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Robson Augusto da Silva

MILITARES PELA CIDADANIA.


Movimentos associativistas das praças das forças armadas.
De 1910 a 2009, um século de ativismo em busca de
humanização nas relações de trabalho.

Belém – 2009.

2
Prefácio e Agradecimentos

Este trabalho é uma versão pouquíssimo alterada do que foi


apresentado em dezembro de 2008 ao Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas da Universidade Federal do Pará.
Foi concebido inicialmente como requisito final para
conclusão do curso de Bacharelado e licenciatura
em Ciências Sociais, ênfase em Sociologia.
Agradecimentos:
Lúcia, companheira e amor da minha vida; aos meus filhos
Junior, Jefferson e Raquel, e aos meus pais, Josias e Neide.
Aos amigos Júlio Machado e Eduardo Silvério pelas incontáveis
e valiosas opiniões ao longo das pesquisas, Profª Kátia Mendonça
pelo encorajamento e sugestões sempre de surpreendente praticidade
e principalmente à Deus – Onisciente, onipresente,
misericordioso, Alfa e Omega de tudo.

“Na ciência, como na vida, só se acha o que se procura.”


E.E. Evans – Pritchard

“O verdadeiro desafio não é inserir uma idéia nova


na mente militar, mas sim expelir a idéia antiga”
Lidell Hart

3
SUMÁRIO

I – INTRODUÇÃO 5

II - CONSTRUÇÃO DO MILITAR BRASILEIRO.


(A internalização do espírito militar) 9

III - O CONFLITO DE CLASSES,


PRAÇAS VERSUS OFICIALIDADE 21

IV - ASSOCIATIVISMO ENTRE MILITARES 27

V – RESSURGIMENTO DAS ASSOCIAÇÕES DE


PRAÇAS. (A influência da intelectualização das praças) 42

VI - Considerações finais 54

VI – Referências Bibliográficas 61

VII – APENDICE I - (Casos interessantes) 65

VIII – APENDICE II – (Transcrições de cartas e


e-mails encontrados em fóruns e sites da internet) 68

IX – APENDICE III – A Aplicação do Princípio


Constitucional da Presunção de Inocência. 86

4
1 – INTRODUÇÃO

Medalhas, uniformes, desfiles, continências, toques


de apito, bandeiras e dobrados marciais tem significados
bem distintos para militares e civis. Enquanto um broche
reluzente em forma de timão, na farda de um oficial da
Marinha, visto por olhos paisanos não passa de mera bijuteria, para
um militar tem a função de mostrar que quem o ostenta teve a honra
de comandar uma nave de guerra. A ausência desse símbolo – o que
dificilmente seria percebido por um civil - além de significar que tal
oficial não comandou um navio de guerra, implicitamente pode dizer
que o mesmo não tem capacidade moral ou técnica para ter exercido
tal comando, que não é digno de confiança etc.
Para que compreendam o conjunto enorme de signos e
significados, que só existem no ambiente militar, os militares
precisam passar longos períodos de treinamento em locais isolados
do mundo exterior, as academias militares, onde são praticamente
reconstruídos. Ali se descarta os costumes e atributos morais trazi-
dos da vida civil, ao mesmo tempo em que introjeta-se o grande
conjunto de hábitos, regras e maneiras de interpretar o mundo
chamado Espírito Militar (CASTRO, 1990), fundado na extrema
hierarquia e disciplina. O ceticismo característico do ser humano
“normal”, principalmente do jovem, é desestimulado - até proibido.
Ele logo aprende que ordens são para ser cumpridas, mesmo que lhe
pareçam absurdas, ou que demandem o risco de sua própria vida.

Direito, medicina, ministério religioso e a profissão militar são


considerados como as quatro profissões clássicas, pois foram as
primeiras a reunir o conjunto de características que até hoje
caracterizam uma profissão reconhecida1. Em se tratando da
profissão militar, sua história se confunde com a criação do estado
moderno, do qual é, ao mesmo tempo, ferramenta e produto. A
maioria dos trabalhos envolvendo o estudo desse agrupamento social
se detém em entender sua relação política frente à sociedade civil e

1
Segundo Eliot Freidson (APUD VIEGAS, 2003) as profissões clássicas são aquelas
que reúnem um conjunto de características, que são, entre outras: altruísmo,
trabalho especializado e autonomia dentro de seu campo de trabalho.
5
ao próprio estado. Nessa linha de pesquisa surgem trabalhos acerca
de movimentos político-militares, como o Tenentismo, revolta da
Armada e Golpe de 1964, deixando lacunas a serem preenchidas por
trabalhos que estudem os inter-relacionamentos entre os próprios
membros da caserna.
A respeito dessa escassez bibliográfica sobre o assunto, o
sociólogo americano Charles Moskos2 diz o seguinte:

“O estudo das Forças Armadas e sociedade é uma espécie de anomalia


na disciplina sociológica. (...) a sociologia dos militares é raramente
incluída tanto nos currículos de graduação ou de pós-graduação”
(MOSKOS, 1976).

No Brasil podemos citar como obstáculos a esse tipo de trabalho,


além do sistema “fechado” em que subsiste a sociedade militar, a
questão da desconfiança recíproca entre membros da academia,
principalmente cientistas sociais, e os militares. Especialmente por
conta do último período ditatorial, ainda bem presente na memória
do brasileiro.
Se por um lado os militares são cidadãos normais; consumidores,
eleitores e pais de família, por outro têm sido uma espécie de semi-
cidadãos, desprovidos de varias prerrogativas alcançadas pelo
restante dos brasileiros, como ter jornada de trabalho especificada
em lei, direito à sindicalização, filiação partidária, direito ao
principio da presunção de inocência3 e Habeas corpus em sua
plenitude. Em contrapartida, nas entrevistas realizadas constatou-se
que os militares têm pouco ou nenhum interesse nos processos
democráticos que se desenrolam no país. Considerando o tamanho
da sociedade abarcada, sua participação em número de
representantes no congresso, escala federal que lhe diz mais respeito,
pode ser considerada insignificante. Na ótica da maioria dos
militares a avaliação de um governante em relação à sua atuação
política se restringe à política salarial para a categoria.

2
Id.
3
Apêndice III.
6
Desde os fins do século XIX um grande conflito ocorre por trás
dos muros dos quartéis brasileiros, só aflorando em raríssimos
momentos. Revolta da chibata, Movimento dos sargentos de Brasília
e Movimento dos marinheiros de 1964 são exemplos de momentos
em que a situação fugiu ao controle dos quartéis, atravessou os
grandes portões vigiados por soldados armados e se mostrou a
sociedade brasileira. Contudo, a despeito do esforço de alguns
militares do passado, a injustiça e intolerância não foram totalmente
suprimidas dos nossos quartéis. Avanços e retrocessos têm ocorrido
e nas últimas décadas surge um elemento interessante, que tem sido
muitíssimo importante nesse processo, as associações de militares,
que retornam após as crises de 1960 a 1964, agora amparadas pela
Carta Magna de 1988 e pela intelectualização das praças4, que,
melhor preparados, tem se esmerado em buscar as melhores formas
possíveis de ampliar também à sociedade militar a cidadania plena
prevista na Carta Magna.
Uma reportagem de setembro de 2008 da revista Carta capital
transcreve uma entrevista com um dos fundadores da associação de
praças do exército brasileiro (APEB), e traz novamente à tona
rupturas antigas dentro do organismo militar, aparentemente tão
coeso: praças em conflito com oficialidade por conta de fatores
como a busca incessante dos subalternos por melhores condições de
trabalho, oficialidade lutando por manter um status quo que não
mais corresponde ao de períodos passados etc.
Essas questões, e outras que surgirão ao longo desse breve
trabalho devem ser observadas com atenção, buscando verificar se
são fatos isolados ou se realmente correspondem a fatos gerais,
como alegam as associações de praças. A superação de possíveis
controvérsias existentes deve ser buscada, sob pena de não
possuirmos instituições armadas tão coesas quanto necessitaríamos
para que, se agredidos, possamos responder eficazmente.

Carta Capital: O objetivo dos senhores é tomar o poder dos oficiais?


Edmundo Veloso: Claro que não. Nosso objetivo é o de acabar com a

4
A categoria “praças” engloba os militares que ocupam as graduações de Soldado
a Subtenente; e a “oficialidade” abrange os militares que ocupam postos de
Segundo Tenente a oficial General.
7
arbitrariedade, com o abuso de poder, com os desmandos. Queremos
participar de algumas decisões e, com isso, democratizar as relações
hierárquicas. Carta Capital: O que o senhor chama de arbitrariedade
dentro dos quartéis?Edmundo Veloso: A maioria das punições
impostas às praças é resultado de pura arbitrariedade (...) (Maurício
Dias, Revista Carta Capital)

As organizações associativistas do sec. XIX e meados do sec.


