper limbs. The physiotherapist’s
gar e mudar imediatamente) em ambos os membros superiores. assistance in business benefits the employer and the employee,
A intervenção do fisioterapeuta nas empresas traz benefícios therefore, decreases the rate of repetitive stain injuery, also
ao empregador e ao empregado, pois a medida que diminui os reduces the company’s expenses and increases productivity by
índices de DORT diminui também os gastos da empresa e au- providing better quality of life to the employee.
menta a produtividade, proporcionando melhoria na qualidade
de vida do trabalhador. Key words:
Cumulative traumas disorders; occupational diseases; human
Palavras-chave: engineering; workers.
Transtornos traumáticos cumulativos; downças ocupacionais;
engenharia humana; trabalhadores.

osteomusculares. Atualmente, um dos principais problemas de


Introdução saúde enfrentados pelos trabalhadores, de acordo com o Minis-
A ergonomia objetiva modificar os sistemas de trabalho tério da Previdência e Assistência Social (INSS), são os Distúr-
para adequar a atividade nele existentes às características, ha- bios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT). Es-
bilidades e limitações das pessoas com vistas ao seu desempe- tas doenças têm relação direta com os esforços repetitivos com
nho eficiente, confortável e seguro (ABERGO, 2000). “É o es- os instrumentos e mobiliários inadequados, com as
tudo do relacionamento entre o ser humano e seu trabalho, equi- sobrecarregadas jornadas de trabalho, assim como com as pos-
pamento e ambiente, e particularmente a aplicação dos conhe- turas físicas incorretas e estresse.
cimentos de anatomia, fisiologia e psicologia na solução dos A lesão por esforço repetitivo (LER) é definida como uma
problemas surgidos desse relacionamento” (Ergonomics doença músculo-tendinosa dos membros superiores, ombros e
Research Society). O modo de vida moderno está cada vez mais pescoço, causada pela sobrecarga de um grupo muscular parti-
voltado ao enfrentamento de situações críticas para suprir as cular, devido ao uso repetitivo ou pela manutenção de posturas
suas necessidades, tais como alimentação, moradia, transporte, contraídas, que resultam em dor, fadiga e declínio do desempe-
ensino, saúde e a própria manutenção do emprego, todas elas nho profissional (COUTO et al., apud SIGNORI, 2003).
sabidamente, situações geradoras de estresse e lesões A necessidade de estabelecer uma relação entre causa e
1. Fisioterapeuta, mestranda em Ciência do Movimento Humano (UFRGS). Ciências da saúde e Pós-doutorado em Ciências da Saúde (Fundação
2. Fisioterapeuta, mestre em Fisiologia (UFRGS), doutoranda em Fisiologia (UFRGS) Universitária de Cardiologia).
3. Fisioterapeuta, Mestranda em Psicobiologia pela UNIFESP.
4. Fisioterapeuta, Mestre em Bioengenharia pela USP. Recebido: maio de 2009
5. Fisioterapeuta. Aceito: setembro de 2009
6. Fisioterapeuta, Pós-Graduada em Acupuntura Tradicional Chinesa pela Faculdade Autor para correspondência: Aline Martinelli Piccinini
CBES. E-mail: aaline-martinelli@hotmail.com
7. Fisioterapeuta, mestre em Engenharia de Produção pela UFRGS, Doutor em

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efeito caracteriza a LER como “doença do trabalho”, que é di-


ferente da doença profissional. Nas doenças relacionadas ao
Metodologia
trabalho, a evolução dos sintomas é progressiva, e se as condi-
O posto de trabalho
ções de trabalho se mantêm inalteradas, aparecem com freqüên-
cia novos sinais e sintomas. Isso se deve ao agravamento do Esta pesquisa trata-se de um estudo de caso. O posto de
quadro clínico que se estende a outros grupos musculares, de- trabalho escolhido para esta avaliação foi um caixa de um mer-
pendendo das atividades que o trabalhador exerce (OLIVEIRA cado da cidade de Cruz Alta - RS.
apud SIGNORI, 2003). Foi solicitado permissão do proprietário do estabeleci-
Os esforços mais intensos dos membros superiores po- mento e do trabalhador em questão através de termos de con-
dem ser acompanhados de lesões, no entanto essas lesões sentimento. Tais termos explicitavam o direito de se recusar a
podem ser revertidas por outros dois mecanismos: a recu- participar do estudo ou de se excluir do estudo por qualquer
peração e a prevenção. Os DORT/LER acontecem quando motivo, garantindo o sigilo e anonimato dos participantes.
a intensidade dos fatores que causam as lesões ultrapassa a Devido o fato do mercado ser de pequeno porte o caixa
velocidade de recuperação dos tecidos (COUTO el al., apud acumula também a função de empacotador. Porém foi conside-
SIGNORI, 2003). A prevenção reside no fato de estabele- rado somente a função de caixa, delimitando-se as seguintes
cer parâmetros fisiológicos apropriados para que o traba- ações técnicas:
lho não provoque lesões nos tecidos. Esta definição reafir- >> Pegar o produto (mão esquerda);
ma que o fundamental na prevenção das doenças >> Passar o código de barra no identificador (mão direi-
ocupacionais é determinar a tolerância de exposição aos ta);
fatores de risco (KEY apud SIGNORI, 2003). >> Largar o produto (mão esquerda).
Segundo Abrahão (2000) as novas tecnologias e seus O trabalhador passa o dia sentado em um banco fixo, o
impactos no trabalho humano têm sido abordados sob vári- monitor forma um ângulo de 90º com a mesa do caixa obrigan-
os ângulos, variando conforme as áreas do conhecimento e do-o a realizar rotação de tronco. Não há esteira para os produ-
a natureza da problemática analisada. A ergonomia tem sido tos deslizarem e a jornada de trabalho compreende 8 horas.
solicitada, cada vez mais, a atuar na análise de processos
de reestruturação produtiva, sobretudo, no que se refere às Avaliação do posto de trabalho
questões relacionadas à caracterização da atividade e à
inadequação dos postos de trabalho, em especial em situa- Segundo Abrahão et al. (2002) ao analisar a atividade,
ções de mudanças ou de introdução de novas tecnologias. consideram-se as características dos trabalhadores, os elemen-
Para Assunção (2003), na atualidade, criou-se um mo- tos do ambiente de trabalho e como estes são apresentados aos
vimento considerado processo de precarização do trabalho, operadores e percebidos por eles. A articulação desta interação
por implicar mudanças nas relações de trabalho, incluindo representa o resultado do trabalho. Nesta abordagem, o traba-
as condições de realização, e nas relações de emprego que lhador é o sujeito ativo do processo, pois a depender da situa-
apontam para maior instabilidade e insegurança para os tra- ção com a qual é confrontado, ele transforma permanentemente
balhadores. O processo em curso pode estar ocorrendo pela a sua atividade, como forma de responder às demandas que se
constatação de que, hoje, mais que em qualquer momento apresentam. A análise ergonômica do trabalho procura identifi-
do passado, é possível o crescimento econômico sem a am- car como o trabalhador constitui os problemas que tem de re-
pliação do número de empregos. Para alguns autores como solver em confronto com a situação real de trabalho (Wisner,
Castel (1997) apud Assunção (2003) tal evidência contri- 1990). A análise da atividade é um processo que compreende a
buiu para o acirramento das desigualdades sociais no final utilização de recursos instrumentais correntes das metodologias
do século 20, com importantes conseqüências nos ambien- de análise de trabalho, tendo como diferencial a análise em si-
tes de trabalho. tuação real, com o objetivo de identificar o que, como e porque
A caracterização da atividade é um elemento funda- do trabalho dos operadores.
mental para instrumentalizar o desempenho dos sistemas A avaliação do posto de trabalho foi feita através da
de produção, objetivando atingir um funcionamento está- Planilha RULA (do inglês Rapid Upper Limb Assessment) de
vel em quantidade e qualidade. A inadequação dos postos Acompanhamento do funcionário (CORNELL UNIVERSITY,
de trabalho, à população de trabalhadores, constitui um 1996), tal planilha é utilizada, normalmente, para identificar
problema social importante com reflexos nas questões de qual o posto de trabalho de uma empresa que necessita de inter-
requalificação, saúde e produtividade. Segundo Wisner venção mais urgente, apresentando um dos seguintes resulta-
(1987), um grande número de pessoas encontra-se rejeita- dos (escore final):
da pelo sistema produtivo ou situadas à sua margem em • 1 ou 2 = aceitável;
decorrência da reestruturação produtiva, que exige um novo • 3 ou 4 = investigar;
perfil do trabalhador. Vale ressaltar que esta reestruturação • 5 ou 6 = investigar e mudar logo;
nem sempre considera a variabilidade do trabalho e o tra- • 7 = investigar e mudar imediatamente.
balhador como o sujeito do processo de reestruturação pro-
dutiva (ABRAHÃO, 2000).
Este estudo apresenta como objetivo realizar uma ava- Resultados e Discussão
liação de um posto de trabalho e posteriormente desenvol-
Com utilização da planilha RULA para avaliação do pos-
ver estratégias que facilitem a execução da função do tra-
to de trabalho foi encontrado escore final 7 (investigar e mudar
balhador.
imediatamente) em ambos os membros superiores.
Assunção (2003) coloca que a organização do trabalho,

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ao atingir o indivíduo, modifica a sua maneira de enfrentar os Pode-se perceber a importância da avaliação ergonômica dos
riscos e traz efeitos sobre a saúde ainda não perfeitamente co- postos de trabalho para identificar os fatores de risco de doenças
nhecidos ou dimensionados. ocupacionais e propor ações que minimizem estes fatores.
O mesmo autor ressalta que as queixas de saúde são pouco A intervenção do fisioterapeuta nas empresas traz benefícios ao
apreendidas pelos serviços médicos das empresas, porque, muitas empregador e ao empregado, pois a medida que diminui os índices de
vezes, dizem respeito aos efeitos da corrida tecnológica e à falta de DORT diminui também os gastos da empresa e aumenta a sua produ-
tempo para dar conta das metas e dos prazos. De acordo com Sennett tividade. Além de proporcionar melhoria na qualidade de vida do tra-
(2001) apud Assunção (2003), flexibilidade é a capacidade de ce- balhador.
der e recuperar-se de uma árvore, principalmente dos seus galhos. Embora haja outros fatores que interferem na saúde do traba-
Mas as práticas de flexibilidade na produção parecem tentar lhador (individuais, psicológicos) a intervenção do fisioterapeuta pode
flexibilizar as capacidades dos trabalhadores até o ponto máximo, sim proporcionar uma grande melhora no processo de trabalho.
dobrando as pessoas, sem, no entanto, oferecer-lhes as chances Conclui-se, então que a Ergonomia é instrumento eficiente, mas
para recuperação ao estado inicial. deve ser aproveitada de forma ampla dentro da empresa. Através da
Considerando a função de caixa com as ações técnicas de- planilha RULA foi possível avaliar coerentemente os riscos inerentes
nominadas anteriormente o tempo de ciclo é bastante pequeno, em à função de caixa de supermercado nas circunstâncias descritas e pro-
torno de 1,5 segundos, sendo assim, qualquer movimento repre- por estratégias que minimizem tais riscos.
senta um fator de risco e a atividade é altamente repetitiva. O emprego da metodologias ergonômicas, na medida em que
Para reduzir o fator repetitividade sugere-se: auxilia na redução e na prevenção das diversas espécies de acidentes
>> Rotatividade à alternar funções entre os trabalhadores; ocupacionais, otimiza o trabalho, reduz riscos, diminui prejuízos
>> Substituição do leitor óptico de código de barras manual operacionais e técnicos, possibilita um melhor planejamento das tare-
por um fixo que se localize na frente do trabalhador para diminuir fas, e contribui na construção de um ambiente laboral mais ergonômico,
os movimentos de punho; além de proteger e de reduzir significativamente a vulnerabilidade ju-
>> Adaptação do caixa introduzindo uma esteira rolante di- rídica, como um todo, e, mais especificamente, a possibilidade de
minuindo assim os movimentos de ombro e o fator peso. responsabilização civil do empregador.
Também o trabalhador realiza muito o movimento de rota-
ção de tronco para visualizar o monitor. Para minimizar este fator
sugere-se:
Referências Bibliográficas
>> Substituição do banco por uma cadeira rotatória; SIGNORI, Luís U. Polígrafo da Disciplina de Ergonomia de
>> Ou, melhor, mudança da localização do monitor para a Processo. Cruz Alta, RS, 2003.
frente do trabalhador, acima do leitor óptico, não necessitando as- ABERGO (2000). Sistema Brasileiro de Certificação em
sim que ele realize a rotação de tronco. Ergonomia. Capturado da homepage www.abergo.org.br em 26 de
junho de 2008.
Conclusão ABRAHÃO, Júlia I. Reestruturação produtiva e variabilida-
de do trabalho: uma abordagem da Ergonomia. Psic.: Teor. e Pesq.
Segundo Abrahão et al. (2002) a Ergonomia é uma disciplina vol.16 no.1 Brasília Jan./Apr. 2000. Capturado em maio de 2004.
jovem, em evolução, e que vem reivindicando o status de ciência. A Disponível em www.scielo.com.br
definição desta disciplina, segundo Montmollin (1984), poderia ser ABRAHÃO, Júlia I. & PINHO, Diana. As transformações do
uma “ciência do trabalho” ou uma arte alimentada de métodos e de trabalho e os desafios teórico-metodológicos da Ergonomia. Estud.
conhecimentos resultantes da investigação científica, como afirma psicol. (Natal) vol.7 no.spe Natal 2002. Capturado em maio de 2004.
Wisner (1990). Portanto, não há unanimidade na definição de Disponível em www.scielo.com.br
Ergonomia, dificultando o estabelecimento de limites no seu campo ASSUNÇÃO, Ada A. Uma contribuição ao debate sobre as
de investigação. relações saúde e trabalho. Ciências da saúde coletiva vol.8 no.4 Rio
Ela busca dois objetivos fundamentais. De um lado, produzir de Janeiro 2003. Capturado em maio de 2004. Disponível em
conhecimento sobre trabalho, as condições e a relação do homem com www.scielo.com.br
o trabalho, por outro, formular conhecimentos, ferramentas e princípi- DANIELLOU, F. et al., Ergonomie de la productique:
os suscetíveis de orientar racionalmente a ação de transformação das Ergonomie et projets industriels; Cours B4, Laboratório de Ergonomia,
condições de trabalho, tendo como perspectiva melhorar a relação CNAM, Pari, 1988s.
homem-trabalho. A produção do conhecimento e a racionalização da ERHARDT, André Cavalcanti. Arealidade do Direito enquan-
ação constituem, portanto, o eixo principal da pesquisa ergonômica to problema definitório. Jus Navigandi, Teresina, a. 4, n. 43, jul. 2000.
(ABRAHÃO & PINHO, 1999). Acesso em: 09 jun. 2005.
Na prática, para produzir e formular conhecimentos a serem LANGA, P, Adaptation ou création de l’organization du travail
utilizados para a análise e a transformação das situações reais de traba- lors d’un transfert de technologie: analyse ergonomique du travail
lho (ou para melhorar a relação entre o homem e o trabalho), a de l’encadrement et conception de l’organisation du travail. Tese de
Ergonomia incorpora, na base do seu arcabouço teórico, um conjunto D.Sc. em Ergonomia, Laboratório de Ergonomia do CNAM, Paris,
de conhecimentos científicos oriundos de várias áreas (Antropometria, 1993.
Fisiologia, Psicologia e Sociologia, entre outras) e os aplica com vistas MORAES, Anamaria de; MONT‘ALVÃO, Claudia.
às transformações do trabalho. Consideram como critério de avalia- Ergonomia: Conceitos e aplicações. Rio de Janeiro, 2AB editora,
ção do trabalho, três eixos: 1) a segurança; 2) a eficiência; e 3) o bem 2003.
estar dos trabalhadores nas situações de trabalho. Portanto, a Ergonomia
busca estabelecer uma articulação entre eles visando uma solução de
compromisso nas suas propostas (ABRAHÃO et al., 2002).

