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FIPECAFI — Fundacao Instituto de Pesquisas Contabeis, Atuariais e Financeiras, FEA/USP Manual de Contabilidade das Sociedades por Acées (Aplicavel 4s Demais Sociedades) Rumo as Normas Internacionais 2? Edicdo Suplemento Sérgio de Iudicibus Eliseu Martins Emesto Rubens Gelbcke Alteragées Introduzidas pela Lei n° 11.638/2007, pela Medida Proviséria n° 449/08 e pelos Pronunciamentos do CPC ~ Comité de Pronunciamentos Contabeis SAO PAULO. EDITORA ATLAS S.A. - 2009 Sumario Suplemento 2009 do Manual de Contabilidade das Sociedades por Acdes, 5 Alteragées Introduzidas pela Lei n* 11.638/2007, pela Medida Proviséria n’ 449/08 e pelos Pronunciamentos do CPC, 5 1 Introducio, 5 2 Modificagdes no Capitulo 1 ~ NogGes Introdutérias, 8 2.1 Aextingdo do “LALUG” e a revitalizagdo do “LALUR”, 8 2.2 A nova estrutura das demonstragies contabeis, 9 Adogiio Inicial da Lei n* 11.638/07 e da Medida Proviséria n° 449/08, 11 Modificagées no Capitulo 2 ~ Necessidades de Informacao e 0 Modelo de Plano de Contas, 12 Modificagdes no Capitulo 3 ~ Princfpios Fundamentais de Contabilidade, 13 6 Modificacdes nos Capitulos 5 ~ Investimentos Tempordrios ~ e 9 ~ Realizavel a Longo Prazo, 14 6.1 Introdugio, 14 6.2 Classificagao dos Instrumentos Financeios, 15 6.3 Reclassificagao, 17 6.4 Derivativos, 17 6.5 Operagies de Hedge, 18 6.6 Divulgagio, 19 6.7 Instrugéo CVM n® 475/08, 19 6.8 Comentarios finais, 20 7 Modificagdes nos Capitulos 10 ~ Investimentos ~ Método de Gusto e ~ 11 ~ Investi mentos ~ Método da Equivaléncia Patrimonial, 22 8 Modificagées no Capitulo 12 ~ Ativo Imobilizado, 24 9 Modificagao Especial no tratamento do Arrendamento Mercantil (Leasing), 27 icagdes no Capitulo 13 - Ativos Intangiveis, 30 icages no Capitulo 14 ~ Ativo Diferido, 31 icacdes no Capitulo 16 ~ Debéntures, 33 4) Manual de Contabilidade das Sociedades por Ages * Iudicibus, Martins e Gelbeke 13 Modificages no Capitulo 20 - Resultados de Exercicios Futuros, 35 14 Modificagdes nos Capitulos 21 - Patriménio Liquido ~ e 28 ~ Demonstrago dos Lu- eros ou Prejuizos Acumulados, 36 14.1 Desaparecimento de Reservas, 36 14.2 Criagdo de Novas Contas Reservas no Patriménio Liquido, 36 14.3. A Conta de Lucros Acumulados, 38 14.4 Reserva de Luctos a Realizar e Limite das Reservas, 38 15 Modificagées nas Subvengdes para Investimento, 39 16 Modificagées no Capitulo 22 - Reavaliagio, 42 17 Modificagées nos Capitulos 23 - Demonstracao do Resultado do Exercicio, 26 - Des- pesas Operacionais ~ e 27 ~ Demais Contas de Resultado e Lucro por Acio, 43 17.1 Operacional/Nao Operacional, 43 17.2. Despesas com Pagamentos Baseados em Ages (stock options), 43 17.3 Lucto por Ago, 45 18 Modificagdes nas Receitas e nas Despesas Financeiras, 45, 19 Modificagdes nos Capitulos 28 - Demonstracdo dos Lucros ou Prejuizos Acumulados — © 29 - Demonstragao das Mutagées «lo Patriménio Liquido, 47 20 Modificagdes nos Capitulos 30 - Demonstragio das Origens e Aplicagées de Recursos —e 31 — Demonstragio dos Fluxos de Caixa, 48 21 A Introdugio da Demonstragio do Valor Adicionado, 50 22 Modificagdes no Capitulo 32 - Notas Expli tivas, 54 23 Modificagdes no Capitulo 33 ~ RelagGes entre Partes Relacionadas, 55 24 Modificagdes no Capitulo 34 ~ Modelos de Demonstragdes Contabeis e Notas Expli- cativas, 56 25 Modificagdes no Capitulo 38 ~ Incorporacao, Cisdo e Fuso, 57 26 Modificagdes no Capitulo 39 ~ Derivativos, 59 27 Ajustes a Valor Presente - Modificagdes nos Capitulos 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 23, 24, 25, 26 e 27, 59 28 Sociedades de grande porte, 62 29 Regras contabeis por categoria de empresas, 63, 30 0 CPC - Comité de Pronunciamentos Contabeis, 64 31 Uma nova Filosofia Contdbil, 66 31.1 Esséncia Sobre a Forma, 66 31.2 Primazia da Andlise de Riscos e Beneficios sobre a Propriedade Juridica, 66 31.3. Normas orientadas em principios ¢ julgamento, 66 32 Regime Tributdrio de Transigio, 67 33 0 Texto integral da Lei n? 11.638/07, 70 34 Texto da Medida Proviséria n° 449/08 (artigos de natureza contébil ow tributdria de relevancia para 0 Manual), 77 35 Texto Atualizado da Lei n* 6.404/76, 85 SUPLEMENTO 2009 DO MANUAL DE CONTABILIDADE DAS SOCIEDADES POR ACGOES Alteragées Introduzidas pela Lei n° 11.638/2007, pela Medida Provisoria n° 449/08 e pelos Pronunciamentos do CPC — Comité de Pronunciamentos Contabeis Suplemento elaborado em 31 de janeiro de 2009! 1 Introdugio Em 28 de dezembro de 2007, foi sancionada a Lei n® 11.638, que modificou a Lei das Sociedades por Agées, de n’ 6.404/76, principalmente em suas dis- posigdes de natureza contabil. Alguns ajustes relativos a tributagao e de outra natureza também foram inseridos. Essa lei entrou em vigor no primeiro dia de 2008, mas muitas normatiza- goes precisavam ser emitidas pelos érgaos prdprios, a comecar pelo Comité de Pronunciamentos Contabeis (CPC); e, a seguir, esses pronunciamentos do CPC precisavam ser aprovados pela Comissao de Valores Mobilidrios (CVM), Banco Central do Brasil (BACEN), Conselho Federal de Contabilidade (CFC), Superin- tendéncia de Seguros Privados (SUSEP) e outros érgaos reguladores, para que se tivesse um conjunto de regras homogéneas nos diversos setores. Um problema sério surgiu do largo tempo que 0 entéo Projeto de Lei n° 3.741/00 levou no congresso para se transformar na Lei n° 11.638/07: as nor- mas internacionais evoluiram, e sofreram grandes modificagdes em Fungo inclu- sive da adesio da Unido Europeia, mas o projeto de Lei nao capturou essas ino vacdes. Assim, a Lei n® 11.638/07 trouxe grande evolugao nas praticas contabeis no sentido da convergéncia internacional mas com algumas defasagens e alguns conceitos ultrapassados. Por exemplo, mudou o conceito de Ativo Diferido, mas * 0s Autores agradecem enormemente a especial contribuigéo do Prof. Ariovaldo dos Santos, da FEA/USP e da FIPECAFI, na elaboragao deste Suplemento, Manual de Contabllidade das Sociedades por AgBes + ludicbus, Martin » Gelbcke ‘© manteve; todavia, nas normas internacionais esse conceito foi extinto. Assim, era necessdria uma atualizagéio nessa Lei jd no seu nascedouro. Outra pendéncia bastante forte para que a Lei n’ 11.638/07 pudesse entrar em plena vigéncia era relativa as questdes fiscais que mudancas dessa natureza acabam por provocar. Mesmo tendo o texto da referida Lei referéncia expressa (artigo 177, paragrafo 7°) de que os registros de ajustes efetuados com o obje- tivo da harmonizacao as regras internacionais n&o poderiam ser base de inci- déncia de impostos e contribuicées ou quaisquer outros efeitos tributarios, havia certo desconforto no mercado no sentido da efetiva neutralidade tributaria da Lei. Esse desconforto aumentou ainda mais quando a propria Receita Federal do Brasil passou a reconhecer a existéncia de dificuldade nesse sentido. E, ao que nos parece, estavam os técnicos da Receita cobertos de razio. Nesse sentido, diividas e pendéncias que 0 mercado e os préprios técnicos do Governo tinham, o governo editou a Medida Proviséria n° 449/08. Essa MP digna de aplausos, representou um real e verdadeiro grande passo no sentido da convergéncia its Normas Internacionais de Contabilidade. Produziu duas grandes inovagées: consertaram-se os erros ou desvios contabeis que remanesceram apés a Lei n* 11.638/07, e implantou-se a efetiva neutralida- de tributaria que essa Lei n? 11.638/07 havia tentado introduzi Ao instituir o RTT — Regime Tributario de Transigao — no capitulo III dessa MP 0 Governo Federal genuinamente deu o maior dos saltos, porque passou a separar a Contabilidade para fins informacionais, societarios, de divulgacao do que ocorre com a empresa para o mundo exterior (credores, investidores, sindi- catos € tantos outros interessados), da Contabilidade para fins tributarios. Jamais se podera negar o papel importante da Contabilidade para fins de tributacao. Todavia, amarré-la aos interesses apenas do Estado como ser tribu- tante e ignorar os demais usuarios sempre foi uma posicao contra a qual tanto nos colocamos ao longo de décadas. E, agora, a Receita Federal veio e propds essa parte da MP que permite que a Contabilidade continue seu rumo, ¢ acelere seus passos em diregao as normas internacionais de Contabilidade, sem que as modificagdes necessarias para isso signifiquem, de imediato e automaticamente, aumento ou reducaio da carga tri- butaria das empresas em geral. Esse era o grande problema até entéo: qualquer modificacao na Contabi dade tinha, como regra, implicaco direta no célculo do lucro tributavel (quer para fins de Imposto de Renda, quer de Contribuigao Social sobre o lucro liq do, PIS, COFINS etc.). Dai as enormes dificuldades nas modificagées. Em resumo, 0 que dizem essas novas disposigées trazidas pela MP 449/08? Em primeiro lugar, foi extinto, sem nunca ter de fato existido, o “LALUC — livro de apuragio do lucro contabil”. A Lei n° 11.638/07 o havia criado, permi tindo que a empresa escriturasse suas operagées segundo os critérios fiscais para depois, noutro livro ou no mesmo diario, mas A parte, ajustar essa escrituracao 4s normas contabeis sem que esses ajustes provocassem reflexos fiscais. Essa era uma alternativa ao atual LALUR - livro de apuracao do lucro real. A Receita Federal, todavia, preferiu manter este tiltimo apenas, mas mudan- do, e drasticamente, 0 seu uso. Com isso, ficam automaticamente autorizados todos os ajustes no LALUR em fungio de todas as alteragdes contabeis trazidas pela Lei n® 11.638/07, pela prépria MP n° 449/08 e todas as normas contabeis, Suplemento 2009 do Manual de Contabilidade das Sociedades por AgGes 7 introduzidas em convergéncia as normas internacionais de Contabilidade. Veja- se 0 texto dessa MP: “Art, 16. As alteragdes introduzidas pela Lei n* 11.638, de 2007, e pelos arts. 36 ¢ 37 desta Medida Proviséria que modifiquem o critério de reco- nhecimento de receitas, custos e despesas computadas na apuragao do lucro liquido do exercicio definido no art. 191 da Lei n*6.404, de 15 de dezembro de 1976, néo terdo efeitos para fins de apuragdo do lucro real da pessoa Juridica sujeita ao RTT, devendo ser considerados, para fins tributdrios, os métodos e critérios contdbeis vigentes em 31 de dezembro de 2007. Pardgrafo tinico, Aplica-se o disposto no caput as normas expedidas pela Comissao de Valores Mobilidrios, com base na competéncia conferida pelo §3%do art. 177 da Lei n*6.404, de 1976, e pelos demais érgdos reguladores que visem alinhar a legislagdo especifica com os padrées internacionais de contabilidade.” Na verdade, comecemos pelo inicio: 0 RTT é optativo, adota-o quem quiser. Assim, as empresas que nao quiserem adoté-lo (ele é valido para os anos-base de 2008 e 2009 e poderd vir a ser renovado automaticamente) fardio com que todas as alteracdes contabeis dessas Lei e MP e mais as normas supervenientes, produzam, sim, efeitos tributarios. Dessa forma, todas as modificagées nas re- ceitas e nas despesas trazidas por essa legislagdo e normatizacao que bus convergéncia as normas internacionais passam a aumentar ou reduzir 0 lucro tributdvel de quem nao optar pelo RTT, bem como a sofrer as incidéncias dos demais tributos, como os sobre a receita, por exemplo. E claro que s6 optarao por essa alternativa as empresas que vierem a ser beneficiadas por tal regime. E ébvio que foi dada essa opcao pelo problema de impedimento legal de vir a MP obrigar todas as empresas a, retroativamente, adotar 0 novo procedimento legal tributario, Assim, adotam esse novo regime legal tributario retroativamente as empresas que o quiserem. ‘am a As empresas que optarem pelo RTT terdo critérios contabeis a serem ado- tados para fins tributarios estancados em 31 de dezembro de 2007, nao sendo afetadas pelas modificagées da Lei n° 11.638, MP 449/08 e novas normas que vém sendo emitidas pela CVM, pelo CEC, pela SUSER pelo BACEN. Até dezembro de 2008, ja eram 15 os Pronunciamentos emitidos pelo Co- mité de Pronunciamentos Contabeis (CPC) e aprovados pela CVM e pelo CFC. As modificagdes que esto aqui sendo discutidas, em fungao dos capitulos do Manual que elas afetam, considerarao os principais aspectos alterados pela Lei n' 11.638/07, pela Medida Provisdria n® 449/08 e pelos pronunciamentos aprova- dos pelo CPC. Algumas, por serem de natureza geral ou nio pertinentes aos capi- tulos existentes, esto apresentadas em item a parte ao final deste Suplemente. Importante frisar, mesmo com todas as modificages ja implantadas através da legislagdo e dos pronunciamentos técnicos aprovados pelo CPC, que ainda ndo podemos afirmar que nossa Contabilidade jé esteja emparelhada com as normas internacionais. Obvio, demos, no ano de 2008, enormes e importantes passos nesse sentido, mas ainda restam outros ndo menos importantes a serem dados. Em outras palavras, um bom caminho ainda resta para a completa con- vergéncia. 8 Manual de Contabiidade das Sociedades por AgBes + Iudicibus, Martins « Gelbcke Encerramos este item apenas lembrando que, acima de tudo, mais do que mudangas em normas, o que devemos perseguir é a mudanga de filosofia, postu- ra e pensamento quanto a, pelo menos, trés tépicos: primazia da esséncia sobre a forma, primazia da anilise de riscos e beneficios sobre a propriedade juridica e normas orientadas por principios e nao por regras excessivamente detalhadas ¢ formalizadas. Essa é, sem diivida, a grande mudanga na Contabilidade brasi- leira, que se iniciou com a Lei n® 11.638/07 e est sendo complementada pela Medida Provis6ria n° 449/08 e Pronunciamentos do CPG, estes sempre apoiados pela Comissao de Valores Mobilidrios (CVM), Conselho Federal de Contabilida- de (CFC) e outros érgaos reguladores brasileiros. Comentarios mais especificos estdo contidos no item 31 deste Suplemento. 0 objetivo da elaboracdo deste Suplemento (bem como do que o pre- cedeu) é 0 de dar, de forma bem resumida, os principais pontos que afe- tam os capitulos do Manual, sem entrar em detalhes e sem trabalhar com tantos exemplos como é normal neste livro. Na oitava edigo do Manual, programada para o inicio de 2010, todos esses pontos deverdo estar incor- porados no texto do préprio Manual, desaparecendo entao o Suplemento. 2 Modificacées no Capitulo 1 - Nogées Introdutérias 2.1 A extingdo do “LALUC” e a revitalizagdo do “LALUR” No Capitulo 1 do Manual, no item 1.2, referimo-nos ao projeto de lei que estava no Congresso e comentamos sobre o que consideramos sempre como ex- cessiva interferéncia do Fisco brasileiro sobre nossa Contabilidade. A Lei n® 11.638/07 introduziu enorme modificagio nesse sentido, criando 0 que denominamos “Laluc” ~ Livro de Apuracao do Lucro Contabil -; mesmo que tal denominagao nunca tenha sido, formalmente, utilizada. Por ele, a escritura- ‘cdo mercantil poderia ser feita segundo as normas tributdrias, e, separadamen- te, nesse “Laluc”, seriam escriturados os ajustes de forma que as demonstracoes contabeis passassem a ficar conforme as boas regras contabeis. A Medida Proviséria n* 449/08 revogou a disposicao que permitia esse uso do “Laluc” e, praticamente, reinstituiu 0 antigo texto da Lei n° 6.404/76. Assim, © texto legal passa a ser o seguinte: ‘Art. 177. [..] § 2*A companhia observard exclusivamente em livros ou registros au- xiliares, sem qualquer modificagdo da escrituragio mercantil e das demons- tracoes reguladas nesta Lei, as disposigdes da lei tributdria, ou de legislagao especial sobre atividade que constitui seu objeto que prescrevam, conduzam ou incentive a utilizagdo de métodos ou critérios contdbeis diferentes ou determinem registros, langamentos ou ajustes ou a elaboragdo de outras demonstragdes financeiras.” Note-se que nesse pardgrafo esto expressdes do tipo “conduzam”, “incen- tivem”, além de “determinem”. Isso significa que 0 Fisco passou a admitir um mimero muito maior de ajustes no Lalur do que anteriormente. Por exemplo, as Suplemento 2009 do Monual de Contablidade das Sociedades por Actes taxas fiscais de depreciacdo “conduzem”, “induzem” as empresas a utiliza-las na contabilidade para obter efeitos tributarios desejados. Com essa nova reda fo, o Fisco admite que esas taxas fiscais sejam utilizadas para fins tributarios, mesmo que, na contabilidade, as taxas utilizadas sejam diferentes, tanto maio- res quanto menores. Ou seja, mesmo que nao haja a obrigacdo de a empresa utilizar-se das taxas fiscais, mas que ela simplesmente seja induzida a usd-las para fins tributarios, poder entao escriturar contabilmente de uma forma e fiscalmente de outra. Assim, felizmente, voltamos ao passado de 30 anos atras, quando, atra- vés do Decreto-Lei n® 1.598/77, foi criado o Livro de Apuragao do Lucro Real (Lalur), j4 que esse era, & época, seu verdadeiro objetivo. A Receita Federal & que havia impedido, na pratica, essa utilizagao plena desse livro. Agora, com essa nova redacio e outras disposigdes contidas na MP n° 449/08, volta-se a ter entao a utilizagao do Lalur conforme sua razdo de ser inicial, Por isso regis- tramos aqui nossa enorme satisfagdo com a nova posigao da Receita Federal, a quem aplaudimos por essa mudanga de postura. Para reforgo dessa disposicao nova do governo federal, veja-se 0 que diz 0 pardgrafo primeiro do artigo 15 da MP n° 449/08: “§ 1°O RTT vigerd até a entrada em vigor de lei que discipline os efeitos tributdrios dos novos métodos e critérios contdbeis, buscando a neutrali- dade tributdria.” (g.n.) Veja-se que a nova postura faz. com que se busque o seguinte: tudo 0 que tiver havido de normas contbeis da Lei n° 11.638/07, da Medida Proviséria n° 449/08 e de toda a regulamentacdo contabil derivada do processo de con vergéncia as normas internacionais tera que ser obedecido contabilmente, mas no tera consequéncia imediata e automatica para fins fiscais. Ou seja, para que uma regra contabil nova, desde que convergente as normas internacionais, tenha efeito fiscal, sera necesséria também a emissao de outra norma tributa ria, Veja-se que ndo significa isso tudo que as normas fiscais no mudardio, mas que elas mudarao por emissao de atos tributarios préprios, e no por mudangas nas regras contdbeis, se estas forem introduzidas por convergéncia as normas internacionais. 