Вы находитесь на странице: 1из 86
SUIEITOE HISTORIA, Diretor de colecéo: Joel Birman A colegdo Sueitoe Histria tem cardternterdisciplinar, As obras nela incluidas estabelecem um didlogo vivo entre a psicandlisee as demais iéncias bumanas, buscando compreendero sujeito nas suas dimensbes isorica, politica e socal. Titulos ja publicados: Mal-estar na atwalidade, Joel Birman ‘Metamorfoses entre o sesual e 0 social, Carlos Augusto Peixoto Junior O prazer eo mal, Giulia Sissa (O-corpo do diabo entre a cruz ea caldeirinha, Silvia Alexim Nunes ( deseo frio, Michel Tore Gramiticas do erotismo, Joe! Birman Lacan com Derrida, René Major ‘Agdo e reacdo, Jean Starobinski Chueldade melancdlica, Jacques Hassoun Problemas de género, Judith Butler O olhar do poder, Mara Isabel Szpacenkopf (usar ir, Daniel Kupermann Elisabeth Badinter Rumo equivocado © feminismo e alguns destinos ‘TRADUCKO DE Vera Ribeiro ‘ovina amas Rio de eno COPYRIGHT © Oui Jacob, 2003 ‘iruto oniGiNAL Eben Grumach PROJETO GRAFICO EEelyn Gnumach eJodo de Souza Lite GIP-BRASIL. CATALOGACKONA-FONTE. SINDICATO NACIONAL BOS EDITORES DE LIVROS, RJ Badin, Elbe bi26r Ramo equnocto habe Eadie adoro Vers i, = Rlode neo Crgdo Bre, 205 ‘Soe « bse) eta de: Fae ute BENS 200.0071. 1. Feminmo, 2. Mathers ~ Hinde ~ 1990. 3. Rass oneal Tio. cop -s96 EBU=30.«2 Todos or dzcitos reservados. Proibida a reprodogo, armazenamento ou traramiant de partes det iro, através de quingue mio, sm previa ‘tmrizgdo por extn Dizeitos dest wad adquiidos pla EDITORA CIVILIZAGAO BRASILEIRA, Umselo da DISTRIBLIDORA RECORD DESERVICOS DEIMPRENSAS.A, ‘Rt Argentina, 171 ~20921-380 ~ Rio de Janeiro, RJ Tels 2585-2000 PEDIDOS PELO REEMBOLSO POSTAL. (Caixa Postal 23,052 — Rio de Janeiro, RJ~ 20922970 Impresso no Brasil 2005 Para minha filha Judith ‘Sumario ‘A virada da década de 1990 11 casio + ‘O novo discurso do método 21 ALEGICA DO AMALGAMA 23 OMALESTAR FLOSOFICO 43 coriruio2 Omissoes 69 OWPENsAvEL 73 AVIOLENCIADAS MULHERES 76 ‘OABUSO DE PODER 90 csiruio 3 Contradigio 97 [AREAUIDADE SEXUAL 102 (OMITO DE UMA SEXUALIADE DOMESTICADA 113, ‘OMODELO DA SEXUALOADE FEMININA 125, cariruto 4 Regressio 143 QUANDO cADA um SE,ULGA vitMM DO OUTRO 146 QUANDO A DIERENGAE LEI 150 AARMADINA 159 A virada da década de 1990 E preciso um sério esforgo de meméria para resgatar 0 cima da década de 1980, Depois das grandes vitorias da «cada de 1970 e da chegada da esquerda a0 poder, todas as esperangas eram permitidas. Para algumas, o momento eta de entusiasmo, se ndo de euforia. Em menos de vinte anos as feministas podiam rejubilar-se com um balango slorioso. O aumento macigo do miimero de mulheres nos locais de rabalho enfim hes abriaas portas para uma certa independéncia. A partir do momento em que se ganhava 0 préprio sustento ¢ 0 dos filhos, podia-se deixar um ho- ‘mera quem jéndo se suportava. Liberdade preciosa, quase desconhecida na geragio anterior. O nimero de divércios ni parava de aumentar ¢, pouco a pouco, o casamento tradicional se esvaziava de seu conteido. Exit essa golilha nilenar. Com a contracepgio eo aborto, as mulheres oci- dentais descobriram-se dotadas de um poder sem prece- dentes na hist6ria da humanidade. Querendo ou no, essa revolugio assinalavao fim do patrarcado. Tu ses pai, se eu quiser, quando eu quises. Finalmente, desfiavam-se como tum punhado de vitéras os nomes daquelas que in- vestiam pela primeira vex em teritrios até entdo mascu- linos. Desde a primeira mulher aprovada em primeiro lugar para a Escola Politéenica até a primeira presidenta do Tr- bhunal de Cassagio, passando pela primeira comisséria de policia e muitas outras “primeiras tinha-se a sensagio de que estava ocorrendo uma reviravolta na definigio dos séneros sexuais. ‘Ajimagem da mulher tradicional ia-se apagando para dar lugar a uma outra, mais viril, mais forte, quase senho- ta de si, se nfo do universo. Finalmente, mudivamos de papel! Apés milénios de uma tirania mais ou menos suave, que encerrava a mulher em papéissecundérios ela se tor- nava a heroina de um filme em que o homem desempe- ‘hava o papel de coadjuvante. Esa inversio tio prazenteira era fonte, com certeza, de uma energia preciosa para as mulheres que estavam em busca de novas fronteiras.Aligs, jf nio se cogitava de fronteiras. Tudo o que era dele era dela, mas nem tudo que era dela era dele. Confiando nesse espirito conquistadors mulheres logo se viram com partilhando o mundo e a casa com seus companheiros. A Jgualdade entre os sexos tornou-se o critério supremo da verdadeira demoeracia. Tnsensiveisa nova onda do feminismo norte-americano, que sustentava um discurso essencialista, separatista e “na- cionalista”, recriando um novo dualismo sexual de opo- sigfo, as francesas sonhavam com uma relagao pacifica com os homens de sua vida: pai, marido, chefe e todos os demais. 