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Influência do Treinamento de Força Muscular na Flexibilidade de


Alunos de uma Academia de Ginástica de Muriaé-MG
Influence of Strength Training on Muscle Flexibility of Students of a
Gymnasium for Muriaé-MG
Pedro Henrique Silva1, Natanael Teixeira Alves de Souza1, Valdinei Muniz2,
Diego Scalla Gonçalves Dutra3

Resumo Abstract
O treinamento de força muscular possui a finalidade de The muscular strength training has the purpose of
desenvolver importantes qualidades de aptidão, constituindo developing important qualities of fitness, providing an excellent
uma excelente forma de preparação física. A Flexibilidade é a form of fitness. Flexibility is the physical capacity responsible
capacidade física responsável pela execução de um movimento for the execution of a movement to maximum angular amplitu-
de amplitude angular máxima por uma articulação ou conjunto de by a joint or set of joints, within physiological limits. This
de articulações, dentro dos limites fisiológicos. Este estudo teve study aimed to examine whether the muscular strength training
como objetivo analisar se o treinamento de força muscular in- affects the degree of flexibility to students who perform weight
flui no grau de flexibilidade de alunos que realizam musculação training in a gym for Muriaé MG. The sample consisted of 17
em uma academia de ginástica de Muriaé MG. A amostra foi males, aged between 18 to 28 years who wanted to start a
constituída de 17 indivíduos do sexo masculino, com idade en- physical activity gym. The subjects performed the test of
tre 18 a 28 anos que pleiteavam o inicio de atividades físicas flexibility on the Well (BW). The BW is a tool used in physical
uma academia de ginástica. Os indivíduos realizaram o teste de assessment as a test of flexibility to measure the extent of the
flexibilidade no banco de Wells (BW). O BW é um instrumento flexibility of the back of the trunk and thighs. After the evaluation
usado na avaliação física como um teste de flexibilidade para conducted by the researchers, was instituted a form of exercise.
medir a amplitude da flexibilidade da parte posterior do tronco The training lasted 12 weeks with reassessment at the end of
e coxas. Após a avaliação realizada pelos pesquisadores, foi last week. As a result after the analysis of data obtained in the
instituída uma ficha de exercícios. O treino durou 12 semanas evaluation and reevaluation of students could observe that
com reavaliação no final da ultima semana. Como resultado 82.35% of the sample obtained an increase of flexibility in 1 2
após a análise dos dados obtidos na avaliação e reavaliação dos and 3 cm, respectively 35.29%, 29.41% and 17.65%. Other
alunos pudemos observar que 82.35% da amostra obteve um students (17.65%) had a loss of flexibility in 1 cm. Training of
aumento de flexibilidade em 1 2 e 3 cm, respectivamente muscle strength showed positive influence on the degree of
35.29%, 29.41% e 17.65%. Os demais alunos (17.65%) tive- flexibility assessed by using sit and reach the majority of the
ram uma diminuição da flexibilidade em 1 cm. O treinamento sample.
de força muscular mostrou interferir positivamente no grau de
flexibilidade avaliado pelo teste de sentar e alcançar na maioria Keywords:
da amostra. Training; Flexibility; strength.

Palavras-chave:
Treinamento; Flexibilidade; Força.

cardiovasculares e ao diabetes mellitus, prevenção e tratamen-


Introdução to da osteoporose, redução ou manutenção da massa corporal;
Níveis adequados de força muscular e flexibilidade são melhoria da estabilidade dinâmica e preservação da capacida-
fundamentais para o bom funcionamento músculo-esquelético, de funcional (A.C.S.M., 2002).
contribuindo para a preservação de músculos e articulações O treinamento de força muscular pode ser realizado de
saudáveis ao longo da vida (ALTER, 1999). Esse fato é plena- várias formas, desde um treinamento com peso a exercícios
mente justificável com base nas inúmeras informações positi- pliométricos ou até mesmo uma corrida em aclive, possui a fi-
vas relacionadas a esse tipo de exercício físico que vêm sendo nalidade de desenvolver importantes qualidades de aptidão,
disponibilizadas pela literatura ao longo dos últimos anos, tais constituindo uma excelente forma de preparação física, devido
como: redução dos fatores de risco associados a doenças a sua facilidade de adaptação a condição física do indivíduo,

1. Acadêmico do Curso de Fisioterapia. Recebido: maio de 2009


Aceito: setembro de 2009
2. Educador Físico. Autor para correspondência: Pedro Henrique Silva
E-mail: pdroh_silva@hotmail.com
3. Professor da Faculdade de Minas - Muriaé-MG

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melhorando a composição corporal resistência muscular, capa- enfatizaremos apenas o teste de flexibilidade no banco de Wells
cidade funcional, flexibilidade entre outros (ARAUJO, 2000). (BW).
Para o aumento de massa muscular o corpo necessita ser O BW é um instrumento usado na avaliação física como
exposto a séries múltiplas e um volume treinamento adequado um teste de flexibilidade para medir a amplitude da flexibilida-
em uma sessão de treinamento (KRAEMER; HAKKINEN, de da parte posterior do tronco e coxas, o resultado é obtido de
2002). Tesch, (2000) indica a utilização de dois até cinco exer- acordo com a pontuação atingida na régua. O BW utilizado em
cícios para o mesmo grupamento muscular. Os resultados pro- nossa pesquisa foi o da marca Terrazul, mede 35 cm de altura e
venientes do treinamento resistido vêm exclusivamente nos seg- largura; 40 cm de comprimento, com régua padrão de 15 cm na
mentos trabalhados e quando se utiliza principalmente os mo- ponta. Após a avaliação realizada pelos pesquisadores, foi ins-
vimentos em sua total amplitude, com ritmo lento ou moderado tituída uma ficha de exercícios que se dividia em 2 tipos (ficha1
e com respiração continuada (POLLOCK et al., 1998). Os di- e ficha 2) correspondendo ao treino do grupo muscular antago-
versos equipamentos e aparatos utilizados na musculação, a nista ao dia seguinte. Na ficha 1 os exercícios realizados foram:
grande variedade de exercícios especiais e métodos, permitem voador frente, supino reto, tríceps puley e hack, leg press e ca-
mudar substancialmente os programas de treinamento deira extensora Na ficha 2: puxador alto frente, remada máqui-
(PLATONOV, 2004). na, bíceps direto, mesa flexora, stiff, panturrilha máquina. Os
A Flexibilidade é a capacidade física responsável pela exercícios eram realizados em baixa velocidade, em 3 séries de
execução de um movimento de amplitude angular máxima por 10 a 12 repetições com intervalo de 1 minuto. Antes do inicio
uma articulação ou conjunto de articulações, dentro dos limites dos treinamentos os indivíduos avaliados eram sujeitos a um
fisiológicos, determinando a mobilidade total dos indivíduos, aquecimento de 12 a 15 minutos na esteira ergométrica. O trei-
além de promover agilidade, melhora a capacidade mecânica no durou 12 semanas com reavaliação no final da ultima sema-
dos músculos e articulações permitindo o aproveitamento eco- na, os treinos eram realizados 4 dias por semana tendo a quarta-
nômico de energia durante o esforço e prevenção de lesões feira, o sábado e domingo para descanso.
(DANTAS, 1999). O termo flexibilidade é freqüentemente uti-
lizado como forma de inferir o comprimento muscular (BANDY;
IRION, 1994). Apesar de a excursão máxima do músculo nor-
Resultados e Discussão
malmente não ser necessária em atividades de vida diária Após a análise dos resultados encontrados na avaliação e
(SINGER et. al. 2003), perdas significativas dessa propriedade reavaliação do teste de sentar e alcançar no banco de Wells pu-
podem comprometer a execução adequada do movimento demos observar que, 82.35% da amostra obtiveram um aumen-
(GAJDOSIK, 2001). Embora alguns autores tenham sugerido to de flexibilidade. Sendo que 35.29% destes obtiveram um
que a redução da flexibilidade estaria associada à maior fre- aumento na flexibilidade em 1 cm, enquanto que 29.41% au-
qüência de lesões músculo-esqueléticas (HARTIG, 1999), não mentaram em 2 cm e 17.65% chegaram a 3 cm de aumento na
está comprovado que o ganho de flexibilidade tem influência flexibilidade de tronco. Os demais alunos (17.65%) tiveram uma
na prevenção dessas lesões (THACKER, 2004). diminuição da flexibilidade em 1 cm.
A proliferação de tecido conjuntivo que acompanha a Fatouros et al. (2002), em um estudo semelhante, com
hipertrofia muscular, mesmo quando obtida com exercícios par- amostra dotada por oito sujeitos idosos submetidos a treina-
ciais, aumenta a elasticidade do músculo esquelético. Os exer- mento com peso por 16 semanas apresentaram aumentos
cícios com pesos forçam os limites das amplitudes das articula- significantes (P < 0,05) na amplitude dos movimentos de flexão
ções, o que em conjunto com o aumento de tecido conjuntivo, do joelho (9 graus); flexão do cotovelo (9 graus); flexão e ex-
explica os efeitos estimulantes desses exercícios sobre a flexi- tensão do ombro (18 e 15 graus, respectivamente); flexão e ex-
bilidade (FERREIRA, 1999). tensão do quadril (9 e 6 graus, respectivamente). Os resultados
O presente estudo tem como objetivo analisar a influên- obtidos por Thrash; Kelly, (1987) que após submeterem 13 ho-
cia do treinamento de força muscular no grau de flexibilidade mens (18 a 41 anos) a 11 semanas de treinamento com peso (8
dos indivíduos de uma academia de ginástica de Muriaé MG. exercícios realizados em 3 séries de 8 repetições, 3 vezes por
semana, em dias alternados), verificaram aumentos, em valores
Metodologia absolutos, nos movimentos de dorsiflexão e flexão plantar do
tornozelo, flexão e extensão do tronco e flexão e extensão dos
A amostra foi constituída por 17 indivíduos que pleitea- ombros. Foi visto que mediante o estímulo oferecido ao longo
vam o inicio de atividades físicas em uma academia de ginásti- de 10 semanas de treinamento com peso, os sujeitos inicial-
ca do município de Muriaé – MG. Como critérios iniciais de mente classificados como sedentários, conseguiram preservar
inclusão, os participantes deveriam ser sedentários, bem como ou até mesmo, melhorar os níveis de flexibilidade em todas as
não ter participado regularmente de nenhum programa de exer- cinco articulações analisadas (CYRINO et al., 2004). No pre-
cícios físicos ao longo dos últimos seis meses precedentes ao sente estudo com protocolo de treinamento de força com 12
início do treino. Além disso, cada participante respondeu ante- semanas de duração, e, indivíduos sedentários com idade de 18
riormente ao início do estudo, a um questionário sobre o histó- a 28 anos tivemos resultados positivos com aumento da ampli-
rico de saúde e nenhuma disfunção cardio-pulmonares ou mús- tude de movimento de flexão de tronco.
culo-esquelética foi relatada. Todos os indivíduos eram do sexo Embora existam pesquisadores que defendam a realiza-
masculino, com idade entre 18 a 28 anos, objetivando a ção de aquecimento anteriormente ao início da prática de exer-
hipertrofia muscular. cícios de diferentes naturezas (CHURCH, et al., 2001; FOSS ;
Os indivíduos foram primeiramente sujeitos a uma avali- KETEYIAN, 2000) os prováveis benefícios dessa atividade
ação completa, composta por teste de VO2 máximo, perimetria, como elevação da temperatura do músculo, aumento dos im-
adipometria, coleta dos sinais vitais, sendo que neste estudo pulsos nervosos, redução da rigidez muscular e articular, dimi-

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Rev. Brás. Med. Esporte. Vol. 10, Nº 4, Jul/Ago, 2004.


nuição da viscosidade do músculo, prevenção de lesões, são DANTAS, E. Flexibilidade: alongamento e flexionamento.;
ainda bastante controversos, na perspectiva de melhoria do de- Rio de Janeiro: Shape; 1999.
sempenho físico, podendo contribuir ou não, de acordo com a FATOUROS, I. G.; TAXILDARIS, K.; et al. The effects
tarefa motora a ser executada. Acrescenta-se a isso que para a of strength training, cardiovascular training and their
realização de aquecimento considerado adequado seria neces- combination on flexibility of inactive older adults. Int J Sports
sária uma combinação entre atividades com características ge- Med; 23:112-9, 2002.
rais e específicas (HEDRICK, 1992). No presente estudo pro- FERREIRA, J. M. A. Hipertrofia e seus efeitos sobre o
gramamos 15 minutos de aquecimento em esteira ergométrica rendimento da flexibilidade, 1999.
antes do treinamento, por se tratar de atividade aeróbica, exi- FLECK, S. J.; KRAEMER W. J. Fundamentos do treina-
gindo do indivíduo movimento em todas as articulações do cor- mento de força muscular. 2ª Edição, Porto Alegre, Ed. Artmed,
po e aumento da freqüência cardíaca consecutivamente aumen- 1999.
to do aporte sanguíneo, varredura de catabólitos e nutrição do FOSS, M. L.; KETEYIAN, S. J. Bases Fisiológicas do Exer-
tecido muscular. cício e do Esporte. 6ª ed. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan,
O protocolo para o treinamento de força estabelecido nesse 2000.
estudo optou por realizar exercícios utilizando o máximo da GAJDOSIK, R.L. Passive extensibility of skeletal muscle:
amplitude de movimento, visto que, de acordo com Fleck (1999), review of the literature with clinical implications. Clin Biomech.
para desenvolver força em toda amplitude de movimento de 16(2):87-101, 2001.
uma articulação, o treinamento deve ser realizado também em HARTIG, D. E.; HENDERSON, J. M. Increasing
toda a amplitude do movimento da articulação. hamstring flexibility decreases lower extremity overuse injuri-
Apesar de não estar estabelecido o mecanismo pelo qual es in military basic trainees. Am J Sports Med. 27(2): 173-6, 1999.
a flexibilidade contribui na prevenção de lesões, alguns estudos HURLEY, B. Strength training in the elderly to enhance
têm apontado a diminuição da flexibilidade como fator de risco health status. Medicine , Exercise, Nutrition and Health, 4:217-
para patologias degenerativas, como a lombalgia (JONES et 29, 1995.
al., 2005). Hurley (1995), não constatou que o treinamento com HEDRICK, A. Physiological responses to warm-up. Natl
peso desenvolvesse a flexibilidade, porém não afirmou tam- Strength Cond Assoc. J.14:25-7, 1992.
bém que ela fosse prejudicada, indicando assim um trabalho JONES, M. A.; STRATTON G.; REILLY, T.;
simultâneo dessas duas aptidões. UNNITHAN, V. B. Biological risk indicators for recurrent non-
specific low back pain in adolescents. Br J Sports Med. 39(3):137-
140, 2005.
Conclusão KRAEMER, W. J.; HAKKINEN, K. Treinamento de força
O programa de treinamento de força muscular emprega- para o esporte. Porto Alegre: Artmed, 2002.
do neste estudo mostrou interferir positivamente na maioria da PLATONOV, V. N. Teoria Geral do Treinamento
amostra, indicando um aumento nos valores de flexibilidade Desportivo Olímpico. São Paulo: Artmed, 2004.
avaliados pelo teste de sentar e alcançar do banco de Wells, SINGER B. J.; JEGASOTHY G. M.; SINGER K. P.;
quando comparamos a segunda avaliação no termino do treino ALLISON G. T. Evaluation of serial casting to correct
com a primeira realizada no inicio. Reconhecemos ainda a ne- equinovarus deformity of the ankle after acquired brain injury
cessidade de estudos com amostra mais representativa, longos in adults. Arch Phys Med Rehabil. 84(4):483-91, 2003.
períodos de testes, com indivíduos de ambos os sexos, níveis TESCH, P. A. Musculação: Estética, Preventiva, Corretiva
de aptidão física diferenciada e aplicação de outros testes para e Terapêutica. Tradução de: Maurício de Arruda Campos. Rio
avaliarmos com maior precisão a magnitude desta interferên- de Janeiro: Revinter, 2000.
cia. THACKER, S.B.; GILCHRIST, J.; STROUP, D.F.;
KIMSEY, C.D.J. The impact of stretching on sports injury risk:
a systematic review of the literature. Med Sci Sports Exerc.
Referências Bibliográficas 36(3):371-8, 2004.
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gre: Artes Médicas, 1999. adults. Medicine and Science in Sports and Exercise, v.30, n.6,
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stretch on the flexibility of the hamstring muscles. Phys Ther.
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CHURCH, J. B.; WIGGINS, M. S.; MOODLE, F.M.;
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tical jump performance. J Strength Cond Res. 15:332-6, 2001.
CYRINO, E. S.; OLIVEIRA, A. R. et al. Comportamen-
to da flexibilidade após 10 semanas de treinamento com pesos.

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Análise da Capacitade Funcional do Paciente Geriátrico


Institucionalizado por Meio da Escala de Barthel
Analysis of the Functional Capacity of the Elderly Patients
Institutionalized they had used it Barthel’s Scale
Jurailton Calixto da Silva1, Joyce Maria Alves2, Samantha Christina Souza Lisboa2

Resumo Abstract
Verificar a capacidade do idoso de executar atividades To verify older capacity to execute activities that allow it
que lhe permitem cuidar de si próprio foi o principal objetivo to take care of itself was the main objective of this study. The
deste estudo. Foi utilizada a Escala de Barthel para avaliar a Barthel´s scale was used to evaluate functional capacity of the
capacidade funcional dos idosos onde foram analisadas em dez aged ones where they had been analyzed in ten activities of
itens de atividades de vida diária (AVD’s), incluindo mobilida- daily life (ADL), including personal mobility and cares,
de e cuidados pessoais, como alimentação e banho. A pesquisa example, feeding and bath. The research was done in an asylum
foi realizada em um asilo no município de São Caetano do Sul, in the city of São Caetano do Sul, in 29 aged of both sex that
em 29 idosos de ambos os sexos que realizam Fisioterapia, com carry through physiotherapy, with ages between 61 and 104
idades entre 61 a 104 anos, sendo 10 homens e 19 mulheres. A years, 10 men and 19 women. The analysis of the gotten data
análise dos dados obtidos foi feita através da transformação das was made through the transformation of the answers in absolute
respostas em freqüências absolutas e respectivas porcentagens. frequencies and respective percentages. In case that the absolute
Caso as freqüências absolutas apresentassem diferença que o frequencies presented difference that common-sense would
bom senso rejeitaria como provenientes do mero acaso, teriam perhaps reject as proceeding from the mere one, they would
sido feitos testes estatísticos de aderência (Q2). O estudo indi- have been made statistical tests of tack (Q2). The study indicated
cou que 48,2% dos idosos necessitam de supervisão ou assis- that 48.2% of the aged ones need supervision or assistance for
tência para a maioria das atividades de vida diária (AVD) e the majority ADL and 51.8% present maximum degree of
51,8% apresentam grau máximo de independência. Os dados independence. The gotten data had disclosed one high index of
obtidos revelaram um alto índice de dependência funcional do institutionalized functional dependence of the aged one,
idoso institucionalizado, confirmando estudos anteriores que confirming previous studies that point a reduction of the
apontam uma diminuição da capacidade funcional de idosos functional capacity of aged in institution of long permanence.
em instituição de longa permanência.
Key words:
Palavras-chave: Activities of daily living; Elderly; Geriatric assessment.
Atividades cotidianas; idoso; envelhecimento; avaliação geriá-
trica.