2.2 A nova estrutura das demonstragées contdbeis Na 7* edi¢do do Manual, jé haviamos efetuado, no item 1.3.2, a discussio sobre a nova estrutura do Balango, considerando disposiges da CVM, Delibe- ragao n® 488/05. A Lei n® 11.638/07 ratificou essa disposigo, com a diferenga de nao haver feito mengao a Ativos e Passivos nao Circulantes, 0 que acabou por ser corrigido pela Medida Provisdria n' 449/08, Assim, por forga dessa nova, imposigdo legal, todas as companhias, nao mais s6 as abertas, passardo a apre- sentar sas demonstragdes com a nova estrutura (separagio de ativos e passives em circulantes e ndo-circulantes), semelhantemente a estabelecida nas normas internacionai: 10 Manual de Contablidade das Sociedades por Agbes + Iudicibus, Martins e Gelbcke Nos itens 1.3.5 e 1.3.6 do Manual, tem-se a registrar a eliminagao da De- monstracao das Origens e Aplicagdes de Recursos (DOAR), substituida pela Demonstracao dos Fluxos de Caixa (DFC), conforme j4 menciondvamos; de- monstracio essa nao obrigatéria para companhias fechadas com patriménio I- quido inferior a RS 2 milhGes. E no item 1.3.7, tem-se agora a obrigatoriedade da elaboracao da Demonstracao do Valor Adicionado, mas, infelizmente, so- mente para as companhias abertas: “Art. 176. [..] IV - demonstragao dos fluxos de caixa; V~se companhia aberta, demonstragao do valor adicionado [ol § 6A companhia fechada com patriménio liquido, na data do balango, inferior a R$ 2.000.000,00 (dois milhées de reais) néo serd obrigada é ela- boragio e publicagao da demonstragdo dos fluxos de caixa.” No nosso entender, a Demonstracao dos Fluxos de Caixa deveria sempre ser efetuada, bem como a do Valor Adicionado, sem 0 uso do exercicio dessas opsées para fins de maior transparéncia junto a todos os interessados. Quanto ao item 1.3.8, Demonstrages Comparativas, 0 Pronunciamento Técnico CPC 13 estabelece, de maneira excepcional, que, devido a dificuldades praticas e exiguidade de tempo, as empresas ficam dispensadas da apresentacao de demonstragdes comparativas. Todos os ajustes ocasionados pela utilizagao de novas praticas contdbeis no ano de 2008, que possam alterar os saldos de ativos € passivos de 2007, deverio ser efetuados em balanco de abertura do exercicio de 2008 e registrados contra lucros ou prejuizos acumulados. Se a companhia optar por fazer as demonstracoes comparativas, deverd uti- lizar todos os pronunciamentos ja editados pelo CPC, nao podendo utilizar ape- nas alguns deles. Para todas as companhias seré obrigatéria a apresentagio de nota explicativa que detalhe todos os novos procedimentos utilizados em 2008, inclusive com seus efeitos no resultado do exercicio e patriménio liquido. ‘A apresentacao dos valores comparativos de 2007 para as demonstracées dos fluxos de caixa e valor adicionado s6 sera obrigatéria para quem j vinha publicando tais demonstragdes. Mesmo nao sendo obrigatéria, recomenda-se que as demais companhias também as apresentem com os valores comparativos de 2007. Os valores da DOAR de 2007 nao precisam ser divulgados. Entendemos que essa facilidade nao deveré provocar grandes distorcdes comparativas, afinal, grandes ajustes s6 existirao para empresas que tenham grande volume de instrumentos financeiros e derivativos ajustaveis a valor de mercado, grandes operagdes de arrendamento mercantil financeiro, grandes va- lores de investimento em empresas no exterior, ou enormes subvengdes para investimento, enormes efeitos de ajuste a valor presente em recebiveis e pagé- veis pré-fixados a longo prazo, valores muito significativos na emissio de novas acdes, ou de novas debéntures ¢ alguns outros raros exemplos. Suplemento 2009 do Manual de Contabilidade das Sociedades por AgBes Algumas mudangas se dardo somente com efeitos a partir de 2008, sem efeitos retroativos, como o da definigao da aplicagao da equivaléncia patrimo: nial, agora sem 0 conceito de relevancia, mas com aplicacao apenas em investi- ‘mentos em ages ou quotas com direito a voto sobre os quais tenha significativa influéncia. Logo, nao haver mesmo como modificar perfodos anteriores; a tra- digo, mesmo fora do Brasil, tem sido, nesses casos, fazer a compara que haja tais mudangas. Assim, a comparabilidade s6 sera prejudicada quando existirem relevantes valores de ativos, passivos, receitas, despesas a ajustar, consequentemente com modificages provavelmente relevantes no resultado e patriménio liquido, mas nesses casos os efeitos deverio ser divulgados em notas explicativas e isso pos- sibilitara, para 0 usuario que dessa informagdo necessitar, a recomposigiio do resultado de 2008 com utilizagao dos critérios de 2007. Aqui vale destacar 0 alerta que 0 CPC jé fez. As alteragées que forem con- sequéncias de pronunciamentos aprovados em 2009 nao tero esse mesmo tratamento. Esses novos pronunciamentos terdo validade apenas para a partir de 2010, mas com efeito retroative a 2009. Ou seja, o ano de 2009 seré con- tabilizado com as mesmas regras vigentes para 2008. Em 2010 entrarao em vigéncia as novas regras que forem emitidas em 2009, mas, quando divulgadas as demonstragdes de 2010, no inicio de 2011, as demonstragdes de 2009 que terdo sido efetuadas com base nas regras de 2008 precisardo ser reelaboradas para fins de comparacéio com essas de 2010. Assim, as demonstragdes de 2009 sero publicadas conforme as regras de 2008, nao com as novas de 2009, e, portanto, serao comparaveis com 2008. Mas essas demonstragées de 2009 serio teelaboradas para comparacaio com as de 2010. Em outras palavras, as demons- tragdes de 2009 sero elaboradas duas vezes. Em 2009, de acordo com as regras de 2008, para com estas poderem ser comparadas; e em 2010, de acordo com as regras de 2009, para comparacao com as de 2010. 3 Adocao Inicial da Lei n° 11.638/07 e da Medida Proviséria n° 449/08 © CPC emitiu seu Pronunciamento Técnico CPC 13, com o titulo acima, aprovado pela Deliberacao CVM n° 565/08 e Resolucéo CFC n° 1.152/09. Por ele as demonstragées relativas a 2008 nao precisam ter, obrigatoriamente, as de 2007 tomadas como comparagao, reelaboradas & luz dos novos critérios conté- beis de 2008. Foi determinado apenas que uma nota explicativa em 2008 ex- plicitasse quais os novos critérios adotados nesse exercicio e quais as mudangas que eles trouxeram tanto no resultado do exercicio quanto no balanco patrimo- nial. Assim, se alguém quiser refazer 2008 conforme as priticas contabeis de 2007 ter toda a condigo de assim proceder, © Pronunciamento deu os tratamentos particulares aos diversos assuntos novos trazidos por essa Lei e por essa Medida Provisoria, 0 que, neste Suplemen- to, preferimos tratar em cada um dos seus respectivos tépicos. 12 Manual de Contabilidade das Socedades por Agdes * ludicibus, Martine « elbcke 4 Modificagées no Capitulo 2 ~ Necessidades de Informacao e 0 Modelo de Plano de Contas No modelo de plano de contas apresentado no Capitulo 2, as modificagdes necessarias so apenas no patriménio liquido: + a inclusao agora feita na legislacao com a criagio, no ativo e no passi- vo, do subgrupo “Nao-circulante” jd estava em nosso plano de contas; + eliminacdo do grupo “Permanente”; * eliminagao do Ativo Diferido, mas com a permisso de manutengao do saldo de dezembro de 2008 que nao puder ser reclassificado, até sua completa amortizagao. Veja item 11; + eliminagao do grupo de Resultados de Exercicios Futuros; nago ou “congelamento” das reservas de reavaliagao, j4 que no- vas reavaliagdes esto proibidas; veja o item 14 deste Suplemento; + eliminagao ou “congelamento” das reservas de prémios por emissao de debéntures, jé que novos prémios terdo outra contabilizacao e transita- rao pelo resultado; veja o item 12; + eliminagdo ou “congelamento” das reservas de doagdes € subvengdes para investimento, j& que as novas terdo outra contabilizagdo e em al- gum momento transitardo pelo resultado; veja o item 15; + eliminagao da conta de Lucros Acumulados para fins de apresentagio do balanco; s6 poder existir a de Prejuizos Acumulados; veja o Capi- tulo 21, item 21.6 do Manual e o item 14.3 deste suplemento; *+ criagao da conta de Ajustes de Avaliagdo Patrimonial; veja os itens 4 e 14.2. Note-se que muitas novidades da Lei n® 11.638 ou da MP n° 449 ja estavam previstas no plano de contas do Manual. Por exemplo, as contas retificadoras de ajuste a valor presente e as de encargos financeiros a transcorrer (inclusive para receber os encargos na emissio de titulos de divida), classificagao circulante/ nao-circulante, criagio do grupo de Intangiveis, e outras. Quanto & nova classificagdo dos ativos e passivos, veja-se 0 novo texto legal: “Art. 178. [...] §1'No ativo, as contas serdo dispostas em ordem decrescente de grau de liquides dos elementos nelas registrados, no seguintes grupos: D ativo circulante; e 11) ativo ndo-circulante, composto por ativo realizdvel a longo prazo, investimentos, imobilizado e intangivel. § 2°No passivo, as contas serdo classificadas nos seguintes grupos: 1) passive circulante; ID) passivo néo-circulante; € Suplemente 2009 do Manual de Contabildade das Sociedade por Agies 13 @) patriménio liquido, dividido em capital social, reservas de capital, ajustes de avatiagdo patrimonial, reservas de lucros, agdes em tesouraria prejuézos acumulados.” 5 Modificagées no Capitulo 3 - Principios Fundamentais de Contabilidade Capitulo 3 do Manual muda completamente. Todo o item 3.1 se referia a Estrutura Conceitual Basica da Contabilidade conforme Deliberagio CVM n° 29, de 1986, que foi revogada. Foi emitido o Pronunciamento Conceitual Basico do CPC que dispée sobre a Estrutura Conceitual para a Elaboragao e Apresenta- sdo das Demonstragées Contdbeis, totalmente baseada na estrutura conceitual do IASB (Framework) Na verdade, a parte relat ncipios contabeis” pouco mudou na sua esséncia, Ao invés de serem chamados de “principios”, ou “convengoes” etc., tudo passou a ser genericamente denominado de Caracteristicas Qualitativas das Informagées Contabeis. Assim, no fundo, tudo o que existia sobre Regime de Competéncia, Objetividade, Conservadorismo etc., continua existindo, com novas redacées. Sé que alguns pontos so mudados de hierarquia. Talvez a maior modificagao seja mesmo a introdugdo, de maneira clara, da figura da “Primazia da Esséncia Sobre a Forma” como caracteristica funda- mental da informacio contabil. Esse conceito estava inserido na Deliberacao CVM n® 29/86, mas de passagem, sem que Ihe houvesse sido dada a caracteristi ca de um “principio” propriamente dito. Agora, com 0 Pronunciamento novo do CPC, aprovado pela Deliberacao CVM n° 539/08, e pela Resolucao do Conselho Federal de Contabilidade n’ 1.121/08, a aplicacdo desse conceito devera ser a inovagao que mais exigiré do profissional da Contabilidade. Ou seja, de agora em diante, ndo pode mais o profissional de contabilida- de, ou o gestor da empresa, ou o auditor independente, simplesmente “seguir as regrinhas”, “seguir as letras do contrato” etc. Quando o documento forma- liza uma situagio que nao representa a efetiva realidade econémica da opera- go, o contador e os administradores da empresa so responsdveis por efetuar a contabilizacdo conforme a esséncia econdmica da transagao, e ndo sua mera forma, e 0 auditor sé pode aceitar sem ressalva a demonstracao contabil se assim elaborada, importante notar que nesse documento conceitual do CPC estio incluidas as definigdes de ativo, passivo, receita e despesa que nao existiam anteriormen- te na legislacio brasileira, e isso é muitissimo relevante para fins de reconheci- mento desses elementos. Por outro lado, alguns pontos importantes da Deliberagio CVM n* 29/86, Resolugio CFC n” 750/93 e Resolugio CFC n® 774/94 nao esto abrangidos por esse novo documento do CPC. Por isso esse Comité esta preparando um Pronun- ciamento Conceitual Complementar, a ser emitido em 2009, quando inclusive devero ser revogadas também as citadas Resolugées do CFC. Assim, 0 Capitulo 3 do Manual deve ser totalmente substituido pelo Pro- nunciamento Conceitual Basico do CPC - Estrutura Conceitual para a Elaboracéo € Apresentagdo das Demonstragées Contdbeis e documento complementar a ser 1 Manual de Contabiidade das Sociedades por Agies + ludieibus, Martins e Gelbeke emitido. Mas é importante ressaltar que nada do contetido atual est errado ou desalinhado com a nova normatizacio, 6 Modificagées nos Capitulos 5 - Investimentos Temporarios — e 9 - Realizavel a Longo Prazo 6.1 Introdugao No Capitulo 5, grandes modificacées esto sendo feitas. Veja-se 0 texto legal: “Art. 183. [...] I~ as aplicagées em instrumentos financeiros, inclusive derivativos, e em direitos e titulos de créditos, classificados no ativo circulante ou no realizdvel a longo prazo: @) pelo seu valor justo, quando se tratar de aplicagées destinadas & ne- gociagao ow disponiveis para venda; € b) pelo valor de custo de aquisigdo ou valor de emissiio, atualizado conforme disposiges legais ou contratuais, ajustado ao valor provavel de realizagdo, quando este for inferior, no caso das demais aplicagdes e os di- reitos ¢ titulos de crédito; Lal § 1/Para efeitos do disposto neste artigo, considera-se valor justo: 4) dos instrumentos financeiros, 0 valor que pode se obter em um mer- cado ativo, decorrente de transagdo ndo compulsoria realizada entre partes independentes; e, na auséncia de um mercado ativo para um determinado instrumento financeiro: 1) 0 valor que se pode obter em um mercado ativo com a negociagdo de outro instrumento financeiro de natureza, prazo e risco similares; 2) 0 valor presente liquido dos fluxos de caixa futuros para instrumen- tos financeiros de natureza, prazo e risco similares; ow 3) 0 valor obtido por meio de modelos matemdtico-estatisticos de preci- {ficagao de instrumentos financeiros. Instrumentos financeiros sao contratos que originam ativos financeiros (ca xa, contas a receber, ages, CDBs, debéntures etc.) para uma entidade e, em contrapartida, um passivo financeiro ou um titulo de patriménio liquide (como acdo, bénus de subscricdo etc.) para outra entidade, Por essa nova legislagio, todas as aplicacées financeiras, nao s6 as de curto, mas também as de longo prazo, precisarao ser analisadas para sua contabiliza- cdo. O conceito de fair value, ou de “valor justo”, esta sendo introduzido, con- forme inclusive j4 comentado nesse Capitulo anteriormente. Existirdo, de inicio, dois grandes grupos de aplicacées financeiras: 0 das aplicagdes avaliaveis ao valor justo, ou seja, ao valor de mercado ou equivalen- te, € 0 das avaliaveis ao custo original ou entdo ao valor provavel de realizagio, Suplemento 2009 do Manual de Contabilidade das Sociedades por AsBes quando este for menor. A normatizacao dessa matéria esté contida no Pronun- ciamento Técnico CPC 14 — Instrumentos Financeiros: Reconhecimento, Mensu- ragio e Evidenciago (Fase 1), aprovado pela Deliberacdo CVM n° 566/08 e pela Resolucao CFC n° 1.153/09. 6.2 Classificagdo dos Instrumentos Financeiros 15 Segundo esse Pronunciamento Técnico, todos os instrumentos financeiros sio classificados em quatro grandes grupos com a seguinte forma de contabi- lizagdo (aqui esté-se tomando como base o préprio Sumario desse Pronuncia- mento): a) Empréstimos e recebiveis normais de transagées comuns, como contas a receber de clientes, fornecedores, contas e impostos a pagar etc., que continuam registrados pelos seus valores originais conforme regras anteriores, sujeitos as provisées para perdas e ajuste a valor presente (no caso de esse efeito ser relevante). Nao estao destinados A negociagio e a entidade fica com eles até seu vencimento. A apro- priacdo de receita ou despesa para esses instrumentos se dé pela taxa efetiva de juros. Veja-se o Pronunciamento Técnico CPC 08 — Custos de Transaciio e Prémios dos Titulos e Valores Mobilirios para a apro- priagéio desses juros. Ou seja, para esses valores representativos de empréstimos a terceiros, contas a receber de clientes, contas a pagar a fornecedores, contas a pagar operacionais normais como tributos, encargos sociais etc., nada muda quanto a contabilizago que vinha sendo praticada (vale ressaltar 0 tratamento relacionado ao ajuste a valor presente a taxa de juros efetiva que sao, respectivamente, trata- dos em outros pronunciamentos) b) Investimentos mantidos até o vencimento, aqueles para os quais a entidade demonstre essa intengio de manté-los até o vencimento e mostre, objetivamente, que tem condigGes de efetivamente esperar até esse vericimento, que continuam também como antes: registra- dos pelo valor original mais os encargos ou rendimentos financeiros (ou seja, ao “custo amortizado”. “pela curva”). E importante visitar © Pronunciamento Técnico CPC 08 ~ Custos de Transacio e Prémios dos Titulos e Valores Mobilidrios, que exige modificacao quanto ao tratamento contabil que vinha-se utilizando até antes de 2008 para a apropriagéo dos encargos e dos rendimentos financeiros. A apropria- do de receita ou despesa para esses instrumentos se dé pela taxa efe- tiva de juros. Neste grupo esto aplicagées financeiras feitas com essa intengo de s6 serem resgatadas quando do vencimento dos titulos, como no caso de CDBs, debéntures e outros. Note-se que nao basta a intengao de permanecer com tais aplicacdes até o vencimento, sen- do necessdrio que a entidade comprove que nao precisaré de resgate antecipado para cumprimento de suas obrigacées normais, tanto de natureza operacional (salédrios, fornecedores, impostos etc.) quanto de natureza financeira (empréstimos bancdrios tomados para ativo fixo ou capital de giro etc.). Manual de Contabilidade das Sociedades por Agoes * udiibus, Martins e Gelbcke ©) Ativo financeiro ou passivo financeiro mensurado ao valor justo por meio do resultado, composto pelos ativos e passivos financeiros destinados & negociacdo e que ja estejam colocados nessa condi¢ao de negociagdo, a serem avaliados ao seu valor justo (normalmente valor de mercado), com todas as contrapartidas das variagdes nes- se valor contabilizadas diretamente no resultado. Esse é 0 caso de aplicagoes financeiras em titulos de divida, como debéntures, CDBs e outros, destinados a serem negociados, e nao a permanecerem com a entidade até seus vencimentos. Esto ai também os investimentos em agées destinados a negociagao no mercado. Todas as variagoes dos valores justos dessas aplicacdes sao registradas diretamente no resultado do periodo. d) Ativos financeiros disponiveis para venda, constituido pelos titu- los que nao serao negociacos ativa e frequentemente (negociacao) e também nao serio mantidos até o vencimento. A intengao é de que venham a ser transacionados antes de seus vencimentos (no caso de titulos de divida). Esses titulos, no entanto, podem ser mantidos até © vencimento. Por que nao contabilizd-los entao como titulos manti- dos até 0 vencimento? Porque a entidade pode nao possuir condigdes de garantir que possuird capacidade financeira de manté-los. Assim, estardo nessa categoria os titulos para os quais a entidade nao possui intenéao de negociar ativa e frequentemente e também nao possui apacidade financeira comprovada de manté-los até 0 vencimento. ‘Também esto nessa categoria os titulos para os quais a entidade nao possui certeza, definicao clara, sobre seu comportamento futuro. Mui- tos desses ativos sofrem uma contabilizagao hibrida quanto aos seus rendimentos: parte desses rendimentos afeta o resultado do periodo, € parte, na mensuracio pelo valor justo, é registrada diretamente no patriménio liquido para apropriacao ao resultado apenas no futuro. Isso é feito da seguinte forma: suponha-se a aquis essa caracteristica de ser destinado a venda futura, que produza uma determinada taxa de rendimentos (IGP-M + 5% a.a., por exemplo). J no primeiro periodo, exige-se a apropriacdo desse rendimento propor- cional tendo como contrapartida o resultado do exercicio (metodolo- gia conhecida no mercado por “ajuste & curva” ou “custo amortizado”; ou seja, neste momento o titulo esta registrado da mesma forma como seria se fosse classificado como mantido até o vencimento. Todavia, como se destina a futura negociacao no mercado, a Lei e a norma exi- gem que ele seja avaliado ao valor justo, mesmo antes de ser colocado efetivamente para pronta negociagao. Assim, apés a atualizagao pela sua taxa efetiva de rendimento, o titulo é ajustado ao seu valor justo. Supondo-se que exista mercado ativo para esse titulo, seu valor justo sera exatamente esse valor de mercado. O registro da diferenga, para mais ou para menos, entre o valor contabilizado apés a apropriagao do rendimento intrinseco (pela taxa efetiva de juros) e esse valor de mercado seré registrado na conta de Ajuste de Variagdo Patrimonial, no patriménio liquido, e nao no resultado. Esse montante sé afetard © resultado quando esse titulo for colocado efetivamente em negocia- co. Ou seja, as contrapartidas do ajuste pela curva (encargos e ren- Suplemento 2009 do Manual de Contabilidade das Sociedades por Ages 1 dimentos financeiros contratuais ou legais) vao ao resultado e, apés isso, os ajustes ao valor justo ficam na conta de patriménio liquido Ajustes de Variacdo Patrimonial até que os ativos e passivos sejam efetivamente negociados. No caso de instrumentos financeiros sem rendimento intrinseco, os ajustes todos vao diretamente para o patti ménio liquid, como é 0 caso de investimentos em acoes, e) Existem ainda os Passivos financeiros nao mensurados ao valor justo que sao aqueles para os quais a entidade decidiu nao mensurar seu valor justo e sim utilizar o método do custo amortizado. A apropriagao de receita ou despesa para esses instrumentos se dai pela taxa efetiva de juros. Os passivos financeiros poderdo ser mensurados pelo seu va- Jor justo quando tiverem sido gerados com finalidade de negociacao ou porque esse tratamento reduzira inconsisténcias de mensuracao e aumentaré a qualidade da informagio contabil - conforme previsto no pronunciamento CPC 14. Vale ainda ressaltar que esse pronuncia- mento permite mensuragao pelo custo histérico de investimentos em acées classificados como participagdes permanentes que nao possam ser avaliados pelo método da equivaléncia patrimonial 6.3 Reclassificagéo Quando um instrumento financeiro é classificado como mensurado ao valor justo por meio do resultado, ele nao pode mais ser reclassificado, a nao ser em situagbes raras em que pode passar para a categoria de empréstimos ¢ recebiveis e desde que haja a intencao de manté-lo até 0 vencimento ou pelo menos por um periodo predeterminado; fora disso, apenas se admite a reclassificagao de instrumento financeiro originalmente enquadrado nessa categoria em situacdes excepcionalissimas. Os classificados inicialmente como mantidos até o venci- mento também nao podem ser reclassificados; se for necessdria essa reclassifi- cacao, a entidade fica impedida de utilizar essa classificacao por dois exercicios sociais. Outras condigdes sobre reclassificagao precisam ser analisadas a partir do citado Pronunciamento Técnico do CPC. Instrumentos financeiros classifi- cados na categoria de disponiveis para venda podem ser reclassificados para a categoria de mantidos até 0 vencimento quando atenderem os requisitos espe- cificos desta tiltima, 6.4 Derivativos Como ja observado, a Lei determina, e o Pronunciamento do CPC também, que todos 0s instrumentos financeiros na forma de derivativos (com uma ex- cecio) precisam também ficar, obrigatoriamente, contabilizados ao seu valor justo. Assim, todos os derivativos vao sendo atualizados em todas as demons traces contabeis intermediarias conforme a oscilacao de seus valores no mer- cado. Por exemplo, uma op¢ao de compra de acao nao fica contabilizada so- mente pelo prémio pago na sua aquisicao; esse registro inicial ¢ ajustado, logo no primeiro balango apés a compra, ao quanto essa opcio vale no mercado, supondo existir esse valor em mercado ativo. (Comentarios sobre valor justo serdo feitos mais & frente.) 