XX, implementadas por soldados, cabos e sargentos, ficaram
marcadas pela repressão violenta. Castigos físicos, prisões,
deportações e mortes de lideranças foram algumas das “técnicas”,
tanto de repressão quanto de dissuasão, usadas para coibir futuras
organizações do mesmo tipo. Medidas que obtiveram êxito, pois
praticamente até a última década do sec.XX não se tem
conhecimento de significativa organização de militares subalternos
que despertasse preocupação nos altos comandos militares.
Organizações realmente substanciais só voltaram a existir a partir
da última década do sec.XX, após o fim do período repressivo e na
esteira da CF1988, que provia relativa “proteção”. Contudo, mais do
que nos atermos aos aspectos particulares sofridos pelos
protagonistas, pretendemos responder a algumas indagações de
caráter geral que dizem respeito ao militares:
- Sendo destituído de direitos fundamentais como sindicalização,
habeas corpus e manifestação do pensamento, como o militar se
percebe como cidadão brasileiro?
- As associações associativistas de praças do presente tem algo
em comum com as que existiram no século passado?
- Como se realiza atualmente a busca por direitos e humanização
das relações se trabalho pelos militares de baixo escalão?
- As organizações da atualidade tem obtido êxito em sua busca
por cidadania para os militares, principalmente os subalternos?

8
2 - CONSTRUÇÃO DO MILITAR BRASILEIRO.
(A internalização do espírito militar).

Diante de tantas controvérsias e preconceitos acerca da profissão


militar e suas peculiaridades faz-se necessário explicar os
mecanismos de construção desse profissional que serve aos núcleos
coercitivos do Estado contemporâneo, que são as forças armadas e
polícias militares.
Heróis do passado, gestos, bandeiras, uniformes, toques de
corneta, galões, divisas, toques de apito, condecorações e dobrados
marciais são símbolos que deixam bem claro aos soldados quais
atitudes tomar e qual é o lugar que cada um deve ocupar no sistema,
não só em formaturas para desfiles militares, mas também em outros
locais, como campos de futebol, salas de jogos e restaurantes.
Na maioria das vezes ignorados pela sociedade civil, os
elementos simbólicos compõem o conjunto de tradições forjadas
com o propósito de “atingir a alma e o coração dos jovens”
(CASTRO. 2002). Segundo o General José Pessoa, Ex comandante
da Academia Militar das Agulhas Negras, a intenção é construir:
“(...) uma ideologia, que é um misto de brasilidade e sentimento
militar, amalgamados pelo culto do passado, pelo espírito de
tradição”. Esta ideologia “tradicional” desenvolvida pelos/nos
militares funciona como base do sistema de dominação que
interioriza o espírito militar, e a inerente disposição, e até orgulho
em se colocar como fiel cumpridor, assim como (supostamente)
foram os heróis militares do passado, do que for determinado como
seu dever dentro desse organismo. Ao custo, freqüentemente, do
convívio familiar, de horas de lazer, de sua saúde, e, se necessário
for, da própria vida.
Segundo o Estatuto dos Militares os deveres militares
compreendem essencialmente a dedicação e a fidelidade à Pátria,
cuja honra, integridade e instituições devem ser defendidas mesmo
com o sacrifício da própria vida; o culto aos Símbolos Nacionais; a
probidade e a lealdade em todas as circunstâncias; a disciplina e o

9
respeito à hierarquia; e o rigoroso cumprimento das obrigações e das
ordens.5
O militar “é um técnico de profissão pública burocratizada,
especialista na administração da violência e responsável pela
segurança militar do Estado” (ALBERTINI. 2007). Valores e
atitudes somente são reconhecidos como consoantes com a ética
militar se forem derivados dessa especialidade. Notamos que os
valores mais importantes para os militares são: Tradicionalismo,
supremacia da sociedade sobre o indivíduo; preocupação com o
cumprimento de ordens, hierarquização e divisão das funções;
aceitar o Estado-nação como forma mais desenvolvida de
organização política, reconhecer a permanente iminência de guerra
entre países, entender a guerra como um instrumento político e
exaltar a obediência como a grande virtude militar.

Pierre Bourdieu (2000) forjou um conceito amplamente utilizado,


chamado hábitus. Que se trata do conjunto de pré-disposições,
modos de perceber, de sentir, de raciocinar e de executar as tarefas,
que nos leva a agir de determinadas formas, geralmente de acordo
com os objetivos da classe dominante. Ainda segundo Bourdieu, a
dominação sempre se exerce por meio da violência, embora esta nem
sempre seja física; pode ser uma coação espiritual, o que significa
que pode atuar diretamente sobre as consciências, tornando a norma
estabelecida ainda mais difícil de ser desafiada. O objetivo da (re)
socialização militar é introduzir no jovem aluno das academias
militares uma "nova” visão de mundo, que penetre no mais íntimo
do indivíduo, construindo pré-disposições ou inclinações para
responder de formas prescritas a determinados estímulos. Nesse
sentido entendemos então que o militar ideal é construído de forma
extremamente cuidadosa, o que faz com que e o modo militar de agir
e reagir exista em suas mentes como se nunca houvessem sido
paisanos. Gradativamente deixarão de perder tempo raciocinando
acerca das respostas aos estímulos, sejam eles ordens, apitos, toques
de cornetas etc. Estas devem vir da forma mais automática possível.

5
Estatuto dos militares, § 31.
10
A frase “fazer no automático” é constantemente repetida e
consiste num dos principais objetivos a serem alcançados nas
repetitivas e extenuantes series de treinamentos.
Para contextualizar o uso do conceito “habitus” dentro da
sociedade estudada transcreveremos abaixo o depoimento de um
militar - o Cabo Judas6 - com mais de vinte anos de caserna.

Eu me graduei em história ha pouco mais de um ano (...) realmente cria


que estava liberto do militarismo, mas, por conta de necessitar do
salário de cabo da Marinha, continuava, na minha visão, a representar
o papel de militar, tentava considerar que estava num emprego normal
(...). Por duas vezes processei a Marinha por danos morais e abusos de
autoridade, e meus colegas sempre me procuram para discutir acerca
de punições etc. Um dia desses me decepcionei comigo mesmo e me dei
conta de que não estou militar, eu sou militar. Eu caminhava por um
corredor do quartel, de repente vi, no fim do corredor, que vinha um
oficial muito conhecido por seu rigor, andando em minha direção.
Imediatamente, sem sequer pensar, eu dei um jeito de entrar pela
primeira porta que vi. Entrei e sentei numa cadeira vazia, de repente
me lembrei que não tinha mais medo de oficiais, que era formado e
somente representava o papel de militar. A princípio me envergonhei de
mim mesmo, mas logo compreendi que não se “deixa de ser” assim tão
facilmente. Descobri que eu não estava representando, eu era aquilo
mesmo, reagia de forma automática, da mesma maneira que meus
colegas de farda - Rapidamente saí da sala, ainda a tempo de cruzar
com o oficial no corredor... Ele nem me notou.

São duas mentalidades distintas se digladiando dentro da mesma


pessoa, militar versus historiador. No primeiro momento quem se
destacou foi a mentalidade de militar, esta reagiu instantaneamente e
da mesma forma que a maioria dos soldados, estes quando vêm um
superior evitam passar por perto, é senso comum entre os soldados
que o subordinado está sempre errado. No segundo momento, de
forma menos automática, a segunda mentalidade, de historiador,
graduado etc., veio à tona, lembrando-o que não era necessário temer
um superior, ao mesmo tempo que o fazia compreender o quanto

6
Pseudônimo.
11
seria difícil lutar contra tudo que havia aprendido em mais de vinte
anos de serviço na Marinha.

3 - O CONFLITO DE “CLASSES”,
PRAÇAS VERSUS OFICIALIDADE!

Como já mencionamos, os trabalhos que estudam as relações


militar x militar são bem escassos. Destacamos: O espírito militar,
de Celso Castro (2004) e Meia volta volver, de Piero de Camargo
Leirner (1997), ambos abordam o processo de socialização e (re)
construção aplicado nas instituições militares. Contudo, trabalhando
em campos que congregam predominantemente a oficialidade, não
foi-lhes possível levantar a questão da existência da divisão em
“classes”, oficialidade x praças, e os conflitos que constantemente
ocorrem como conseqüência desta divisão. Mais próximos dessa
questão, chegam os trabalhos de Liseane Morosini e E.Rodrigues,
ambos tiveram oportunidade de conhecer de perto essa realidade.
L.Morosini é filha de uma praça da Aeronáutica e E.Rodrigues
quando realizou sua pesquisa era sargento do Exército.