Introdução de idosos ultrapassa os 15 milhões de brasileiros (para uma


população total de cerca de 170 milhões de habitantes), que em
À semelhança dos diversos países do mundo, o Brasil está 20 anos serão 32 milhões (VERAS, 2002).
envelhecendo rapidamente. Considerada como aqueles indiví- A expectativa de vida tem crescido nos últimos anos e
duos com mais de 60 anos, a população idosa, compõe hoje o com isso surge a preocupação de promover um envelhecimento
segmento populacional que mais cresce em termos proporcio- saudável e de manter a capacidade funcional máxima do idoso
nais. As alterações na dinâmica populacional são claras, (CALKINS et al., 1997).
inexoráveis e irreversíveis. No início do século 20, um brasilei- A senescência promove uma redução das reservas de vá-
ro vivia em média 33 anos, ao passo que hoje a expectativa de rios sistemas orgânicos, sobretudo do sistema nervoso central
vida dos brasileiros atinge os 68 anos (RAMOS, 1993). (SNC), do sistema circulatório, do sistema gastrintestinal e do
Entre 1960 e 1980, observou-se no Brasil uma queda de sistema hematopoiético. Esses sistemas ficam mais vulneráveis,
33% na fecundidade (VERAS, 2001). A diminuição no ritmo tornando os idosos mais suscetíveis ao aparecimento de doen-
de nascimento resulta, em médio prazo, no incremento propor- ças e aos efeitos colaterais dos agentes farmacológicos
cional da população idosa. Nesse mesmo período de 20 anos, a comumente utilizados. Além disso, o comprometimento da fun-
expectativa de vida aumentou em oito anos. Hoje, a população ção neuromuscular e articular, evidenciado pela perda de força

1. Fisioterapeuta, Professor do Departamento de Fisioterapia da Universidade do Recebido: maio de 2009


Grande ABC - UniABC Aceito: setembro de 2009
Autor para correspondência: Jurailton Calixto da Silva
2. Acadêmicas da disciplina Prática de Fisioterapia Supervisionada em Geriatria e E-mail: jurailton@uol.com.br
Gerontologia,do VIII semestre do curso de Fisioterapia da Universidade do Grande
ABC- UniABC

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muscular e pela perda da amplitude de movimento, geram limi- lação foi constituída por todos os idosos institucionalizados de
tações funcionais que dificultam a execução das atividades de um abrigo situado na região do Grande ABC, atendidos pela
vida diária (AVD), como caminhar, levantar-se, manter o equi- Fisioterapia após a aplicação de teste de capacidade mental -
líbrio postural e prevenir-se contra quedas iminentes Mini Exame do estado Mental – MEEM O MEEM foi projeta-
(KAUFFMAN et al., 2001). do para ser uma avaliação clínica prática de mudança do estado
Uma avaliação geriátrica eficiente e completa, a custos cognitivo em pacientes geriátricos, examina orientação tempo-
razoáveis, torna-se cada vez mais premente. Seus objetivos são ral e espacial, memória de curto prazo (imediata ou atenção) e
o diagnóstico precoce de problemas de saúde e a orientação de evocação, cálculo, praxia, e habilidades de linguagem e viso-
serviços de apoio onde e quando forem necessários, com o fim espaciais.
de manter as pessoas nos seus lares. A história, o exame físico e A presente pesquisa foi apresentada ao Comitê de Ética
o diagnóstico diferencial tradicionais não são suficientes para da Uniabc com aprovação em 4 de junho de 2008, Nº. do pro-
um levantamento extenso das diversas funções necessárias à cesso 102/08.
vida diária do indivíduo idoso. A prática clínica geriátrica deve Os sujeitos foram convidados a participar da pesquisa,
se preocupada com a qualidade de vida, conter também uma salientando o seu direito de deixar de participar a qualquer
ampla avaliação funcional em busca de perdas possíveis destas momento, sem prejuízos ao seu atendimento e com absoluto
funções (CARVALHO-FILHO e PAPALÉO-NETTO, 2000). sigilo de seus dados pessoais. Aqueles que aceitaram participar
A estrutura e os componentes da avaliação geriátrica va- do estudo assinaram o termo de consentimento livre e esclare-
riam muito dependendo da equipe e do local onde ela é realiza- cido. As informações foram colhidas, através de entrevista di-
da, se em hospital, instituição de longa permanência, pronto- reta, face a face com idosos. Os dados foram coletados através
socorro ou ambulatório. No entanto, apesar da diversidade, ela de um instrumento de medida fundamentado na Escala de Barthel
tem características próprias e constantes como o fato de ser sem- para avaliação funcional do idoso, o qual permite uma ampla
pre multidimensional e utilizar instrumentos (escalas e testes) graduação por pontos, entre máxima dependência (0 pontos) e
para quantificar a capacidade funcional e avaliar parâmetros máxima independência (100 pontos) considerando a pontuação
psicológicos e sociais. E mais, a avaliação sempre resulta em abaixo de setenta (70 pontos) dependente. O questionário foi
uma intervenção, seja ela de reabilitação, de aconselhamento aplicado pelo pesquisador com a participação de dois acadêmi-
ou internação (RUBESTEIN & RUBESTEIN, 1980). cos do sétimo semestre do curso de fisioterapia, após treina-
Existem inúmeras escalas que servem para quantificação mento realizado no mês de agosto de 2008.
da capacidade para executar as Atividades da Vida Diária (AVD) A análise dos dados obtidos foi feita através da transfor-
e as Atividades Instrumentais da Vida Diária (AIVD), muitas mação das respostas em freqüências absolutas e respectivas
delas validadas no Brasil, porém com limitações principalmen- porcentagens. Caso as freqüências absolutas apresentassem di-
te no que se refere à sua especificidade. ferença que o bom senso rejeitaria como provenientes do mero
A utilização destes instrumentos de avaliação tem impor- acaso, teriam sido feitos testes estatísticos de aderência (Q2).
tantes implicações na qualidade de vida dos idosos, uma vez
que possibilita ações preventivas, assistenciais e de reabilita- Resultados e Discussão
ção. Estas ações contribuem para um processo de envelheci-
mento com maior expectativa de vida saudável e uma tentativa O presente estudo procurou verificar a capacidade do ido-
de recuperação ou manutenção da capacidade funcional (ROSA so de executar atividade que lhe permitem cuidar de se próprio.
et al., 2003). A pesquisa foi realizada em um asilo da região do Grande ABC,
A Capacidade Funcional é definida como a capacidade com 29 idosos de ambos os sexos que realizam Fisioterapia,
do idoso para executar atividades que lhe permitem cuidar de si com idades variando entre 61 a 104 anos, dos quais 10 eram do
próprio e viver independentemente em seu meio. É medida por sexo masculino e 19 do sexo feminino.
meio de instrumentos que avaliam a capacidade do paciente De acordo com a escala de Barthel para avaliação da ati-
para executar as Atividades da Vida Diária (AVD) e Atividades vidade funcional do idoso, o estudo revelou que 48,2% dos ido-
Instrumentais da vida Diária (AIVD). (COSTA et al., 2001) sos pesquisados necessitam de supervisão ou assistência para a
Neste estudo avaliamos a Atividade da Vida Diária, sen- maioria das atividades de vida diária (AVD) e 51,8% apresen-
do utilizado como instrumento de avaliação a Escala de Barthel tam grau máximo de independência. Os dados obtidos revela-
que permite uma ampla graduação entre máxima dependência ram um alto índice de dependência funcional do idoso
(0 pontos) e máxima independência (100 pontos). Os pacientes institucionalizado, confirmando estudos anteriores que apon-
com pontuação abaixo de 70 necessitam de supervisão ou as- tam uma diminuição da capacidade funcional de idosos em ins-
sistência para a maioria das atividades. (MAHONEY & tituição de longa permanência.
BARTHEL, 1965) Cada atividade pode ser analisada individualmente pela
Como objetivo geral busca-se verificar a capacidade fun- escala de Barthel. Através da Tabela 1 referente à atividade ali-
cional da população geriátrica institucionalizada no Abrigo Irmã mentação, 56,40% necessitam de ajuda para cortar carne,
Tereza a Velhice Desamparada que realizam Fisioterapia. Quanto 25,30% são independentes, manuseiam talheres e comem em
ao objetivo específico, verificar a capacidade do idoso para tempo relativamente normal.Nos estudos de Guedes et al. (2004)
executar atividades que lhe permitem cuidar de si próprio. utilizando o índice de Barthel, a população geriátrica
institucionalizada na cidade de Passo Fundo – RS, 57,8% dos
Material e Método idosos necessitam de ajuda para cortar carne, passar manteiga
no pão, e 36,7% são independentes, sendo capazes de usar ta-
Tendo em vista o objetivo proposto, a pesquisa adotou o lher e comer em tempo razoável.
referencial metodológico de um estudo transversal de caráter
quantitativo, descritivo-exploratório. Para este estudo, a popu-

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dos idosos usam o vaso sanitário, mesmo que usem barras de


apoio sentam-se e levantam-se sem ajuda; limpam-se e vestem-
se sem ajuda; 20,70% necessitam de ajuda para manter o equi-
líbrio, limpar-se e vestir-se e 20,70% são dependentes para essa
função.
Referente ao banho (tabela 2), onde qualquer tipo de aju-
da para o banho é considerado como dependente para a ativida-
de, observou-se o maior número de idosos dependente, 72,50%
e 27,50% são independentes, corroborando com estudos de
Guedes et al (2004), através da escala de Barthel, onde 67,89%
foram considerados dependentes. Na Tabela 8 quanto à passagem cadeira – cama, 34,50%
dos idosos são independentes, fazem uso de cadeiras de rodas,
mas não necessitam de ajuda; 10,50% necessitam de ajuda mí-
nima; 27,50% necessitam de grande ajuda na passagem da ca-
deira para a cama e da cama para a cadeira; 27,50 dependentes.

No item vestuário (Tabela 3), verificou-se que 31,00%


dos idosos são independentes para essa função; 34,50 % são
dependentes e 34,50% necessitam de ajuda na maioria das tare-
fas. Nos estudos de Guedes et al. (2004), através da escala de
Barthel, 46,78% dos idosos são independentes para realizar essa
Em relação à deambulação (Tabela 9), 41,30% são inde-
função.
pendentes deambulam mesmo fazendo uso de prótese ou órteses;
24,30% necessitam de ajuda ou supervisão: 16,90% fazem usos
de cadeiras de rodas com independência e 27,50% dependen-
tes.

Quanto à higiene pessoal (Tabela 4), verificou-se através


da escala de Barthel um elevado número de dependentes, 58,60%
dos idosos não conseguem realizar as tarefas sozinhos. Nesse
item são analisadas atividades como escovar os dentes, lavar o
rosto, as mãos e barbear-se. Observou-se que 41,40% dos ido-
sos são independentes para a realização das tarefas. No item que se refere a subir e descer escadas (Tabela
10) verificou-se que 65,50% dos idosos sobem ou descem es-
cadas sem ajuda, mesmo que fazendo uso de orteses ou próteses;
10,20% necessitam de ajuda e 24,30% são dependentes.

No item dejeções (tabela 5) verifica-se que 41,50% são


continentes; 27,50% apresentam incontinência ocasional e
31,00% são incontinentes. Nos estudos de Guedes et al. (2004),
69,72% são considerados continentes, ou seja, não apresentam
episódios de incontinência; se são necessários enemas e supo- Através da escala de Barthel, como instrumentos de me-
sitórios, colocam-nos sozinhos. dida para a avaliação da capacidade funcional dos idosos onde
foram analisadas em dez itens de atividades de vida diária
(AVD’s), incluindo mobilidade e cuidados pessoais (alimenta-
ção, banho, cuidado pessoal, vestir-se, uso do banheiro, conti-
nência urinária e fecal, transferências, deambulação e subir e
descer escadas, os achados indicam que dentre essas atividades
No quesito referente à micção (tabela 6), verificou-se que, da vida diária, o banho, vestuário, higiene pessoal e micção
72,50% dos idosos são incontinentes, sendo que 41,50% apre- detêm os maiores índices de dependência funcional, parcial ou
sentam incontinência ocasional e 31% são incontinentes. Ob- total).
servou-se que 27,50% são continentes. Nos estudos de Costa et
al. (2001), a incontinência urinária ocorre em 30% dos idosos
da comunidade e em 60 a 70% dos residentes em asilos. Conclusão
Numa sociedade em que a população idosa cresce de uma
forma exponencial, a avaliação do grau de autonomia deste grupo
populacional é extremamente importante, quer na avaliação do
estado de saúde, quer na planificação dos cuidados tendo em
conta as suas necessidades específicas.
Em relação ao uso do vaso sanitário (Tabela 7), 58,60% Neste sentido, o Índice de Barthel surge como um instru-

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mento válido e fácil de aplicar na prática clínica. Neste estudo, GUEDES, J. M.; SILVEIRA,R..R. Análise da capacidade
segundo os resultados obtidos, um alto índice de idosos depen- funcional da população geriátrica institucionalizada na cidade
dentes nas atividades de vida diária em um abrigo da região do de Passo Fundo – RS. Revista Brasileira de Ciências do Enve-
Grande ABC, sugere intervenções significativas sobre esse as- lhecimento Humano, Passo Fundo, 10-21 - jul. /dez. 2004.
pecto, principalmente no que se refere ao banho, vestuário, hi- KAUFFMAN, T.L. et al. Manual de Reabilitação Geriá-
giene pessoal e micção. Os dados mostram uma maior depen- trica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001.
dência dos idosos residentes em instituições de longa perma- LUCENA, N. M. G. et al. Análise da capacidade funcio-
nência, também constatados na revisão bibliográfica. Eviden- nal em uma população geriátrica institucionalizada em João
ciamos a imprescindível importância do fisioterapeuta na assis- Pessoa. Fisioterapia Brasil, v. 3, n. 3, p. 164-169, maio/jun. 2002.
tência ao idoso no processo de manutenção da capacidade fun- MAHONEY, FI; BARTHEL, DW. Functional Evaluation:
cional, atuando de forma curativa e preventiva. The Barthel Index. Maryland State Medical Journal, v.14, p.61-
Entendemos, também, a necessidade de prosseguir e 65, 1965.
aprofundar pesquisas com avaliações que abranjam o idoso em Churchill, Livingstone. Medicine and Gerontology. 5a ed.
todas as dimensões, dando subsídios pra a intervenção e ado- Estados Unidos da América:, 1998. p. 207-216.
ção de medidas que melhorem a qualidade de vida desses indi- RAMOS, L. R.. A explosão demográfica da terceira ida-
víduos. de no Brasil: Uma questão de saúde pública. Gerontologia, v.1,
p. 3-8, 1993.
ROSA, T.E.C. et al. Fatores determinantes da capacidade
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Ginástica Laboral no Setor de Informática: Abordagem


Fisioterapêutica
Gymnastics Labor in the Information Techology Sector: Approach
Physiotherapeutic
Fernanda Aparecida de Ornelas1, Daniela Costa Censoni Guerra2,
Paola de Paula Zacharias2, Taciana Juan D’Aprile2