18 Manual de Contablidade das Sociedades por Agdes * Tudcibus, Martins ¢ Gelbeke Lembrar que derivativos sto instrumentos financeiros cujos valores “deri- vam” de outros instrumentos, bens, indices, taxas etc., sendo que como regra no exigem desembolsos iniciais significativos quando de sua contratagéo mas que precisardo ser resgatados em data futura. valor justo se fundamenta inicialmente no uso de transacdes recentes, num mercado ativo, entre partes independentes com conhecimento do negécio ¢ interesse em realizd-lo, sem favorecimento; na auséncia desse mercado ativo para o bem especifico, toma-se como valor justo uma referéncia que seja 0 va- lor justo corrente de outro instrumento substancialmente igual ao que se quer avaliar; na auséncia desse mercado também, valor justo é o derivado da and- lise dos fluxos de caixa estimados descontados e trazidos a seu valor presente; ¢, finalmente, na impossibilidade de uso desses fluxos de caixa descontados, toma-se como valor justo o obtido a partir de modelos de aprecamento de op- cées. E importante ressaltar que cabe 4 administrag4o da empresa mensurar os instrumentos financeiros pelo valor justo. Essa atividade ndo deve ser delegada a terceiros. Consulte-se 0 Capitulo 39 do manual para andlises contabeis complementa- res sobre derivativos. 6.5 Operagoes de Hedge As operacées com instrumentos financeiros destinadas a hedge devem ser Classificadas em uma das categorias a seguir: a) hedge de valor justo ~ hedge da exposigdo as mudancas no valor justo de um ativo ou passivo reconhecido, ou seja, contabilizado, quando © reconhecimento do valor justo desse instrumento se confronta com 65 efeitos contabeis desse ativo ou passivo, como no caso de hedge de titulo de divida pré-fixado em Reais, ou compromissos firmes, por exemplo; b) hedge de fluxo de caixa - hedge da exposicdo a variabilidade nos fluxos de caixa que podem impactar o resultado da entidade, como no caso de hedge de futuras receitas de exportagdes contra futuras oscilagdes de cambio ou instrumentos financeiros passivos; ©) hedge de um investimento no exterior — como definido no Pronuncia- mento Técnico CPC 02 - Efeitos das Mudancas nas Taxas de Cambio e Conversaio de Demonstragées Contabeis, que consiste em empréstimo tomado em moeda estrangeira para proteger investimentos societd- rios nessa mesma moeda estrangeira. A apropriagio ao resultado dos efeitos das operacées de hedge depende dessa classificacao. Ou seja, no caso de uma operagao de swap, por exemplo, em que se troca uma divida em moeda estrangeira por variagao do CDI, o Regime de Competéncia leva a se reconhecer 0s efeitos de ambos os contratos, protegi- do e 0 protetor, de forma a se obter como resultado o mesmo efeito que existiria caso 0 contrato original ja fosse em CDI. Suplemento 2009 do Manual de Conabilidade No caso de um hedge de fluxo de caixa, em que se protege o valor de moeda estrangeira a ser recebida no futuro por exportacao, por exemplo, a apropriacao do contrato de hedge deve ser feita com o diferimento que provoque, no futuro, o registro do resultado da exportacao pelo efetivo valor a ser recebido. No caso de um hedge para proteger um investimento em controlada no ex- terior, seu efeito (variacdo cambial) deve também, por Competéncia, seguir 0 mesmo caminho que a variacao cambial do investimento, ou seja, ambos vao para o patriménio liquido para baixa ao resultado apenas quando da alienagao desse investimento. Vejam-se mais detalhes no Capitulo 39 do Manual 6.6 Divulgagao as Sociedade por Agies Regras especificas de divulgacao existem para todos esses instrumentos fi- nanceiros quanto politica de sua utilizacao, objetivos e estratégias de geren- ciamento de riscos e de protecao patrimonial (hedge), riscos vinculados a essas estratégias, adequagao de controles internos ete. Relevaincia é dada a divulgagio dos parametros utilizados para a fixacdo dos valores dos instrumentos financeiros, sendo, obviamente, necessaria a divulga- io dos préprios valores justos de todos os derivativos e demais instrumentos avaliados a valor justo. Devem ser mostrados, de forma segregada, os valores de ativos e passivos por indexador de referéncia, categoria, risco etc. Idem quanto aos efeitos no resultado. Detalhes adicionais devem ser vistos no Pronunciamento Técnico do CPC citado. 6.7 Instrugdéo CVM n* 475/08 Uma novidade no final de 2008 foi a emissao dessa Instrugao por parte da CVM, exigindo uma série de notas explicativas relativas a instrumentos finan- ceiros e a apresentagao de um quadro de andllse de sensibilidade. Esse quadro evidencia os riscos das operagées com derivativos, mostrando qual © possivel efeito derivado de uma situacao considerada como provavel pela administracéo da entidade, qual 0 risco se a situagao se deteriorar em 25% e qual o risco se ela se deteriorar em 50%. Assim, um derivativo vinculado ao délar, por exemplo, mostra quais os ris- cos da entidade com relagao a essas hipéteses. A entidade pode, se quiser, evi- denciar também os provaveis cendrios que Ihe sejam favoraveis Esse quadro foi inspirado na norma IFRS7 do IASB e procura apresentar, de forma clara e inequivoca, os riscos oriundos das operagdes com instrumentos financeiros, especialmente derivativos. A andlise de sensibilidade complementa a mensuracio pelo valor justo, que nao é capaz de informar, prospectivamente, a respeito dos riscos aos quais a entidade esté sujeita, O referido quadro melho: 20. Manual de Contablidade das Sociedades por Aghes * Iudiibus, Martins ¢ Gelbcke ra a qualidade da informagao contabil em sua fungio de informar sobre 0 risco presente nos fluxos de caixa futuros das entidades. 6.8 Comentarios finais As novas formas de avaliagio ao valor justo derivam do raciocinio de que determinadas aplicagées, se com as caracteristicas em termos de finalidade de negociacao imediata no mercado, e que possuem valor de mercado objetiva- mente determinavel, nao precisam passar pela fase da efetiva negociacao para 0 reconhecimento do resultado; normalmente, nao ha significativo esforgo nessa alienacio, ela ndo representa e nao é geradora do mesmo tipo de mérito que normalmente acontece nas negociagdes com mercadorias. Neste caso da ativida- de comercial, vender a mercadoria ou 0 produto é uma atividade extremamente relevante no processo de obtencao e, consequentemente, reconhecimento da eceita. Jé no caso desses titulos, normalmente com negociacao relativamente facil, esse processo de venda é muito mais simplificado e ele nao expressa, quan- do ocorre, o desenvolvimento de um grande esforco por parte da entidade. As- sim, passa a ficar claro que a melhor maneira de mensurar o desempenho dessa atividade ¢ ir reconhecendo os lucros ou prejuizos & medida que vao oscilando os precos de mercado dessas aplicacoes financeiras. Tem havido grande conver- géncia nesse sentido; dai a adogao dessa pratica, que no Brasil ja tinhamos, por exemplo, para as aplicagées financeiras em ouro, moeda estrangeira e alguns outros raros casos. Nao se trata, efetivamente, de uma excecdo ao Regime de Competéncia. Pelo contrario, a aplicacao dessa regra é exatamente com o objetivo de apropriar 0s resultados desses investimentos ao longo do tempo, evidenciando mais pari assui 05 acertos ou nao nessas aplicacdes financeiras. E, além disso, esta-se com uma aproximacéio mais forte com © conceito econdmico de resultado nessas operacies. A normatizagdo futura deverd, por outro lado, determinar que, no caso de aplicagées financeiras “disponiveis para venda futura”, portanto que ainda estejam colocadas a disposicao para efetiva negociagdo, também deverdo estar avaliadas ao seu fair value. Todavia, nesses casos de aplicagdes disponiveis para futuras vendas, as normatizagées internacionais determinam que tais oscilages de precos ndo sejam consideradas imediatamente no resultado, ¢ sim tempo- rariamente mantidas em conta prépria, mas ja dentro do patriménio liquido. Veja-se a nova conta criada nesse grupo: “Art. 182. [...] § 3*Serdo classificadas como ajustes de avaliagdo patrimonial, enquan- to n&o computadas no resultado do exercicio em obediéncia ao regime de competéncia, as contrapartidas de aumentos ou diminuigées de valor atri- buido a elementos do ativo e do passivo, em decorréncia da sua avaliagéo a valor justo, nos casos previstos nesta Lei ou, em normas expedidas pela Comissiio de Valores Mobilidrios, com base na competéncia conferida pelo §3%do art. 17.” SSuplemento 2009 do Manual de Contabilidade das Sociedades por Ages 21 Assim, as variagoes de precos dessas aplicacées ficardo registradas na conta de “Ajustes de avaliacao patrimonial”, no patriménio liquido. Desta conta irao para 0 resultado quando transferidas para o grupo das aplicagdes efetivamente colocadas para venda ou quando de efetiva realizagao se ocoirer primeiro. Essa forma de contabilizacdo, inspirada na Norma Internacional, deveras questionavel, ja que 0 reconhecimento do aumento ou diminuicao de ativos e passivos se reflete no patriménio Iiquido, mas nao no resultado. E mais, essa classificacao, se pronta para negociagdo ou disponivel para futuras negociacbes e outras, é muito subjetiva e dependente exclusivamente das decisdes gerenciais da empresa, o que sempre traz algum possivel desconforto junto aos usuarios. Por outro lado, essa avaliacio aos pregos justos é informacao relevante para es- ses mesmos ustiirios. A Contabilidade, como ciéncia social aplicada, est sempre se deparando com essas dificuldades, principalmente quando procura evoluir e tornar-se mais iitil & sociedade. Jé as aplicagées destinadas a serem resgatadas nos seus vencimentos, por: tanto nao destinadas a negociagao no mercado, devem continuar como vinham sendo registradas: pelo seu valor original, ajustado por correcdes, variagoes cam- biais, juros e outras formas legais ou contratuais vigentes. Apenas quando o valor de mercado de tais aplicagdes for inferior a esse montante contabil & que os ajus- tes se fazem, contra o resultado e mediante a devida proviso para perda. Portanto, todos esses instrumentos financeiros precisarao, antes de se deci- dir pela sua forma de contabilizacao, passar pelo escrutinio da gestao da empre- sa quanto a esses aspectos comentados. Isso j4 vem ocorrendo no Brasil no caso das instituigdes financeiras e securitarias por forca de normatizagoes especificas dos drgdos reguladores desses setores. De suma importancia é a questdo da contabilidade de hedge. Apesar de optativa dentro das praticas contabeis atualmente em vigor, ela permite que a entidade apresente de forma tecnicamente adequada sua realidade econémi- ca. A contabilidade de hedge permite que o item sendo protegido e o protetor sejam reconhecidos, concomitantemente, respeitando assim 0 regime de com- peténcia. Apesar de optativa, a contabilidade de hedge respeita o regime de competéncia — para as operacées que sao hedge em sua esséncia - e deve ser usada sempre que for o caso. A op¢ao por nao tratar dentro do hedge accounting uma operagio que € de fato de protecdo produz uma informacao de qualidade inferior, apesar de permitida pelas normas internacionais e nacionais. Vale lem- brar que as normas do CPC permitem que o instrumento de hedge (protetor) seja instrumento financeiro nao derivativo para o caso de protecao a riscos de variagao cambial. Os efeitos dos ajustes a longo prazo esto tratados no item 27 a frente. Quando da adogao inicial do Pronunciamento Técnico CPC 13, todos os instrumentos financeiros que existiam no balanco de abertura de 2008 devem ser ajustados contra lucros ou prejuizos acumulados. Como esses instrumentos, com excecio das instituigées financeiras ¢ securitrias que tinham regras pr: prias, nao sofriam avaliacao a mercado, o primeiro proceso de classificagao tem que ser feito nesse balanco de abertura, Manual de Contabiidade das Socedades por Agaes + Iudicbus, Martins» Gelbeke 7 Modificagées nos Capitulos 10 - Investimentos - Método de Custo e- 11 - Investimentos - Método da Equivaléncia Patrimonial A Lei n® 11.638 € a Medida Proviséria n” 449/08 trouxeram novidades na defini¢ao de quando avaliar investimentos societdrios permanentes ao custo € quando fazé-lo pelo método da equivaléncia patrimonial. Nao mudou o conceito legal de controlada, mas o de coligada teve mudanga significativa. Agora, so consideradas coligadas as sociedades nas quais a inves- tidora tenha influéncia significativa e isso ocorre quando a investidora detém ou exerce o poder de participar nas decisdes das politicas financeira ou operacional da investida. Mas, se a participacdo exceder a 20% do capital votante, fica pre- sumida a figura da influéncia significativa e a investida passa a ser chamada de coligada. Veja-se a definicao de coligada como agora na Lei: “Art. 243. [...] § 1° Sao coligadas as sociedades nas quais a investidora tenha influén- cia significativa, Lo] § 4° Considera-se que hd influéncia significativa quando a investidora detém ou exerce 0 poder de participar nas decisées das politicas financeira ou operacional da investida, sem controté-ta. § 5° E presumida a influéncia significativa quando a investidora for titular de vinte por cento ou mais do capital votante da investida, sem con- trolé-la.” Ea aplicagdo da equivaléncia patrimonial passaré a ser requerido quando: “Art. 248. No balango patrimonial da companhia, os investimentos em coligadas ou em controladas e em outras sociedades que fagam parte de um mesmo grupo ou estejam sob controle comum serdo avaliados pelo método da equivaléncia patrimonial, de acordo com as seguintes normas:” Repare-se que no texto anterior da Lei das $.A. mencionava-se a figura da relevancia, agora omitida (item 11.2.3 no Manual). A CVM ja havia feito essa eliminagao, mas a figura da relevancia para a determinacao de quando aplicar a equivaléncia ainda permanecia para as sociedades nao abertas. Agora desapare- ce para todas elas. Desapareceu também a exigéncia de que houvesse um inves- timento minimo de 10% no capital de uma entidade para que se pudesse ter a classificacao do investimento como em coligada. Agora o tinico fator a determi- nar se é coligada ou nao é a figura da influéncia significativa, mas a Lei diz que presume-se a existéncia de influéncia significativa quando se participa em pelo menos 20% do capital votante. Desde, é claro, que nao se detenha o controle da entidade, quando da categoria de coligada passard 4 de controlada. Desaparece também a possibilidade de aplicacao de equivaléncia patrimo- nial para os investimentos em agdes ou quotas que nao tenham direito a voto, a nao ser que, mesmo nao tendo esse direito, possa-se classificar tal investi- mento como tendo influéncia significativa. Assim, se houver uma participacio societéria numa entidade sobre a qual se detenha qualquer percentual de seu ‘Suplemento 2009 do Manual de Contabilidede dae Sociedades por Acdes 23 capital, e estiver presente pelo menos um dos fatores que caracterizam influén- cia significativa (dependéncia econémica, tecnolégica, administrativa, poder de eleger administradores etc.), deverd ser utilizada a equivaléncia patrimonial; ¢ isso mesmo que essa participacdo seja sem direito a voto. Se nao houver essa influencia significativa, independentemente da participacao sobre o capital, o investimento permanecerd ao custo. Os investimentos permanentes em controladas sero, por todas as entida- des, avaliados pela equivaléncia patrimonial (nao mais existe a figura da rele- vancia, conforme comentado). ‘Como se vé, em tudo isso h4 uma novidade: pode haver o caso de inves- timento em baixo percentual, por exemplo inferior a 5%, e até em aces sem direito a voto, mas se investidora e investida tiverem um controlador comum, esse investimento sera também avaliado pela equivaléncia patrimonial. Mesmo que esse controlador seja uma pessoa fisica ou um conjunto de pessoas fisicas agindo como controladores. Alguns comentarios precisam ser feitos: a CVM possui, pela normatizacado em vigor, a figura de equiparagao a uma coligada, quando uma investidora pos- sui, direta ou indiretamente, 10% do capital votante de uma investida, e essa investidora, nesse caso, se companhia aberta, aplica a equivaléncia patrimonial caso haja a influéncia significativa sobre a investida. Repare-se que, pela Lei, tan- toa anterior quanto a atual, pode ocorrer de esses 10% sobre o capital votante representarem bem menos do que 10% sobre o capital total, o que faria com que ngo se caracterizasse a figura legal da coligada. A CVM, com a equiparacao a coligada, inclufra esse investimento como passivel de avaliagao pela equivaléncia com a figura da influéncia significativa. Pela Lei atual, isso nao é mais necessario, posto que a influéncia significativa prepondera enquanto principio determinan- te da utilizagéo do método da equivaléncia patrimonial. E importante verificar que essas mudangas na Lei estdo dirigidas a um processo de convergéncia com as normas internacionais, mas nao significam, ainda, a adogao completa de tais normas. Grandes passos ja foram dos no sentido da convergencia e isso se mate- tializou com a emissdo, em 2008, de diversos Pronunciamentos Técnicos do CPC, devidamente aprovados pela CVM e CFC. A continuidade desse proceso se dard por forca de normas novas a serem emitidas, j4 que ainda permanecem muitas diferencas. Por exemplo, nas normas internacionais os investimentos nessas con- troladas e coligadas sao avaliados por equivaléncia patrimonial ou a seus pregos de mercado (valor justo, melhor dizendo) quando se elaboram os balancos indi- viduais, nado sendo autorizada a avaliagao ao custo, mas essa hipdtese ainda nao esta contemplada entre nés, nem por essa Lei nova. Note-se que a intencao é, muitas vezes, fundamental para a classificagao contabil, o que pode as vezes provocar situacGes aparentemente estranhas, mas se praticadas adequadamente, tém total fundamentacdo. Por exemplo, se alguém possuir 2% do capital da Vale ou da Petrobras e com esse percentual nao conse- gue qualquer tipo de influéncia significativa, nao poder utilizar a equivaléncia patrimonial para avaliar esse investimento. ‘Tera que ficar ao custo apenas, se for permanente (proviso para perda apenas no caso de perda também consi- derada permanente). Mas, se esse investimento estiver destinado & negociagao, agora passaré, automaticamente, ao valor de mercado. Ou ainda, se for perma: nente, mas detido por alguém ligado ao grupo controlador, mesmo com os 2% Manual de Contabiidade das Sociedades por Agies + Iudicibus, Martins © Gelbcke praticaré a equivaléncia patrimonial. Logo, o mesmo investimento classificado diferentemente em trés empresas distintas carregam valores contabeis também diferentes. E bom lembrar que pelas normas internacionais, esse investimento, mesmo que permanente, ficaria pela equivaléncia ou pelo valor de mercado, nunca ao custo; assim, Id existiriam duas alternativas de avaliagao. Deve-se ressaltar que nao est contido nessa nova Lei nenhum tratamento especial &s variagdes cambiais incidentes sobre os investimentos permanentes em entidades no exterior, mas a CVM, no caminho do processo de internacio- nalizagao das nossas normas contabeis, emitiu a sua Deliberagao n° 534/2008 aprovando o Pronunciamento Técnico CPC n° 02 - Efeitos das Mudancas nas Taxas de Cambio e Conversao das Demonstracées Contabeis e sua Instrugao n° 464/208. Da mesma forma o CFC, através da Resolucao n° 1.120/08, aprovou a NBC 17. Por meio desses documentos, pela primeira vez todas as variagées cambiais sobre esses investimentos passam a ficar em conta prépria do patrimé- nio liquido para s6 transitarem pelo resultado quando da baixa de tais investi- mentos. B, pela Instrugao, adapta-se a Instrugdo CVM n° 247/96 para atender a esse objetivo. O item 11.11 do Manual fica, entéo, modificado por forga dessas novas disposicées. E importante alertar para o fato de que a Deliberacdio CVM n® 28/86 foi revogada e que foram também modificadas as normas a respeito de conversao de demonstrages contabeis das entidades no exterior para reais (RS) para fins da equivaléncia patrimonial, da consolidacao de balangos e da consolidagao proporcional. Esses tépicos nao esto, conforme ja dito, contem- plados diretamente nessa Lei n* 11.638/2007 nem na MP n° 449/08, mas estao, sim, contemplados de forma indireta, quando essa nova legislag4o menciona a obrigago de a CVM, de agora em diante, sé normatizar contabilmente de forma convergente as normas internacionais. Outrossim, alteramos que devemos atentar para as divulgagdes necessérias para esse tipo de assunto. Todos os ajustes relativos aos investimentos que deixaram de ou passaram a ser avaliados pela equivaléncia patrimonial devem ser efetuados no balango de abertura de 2008, contra lucros ou prejuizos acumulados. Os que passaram a ser avaliados por equivaléncia podem sofrer 0 processo de célculo de quanto teriam sido 0 gio ou 0 desagio na data da formacao desse investimento; nesse caso, é necessario atentar para os ajustes também retroativos por amortizacoes acumuladas que deveriam ter existido caso essa nova forma de avaliacao viesse desde entao sendo utilizada. No caso dos investimentos que deixaram de ser avaliados pela equivaléncia patrimonial, entende-se que o saldo existente no balango de abertura, engloban- do os valores da equivaléncia propriamente dita, das amortizacdes acumuladas de Agio ou desagio e eventuais provisdes para perdas, passa a ser considerado como um novo custo a partir dessa data, Portanto, nao existe, nesse caso, ajuste que afete os lucros ou prejuizos acumulados. 