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Perpetuum mobile, moto-perpétuo ou continuo ~ mecanismo independente e autossuficiente que contém tudo necessirio para permanecer em movimento ininterrupto, eterno, sem qualquer impulso exterior que mantenha o funcionamento, sem estimulo, {mpeto ou tragio, nem sequer uma interferéncia de forga externa ‘ow acréscimo de energia Desde os tempos de Galilen e Newton, pelo menos, 0 moto- perpétuo era um sonho de sabios e misticos, de bricoleurs etra- paceiros, objeto de febril experimentagéo e causa de intermind- ‘eis frustragdes. De quando em quando se anunciavaa milagrosa descoberta ou invengio de um moto-perpétuo que sempre falha- ‘yana hora da prova, e era rejeitado como mera ilusto nascida do amadorismo ignorante ou da pura vigarice de alguém movido pela ambigdo ¢ ajudado por uina plateia de créduloss tudo isso reduzido, afinal, a mais uma nota de rodapé na longa e ainda inconclusa historia da insensatez humana. Recentemente, a ideia do moto-perpétuo foi enterrada na lata de lixo das concepgées populares equivocadas, nao tanto ‘em decorréncia da longa sucessio de desapontamentos, mas por causa do veredicto de inexequibilidade e da pena capital imposta pela fisica moderna. ” ‘earas do munco liquide moderne fmpeto de ini decontarcomarttendénela e separar Eni, necessidade dle para solar tana de der as més aalguém ea liberda- dilemma emenic®las Ou, examinando por outro dngulo ease Gio do ego, © medo de destacar-see 0 pavor da disolu- ria), ae casais egalmente formados (talved até a malo- mas logo se dag _etdade ndo podem viver uma sem 2 outta muito dificil, ae ‘que a convivéncia dos dois valores é tarefa lo, mas liberate £m liberdade um aestado de esravi- nente crise de n, 'de sem seguranga é condenat-se a wma perma Privados pts a uma iremediével incertes 2 compensagdo ou da restrigao de sua parceira e ', de seu alter ego), tanto a seguranga quanto a beads ae 05 valores desejados ¢ se transformam em necesita unc. Segura €liberdade ao mest tempo se desejam e init cuts € nfo se suportams ao mesmo tempo contraditorioy. % embora a proporgio dos dois sentimentos (requentes ae ‘a cada um dos frequentes afastamentos Ae significa ume qBa8e uma rotina) do “earn do mec Em geral 2 compeomisso tempore. timentos acabes matives de compensa econcilia os dois sen- lena satistagig se mostrando incompletas, muito aquém da tar um ar de in,, Obretsdo fries demais ¢ instaveis para ado- ser recalvicos sf Xotabilidade. Sempre hi problemas menores @ romper o delice toda vez que se tenta ajusti-los cles ameagam as tentativas da tcidoda lac social. por esse motivo que Cito ou implicitg °™HiasHo jamais aleangam seu objetivo expli- Dosea ser afer Manifesto ou latent, embora ele nunca sea ou "Yamente abandonado, dada reno Sonvivtnca centre seguranga €liberdade esta fa- T uma rotina de som e fitria. A endémica ¢ inso- Havel ambi Sa ee ddesses sentiments faz. com que eles sejam areBotiy, ergia cria e i va, Pela mesmo ive de eiiergia cratva ¢ de mudanga obsess raza ae as oto-perpétug, "%280 8 convivénca estépredestnada a ser “A moda’, escreveu Simmel, “é uma forma peculiar de vida por meio da qual se procura estabelecer uma solugio de com- promisso entre a tendéncia a igualdade social e a tendéncia & distingio individual? Vale lembrar que 0 compromisso jamais pode constituir uma situagio de “equilfbrio permanente’; ele no pode ser definido de uma vez por todas: a cldusula “até se- ‘gunda ordem? (que, alids, é abominavelmente concisa) esta gra ‘vada de modo indelével em sua propria forma de existr. Essa solugéo de compromisso, como a moda, esta sempre “se fazendo”, Ela nfo pode ficar no mesmo lugar, deve ser per- petuamente renegociada. Mobilizada pelo impulso competitivo (ver a Introdugéo do meu livro Arte da vida), a busca do que esti na moda induz depressa a que se construam s{mbolos banais e comuns de distingao, de modo que o mais breve momento de desatengio logo gera o efeito contrério: a perda da individualida- de. & preciso arranjar logo novos simbolos; os de ontem devern set imediata e ostensivamente descartados. preceito do “que nao & mais aceitave!” tem de ser tio me- ticulosamente abservado e com diligéncia obedecido quanto 0 preceito do que “é novo e (hoje) em ascensio’ Uma situagao de status indicada, comunicada e reconhecida pela posse e exibicio de simbolos da moda (de curtissima duragio e irritante volati- lidade) tanto pode ser definida pela exposicio visivel de certos simbolos quanto por sua auséncia também visivel. No resumo suicinto mas incisivo publicado no jornal The Guardian, de 9 de setembro de 2009, Hadley Freeman escreve que “a indiistria da moda néo esté interessada em fazer as mulheres se sentirem bem consigo mesmas. A moda tem a ver com fazer as pessoas dese- jarem algo que provavelmente néo tém, ... € qualquer satisfacio ‘que obtenham é efémera e ligeiramente decepcionante” © moto-perpétuo da moda ¢ 0 destruidor especializado, treinado ¢ testado de toda e qualquer paralisagdo do movimen- to. A moda projeta estilos de vida sob a forma de permanente € infinddvel revolucéo, Dado que o fendmeno da moda esta intima e inseparavelmente vinculado a dois atributos “eternos” e “uni- Nilo € 0 caso de discutir as declaracoes dos fisicos. Quando se trata da “realidade fisica” e das condigdes de movimento dos corpos méveis, de mudar a velocidade ou direcio do movimento, ou fazé-lo cessar, a tiltima palavra cabe sem divida a eles, ¢ de- ‘vemos aceité-la com toda humildade. Mas, no nfvel da realidade, no plano “social” ~ em que os corpos, embora ainda submeti- dos as leis da fisica, sio indiferentes aos propdsitos ¢ motivos, & ademas, estfo sob a regra da mudanga intencional -, acontecem coisas com as quais (como diria Shakespeare) os fistcos jamais teriam sonhado. Nesse outro mundo, de siibito, um moto-perpétuo ~ uma mudanga autoinduzida, autopropelida e autossustentavel, um mo- ‘vimento que sobressai néo tanto por sua incapacidade de prosse- guir sozinho quanto por sua incapacidade de cessar ou mesmo de se desacelerar ~ torna-se, mais que uma possibilidade, uma reali- dade, A moda éo exemplo supremo dessa contingéncia, “Sobre a moda’, afirmou certa vez. Georg Simmel, “nao se pode dézer que ela ‘é, pois esta sempre ‘se fazendo.”* No caso da ‘moda, ao contrarin dos processos fisicos. e em gstzeita confor- midade ao conceito e ao tipo ideal do moto-perpétuo, nao ¢ in- concebivel a eventualidade de se estar em eterna mudanga (sem parar de atuar); impensavel & uma interrupcéo da cadeia de alte- rages autoinduzidas ja iniciadas, O aspecto mais impressionan- te dessa extraordindria qualidade ¢ que 0 processo de mudanga, no perde forga enquanto seu impacto no mundo em que opera continua a se realizar. “Tornar-se” moda é inesgotavel e irrefred- vel, mas esse impeto e essa capacidade sempre tendemn a crescer ea acelerar a medida que aumentam 0 volume de seu impacto ‘material tangivel e 0 mimero de objetos que ela afeta, Se a moda fosse apenas um processo fisico comum, ela constituiria uma anomalia monstruosa a transgredir as leis da natureza. $6 que a moda no é um fendmeno da fisica: ela é um fendmeno social. E a vida social como um todo é um mecanismo espantoso, que consegue sustar a segunda lei da termodinami- ca.ao construir um enclave protegido contra a maldigao da en- lropia, a “grandeza termodinamica” que representa (segundo 0 site www>princeton.edu) “a quantidade de energia num sistema que nao pode mais se transformar em trabalho”; e que “aumenta conforme a matéria e energia do Universo se degradam até um estado final de uniformidade inerte’ ‘No caso da moda, a “uniformidade inerte” nfo & o “estado final”; na verdade, esta é uma perspectiva cada vez mais distante. como se a moda possuisse valvulas de escape que se abrem muito antes de alcangar 0 objetivo final da “uniformidade” ~ como se sabe, uma das motivagSes humanas essenciais para ativat 0 movi- mento perpétuo do proceso da moda -, ¢, com isso, ameagassem solapar ou anular o poder de atragao e sedugio que ela exerce, Considerando-se a entropia um fendmeno de “contradife- renciagio’, a moda ~ cujo impulso deriva da tendéncia humana a sentir aversao pela diferenca e a almejar a equalizacio ~ conse- ‘gue reproduzir em quantidades sempre crescentes as mesmas di- es, desigualdades, discriminagbes e privagGes que prometeu mmitigar, nivelar ou até eliminar de todo. Embora seja uma impossibilidade no universo da fisica, 0 nioto-perpétuo se insere na esfera da realidade no mundo so- cial, onde se converte em norma. Como iss0 é possivel? Simmel cexplica: reunindo dois anseios ou impulsos humanos igualmen- {e poderosos ¢ incontroléveis ~ parceiros insepariveis, embora sempre em conflito, que impelem ou atrastam as ages humanas ‘em ditegSes opostas. Recorrendo mais uma vez ao vocabulério «la fisica para construir nossas metéforas, podemos dizer que, no caso da moda, a “energia cinética” do movimento € gradual, cmbora totalmente transformada em energia potencial apta a se converter em energia cinética para ativar 0 contramovimento, O péndulo continua a oscilar ¢, a principio, pode continuar a faze- lo por tempo indeterminado a partir do momento linear. s dois impulsos ou anseios em questdo so: fazer parte de uum todo maior e individualizar-se ou distinguir-se; um sonho de pertencimento e um sonho de autoafirmagio; um desejo de apoio social e a obsessio de autonomia; ao mesmo tempo, 0 versais” do modo humano de estar no mundo, com sua também irreparivel incompatibilidade interna, a presenga ubiqua desse fendmeno nio se limita a uma ou mais formas selecionadas de Vida. Em qualquer momento da histéria humana e em qualquer territério habitado por seres humanos, o fenémeno da moda realiza a fungéo crucial de introduzir mudangas constantes na norma de nosso estar no mundo, Contudo, a maneira de realizar essa fungdo ¢ as instituigées que a sustentam e ajudam variam de acordo com diferentes formas de vida, Avvariedade atual do fenémeno da moda é determinada pela colonizagao e exploracio desses aspectos eternos da condigio humana por parte dos mercados de consumo.

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