6 as feministas unverstiras tinham lido ou ouvido falar dos furores da talentosa Andrea Dworkin ou dos com bates da jurista Catharine MacKinnon contra 0 assédio sexual ¢ pornografia. Enquanto, em meados da década de 1980, as feministas norte-americanas jé denunciavam todas as formas de violéncia praticadas contra as mulhe- +es, com isso alimentando uma desconfianga crescente em relagio ao sexo masculino, © que retinha a atengio das mulheres, do outro lado do Atlantico, eram a duplajornada de trabalho e a inexplicavel inércia dos homens. £ verda- de que a sociedade francesa era menos brutal do que hoje ‘e que as vtimas da violéncia masculina pouco se declara- ‘vam. Assim, o que marcou uma guinada das sensibilidades foi menos o reforgo da legislagio contra o estupro, em 1980, do que 0 sucesso de um livrinho engragado e sem acriménia — Le Ras-le-bol des supertoomen [O basta das supermulheres}, de Michéle Fitoussi. Publicado em 1987, «esse livro de uma jornalista de 32 anos, mie de dois flhos, fj a primeira pedra jogada no jardim das feministas dos nos 1970, com enorme repercussio popular. O proprio titulo tomou-se uma expressio de uso corrente na impren- sa. O basta era nova maneira de dizer: “Fomos tapeadas.” Como a idéia de um retorno & situagio anterior era Inconcebivel e como estava fora de cogitacio sactificar a vida familiar ou profissional, a maioria das mulheres sen- tia-se obrigada air em frente, custasse 0 que custasse, no ‘caminho tragado por suas mies. Entretanto jf no era hora de conquistas risonhas, Estas deram lugar a uma orienta- ‘lo psicol6gica que viria a se fundir com uma nova sensi- bilidade social. Para comesar, 0 desencanto com os homens. ‘A maioria deles nio vinha jogando o jogo da igualdade, elo menos, no muito depressa nem muito bem, como ostrava a comparagio entre os hordrios dos pais e mies de famfli, Fazia vinte anos que nada mudava, realmente: fs mulheres continuavam a assumir trés quartos das tare- {as familiares ¢ domésticas. Um bom motivo para ficarem nargas... Como seria nacural, o desencanto transformou- se em ressentimento. Contra as feministas, que, havendo proclamado objetivos irealizéveis, foram depois refugiar- Seno siléncio ou no mea culpa. Contra o Estado, nas méos dos homens, que pouco se incomodava com os problemas ‘das maes de familia. E por fim, contra os homens, que ndo se contentavam em opor uma forga de inércia ilimitada a suas companheiras, mas lutavam passo a passo para con- servar sua reserva exclusiva: os lugares de poder. Essa constatagio pouco gloriosa viu-se ampliada, no. inicio da década de 1990, pela gravidade da crise econd- ‘mica que se vinha preparando fazia mais de 15 anos. Mi- Ihdes de homens e, proporcionalmente, um némero ainda ‘maior de mulheres experimentaram o desemprego. A poca no era propicia is reivindicagGes feministas, Ao contré- rio, asociedade fechou-se em si mesma, e numerosas mies de dois filhos — sobretudo entre as economicamente mais frigeis — voltaram para dentro de casa, com metade de um salério minimo. Paralelamente a essa experincia de impoténcia, sut- siuem nossa sociedade uma sensibilidade que pouco a pou- 0 foi gerando uma inversio da hierarquia de valores. Desde o fim dos anos 1980, ¢ mais ainda atualmente, 0 hhomem ocidental tem cedido com deleite ao que Pascal Bruckner chamou de tentagdo da inocéncia. A nova figura herdica jé ndo € a do batalhador que remove montanhas mas a da vitima que se declara indefesa. “O infortdinio cequivale a uma eleigio, enobrece quem o sofre, e reivindi- cé-lo € arrancar-se da humanidade comum, € transformar © proprio desconcerto em gloria (..). Softo, logo tenho valor”, conclui Bruckner. Todo sofrimento invoca a dentin= cia € a reparagio, A vitimagio geral da sociedade, portan- 16 to, acarretou o aumento potencial dos tribunais.Jé nfo se fala de outra coisa sendio de punisio e de sancio. (0 feminismo nao escapou a ess evolucio. Ao contré- ro, foi um de seus impulsionadores. Hé um interesse me- nor por aquela que realiza proczas do que pela vitima da

Вам также может понравиться