8 Modificagées no Capitulo 12 - Ativo Imobilizado A nova Lei modifica a definigdo do Imobilizado, passando a excluir dele os bens nao corpéreos (marcas, patentes, concessées etc.), ¢ passando a incluir bens que nao sejam da propriedade da empresa, mas, além de serem “exercidos ir BQOPBRPevemy de BeeF7 esp ese com essa finalidade” (de manutengao das atividades da companhia) como havia antes, incorpora os bens decorrentes de operacdes que transfiram & entidade 0s beneficios, os riscos e o controle desses bens. E obriga ao continuo teste de impairment sobre esse grupo. “Art. 179. [...] IV no ativo imobilizado: os direitos que tenham por objeto bens corpé- reos destinados & manutengdo das atividades da companhia ou da empresa ou exercidos com essa finalidade, inclusive os decorrentes de operagdes que transfiram & companhia os beneficias, riscos e controle desses bens; Cod § 3*A companhia deverd efetuar, periodicamente, andlise sobre a recu- peracao dos valores registrados no imobilizado, no intangivel e no diferido, a fim de que sejam 1 ~ registradas as perdas de valor do capital apticado quando houver deciséo de interromper os empreendimentos ou atividades a que se destina- vam ou quando comprovado que ndo poderéo produzir resultados suficien- tes para recuperagao desse valor; ou I~ revisados e ajustados os critérios utilizados para determinagdo da vida itil econémica estimada e para célculo da depreciagiio, exaustéo amortizagao.” Ou seja, os ativos intangiveis, nao corpéreos, que estavam no Imobilizado, passam agora para o grupo de Intangiveis, que também incluird ativos que es- tavam em outros lugares que nao o Imobilizado. Essa figura de ativos corpéreos e nao corpéreos precisa ser entendida de maneira nao sé fisica, mas também pela sua esséncia, seu vinculo, sua natureza. Ha, de fato, algumas duividas que podem sempre existir; por exemplo, o sistema que faz uma maquina operar, faz parte ou nao do Imobilizado? Ele é corpéreo ou incorpéreo? O fundamental aqui é que ele é parte absolutamente integrante, na esséncia, da propria mdqui- na, Logo, é uma espécie de custo complementar a tal maquina para ela operar. Assim, ele fica nesse grupo do Imobilizado. © mesmo se aplica As benfeitorias em propriedades de terceiros que, por sinal, jé faziam parte do Imobilizado an- teriormente porque eram bens que, mesmo que nao de propriedade da entida- de, eram exercidos com a finalidade de manutengao das atividades dela. Jé as marcas, as patentes, os direitos autorais, os direitos de concessao, 0 fundo de comércio, os gastos com pesquisa e desenvolvimento (quando ativa veis, e se ativaveis) so tipicos exemplos de ativos incorpéreos que ficam no grupo dos Intangiveis. Mas uma enorme novidade foi trazida agora pela Lei. Além da figura das benfeitorias em propriedade de terceiros, que j4 era um tipo de ativo reconheci- do nao de propriedade fisica da entidade em muitas situagSes, outras situacdes agora surgem de reconhecimento, como ativo, de bens juridicamente nao per- tencentes a entidade. A.Lei, seguindo totalmente as normas internacionais, passa a incluir os bens cujo controle, cujos riscos e cujos beneficios passem a entidade. Assim, se hou- ver a situagao em que tais bens passem ao controle da entidade, e cujos riscos e beneficios passem a pertencer a ela, deverdo ser incorporados ao seu Ativo 25 26 Manual de Contabilidade des Sociedades por Agées + Iudlelbus, Martins Gelbeke Imobilizado, ainda que juridicamente nao a ela pertencentes. Esse tépico sera visto a frente. Uma enorme consequéncia a derivar desse novo art. 179 devera ser o céil- culo das depreciagées e amortizagdes. Nossa pratica brasileira tem sido, infeliz- mente, a da adogao, na contabilidade, dos prazos de vida titil admitidos para fins tributdrios, quando deverfamos estar utilizando os prazos de vida ttil eco- n6mica e o valor residual esperado ao fim dessa vida. Agora, a expressio vida itil econémica aparece de forma literal, expressa com todas as letras (art. 183, § 3%, item II) e ndo pode mais deixar de ser apli- cada. Com isso, e mais as alteracGes introduzidas pela MP n° 449/08, relativas a utilizagao do Livro de Apurago do Lucro Real ~ LALUR, agora de acordo com os objetivos determinados em sua concepgio, ajustar-se-do as taxas de depre- ciagao e de amortizacio as vilidas econémica e contabilmente. Se faremos isso com base nos prazos restantes ou se existirao efeitos retrospectivos para acertos, do passado, apenas a normatizagao, prevista para 2009, definiré. De qualquer forma, na contabilidade societaria, com base no Pronunciamento Técnico CPC 13, as empresas poderdo continuar utilizando ainda em 2009, para os caleulos dos valores das depreciacdes, amortizacdes e exaustdes, os métodos e taxas que vinha usando. As alteracées serdo exigidas somente a partir de 2010. Outro ponto da Lei: a pratica dos testes de recuperabilidade agora exigidos pela Lei (impairment) jA esto contemplados no item 12.3.4 do Manual. Obser- ve-se que 0 primeiro Pronunciamento do CPC foi exatamente esse, o de n° 1, aprovado pela CVM, pelo CFC e pela SUSER Alids, a lei nova, com as alteragées previstas na MP n® 449/08, menciona a periddica aplicacao do teste de recuperabilidade ao imobilizado e ao intangivel. E 0 Pronunciamento CPC-01 menciona sua aplicacio a todos os ativos. Mas & importante notar que nao ha, absolutamente, qualquer incoeréncia, j4 que a Lei das Sociedades por Ages ja cuidava da recuperabilidade para os ativos nao permanentes, ao mencionar, por exemplo, as figuras do valor do custo ou mer- cado, dos dois 0 menor, para os estoques ou dos investimentos temporarios, da provisdo para ajuste aos valores de realizacao dos créditos etc. © que importa é que agora é obrigatéria a aplicagao do fundamento econdmi co: nenhum ativo pode existir por valor que nao seja recuperdvel mediante venda ou utilizagao por parte da empresa. E 0 teste precisa ser, no minimo, anual. Finalmente, queremos destacar que ha alguns exemplos de operacées que, por suas caracteristicas, poderiam indicar a necessidade de classificagao no imo- bilizado. Exemplificando, ativos tomados em aluguel ou em comodato. Admita ‘uma empresa que tenha contratado o aluguel de um imével que abrigaré seu parque fabril e esse contrato, além do prazo de 30 anos, prorrogavel por outro periodo igual por opgao do locatario, estabeleca que toda a manutengao, inclusi- ve cobertura securitaria — que é normal ~ seja de inteira responsabilidade do lo- catario, sendo dele também quaisquer riscos relativos a eventuais danificagdes, inclusive por razdes naturais. Na definicdo legal, reproduzida no inicio deste capitulo, esta dito “os direitos que tenham por objeto bens corpéreos destinados @ manutengao das atividades da companhia ou da empresa ou exercidos com essa finalidade, inclusive os decorrentes de operagdes que transfiram & companhia os beneficios, riscos e controle desses bens”. BASS aseeay Boeesgs ‘Suplemento 2009 do Manual de Contabildade dos Sociedades por AsBes Observem que essa ndo é uma operacio que possa caracterizar como ar- rendamento mercantil, na forma que trata o Pronunciamento CPC 06, mas nado podemos deixar de considerar que esse “imével alugado” estard vinculado as atividades da empresa e que esta, durante um bom periodo de tempo, usufruira de seus beneficios, bem como assumira seu controle e seu risco. Pode vir a ser dificil ndo reconhecer nesse imével alugado as caracteristicas fundamentais que 0 classificariam como imobilizado. Raciocinio idéntico pode ser desenvol- vido para determinados tipos de contratos de comodato. De qualquer forma, nio ha a previsdo ainda explicita e especifica, tanto em nossas praticas cont beis como nas internacionais, para que esse tipo de operacio seja classificado dentro do imobilizado, mas a prevaléncia da Esséncia Sobre a Forma pode vir asuprir essa lacuna, 9 Modificaco Especial no tratamento do Arrendamento Importante comecar destacando que a operacao de arredamento mercantil pode ser classificada, basicamente, em duas categorias diferentes: arrendamento mercantil financeiro e arrendamento mercantil operacional. O primeiro é aquele em que ¢ transferida ao arrendatédrio parte substancial dos riscos e beneficios, independentemente da propriedade juridica. No arrendamento mercantil ope- racional essa transferéncia de riscos e beneficios nao ocorre ou é infima. Quando tratamos das modificagdes dos Capitulos 1 e 12 do Manual (No- ges Introdutérias e Ativo Imobilizado) fizemos algumas rapidas referéncias As modificagdes pelas quais as operacées de arrendamento mercantil financeiro deverdo passar, afinal o tratamento contabil que davamos a esse tipo de ope- ragio era totalmente equivocado e completamente desalinhado com as normas internacionais, Atualmente, 0 mecanismo do registro contabil das operacdes de arrenda- mento mercantil financeiro, em consonancia com os padrées internacionais de contabilidade, esta previsto no Pronunciamento Técnico CPC 06 ~ Operacées de Arrendamento Mercantil. Esse Pronunciamento foi devidamente aprovado pela Deliberagéo CVM n® 554/08 e pela Resolugéo CFC n° 1.141/08, e deverd ser aplicado nas demonstracoes contabeis relativas ao exercicio de 2008. Quais as mudangas ocorridas na forma de se contabilizar as operagdes de arrendamento mercantil financeiro e os principais motivos dessas mudangas? Vamos comecar respondendo essas perguntas pela segunda, ou seja, 0 porqué das mudangas. As mudangas sao decorrentes da nova forma de se entender e fazer contabilidade e isso esta totalmente vinculado ao fato de que deveremos passar, nos registros a serem refletidos na contabilidade das empresas, a nos preocupar com a “esséncia” endo com a “forma” de uma operacao. Ora, isso & totalmente diferente do que faziamos e a operacao de arrendamento mercan- til financeiro é um exemplo classico disso. Como arrendataria, uma empresa contratava ativos e passivos que nunca eram refletidos em seus balangos patri- moniais. O tinico “vestigio” dessa operacao nas demonstracées contabeis dessa arrendatédria eram as despesas de arrendamento reconhecidas & medida que as prestagées iam vencendo. Respeitava-se mais a forma juridica da contratacao do 28 Manual de Contabilidade das Sociedades por Aces + ludleibus, Martins e Gelbeke que a esséncia econdmica da transagao. Agora isso tudo mudou. Se a arrenda- tdria est assumindo substancialmente todos os riscos e beneficios relativos ao objeto do arrendamento, ela deverd reconhecer tanto 0 ative como o passivo; em tiltima andlise, uma operagao de arrendamento mercantil com essas caracte- risticas de assuncao de riscos e beneficios, independentemente da propriedade juridica, para arrendatéri passa de uma compra financiada. O Pronunciamento Técnico do CPC elenca alguns elementos que podem auxiliar na definigdo de uma operagao de arrendamento como financeira (item 10 do CPC 06): a) 0 arrendamento mercantil transfere a propriedade do ativo para o ar- rendatério no fim do prazo do arrendamento mercantil; b) 0 arrendatério tem a opgdo de comprar 0 ativo por um prego que se espera seja suficientemente mais baixo do que o valor justo a data em que a opedo se torne exercivel de forma que, no inicio do arrendamento mercantil, seja razoavelmente certo que a opgao serd exercida; ©) 0 prazo do arrendamento mercantil refere-se d maior parte da vida eco- némica do ativo mesmo que a propriedade ndo seja transferida; d) no inicio do arrendamento mercantil, o valor presente dos pagamentos minimos do arrendamento mercantil totaliza pelo menos substancial- mente todo 0 valor justo do ativo arrendado; e @) 0s ativos arrendados sao de natureza especializada de tal forma que apenas o arrendatdrio pode usd-los sem grandes modificagées. E mais, o item 11 do CPC 06, adiciona alguns outros exemplos de situagdes que podem indicar que uma operacio de arredamento se refere um arrenda- mento mercantil financeiro. Sao eles: @) se o arrendatério puder cancelar o arrendamento mercantil, as perdas do arrendador associadas ao cancelamento sao suportadas pelo arrenda- tario; b) 0s ganhos ou as perdas da flutuagdo no valor justo do valor residual sdo atribuidos ao arrendatério (por exemplo, na forma de abatimento que equalize a maior parte do valor da venda no fim do arrendamento mer- cantil); ©) oarrendatério tem a capacidade de continuar o arrendamento mercantil por um periodo adicional com pagamentos que sejam substancialmente inferiores ao valor de mercado. registro inicial de uma operacao de arrendamento mercantil financeiro deve ser efetuado pelo valor presente das saidas de caixa futuras ou pelo seu valor justo, desde que este seja menor. No célculo do valor presente devem ser consideradas todas as saidas de caixa necessarias para a efetivacao da transa- Gio, ou seja, além das prestacdes assumidas, normalmente periédicas, também devem ser incluidos outros pagamentos eventuais previstos na contratacdo. A taxa de desconto a ser utilizada nesse célculo deve ser, preferencialmente, aque- la que estd implicita na operacdo. Se essa taxa nao for identificdvel, ou nao for condizente com as condigées de mercado na data da contratagaio ou com as Suplemento 2009 do Manual de Contabilidade dat Sociedades por Ades condigées de risco do devedor, dever-se-A utilizar a taxa incremental de finan- ciamento do arrendatério, Assim, por exemplo, se um arrendamento de imobilizado for contratado por 50 prestagdes de 500 mil cada uma, os registros, dos ativo e passivo, nao serao feitos por 25 milhdes e sim pelo seu valor presente. Admita-se que o valor pre- sente dessa operaco seja de 18 milhdes, entio o registro do ativo sera efetuado por 18 milhées enquanto o passivo, de 25 milhées, devera ser retificado por uma conta de saldo devedor denominada “encargos financeiros a transcorrer” no valor de 7 milhdes. A partir desse registro inicial, o ativo imobilizado passaré asofrer depreciacéo como qualquer outro imobilizado. Assim, quando dos vencimentos das respectivas prestagdes dever-se-4 apro: priar as efetivas despesas com encargos financeiros, baixando-se os encargos financeiros a transcorrer. Essa apropriacdo ao resultado deverd ser efetuada por respeito ao regime de competéncia, independentemente dos pagamentos das prestacdes que serao, obviamente, registradas como baixa do passivo. Importan- te, essas mudancas, como dito anteriormente, nao deverdo provocar qualquer efeito tributario, pois a dedutibilidade fiscal pelos valores das prestagdes conti- nua existindo e deverd ser ajustada no Lalur. Obvio, nao se pode esquecer que nesses ajustes ao Lalur deverdo ser excluidos os valores da depreciagao sobre esses ativos arrendados, bem como os encargos financeiros relativos & operacao de arrendamento. Entdo, pode-se concluir que, ao longo do tempo, as despesas reconhecidas, tanto de uma forma como de outra, terdo diferengas temporais, mas agora ex pressando de forma mais adequada a esséncia econdmica da operacio. Para as operagées de arrendamento mercantil operacional o registro conti nuard a ser feito como antes. Ou seja, nao se reconhece qualquer ativo ou passi vo no momento da contratacao e as despesas devem ser reconhecidas de acordo com a vigéncia contratual. Chama-se apenas a atengdo para 0 caso de contratos que tenham pagamentos previstos de forma nao linear. As despesas contabeis com esse arrendamento devem ser apropriadas de forma linear, independente- mente de seus pagamentos serem ou ndo efetuados dessa forma, salvo se outra base sistematica seja mais representativa do modelo temporal do beneficio do usuario do bem, o que é raro. O Pronunciamento Técnico CPC 13 —Adogao Inicial da Lei 11.638/07 e da Medida Proviséria n* 449/08 determina que a aplicagio dessa regra se dard retrospectivamente, ou seja, abarcard os bens em arrendamento com essas caracteristicas existentes na empresa, independentemente de 0 contrato haver sido efetuado antes da vigéncia da nova Lei. Contratos existentes no final de 2007, quando da aprovagao da Lei, deverdo ser ajustados e sua ativagio como bem da arrendatdria, além do respectivo registro do passivo relativo ao finan- ciamento deverao ser reconhecidos. Tais ajustes, inclusive os decorrentes das depreciagées que também deverdo ser contabilizadas, sero reconhecidos no balanco de abertura de 2008 utilizando-se a conta de lucros ou prejuizos acu- mulados. O mesmo com o reconhecimento dos passivos que deveriam existir no balango de abertura de 2008 Manual de Contabilidade das Sociedades por AgBes * Iudicibus, Martins ¢ Gelbcke 10 Modificagées no Capitulo 13 - Ativos Intangiveis As modificagdes trazidas pela Lei sobre esse capitulo ja haviam sido previa- mente consideradas na 7* edicdo do manual. Permanecem vilidos, para os Ativos Intangiveis, todos os comentarios constantes do Manual. Ressalta-se apenas que a conta de Agio por conta de expectativa de rentabilidade futura, ou seja, o fundo de comércio, conhecido também por goodwill, agora nao mais ser registrado na conta de Investimentos. Esse ativo sera classificado no grupo de Ativos Intangiveis, como jé contido na 7* edicao. Note-se que os intangiveis anteriormente classificados no Imobilizado passam a esse novo grupo, bem como outros que estavam no Investimento e no Diferido, “Art. 179. [...] VI- no intangével: os direitos que tenham por objeto bens incorpéreos destinados & manutengao da companhia ou exercidos com essa finalidade, inclusive 0 fundo de comércio adquirido.” 