Em geral as praças das forças armadas têm consciência de que


têm apenas em comum entre si - o ser militar – desconsideram, ao
contrario da oficialidade, as condições específicas que a categoria
goza dentro da estrutura militar. As prerrogativas e limitações são
comuns entre as praças, porém, salvo raras exceções, inexiste a
consciência de constituírem uma classe à parte. Não ha ainda
percepção da dominação simbólica implícita na realidade em que
vivem. Como dizem alguns teóricos, as regras e consequências do
sistema capitalista inevitavelmente se ampliam a todas as sub-
sociedades, ou sub-campos, fazendo com que estes também sejam
organizados segundo as leis gerais do mesmo, apresentando-se
também divididos em classes sociais, às quais correspondem papéis
a serem exercidos, de dominação ou subordinação conforme a
posição que ocupam nas estruturas de poder.
Sob um ponto de vista marxista a categoria composta pelas
praças das forças armadas seria uma classe em si, mas ainda não
12
uma classe para si, permanecendo inertes, estacionados em uma
condição inferior aos membros das outras categorias profissionais da
sociedade civil. Estes foram ao longo do tempo descobrindo as
possibilidades de interagir solidariamente para compensar as perdas
comuns decorrentes da estratificação da sociedade, e desenvolveram
entre si esquemas particulares de sociabilidade. Condição que
resultou em um ambiente de sociação bastante abrangente.
Conquistaram e usufruíram do direito de criar associações de classe,
cooperativas etc.
Segundo dados do IBGE, o Brasil possuía, em 2004, mais de
350.000 organizações não governamentais, entre elas estão
organizações de profissionais, associações, cooperativas etc. Esse
número nada desprezível mostra que para cada grupo de
aproximadamente 550 brasileiros existe uma organização não
governamental.
Embora a nossa sociedade esteja passando por esse momento de
amplo associativismo os membros das Forças Armadas têm vários
obstáculos para se beneficiar dessa “onda”, um deles é a grande
quantidade de regras diferentes das estabelecidas para o restante da
sociedade. Os militares, por força de lei, não podem se sindicalizar
ou criar organizações que os amparem na obtenção de melhores
condições de trabalho, e estão sujeitos a sanções quando decidem se
agrupar para isso. Na Marinha do Brasil há um ditado que diz: “Mais
de um é motim”, que demonstra radical aversão à associação. Na
Constituição Federal Brasileira, no artigo 5º, está estabelecido que
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”,
Contudo, a própria Carta Magna estabelece exceções a essa regra,
entre elas: a negação do Habeas Corpus para os militares punidos
disciplinarmente; militares não podem se organizar em prol de
reivindicações trabalhistas e, por fim, lhes é negado o basilar
principio da Presunção de inocência, estabelecido como um dos
direitos fundamentais da pessoa humana.

Mesmo sob proibição e vigilância cerrada, ao longo da história


das forças armadas ocorreram diversas manifestações coletivas
advindas de camadas subalternas das forças armadas, todas
objetivando melhores condições de trabalho. Nenhuma delas, apesar
13
das acusações dos altos comandos, apresentou indícios concretos de
que tenha sido motivada por ideais de ordem político-revolucionária,
mesmo assim seus protagonistas, e os próprios episódios, foram
banidos da memória militar. Movimentos organizados por
subalternos como o de 1831 em Recife, pela abolição dos castigos
físicos, (...) onde foi massacrado grande número de soldados
amotinados7, a Revolta da Chibata e Movimento dos Sargentos de
Brasília são encarados até hoje como tabu dentro das instituições
militares, sendo omitidos nos currículos das academias de formação.
Em andamento desde o fim do sec. XIX, outro movimento, desta
vez quase invisível aos olhos da sociedade civil, tem sido bastante
abrangente e também incômodo para os comandos militares.
Subalternos, geralmente sargentos, tem se reunido e fundado
associações de praças instituídas legalmente. Com base na CF1988,
que garante a todos os cidadãos o direito à associação, essas
associações congregam militares de todas as forças em busca dos
objetivos similares aos perseguidos por seus pares do passado:
melhores condições de trabalho, estabelecimento de limites
coerentes para as relações hierárquicas etc.

As praças, mesmo sendo ampla maioria, permanecem não


possuindo representação na elaboração das normas, decretos e leis
pelos quais é determinado o seu dia-a-dia. É-lhes negado o direito de
participar da elaboração de planos de carreira, escalas de serviço e
regras particulares que especificam atividades insalubres como
mergulho, segurança, soldagem e pintura. Dentro das instituições
militares, mesmo que executem rotineiramente as mesmas tarefas
que os trabalhadores civis, soldados, cabos e sargentos não são
considerados trabalhadores "normais”, e conseqüentemente não são
amparados pelas legislações especificas para cada atividade que
executam no seu dia-a-dia.
Atualmente as normas referentes à organização do trabalho
assalariado levam em consideração não só a saúde, mas também toda
a qualidade de vida do trabalhador, e devem incluir a valorização da
pessoa humana e a satisfação profissional e social. Tal perspectiva

7
Andrade Apud Sodré. 1965, p.112
14
emana do entendimento de que a qualidade de vida é um princípio
fundamental para a organização do trabalho, promovendo bem estar
pessoal e motivação.
Outra questão interessante, e bastante discutida atualmente, se
refere à própria Justiça Militar. Em vários artigos jurídicos se levanta
a questão da composição dos conselhos de justiça, pelos quais se
decide o destino dos militares acusados de crimes militares (em sua
esmagadora maioria, praças); estes conselhos não dão abertura para
participação de representantes das praças. Contando somente com a
oficialidade – nega-se às praças o direito de serem julgados também
por seus pares8.
Os regulamentos militares exaltam a obediência e execram a
contestação e desobediência, para eles o bom militar é aquele que
persegue obstinadamente o cumprimento de qualquer tipo de ordem
superior, seja ela atirar no inimigo, seja pintar uma parede, seja
descumprir a Constituição!9. A menor hesitação pode ser
considerada contravenção, ou crime militar. Conversar com um
companheiro de farda acerca de ilegalidade da determinação ou de
dificuldades para o cumprimento também poderá ser considerado
indisciplina. Por outro lado, o alto comando das Forças Armadas,
que tem sido sempre muito rigoroso em coibir as manifestações de
indisciplina que, eventualmente partem de camadas subalternas da
estrutura militar, tem trocado o rigor por condescendência sempre
que essas manifestações partem do oficialato. Segundo a
Historiadora Liseane Morosini (1998) Inúmeros exemplos mostram
que o Exército e a Aeronáutica procederam de formas diferenciadas
no tratamento das manifestações coletivas por parte de seus
militares.

“Nas revoltas lideradas por oficiais superiores e intermediários muitas


vezes houve condescendência, mas, nas promovidas por praças, o

8
Em Minas Gerais as praças participam dos conselhos de justiça. A Lei
Complementar. n º 59 de 2001 que trata da organização judiciária do Estado, em
seu art. 203, 2º, estabelece que: “Os Conselhos Permanentes são compostos do
Juiz-Auditor, de um oficial superior como Presidente, de um oficial até o posto de
Capitão e de dois praças de graduação igual ou superior à do acusado”.
9
Conforme ocorreu em 1889, 1961, 1963 e 1964.
15
argumento de corrosão da estrutura fez com que o combate fosse
sempre mais ostensivo”. (MOROSINE,1998)

O oficialato é conhecido como cabeça pensante das forças


armadas, este tem uma formação reconhecida oficialmente como de
nível superior, ao contrario das praças, equiparados a trabalhadores
de escolaridade fundamental, e no máximo média, fato que contribui
diretamente para o baixo status da categoria. Provavelmente por
conta desse baixo status as manifestações realizadas pelas praças
sempre foram consideradas precipitadas, descabidas ou como
fomentadas por organizações ou elementos de fora das forças
armadas. Por outro lado, hoje em dia uma parcela considerável de
militares subalternos tem buscado formação superior, fator que
poderia então, por essa ótica, validar as organizações da atualidade.
Além de todos os entraves a iniciativas classistas, as praças têm
ainda que enfrentar o próprio hábitus, tendo que vencer o arraigado
espírito militar, introjetado pelos anos de treinamento e convívio na
sociedade militar. Hoje em vários locais do país, a categoria vem
lutando por organizar-se e pelo direito de fundar suas associações
que visam conquistar maior humanização das condições de trabalho
e relações hierárquicas dentro da caserna. Note-se que o objeto das
associações não é lutar contra o oficialato, mas contra o
tradicionalismo e conceitos antiquados de hierarquia e disciplina,
que podem, na época em que vivemos, provocar cisões preocupantes
nos “organismos” militares brasileiros.
Ao compararmos duas declarações, a primeira feita por um ex-
cabo, Jorge José da Silva, participante dos movimentos dos anos 60
(FREITAS SANTOS. 2009) e a segunda, pelo Suboficial Veloso,
fundador da Associação de Praças do Exército (REV. CARTA
CAPITAL. 2008), podemos verificar que a questão das
reivindicações das praças, no passado e no presente, não se inicia no
embate entre “classes”, contudo, algumas vezes termina nessa
questão.

Freitas Santos – E os sargentos, dentro de suas reivindicações,


buscavam o apoio do oficialato ou pretendiam quebrar a hierarquia das
Forças Armadas?