Resumo Abstract
A saúde, como premissa básica no exercício da cidadania The health and basic premise in the exercise of citizenship
do ser humano, se constitui de extrema relevância para a socie- of the person, it is of extreme importance to society as it relates
dade, pois diz respeito à qualidade de vida, escopo de todo ci- to quality of life and scope of every citizen in the exercise of
dadão, no exercício de seus direitos. As condições e o ambiente their rights. The conditions and the working environment have
de trabalho têm afetado sobremaneira a saúde dos trabalhado- particularly affected the health of workers, as they have been
res, na medida em que têm sido crescentes os fatores de risco, increasing the risk factors in the development of occupational
no desenvolvimento de doenças ocupacionais. O objetivo pro- diseases. The objective was to verify the proposed Gymnastics
posto foi verificar a Ginástica laboral no setor CEITE da Uni- Ceita employment in the sector of the Catholic University of
versidade Católica de Santos. O estudo foi clínico, randomizado, Santos. The clinical study was randomized, not controlled,
não controlado, qualitativa, quantitativa, e prospectivo, em 12 qualitative, quantitative, and prospective in 12 male workers
trabalhadores do sexo masculino divididos em 2 grupos (n=6). divided into 2 groups (n = 6). Gymnastics Labor-GI, GII-
GI-Ginástica Laboral, GII-Controle. A avaliação postural por Control. The assessment of posture and photometry analog pain
fotometria e escala analógica de dor foram conduzidas em 2 scale were conducted in 2 stages, before the first session M1,
momentos; M1 antes da primeira sessão, e o M2 após 14 ses- M2 and after 14 sessions. Their behaviors were performed for
sões. Foram realizadas respectivas condutas durante 15 minu- 15 minutes every day during the working day in the period of
tos, todos os dias durante a jornada de trabalho, no período about a month. The results showed that the Labor Gymnastics,
aproximadamente de um mês. Os resultados mostraram que na after statistical treatment (Student T test) was found better (p
Ginástica Laboral, após tratamento estatístico (teste T Student) <0.05) in data obtained in the evaluation of the analog scale of
foi verificado melhora (p<0,05) nos dados obtidos na avaliação pain. In Postural Assessment by Photometry - SAPO after
da escala analógica de dor. Na Avaliação Postural por Fotometria statistical test (Student T) there was positive (p> 0.05) but no
– SAPO após teste estatístico (T Student) não se verificou re- significance was observed for the control group (p> 0.05). So
sultados positivos (p>0,05), como também não foram observa- we can conclude that significant improvement was found after
dos significância para o grupo controle (p>0,05). Portanto pode- the evaluation Gymnastics labor analog pain.
se concluir que foi verificado melhora significativa após Ginás-
tica laboral na avaliação analógica de dor. Key words:
Gymnastics Labor; Guidelines; Ergonomics.
Palavras-chave:
Ginástica Labora; Saúde do Trabalhador e Fisioterapia.

balho, discuti-se a importância da área da saúde do trabalhador


Introdução e da ergonomia. Estas técnicas são aplicadas como forma de
A saúde, como premissa básica no exercício da cidadania colocar em prática o direito do trabalhador (REBOREDO,
do ser humano, se constitui de extrema relevância para a socie- 2006).
dade, pois diz respeito à qualidade de vida, escopo de todo Segundo a Constituição Federal de 1988, estabelecido
cidadão, no exercício de seus direitos. Isto posto, na esfera ju- em seu artigo 7º: “São direitos dos trabalhadores urbanos e ru-
rídica, o direito à saúde se consubstancia como forma indispen- rais além de outros que visem à melhoria de sua condição soci-
sável no âmbito dos direitos fundamentais sociais. (BARRO- al: XXII – redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio
SO, 1996; BASTOS, 1982). de normas de saúde, higiene e segurança”. A NR-17, Norma
Referente à saúde do indivíduo durante a jornada de tra- Regulamentadora do Ministério do Trabalho estabelece que
compete ao empregador realizar a análise ergonômica do tra-

1. Docente da Universidade Católica de Santos e aluna no curso de pós doutorado da Recebido: maio de 2009
Ufscar Aceito: setembro de 2009
Autor para correspondência: Fernanda Aparecida de Ornelas
2. Discente do Curso de Fisioterapia da Universidade Católica de Santos. E-mail: professora.fernanda@ig.com.br

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balho para avaliar a adaptação das condições de trabalho às inclusão como ser do sexo masculino e trabalharem no setor
características psicofisiológicas do trabalhador. Os controles a por no mínimo seis meses.
serem adotados envolvem: o dimensionamento adequado do Foi levantado o número total (n por conveniência) da
posto de trabalho, os equipamentos e as ferramentas, as condi- amostra após o levantamento de funcionários com caráter de
ções ambientais e a organização do trabalho. inclusão, sendo divididos em dois grupos de forma randomizada.
Quando violados, o direito e ou as normas Os três grupos foram definidos como:
regulamentadoras são refletidos às empresas, ao seguro social Grupo 1 – Ginástica Laboral;
(INSS) e ao próprio trabalhador (HERBSTRITH, 2008). Grupo 2 – Controle.
O custo para o país com acidentes de trabalho e doenças
ocupacionais chega a R$ 20 bilhões por ano com aposentadori- Procedimento
as, indenizações e tratamentos médicos. De cada 100 trabalha-
dores na região Sudeste, por exemplo, pelo menos um é porta- O presente estudo foi desenvolvido no período de agosto
dor de LER, de acordo com a Organização Mundial de Saúde e a novembro de 2008 na Universidade Católica de Santos no
somente no primeiro ano de afastamento do empregado, as setor Centro de Informática e Tecnologia (CEITE).
empresas gastam cerca de R$ 89 mil com encargos sociais e Para melhor consecução do objetivo proposto, este estu-
pagamento do trabalhador em licença-médica, já para o traba- do foi dividido em oito etapas.
lhador os danos se referem à limitações de suas atividades diá-
rias devido as dores que podem levar a incapacidades funcio- Etapa I – Autorização para realização do
nais, problemas psicológicos, gastos com transportes, remédi- trabalho
os e diminuição na qualidade de vida (BUSCHINELLI et Inicialmente foi solicitada autorização para execução do
al,1994). projeto pela Carta de autorização entregue aos responsáveis da
Em situações, as quais há falha ou ausência da ação da Universidade Católica de Santos, ao diretor do centro de Ciên-
ergonomia e ou da saúde do trabalhador pode acarretar em cias e ao coordenador do Curso de Fisioterapia e ao coordena-
malefícios aos trabalhadores como as doenças ocupacionais, dor do setor Centro de Informática e Tecnologia (CEITE), para
ditas como LER ou DORT, refletindo em morbidades acompa- possível acesso aos locais para a realização do estudo.
nhadas por significativo quadro álgico e diminuição da capaci-
dade de vida diária e profissional além de grande impacto na
Etapa II - Levantamento dos dados
vida pessoal e social do indivíduo (OLIVEIRA LUIZ C., 2006).
Nesta etapa, houve o comparecimento das autoras deste
Embora compreendamos a atuação da saúde do trabalha-
estudo ao setor Centro de Informática e Tecnologia (CEITE)
dor e da ergonomia em prol á aplicabilidade do direito do tra-
para observação e conhecimento do espaço físico (120m²), ati-
balhador há um interesse em se levantar os principais fatores de
vidades executadas (atividade administrativa principalmente
risco no setor CEITE da Universidade Católica de Santos, no
digitação) e do número de funcionários (n = 12).
desenvolvimento de doenças ocupacionais que amenizem ou
dificultem a total acessidade dos trabalhadores frente aos seus
direitos. Etapa III - Conscientização da proposta do estudo
Nesta etapa, foi realizada explicação informal, frente ao
trabalho e na presença de interesse do participante, sendo
Objetivo disponibilizado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE) e marcado um dia para a Avaliação Fisioterapêutica.
Este estudo tem como objetivo sugerir a intervenção
fisioterapêutica com ginástica Laboral no ambiente de traba-
Etapa IV – Avaliação do material de trabalho
lho, especificamente no setor CEITE da Universidade Católica
Nesta etapa, foi avaliado o mobiliário e os equipamen-
de Santos.
tos presentes no setor escolhido, utilizando um Check List ba-
seado na NR17.3 – Mobiliário dos Postos de Trabalho.
Metodologia
Etapa V – Análise do ambiente de trabalho
Aspectos Éticos Nesta etapa, foram analisados os fatores ambientais do
local de trabalho, na semana antes da intervenção da fisiotera-
Inicialmente foi solicitado o parecer da comissão de ética
pia, pela medição do iluminamento (A), ruído (B), umidade re-
em pesquisa (COMET) da Universidade Católica de Santos,
lativa e temperatura (C).
localizada na cidade de Santos – SP.
As medições foram conduzidas pelo Engenheiro Eduar-
do Eberhardt CREA: 5061761607. Os equipamentos utilizados
Tipos do Estudo e a forma de utilização de cada aparelho se deram da seguinte
forma:
O presente estudo foi ensaio clínico prospectivo, qualita-
tivo e quantitativo pela análise e intervenção no posto de traba-
A - Iluminamento: O equipamento Luximetro, marca
lho Informática e Tecnologia (CEITE), da Universidade Cató-
Lutron®, modelo LX 101 – Lux Meter calibrado conforme ins-
lica de Santos.
truções do fabricante foi posicionado na superfície de trabalho,
como por exemplo, na mesa do computador, ou foi utilizado
Seleção e Caracterização dos Funcionários como base um plano horizontal a 0,75 m do piso. Os valores
A seleção dos funcionários acompanhou os critérios de mensurados foram confrontados com a NBR 5413 –
“Iluminância de Interiores”

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B- Ruído: O equipamento Decibelimetro, marca Lutron®, aparelho com marcação de um metro, o fio de prumo e o indiví-
modelo SL 4001, tipo 2, calibrado conforme, instruções do fa- duo ficaram no mesmo plano perpendicular ao eixo da câmera,
bricante foi disposto próximo do pavilhão auditivo do trabalha- sendo enquadrados ambos na foto.
dor. Ao final o programa ofereceu um relatório apresentando
C- Umidade relativa e temperatura: O equipamento os seguintes parâmetros:
Termo-Higrômetro digital, marca Quest®, modelo HT 3003 Vista anterior: Alinhamento horizontal da cabeça; Alinha-
(Figura 3), calibrado conforme instruções do fabricante, foi posto mento horizontal dos acrômios;
no setor, sobre o solo, e os valores foram indicados no painel Alinhamento horizontal das EIAS;
digital assim que o aparelho se estabilizou. Vista posterior:Assimetria horizontal em relação à T3.,
Vista Lateral: Alinhamento horizontal da cabeça (C7);
Etapa VI - Anamnese Alinhamento vertical da cabeça (acrômio); Alinhamento verti-
Nesta etapa, foi realizada anamnese do indivíduo conten- cal do tronco; Ângulo do quadril (tronco e coxa); Alinhamento
do seus dados pessoais e indicadores de saúde. vertical do corpo; Alinhamento horizontal da pelve (retroversão
e anteroversão); Ângulo do joelho.
Centro de gravidade em plano frontal sagital.
Etapa VII – Avaliações
Nesta etapa foram realizadas avaliações da postura do
indivíduo por fotometria (A) e a avaliação subjetiva da escala B - Escala Visual Analógica de Dor
visual analógica (B). Esta escala consiste em auxiliar na aferição da intensida-
As avaliações foram conduzidas em 2 momentos (M1 e de da dor no indivíduo, é um instrumento que consiste em uma
M2). régua com desenhos de rostos com expressões que variam da
O M1 foi realizado após a etapa VI – Anamnese e o M2 satisfação à dor intensa e uma escala numérica de zero a dez,
foi aplicado após 14 sessões de intervenção fisioterapêutica. importante para verificarmos a evolução do mesmo durante o
tratamento de maneira fidedigna. Também foi útil para poder-
mos analisar se o tratamento foi efetivo, quais procedimentos
A – Avaliação Postural por Fotometria – SAPO
têm surtido melhores resultados, assim como se há alguma de-
Inicialmente foi solicitado que o individuo comparecesse
ficiência no tratamento, de acordo com o grau de melhora ou
de sunga no local combinado segundo agendamento. Foi avali-
piora da dor.
ado o peso (Kg) e estatura (M) do indivíduo com uma balança
Foi solicitado ao paciente que assinalasse com um “x”
antopométrica mecânica adulta, logo depois foram posicionados
sobre o valor que expressasse a intensidade de sua dor.
os marcadores nos pontos anatômicos de acordo com o proto-
Após as avaliações e análises das etapas anteriores, foi
colo SAPO na vista anterior, posterior, lateral direita e lateral
realizada a intervenção fisioterapêutica conforme os grupos
esquerda.
propostos.
Os marcadores foram bolinhas de isopor de 25mm corta-
das ao meio.
Marcação de pontos na vista anterior:Trago direito e es- Etapa IX - Intervenção Fisioterapêutica
querdo (ponto 2 e 3), Acrômio direito e esquerdo (ponto 5 e 6), A - Ginástica Laboral
Espinha ilíaca ântero superior direita e esquerda (ponto 12 e Este grupo (G1), dividido conforme item 3.3 foi repre-
13), Trocanter maior do fêmur direito e esquerdo (ponto 14 e sentado por seis funcionários (n=06), os quais foram submeti-
15); Linha articular do joelho direita e esquerda (ponto 16 e dos à 14 sessões de intervenção fisioterapêutica com a técnica
19), Linha média da patela direita e esquerda (ponto 17 e 20), ginástica laboral durante 15 minutos, 4 vezes semanais, realiza-
Tuberosidade da tíbia direita e esquerda (ponto 18 e 21), Maléolo da de acordo com o protocolo de Ginástica Laboral representa-
lateral direito e esquerdo (ponto 22 e 25) e Maléolo medial do por 15 exercícios de alongamento e relaxamento dos mem-
direito e esquerdo (ponto 23 e 26). bros superiores e inferiores, enfatizando a postura em pé.
Marcação de pontos na vista posterior: T3 (ponto 17), B - Grupo Controle
Ângulo inferior da escapula direito e esquerdo (ponto 8 e 7), Este grupo (G2), foi dividido conforme item 3.3 repre-
Espinha ilíaca póstero superior direita e esquerda (ponto 10 e sentado por seis funcionários (n=06), os quais não receberam
9), Linha média da perna direita e esquerda (ponto 33 e 32), nenhuma das intervenções.
Ponto médio do calcâneo na altura dos dois maléolos direito e Os funcionários foram orientados a não comentarem en-
esquerdo (ponto 34 e 35),Calcâneo direito e esquerdo (ponto tre si frente a intervenção fisioterapêutica que receberam, já
41 e 37) que se trata de intervenções diferenciadas de acordo com o gru-
Marcação de pontos na vista lateral direita:C7 (ponto 8), po que pertencem.
Epicôndilo lateral (ponto 6) Marcação de pontos na vista late- Para este grupo foi disponibilizado a opção terapêutica
ral esquerda: C7 (ponto 8), Epicôndilo lateral (ponto 6) (Ginástica Laboral).
Após a marcação dos pontos houve a captura de fotos Durante a condução deste estudo ficaram de comum acor-
digitais na vista anterior, posterior, lateral direita e lateral es- do, entre as autoras e a profissional responsável pela Ginástica
querda de cada indivíduo, em formato de arquivo JPEG com Laboral já existente no setor a pausa de 30 dias para que não
definição de 3 Megapixels, registradas por uma máquina foto- houvesse comprometimento dos resultados finais.
gráfica digital marca SONY®, modelo T 200, 8.1 Megapixels,
posicionada sobre um tripé da marca first moonlight®, modelo
6156 e a máquina fotográfica foi posicionada na frente do paci-
ente a uma distância de 3,0 metros e altura de 1,25 metros.
Foi confeccionado um fio de prumo para calibragem do

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Análise dos resultados Vista Anterior e Posterior