0 gio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill), pelas regras in- ternacionais, néo pode ser amortizado, ficando sujeito, isso sim, as regras de reconhecimento por perda de capacidade de recuperacao de seu valor (confor- me Pronunciamento Técnico CPC 01 - Redugao ao Valor Recuperavel de Ativos, aprovado pela Deliberagéo CVM n° 527/07 e Resolugéo CFC n° 1.110/07).. Essa cessagaio de amortizagao contabil, bem como a de outros intangiveis sem vida titil definida, ocorrera, no Brasil, a partir de 2009. Vejam-se os Pronun- ciamentos Técnicos CPC 04 ~ Ativo Intangivel e CPC 13 - Adogao Inicial da Lei n? 11.638/07 e da Medida Proviséria n* 449/08, Deliberagdes CVM n° 553/08 e 565/08 e Resolugaio CFC n° 1.139/08. Todavia, como essas normatizagées estdo conforme as normas interna nais de contabilidade, mesmo que nao tenha havido previso explicita e expres- sa legal na Lei n’ 11.638/07 ou MP 449/08, o procedimento sera 0 mesmo: na apuragao do lucro tributdvel, no LALUR, as empresas poderdo continuar ex- Cluindo a amortizagao desse Agio, se tinham direito a isso, mesmo que nao 0 facam contabilmente. Assim, novamente: a Contabilidade seguir as normas internacionais, nao amortizando sistematicamente esse dgio, mas as empresas poderiio continuar a Ihes dar o tratamento tributario a que estavam sujeitos, sem qualquer prejuizo financeiro. Na adogo da nova legislacao no balango de abertura de 2008, a devida re- classificacao dever ser efetuada: 0 dgio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill) sai de Investimentos (ou Diferido, onde muitas vezes, mesmo que in- corretamente do ponto de vista técnico, era classificado) e vai para Intangiveis. Esse gio recebe, em 2008, sua tiltima amortizagao, j4 que de 2009 em diante nao mais poder sofrer amortizacao sistematica, passando a sofrer apenas 0 teste da recuperabilidade (CPC 01). O dgio por diferenca entre valor de merca- do e valor contabil permanece no subgrupo de Investimentos, nao podendo ser Suplemento 2009 do Manual de Contabilidade das Sociedades por Aghes 31 transferido para Intangiveis, e continuard sofrendo as baixas conforme as baixas dos ativos a que se referem. Os direitos de exploracao, os direitos autorais, as patentes, as marcas, os direitos de franquia e outros intangiveis que normalmen- teestavam no Imobilizado, passam ao subgrupo de Intangiveis. Os softwares que tém vida prépria, podem ser comprados e vendidos individualmente, também passam a esse subgrupo. Gastos com desenvolvimento (atente-se, ndo esto aqui incluidos os gas- tos com pesquisa) que atendam aos requerimentos do CPC 04 que estejam no Diferido passam para Intangiveis. Nesse balanco de abertura no podem ser incorporados aos Intangiveis gastos que ja tenham sido tratados como despesas anteriormente, 11 Modificacées no Capitulo 14 - Ativo Diferido O texto anterior da Lei definia o ativo diferido da seguinte forma: “Art. 179. [...] IV - no diferido: as despesas pré-operacionais ¢ os gastos de reestrutu- ragiio que contribuirdo, efetivamente, para o aumento do resultado de mais de um exercicio social e que ndo.configurem téo-somente uma redugdo de custos ou acréscimo na eficiéncia operacional.” Esse item do artigo 179 desapareceu, portanto nao mais poderd existir nos balangos ja ao final de 2008 o Ativo Diferido, afinal, ele também nao existe nas normas internacionais de Contabilidade de hoje. A Lei n® 11.638 havia modificado o conceito de Ativo Diferido, mas, com a edigdo da MP n° 449/08, ele acabou foi desaparecendo das normas contabeis. Assim, é importante atentar para muitos detalhes: + as despesas pré-operacionais que ficavam no ativo diferido, deverdo simplesmente desaparecer. Na realidade, as normas internacionais de- terminam que os gastos que aqui classificdvamos normalmente como despesas pré-operacionais, mas que se referem a colocagao das maqui- nas e dos equipamentos em condicao de funcionamento, como testes, gastos obrigatérios com a colocagao em condi¢des de funcionamento ¢ semelhantes, so tratados como parte do custo desses mesmos ativos imobilizados. O principio geral da Contabilidade, alids, sempre foi o de colocar todos os gastos necessdrios para colocar um ativo em condigées de uso ou de venda (conforme a razdo de sua obtencao) como parte do custo desse ativo. Assim o fazemos com os gastos com transporte, certos tributos, comissdes ¢ outros na aquisi¢ao de mercadorias ou ma- térias-primas, e 0 mesmo precisamos fazé-lo com os imobilizados. Com isso, parte do que ia para despesas pré-operacionais ir agora para 0 imobilizado, J4 os gastos que antes contabilizévamos no ativo diferido, relativo a despesas pré-operacionais com treinamento de pessoal ad- ministrativo, de vendas etc., terdo que agora ir diretamente para o re- sultado do exercicio, nao podendo mais ser ativados. E isso em fungao 32 Manual de Contabilidade das Sociedades por Agbes + Tudicibus, Martins e Gelbeke da quase impossibilidade pratica de efetiva confrontagio desses gastos transformados em despesas com as receitas a que se vinculam, tornan- do essa confrontagao, na pratica feita mediante amortizagao ca, bastante arbitraria. Avaliar a vida itil econdmica de ativos imobil zados nao é tarefa facil, mas com o tempo vé-se, e de forma totalmente clara, se as premissas originais foram adequadas ou néo, ¢ aprende-se muito com a experiéncia. JA no caso dessas despesas pré-operacionais, praticamente nao ha forma de se verificar, posteriormente, se as pre- missas de vida util econémica foram adequadas ou nao; + as despesas de treinamento, reorganizacao e semelhantes que as vezes se contabilizava no diferido, nao mais podem sofrer esse tratamento: tém que ir para o resultado do periodo; as razdes sao as mesmas que as dadas imediatamente atras; + os dgios que, muito erroneamente do ponto de vista contébil estavam no diferido, precisarao mudar de lugar: se forem genuinamente vin- culados & expectativa de geracio de rentabilidade futura (goodwill), irdo para o Ativo Intangivel. Se vinculados a diferenga entre o valor de mercado e o valor contabil de ativos e passivos de entidade adquirida, irdo para Investimentos. Nada mais poderé ficar a titulo desse item no diferido; + algumas empresas (inclusive os bancos por defini¢ao do COSIF) con- sideravam no diferido as benfeitorias em propriedades de terceiros, também de forma indevida, Devem estar no Imobilizado quando, como 60 ntimero maior de casos, vinculadas a divisérias, obras, construges ¢ reformas com ampliagao e outras coisas corpéreas que se incorporam ao ativo imobilizado que, juridicamente, ndo é da entidade; + gastos com software, programas e outros, que também precisam ser reanalisados: quando parte integrante das maquinas e equipamentos, como no caso dos softwares que sao privativos de certos imobilizados, tém sua existéncia vinculada a desses ativos e devem ficar no proprio Imobilizado. Quando tém vida prépria, independente do imobilizado, ficam no grupo do Intangivel A lei foi benevolente, ao permitir que os saldos remanescentes, apés as re- classificagdes necessérias, ainda no grupo do Ativo Diferido ao final de 2008, sejam mantidos nesse grupo (que continuard, nesses casos, a ser apresentado no balanco dentro do grupo de Ativo Nao-Circulante) para amortizagao integral (porque obrigatério seguir as regras que estavam em vigéncia antes, que limi- tavam essa amortizacao ao maximo de dez anos). Veja-se a mudanca na Lei das. S.A. introduzida pela MP 449: “Art. 299-A. O saldo existente em 31 de dezembro de 2008 no ativo diferido que, pela sua natureza, ndo puder ser alocado a outro grupo de contas, poderd permanecer no ativo sob essa classificagao até sua completa amortizagdo, sujeito & andlise sobre a recuperagdo de que trata o § 3° do art. 183.” (NR) Como bem lembra esse artigo, é obrigatério que se aplique o que a Lei n” 11.638/07 havia ja determinado, inclusive para esse grupo: se 0 valor nao tiver a | capacidade de ser recuperado, ou seja, se os beneficios futuros nao forem sufi- cientes para cobrir esse valor ativado, ele precisa, obrigatoriamente, ser baixado para o resultado. Se a entidade preferir, pode baixar o saldo que estaria no Ativo Diferido diretamente, Nesse caso, 0 melhor é deixar no resultado do exercicio de 2008 0 que havia sido feito de amortizagao durante esse periodo, baixando 0 saldo con- tra lucros ou prejuizos acumulados. No LALUR fara, nos exercicios subsequen- tes, a baixa fiscal das parcelas préprias de cada periodo, para aproveitamento tributario, se vinha tendo direito a ele, mesmo que na Contabilidade jé tenha efetuado a baixa total. Assim, no balango de abertura de 2008 poderdo haver baixas de valores do Diferido contra lucros ou prejuizos acumulados. No caso de valores adicionados ao Diferido durante 2008, dentro das regras aceitas pela Lei n® 11.638/07 deveriam também ser descarregados contra 0 resultado nesse periodo ao final do exercicio. 12 Modificagées no Capitulo 16 - Debéntures Nesse capitulo também esta ja contemplada a novidade trazida pela Lei no que tange aos possiveis prémios na emissio de debéntures. “Art. 10. Ficam revogadas as alineas c e d do § 1®do art. 182 e 0 § 2° do art. 187 da Lei n" 6.404, de 15 de dezembro de 1976.” A alinea c do § 1" do art, 182 da Lei n’ 6.404/76 determinava que os pré- mios recebidos na emissio de debéntures ficassem diretamente reconhecidos no patriménio liquido, em conta de reserva de capital. Agora, nao mais. O que significa que esses valores recebidos na emissiio de debéntures, acima do valor nominal determinado para a liquidagao desses valo- res mobilidrios, terao que transitar pelo resultado. O Manual ja propunha que esse prémio ficasse em resultados de exercicios futuros para apropriacao ao resultado como retificacao das despesas financeiras futuras. A normatizacao, estabelecida pelo Pronunciamento Técnico CPC 08 ~ Custos de Transa¢ao e Prémios na Emissao de Titulos e Valores Mobilidrios, esta em conformidade com as normas internacionais e traz modificagées bastante profundas em relacdo as préticas anteriores. A ideia principal é que os recursos captados de terceiros sejam apresentados no passivo da empresa pelos valores liquidos recebidos e disponiveis para serem utilizados. Assim, todas as despesas necessarias para essa captacao no mais serao reconhecidas nos resultados e sim como conta retificadora do respectivo passivo. Se houver prémios recebidos, o tratamento serd o mesmo, ou seja, seu registro nao mais sera em conta de patri ménio liquido e sim como uma espécie de “receitas a apropriar”. O valor total de todas essas despesas (juros, variacdes monetarias e cambiais, quaisquer outros custos incrementais), liquido dos prémios recebidos, deverd ser apropriado aos resultados da empresa de acordo com os prazos das dividas contraidas. Ressa te-se, essa apropriacdo ao resultado nao poderd ser efetuada utilizando-se 0 método linear e sim 0 método dos juros compostos ou da taxa interna de retorno (método também denominado de “custo amortizado”). ‘Manual de Contabiidade das Sociedades por Agdes — tudletbus, Mains» Gelbeke Note-se essa outra grande mudanca derivada desse Pronunciamento: aalo- | _1 cago dos gastos de captacao de recursos. Estes vinham sendo descarregados como despesa assim que incorridos. Com isso, uma empresa que obtivesse di- nheiro num banco com taxas altas de juros, mas gastando pouco para conseguir © empréstimo, tinha poucas despesas iniciais tratadas como despesas no ato da contratacdo, mas registrando despesas financeiras grandes ao longo desse contrato. J outra empresa, efetuando, por exemplo, a captagaio com emissiio de debéntures, com certeza tinha grandes despesas com essa captacao mas, em compensagio, taxa de juros bem menor. Assim, essa outra entidade estava contabilizando grandes despesas com a captago (pagamento a intermediaries Uy financeiros, auditores, advogados, consultores, viagens etc.) de forma imediata ti quando incorridos, mas com menores despesas financeiras ao longo do con- da trato. Com a adogao desse Pronunciamento Técnico, tornado obrigatério pela CVM e pelo CFC, tanto uma como outra empresa nao registrarao despesas no bu ato da contratagao, juntando esses gastos para serem tratados como despesas ta financeiras ao longo do tempo. Assim, ambas tenderdo a apresentar encargos financeiros nao tio dispares quanto vinham apresentando. (Nao é assunto deste tépico, mas s6 para lembrar: os gastos com captacio de recursos préprios — acoes, normalmente, no sao também considerados mais como despesas, ¢ sim m como reducao do capital obtido.) tec lir © Pronunciamento Técnico do CPC também destaca que os encargos finan- ceiros identificaveis com ativos de longo prazo, que estejam em fase de constru- r cdo, devem integrar o custo dos respectivos ativos. Para os passivos clasificados vo ¢ avaliados pelo valor justo, com contrapartida reconhecida diretamente no re- rat sultado, os encargos serao amortizados na primeira avaliacao ao valor justo e ati nao ao longo do prazo da operagio. Finalmente, todos e quaisquer encargos incorridos em operacio de capta- © cdo nao coneretizada deverao ser reconhecidos como perda diretamente no re- pk sultado do periodo. Do ponto de vista fiscal, cabe dizer que os valores dos prémios na emissio de debéntures continuam como nao tributaveis, desde que se sigam os seguin- tes procedimentos exigidos pela MP n” 449/08: os valores que forem sendo apropriados desses prémios ao resultado deverao, na destinagao do Iuero, ser transferidos para conta especifica do patriménio Kquido e nao ser distribuidos na forma de dividendos. Ao se fazer essa transferéncia contabil faz-se, no Lalu, ge a exclusdo desse montante de forma a manter a nio tributagdo desses prémios. gg) Procedimento, alias, semelhante ao das subvengées para investimento. Quanto ao balango de abertura de 2008, nao ha quaisquer exigéncias para tac retroacao das novas regras para prémios de abertura ou outros encargos finan- po ceiros que devessem, pelas novas normas, nao ter sido considerados como des- OF pesas no passado, mas 0 foram, ou 0 contréri, As novas regras se aplicam as PM novas operagées de 2008 em diante. Suplemento 2009 do ana de Contabilidade das Sociedade por AGBes _13 Modificages no Capitulo 20 - Resultados de Exercicios Futuros Sempre tivemos muitas restricdes em relagio & criaco e ao uso que se fez desse grupo de contas. Deixamos registrado, desde as primeiras edigdes deste Manual, que os exemplos de itens que nao deveriam integrar esse grupo de con- tas eram mais faceis de ser encontrados do que os ai classificaveis. Finalmente, em consonaincia com as normais internacionais, a MP n° 449/08 determinou a extingdo desse grupo de contas. Na verdade a utilizacdo desse grupo de conta jé era bastante restrita e ape nas algumas entidades ligadas & rea de exploracao imobilidria o usavam; esse uso era, do ponto de vista técnico, totalmente incorreto. Na verdade a legislacao tributaria induzia ao uso inadequado desse grupo. Agora esse erro desaparecerd da nossa contabilidade. Se existirem saldos incorretamente nele classificados, precisam ser redistri- buidos. Por exemplo, se alguma empresa ainda tiver saldo nesse grupo de adian- tamento de clientes, adiantamento por conta de aluguéis futuros ou semelhan- tes, tudo precisa passar para o passivo circulante ou nao-circulante, conforme o prazo a que se refiram, Os saldos das entidades de atividade imobilidria nao podem pura e simples- mente ser transferidos para esses outros grupos, porque essa contabilizacao é tecnicamente incorreta. A CVM e 0 Conselho Federal de Contabilidade ja abo- liam a adogao desse grupo para essas entidades. Assim, nao mais podem, do ponto de vista contabil, permanecer os saldos que algumas entidades colocavam nesse grupo, e no podem, também, ser simplesmente transferidos para o pass vo circulante ou nao-circulante. E necessdrio, nesses casos, a completa reelabo- ragio das demonstragdes contabeis conforme as regras condizentes relativas &s atividades imobilidrias (genuino regime de competéncia) Sao totais excecdes as situagdes abrangidas pela MP n° 449/08. Na verdade, continuamos com enorme dificuldade de encontrar inclusive algum bom exem- plo para essa situacao: “Art, 299-B. O saldo existente no resultado de exercicio futuro em 31 de dezembro de 2008 deverd ser reclassificado para o passivo néo-circulante em conta representativa de receita diferida. Pardgrafo tinico. O registro do saldo de que trata 0 caput deverd eviden- ciar a receita diferida e o respectivo custo diferido.” Mas, voltando & figura da atividade imobilidria, é preciso atentar que o que deve ser praticado contabilmente agora é 0 que estd no item 20.6.2 do Manual sob 0 titulo de “O Correto Contabilmente”. Aliés, 0 CPC emitiu sua primeira Orientagao Técnica, sob o titulo de Orien- tagéo OCPC 01 ~ Entidades de Incorporagéo Imobilidria”, aprovado pela CVM Por sua Deliberagio n° 561/08 e pelo CFC por sua Resolucao n° 1.154/09. Nessa Orientacdo tratou-se dos procedimentos contabeis com relacdo a gastos com propaganda, estandes, permuta e outros de interesse especial nessa atividade, bem como da figura dos ajustes a valor presente. de das Soeiedades por AgBes + hudieibus, Mains e Gelbeke Mas o mais importante é a adogao constante do Regime de Competéncia para a apropriacdo do resultado, e nao a do Regime de Caixa como base para reconhecimento da receita nessa atividade. 14 Modificagées nos Capitulos 21 ~ Patriménio Liquido ~ e 28 - Demonstracaio dos Lucros ou Prejuizos Acumulados 14.1 Desaparecimento de Reservas No patriménio liquido desaparecem as reservas de reavaliago, de prémio por emissio de debéntures (ver item 12 atras) e por doacGes e subvencées para investimento (ver item 15 a frente). Na verdade, os saldos atuais podem li continuar até destinagées futuras. No caso das reavaliagées veja-se o item 10 mais & frente. “Patriménio Liquido Art. 182. [...] §reL.d ©) (revogada); d) (revogada). § 3° Serao classificadas como ajustes de avaliagao patrimonial, en- quanto nao computadas no resultado do exercicio em obediéncia ao re- gime de competéncia, as contrapartidas de aumentos ou diminuigdes de valor atribuido a elementos do ativo e do passivo, em decorréncia da sua avaliagao a valor justo, nos casos previstos nesta Lei ou, em normas ex- pedidas pela Comissio de Valores Mobilidrios, com base na competéncia conferida pelo § 3° do art. 177.” 14.2 Criagdo de Novas Contas e Reservas no Patriménio Liquido E criada a conta de Ajustes de Avaliacdo Patrimonial que tem como grande objetivo registrar valores que, jé pertencentes ao patriménio liquido, nao transi- taram ainda pela conta do resultado do exercicio, mas 0 fardo no futuro. Eo caso dos resultados dos instrumentos financeiros ativos e passivos discu- tidos no item 4 classificados como disponiveis para venda futura. Todos os ajus- tes por variagdo de pregos no mercado por conta desses itens serdo registrados diretamente nessa conta, em subtitulo especifico, com controles préprios para transferéncia ao resultado nos momentos adequados. Assim também serd para os ajustes de ativos e passives ao valor de merca- do no caso de determinadas reorganizagdes societdrias (ver item 15 a frente). Além disso, estardo dentro desse grupo outros ajustes que vierem a ser deter- minados pela CVM, de acordo com o estabelecido no § 3", do art. 226, da Lei n’ SSuplemento 2009 do Mania! de Contabildade das Sociedade por Agies 6.404/76, alterado pela MP n’ 449/08 e pelo processo de internacional das normas contabeis brasileiras. Por exemplo, foi editada a Deliberacgio CVM n® 534/2008, que aprovou o Pronunciamento CPC-02, emitido pelo Comité de Pronunciamentos Contabeis sobre Efeitos nas Mudangas nas Taxas de Cambio e Conversdo de Demonstra- Ges Contdbeis. Por esse Pronunciamento, conforme jé comentado no item 7, as variagdes cambiais de investimentos permanentes em entidades no exterior nao transitardo de imediato pelo resultado, devendo ficar em conta prépria no pa- triménio liquido até que tais investimentos sejam, por exemplo, alienados. Essa conta de Ajustes de Avaliagao Patrimonial talvez devesse poder também servir de guarda-chuva para esses valores transitérios, mas ser necessdrio que venha aser utilizada uma conta especifica sé para esse fim, ja que essa é a pratica in- temacional e essa variacao nao é em funcao de variacdio no valor justo, mas sim de variacao na taxa de cdmbio. Talvez essa conta venha a ter 0 nome de Ajuste Acumulado de Conversio, conforme sugestdo da prépria CVM na sua também recém-emitida Instrucao n° 464/2008. Essas contas de Ajustes de Avaliacdo Patrimonial e de Ajuste Acumulado de Conversio nao so contas de Reserva! Seus valores nao transitaram ainda pelo resultado. Pelo contrario, sairo delas, no futuro, para dai transitar pelo resultado e, em sequéncia, poderem vir a ser transferidos, ai sim, para efetivas Reservas. Outro ponto: foi criada, dentre as reservas de lucros, a Reserva de Incenti- vos Fiscail “Reserva de Incentivos Fiscais Art. 195-A. A assembleia geral poder, por proposta dos drgdos de administragdo, destinar para a reserva de incentivos fiscais a parcela do lucro liquido decorrente de doagdes ou subvengdes governamentais para investimentos, que podera ser excluida da base de célculo do dividendo obrigatério (inciso I do caput do art. 202 desta Lei).” No item 32 frente se discute melhor esse assunto, Uma outra conta precisard ser constituida no patriménio liquido: a referen- te a0 registro dos gastos com emissio de agées e outros valores mobilidrios patrimoniais. O Pronunciamento Técnico CPC 08 ~ Custos de Transagao e Pré- mios na Emissio de Titulos e Valores Mobilidrios, aprovado pela Deliberacio CVM n' 556/08 e Resolucio CFC n° 1.142/08, exige que esses gastos com cap- tagio de recursos por emissaio de novas ages nao podem mais ser considerados como despesas. Alids, a doutrina contébil sempre determinou que no resultado entram as receitas e despesas derivadas da atividade da empresa, tanto a prin- cipal quanto as acess6rias, mas nunca as derivadas de transagdes com os sécios, Assim, aumento de capital nunca € receita, distribuicao de dividendos nunca é despesa, resultado na alienacdo de agdes ou quotas de sécios anteriormente compradas e mantidas em tesouraria também nunca vai para o resultado ete. Ocorre que gastar para captar recursos dos sécios atuais ou novos é também um gasto vinculado a uma transacdo com eles, ou seja, é uma atividade vinculada a.uma transacao de capital com os sécios. Assim, esses gastos ndo deveriam ser considerados como despesas da atividade da empresa, mas sim como uma redu- Manval de Contabitidade das Sociedades por AGbes * fudiibus, Martins © G cdo dos valores efetivamente obtidos na captagao junto aos sécios. Veja-se que | é por causa dessa filosofia que o dgio na emissao de acées nao é também uma | ati receita, e sim uma reserva de capital. a, Assim, a partir de 2008 todos os gastos com captagio de recursos por | luc emissao de agées ou outros valores mobilidrios pertencentes ao patrimé- | 20 nio liquido (bénus de subscrig4o, por exemplo) precisam ficar em conta | Fe de patriménio liquido, retificadora do grupo do capital social (pode, por | 4° exemplo, ficar com 0 titulo de Gastos com Emissao de Aces). Essa conta s6 poderd ser utilizada para compensagao com reservas de capi- | tal ou redugao do préprio capital social. A nao ser nos casos de gastos infrutife- | ros, quando a captacao de agdes nao obtém sucesso, quando ento esses gastos | silo descarregados como perdas do exercicio. 