16
Jorge Silva – Isso varia muito. O Exército tinha um número de oficiais,
vamos dizer assim, progressistas, o Marechal Osvino Ferreira Alves, o
Lott era nacionalista, o Gen. Assis Brasil, Ladário Pereira Teles, tinha
uma parcela da oficialidade que, assim como na Aeronáutica e também
na Marinha, apoiava as reivindicações dos subalternos, mas que
achavam que também o Brasil deveria progredir. Isso eu sei muito
porque eu me dei muito bem com o Ministro Paulo Mário da Cunha
Rodrigues, que foi Ministro da Marinha de Guerra do João Goulart,
então ficava conversando com ele, então ficava bem claro, ele até me
dizia que os oficiais progressistas estavam com os praças nessas
reivindicações. Ele até dizia que tanto o oficial como o praça, nesse
sentido, estavam no mesmo barco. Ele sempre frisava que a hierarquia
não pode ser quebrada, nós estamos no mesmo barco, nunca foi
quebrada essa hierarquia (...)

Entrevista com o Fundador da APEB, suboficial Veloso,


publicada na revista Carta Capital.

Carta Capital: Quando vocês falam em participação estão pensando em


que exatamente?
VELOSO: Queremos ser ouvidos naquilo que diz respeito a nós, ao
nosso trabalho, ao nosso destino. A cúpula decide sem ouvir ninguém.
Foi criado um grupo de trabalho para estudar e modificar o estatuto
dos militares e nem um só praça foi convidado para participar da
discussão. Seria justo que tivesse lá pelo menos um representante
nosso. A propósito, o Regulamento Disciplinar também precisa ser
modificado.

4 - ASSOCIATIVISMO ENTRE MILITARES

Entre as forças armadas brasileiras, o Exército foi a que mais


cedo congregou oficiais preocupados com as camadas “inferiores”
da caserna e da população brasileira. Segundo Raimundo Faoro
(2000), até meados do sec. XVIII sua oficialidade era composta de
membros da nobreza; nesse período, para ser aceito como cadete
bastava comprovar o sangue ilustre, porém, em 1824 foi criado o
concurso de capacidade, que possibilitou a entrada de grandes

17
mentes como Duque de Caxias e Marquês de Herval. Após 1831 o
exército é desprestigiado, reduzido à metade, e é criada a Guarda
Nacional, força elitizada para onde migra a aristocracia.

A revolta da Chibata

Em 16 de novembro de 1889, um dia após a Proclamação da


República, foi promulgado o decreto nº 3 que determinava a extin-
ção dos castigos físicos na Marinha, porém, infelizmente, seis meses
após - os castigos voltaram a ser aplicados - legalizados pelo Decreto
nº 328, de 12 de abril de 1890, que (re) instituía, além da chibata,
outras punições como o rebaixamento de salários e postos. Isso
demonstra claramente que a extinção dos castigos havia sido um
ardil para calar as praças, de maioria negra, e que por ignorância dos
intrincados motivos da abolição, tendiam a ser simpáticos à
Monarquia.
(...)

O Movimento dos Marinheiros (Rio de janeiro- 1962 – 1964).

Em 1962, cinqüenta anos depois de extinta a chibata, perdurava


na Marinha do Brasil a insatisfação por conta de fatores como
excesso de horas trabalhadas, dificuldades para estudar e nenhum
direito trabalhista. O cenário nacional era conturbado; o Presidente
Goulart era claramente simpático às praças das Forças Armadas -
graças a essa categoria assumira o governo em 1961 – quando a
cadeia da legalidade pôs termo ao golpe perpetrado pelos comandos
militares. Goulart planejava realizar profundas mudanças estruturais
no Brasil, porém, estas iriam de encontro aos planos das elites
agrárias e industriais.
(...)

Ações dos Sargentos (Brasília e Rio Grande do Sul).

18
Segundo Nelson Werneck Sodré (1965, p.382) - historiador e
general – “o papel das praças diversas vezes foi preponderante em
resguardar a democracia no nosso país”, o que podemos comprovar
em episódios como a resistência ao golpe de 1961, perpetrado após a
renúncia de Janio Quadros. Nesse episódio os sargentos tomaram o
controle da Base da 5º Zona Aérea, impedindo que oficiais
decolassem com aviões que serviriam de apoio à junta militar que
inconstitucionalmente assumiu o comando do Brasil. Nelson
Werneck Sodré mostra que a essas praças, mesmo tendo assumido a
posição de guardiões da democracia, nunca foi dado o devido
reconhecimento pelos papeis desempenhados:

“Durante toda a crise, e nas três forças armadas, em episódios


escandalosos, os sargentos, a quem só se conferia o direito de cega
obediência, e com muitas mais fortes razões que aos oficiais,
manifestaram a firme vontade de desobedecer, por terem entendido que
obedecer, no caso, era ir contra o país, e contra o povo (...). A firmeza
com que os sargentos se comportaram, em situações extremamente
difíceis, a exata noção do cumprimento do dever que demonstraram,
colocou-os numa situação de destaque, que mereciam, mas não foi
entendida (...)” 10

Em relação a esse mesmo episódio, o historiador Paulo Parucker


(1992) nos conta que:

(...) Amir Labaki (1986), mostra sargentos e suboficiais da Base Aérea


de Gravataí (RS) contendo um suposto ato golpista. Era a tentativa de
oficiais, sob comando de um certo major Cassiano, de levantar vôo e
bombardear, com uma esquadrilha de caças a jato, o Palácio Piratini,
epicentro da resistência legalista gaúcha, e outras áreas estratégicas de
Porto Alegre. Os graduados teriam retirado peças vitais dos aviões e,
assim, impedido o vôo.

(...)

10
SODRÉ. 1965, p.382
19
5 - RESSURGIMENTO, NO FIM DO SÉCULO XX, DAS
ASSOCIAÇÕES DE PRAÇAS DAS FORÇAS ARMADAS.

Ridenti (1989) fala sobre o dilaceramento existencial11 dos


militares subalternos dos anos 60, segundo ele, causado pelo fato
desses militares pertencerem ao mesmo tempo a dois mundos
opostos; eram oriundos das camadas populares, mas,
paradoxalmente, também pertenciam a entidade encarregada de
reprimi-las.
O militar da atualidade, praça das forças armadas do século XXI
também é vítima de uma ambiguidade, porém um pouco diferente
das que sofriam seus semelhantes de 50 anos atrás. Tem sentimentos
de pertencimento ao mundo da cidadania e do amplo direito, onde é
cidadão eleitor e pai de família, detentor de humanidade,
responsabilidade e ética para com si e seus semelhantes, porém, em
contrapartida, é também preso a um segundo mundo, diametralmente
oposto ao primeiro, onde, como demonstra um jargão muito
utilizado em academias militares, seu direito é não ter direito.

Desde o final do sec. XX o acesso a universidade vem


gradativamente se ampliando às camadas menos favorecidas de
nossa sociedade, e a elas juntamos as praças das forças armadas e
auxiliares. Em 1997 a quantidade de praças do Exército formados
em direito era praticamente igual ao de oficiais com a mesma
especialidade. Em 2007, apenas 10 anos após, esse número subiu
para o dobro de praças em relação aos oficiais. Observa-se também
que a partir de 1999 a formação superior entre praças também
cresceu sensivelmente em diversas áreas, fazendo-se estes mais do
dobro do que totalizam os oficiais graduados12.

11
Ridenti 1989. Apud Parucker. 1992.
12
Entre 1999 e 2007 cerca de 400 sargentos apresentaram, ao órgão de controle
de pessoal da Força, seus diplomas de bacharéis em direito. O total atual de
sargentos do Exército formados em direito, que declararam essa condição ao órgão
de controle do efetivo de pessoal da Força (Departamento Geral de Pessoal), é de
617. O total de oficiais é de 332. (RODRIGUES. 2008)
20
Gráfico nº 2 – Oficiais e sargentos do EB graduados em cursos superiores.

Como vimos no capítulo anterior, nos meados do século passado


o aculturamento dos sargentos era encarado como uma ameaça pelos
escalões superiores, o qual tentavam reprimir duramente.

(...) terrível realidade, que exigia severas providências acauteladoras


da “ordem pública”. Sargento pensar, sargento estudar, sargento
participar, sargento ter direitos de julgamento pereceram formas
subversivas, a que eram necessárias atender de pronto, não no sentido
de encaminhá-las, de colocá-las a serviço da estrutura militar e do
país, mas no sentido de reprimi-las, de vigiá-las, de considerá-las
marginais e condenáveis (SODRÉ.1965. p.385).

(...)