Para analisar os dados encontrados seguiu-se o protocolo
Avaliação quantitativa das características do determinado pelo programa SAPO que preconiza: valores po-
sitivos, sentido anti-horário e lado direito, valores negativos
ambiente de trabalho sentido horário e lado esquerdo.
Na tabela 1, nota-se que os valores estão dentro dos limi- Analisando os dados obtidos na avaliação inicial na vista
tes estipulados conforme preceitua respectivamente as normas anterior, o G1 apresenta alinhamento horizontal da cabeça com
regulamentadoras: NR 15, NBR 5413 “Iluminância de Interio- média de 1,1 e desvio padrão de ± 0,68, o que indica uma rota-
res” e NR 17.5.2. ção para direita da cabeça. Em relação ao alinhamento horizon-
tal dos acrômios percebe-se que o acrômio direito encontra-se
Tabela 1 - Tabela representativa dos valores mensurados mais elevado que o esquerdo com média de -1,89 com desvio
frente a avaliação quantitativa das características do ambiente padrão de ± 1,12, o mesmo ocorre com o alinhamento horizon-
de trabalho. tal das espinhas ilíacas ântero-superiores (EIAS), com média
de –9,14 desvio padrão ± 6,72, a EIAS direita apresenta-se ele-
vada em relação à esquerda. Na vista posterior verificou-se
assimetria horizontal da escápula em relação à T3, onde a
escápula esquerda foi em média –19,8 mais elevada que à direi-
ta com desvio padrão de ±7,81.
Nas avaliações finais, os valores encontrados foram pró-
Características antropométricas - Anamnese ximos aos valores obtidos nas avaliações iniciais, o que demons-
tra, pouca ou nenhuma alteração postural após a aplicação do
Observar-se os dados colhidos na anamnese, referente à protocolo.
idade e medidas antropométricas. Analisamos que o desvio pa-
drão referente às medidas antropométricas obtidos entre os vo-
Vista Lateral
luntários referente ao peso é elevado e em relação a estatura,
Na avaliação inicial na vista lateral o que observamos no
enquanto que o desvio padrão referente à idade é de ±6,8 com
G1 foi que: no alinhamento horizontal da cabeça (C7) a média
uma média de 28,9 anos.
foi de 5,55 desvio padrão de ±1,77, o que indica uma menor
curvatura da coluna cervical; o alinhamento vertical da cabeça
Indicadores de Saúde - Anamnese (acrômio) com média de 4,38 desvio padrão de ± 4,97, sugere
Os achados entre todos os funcionários pesquisados de- uma protusão de cabeça; o alinhamento vertical do tronco me-
monstram que 72% referem dor, onde 85% deles acreditam ser dido entre o trago, trocânter maior do fêmur e a vertical para
decorrente de suas atividades laborais, e apenas 15% referem verificar a inclinação do tronco, trás uma média de –3,78 des-
dor por algum outro motivo. Foi constatado que o cansaço du- vio padrão de ± 1,94, mostrando um tronco mais extendido; o
rante a jornada de trabalho é relatado por apenas 17% dos fun- ângulo do quadril (tronco e coxa) a média foi de –9,25 desvio
cionários, mas que após a jornada 44% dos trabalhadores se padrão de ± 5,22 sugerindo uma extensão de quadril; no alinha-
sentem cansados, porém 67% dos funcionários acreditam que mento vertical do corpo verifica-se que o peso está mais sobre
se o cansaço estiver presente terá grande influência no seu ren- as pontas dos pés, pois a média encontrada foi de 1,2 desvio
dimento. padrão de ± 0,71, o alinhamento horizontal da pélvis medida
entre as espinhas ilíacas ântero-superior, póstero-superior es-
querda e a horizontal indica uma retroversão pélvica nesse gru-
Pratica de Atividade Física - Anamnese po, pois a média foi de –15,85 com desvio padrão de ± 6,80, o
Foi verificado que 33% realizam atividade física, enquanto grupo caracteriza-se com uma leve flexão de joelhos, pois a
67% não realizam nenhuma atividade física. média ângulo do joelho foi de –18,39 desvio padrão de ± 9,07.
Nas avaliações finais, os valores encontrados foram pró-
ximos aos valores obtidos nas avaliações iniciais, o que demons-
Avaliação Pela Escala Visual Analógica (EVA) –
tra, pouca ou nenhuma alteração postural após a aplicação do
Ginástica Laboral (G1) protocolo.
Quando verificadas as avaliações iniciais e finais pela
EVA, houve valores significativos após tratamento estatístico Avaliação Postural por Fotometria (SAPO) –
(teste T Student), com valor de p=0,007971, o que demonstrou Controle (G2)
inferior à p< 0,05.
- Avaliação Pela Escala Visual Analógica (EVA) – Con- Vista Anterior e Posterior
trole (G3) Analisando os dados obtidos na avaliação inicial na vista
Nas avaliações iniciais e finais através da EVA, não hou- anterior, o G3 apresenta alinhamento horizontal da cabeça com
veram valores significativos após tratamento estatístico (teste T média de 1,4 e desvio padrão de ± 0,73, o que indica uma rota-
Student), com valor de p=0,087344, o que demonstrou superior ção para direita da cabeça. Em relação ao alinhamento horizon-
à p< 0,05. tal dos acrômios percebe-se que o acrômio direito encontra-se
- Avaliação Postural por Fotometria (SAPO) – Ginástica mais elevado que o esquerdo com média de -2,0 com desvio
Laboral (G1) padrão de ± 1,80, o mesmo ocorre com o alinhamento horizon-
tal das espinhas ilíacas ântero-superiores (EIAS), com média
de –12,59 desvio padrão ± 3,98, a EIAS direita apresenta-se

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elevada em relação à esquerda. Na vista posterior verificou-se que podem acometer tendões, sinóvias, músculos, nervos, fáscias
assimetria horizontal da escápula em relação à T3, onde a e ligamentos, isoladas ou associadas, com ou sem degeneração
escápula esquerda foi em média –8,98 mais elevada que à direi- de tecidos, atingindo, principalmente, os membros superiores,
ta com desvio padrão de ±2,41. região escapular e pescoço, sendo de origem ocupacional e de-
Nas avaliações finais, os valores encontrados foram pró- corrente, de forma combinada ou não, do uso repetitivo e força-
ximos aos valores obtidos nas avaliações iniciais, o que demons- do de grupos musculares, e manutenção de postura inadequada.
tra, pouca ou nenhuma alteração postural após a aplicação do Posteriormente, o INSS (Instituto Nacional de Segurança Soci-
protocolo. al) publicou a Resolução n° 245/92 e finalmente em março de
1993, o INSS publicou LER / Normas Técnicas para Avaliação
Vista Lateral de Incapacidade baseada nas duas resoluções que a antecedem
Na avaliação inicial na vista lateral o que observamos no (SATO et al, 1993; SETTINI e SILVESTRE, 1995).
G2 foi que: no alinhamento horizontal da cabeça (C7) a média O reconhecimento da complexidade deste fenômeno exi-
foi de 7,29 desvio padrão de ±2,71, o que indica uma menor ge a noção de que não se trata de um mal de etiologia única. A
curvatura da coluna cervical; o alinhamento vertical da cabeça multifatoriedade que envolve LER/DORT, supera a noção de
(acrômio) com média de 4,97 desvio padrão de ± 1,76 sugere que a repetitividade de movimentos possa ser a causa exclusiva
uma protusão de cabeça; o alinhamento vertical do tronco me- (LÉO, 1998; ASSUNÇÃO, 2000, 2002; MIRANDA, 1998;
dido entre o trago, trocânter maior do fêmur e a vertical para SETTIMI, 2001; GALAFASSI, 1998; BARRETO & SANTOS,
verificar a inclinação do tronco, trás uma média de –12,67 des- 2001).
vio padrão de ± 2,97, mostrando um tronco mais extendido; o A repetição de movimentos, manutenção da postura ina-
ângulo do quadril (tronco e coxa) a média foi de –18,76 desvio dequada por tempo prolongado, falta de pausas durante a jor-
padrão de ± 9,41 sugerindo uma extensão de quadril; no alinha- nada de trabalho, esforço físico, invariabilidade de tarefas, pres-
mento vertical do corpo verifica-se que o peso está mais sobre são mecânica sobre determinados segmentos do corpo em par-
as pontas dos pés, pois a média encontrada foi de 3,89 desvio ticular membros superiores, trabalho muscular estático, choques,
padrão de ± 0,98 o alinhamento horizontal da pélvis medida impactos, vibrações, frio e fatores organizacionais passa a ser
entre as espinhas ilíacas ântero-superior, póstero-superior es- apenas um dos inúmeros fatores contributivos para a gênese
querda e a horizontal indica uma retroversão pélvica nesse gru- desta problemática (O’NEILL, 2003).
po, pois a média foi de –17,84 com desvio padrão de ± 8,37, o Codo, (1995) também relatou que existe uma tendência
grupo caracteriza-se com uma leve flexão de joelhos, pois a atual de excluir a repetitividade como sendo fator de risco, cal-
média ângulo do joelho foi de –20,74 desvio padrão de ± 6,94. çada na leitura que se faz de que a seqüência extremamente
Nas avaliações finais, os valores encontrados foram pró- repetitiva de uma linha de produção, por exemplo, seja conse-
ximos aos valores obtidos nas avaliações iniciais, o que demons- qüência da forma como o trabalho é organizado e projetado,
tra, pouca ou nenhuma alteração postural após a aplicação do ficando o fator de risco, portanto, sendo atribuído à estes outros
protocolo. fatores mais complexos, ele ainda argumenta que os esforços
repetitivos são conseqüências de vários fatores do trabalho, atu-
ando conjuntamente e estão relacionadas, principalmente, às
Discussão posturas, movimentos e sua freqüência.
Salientando também que a postura correta no ambiente
Objetivando propiciar maior saúde, segurança e qualida-
de trabalho é muito importante no desempenho eficiente das
de de vida aos trabalhadores, o Ministério do Trabalho e Em-
tarefas diárias, principalmente em atividades que exigem movi-
prego, pela Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho (SST)/
mentos repetitivos sabendo que, boas posturas evitam que o
portaria n° 13 de 17 de setembro de 1993, criou regras especí-
corpo permaneça em contração excessiva e prolongada, cau-
ficas e, ao mesmo tempo, normatizou as relações de trabalho no
sando pontos de tensão, contraturas, compressão de raízes ner-
Brasil, pelas Normas Regulamentadoras (NR’s).
vosas, espasmos, dor e redução da flexibilidade.
A SST é o órgão de âmbito nacional competente para
A postura devidamente adequada do ponto de vista
coordenar, orientar, controlar e supervisionar as atividades re-
ergonômico, para atividade administrativa, é a sentada, tendo
lacionadas com a segurança e medicina do trabalho, inclusive a
como base determinadas posições corretas ao sentar
Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes do Trabalho –
(ABDALLAH, 2002). As quais serviram como base para à pre-
CANPAT; o Programa de Alimentação do Trabalhador - PAT e
sente pesquisa.
ainda a fiscalização do cumprimento dos preceitos legais e re-
Com relação a apresentar alguma sintomatologia que pos-
gulamentares sobre segurança e medicina do trabalho em todo
sa ter sido causado pelas atividades de trabalho os sintomas
o território nacional.
mais relevantes são formigamentos, dores freqüentes principal-
De acordo com a legislação vigente, as penalidades para
mente na coluna cervical, torácica e lombar (LIMA, 2003). Os
as empresas que não cumprem as normas estabelecidas vão desde
resultados apresentados no presente estudo demonstraram que
a interdição até ao fechamento da empresa, além do pagamento
a maior incidência de sintomatologia dolorosa está localizada
de multas, a falta de informação dos empregados e empregado-
na coluna vertebral, corroborando afirmação de Lima, 2003.
res, as necessidades constantes de aumento de produtividade e
A respeito das pausas durante a jornada de trabalho, foi
de redução de custos, além das rápidas e constantes mudanças
realizada uma pesquisa de caráter quantitativo na qual o
na legislação são as principais causas da falta de adequação às
Datafolha após analisar os resultados da pesquisa observou uma
normas (COSTA et al, 2003; Apud SILVA, 1999).
coerência com estudos semelhantes à de especialistas a respei-
Em oito de junho de 1992, a Secretaria de Estado de Saú-
to da LER/DORT, onde foi demonstrado que de fato uma rela-
de de São Paulo (SEASA-SP), publicou a primeira resolução a
ção onde fatores como excesso de horas trabalhadas, ausência
respeito da LER, definindo-a como um conjunto de afecções

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de pausas, ritmo acelerado e a pressão por aumento de produti- e normativos: O DECRETO LEI Nº 938/69, a LEI Nº 6.316/
vidade e eficiência estão diretamente relacionados com tal pro- 1975, a RESOLUÇÃO CNE/CES Nº 04/2002 e as RESOLU-
blemática (O’NEILL, 2003). ÇÕES PÚBLICAS COFFITO Nº 08/1978 e Nº 259/2003, No
Como regra geral, as empresas com programas de Ginás- âmbito de sua circunscrição, resolve : Artigo 1º - O uso do ter-
tica Laboral têm tratado a participação dos empregados como mo Ginástica Laboral na Fisioterapia do Trabalho, visando os
facultativa. Todavia, a participação é atrelada a programas de fins terapêuticos previstos no conjunto de habilidades e compe-
remuneração variável ou outros incentivos, tornando a partici- tências, atos privativos e atribuições do fisioterapeuta, dispos-
pação obrigatória. Claras são as ações de total oportunismo em tos no DECRETO LEI 938/1969 e nas Resoluções Públicas
que, para a implantação de programa de ginástica laboral, algu- CNE/CES nº. 04/2002 e COFFITO nº. 08/1978 e 259/2003, é
mas empresas chegaram até a fazer alteração nos horários de exclusivo dos profissionais dessa categoria.
entrada e/ou saída dos empregados, não assumindo, sequer, o Toledo; Orseli (2001), enfatizou que outro aspecto fun-
pequeno tempo dispendido para a prática, porém deve-se en- damental, além dos citados acima, está relacionado ao condici-
tender a prática de exercícios físicos como benéfica quando onamento físico do trabalhador, seja ele, de uma linha de pro-
realizada pela livre vontade dos indivíduos, em situações de dução contínua, de uma caldeiraria, de um almoxarifado e, é
sua escolha, sem constrangimentos, respeitando sempre as pau- claro, de um digitador de computadores ou caixas de banco e
sas de descanso (MACIEL et al., 2005). supermercados. Complementando que para essas situações está
A interdisciplinaridade tão difundida na academia e fre- comprovado que exercícios físicos de aquecimento e alonga-
qüente nos periódicos, livros, matérias de jornais e nas mento antes, durante e após a jornada de trabalho ajudam em
verbalizações sobre saúde do trabalhador, parece relegada a muito a prevenção das LER/DORT, desde que orientado por
segundo plano, justamente em uma área que exige por sua pró- especialistas na área.
pria complexidade. Isso explica de certa forma que investir em Lima (2003) e Carvalho et al. (2002) afirmaram que a
programas de responsabilidade social em relação às comunida- prática de atividade física regular é muito importante na pro-
des passou a fazer parte do discurso e da prática das grandes moção da saúde e no desempenho profissional, a esse respeito,
empresas, que exploram cada vez mais as suas ações com obje- argumentam que os benefícios associados a tal prática são inú-
tivos de divulgação e marketing e ainda, ressalta que, empresas meros, sendo observados naturalmente, como a diminuição do
administradas por modismos e seguindo discursos e recomen- estresse e do sedentarismo, melhora na qualidade de vida e o
dações de consultores de gestão empresarial, têm tentado “ino- aumento da performance profissional, pessoal e social. É im-
var” pela implantação de teorias administrativas, as mais diver- portante ressaltar que as pessoas que praticam exercícios físi-
sas, desde as teorias clássica e científica; passando pela teoria cos mostram sistematicamente níveis de severidade de sinto-
comportamental, a teoria dos sistemas, até as teorias mais mo- mas menores do que aquelas que não o realizam. Observa-se
dernas de gestão. (TOLEDO; ORSELI, 2001; MACIEL et al. com relação à prática de atividade física dos funcionários do
2005) sertor CEITE, que 33% realizam atividade física.
Em contraposição a esse pequeno efeito, existem os be- Durante a consecução da pesquisa, foram realizadas aná-
nefícios que a empresa pode obter ao inverter a relação de cau- lises ergonômicas do setor escolhido, onde observou-se condi-
sa e efeito das condições de trabalho sobre a saúde dos traba- ções adequadas de mobiliário e das características do ambiente
lhadores. Para as empresas, pode ser vantajosa a implantação através de avaliação qualitativa e quantitativa.
de programas de ginástica laboral na medida em que essa ação A importância de tal avaliação é um aspecto importante
pode ser convertida em prova nos processos trabalhistas. Além que deve ser observado, pois, sem elas, as sessões de protoco-
disso, as empresas implantam tais programas pelas ações isola- los aplicados seriam apenas um paliativo momentâneo, visto
das, travestidas de programas voltados à melhoria da qualidade que alguns minutos de alongamento, relaxamento e determina-
de vida dos empregados e, ao mesmo tempo, cultivam ambien- das orientações não seriam capazes de atuar com eficiência di-
tes de elevado nível de pressão por resultados, jornadas de tra- ante de fatores ambientais inadequados. Na semana anterior à
balho acima daquelas estabelecidas pela legislação, tolerância intervenção da fisioterapia, foram analisados fatores ambientais
aos índices de acidentes e pouca atenção aos programas de saú- do local de trabalho, pela medição do iluminamento, ruído,
de e segurança dos trabalhadores (MACIEL et al. 2005). umidade relativa e temperatura efetiva, conforme preceitua res-
Porém para se ter realmente uma eficácia de um progra- pectivamente NBR 5413 “Iluminância de Interiores”, da NR 15
ma de saúde do trabalhador, é importante além de uma preocu- e NR 17.5.2.
pação mais globalizada das condições gerais do local de traba- Como resultado das análises, ficou constatado que os li-
lho, saber também qual profissional está apto à realmente ofe- mites estipulados pelas normas pertinentes eram devidamente
recer benefícios propostos como forma de prevenção. respeitados.
De acordo com a resolução COFFITO nº 08/1978 - quan- Em análises ergonômicas considera-se que no meio físi-
to ao uso do termo Ginástica Laboral, considera-se que o exer- co no qual se efetua um trabalho, o ruído, as vibrações, o calor,
cício físico é de uso e conhecimento universal, contudo a sua o frio, a altitude, os produtos tóxicos etc., quando ultrapassam
aplicação terapêutica deve ser prescrita e supervisionada por certos limites, podem provocar doenças ou alterar o bem-estar
profissionais competentes e, sobretudo, habilitados, caso con- (ALVES et al., 2002).
trário, não se afasta, ao máximo, a possibilidade de dano à inte- Como forma de intervenção fisioterapêutica, durante a
gridade da saúde da pessoa humana e que tal consideração re- consecução do trabalho, foram aplicadas intervenções de Gi-
força os princípios éticos de promover a beneficência e afastar nástica Laboral e Orientações. Os funcionários foram divididos
a maleficência. Ressalta ainda que os termos competência e em 3 grupos, sendo um dos grupos controle, cada grupos só
habilitação, dizem de requisitos mínimos (regulamentados), tan- recebeu uma das intervenções, os funcionários foram avaliados
to individuais quanto de uma categoria, para o exercício de um e reavaliados.
ofício, e por fim, considerando os seguintes documentos legais Todos os funcionários do estudo foram do sexo masculi-