14.3 A Conta de Lucros Acumulados i pa ba Outra novidade trazida pela Lei n" 11.638 é que nao pode mais permanecer, pa nos balangos, saldo na conta de Lucros Acumulados. Todo o resultado precisar’, | obrigatoriamente, ser destinado, e as parcelas do resultado a serem retidas pre» | cisarao ser contabilizadas nas reservas proprias. $6 poder haver saldo na forma m de Prejuizos Acumulados. Note-se: " ‘Art. 178. [..] ” §2°L.] ts d) patriménio liquido, dividido em capital social, reservas de capital, si ajustes de avaliagao patrimonial, reservas de lucros, agdes em tesouraria € prejutzos acumulados. | Isso nao significa que a conta de Lucros Acumulados deverd ser eliminada — dos planos de contas, ao contrério, A conta de Lucros Acumulados continuard sendo utilizada como contrapartida, primeiramente, da transferéneia do Resul- tado do Exercicio, recebendo o lucro ou 0 prejuizo do periodo; a seguir, é utili- ve zada para a constituicao de todas as reservas de lucros (Legal, Estatutarias, de Pa Lucros a Realizar, de Incentivos Fiscais, citadas no item anterior, e outras ) e, nalmente, para a distribuigdo de dividendos. Em outras palavras, 0 que nao Ge poderemos ter sao balancos onde essa conta apresente saldo se ele for positivo. cr m m 14.4 Reserva de Lucros a Realizar e Limite das Reservas dis “Reserva de Lucros a Realizar di Art. 197. [1 co sie Ll Te 1-0 lucro, rendimento ou ganho liquidos em operagées ou contabi- n lizagao de ativo e passivo pelo valor de mercado, cujo prazo de realizagio @u financeira ocorra apés 0 término do exercicio social seguinte.” ae Suplemento 2009 do Manual de Contabitiade ds Foi acrescentado que componentes do resultado, decorrentes de ajustes de ativos e passivos pelo valor de mercado, com prazo de transformacao em dinhei to apés 0 exercicio social subsequente, podem ser computados como parte dos lucros a realizar para a criacéo dessa reserva prépria. O objetivo é nao obrigar ao pagamento de dividendo minimo obrigat6rio em cima desses resultados cuja realizacao financeira se dé além do exercicio seguinte ao da geragao do resulta- do que origina esse dividendo. “Limite do Saldo das Reservas de Lucro Art. 199. O saldo das reservas de luctos, exceto as para contingén: cias, de incentivos fiscais e de lucros a realizar, no poderd ultrapassar 0 capital social. Atingindo esse limite, a assembleia deliberara sobre apli do do excesso na integralizagao ou no aumento do capital social ou na distribuigao de dividendos.” Fica também acrescida a reserva recém-criada de incentives fiscais como parte daquelas que nao so computadas para efeito de comparagao, em cada balango, com o valor do capital social para célculo de eventual excedente a ser pago em dividendos ou aumentado ao capital social. A conta de Ajustes de Avaliagdo Patrimonial, bem como a de Ajuste Act mulado de Converséo, por nao serem contas de Reserva (como ja dissemos, nio resultam da destinagao do resultado, pelo contrario, ainda transitarao pelo resultato no futuro), nao integram esses valores que a lei retine para célculo de eventual excedente ao capital social. HA dois tépicos especiais nesse Capitulo, que exatamente por essa caracte- ristica, serdo tratados & parte: Subvencoes para Investimento e Prémio na Emis so de Debéntures. 15 Modificagdes nas Subvengées para Investimento Conforme ja abordado, desapareceu a Reserva de Capital Reserva de Sub- vengées para Investimento. Esses valores que eram creditados diretamente ao Patriménio Liquido precisam, agora, transitar pelo resultado, O CPC emitiu 0 Pronunciamento Técnico CPC 07 — Subvengao e Assisténcia Governamentais, aprovado pela Deliberacio CVM n° 555/08 e pela Resolugao CFC n° 1,143/08, onde se determina que esses valores precisam, obrigatoria- mente, transitar pelo resultado. Isso nao significa que vao para o resultado da mesma forma e nos mesmos perfodos como anteriormente eram reconhecidas diretamente no Patriménio Liquido. $6 podem ser reconhecidas no resultado quando atendidas todas as con- digdes de reconhecimento de qualquer receita. Assim, se uma empresa recebe uma subvencao de uma prefeitura na forma de um terreno a ser utilizado para construgéo de uma fabrica, e a legislacio e/ou a contrataciio dizem que esse ter- reno sera da empresa unicamente apés passados 10 anos , e desde que ela gere pelo menos 1,000 novos empregos até li, deverd a entidade entao: contabilizar oTerreno no seu Imobilizado assim que adquirir sua posse (nao sua propriedade que ainda nao ser transferida) e seu controle e puder utilizé-lo para as finali- dades negociadas. © valor de registro deverd ser 0 valor justo, ou seja, 0 valor de mercado que a empresa normalmente teria que pagar se adquirisse o imével no mercado, a no ser que impossivel a obtencéio desse valor (diga-se de passagem: se o imével é proprio para uso por uma industria, por exemplo, com certeza sera possivel obter-se seu valor de mercado). A obtencao desse valor deverd preferencialmen- te ser feita com consulta a terceiros, como a registros em cartérios, corretoras de iméveis etc., mas tudo devidamente documentado, suportado e justificado. A contrapartida desse registro seré uma conta de Passivo ou entéo uma conta de Ativo retificadora do préprio Imobilizado (as duas alternativas foram dadas). E dessa conta serd feita a transferéncia ao resultado da empresa tdo- somente quando forem eliminadas todas as restrigdes que impedem a plena e fi- nal incorporacao desse terreno ao patriménio da empresa. Assim, se ao final do décimo ano ela nao houver cumprido, por exemplo, a exigéncia da contratacdo dos 1.000 novos empregados, nao poderd reconhecer a receita, a nao ser que haja perdao dessa clausula por quem de direito. No caso de recebimento de maquinas, 0 procedimento ser um pouco dife- rente: mesmo que estejam elas jé totalmente sob sua propriedade, mesmo assim ndo poderd reconhecer a receita, tendo em vista que essas maquinas provocarao depreciagées no futuro. Assim, a apropriagdo a receita se dard paulatinamente, na medida em que forem sendo efetuadas as depreciagdes de tais ativos. Esse crédito ao resultado poderd ser feito na forma de receitas ou de reducdo das despesas de depreciagao. Se a entidade receber subvencoes ¢ j4 nao houver absolutamente nenhuma obrigacao adicional a cumprir, ai entéo 0 reconhecimento como receita sera imediato. Assim, por exemplo, se a empresa destina um pedaco do seu imposto de renda nas quotas de um fundo por conta de um incentivo fiscal, e desde que, ao efetuar o pagamento do imposto tenha cumprido a tiltima de suas obriga- Ges, nesse momento reconhecerd essa parcela como receita de subvencao. Se 0 imposto for apropriado por competéncia a um perfodo mas o pagamento se der em outro, a despesa sera langada como antes se fazia, quando do registro dos resultados que a geraram, e a receita com a subvengio sera reconhecida apenas no period em que cumprida entao a tiltima das obrigacoes para fazer jus a tal incentivo. Nao poder a empresa, quando do reconhecimento da despesa com 0 imposto de renda, registrar um ativo relativo a um direito a ser exercido no futu- ro, contra 0 resultado, j4 que nao cumpriu ainda com todas as suas obrigacdes. HA situagées em que o beneficio é dado pelo nao pagamento do imposto (redugao, isengao etc.), ¢ 0 beneficio ¢ dado quando existe 0 lucro que normal- mente exigiria tal tributo, e nessa altura todos os compromissos de investimento € outros ja terdo sido cumpridos pela entidade. Nesse caso, registra a despesa do imposto que teria que pagar, mas imediatamente registra, como redugao dessa despesa, a receita pela subvencao. Isso faz com que sejam devidamente eviden- ciados, na Demonstragao do Resultado, a todos os leitores, que ha um resultado incentivado a compor o desempenho da empresa. Anteriormente aparecia uma despesa com o tributo como se ele fosse efetivamente ser pago, e 0 crédito era no patriménio liquide, distorcendo-se o desempenho da entidade. aco toda especial em alguns casos no Brasil: tributos que so financiados pelo prdprio Estado por longo prazo com taxas de juros totalmente fora do mercado. Trata-se de efetivas subvengdes que precisam ser devidamente — Soplemente 2009 do Manual de Comabiidade das Sucieddes por Agoes divulgadas para que se tenha ideia do quanto do resultado da entidade se deve a tais beneficios Assim, se a empresa tem o direito de pagar seu ICMS pelo prazo de 15 anos, obtendo para isso um financiamento do Estado ou de uma entidade que Ihe pertence ou por ele é controlado ou, de qualquer maneira, que dele obtenha a devida compensagio se for 0 caso, mas tal financiamento ¢ totalmente fora de mercado, ha que registrar o incentivo. Por exemplo, se o pagamento do impos- to é diferido totalmente nesses 15 anos, para pagamento com juros simples de 1% ao ano, nao poderd registrar o ICMS devido agora pelo seu valor nominal ¢ ainda registrar reduzidissimas e irrealistas despesas financeiras pelos 15 anos. Veja-se que, além disso, a entidade registrar nos seus resultados normais todos 0s beneficios desse no pagamento do tributo por tanto tempo em decorréncia do que esse nao pagamento Ihe trouxer de redugio de despesas financeiras que teria caso precisasse tomar emprestado para pagar o imposto, ou entao de recei- tas financeiras a taxas de mercado pela aplicacao desse dinheiro etc. Com isso, deverd ela contabilizar, conforme esse Promunciamento Técnico CPC 07, da seguinte forma: no periodo em que passa a dever o tributo, reco- nhece a despesa (ou reducdo da receita, como se faz no caso do ICMS no Brasil) normalmente no resultado contra o passivo relativo ao financiamento. Calcula 0 valor final a pagar, considerando-se, por exemplo, a taxa de juros de 1% ao ano, ea seguir traz.a valor presente pelas taxas normais de mercado que representam as condigées econdmicas do momento ¢ 0 seu risco no proceso de obten¢iio de ‘empréstimos (v. 0 tépico sobre Ajuste a Valor Presente). Ficara evidenciado 0 va- lor do ganho por essa subvencao. Debitara o passivo, em conta retificadora, por essa diferenca, de forma que seu passivo registre o valor presente da obriga daqui a 15 anos. A contrapartida sera um crédito: direto ao resultado, reduzindo o valor do seu tributo ao que ele de fato representa econdmica e financeira- mente, ou entdo contra outra conta de passivo, para apropriacao ao resultado futuramente, se ainda existirem condicdes a serem cumpridas para efetivamente poder gozar do beneficio do empréstimo a taxas de juros subsidiadas. A Medida Proviséria 449/08 permite que a empresa nao seja prejudicada do ponto de vista tributario por conta dessa nova forma de registro contabil. E faz isso da seguinte forma: permitindo que a entidade registre, em cada exer- cicio em que reconhece esse tipo de receita, a transferéncia da conta de Lucros Acumulados para a conta de Reserva de Incentivos Fiscais 0 exato valor de tal receita, de forma a nao distribuir esse valor como lucros ou dividendos aos s6- cios. E, no Lalur, a empresa deduz do lucro tributavel tanto para fins de célculo do imposto de renda quanto da contribuigio social sobre 0 lucro liquido, esse montante que estava incluido no lucro contabil. E também nao tributa essa re- ceita contabil pelo PIS e pelo Cofins. Nao ha determinacGes para ajustes do passado para o balango de abertura de 2008. Assim, as subvencdes contabilizadas como reservas de capital até 0 final de 2007 la permanecem, tendo como destinacao a que a Lei dava a todas as reservas de capital anteriormente: compensacio com prejuizo ou aumento de capital. E nao ha, nesse balango de abertura, quaisquer ajustes a serem fei- tos com relaco ao passado. Os novos procedimentos contabeis das subvenc6es para investimento sao apenas aplicaveis as de 2008, inclusive, em diante. 16 Modificacdes no Capitulo 22 - Reavaliago Desaparece a opcio da reavaliacao espontanea de bens que antes existia. Desapareceram as mengées a essa possibilidade, bem como desapareceu a pré pria conta de reserva de reavaliacio (v. item 14.1 deste Suplemento) ¢ ficou assim estabelecido na Lei n° 11.638/07: “Art. 6° Os saldos existentes nas reservas de reavaliagdo deverdo ser mantidos até a sua efetiva realizagdo ou estornadas até o final do exercicio social em que esta Lei entrar em vigor.” Ou seja, nao se pode mais efetuar reavaliagoes do imobilizado tangivel, sen- do que mesmo as empresas que a isso estavam obrigadas a fazé-la, pelo menos a cada quatro anos, nao s6 esto desobrigadas disso, como também impedidas de aplicé-la daqui para a frente. Infelizmente, algumas interpretacdes, que nos parecem erréneas, tém exis- tido no sentido de que a nova Lei eliminou as mengées a reavaliagao, mas nao a proibiu. Isso nao é verdade, porque a Lei diz que os ativos imobilizados, por exemplo, precisam, obrigatoriamente, ser registrados ao custo (art. 183, inciso V); mas havia a permissdo da reavaliacéio em outro local, de onde foi extinto. Assim, remanesce como tinica opgao a avaliagdo do imobilizado ao seu custo original de aquisigao. Vedada esta a reavaliagao, portanto. Os saldos atualmente existentes irdio desaparecendo a medida que forem sendo realizadas mediante depreciagdes ¢ outras formas de reducao do valor do imobilizado reavaliado até sua extingao. E isso para as companhias fechadas ¢ limitadas também. A mudanca importante nesse item ficou por conta do Pro- nunciamento Técnico CPC 13 Adogao Inicial da Lei n° 11.638/07 e da Medida Proviséria n° 449/08, que determinou que a realizacao dessa reserva sera feita contra lucros ou prejuizos acumulados. Esse comentario pode até parecer desne- cessario, mas nao 0 é, afinal a Lei n’ 6.404/76 nao era objetiva nesse aspecto ¢ muitas empresas fechadas faziam, mesmo que incorretamente do ponto de vista téenico, o registro contra o resultado do exercicio. Essa alternativa acabou. Outro ponto interessante, foi a opgao para as empresas que quiserem efe- tuar a baixa completa dos saldos ainda existentes dessas reavaliagées, regis- trando a baixa das reservas existentes contra os valores reavaliados inscritos nos respectivos ativos imobilizados, desde que essa baixa se dé até o final de 2008 ou do exercicio em que entrar em vigor a lei para 0 caso das que nao encerram seus exercicios sociais em 31 de dezembro. ‘Todos os saldos que existirem de reavaliagio nos ativos imobilizados, para 0 caso de quem nao efetuar esse estorno autorizado pela lei, passam a fazer parte do custo de tais ativos daqui para a frente. E légico que, enquanto esses valores forem relevantes, materiais, devera a empresa comentar o fato em suas notas explicativas (de que o ativo contém reavaliagdes efetuadas até ou em tal ano). Ressalta-se que a chance de estorno de saldos de reavaliagao é para o pri- meiro exercicio social da vigéncia da nova Lei. No futuro, se valores reavaliados se mostrarem irrecuperdveis, somente restard a pratica do impairment, ou seja, do reconhecimento, como perda no resultado, das parcelas nao passiveis de 8 d Swplemento 2009 do Manual de Contabilidade das Tecuperacdo. Ver CPC-01, item 58, onde se vé que a baixa por impairment se da, no caso das reavaliagdes, contra a reserva de reavaliagao, endo contra 0 resultado. Assim, no balanco de abertura de 2008, nenhum ajuste ha que se fazer, a nao ser no caso das empresas que tiverem aproveitado a opcao legal e baixado suas reservas durante 0 exercicio desse ano de 2008. Nesse caso, essa baixa devera ser considerada como ajuste do balanco de abertura. Lembrar que os procedimentos adotados por uma investidora precisam se adotados pelas suas controladas no que diz respeito a baixar ou nao as reservas de reavaliacao exis- tentes. No caso de coligadas, se a investidora baixar suas reavaliagdes e a(s) coligada(s) nao, a investidora tera que, para equivaléncia patrimonial, tratar os balangos dessa(s) coligada(s) como se houvessem efetuado tal baixa 17 Modificag6es nos Capitulos 23 - Demonstragao do Resultado do Exercicio, 26 - Despesas Operacionais - e 27 - Demais Contas de Resultado e Lucro por Acao 17.1 Operacional/Néo Operacional A Medida Proviséria n’ 449/08 trouxe, no que diz respeito & Demonstragao do Resultado, a eliminac&o da figura do resultado nao operacional. Veja-se 0 inciso IV do artigo 188. Essa divisio entre resultados operacionais e nao operacionais nao existe nas normas internacionais e tende, de fato, a desaparecer no mundo. A tendéncia atual & a segregacio entre resultados de atividades que continuam e das ativi- dades descontinuadas. Mas essa matéria nao foi tratada na Lei e devera ser con- siderada ainda em 2009 quando da emissio de norma especifica pelo CPC, mas para validade apenas a partir de 2010. Assim, por enquanto fica a eliminagao, nas demonstrages contabeis, da figura dos resultados nao operacionais. Todavia, segundo a MP essa classificagao continua a existir para fins tributé rios, em fungao de varias figuras fiscais como lucro de exploracio e outras. 17.2 Despesas com Pagamentos Baseados em Agées (stock options) Mudou o item do Resultado que diz. respeito as stock options: “Demonstragao do Resultado do Exercicio Art, 187. [..] VI ~as participagées de debéntures, de empregados, administradores ¢ partes beneficidrias, mesmo na forma de instrumentos financeiros, e de ins tituigdes ou fundos de assisténcia ou previdéncia de empregados, que nao se caracterizem como despesa;” Ao mencionar dentre as participacGes no resultado, aquelas “mesmo na for- ma de instrumentos financeiros”, nossa lei dé um salto enorme ao exigir a con- tabilizacdio dos pagamentos dessa natureza na forma de stock options, ou seja, 0 “Manval de Contabiidade das Sociedades por Agdes + Jndeibus, Martins Gelbeke direito de adquirir ages por seu valor de mercado de hé um certo tempo atrés. item 27.5 do Manual jd apontava para o fato de que as normas do IASB e de outros paises exigem que a diferenga de valor entre o montante subscrito e o de mercado dessas ages seja considerado como despesa, e nao que se contabilize, pura e simplesmente, 0 aumento de capital pelo valor integralizado pelos bene- ficidrios desses planos. O ponto relevante a mencionar agora & que o texto legal obriga & contabi- lizacdo das stock options, por essa nova redacao do art. 187, VI, nos casos em que esses beneficios sejam genuinamente participagdes no resultado. Ou seja, quando eles estejam definidos em funcio, direta e proporcional, ao lucro da empresa. Ocorre que a grande maioria desses planos de beneficios em acdes esti centrada em parametros outros, como valorizacio das aces; assim, nesses casos, esses beneficios so despesas operacionais, sdio complementos salariais, e no participagdes no resultado. S6 que a normatizacdo exigiu o registro como despesas dos efeitos de tais beneficios nao s6 quando eles se referirem a figura de participacao no resultado, mas também quando se referirem a despesas operacionais. Foi emitido 0 Pronunciamento Técnico CPC 10 ~ Pagamento Baseado em Ages, aprovado pela Deliberago CVM n’ 562/08 e pela Resolucao CFC n" 1.149/09. Por esse documento,os pagamentos baseados em agdes, tanto na aquisicZo de bens quanto na de servicos, deve tomar como base o valor justo dos ativos ou servicos adquiridos. Assim, se uma empresa oferece entregar aces novas para pagamento na compra de um imével, contabiliza o custo desse imé- vel pelo valor justo dessas aces, e também o respectivo aumento de capital. Mas isso é praticamente impossivel quando essas emissdes sdio na forma de op- des outorgadas a administradores e empregados por conta de servicos a serem recebidos deles. Por exemplo, uma empresa oferece a um grupo de dez administradores ¢ empregados a oportunidade de subscreverem, passados quatro anos, 1.000 agdes cada um da empresa por quanto elas valem no mercado na data dessa outorga, caso essas acées dupliquem de valor nesses quatro anos. Ou seja, é uma espécie de pagamento de honorério ou gratificagdo pelo seu desempenho se obtiverem éxito conforme oferecido. Suponha-se que, na outorga dessas opgées, a agdo da empresa valha RS 30,00 no mercado. Assim, se depois de quatro anos elas valerem R$ 60,00 ou mais, esses administradores e empregados podersio subscrever 1.000 acdes no- vas cada um e pagarem apenas os RS 30,00 por aco. A pratica seguida no Brasil era simplesmente a de nao registrar absolutamente nada durante esses quatro anos e, se houvesse a efetiva subscricio, contabilizar a emisstio das aces pelos R$ 30,00 recebidos, mesmo que valessem R$ 60,00, RS 70,00 ou mais. Os de mais acionistas (ou seja, os acionistas anteriores a subscrigao a esses administra- dores) sabem que ha uma despesa, ha um custo, porque diluem sua participacao no capital social pela entrada desses novos acionistas, e com eles pagando a empresa menos do que valem essas aces. Mas a empresa nada registrava. Agora a obrigacao é a de registrar a despesa. Para isso poderiam ser toma- dos dois caminhos: a empresa registrar, quando da efetiva subscrigao e integra- lizagao por R$ 30,00 por acao, quando elas estiverem valendo, por exemplo, R$ 70,00 por agao, da seguinte forma: aumento de capital pelos R$ 70,00 por acdo que é seu valor de mercado, com débito ao caixa dos RS 30,00 e débito Suplemento 2009 da as despesas pelo diferencial de R$ 40,00. Estaria isso representando 0 custo de oportunidade da empresa nesse momento. Na verdade, esses R$ 40,00 por aco, multiplicados pelo total das agdes a serem provavelmente subscritas, j4 deveriam ter sido registrados ao longo dos quatro anos, & medida que as aces tivessem seu valor no mercado variado, para distribuigo da despesa e nao sua concentragiio s6 no tiltimo period. Todavia, as regras internacionais trabalham com outra hipétese: a de con- siderar que 0 custo desse contrato nao é a diferenga entre 0 que a agao vale na data da sua integralizacao e o valor efetivamente pago, mas sim a diferenca en- tre 0 quanto a empresa receberia, na data inicial do contrato, se vendesse essa opcaio no mercado, ao invés de entrega-la aos administradores e empregados, €0 valor a ser recebido na integralizacao. Por exemplo, se na data da outorga se calculasse que o valor da opgao, se vendida no mercado, valesse R$ 48,00, adiferenca de R$ 18,00 por acio é que sera reconhecida como despesa para a empresa, distribuida, no caso, pelos quatro anos. Assim, 0 Pronunciamento Técnico saiu exatamente com as normas interna- cionais. Calcula-se 0 valor de mercado das opgdes na data da sua outorga e a diferenca com o valor garantido pela empresa para subscrigio e integralizagao vai sendo distribuida como despesa ao longo do tempo. Como 0 cileulo do valor de mercado dessas opgdes nao é tarefa sempre facil, modelos econométricos sao utilizados para isso. A Lei ou a Medida Proviséria em discussa0 nao mencionaram qualquer mo- dificagdo na figura das receitas e despesas financeiras, mas, por ter tratado do \6pico relativo ao Prémio na Emissao de Debéntures, provocou a emissao de um documento denominado Pronunciamento Técnico CPC 08 — Custos de Transa- (do e Prémio na Emissao de Titulos e Valores Mobilidrios, que traz reflexos as vezes significativos nessas receitas e despesas, dai a necessidade de seu trata. mento em item especial a parte. 