VI - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao associativismo realizado pelas praças das forças armadas,


interpretado pela ótica das elites, sempre foi atribuído um caráter
político revolucionário. A historiografia das Forças Armadas
brasileiras concorre para isso, tratando da história da Revolta da
Chibata e principalmente dos movimentos ocorridos em 1963 e 64
de forma extremamente sucinta - sem mencionar a amplitude e
importância das suas reivindicações, que sempre foram de caráter
bastante coerente. Os pleitos eram geralmente em torno de
oportunidades para estudar, estabilidade, liberdade de se locomover
nos ambientes civis sem usar farda, direito a se casar e garantias para
gozar do próprio direito constitucional de se associar.
21
Reivindicações pelas quais muitos foram severamente sancionados,
mas que o tempo mostrou serem extremamente justas e coerentes.
Os nomes mais conhecidos que nos chegam por conta desses
movimentos, João Cândido e “Cabo” Anselmo são de militares
expulsos da Marinha por conta de serem subversivos (ambos
anistiados, Anselmo em 1979, e João Cândido em 2008).
Um ofício do Ministro da Marinha ao chefe do Estado Maior,
datado de 30 de agosto de 1963 (RODRIGUES, 2004), ressalta que a
palavra “classe”, aplicada pelo estatuto da Associação de
Marinheiros para designar a categoria de subalternos representada
pela mesma, era de caráter segregacionista, segundo o Ministro:
“não será lícito de forma alguma admitir-se a existência de uma
classe de marinheiros”. A Outra acusação dirigida contra os
militares que promoveram o associativismo nos anos 60 foi a de
tentar criar sindicatos13.

A verdade é que estes militares subalternos tinham vários


motivos para se sentir como uma classe, no sentido literal da palavra,
bem distinta do outro grupo de militares, os oficiais. Regras como
proibição do direito de votar, de se casar ainda antes dos vinte e
cinco anos de idade, o que não valia para os oficiais, são a
justificativa bem evidente de que eram considerados pela forças
armadas como classe distinta. Percebemos ao longo das pesquisas
que estigmatizar os movimentos dos subalternos dos anos 60,
procurando neles a “influencia comunista”, tem sido uma maneira de
colocar de lado a inquestionável coerência das suas reivindicações.
As associações de praças da atualidade têm sofrido o mesmo tipo
de acusações que os movimentos do século passado. Se no passado
havia certa neurose por uma ameaça comunista, no presente a
ameaça é a sindicalização. Vários diretores da APEB-RN atualmente
(2008) são acusados de promover a sindicalização, e já vêm sendo
sancionados desde a abertura do inquérito que apura sua participação
no Congresso de direito militar promovido pela associação em 2005.

13
Era praticamente inevitável, que em meio ao ambiente de agitação política que
vivia o país, a AMFNB fosse acusada de inclinações comunistas e de procurar
tornar-se um sindicato (RODRIGUES 2004, p.35)

22
Para investigar a importância que a imprensa brasileira concede
aos conflitos entre os militares, realizamos uma pesquisa em
arquivos eletrônicos dos principais jornais e revistas das capitais
onde se localizam os maiores efetivos militares, mesmos locais em
que se concentram as atividades das associações de praças. Foram
pesquisados: Revista Veja, Carta Capital, Jornal Folha de São Paulo,
Jornal O Globo, Jornal O Dia, Correio Brasiliense e Diário de Natal.
Destes, somente três, no ano de 2008, fizeram menção à associação.
Carta Capital mencionou a APEB duas vezes, enfatizando sua luta
por direitos para as praças; Diário de Natal e diário de Pernambuco -
na edição 23 e 24 de julho, respectivamente14, mencionaram o
processo na Justiça Militar, enfatizando a ação contra o ativista
Roberto Monte, pouco mencionando a associação de sargentos e seu
papel frente às categorias militares. Essa pouca cobertura por parte
da imprensa mostra que as Forças Armadas têm sido bem sucedidas
em contingenciar os conflitos ocorridos no âmbito interno, não
permitindo que as discussões sejam estendidas à sociedade civil, o
que causaria desgaste político aos comandos envolvidos.
Embora estejam subordinadas a autoridades civis desde 1985,
essas instituições permanentes ainda sofrem pela perda de prestígio,
o que - segundo Celso Castro - se deve: “em parte, à lembrança
ainda muito recente do período autoritário, em parte às dificuldades
de se atribuir à profissão militar uma posição proeminente num país
sem ameaças claras na área de defesa, como é o caso do Brasil”.

(...)

“O desviante de hoje pode ser o herói civilizador de amanhã”.


(GILBERTO VELHO. 1974)

14
Encontrado em:
http://www.dnonline.com.br/parceiros.php?url=http://diariodenatal.
dnonline.com.br/index2.php e
www.pernambuco.com/diario/2008/07/24/urbana.asp
23
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do Estado do Rio de Janeiro. Dissertação de Mestrado.

27
APÊNDICE 1 - CASOS INTERESSANTES.

Para uma familiarização maior com o contexto estudado, serão


elencadas algumas situações lamentáveis ocorridas nos últimos anos.

a) Falecimento do soldado fuzileiro.


Em 2006, no Estado do Pará, no CIABA15, militares realizavam o
curso de operações ribeirinhas, em decorrência deste “curso” faleceu
o soldado Magno, vítima de vários “caldos” aplicados pelos
instrutores. O jovem, segundo as testemunhas, foi obrigado, assim
como seus companheiros, a nadar vestido com o uniforme, mochila e
fuzil, sendo repetidas vezes mantido submerso forçado pelos
“instrutores”, inclusive depois de gritar por socorro várias vezes.

(...) treinamento denominado “Expedito de Operações Ribeirinhas”, na


piscina do Centro de Instruções Almirante Brás de Aguiar – CIABA. Na
ocasião, teria sido submetido a treinamento excessivo com requintes de
crueldade e agressões, consoante Relatório de Verificação de Óbito do
IML. Tal prática, denominada “caldo” pelos Fuzileiros da Marinha.

Os pais do soldado falecido impetraram ação judicial contra a


Marinha. Segundo a juíza encarregada da ação, o soldado...

“(...)sofreu de fato agressões durante o treinamento a que foi submetido


na data de seu falecimento, as quais, a teor dos elementos carreados
aos autos, excederam a mera disciplina militar inerente ao serviço
militar e foram determinantes para sua morte. (Decisão). Encontrado
em: http://www.direito2.com.br/cjf/2008/jun/17/uniao-tera-que-
indenizar-familia-de-militar-morto-no-ciaba. (Acesso em 01/11/08)

Não cabe aqui analisar, sob a ótica do direito, os detalhes desse


incidente. Analisando-se, então, sob um prisma Bourdieusiano nos
remetemos ao primeiro capítulo desse trabalho (p.12), quando
mencionamos que o militar é construído de acordo com princípios e
normas de convivência estabelecidas pela instituição. A juíza, em
sua sentença, disse que os fatos excederam a mera disciplina militar.

15
Centro de Instrução Brás de Aguiar
28
De acordo com o que vimos nesse trabalho, o habitus do militar
transcende os parâmetros prescritos.
Desde que foram admitidos nas forças armadas os militares que
atuavam como instrutores do soldado falecido são submetidos por
superiores e submetem subordinados a procedimentos similares ao
descrito, embora não esteja previsto em nenhum regulamento que se
aplique um “caldo” em um soldado que esteja “fraquejando” em um
treinamento isso é comum, e acontece com praticamente todos que
passam por esses locais. Caldos, ralas, batismos, sacodes etc.
Segundo Bourdieu “(...) a norma estabelecida pelo dominante torna-
se difícil de ser desafiada, pois passa a ser uma parte do
indivíduo...” (BOURDIEU, 2003, p.51).
Mesmo em uma situação extrema como a que está em questão os
militares encontram-se inconscientemente aprisionados pelo meio
em que estão inseridos. No caso analisado agiram de acordo com o
sistema entranhado neles. O habitus, ou seja, o “procedimento
aplicado” no soldado falecido correspondeu exatamente ao que se
esperava deles, não tendo senso sequer para considerar acerca da
vida ameaçada, que, no caso em questão, clamava por socorro.
Com esse fato voltamos à questão da socialização militar. Nas
academias militares e centros de instrução tradicionais se busca o
aniquilamento da iniciativa e senso crítico. Quando as consciências
individuais são abatidas é a consciência coletiva que dita as regras.
Prevalecendo então a concepção homogênea do mundo, do tempo e
do espaço (BOURDIEU. 2000).
Se houvesse naquele local um militar com senso crítico suficiente
para perceber quão perigosa era a situação, e com iniciativa para,
naquele momento, ser indisciplinado e se negar a continuar com tais
práticas, certamente o desfecho seria diferente e não estaríamos aqui
discutindo tão lamentável situação.