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no, por sua menor variação de humor e queixas, o que se difere cias positivas existem, mas são raras e pouco generalizáveis, o
da mulher, pois alterações como os transtornos do humor po- que não justifica o grande número de empresas que vem empre-
dem estar relacionadas a mudanças influenciadas por hormônios gando esse método na prevenção de LER/DORT. (MACIEL et
na função neurotransmissora (STEINER et al., 2003). A al. 2005).
prevalência de depressão em mulheres é duas vezes maior que Importante ressaltar que estudos semelhantes realizados
nos homens (YOUNG et al., 2000). Essa maior incidência fe- por Cañete (1996); Dias (1994); Pinto (2003) e Polleto (2004),
minina é observada a partir da puberdade, sendo menos eviden- para avaliação da ginástica laboral nos ambientes de trabalho,
te nos anos que sucedem a menopausa (WEISSMAN et al., constataram que atividades físicas proporcionam bons resulta-
1995). dos à manutenção geral da saúde.
Observou-se como resultado na Ginástica Laboral, após Segundo Pinto e Souza (2004) a GL adaptada para as
tratamento estatístico (teste T Student) uma melhora (p<0,05) necessidades impostas pelo tipo de trabalho, realizadas sem sair
nos dados obtidos na avaliação da escala analógica de dor. Na do posto, em breves períodos de tempo, ao longo de todo dia de
Avaliação Postural por Fotometria – SAPO com teste de (teste trabalho pode produzir resultados positivos para os funcionári-
T Student) não se verificou resultados positivos, como também os e para a empresa. Em contrapartida, Hess e Hecker (2003)
não foram observados significância para o grupo que recebeu concluem que os poucos estudos específicos sobre os progra-
Orientações e para o grupo controle. mas de GL não fornecem evidências conclusivas nem a favor,
De maneira geral, os trabalhadores que participaram des- nem contra a ginástica laboral.
te estudo relataram alterações positivas em seu estado de saúde A referência fornecida para corroborar essa afirmação nos
e bem-estar, o que pôde ser observado pelo escore mais baixo leva ao “site” do SESC na Internet, uma das instituições que
na Escala Analógica de Dor, (melhor auto-avaliação dos parti- mais tem oferecido programas desse tipo, ao lado do SESI e do
cipantes), após a prática e de ginástica laboral e das orienta- SENAI. No entanto, não há de fato um estudo científico sobre o
ções. Resultado semelhante foi observado por Wainstein et al. assunto realizado por essas instituições que comprove a afir-
(2001) em relação aos resultados obtidos após implantação da mação de que a GL diminui as afecções relacionadas a LER/
ginástica laboral em uma instituição bancária. DORT. Apesar disso, essas instituições continuam propondo e
Martins e Martins (2000) realizaram um estudo junto a implantando programas de GL nos locais de trabalho, aparente-
90 funcionários da Justiça Federal de Santa Catarina. Após 27 mente com grande sucesso.
sessões de GL, os participantes responderam a um questionário Para Zétola (2000), de forma bastante discutível, os pro-
auto-administrativo. A conclusão foi a e que os dados sugerem gramas de exercícios realizados entre trabalhadores, são
uma boa aceitação do programa pelos funcionários e que a GL comprovadamente a única forma de prevenção tanto do proble-
parece ter sido eficaz na prevenção de LER/DORT. No entanto, ma do isolamento social, quanto de LER/DORT.
a pesquisa não apresenta nenhum dos controles habituais para Pellegrinotti (1998) apresenta fortes relações entre quali-
esse tipo de pesquisa: não há um grupo controle nem mesmo dade de vida e práticas de atividade física, referindo-se a gran-
controle do próprio sujeito, o que seria a “aplicação do mesmo de aceitação popular e a consolidação já existente de longa data
questionário antes e depois”. Não foram realizadas medidas ou como ciência. Desta forma a ginástica laboral é apresentada, na
exame clínicos que possam comprovar as sugestões das auto- maioria das vezes, como mecanismo de prevenção de LER/
ras. Resta o fato da boa aceitação por parte dos participantes e DORT e a adoção de programas de GL nos ambientes de traba-
o auto-relato da diminuição dos sintomas relacionados a dores lho é justificada principalmente por essa atribuição.
no corpo. Diante de toda controversa criada, cabe salientar que as
Martins (2000), realizou um estudo com 26 trabalhado- constantes como grupo controle, relação ao número de sessões
res da reitoria da universidade federal de Santa Catarina onde aplicadas durante os protocolos, avaliação ambiental, pausas
foram medidas a flexibilidade, força, percentual de gordura e a realizadas durante as jornadas de trabalho e a prática de exercí-
pressão arterial dos participantes. Após 54 seções de GL, reali- cios físicos, podem de certa forma, mascarar os efeitos da gi-
zada três vezes por semana durante 15 minutos encontrou-se nástica laboral o que explicaria tamanha divergência em rela-
uma melhora significativa dos quesitos acima. No entanto, os ção a sua eficácia. Dessa forma o presente estudo obteve um
resultados não mostraram uma co-relação positiva entre a fre- número de sessões inferiores aos demais protocolos aplicados
qüência às sessões de exercícios nos locais de trabalho e os pelos autores citados, entretanto, demais critérios foram anali-
benefícios apontados nas mensurações realizadas. Por outro sados para que se possa de forma isolada e sem intervenção de
lado, parece ter havido uma intensificação da prática de exercí- outros fatores associados explicar as verdadeiras melhorias en-
cios fora do trabalho devido ao programa, o que explicaria as contradas. O que pode ser observado em nossos resultados.
melhorias encontradas. Para a realização de um novo estudo, três empresas loca-
Estudo realizado por Pinto (1997) em operadores de cai- lizadas em Santos-SP receberam um projeto que sugeria a im-
xa em uma agência bancária, em Florianópolis após proposta a plantação de um programa de Ginástica Laboral junto aos seus
implantação de um programa de ginástica laboral como medida empregados. Para a obtenção de uma mostra dos aspectos posi-
preventiva, verificou-se que tal programa parece ter desenvol- tivos e negativos, na visão das organizações, o projeto conce-
vido nos operadores a prática de atividades físicas regularmen- bia também a aplicação de uma pesquisa de aceitação junto aos
te, onde também não foram observadas relações com os núme- empregados e um questionário a ser preenchido pelos princi-
ros de sessões e nem a identificação de seus benefícios quanto a pais executivos das empresas. Infelizmente, não houve recipro-
sua eficácia. cidade das empresas, que se negaram à implantação dos pro-
Além disso, é fato que não existem evidências conclusi- gramas, demonstrando, claramente, a forte resistência que ain-
vas sobre a efetividade dos programas de ginástica laboral na da predomina nas instituições, em relação aos programas volta-
geração de incentivo à prática de esportes ou com um método dos à melhoria da qualidade de vida dos empregados. Tendo
de promoção da saúde nos locais de trabalho. Algumas evidên- em vista tais negativas, o programa foi implantado junto aos

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empregados da própria Universidade. CARVALHO , A. et al. A Atividade Física na Prevenção de


É com base na pesquisa realizada que elaboramos um Doenças. Jornal Saúde. São Paulo, 2002.
protocolo de Ginástica Laboral priorizando manter condições CHAFFIN, B; ANDERSSON, G. B; MARTIN, B. J.
saudáveis no ambiente de trabalho para que os trabalhadores Biomecânica ocupacional. Belo Horizonte: Ergo, 2001.
possam desenvolver uma melhora tanto no desempenho físico CODO, W.; ALMEIDA, M. C. C. G. LER: Lesões por Esfor-
quanto no âmbito social, pois acreditamos que além dos efeitos ços Repetitivos. Petrópolis: Vozes, 1995.
terapêuticos os protocolos promovem uma melhor interação COSTA, A. C.; FERRARI, I.; MELCHIADES, R. M.. Con-
entre os funcionários, diminuem o stress e as preocupações. solidação das Leis de Trabalho. 30ª ed, 2003.
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Conclusão 28 de maio de 2008.
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Foi concluído que a Ginástica Laboral obteve maior
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Cirurgias Suspensas: as conseqüências para o Paciente


Surgeries Suspended: the consequences for the Patient
Elaine Bione Lima Afonso1, Elaine Rossi Ribeiro2

Resumo Abstract
Com os objetivos de analisar as suspensões de cirurgias, The objectives of the study had been to identify the biggest
identificar os motivos mais freqüentes, as tipos mais suspensos, number of suspension of surgery for team, the reasons most
e os sentimentos apresentados pelos pacientes mediante a sus- frequent, the surgeries that had been more suspended, and the
pensão da cirurgia, realizou-se um estudo descritivo, em um feelings presented for the patients by means of the suspension
hospital filantrópico, com atendimento geral, no município de of the surgery. The work was carried through in a philanthropic
São Paulo, quando, no período de três meses, entrevistando-se hospital, with attendance general, in the city of São Paulo, the
18 pacientes. Dentre as quatro equipes do Centro Cirúrgico period of three months and carried through interview with 18
Neurológico, o maior número de suspensão foi da equipe B patients. Amongst the four teams of Neurological the Surgical
(44%), a cirurgia com maior freqüência foi Artrodese de Colu- Center, the greater I number of suspension was of team B (44%),
na Cervical (40%) e o motivo foi falta de condições clínicas the surgery more frequently was Astrodome de Cervical Colu-
(36%). O sentimento mais representativo foi angustia (38,8%). na (40%), the reason was lack of clinical conditions (36%) and
Possivelmente os motivos encontrados são passíveis de serem the presented feeling more was distresses (38.8%).
minimizados com conseqüente repercussão positiva para os
pacientes. Key words:
Suspended Surgery; Center-surgical; patients.
Palavras-chave:
Cirurgias suspensas; pacientes; centro-cirúrgico.

Identificando esses pontos, podemos refletir sobre o con-


Introdução ceito ampliado de saúde, que nos remete ao holístico, ao todo,
A suspensão de uma cirurgia é um evento que pode ser considerando em primeiro plano a pessoa que passará por um
analisado por duas vertentes: a primeira, sem dúvida, voltada ato cirúrgico. Melhorar a qualidade da assistência de enferma-
para as repercussões que envolvem o paciente, e a segunda, gem, significa minimizar o sofrimento da pessoa, o que em muito
pelas conseqüências que causam para a instituição de saúde. justifica a busca por referenciais teóricos e epistemológicos sobre
Para o paciente, toda cirurgia, por mais simples que seja, os procedimentos cirúrgicos o os atos que os envolvem.
tem importante significado a ponto de provocar comportamen-
to/sentimento com a mesma proporção de qualquer outra situa- Objetivos:
ção traumática. Geral: Analisar, mediante a óptica da dimensão pessoal e
O paciente, ao se preparar para a cirurgia, traz consigo estrutural, os efeitos da suspensão de cirurgias.
expectativas, duvidas e temores a respeito do que irá acontecer. Específicos:
Para ele, o hospital é um ambiente estranho e desconhecido, • Conhecer o sentimento do paciente com a cirurgia
onde se sente nas mãos de profissionais, aos quais confia e es- suspensa,
pera receber cuidados adequados. Todas as suas preocupações • Identificar as equipes que tiveram maiores casos de sus-
e expectativas estão voltadas para a realização da cirurgia e pensão de cirurgias
não para a sua suspensão. (PASCHOAL, et al. 2006). • Averiguar os tipos de cirurgias suspensas
Uma vez agendada a cirurgia, o paciente passa por mo- • Pontuar os motivos de suspensão.
mentos de espera, muitas vezes prolongados. Caso a suspensão
da cirurgia aconteça, o paciente passa por muitas significações, Revisão de Literatura
tais como riscos, faltas, abandono, prejudicando até mesmo em
sua assistência, pelo jejum prolongado, tricotomia, sondagens, Definição
punções venosas, ansiedade, stress, angustia, medo, tristeza e As principais finalidades de um Centro Cirúrgico ( CC)
depressão. são:

1. Enfermeira pós-graduada em Centro Cirúrgico. Recebido: agosto de 2009


Aceito: setembro de 2009
2. Enfermeira, doutora em Clínica Cirúrgica. Autor para correspondência: Elaine Bione Lima Afonso
E-mail: elainebione@ig.com.br

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• Realizar procedimentos cirúrgicos e devolver os paci- próteses dentárias removíveis, a higiene oral, a aplicação de
entes às suas unidades de origem nas melhores condições pos- medicação pré-anestésica, quando prescrita, e o esvaziamento
síveis de integridade. vesical e intestinal antes da entrada do paciente no CC
• Servir de campo de estágio para formação, treinamento (SOBECC,2007)
e desenvolvimento de recursos humanos. A cirurgia seja ela eletiva ou de emergência, é um evento
• Servir de local para desenvolver programas e projetos estressante e complexo para o paciente. Os pacientes com pro-
de pesquisa voltada para o desenvolvimento de novas técnicas blemas de saúde, cujo tratamento envolve uma intervenção ci-
cirúrgicas e assépticas. (POSSARI, 2007)· rúrgica, geralmente se submetem a uma cirurgia. Tal procedi-
mento envolve a administração de anestesia local, regional ou
Importâncias do Centro Cirúrgico geral, aumentando assim o grau de ansiedade do paciente, o
O CC é o setor mais importante do hospital, ou pelo me- que provoca alterações emocionais decorrentes do anuncio do
nos, o que mais atrai a atenção pela evidência dos resultados, diagnóstico cirúrgico. Isso causa, portanto situações desagra-
dramaticidade das operações, importância demonstrativa e di- dáveis no estado bio-psico-sócio-espiritual do paciente, acarre-
dática e, principalmente, pela decisiva ação curativa da cirur- tando problemas grave, podendo chegar à suspensão da cirur-
gia. Sua importância é devida: gia ou até mesmo óbito do paciente (POSSARI,2007).
• Ser o local onde o paciente deposita toda a esperança de
cura. Problemas acarretados pela suspensão do proce-
• Necessitar de tecnologia de ponta para prestar assistên- dimento cirúrgico
cia à clientela. Todo procedimento cirúrgico é agendado com antecedên-
• Ser praticamente o local mais caro do hospital. cia, fazendo com que o paciente fique aguardando e se prepa-
• Ao grande numero de profissionais que ali trabalham rando psicologicamente para a intervenção cirúrgica. A suspen-
(cirurgião, anestesiologista, enfermeiro, técnico e auxiliar de são da cirurgia ocorre geralmente no dia agendado, por algum
enfermagem, instrumentador cirúrgico, técnicos de raios X (RX), problema evidenciado no paciente, ou por não liberação do
farmacêuticos). material pelo convenio, ou até mesmo problemas com as equi-
• Ao grande numero de alunos que ali estagiam. pes cirúrgicas, nesses casos os pacientes sempre sofrem por al-
• Aos aspectos específicos, principalmente em sua cons- gum problema, iremos abordar cada um deles:
trução, relacionados ao controle de infecção.
• A utilização racional dos recursos humanos e materiais Ansiedade
como vistas à otimização de custos tanto para o paciente quan- É um dos indicadores do estresse (esgotamento pessoal
to para a instituição. que interfere na vida do individuo) e pode se tornar patológica
• A necessidade de controle de assepsia para minimizar o (Faria, et al,2007)
risco de infecção da ferida operatória. (POSSARI, 2007). É um sentimento vago e desagradável de medo, apreen-
são, caracterizado por tensão ou desconforto derivado de ante-
Atribuições do Enfermeiro (SOBECC, 2007) cipação de perigo, de algo desconhecido ou estranho. (Castillo,
O enfermeiro é o profissional habilitado para gerenciar et AL,2008). Também pode ser definido como uma resposta
as necessidades que envolvem o ato anestésico-cirurgico em psicológica e física à ameaça do autoconceito. (CARVALHO,
todas as suas etapas. Dependendo da organização estrutural et AL,2004).
adotada, há tanto o enfermeiro-coordenador quanto o
assistencial. É recomendável que o enfermeiro seja especialista Stress
na área de conhecimento em que atua. Atualmente a palavra stress tem sido muito recorrida, as-
sociada a sensações de desconforto, sendo cada vez maior o
Fases pré-operatória número de pessoas que se definem como estressadas ou relaci-
A fase pré-operatória começa quando se toma a decisão onam a outros indivíduos na mesma situação. O stress é quase
de prosseguir com a intervenção cirúrgica e termina com a trans- sempre visualizado como algo negativo que ocasiona prejuízo
ferência do paciente para a mesa da sala de cirurgia. O espectro no desempenho global do individuo. (STACCIARINI, et
das atividades de enfermagem durante esse período pode in- AL,2001).
cluir o estabelecimento de uma avaliação basal do paciente an-
tes do dia da cirurgia ao realizar uma entrevista pré-operatória, Angustia
exames necessários foram feito ou serão realizados, arranjar os É a sensação psicológica, caracterizada por “abafamen-
serviços de consulta apropriados e fornecer a educação prepa- to, insegurança, falta de humor, ressentimento, dor e ferida na
ratória a respeito da recuperação da anestesia e cuidados pós- alma. Na moderna psiquiatria, é considerada uma doença que
operatórios. No dia da cirurgia, o ensino do paciente é revisto, pode produzir problemas psicossomáticos (BRUNNER E
a identidade do paciente e o sítio cirúrgico são verificados, o SUDDARTH,2005)
consentimento informado é confirmado e inicia-se uma infusão
intravenosa (BRUNNER E SUDDARTH,2005).
O pré-operatório imediato é marcado pelos preparos es-
Medo
pecifico para a cirurgia, tais como jejum oral absoluto, confor- É sentimento que é um estado de alerta demonstrada pelo
me a idade, a tricotomia da região a ser abordada, feita no máxi- receio de fazer alguma coisa, geralmente por se sentir ameaça-
mo duas horas antes do procedimento cirúrgico, higiene corpo- do, tanto psicologicamente como fisicamente. Pavor é a ênfase
ral seguida de aplicação do anti-séptico prescrito, conforme o do medo, o medo pode provocar reações físicas como descarga
protocolo da instituição, a remoção de adornos metálicos e de adrenalina, aceleração cardíaca e tremor. Pode provocar aten-