17.3 Lucro por Agéo A.Lei nada mudou com relagao ao célculo do lucro por acao a ser divulgado pela companhia, mas é bom estar-se atento que esse assunto sera tratado em 2009 pelo CPC. E o calculo utilizado nas normas internacionais é bem diferente do que fazemos no Brasil. Aqui dividimos o resultado pelo nimero de agoes existente na data do balanco e pronto; ld so consideradas as quantidades mé- dias ponderadas de agdes que existiram durante o periodo, e ha ajustes especiais para 0 caso de agoes resgataveis, debéntures conversiveis em agdes, opgoes de agdes em aberto etc, ou seja, instrumentos que possam representar uma base aciondria mais ampla no futuro e que, portanto, diluiria o lucro por acao como se jé fossem agoes na data do balanco, 18 Modificagées nas Receitas e nas Despesas Financeiras Como dito pouco atras, a Lei n 11.638/07 ou a Medida Proviséria n” 449/08 no mencionaram qualquer modificacao na figura das receitas e despesas finan- nual de Contabilidade das Sociedades por AcGes Contabilidade das Sociedades por AGGes tdiibus, Martins ¢ Glbcke ceiras, mas, por ter tratado do t6pico relativo ao Prémio na Emissio de De- béntures, provocou a emissao de um documento denominado Pronunciamento ‘Técnico CPC 08 - Custos de Transagao e Prémio na Emissao de Titulos e Valores Mobilidrios, aprovado pela Deliberago CVM n° 556/08 e Resolucaio CFC n° 1.142/08, que traz reflexos as vezes significativos nessas receitas e despesas, d: seu tratamento em item especial 2 parte, inclusive repetindo trechos ja coloca: dos em outra parte deste Suplemento. Por esse novo documento, as receitas e despesas financeiras precisam ser, conforme ja comentado no item 12 deste Suplemento, registradas de outta for ma. A ideia principal é que os recursos captados de terceiros sejam apresentados no passivo da empresa pelos valores liquidos recebidos e disponiveis para serem utilizados. Assim, todas as despesas necessirias para essa captagdo nao mais serio reconhecidas nos resultados ¢ sim como conta retificadora do respectivo passivo. Se houver prémios recebidos, o tratamento seré 0 mesmo, ou seja, seu registro ndo mais sera em conta de patriménio liquido e sim como uma espécie de “receitas a apropriar”. O valor total de todas essas despesas (juros, varia- Ges monetdrias e cambiais, quaisquer outros custos incrementais), liquido dos prémios recebidos, devera ser apropriado aos resultados da empresa de acordo com os prazos das dividas contraidas. Ressalte-se, essa apropriagio ao resultado nao poderd ser efetuada utilizando-se o método linear e sim 0 método dos ju- 10s compostos ou da taxa interna de retorno (método também denominado de “custo amortizado”) E 0 mesmo com relacao aos ativos emprestados a terceiros, ou seja, 0 ativo deve ficar pelo valor liquido efetivamente desembolsado para essa operacdo de empréstimo a terceiros. Assim, da mesma forma, as receitas financeiras deverao ser apropriadas pelo método exponencial (ou “custo amortizado”) com base na diferenga entre 0 valor liquido de fato desembolsado e o valor total a ser recebido. Nao podem ser apropriadas receitas por conta de taxas de abertura de crédito e semelhantes que nao se refiram a efetivos reembolsos de despesas genuinamente provocadoras de saida de caixa e surgimento de despesas. Se houver esses valores cobrados de inicio (as vezes ainda se vé a esptiria figura dos “juros cobrados na contratag4o”, nao poderao gerar receitas e 0 valor do ativo precisa corresponder ao montante efetivo desembolsado. Ja foi dito que ha outra grande mudanea derivada desse Pronunciamento: a alocacdo dos gastos de captagio de recursos que ndo despesas com juros & semelhantes. Trata-se de despesas com elaboragao de projetos, com intermedici rios financeiros, com consultores financeiros, auditores, advogados, escritérios especializados, gratfica, viagens etc. que vinham sendo descarregadas como des- pesa assim que incorridas. Com isso, uma empresa que obtivesse dinheiro num banco com taxas altas de juros, mas gastando pouco para conseguir 0 emprés- timo, tinha poucas despesas iniciais tratadas como despesas no ato da contrata- Gao e registrava despesas financeiras grandes ao longo desse contrato, Jé outra empresa, efetuando, por exemplo, a captacdo com emissao de debéntures, com certeza tinha grandes despesas com essa captagdo mas, em compensagiio, taxa de juros bem menor ao longo do contrato, Assim, essa outra entidade contabilizava grandes despesas com a captacao (pagamento a intermedisrios financeiros, auditores, advogados, consultores, viagens etc.) de forma imediata quando incorridas, mas com menores despesas 2009 do Manual de Cantabile das Sociedade por Agdes financeiras ao longo do contrato. Com a adocao desse Pronunciamento Técnico, tornado obrigatério pela CVM e pelo CEC, tanto uma como outra empresa nao registrardo despesas no ato da contratacao, juntando esses gastos para serem tratados como despesas financeiras ao longo do tempo. Assim, ambas tendersio a apresentar encargos financeiros nao tao dispares quanto vinham apresentan- do. (Nao é assunto deste tépico, mas s6 para lembrar: os gastos com captaciio de recursos préprios ~ aces, normalmente, nao sao também considerados mais como despesas, e sim como redugio do capital obtido.) 0 proprio CPC 07 fornece diversos exemplos de como se apropriam essas despesas ao longo do tempo. Basicamente, é um exercicio de matematica finan- ceira, em que se calcula, a partir de um fluxo de caixa previsto, qual a taxa in. terna de retorno, ou seja, qual a taxa efetiva de juros da contratagdo em andlise. E, a partir dessa taxa, apropriam-se as despesas financeiras ao resultado. Sugerimos fortemente que o leitor verifique esses exemplos. Em muitos casos 0 valor dos encargos financeiros de cada perfodo pode mudar, e muito. O Pronunciamento Técnico do CPC também destaca que os encargos finan- ceiros identificaveis com ativos de longo prazo, que estejam em fase de constru- io, devem integrar 0 custo dos respectivos ativos, conforme pratica que o Brasil jd vem seguindo ha bastante tempo. Para os passivos classificados e avaliados pelo valor justo, com contrapartida reconhecida diretamente no resultado, os encargos seraio amortizados na primeira avaliacao ao valor justo e nao ao longo do prazo da operacao. Finalmente, todos e quaisquer encargos incorridos em operagéo de capta- a0 nao concretizada deverao ser reconhecidos como perda diretamente no re- sultado do periodo. Do ponto de vista fiscal, cabe dizer que os valores dos prémios na emissaio de debentures continuam como nao tributaveis, desde que se sigam os seguintes, procedimentos exigidos pela MP 449/08: os valores que forem sendo apropria dos desses prémios ao resultado deverao, na destinagao do lucro, ser transfe- ridos para conta especifica do patriménio liquido e nao serem distribuidos na forma de dividendos. Ao se registrar essa transferéncia contabil faz-se, no Lalur a exclusio desse montante de forma a manter a nao tributacao desses prémios. Procedimento, alids, semelhante ao das subvengGes para investimento. Nao ha regra para retroagio das novas formas de apuragao de 1 despesas financeiras para os exercicios anteriores a 2008. 19 Modificacdes nos Capitulos 28 — Demonstragio dos Lucros ou Prejuizos Acumulados - e 29 - Demonstracao das Mutacées Primeiramente, reveja-se o que consta no item 14.3, relativamente & modifi- cacao da figura da conta de Lucros Acumulados no balango patrimonial. Na verdade, o que esta vedada nao ¢ a existéncia da conta, tanto que sua demonstracao continua totalmente vigente, mas apenas a figura de saldo posi Aedes diibus, Martins © Gelbeke tivo no balango de fim de exercicio social. Assim, sua existéncia precisa, é claro, continuar sendo prevista no Plano de Contas. A Demonstracao de Lucros ou Prejuizos Acumulados continua a existir, po. dendo nao ser efetuada se contida de forma transparente dentro da Demonstra- do das Mutacées do Patriménio Liquido. O que desaparece é a possibilidade de existir saldo final positivo nessa conta ao final de cada exerefcio social, Ao longo do exercicio, todavia, nao s6 poder como devera esse saldo existir (positivo ou negativo), inclusive nos balancos intermedisirios, ja que a destina- do de 100% de seu saldo positivo so ocorre na contabilizagio da proposta de destinagdo do resultado ao final do exercicio social. Quando se fala em balancos intermedirios, ndo s6 esto abrangides os balangos ao final de cada trimestre ou més, mas também os balangos levanta dos para fins especiais, inclusive os exigidos legalmente, desde que nao exista a situacao de obrigacao legal de destinacao do resultado. Existindo a obrigacao legal, o saldo positivo nessa conta nao pode existir. Mas & bom também lembrar que essa obrigatoriedade nao é um assunto genuinamente de natureza contabil, ¢ sim de direito societzirio; a Lei obrigou ao cumprimento de uma filosofia dentro desse direito, que é o de se ter 100% do lucro de cada periodo destinado ao final de cada exercicio social. A sociedade por agées foi criada para produzir e distribuir lucros; a retengdo é que é a exce- ¢A0; por conta dessa filosofia é que foi criada, ha séculos jé, a figura da Reserva Legal, exatamente para reter uma parcela dos lucros para protecdo principal- mente dos credores. Dentro dessa doutrina, a retencao é que precisa ter todas as justificativas, e dai a necessidade de se levar 4 assembleia dos acionistas a proposta devidamente justificada de cada centavo a ser retido, o que faz com que cada um deles possa entao ser devidamente destinado e apartado em sua reserva propria. Por tudo isso se conclui que, j4 que é uma caracteristica da sociedade por acdes, ¢ de natureza doutrindria do ponto de vista juridico, e nao contabil, essa obrigagao de nao haver saldo positivo nessa conta nio se estende as sociedades que nao sejam por agées. E importante lembrar que na Mutacao do Patriménio Liquido de 2008 sur- gird, como primeiro elemento, 0 saldo liquido dos ajustes de ative e passivo determinados pelas novas Leis e normas. Atencio: No caso de a empresa optar por reelaborar suas demonstracées de 2007, para tornd-las totalmente comparaveis as de 2008, deverdo ser utiliza- dos os procedimentos contidos no Capitulo 29 de Manual. Devers ser adotados os procedimentos aplicaveis &s consequéncias dos ajustes de exercicios anterio- res derivados das modificagdes nas priticas contabeis. 20 Modificagées nos Capitulos 30 - Demonstragio das Origens e Aplicagées de Recursos - e 31 - Demonstragio dos Fluxos de Caixa 'squeca-se a DOAR como demonstracao obrigatoria. F, ja a partir de 2008, 6 obrigatéria, no seu lugar, a apresentacao da Demonstracao dos Fluxos de aaun oo di de Caixa. Ao se publicar as demonstragbes de 2008 nao sera necessiirio inclusive reapresentar a DOAR de 2007 que fora publicada a época, Jé a Demonstragio dos Fluxos de Caixa é obrigatéria, ao final de 2008, apenas a relativa a esse exercicio social, nao sendo necessdria a apresentagio da do ano anterior de forma comparativa, a no ser que a empresa ja a viesse apresentando volun: tariamente, Neste tiltimo caso, como os critérios contabeis de 2008 sao diferentes dos de 2007 ¢ nao hi obrigatoriedade de reelaboracao das de 2007, a Demonstragao dos Fluxos de Caixa (DFC) de 2007 a ser apresentada junto com a de 2008 por quem ja a divulgava sera a que foi publicada 4 época, sem considerar os efeitos das modificagdes ocorridas em 2008. Todavia, caso a empresa opte por reelabo raras demonstragdes de 2007 para torné-las totalmente compariveis as de 2008, aia DEC precisara também ser adaptada 4s mudancas ocorridas em 2008. 0 CPC aprovou o Pronunciamento Técnico CPC 03 sobre a matéria, aprova- do pela Deliberacdo CVM n° 547/08 e pela Resolucio CFC n” 1125/08. Veja-se que 0 contetido do Manual jé estava totalmente em linha com o que agora 6 determinado legalmente: “Demonstragées dos Fluxos de Caixa e do Valor Adicionado Art. 188. As demonstragdes referidas nos incisos IV e V do caput do art 176 desta Lei indicardo, no minimo: I~ demonstragao dos fluxos de caixa ~ as alteragdes ocorridas, durante 0 exereicio, no saldo de caixa ¢ equivalentes de cain alteragdes em, no minimo, 3 (trés) fluxos: , segregando-se essas 4a) das operagoes; b) dos financiamentos; e ©) dos investimentos; E, quanto & comparagiio, veja-se 0 texto da Lei n” 11.638/07: “Art. 7£As demonstragdes referidas nos incisos IV e V do caput do art. 176 da Lei n" 6.404, de 15 de dezembro de 1976, poderdo ser divulgadas no primeiro ano de vigéncia desta Lei, sem a indicagio dos valores corres- pondentes ao exereicio anterior Com relagao & normatizagao citada sobre a DFC, ha que se comentar de diferencas com relacdo ao Capitulo 31 do Manual ou com relagao as normas do IASB: * 0 IASB nao exige, mas 0 Pronunciamento Técnico do CPC obriga a conciliacao entre o lucro liquido ¢ 0 Fluxo de Caixa das Atividades Operacionais caso seja utilizado © Método Direto, 0 que evidencia a influéncia do critério do FASB nessa norma brasileira; + 0 IASB nao menciona, mas 0 Pronunciamento Técnico do CPC proibe a divulgagao do valor de fluxo de caixa das atividades operacionais por aco; * 0 Pronunciamento Técnico nao exige, mas encoraja fortemente que as entidades classifiquem os juros, recebidos ou pagos, ¢ os dividen: dos € juros sobre o capital proprio recebidos como fluxos de caixa das atividades operacionais; ¢ 0 mesmo com os dividendos e juros sobre capital proprio pagos, encorajados a figurar como fluxos de caixa das atividades de financiamento. Alternativa diferente deve ser seguida de nota evidenciando esse fato. A versao original do IASB admite essas alternativas mas no da preferéncia, j4 a norma brasileira claramente definiu o que considera melhor. E importante atentar para o fato de que é utilizado 0 conceito de Equivalen- te de Caixa. Este deve representar, de fato, “quase-caixa”. As normas falam que sdo equivalentes de caixa as aplicagdes financeiras de curto prazo, de alta liqui- dez, prontamente conversiveis em dinheiro por montante conhecido e que nao sejam submetidas a risco de mudanga nesse valor, a no ser que insignificante. Quando se fala em aplicagdes de curto prazo, isso significa que sao aplicacoes feitas em titulos a, normalmente, 3 meses ou menos antes de seu vencimento. Nao se qualificam aplicages a médio e longo prazo quando chegam perto de seu vencimento. 21 A Introdugio da Demonstragao do Valor Adicionado O item 34.9 do Manual ja mencionava a Demonstragao do Valor Adicionado (DVA), nao exigida anteriormente mas jé praticada principalmente pelas com- panhias abertas. Alei introduziu, infelizmente apenas para as companhias abertas, a obriga- cao da elaboragao e divulgagao dessa Demonstracao: “Art. 176.[...] V—se companhia aberta, demonstragdo do valor adicionado.” O CPC emitiu o Pronunciamento Técnico CPC 09 — Demonstracao do Valor Adicionado, que foi aprovado pela Deliberacdo CVM n° 557/08 e pela Resolugao CFC n'" 138/08. Esse Pronunciamento ficou muito préximo do que ja era defi nido pelo CFC, tudo baseado fortemente no que fora anteriormente sugerido pela FIPECAFI ha alguns anos. (Sugere-se, para maior aprofundamento sobre © significado e a forma de elaboracéo da DVA, a obra Demonstragdo do Valor Adicionado ~ Como elaborar ¢ analisar a DVA, do Prof. Ariovaldo dos Santos, € Demonstragio do Valor Adicionado: do edleulo da riqueza criada pela empresa ao valor do PIB, da Profa, Marcia Martins Mendes de Luca.) O objetivo dessa demonstragio é mostrar a riqueza gerada pela entidade (parte do PIB ~ Produto Interno Bruto gerado pelo pais, ou uma muito boa apro ximagao desse valor) e como ela é distribuida entre os fornecedores de capital (proprio e terceiros), fornecedores de trabalho (administradores e empregados) € 0 governo; também sao evidenciadas outras distribuigées tais como juros, alu- guéis, royalties etc. A DVA trabalha com conceitos contabeis, apoiando-se, por exemplo, nas Receitas de Vendas de Bens e Servigos, e ndo na producao, como Suplemento 2009 de Mana de Contabilidade das Sociedades por Agies € 0 conceito do PIB pelos economistas, mas a aproximacio & muito boa entre os dois conceitos. Uma diferenga basica é que a DVA trabalha e evidencia dois conceitos: 0 valor bruto da riqueza gerada e o valor liquido, depois de deduzida a depreciacdo, a amortizacao e a exaustdo que so consumos de riquezas produ- zidas e estocadas anteriormente; ou seja, a DVA mostra o PIB e o PIL (Produto Interno Liquido), enquanto as contas nacionais normalmente mostram apenas 0 PIB. Nesse ponto a DVA é muito mais rica, pois mostra o quanto de uma riqueza criada anteriormente se desgasta com a produgao de outra. Valor adicionado é a diferenga entre o valor dos bens, servigos e utilidades vendidos por uma entidade e o respectivo valor dos insumos adquiridos de ter ceiros, Assim, de suas receitas sao deduzidos os tributos de todas as naturezas (inclusive previdencidrios), os materiais, as matérias-primas, os servicos, as uti- lidades (energia, agua etc.) adquiridos de terceiros, que foram produzidos por esses terceiros e sao mostrados como sua produgao em stias proprias demons- tragdes. Mas, além desse valor adicionado gerado, criado, novo, produzido pela entidade, sao considerados na DVA os valores adicionados gerados por outras entidades que sao transferidos a ela, como a equivaléncia patrimonial, os juros ativos, receitas de aluguéis, de direitos autorais, direitos de franquia ete. 0 fundamental na DVA determinado pelo Pronunciamento Técnico CPC 09 est contido no Manual, cabendo apenas destacar ou relembrar alguns pontos, vistos a segui Atencio toda especial precisa ser dada a figura dos tributos nao cumulativos, como IPI, ICMS, PIS e COFINS, quando com essa caracteristica. Na Demonstra- gio do Resultado a pratica brasileira tem sido a de considerar 0 custo dos bens e servigos adquiridos que contém tais tributos pelos seus valores liquidos, ou seja, esses tributos nao integram o valor desses bens e servicos quando tratados como custo ou despesa na Demonstragao do Resultado. Por outro lado, os valo- res integrais desses tributos sobre as receitas sao considerados como redutores da Receita Bruta. Ocorre, com isso, que os valores desses tributos visualizados na Demonstracao do Resultado so 0 total incidente até aquele momento sobre as Receitas, e nao a parcela pela qual a entidade responde sozinha; por isso, na DVA 0 procedimento precisa ser outro: os bens e servicos precisam ser con siderados pelos seus valores brutos, totais, com a incluso