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DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Pesquisas Polêmicas (Ou o vexame do Datafolha)


De Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
Pesquisas nas quais não se pode confiar são um problema. Elas atrapalham o raciocínio. É
melhor não ter pesquisa nenhuma que tê-las.
Ao contrário de elucidar e ajudar a tomada de decisões, confundem. Quem se baseia nelas,
embora ache que faz a coisa certa, costuma meter os pés pelas mãos.
Isso acontece em todas as áreas em que são usadas. Nos estudos de mercado, dá para
imaginar o prejuízo que causam? Se uma empresa se baseia em uma pesquisa discutível na
hora de fazer um investimento, o custo em que incorre?
Na aplicação das pesquisas na política, temos o mesmo. Ainda mais nas eleições, onde o
tempo corre depressa. Não dá para reparar os erros a que elas conduzem.
Pense-se o que seria a formulação de uma estratégia de campanha baseada em pesquisas de
qualidade duvidosa. Por mais competente que fosse o candidato, por melhores que fossem
suas propostas, uma candidatura mal posicionada não iria a lugar nenhum.
Com a comunicação é igual. Boas pesquisas são um insumo para a definição de linhas de
comunicação que aumentam a percepção dos pontos fortes de uma candidatura e que
explicam suas deficiências. As incertas podem fazer que um bom candidato se torne um
perdedor.
E na imprensa? Nela, talvez mais que em qualquer outra área, essas pesquisas são danosas. Ao
endossá-las, os veículos ficam em posição delicada.
Neste fim de semana, a Folha de São Paulo divulgou a pesquisa mais recente do Datafolha. Os
problemas começaram na manchete, que se utilizava de uma expressão que os bons jornais
aposentaram faz tempo: “Dilma dispara...”. “Dispara..”, “afunda...” são exemplos do que
não se deve dizer na publicação de pesquisas. São expressões antigas, sensacionalistas.
Compreende-se, no entanto, a dificuldade do responsável pela primeira página. O que dizer
de um resultado como aquele, senão que mostraria uma “disparada”?
Como explicar que Dilma tivesse crescido 18 pontos em 27 dias, saindo de uma desvantagem
para Serra de um ponto, em 23 de julho, para 17 pontos de frente, em 20 de agosto? Que
ganhasse 24 milhões de eleitores no período, à taxa de quase um milhão ao dia? Que
crescesse 9 pontos em uma semana, entre 12 e 20 de agosto, apenas nela conquistando 12,5
milhões de novos eleitores?
O jornal explicou a “disparada” com uma hipótese fantasiosa: Dilma cresceu esses 9 pontos
pelo “efeito televisão”. Três dias de propaganda eleitoral (nos quais a campanha Dilma teve
dois programas e cinco inserções de 30 segundos em horário nobre), nunca teriam esse
impacto, por tudo que conhecemos da história política brasileira.
Aliás, a própria pesquisa mostrou que Dilma tem mais potencial de crescimento entre quem
não vê a propaganda eleitoral. Ou seja: a explicação fornecida pelo jornal não explica a
“disparada” e ele não sabe a que atribuí-la. Usou a palavra preparando uma saída honrosa
para o instituto, absolvendo-o com ela: foi tudo uma “disparada”.
É impossível explicar a “disparada” pela simples razão de que ela não aconteceu. Dilma só
deu saltos espetaculares para quem não tinha conseguido perceber que sua candidatura já
havia crescido. Ela já estava bem na frente antes de começar a televisão.
Mas as pesquisas problemáticas não são danosas apenas por que ensejam explicações
inverossímeis. O pior é que elas podem ajudar a cristalizar preconceitos e estereótipos sobre
o país que somos e o eleitorado que temos.
Ao afirmar que houve uma “disparada”, a pesquisa sugere uma volubilidade dos eleitores que
só existe para quem acha que 12,5 milhões de pessoas decidiram votar em Dilma de supetão,
ao vê-la alguns minutos na televisão. Que não acredita que elas chegaram a essa opção depois
de um raciocínio adulto, do qual se pode discordar, mas que se deve respeitar. Que supõe que
elas não sabiam o que fazer até aqueles dias e foram tocadas por uma varinha de condão.
Pesquisas controversas são inconvenientes até por isso: ao procurar legitimá-las, a emenda
fica pior que o soneto. Mais fácil é admitir que fossem apenas ruins.

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