A autoridade judiciária se manifestou da seguinte maneira,


concedendo então a indenização pleiteada pelos pais do falecido:

“A conduta perpetrada pelos agentes da União apresenta


altíssima reprovabilidade social, devendo, portanto, ser
considerada gravíssima, uma vez que atentou contra o bem
29
maior do ser - humano, isto é, a vida (...) julgo procedente o
pedido de indenização por danos morais . Encontrado em:
http://www.direito2.com.br/cjf/2008/jun/17/uniao-tera-que-
indenizar-familia-de-militar-morto-no-ciaba. Acesso em 01/11/08)

b) Manifestação de esposas de militares


Em junho de 2002, na cidade de Santana, estado do Amapá,
militares e esposas sofriam com a negativa do comando em custear a
assistência médica. A oportunidade de mudar o quadro seria a visita
do Almirante, comandante do 4º Distrito Naval. No momento em
que este visitava as instalações foi repentinamente cercado por
mulheres em uma manifestação tipo “bate panelas”. O almirante,
extremamente gentil ouviu e atendeu as reivindicações das senhoras,
restabelecendo rapidamente a assistência médica. Fato curioso é que
os maridos, que estavam cumprindo expediente nos quartéis no
momento da manifestação, foram julgados e punidos, enquadrados
por terem “infringido” o malfadado parágrafo único16 do
regulamento disciplinar, na caderneta de registros de um desses
militares consta o seguinte suas fichas consta que:

O militar foi punido com seis dias de impedimento por ter incidido no
parágrafo único do regulamento disciplinar (...) sabendo do
planejamento da manifestação não comunicou aos superiores.

Nenhum dos sargentos punidos disciplinarmente por conta da


manifestação de suas esposas realizou qualquer tipo de ação que
pudesse anular ou reparar a arbitrariedade ocorrida. Alguns até hoje
aguardam suas promoções prejudicadas por conta de terem perdido
pontos em comportamento.

16
São também consideradas contravenções disciplinares todas as omissões do dever
militar não especificadas no presente artigo, desde que não qualificadas como crimes
nas leis penais militares, cometidas contra preceitos de subordinação e regras de
serviço estabelecidos nos diversos regulamentos militares e determinações das
autoridades superiores competentes.

30
APENDICE II - TRANSCRIÇÕES DE CARTAS E
E-MAILS ENVIADOS A FÓRUNS E
GUESTBOOKS DA INTERNET.

Certa vez, quando um parente próximo do General Golbery, à


época chefe do SNI, havia se envolvido em um escândalo sexual, foi
então sugerido ao general - conhecido como Feiticeiro - que desse
uma declaração sobre o fato. O astuto General se negou, e explicou...
“Se eu ficar calado a notícia desaparecerá normalmente, dura no
máximo cinco dias, se eu der uma declaração o fato vai levar mais
ou menos duas semanas para sumir dos jornais”.

Essa política de manter a discrição diante de episódios que


podem abalar a sociedade castrense é típica das Forças Armadas, e
tem até hoje surtido efeito. Os escândalos envolvendo militares e as
próprias instituições militares normalmente duram bem menos na
mídia do que os que afetam outras instituições governamentais. A
sociedade e os veículos de informação, driblados pela astúcia dos
militares, não tem atentado para o fato de que muitos casos isolados,
em uma sociedade que congrega diretamente mais de trezentas mil
pessoas - e indiretamente mais de um milhão – são pequenos
pruridos que afloram, e devem ser observados com atenção, pois
podem ser sinais de um grande câncer dentro do organismo.
Transcrevemos a seguir pequenas amostras colhidas em diversas
fontes, internet, e-mails, jornais e revistas de grande circulação.
A maioria dos autores dos “desabafos” prefere não se identificar.
As Forças Armadas proíbem taxativamente comentários acerca de
assuntos de caráter interno, ainda que essa linha entre interno e
externo seja tênue, pois quando procedimentos dentro de qualquer
instituição ultrapassam os limites da legalidade, no nosso ponto de
vista, têm de ser considerado de caráter externo.

1 -Farsas, falcatruas, abuso de autoridade... xxx@yahoo.com.br


- Postado em 10/11/2007 18:27. - Vivi durante 25 anos na vida
militar e vivenciei determinados abusos, desrespeito, humilhações,
constrangimentos, farsas, falcatruas, abuso de autoridade, excesso
de autoridade, uma vida infernal que até hoje, estando na reserva,
31
ainda tenho seqüelas fortíssimas, que me abalam, e surge dentro de
mim um ódio, irrefreável de ter sido covarde, de ter me humilhado,
deixado isso acontecer e não ter feito uma grande merda, talvez
estivesse mais satisfeito, resguardo-me de relatar os fatos, pois sei
que não tenho segurança nenhuma nem minha família, mas sei de
casos tenebrosos que dariam um livro bem grosso. É como na
policia civil, militar e federal, todos os chefes comem nos mesmos
pratos (...)

2 - Alcoolismo e uso de drogas. outoamigodosmilitares@bobo.id


- 27-02-2006 / 0:29:31 - ACREDITE SE QUISER !!!! TORTURA,
MAUS TRATOS, impunidade e... ALCOOLISMO. Forças Armadas
enfrentam em suas fileiras sérios e graves problemas. Em matéria
publicada em O Globo (19/08/01, p. 19), lê-se que “a grande
maioria dos cerca de 1500 inquéritos e processos em tramitação na
Justiça Militar da União, é de crimes graves, como latrocínio,
homicídio, estelionato e roubo”. Esses crimes, no RJ, chegam a 71%
do total desses processos. _ Além disso, nas Forças Armadas há um
número alto de alcoolismo e uso de drogas. “Somente no ambulat.
do Centro de Tratamento Químico do Hospital Central da Marinha
estão cerca de 300 militares dependentes de álcool, barbitúricos,
anfetaminas, maconha e cocaína” (O Globo, idem).

3 - A elite e o proletariado! almirante@mb - 22/02/2006 19:51 -


Real, ocorre mesmo, nas forças armadas existem hoje a elite
e o proletariado, estes são os praças e estão a beira de uma revolta,
as injustiças estão demais, e como os governos estão estrangulando
o orçamento os que estão acima querem se manter a todo custo, e
quem paga são os menores. Alguém tem que ver isso.

4 - ''servi de besta'' na marinha... ccc@hotmail.com - meu


período curto na marinha. 29/03/2006 11:45 - Olá sou CCC Quadros
e ''servi de besta'' na marinha no período de 1 ano (junho de 1990 e
junho de 1991) nas seguintes OM: base naval de Val-de-cães,
distrito naval e CIABA, em Belém-pa. E sinceramente não tenho a
menor saudade, foi um período da minha vida que fui humilhado,
preso por motivos fúteis e o pior quase virei um alcoólatra. Na
32
marinha é muito fácil encontrar bebidas alcoólicas e já que você
vive pressionado, humilhado, mau humorado e sem direito a se
defender, a bebida muitas vezes é motivo de fuga desse inferno que
se vive nos quartéis da marinha brasileira. Hoje com 35 anos sou
comerciante e, graças a Deus, tenho 3 filhos tenho a minha casa
própria, meu carro e vivo bem financeiramente e graças a Deus não
foi preciso depender desse mísero salário que é o salário do militar
e sinceramente jamais vou querer que meus filhos um dia passem
pela mesma humilhação que passei. Fica aqui registrado o meu
protesto e indignação com as forças ''armadas'' brasileiras.

5 - São tantas ilegalidades... bbb@hotmail.com - 07/12/2007


14:29 – Encontrado em: http://www.midiaindependente.org. São
tantas ilegalidades administrativas acobertadas como
discricionárias e, o pior, quando se recorre à Justiça verifica-se o
quanto ela é desinformada sobre a norma castrense. Até quando,
como em meu caso, com deficiência auditiva por doença
profissional (diascusia bilateral), terei que esperar, além dos já
passados 14 anos, para ser reformado uma vez que a doença teve
nexo causal com os mais de 15 anos trabalhando em hangares. A
quem interessar possa meu processo está no TRF3 aguardando,
espero, o deferimento de meus pedidos.

6 - Ficando presos por não engraxar as botas! aaa@ig.com.br -


Policia Militar de São Paulo. 07/08/2008 13:42 - Tudo que foi lido
nos ilustres comentários são um vero retrato do que ocorre hoje na
policia militar de São Paulo. Muito indigna saber que todos aqueles
que poderiam mudar o atual quadro, simplesmente cala. Os oficiais
continuarão praticando seus abusos nas mais diversas modalidades.
A constituição da república tanto reprime o desacato aos princípios
fundamentais, todavia, pergunto, onde estão os direitos básicos
desses seres idealistas? Estamos no século 21, mais continuamos
ficando presos por não engraxar as botas, é justo? Inventaram um
nome dissimulado para prisão no novo RDPM de São Paulo, mas
tecnicamente em nada mudou, continuamos a ficar detidos nos
quartéis, sem o direito de ir e vir, que nome podemos dar a isso?
Direito penal de terceira geração, homem indo a lua como se fosse
33
ao parque de diversões, planeta marte sendo explorado, descoberto
o genoma humano ... e os praças das policiais militares continuam
sendo tratados como homens da caverna, ou melhor, de fato, são.
Grato, Sargento da policia de São Paulo.