desses tributos, e sé aparecem como tributos dessa natureza os diferenciais efetivamente recolhidos (ou a recolher, mas jé apropriados por competéncia ao periodo). Por exemplo, uma empresa comercial compra uma mercadoria por R$ 100,00 enesse preco esto incluidos R$ 25,00 de ICMS, PIS e COFINS recuperdveis. Ven- dea mesma mercadoria por R$ 160,00, e neste outro preco esto incluidos de RS 40,00 desses mesmos tributos. Na Demonstracao do Resultado ainda eviden- ciamos o seguinte: Receita Bruta de Vendas R$ 160,00 (© Tributos $/ Receitas (R$ 40,00) Receita Liquida R$ 120,00 (© Custo Mere. Vendida (RS 75,00) Lucro Bruto RS 45,00 Manual de Contabiidade das Suciedades por Agdes tudieibus, Martins e Gelbeke Sabemos que 0s tributos efetivamente recolhidos ou a serem recolhidos por essa entidade sio a diferenca entre o montante incidente sobre a receita (R$ 40,00) € 0 incidente sobre o custo da mercadoria (RS 25,00), ou seja, RS 15,00, e esse niimero nao aparece na Demonstragao do Resultado de forma explicita, jé que os RS 25,00 na entrada da mercadoria estao descontados na linha do Custo da Mercadoria Vendida. Na DVA, o que queremos saber é qual 0 valor adicionado nessa transacao pela entidade e, do valor transacionado, quanto vai para remunerar capital, tra balho e quanto vai para o governo. Ora, para 0 governo nessa fase vao R$ 15,00, € nao RS 40,00; este é 0 valor acumulado total até agora. Assim, para fins de DVA 0 que se faz. é uma montagem diferente: Receita Bruta de Vendas RS 160,00 (© Custo Total incorrido na Compra da Mercadoria Vendida (RS 100,00) Valor Adicionado pela Entidade RS 60,00 Distribuigdo, por enquanto, do Valor Adicionado: Governo ~ ICMS, PIS e COFINS R$ 15,00 Lucro Bruto R$ 45,00 Note-se entdo que os tributos recuperdveis incidentes nos bens e servicos considerados como despesas na Demonstragao do Resultado precisam ser ajus- tados para conterem os tributos dessa natureza incluidos na aquisigio desses bens e servicos. Portanto, dificilmente ser possivel construir a DVA tendo em maos apenas a DRE. Controles auxiliares dos tributos recuperaveis precisardo ser implementados, se ja nao existirem, para elaborar a DVA adequadamente. Um ponto precisa ter sua atenc&o chamada; quando uma empresa constréi ativos para uso préprio, como quando constréi uma edificacao, ela esté produ- zindo uma riqueza nova e gerando PIB, pela diferenca entre o valor de mercado do ativo construido e os bens e servicos adquiridos de terceiros. $6 que, na Contabilidade, esse valor de mercado do bem construido nao normalmente reconhecido, sendo o ativo registrado apenas pelo total do custo incorrido, que inclui todos os bens e servigos adquiridos de terceiros mas também pode incluir r como custo gastos com pessoal proprio e outros. r Para se corrigir essa situacao e mostrar-se o valor gerado, a DVA, conforme s aprovada pelo CPC 09, exige que essa construgao seja tratada como se fosse pro- s duzida pela entidade e vendida para ela mesma, “e por isso seu valor contabil r integral precisa ser considerado como receita. A mo de obra prépria alocada é e considerada como distribuigdo dessa riqueza criada, e eventuais juros ativados i ¢ tributos também recebem esse mesmo tratamento. Os gastos com servigos de terceiros e materiais sao apropriados como insumos. A medida que tais ativos entrem em operacao, a geracao de resultados des ses ativos recebe tratamento idéntico aos resultados gerados por qualquer outro ativo adquirido de terceiros; portanto, sua depreciagdo também deve receber igual tratamento. Para evitar 0 desmembramento das despesas de depreciacao, ta na elaboracio da DVA, entre os componentes que serviram de base para o res- ef Suplemento 2009 do Mangal de Contabilidade das Sociedades por AgBes pectivo registro do ativo construido internamente (materiais diversos, mao de obra, impostos, aluguéis e juros), os valores gastos nessa construcao devem, no periodo da construcao, ser tratados como Receitas relativas & construgdo de ativos préprios. Da mesma forma, os componentes de seu custo devem ser alocados na DVA seguindo-se suas respectivas naturezas. Referido procedimento de reconhecimento dos valores gastos no periodo como outras receitas, além de aproximar do conceito econdmico de valor adi- cionado, evita controles complexos adicionais, que podem ser custosos, durante toda a vida titil econdmica do ativo.” Outro ponto relevante lembrado pelo CPC 09: no caso de ativos reavaliados ou de ajustes de determinados instrumentos financeiros ou mesmo estoques a seus valores justos ainda nao transitados pelo resultado, suas baixas se dio pelos valores agora contabilizados, 0 que significa que agora se realizam como lucro aqueles valores, ¢ isso precisa ser ajustado na DVA. Atencao especial precisa ser dada a figura da distribuigao do resultado aos sécios, na forma de dividendos, lucros distribuidos ou juros sobre o capital pré- prio, j4 que podem estar sendo distribuidos, num periodo, valores que nao sao gerados nesse mesmo perfodo. Para fins da DVA, a competéncia precisa ser es- tendida a esses valores distribuidos. $6 podem ser colocados como parte da riqueza distribuida aos sécios num certo periodo as parcelas que se referem a riquezas geradas nesse mesmo periodo. No caso de substituicdo tributaria progressiva ocorre a antecipagao do paga- mento do tributo que s6 sera devido em operacdo seguinte. Do ponto de vista do substituto tributario (normalmente fabricante ou importador), deve-se incluir © valor do “imposto antecipado” no faturamento bruto e depois apresenti-lo como deducao desse faturamento para se chegar & receita bruta. JA no caso de substituigao tributaria regressiva, na DVA o valor dos impostos incidentes sobre as vendas deve ser considerado pelo valor total quando recolhido pelo préprio comerciante se ele fizer jus ao crédito desses impostos; caso contrario, deve ser tratado como custo dos estoques. Ha uma situacio toda especial na elaboragao da DVA, que é a das atividades de intermediagao financeira (bancaria). Nesse caso, ao invés de se considerar as receitas de juros como geracaio de riqueza e as despesas de juros como distribui- do a terceiros, considera-se o seu saldo liquido como riqueza gerada (mesmo sendo esse acréscimo patrimonial muito mais uma riqueza recebida em transfe- réncia do que uma riqueza gerada ~ mas essa pritica é comum inclusive pelos economistas no trato das contas nacionais). Assim, 0 modelo de DVA dessas instituigoes é diferente. © CPC 09 mostra trés modelos dessa demonstragio: 0 das sociedades co- merciais, industriais e de servicos “normais”, 0 das instituigées financeiras outro para as instituigdes securitdrias, A DVA ¢ obrigatéria a partir de 2008, assim nao é compulséria a apresen- tagio da relativa a 2007, a nao ser que a empresa jd viesse, voluntariamente, efetuando essa apresentacao. Manual de Contabilidade das Sociedades por Agbes ~ ludiibus, Martins ¢ Gelbcke 22 Modificacdes no Capitulo 32 ~ Notas Explicativas A Medida Provisoria n° 499/08 efetuou modificagées na Lei das Sociedades por Acdes, onde o artigo 176, no pardgrafo que trata das notas explicativas, passou a ter nova redacdo: “§ 5°As notas explicativas devem: (Redagdo dada pela Medida Provisé- ria n° 449, de 2008) I~ apresentar informagdes sobre a base de preparagdo das demonstra- ges financeiras e das praticas contabeis especificas selecionadas e aplicadas para negécios e eventos significativos; 11 divulgar as informagées exigidas pelas priticas contdbeis adotadas no Brasil que ndo estejam apresentadas em nenhuma outra parte das de- monstragées financeiras Il — fornecer informagées adicionais néo indicadas nas préprias de- monstragées financeiras e consideradas necessdrias para uma apresentagao adequada; € IV ~ indicar: ) os principais critérios de avaliagao dos elementos patrimoniais, espe- cialmente estoques, dos cdlculos de depreciagao, amortizagao e exaustdo, de constituigdo de provisoes para encargos ou riscos, e dos ajustes para atender a perdas provaveis na realizagdo de elementos do ativo; (Incluido pela Me- dida Provisdria n" 449, de 2008) b) os investimentos em outras sociedades, quando relevantes (art. 247, pardgrafo tinico); (Incluido pela Medida Proviséria n* 449, de 2008) ©) o aumento de valor de elementos do ativo resultante de novas avatia- gdes (art. 182, § 3°); (Incluido pela Medida Proviséria n* 449, de 2008) d) os nus reais constituidas sobre elementos do ativo, as garantias prestadas a terceiros ¢ outras responsabilidades eventuais ou contingentes; (Inclutdo pela Medida Provisdria n* 449, de 2008) ©) a taxa de juros, as datas de vencimento e as garantias das obrigagées 4 longo prazo; (incluido pela Medida Provisdria n* 449, de 2008) 0 ntimero, espécies e classes das agdes do capital social; (Incluido pela Medida Provisdria n* 449, de 2008) ‘g) as opcdes de compra de agdes outorgadas e exercidas no exercicio; Cincluido pela Medida Provisdria n 449, de 2008) h) os ajustes de exercicios anteriores (art. 186, § 1 Medica Provisdria n° 449, de 2008) i) 0s eventos subsequentes & data de encerramento do exercicio que te- nham, ou possam vir a ter, efeito relevante sobre a situagdo financeira e os resultados futuros da companhia.” € (Incluido pela Os trés primeiros incisos dao agora uma orientacao e um principio basico a serem seguidos, e nao apenas a lista minima de notas a serem fornecidas. Essa linha esta muito mais de acordo com as normas internacionais, onde o principio é tido sempre como preferencial, ao invés de listagens ou detalhes e regras es- pecificos. O item IV € repeticao do que ja existia a ni se fet riz pr Suplemento 2009 do Manual de Contabilidade 23 Modificacées no Capitulo 33 - Relagdes entre Partes Relacionadas 0 CPC emitiu o Pronunciamento Técnico CPC 05 - Divulgacao sobre Partes Relacionadas, aprovado pela Deliberacdo CVM n° 560/08 € Resolucao CFC n” 1.145/08. Esse assunto nao sofreu modificagdes na Lei Societaria, mas essa nor- matizacao segue as Normas Internacionais ¢ traz um diferente enfoque. Antes, as normas existentes sobre essas transagdes entre partes relaciona, das, principalmente a Deliberagéo CVM n° 26/86, tinham como foco uma defi nigéo mais formal do que sao partes relacionadas. J 0 novo Pronunciamento se centra mais na esséncia das relacdes entre as diversas partes. E essa é uma grande evolugio que exige especial atencao. Pelo Pronunciamento Técnico, partes relacionadas so aquelas em que: a) direta ou indiretamente por meio de um ou mais intermediarios: i) uma parte controla ou é controlada pela outra ou duas ou mais estdo sob controle de uma terceira; ou ii) ha um interesse que confere a uma das partes influéncia significa- tiva sobre a outra; ou iii) hé controle conjunto de varias partes sobre uma terceira; b) uma é coligada da outra; ©) _uma pessoa é membro do pessoal-chave da administragao da entidade ou de sta controladora; d) uma pessoa é proxima da familia ou de qualquer individuo referido nas alineas a ou c; €) uma entidade é controlada, controlada em conjunto ou significativa mente influenciada por qualquer individuo referido nas alineas ¢ ou d; f) 0 poder de voto significative na entidade reside, direta ou indireta- mente em qualquer individuo referido nas alineas c ou d; g) hé um plano de beneficios pés-emprego para beneficio dos emprega- dos da entidade, ou de qualquer entidade que seja uma parte relacio- nada dessa entidade, Notar que todas as “parte consideradas partes relacionadas. e “entidades” listadas nas letras “a” a “g" sao Ha uma transagao entre partes relacionadas quando ocorre qualquer trans- feréncia de recursos, servigos ou obrigacées entre elas, mesmo que nao haja um valor alocado a essa transacao. Todas as relagdes entre partes relacionadas precisam ser divulgadas, nor- malmente em notas explicativas, mesmo quando nao haja transacoes entre elas, para que terceiros saibam desses relacionamentos e da possibilidade de existi- rem transagdes entre eles. Todas as formas de remuneragéo devidas as partes relacionadas caracte- rizadas por pessoas que ocupam lugares-chaves na administragao da entidade precisam ser divulgadas. Quando ha transagées entre partes relacionadas, deve ser divulgada a natu. reza do relacionamento, a natureza da transagao, saldo eventualmente existente na data do balango derivado desse tipo de transacao, condigées de liquidacao financeira desse saldo, existéncia ou nao de garantias, eventual provisao consti tuida sobre saldos dessa natureza e perdas reconhecidas com créditos derivados desse tipo de transagao. Quando essas transagdes entre partes relacionadas se dio em condicdes equivalentes as praticadas com partes independentes, deve isso ser menciona- do; mas apenas se esses termos puderem ser efetivamente comprovados. E as condigdes em que se dao as transagdes entre partes relacionadas precisam ser divulgadas. A divulgagao da existéncia de partes relacionadas, de quais so essas par tes relacionadas € as transacSes € condicdes dessas transacdes so informacdes vitais para quaisquer terceiros a entidade, sejam credores, investidores, sindica: tos, governo, comunidade etc., como forma de determinagao inclusive de riscos presentes ou futuros. 24 Modificacdes no Capitulo 34 ~ Modelos de Demonstracées Contabeis e Notas Explicativas _ Como ja comentado, no Balanco nao existe mais Ativo Permanente, Ativo Diferido, Resultados de Exercicios Futuros, Reserva de Reavaliagao, Reserva de Subvengio para Investimentos, Reserva de Prémios na Emisstio de Debéntures. E foram adicionados 0 Ativo Nao-Circulante, o Ativo Intangivel, 0 Passive Nao: Circulante e a conta de Ajustes de Avaliagao Patrimonial. Saldos. Mas saldos ain- da poderao ser encontrados, relativos aos valores existentes até 31 de dezembro de 2008 (ou exercicio social iniciado em 2008), de Ativo Diferido, Reservas de Reavaliagaio, Reservas de Subvencio para Investimentos ¢ Reservas de Prémios na Emissaio de Debéntures. Desapareceu também 0 Exigivel a Longo Prazo, substituido pelo Passivo Nao-Circulante e foi criado 0 Ativo Intangivel dentro do Ativo Nao-Circulante. Assim, 0 novo Balanco Patrimonial fica: [ ATIVO PASSIVO + PATRIMONIO LiQUIDO Ativo Circulante Patrimonio Liquido ‘Ativo Nao-circulante Capital Social [ Realizdvel a Longo Prazo © Gastos com Emissao de Agoes “nvestimentos ~_|__ Reservas de Lucero Imobilizado | © Agbes em Tesouraria “ntangivel Ajustes de Avaliagio Patrimonial | ‘Ajustes Acumulados de Conversio © Prejuizos Acumulados Lembrem-se, algumas contas sao incluidas no Patrimdnio Liquido no senti- do de retificé-lo, é 0 caso de prejuizos acumulados ou agoes em tesouraria. Mas outras, que nao aparecem no quadro sintético apresentado anteriormente pode do surgir e algumas delas como consequéncia direta da convergéncia as normas internacionais de contabilidade. Sao exemplos os Gastos com Emissao de Acoes que retifica Capital Social e a prépria conta de ajustes de avaliagao patrimonial, quando seu saldo for negativo. Conforme jé mencionado, na Demonstracéio do Resultado nao aparecem mais as Receitas e as Despesas Nao-Operacionais. Os modelos de DVA sugeridos pelo CPC e aprovados pela CVM e pelo CFC podem ser vistos diretamente no Pronunciamento Técnico CPC 09 - Demonstra- do do Valor Adicionado. Modificacao deverd existir na Demonstracao da Mutacao do Patriménio Li- quido, mas apenas para a partir de 2010, quando deverd ser adotada a Demons tracdo dos Resultados Abrangentes, a ser aqui adotada por forca da convergén- cia as normas internz nais do IASB. 25 Modificagées no Capitulo 38 - Incorporacao, Cisdo e Fusao A Lei n* 11.638 havia trazido a seguinte novidade a esse respeito: “Transformagéo, Incorporagao, Fuso e Gisdo Art. 226. [...] § 3*Nas operagées referidas no caput deste artigo, realizadas entre par- tes independentes e vinculadas efetiva transferéncia de controle, os ativos € passivos da sociedade a ser incorporada ou decorrente de fusdo ou cisio seréio contabilizados pelo seu valor de mercado.” A novidade da lei dizia respeito ao seguinte: nossa legislaco sempre per- mitiu que essas operagies fossem registradas a partir dos valores contabeis dos balancos utilizados para a fusio ou incorporacao ou derivados de uma cisio, ou entao que fossem utilizados os valores de mercado para os ativos e passivos objeto dessas transformagées societarias. Todavia, o registro pelo valor de mer- cado sempre foi evitado em funcao das implicagées tributarias, j4 que o fisco alcanga todos os ganhos derivados dessa alteragdo de valor. Ja as regras internacionais determinam que todas as operagées de business combinations sejam registradas a valores de mercado, pressupondo sempre uma transferéncia de controle, mesmo nos casos de fusio. Desapareceu, tanto do IASB quanto das normas do FASB norte-americano, a possibilidade de manuten- do de valores contabeis para os balangos das empresas nessas transacdes que sejam as consideradas como adquiridas. Assim, no caso de fusio ou incorporacao, desde que tenha havido, pre- viamente a isso, uma transferéncia de controle, as demonstracdes da(s) empresa(s) adquirida(s) devem ter seus ativos e passivos ajustados ao valor justo de mercado previamente a tal incorporagio ou fusdo. Assim, os novos valores, ajustados entdo ao mercado, é que so fusionados ou incorporados a adquirente do controle. Manual de Contabilidade das Sociedades por Agtes Iudicibus, Martins © Gelbeke E realmente importante lembrar que o custo de aquisico de um ativo imo- bilizado, por exemplo, é um valor relevante para a empresa adquirida, porque demonstra o quanto precisa ser recuperado do valor investido. Mas, se a empre- sa é vendida, a partir dai, para 0 novo adquirente, o valor que interessa é 0 que ele pagou por tais ativos e passivos; esse é 0 novo valor de custo que deveria ser registrado, principalmente se quem adquire compra todas as acées ou quotas dessa empresa que possui aqueles ativos por ela adquiridos. Numa aquisigao de uma empresa por outra, 0 goodwill fica como o represen- tado pela diferenca entre o valor total pago na aquisicdo contra o saldo liquido dos valores de mercado dos ativos e passivos constantes da empresa adquirida (jamais se compara com os valores contabeis da empresa adquirida, pois estes sao relevantes apenas para ela, empresa adquirida, e ndo para a adquirente). Por isso a obrigacao que a Lei n” 11.638/07 criara de, nos processos de fu- so, incorporacao ou ciso que se dessem apés uma transacdo que transferisse 0 controle da empresa a ser fusionada, incorporada ou cindida, os valores a serem transferidos da adquirida a(s) adquirente(s) se dessem pelos seus valores justos (basicamente valores de mercado). ‘Todavia, a Medida Provis6ria n° 449/08 eliminou essa obrigacao criada pela Lei n® 11.638/07, e colocou, no lugar desse paragrafo, que a CVM ira normati- zara respeito: “§ 3° A Comissdo de Valores Mobilidrios estabelecerd normas especiais de avaliagéo e contabilizagdo aplicdveis ds operasdes de fusdo, incorporasio e cis que envolvam companhia aberta.” Com isso, aguarda-se, para 2009, a emissao, pelo CPC, do documento con- vergente ao do IASB que cuida de Business Combinations para normatizagao a respeito. Apenas ressaltamos algo que de vez em quando parece esquecido na nossa pratica contabil brasileira. A legislagdo e a normatizacao brasileiras, principal- mente em funcao desde 0 Decreto-lei mn" 1.598/77 e Instrugao CVM n° 01/78, hoje substituida pela Instrugdo CVM n° 247/96, jd definem que o agio pago na aquisi¢io de qualquer participacio societdria precisa ser separado em dois gran- des blocos: 0 relativo & diferenca entre o valor de mercado dos ativos e passivos da adquirida e seus respectivos valores contabeis, e o relativo a diferenca entre esses valores de mercado e o valor pago na aquisicao. E eles tém vida diferente na contabilidade: o primeiro é baixado proporcionalmente a baixa dos ativos e passivos a que se referem e o segundo com base nas projecées que fundamenta- ram tal fundo de comércio. Agora, no caso da consolidaggio de balancos, assim como na incorporagao, 0 gio do primeiro grupo, pela diferenca entre valor de mercado e valor contabil, precisa, obrigatoriamente, ser adicionado ao custo dos ativos e passivos adquiri- dos, de forma que eles fiquem pelos seus valores de mercado na data da transa- cao da participacao societaria em questo. Nem sempre, infelizmente, isso vem sendo obedecido, parecendo haver uma deliberada posicao em que se assume que os valores de mercado igualam 0 valor contabil, e todo o Agio fica, erronea- mente, como fundo de comércio (goodwill), ou com a denominagao de agio por expectativa de rentabilidade futura. A legislacao fiscal determina que, nas fusoes € incorporagdes, esse dgio, quando existente, pela diferenca entre valor de mer- cado e valor contabil, seja adicionado aos ativos originadores de tais diferencas.

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