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ção exagerada a tudo que ocorre ao redor. (STACCIARINI, et com perguntas objetivas no momento da suspensão da cirurgia,
AL,2001) sendo possível observar melhor os seus sentimentos quanto ao
ocorrido, não obstante, mesmos que se passassem algumas ho-
Tristeza ras o sentimento do paciente continuavam o mesmo.
É um sentimento humano que expressa desanimo ou frus-
tração em relação a alguém ou algo. É o oposto da alegria. A Apresentações dos resultados
tristeza pode causar reações físicas como depressão nervosa, A pesquisa foi realizada em um hospital filantrópico do
choro e insônia. A tristeza pode ser conseqüência de emoções município de São Paulo, composto por 1.700 leitos, tendo aten-
como o egoísmo, a insegurança, a inveja e a desilusão. São dimento geral, com 60% SUS e 40% convênio/particular, con-
emoções que, quando não tratadas logo, podem terminar geran- tendo cinco centros cirúrgicos, sendo a média mensal de 1.000
do tristeza, ou em casos extremos a depressão nervosa. ( cirurgias/mês.
FUREGATO, et AL,2008). Os dados foram coletados em um centro cirúrgico deno-
minado bloco 5, que tem como finalidade somente o atendi-
mento neurocirúrgico, que totaliza 6% de cirurgias realizadas.
Casuística e Método A equipe multiprofissional é composta por 2 enfermeiras
(1 matutino e 1 vespertino), 1 enfermeira noturno que realiza
Tipos de estudo cobertura à distância, a mesma fica locada no centro cirúrgico
Trata-se de um estudo com abordagem quantitativa do
do bloco 3, 7 auxiliares de enfermagem, (distribuídos nos 3
tipo descritivo-exploratório. Segundo Polit e Hungler (1995) a
plantões) 3 auxiliares de limpeza, (distribuídas nos 3 plantões)
pesquisa descritiva tem o propósito de observar, descrever e
2 escriturarias (1 matutino e 1 vespertino), 3 supervisoras de
explorar uma situação, não pretendendo compreender as cau-
enfermagem (distribuídas nos 3 plantões), 4 equipes que reali-
sas subjacentes.
zam cirurgias neurológicas nesse centro cirúrgico, que denomi-
naremos como: equipe A, equipe B equipe C e equipe D.
População e amostra
A população foi composta por pacientes com cirurgias Equipe A: realiza cirurgias de craniotomia, laminectomia,
agendadas com antecedência no Centro Cirúrgico neurológico, composta por 2 médicos;
denominado bloco 5, de um hospital filantrópico do município Equipe B: realiza cirurgias de artrodese de coluna e es-
de São Paulo. poradicamente craniotomias, composta por 3 médicos;
O tipo de amostra foi de conveniência, para Polit e Hungler Equipe C: realizam cirurgias de artrodese de coluna,
(1995) nesse tipo de amostra são utilizados sujeitos mais dispo- laminectomia, craniotomias, composta por 6 médicos;
níveis pelo pesquisador. Equipe D: realiza cirurgias de biopsia estereotáxica, com-
A amostra foi de 25 pacientes, que tiveram suas cirurgias posta de 4 médicos.
suspensas, embora somente 18 tenham sido entrevistados, jus- O centro cirúrgico em questão, possui 3 salas cirúrgicas,
tificados pela ausência destes no momento da suspensão da ci- que são divididas entre as equipes, e distribuídas de acordo com
rurgia. o procedimento cirúrgico.
Levando em consideração que foram entrevistados 18
Exclusão pacientes de 25 cirurgias suspensas, pois a diferença de 7 paci-
A amostra foi constituída de pacientes maiores de 18 anos entes foi devido à ausência destes no dia marcado.
com cirurgias agendadas pelas equipes cirúrgicas Apresenta-se a seguir, os resultados encontrados:

Procedimentos para coleta de dados Gráfico 1 - Suspensão de cirurgias por equipe médica, de um
Antes do início da coleta de dados foi solicitado autori- hospital filantrópico de Estado de São Paulo.
zação para o Comitê de Ética em Pesquisa e também da chefia
de enfermagem do hospital campo de estudo, obedecendo à
Resolução 196/96 do Conselho nacional de Saúde.
Após parecer favorável, segundo protocolo Nº363-08 ini-
ciou-se a coleta de dados.
Os dados foram coletados pelas próprias autoras, que
acompanharam os pacientes com cirurgias suspensas, interna-
dos nos meses de janeiro/fevereiro/março, para o procedimen-
to cirúrgico agendado.
Após a identificação dos pacientes foi esclarecido aos
participantes da pesquisa os objetivos do estudo e solicitado De acordo com o gráfico 1, totalizaram 25 cirurgias
aos mesmos que assinassem um termo de consentimento livre e suspensas em um período de 3 meses de pesquisa, sendo divi-
esclarecido. das entre as 4 equipes que realizam cirurgias no CC em ques-
tão.
Operacionalizações da coleta de dados Evidenciou-se que a equipe A teve 32% de cirurgias
Ao suspender a cirurgia que estava agendada pela equipe suspensas, a equipe B teve o maior número de cirurgias
médica, iniciou-se a coleta de dados, por meio de entrevista suspensas, um total de 44%, equipe C teve 24% e a equipe D
com os pacientes em questão. 0%, porém não houve cirurgias agendadas durante o período
Os pacientes foram avaliados mediante um questionário por essa equipe.

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Verificou-se que os sentimentos ao ser suspensa uma ci-


Gráfico 2 - Quantidade de cirurgias suspensas por tipo de ci- rurgia variam muito de um para o outro, até mesmo pelo proce-
rurgia dimento a ser realizado, quanto a sua maior complexidade, maior
o sentimento. Chegou-se ao resultado de : stress 22,2%, angus-
tia 38,8%, insegurança 5,7%, tristeza 22,2%, medo 11,1% e
outros 0%.
Em estudo realizado por Antônio (2002) os resultados
mostraram que os fatores geradores de sentimentos são relacio-
nados às emoções do paciente e outra ao funcionamento da ins-
tituição, sendo esses últimos mais freqüentes.

Gráfico 5: Esclarecimento quanto ao motivo da suspensão da


cirurgia aos pacientes pelo médico

Analisando todas as cirurgias suspensas, observou-se que


o maior quantitativo de cirurgias suspensas foi de Artrodese de
Coluna Cervical, um total de 40%, devido à maior dificuldade
de liberação de material devido ao custo para os convênios e
para o hospital, seguida de Clipagem de Aneurisma 16%,
Artrodese de Coluna Lombar 12% e denervação de facetas lom- Devido aos resultados mostrados acima, vê-se a necessi-
bares 8%, e o restante totalizou 24%, sendo um número baixo dade que cada paciente tem em ser esclarecido quanto ao moti-
em relação às outras cirurgias. vo da suspensão da mesma, devido à exigência de alguns, sem-
pre querem que o médico cirurgião dê um pouco de atenção
Gráfico 3 – Profissionais da área de saúde que comunicaram o nessa hora tão estressante. Evidencia-se, de acordo com os re-
paciente a respeito da suspensão da cirurgia sultados, que foram 88,8% esclarecidos pelos médicos e 11,2%
pelos enfermeiros, sendo assim, não houve nenhuma reclama-
ção por parte dos pacientes.

Gráfico 6: Os motivos mais freqüentes das cirurgias suspensas

Evidenciou-se que a maioria dos pacientes são avisados


pela própria equipe médica, um total de aproximadamente 73%
dos pacientes, o que traz uma segurança maior ao mesmo, 27%
foram avisados pelo enfermeiro responsável pela unidade, e 0%
pelos auxiliares de enfermagem, vendo o lado positivo, pois os
médicos e enfermeiros tem uma maior responsabilidade quanto
a essa questão.
Para Vieira (2001), considerando a representação social
de enfermeiros perante a suspensão de cirurgias, esclarece que
surgiram papeis passivos até ações ativas no intuito de resolu- Ao analisar os motivos mais freqüentes verificou-se que
ção do problemas gerados. evidenciou-se um maior número de suspensões por falta de con-
dições clinicas 36%, esse motivo ocorre devido falta de exames
Gráfico 4 – Os sentimentos que foram expressados pelos paci- pré-operatórios e avaliação clínica, que muitas vezes os paci-
entes ao serem informados da suspensão da cirurgia entes internam sem os mesmos, 24% por paciente não ter inter-
nado (algumas vezes por falta de liberação do convênio e ou-
tras por medo/insegurança do procedimento), 24% por materi-
al não liberado pelo convênio e 16% por outros motivos cita-
dos que foram a minoria.
Mendes (2005) relata que a suspensão de cirurgias evi-
denciadas em estudo retrospectivo realizado durante 5 anos fo-
ram divididas em causas médicas e administrativas, concluindo
ainda, que há correlação entre a taxa de suspensão de cirurgias
e a média de permanência dos pacientes internados.

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Gráfico 7: quantidade de suspensão por tipo de convênio mé-


Referências Bibliográficas
dico ANTONIO, P. S.; MUNARI, D. B.; COSTA, H. K. Fato-
res geradores de sentimentos do paciente internado frente ao
cancelamento de cirurgias. Revista Eletrônica de Enfermagem
(on-line), v.4, n.1, p. 33 – 39, 2002. Disponível em http://
www.fen.ufg.br
BRUNNER E SUDDARTH – Smeltzer, S.C., Bare, B.G, Tra-
tado de Enfermagem Médico – Cirúrgico, 10ªEd., volume 1, Rio
de Janeiro: Guanabara/Koogan, 2005,
CARVALHO, Rachel de; FARAH, Olga Guilhermina
Dias; GALDEANO, Luzia Elaine. Níveis de ansiedade de alu-
nos de graduação em enfermagem frente à primeira
instrumentação cirúrgica. Rev. Latino-am. Enfermagem, Ribei-
Somando um total de cirurgias suspensas de 25, foram
rão Preto, v. 12, nº 6, 2004.
suspensas 19 de convênio (76%) e 6 SUS (24%).
CASTILLO, Ana Regina GL et AL. Transtornos de ansi-
edade. Rev. Bras. de Psiquiatria., São Paulo 2008..
Considerações finais FARIA, Daniella Antunes Pousa; MAIA. Eulália Maria
Chaves. Ansiedades e sentimentos de profissionais de enferma-
Após o estudo e contato direto com os pacientes partici- gem nas situações de terminalidade em oncologia. Rev. Latino-
pantes da pesquisa, verificou-se que os mesmos chegam ao hos- am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v.15, nº 6, 2007.
pital com uma expectativa muito grande quanto ao procedimento FUREGATO, Antonia Regina Ferreira; SANTOS, Javi
cirúrgico, além da ansiedade explícita. Licio Ferreira e SILVA, Edilaine Cristina da. Depressão entre
Quando ocorre o fato da mesma vir a ser suspensa, os estudantes de enfermagem relacionadas à auto-estima à percep-
pacientes se sentem angustiados, tristes e preocupados . ção da saúde e interesse por saúde mental. Rev. Latino-am En-
Ao serem avisados da suspensão na maioria das vezes fermagem, Ribeirão Preto, v. 16, nº 2 2008.
pelos próprios médicos, sendo uma das maiores exigências dos MENDES,F.F. ; MATHIAS,L.A.S.T.; DUVAL NETO
pacientes, os mesmos ficam decepcionados e sempre com al- G.F.; BIRCK,A.R. Impacto da implantação de clínica de avali-
gum sentimento de cunho negativo. Os que exclusivamente fo- ação pré-operatória em indicadores de desempenho. Rev bras
ram avisados pelos enfermeiros também apresentaram uma sa- anestesiol; n. 55, p. 175-187, mar. – abril, 2005.
tisfação de estarem sendo esclarecido quanto à suspensão da PACHOAL MLH, Gatto MAF. Taxa de suspensão de ci-
cirurgia, melhorando o nível de stress e angustia, ajudando na rurgia em um hospital universitário e os motivos de absenteísmo
qualidade de atendimento. do paciente à cirurgia programada. Rev. Latino-am Enferma-
Verificou-se que a equipe B teve um maior numero de gem, v.14,n.1, p. 48-53, Janeiro – Fevereiro 2006.
suspensão, tanto porque a mesma teve um maior numero de POLIT, D.F. Hungler, B.P, Fundamento da pesquisa em
agendamento, e foi a equipe mais prestativa e esclarecedora ao enfermagem. 3ª Ed., Porto Alegre: Artes Médicas, 1995, 379p.
paciente. POSSARI, João Francisco. Centro Cirúrgico: Planejamen-
A cirurgia com maior numero de suspensão foi artrodese to, Organização e Gestão, São Paulo: Iátria, 2007.
de coluna cervical, e o motivo mais comum, foi falta de condi- SOBECC. Práticas Recomendadas – SOBECC, Centro
ções clínicas, muitas vezes pela ausência de exames pré-opera- Cirúrgico, Recuperação Pós-Anestesica e Centro de Material
tório. Esterelizado. 4ª Ed., p.123; 152-154, 2007.
Os pacientes entrevistados mostram um índice de satisfa- STACCIARINI, Jeanne Marie R.; TROCCOLI,
ção pelo interesse de saber como eles se sentiam naquele mo- Bartolomeu T.. O estresse na atividade ocupacional do enfer-
mento de maior ansiedade e stress, durante a internação. meiro. Rev. Latino-am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v.9, nº 2,
Tendo em mente uma melhoria da assistência de enfer- 2001.
magem aos pacientes em pré-operatório, conseguimos avaliar VIEIRA, M.J.; FUREGATO,A.R. Suspensão de cirurgi-
os sentimentos dos pacientes com cirurgias neurológicas as: atitudes e representações dos enfermeiros. Revista da Esco-
suspensas, embora apenas uma faceta do todo. la de Enfermagem; n.35, p. 135-140, 2001.
A reflexão emergente do estudo passa pela necessidade
de educação continuada dos profissionais que atuam nas áreas
cirúrgicas, considerando os aspectos humanos envolvidos na
comunicação de uma cirurgia suspensa, e também aos aspectos
intrínsecos aos próprio paciente, dos sentimentos relacionados
à doença e ao ato cirúrgico em si.

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A Psicologia Judiciária e o Direito


The Psychology of the Judiciary and the Law
Berenice dos Santos Morozowski1, Roberto L. L. de Moura2

Resumo Abstract
A Psicologia Judiciária consiste na aplicação dos conhe- The Psychology of the judiciary is the application of
cimentos psicológicos ao serviço do Direito. Dedica-se à prote- psychological knowledge in the service of the law. It is dedicated
ção da sociedade e à defesa dos direitos do cidadão, através da to the protection of the society and the rights of the citizen
perspectiva psicológica e busca auxiliar a pro-mover o bem es- through the psychological perspective and help to promote the
tar bio-psico-social do indivíduo, que é o conceito de saúde people’s biopsychosocial well being. This is the world health
adotado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). organization’s concept of health.