7 - Resolveram grosseiramente falsificar o atestado de óbito do


Sargento... yyy@ig.com.br - XXX da silva santos - RJ – Brasil. 0-
Outubro-2004 - 20:46:30 - Solicito uma intervenção do
Ministério Publico Federal com urgência para investigar a morte do
2ºSG Dxxxxx em serviço, o militar servia na Capitania dos Portos
da Amazônia Oriental, o acidente ocorrera durante embarque na
lancha desta organização militar na preparação na semana que
antecede o xxx Fluvial. O curioso é que a capitania dos Portos
comandada pelo Capitão de Mar-e-guerra XXXX vem Cobrando das
embarcações civis daquele estado itens de segurança, porém as
embarcações da sua organização militar são pilotadas por militares
não habilitados e os acessos a mesmas acontecem através de um
pedaço de tábua, objeto este que devido o deslize ocasionou a queda
do sargento Dorival, casado pai de duas Crianças vindo a falecer
em conseqüência de afogamento combinado com traumatismo na
cabeça devido ao forte golpe apos a queda. Um fato curioso que
causara mais indignação nas Praças da Marinha, amigos ou não da
vitima (SG xxxxx) foi a postura do Capitão dos Portos Através dos
seus Comandados (Oficias) determinando a lei da mordaça, quem
falasse sobre o caso do Dxxxx seria severamente punido, como se
não bastasse ainda, através do seu serviço de inteligência, em
atitude orquestrada resolveram grosseiramente falsificar o atestado
de óbito do Sargento Dxxxx (falecido) para tentar se esquiva-se de
responsabilidade uma vez que Capitão dos portos o CMG XXX esta
pleiteando uma Promoção ao posto de almirante e atualmente lidera
a Campanha de Segurança da Navegação Patrocinada por grande
empresas de navegação da Região Norte

8 - Será que esses inconseqüentes sabem o quanto ganha um


Soldado... Militar - 20 de Março-2006 / 13:56:59 - Aos que têm
apoiado o Exército nas ruas em SP, será que esses inconseqüentes
sabem o quanto ganha um Soldado do EB? Estamos ridicularizados
34
com o nosso soldo. Os agentes da PF ganharam em média 60% de
aumento. Um Sd da PMDF passa a ganhar, depois DE UM NOVO
REAJUSTE DE 20%, mais que um 1º Ten do EB. NÃO É O PM
QUE ESTÁ GANHANDO MUITO, SOMOS NÓS É QUE ESTAMOS
GANHANDO MAL!!! Será que esses generais não vêem isso?

9 - O cabo fora submetido à tortura... amigodocabo@rio.com. -


27-Fevereiro-2006 / 0:15:32 - Odisséia de um cabo - O Art. 5º da
Constituição de 1988 garante a todos os brasileiros iguais
condições de tratamento, independente da situação funcional, sexo
ou raça. O que ocorre, na verdade não é nada disso. Observemos,
para início de conversa as diversas punições aplicadas injustamente
e informalmente à praças e oficiais das Forças armadas. Sem contar
as perseguições e humilhações constantes, nunca registradas em
assentamentos. Recentemente, no Estado do Amapá (2003) foi
aberto um processo, de um cabo da Marinha, contra o comandante
do navio Comandante Castelo. O cabo fora submetido à tortura
psicológica. O comandante havia-o deixado em audiência em
posição de sentido por mais de três horas, recebendo gritos e
exposto a todo tipo de chacota do restante da tripulação do navio,
sendo o mesmo ainda condenado a alguns dias de prisão por se
recusar a indenizar certa quantia referente a diárias que
supostamente havia recebido indevidamente em bilhete de
pagamento,o cabo solicitara uma apuração do caso, o que lhe foi
negado e entendido como uma afronta à instituição, o que culminou
com a fatídica audiência. O militar após a humilhação foi internado
com problemas neurológicos, o que nunca havia lhe ocorrido. O
comandante do navio, alguns dias após a internação, temeroso das
conseqüências que poderiam advir do caso, foi visitar o cabo no
hospital lhe “anistiando”, assegurando veementemente que não
seria mais punido e ainda lhe oferecendo “ajuda financeira”, fato
este testemunhado por um sargento que também visitava o cabo.
Felizmente o militar em questão encontrou outros militares, que, em
atitude rara, aceitaram testemunhar a seu favor, mas o processo
ainda corre na justiça federal (2003.31.00.701016-5). Durante toda
essa odisséia o cabo passou a ser perseguido e taxado como
“criador de caso”, seu conceito, que antes era excelente, decresceu
35
abruptamente após o inicio do processo.(...) O que resta a esse
cabo? Sua própria posição hierárquica o coloca em desvantagem
perante superiores mais preparados intelectualmente, treinados
para situações de crise. Cremos que a justiça será feita, mas após
isso sabemos que não será fácil, a própria família daqueles que
ousam reivindicar direitos é uma das primeiras vítimas do
SISTEMA. Deveríamos lutar por uma fiscalização neutra no meio
militar, algo como uma CORREGEDORIA. Atualmente os próprios
militares se fiscalizam. Isso é confiável? È urgente também que seja
realizada uma auditoria no sentido de resguardar e restabelecer as
garantias fundamentais dos seres humanos militares.

10 -Nós, jovens oficiais também somos vitimas.


Queriadizer@maisnãoposso.nos 24-Fevereiro-2006 / 16:04:36 Nós,
jovens oficiais também somos vitimas do abuso de autoridade e
desrespeito, e por fazermos parte do círculo, se torna mais difícil
combater contra isso, passamos vários anos em escolas preparat. e
como oficiais alunos, (colégio naval etc.) e pretendemos ascender na
carreira, é um dilema realmente. O que fazer. Servir de bode
expiatório? Estamos vendo o que ocorre, pois tbm sofremos. O
melhor caminho é levar o assunto para fora das FAs

11 - Não é despeito, é senso de justiça...


cabodociaga@yahoo.com - Cabo do CIAGA - PA - Utopia. 12-
Abril-2005 / 18:40:14 - A despeito dos tão denunciados abusos de
autoridade e desperdício do dinheiro público as falcatruas
continuam acontecendo, Na Marinha, por exemplo, para os
militares se alimentar são depositados milhões de reais, referentes à
café da manhã, almoço e jantar. Menos de 10% janta no quartel,
esse dinheiro reverte para conforto, não da tropa, mas sim do
oficialato, ou seja, whisky para as autoridades, salgadinhos para os
coquetéis das intermináveis reuniões e para os miseráveis das
praças, as vezes sobra uma Coca-cola ou restos de salgados, a não
ser para aqueles que safam com os campanhas que trabalham nas
cozinhas dos oficiais. Alias Isso é reflexo e apenas uma pequenina
amostra do que acontece no dia-a-dia, afinal, são os oficiais que
administram o dinheiro e eles mesmos se fiscalizam, portanto para
36
eles nunca falta dinheiro, comida, luxo, café e marinheiros para
limpar os seus jardins. Se os praças quiserem um faxineiro ou
paguem ou coloquem suas esposas e filhos pra fazer. Não é despeito,
é senso de justiça, o dinheiro público é pra isso?

12 - Nois nunca vamus nos uni, só sabemu obedece...


jjjjto@yahoo.com.br - BR, 18-Dezembro-2004 / 0:14:38 - Os
Zoficiaus xamão a genti di burro, mais não dexam a genti istuda,
estamu numa iscala de um por um, não é um por todos e todos por
um não, é um por um meismu, e cada veis mais estamu assim, um
por um, cada um por sí, porque eu de tantu trabaia fico com raiva
do meu colega que torceu o pé, porque vai caí a escala ou porque
vou lavá uma privada a mais só porque ele ta dispensado. Nois
nunca vamus nos uni, só sabemu obedece, mandar quem sabe são
eles, os zoficiaus, eles tem tempu pra istuda, inté ganham pra isso,
vão inté istuda lá naz America, em Vest Ponte, e ficam lá uns bns
anus aprendendo a manda com os zamericanus e ganhandu dolares
beim verdinhus Nois num temus nem tempo pra pensa quando chego
em caza já vou dizendo _Muié mi dexa, que amanha tenho qui volta
cedinho pro qurté. Voltar pra abri portão pro tenente entrá. No meiu
dos mosquitu e sem ar neim ventilado vou durmi lá O café num dá
tempo de pega Só se as seizora eu chegá, já que sete e meia
bunitinho vou formá. E agora, não podo mais istuda. E na bandera
que é pra mim formá ta iscrito Ordem e progressu Ordem eu sei por
que, é pruzoficiaus sabe qui tem que manda na genti, mas Progresso
Por que será? Progredir comu ceim istuda? Só sabendu
marxa?Beim qui meu pai falo, preu istuda quando era gitinho,mas
eu tinha qui trabaiar, pra dar um jeitinho ele falava preu istuda
mais meuzirmão tinha qui cumê e eu princizava vende picolé, repara
carro pra pudê compra cumida preles. Agora o sargento dis preu
para di reclamá, ser mais coumpriencive. E diz... Pra sua vida
meihora ve se vai istudá...