Palavras-chave: Key words:


Psicologia judiciária; psicologia jurídica; psicologia forense; Judicial psychology; forensic; psychology; law; psychologist.
direito; psicólogo.

psíquica sofreu uma pessoa vítima da conduta praticada por


Introdução outro indivíduo.
Leciona o Douto Professor Damásio Evangelista de Je-
Nos estudos do comportamento e das atitudes dos seres
sus (1988) em sua obra Direito Penal: “O fato social é sempre o
humanos, se observa que existem proposições oriundas das
ponto de partida na formação do Direito. O Direito surge das
necessidades básicas de sobrevivência dos indivíduos e da
necessidades fundamentais das sociedades humanas, que são
espécie em geral.
reguladas por ele como condição essencial à sua sobrevivên-
O convívio com outros seres humanos – convívio social
cia. É no Direito que encontramos a segurança das condições
– é uma dessas necessidades.
inerentes à vida humana, determinada pelas normas que formam
Surge, então, a obrigatoriedade de serem estabelecidas
a ordem jurídica”.
normas de convívio, normas estas que são abrangentes a todos
O fato social que se mostra contrário à norma de Direito,
os componentes deste círculo de convívio.
forja o ilícito jurídico, cuja forma mais séria é o ilícito penal,
No mundo jurídico existe uma dicotomia pedagógica que
que atenta contra os bens mais importantes da vida social. Con-
estabelece a existência de dois grandes ramos do Direito, o
tra a prática desses fatos o Estado estabelece sanções. O Esta-
Ordenamento composto por Leis Civis (Direito Constitucional,
do também fixa outras medidas, com o objetivo de prevenir ou
Direito Civil, Direito Trabalhista, Direito de Família, etc.), e o
reprimir a ocorrência de fatos lesivos dos bens jurídicos do
Ordenamento composto por Leis Penais (Direito Penal).
cidadão. A mais severa das sanções é a pena, estabelecida para
Na esfera da lei civil o ato contrário ao preconizado pela
o caso de inobservância de um imperativo. “Dentre as medidas
norma que disciplina o convívio denomina-se ilícito civil. E na
de repressão ou prevenção encontramos as medidas de segu-
esfera da Lei Penal o ilícito penal é chamado de crime, ou
rança.”
contravenção.
O ato de conviver em sociedade exige dos seres humanos
A Psicologia Judiciária, também denominada Psicolo-
uma conduta que não agrida ao seu semelhante e que não viole
gia Forense, ou Psicologia Jurídica, objetiva auxiliar os mem-
os interesses e as necessidades dos demais membros dessa
bros do Poder Judiciário, do Ministério Público, os Advogados,
sociedade.
e também os cidadãos que estão envolvidos no processo judi-
O homem vive e atua em um meio social. Sente necessida-
cial a elucidarem questões referentes à saúde mental e psicoló-
des e procura satisfazê-las, recebe informação do meio
gica de um indivíduo que praticou uma determinada conduta.
circundante e por ele se orienta, forma imagens conscientes da
Se ele possuía ao tempo do ato praticado seus entendimentos
realidade, cria planos e programas de ação, compara os resulta-
volitivo e cognitivo em perfeito estado de normalidade. Ou seja,
dos de sua atividade com intenções iniciais, experimenta esta-
se a capacidade psicológica do sujeito estava preservada e
dos emocionais e corrige os erros cometidos.
tinha ele o entendimento sobre as conseqüências de suas atitu-
Tudo isto representa a atividade do homem no plano psi-
des assim como se estava consciente de estar realizando um ato
cológico, que constitui o objeto de uma ciência: A Psicologia.
permitido ou não pela lei. Ou também qual o grau de agressão
1. Psicóloga Jurídica - Psicoterapeuta Sistêmica - Coordenadora do Núcleo de Sensu em Psicologia Judiciária Social e Criminologia da INSPIRAR –
Conciliação das Varas de Família do Programa Justiça no Bairro do TJPR – CENTRO DE ESTUDOS PESQUISA E EXTENSÃO EM SAÚDE.
Professora das disciplinas de Psicologia Judiciária e Psicologia da Família da
INSPIRAR – CENTRO DE ESTUDOS PESQUISA E EXTENSÃO EM SAÚDE.. Recebido: maio de 2009
Aceito: setembro de 2009
2. Bel. em Fisioterapia – FRT- Bel. em Direito – UBC - Pós Graduado em Psicologia Autor para correspondência: Roberto L. L. de Moura
Judiciária e Criminologia – FMU - Coordenador do Curso de Pós Graduação Lato E-mail: rllmoura2008@gmail.com

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Esta ciência se propõe a tarefa de estabelecer a leis básicas da regime de apenamento, elaboração de exames criminológicos,
atividade psicológica, estudar as vias de sua evolução, desco- se deve ou não ser posto em liberdade. Caso esteja internado
brir os mecanismos que lhe servem de base e descrever as mu- em Hospital de Custódia se está curado e há condições de ser
danças que ocorrem nessa atividade nos estados patológicos. colocado em liberdade.
Só uma ciência capaz de estudar as leis da atividade psicológica No tocante às vítimas das violações de direitos, necessá-
com uma precisão possível pode assegurar o conhecimento rio é fundamentalmente que a vítima seja acolhida, amparada e
desta atividade e sua direção com bases científicas. “(LURIA, também compreendida em sua condição de vítima. Por vezes, há
__.) a necessidade de um complexo estudo sobre ela por intermédio
O campo de atuação do Psicólogo que atua perante o da que a “Vitimologia”, disciplina que objetiva compreender se
Direito é repleto de indagações e descobertas, obrigando este houve ou não a contribuição dela para que ocorresse esta agres-
profissional a estar constantemente buscando mais conheci- são aos seus direitos. E em caso positivo qual foi esta contribui-
mentos tanto na esfera do saber da área da saúde como no ção uma vez que por vezes as suas próprias condutas podem
âmbito das relações jurídicas que norteiam a sociedade. culminar em uma lesão produzida por terceiros. E em caso nega-
O espírito de pesquisador é fundamental para manter o tivo avaliar a conduta do agressor que elegeu aquela vítima.
constante questionamento dos caminhos a serem desvenda- Sendo que em ambos os casos auxiliar a curar as feridas psíqui-
dos ou seguidos numa prática em que as questões humanas cas que foram desencadeadas pela agressão perpetrada contra
tratadas no âmbito do Direito e do Poder Judiciário são das mais ela.
complexas, haja vista que são as dificuldades que surgem no
convívio das pessoas o motivo que as levam a recorrer ao Poder
Judiciário.
O Psicólogo e a Psicologia Judiciária
Em face das rápidas mudanças ocorridas nos valores éti- Após o surgimento da Psicologia Judiciária, também
cos, sociais e morais de uma sociedade torna-se necessário que chamada de Psicologia Forense ou Psicologia Jurídica tem
tanto os profissionais do Direito e das Ciências Sociais adqui- sido exigido dos psicólogos uma busca por informações e apren-
ram mais conhecimentos no tocante a psique dos homens assim dizados que nos Projetos Pedagógicos dos Cursos de Psicolo-
como os profissionais da Psicologia, Medicina, e ciências gia ainda não são contemplados, portanto incapazes de formar
correlatas, obtenham maiores conhecimentos das influências graduados com os conhecimentos necessários para o exercício
do convívio em sociedade que geram dispositivos legais que deste ramo da psicologia que requer um preparo diferenciado
ora permitem um comportamento ora incriminam essa mesma em razão das particularidades que apresenta. Muito se aprende
forma de agir, uma vez que o chamado fato social é um fato sobre psicologia clínica nos cursos de graduação. Conheci-
acontecido – condutas reiteradamente praticadas por membros mentos fundamentais e que sem a menor sombra de dúvida
de uma determinada sociedade – que gerou uma norma legal embasam o saber psicológico necessário à atuação do profissi-
disciplinadora deste comportamento autorizando-o ou reprimin- onal, mas para a área jurídica há necessidade de serem adquiri-
do-o. dos vários outros “saberes” que se tornam quesitos fundamen-
E o que está em questão é como os membros de uma tais para o bom exercício da atividade do denominado Psicólo-
sociedade podem facilitar a resolução de conflitos, e que estes go Judiciário, Forense ou Jurídico.
não são simples questões de cunho burocrático. Esses confli- As instituições de ensino superior que ministram o curso
tos revelam, muitas vezes, questões delicadas, difíceis e doloro- de psicologia deixam a desejar no momento que sinalizam para o
sas. aluno um novo campo de trabalho e não fornecem um mínimo de
Nas Varas de Família, por exemplo, alguns dos motivos conhecimento sobre essas áreas em surgimento, evidência ou
pelos quais as pessoas recorrem ao Poder Judiciário são as expansão no mercado de trabalho.
discordâncias em relação à guarda de seus filhos, alguns reivin- A área jurídica demanda uma serie de quesitos e conheci-
dicam direito de visitação quando um dos pais se recusa a per- mentos inerentes ao Direito, ao Poder Judiciário e às Ciências
mitir o direito inerente à condição de pai ou de mãe, pois não Sociais, tais como o ordenamento jurídico, hierarquia, discurso
conseguem fazer um acordo amigável e esquecem que os filhos jurídico, postura e compostura profissional, perícia, código de
têm o direito de ter a companhia de ambos os pais. ética e deontologia, tirocínio jurídico, além de vocação para
Pessoas que praticam maus-tratos e violência sexual con- mediação, inclinação para não apenas a interdisciplinaridade,
tra seus filhos, enteados ou outras crianças. Casais que ansei- mas também a transdisciplinaridade, uma vez que os direitos
am adotar uma criança por terem dificuldades de gerar filhos. intrínsecos à condição de seres humanos que estão necessitan-
Jovens que se envolvem com drogas, ou passam a ter outros do de soluções para conflitos, tanto de ordem civil como crimi-
comportamentos que transgridem a lei, e seus pais não sabem nal, ocasionadores de agressões psíquicas que poderão trans-
como fazer para ajudá-los a se recuperarem e voltarem a ter uma formar as suas vidas tanto de modo benéfico como de modo
conduta socialmente aceita. nefasto.
Questões de cunho trabalhista que necessitam ser avali- A Psicologia, “enquanto ciência que estuda o comporta-
adas sob a ótica da Psicologia para aquilatar a verdadeira influ- mento humano e os processos mentais” (DAVIDOFF, 1983) com
ência do meio profissional na saúde mental do trabalhador. o objetivo de “ entender porque pensam, sentem e agem de
No campo do Direito Penal a promoção da avaliação do maneira que o fazem” (NYERS, 1994), apresenta-se como um
acusado sob a ótica da Psicologia objetivando estabelecer as instrumento de extraordinário valor para o profissional que se
condições psicológicas em que foram praticadas as condutas e dedica ao Direito (advogados, juízes, promotores) porque lança
se era ou não responsável por suas ações. Na seara do cumpri- luzes a respeito da compreensão das forças interiores que mo-
mento da pena a que foi condenado, portanto, na fase da execu- vem os indivíduos. (FIORELLI, 2006).
ção penal sob que condições está a psique do ‘apenado’ se
pode ou não auferir os benefícios intrínsecos a progressão de

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Instrumentalizar advogados, juízes, promotores e


O Psicólogo nas Varas de Família desembargadores é uma visão moderna e necessária quando as
Nas Varas de Família essas forças interiores são produzi- questões envolvem família. Não é possível nos dias atuais re-
das pelos mecanismos de defesa, muitas vezes patológicos que solver conflitos familiares no Poder Judiciário sem a presença
terminam exacerbando mitos individuais, de gênero, maternos e da Equipe Técnica formada por Psicólogos e Assistentes Soci-
paternos. ais. A compreensão dos mecanismos de defesa, a motivação do
O Direito de Família fundamenta suas ferramentas de tra- indivíduo, os interesses que se encontram por trás dos enunci-
balho na normatização, no ordenamento jurídico dos procedi- ados processuais podem levar à antecipação dos resultados da
mentos processuais e do modo como as famílias se apresentam lide que finalmente representam ganhos emocionais para todos
no formato de sistema conjugal e sistema parental. os envolvidos, além dos benefícios financeiros quando se re-
O Psicólogo Jurídico fundamenta suas ferramentas de duz o lapso temporal para o fim da lide judicial.
trabalho no acolhimento dessas famílias em dificuldades psico- Daí a necessidade imperiosa, emergencial de se formar
lógicas, que se transformaram em dificuldades jurídicas, profissionais da psicologia com conhecimentos básicos do Di-
desmitificando mitos e identidades rígidas ou preconceituosas. reito, leis e ordenamentos, além de conhecimentos oriundos
Propondo um novo pensar e agir nas questões familiares para das Ciências Sociais quando a opção do profissional for pela
que se possa de maneira ética-jurídica tutelar suas vidas agora atuação no campo da Psicologia Jurídica. Em cada área de atua-
sob as júdices de um Juiz. ção do Poder Judiciário (cível, criminal, família, etc.) existem par-
A interdisciplinaridade ocorrida entre o Direito e a Psico- ticularidades que exigem dos profissionais operadores destas
logia possibilita aos profissionais de ambas as áreas uma ampli- searas interdisciplinaridade, um discurso afinado, coerente se-
ação dos conhecimentos inerentes a cada ciência envolvida, gundo a demanda do objeto do processo.
agindo diretamente no aguçamento das percepções sobre a Assim como o advogado que atua na família deve ser um
matéria que se lida e traduzida nos comportamentos individuais vocacionado, o psicólogo deve também se colocar neste lugar e
coletivos da família envolvida. dispor seu saber e vivência para amenizar as dores e o luto de
A convergência de interesses, que é a base do conflito, e uma separação.
o afeto adoecido são a matéria prima do trabalho dos operado- A experiência em atuar nas Varas de Família mostra que a
res do Direito e Psicologia Jurídica principalmente nas Varas de família em dificuldade jurídica perde a noção de tempo, acredita
Família. Os envolvidos vivenciam situações de fortes emoções, que tudo acabou para sempre. Os mitos e medos estão exacer-
desencontros psicológicos, desastres emocionais e financei- bados de tal forma e magnitude que os mecanismos de defesa
ros. Acreditam que para eles só existam duas possibilidades: a afloram em forma de agressividade, violência e patologias.
cooperada e a adversarial. Se neste momento surge um profissional que acolhe, legi-
Na possibilidade cooperada (consensual) a intervenção tima o sofrimento sem interferir nos conteúdos deste sistema
de terceiros nas soluções é delegada a segundo plano, as par- familiar ocorrerá uma luz no final do túnel, que é o acordo. Sem
tes são capazes de encontrar suas próprias regras. Contudo, na uma formação apropriada, específica e dirigida deste profissio-
possibilidade adversarial (litigioso) a solução será delegada nal não se terá a menor possibilidade de uma intervenção ade-
então a terceiros; neste momento o Psicólogo procurará quada, madura, coerente, imparcial, eficiente e correta. O pro-
reformular as visões de mundo dos envolvidos, valendo-se de blema é este profissional terminar acirrando as dificuldades com
instrumentos como a mediação, aconselhamento e orientação. uma intervenção unilateral, laudos que não sinalizem soluções
Será do Poder Judiciário a tutela desta família em dificuldade ou pior, pareceres que favoreçam de forma inverídica os fatos
jurídica. apenas para favorecer o processo na direção da parte que o
São lides que demandam tempo, alto custo emocional e contratou.
financeiro para todos os envolvidos no processo e os que bus- “Para o Direito, a busca da verdade pode transcender os
cam a resolução deste, sejam eles advogados, juízes ou promo- limites do indivíduo: na psicologia, ela focaliza seu mundo inte-
tores. Isto significa que “todos os participantes de um proces- rior, embora sem perder de vista o contexto em que a pessoa se
so podem ser percebidos como envolvidos em um ambiente situa” (FIORELLI, 2006).
emocional, cujos mecanismos tornam - se vitais para a compre- As Varas de Família atuam no sentido de regular as rela-
ensão dos comportamentos” (FIORELLI, 2006). ções no sistema conjugal e nas relações parentais, sendo desta
O conflito altera toda a dinâmica familiar, que reflete na forma um campo de análise privilegiado de como se constituem
sociedade civil, cultural, religiosa e afetiva deste sistema famili- as identidades de gênero, que pelas práticas normativas termi-
ar nuclear (pai, mãe, filhos) e por conseqüência também na famí- nam submetidas, reguladas e governadas. Nestes termos pode-
lia extensa (avós, tios, etc.) alterando muitas vezes de forma se pensar que uma família em litígio considera seus intentos
patológica a comunicação. justos porque seus membros desejam a retomada do poder, e
A função do Psicólogo Jurídico nas Varas de Família é de não o contrário, quando deviam buscar o consenso e o acordo.
possibilitar a alteração das situações de conflito físico, emocio- “Como disse Foucoult: faz-se guerra para ganhar, e não por-
nal e psicológico orientando e ensinando as partes envolvidas que ela é justa. Portanto, é interessante analisar as justificati-
a administrar as relações antagônicas, buscando neutralizar o vas apresentadas ao longo dos processos mais em termos de
processo internacional negativo, evitando que terminem aprisi- poder, do que em termos de justiça” (REIS, 2009).
onados pelo conflito por eles mesmos gerado. Muitas pessoas buscam a justiça pelo prazer de buscar,
O motivo pelo qual as partes não conseguem identificar, pelo desenvolvimento de uma percepção aguçada de que a auto-
clarear ou externar seus sentimentos e interesses, é devido à realização virá quando o objeto de busca for atingido e o gozo
presença dos elementos emocionais que distorcem a percep- desta vitória se dará na relação do indivíduo consigo mesmo,
ção, criando nos litigantes uma “cegueira perceptiva” que difi- no âmago de seus pensamentos – quando, em suas reflexões,
culta a possibilidade de qualquer acordo. poderá dizer: venci! (REIS, 2009).

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Volume 1 • Número 3 • novembro/dezembro de 2009

Conclusão Referências Bibliográficas


Este é o desafio, para os Psicólogos Jurídicos e institui- JESUS, D. E. - Direito Penal, Vol.1, Ed. Saraiva, 1988.
ções de ensino formadoras de profissionais, de LURIA, A.R., Curso de Psicologia Geral, Vol. I, Ed. Civi-
instrumentalizarem-se, correta e conscientemente, para o exercí- lização Brasileira, 2ª Edição.
cio de suas atividades laborais de modo a desempenhá-las com FIORELLI, J. O. – Psicologia Aplicada ao Direito, São
o máximo de eficiência e eficácia, obtendo os conhecimentos Paulo, LTR, 2006.
necessários para tal desiderato. Objetiva adequar a psique de REIS, E.F. – Varas de Família - um encontro entre a Psi-
quem está no conflito, à norma que regula o comportamento cologia e o Direito, Juruá, 2009.
sem causar mais conflitos; sanar o conflito existente, sem violar
as normas e sem ampliar os danos psíquicos e emocionais já
ocasionados; buscar aproximar ao máximo a mente humana da
condição de saudável dentro do entendimento de saúde mental
preconizado pela Organização Mundial de Saúde – OMS. Esse
objetivo somente será atingido por intermédio de profissionais
bem formados e possuidores dos conhecimentos necessários
para o exercício da atividade escolhida.

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