13 - Me Ajudem, Por Favor. Tired@marinha.tired.com - PA


Brasil, 3-Dezembro-2004 / 17:26:53 - ME AJUDEM POR FAVOR,
não aguento mais o serviço 1 x 1, já tenho mais de 15 anos de
militar e não vejo consideração nenhuma comigo. E os oficiais
37
continuam a cobrar atitude militar. Como? Estamos exaustos. SERÁ
QUE NINGUÉM VÊ ISSO ??????

14 - O regime de semi-escravidão. O SEMI-ESCRAVO -


01/03/2006 00:45 - Realmente o que acontece nas FFAA é o regime
de semi-escravidão, onde estamos a disposição do superior o tempo
que ele achar necessário e não de acordo com o tempo necessário
para realizar um determinado trabalho. Há Organizações Militares
que não existe uma rotina normal e é sempre no horário de
licenciamento que surgem os imprevistos, normalmente originados
por oficiais que não perdem a oportunidade para demonstrarem o
seu poder aos subordinados. Eles (Oficiais) se permanecerem nos
quartéis, têm de tudo, como refeições regadas e taifeiros para lhe
servirem, enquanto aos praças somente o trabalho.

15 - Limpar banheiro de general, lavar roupa da madame...


TAIFEIROS HUMILHADOS NA CASA DOS GENERAIS
Terça, junho 17/08 -10:18:51 Encontrado em:
http://clubedecbsddoexercito.blogspot.com (...) O inquérito em
andamento no Rio Grande do Sul visa apurar a regularidade da
utilização de militares realizando “tarefas de cunho eminentemente
doméstico” em residências de superiores hierárquicos. Reunidos
num grupo, na presença de um procurador militar, eles gravaram
entrevistas descrevendo as situações que consideram de abuso e
humilhação. Dois deles tiveram o depoimento ao Correio
interrompido pelo choro. Relatam que vivem sob tensão,
consumindo medicamentos controlados. Todos eles trabalham ou
trabalharam na quadra 102 Norte, blocos G e H, onde estão
concentrados os apartamentos funcionais dos generais. Eles
mostraram fotografias em que aparecem em tarefas como passar
roupa e limpar vasos sanitários. “As tarefas são limpar banheiro de
general, lavar roupa. A roupa do general, da madame, dos filhos
que moram com eles, com netos que moram. Taifeiro lava e passa.
Outra coisa: elas não arrumam cama. Quem arruma são os
taifeiros. Raramente os generais têm alguma empregada doméstica.
Também vamos ao supermercado, empurrar carrinho da madame”,
contou um taifeiro. (...) Pequenos erros são motivos para
38
humilhações. “Uma vez, deixei uma carne tostar no forno, e ela foi
para a mesa. O general entrou na cozinha, botou o dedo na minha
cara, me chamou de moleque, falou que ia me expulsar. Como eu
não tinha estabilidade ainda, não podia fazer nada. Ele disse que eu
era um soldado e ele um general”, contou um taifeiro.
Em muitos casos, os taifeiros vão para as residências contra
a vontade, segundo contaram: “Uma vez fui para uma residência
obrigado. Falei para o general que não era voluntário. Ele falou
que não estava perguntando, que estava determinando. Ao chegar
lá, fui humilhado pela senhora dele. Ela dizia que eu não sou
autoridade, que sou um soldado raso. Isso é constrangedor”, disse.
E continuou: “O horário era relativo. Às vezes, saía às 2h (14h);
outras vezes, ficava o dia inteiro. Ficava a critério da madame, que
determinava tudo. Inclusive, ela era que dava o meu conceito. Para
eu ser promovido, tenho que ter o conceito da madame, e não do
meu chefe lá no quartel. É humilhante uma situação dessas: um civil
dar o conceito para o militar ser promovido”.
Ele ainda relatou uma punição sofrida. “De uma hora para
outra, o general me retornou ao quartel. E lá deram um jeito de eu
ser punido. Até hoje me pergunto, por que fui punido? Fiquei
humilhado lá no quartel, meus filhos ficaram sabendo… (ele começa
a chorar e interrompe o depoimento). Isso emociona a gente. A
gente é pai de família. Somos seres humanos, temos sentimento. Eles
acham que não, e pisam mesmo. Acham que a gente não tem valor
nenhum.”

16 - Não é o suficiente, o militar tem que sentir dor o tempo


todo? tenente_cardoso@hotmail.com - MARCIO PRAÇA
CARDOSO, Primeiro-Tenente (RM2) - Analista Administrativo
TRE-RJ - (...) Para estudar para meu concurso, tive de fazê-lo
em oculto, sob pena de ser execrado do convívio da Força ou
perseguido. E fui punido por não ter comunicado minha inscrição,
(...) Há de ser ressaltado que a geração de oficiais superiores e
almirantes atualmente no comando foi formada durante o regime
militar ou no pós-regime, uma época bem mais intensa nos valores e
também nas arbitrariedades. O mundo mudou, as relações sociais,
econômicas e empregatícias também, mas a Marinha insistiu em
39
cristalizar-se novamente em suas tradições, e quanto mais o tempo
passa mais esta instituição se afunda num anacronismo intenso. O
mundo realmente pode ter mudado muito rápido para que algumas
autoridades pudessem ter absorvido, mas é para tentar mudar um
pouco essa mentalidade que passo a discorrer sobre algumas das
principais causas de insatisfação na Marinha do Brasil:
SERVIÇO - As Forças Armadas possuem uma singularidade
em relação a outros órgãos e empresas, sejam públicas ou privadas:
submetem seus militares a mais de 24 horas de trabalho contínuas.
Isso seria simplesmente imprescindível caso estivéssemos em tempo
de guerra. Mas considerando-se que nossos maiores inimigos são a
sujeira do piso e o amarelo por fazer, não há respaldo para essa
prática. Após o serviço, o militar não deve cumprir o expediente
normal, visto que foi privado da sua noite de sono, tempo de lazer e
convívio com a família. Médicos e policiais cumprem seus plantões
(e muitas vezes conseguem descansar neles), são rendidos pela
manhã e vão para casa. A carga horária semanal não
deveria, constitucionalmente, exceder 44 horas semanais. Embora
batamos com orgulho no peito nos vangloriando de que não
possuímos direito algum? M as, com apenas um serviço na
semana essa carga sobe para 56 horas. Numa escala muito comum,
3 por 1, o militar pode chegar a cumprir 80 horas semanais, sem
nenhum tipo de compensação. É comum que cabos e marinheiros
concorram a escalas de 1 por 1, sendo liberados, como um favor, ao
meio-dia do dia de sua rendição. Eles cumprem 108 horas semanais,
145% a mais do que permite nossa Constituição, que defendemos
com o sacrifício da própria vida. Durante o serviço nos fins-
de-semana, é comum a prática de detalhar faxinas? A serem
realizadas no tempo vago? Seja lá o que isso for. Durante o dia, o
militar deve se desdobrar em 2 quartos de quatro horas, sendo um
de madrugada, além de cumprir os adestramentos previstos. Nessas
oito horas, ele permanece em geral em pé, no calor do sol e no frio
da madrugada, e, para que não consiga se refazer entre um quarto e
outro, é colocado para tratar conveses, limpar corredores ou soldar
chapas no seu tempo vago. Será que perder o seu descanso semanal
remunerado não é o suficiente, o militar tem que sentir dor o tempo
todo? Nesta Força existe um conceito muito errado de que nossos
40
militares são máquinas que devem produzir em tempo integral e de
que qualquer tempo ocioso, incluído o de descanso, é desperdício.
Os oficiais são obrigados, em geral, a permanecer em pé no
portaló17 durante seu serviço? Desde 06:00h, para fiscalizar(?!) o
quarto d´alva18? Visando basicamente a realização de cerimonial
para visitas de autoridades não-anunciadas e a manutenção do
alerta vermelho máximo para a passagem de lanchas de
almirantes19. Considero isso um desrespeito à minha formação e
capacidade intelectual, uma vez que sou relegado a um mero
soldado de chumbo, enfeitando um portaló, enquanto sou
subaproveitado nas minhas tarefas administrativas.
Cabe às autoridades definirem: o que é mais importante, um
cerimonial que pode vir a acontecer ou a realização das tarefas
administrativas vitais do navio? Sempre achei que tivesse estudado
demais para ter simplesmente a função de ficar em pé por mais de
10 horas seguidas. O oficial de serviço pode sim, muito bem, ficar
volante no navio, e atender situações que realmente façam jus à sua
presença. Quanto ao procedimento das visitas não-anunciadas, já
está na hora das autoridades se conscientizarem de que a máquina
estatal não pode ficar completamente mobilizada simplesmente
aguardando seu repentino aparecimento, de modo a louvá-las e
engrandecê-las(...)Assim como eu chego sem atrasos todo dia, em
um horário definido, gostaria que a licença fosse cumprida desta
mesma forma. O licenciamento não é um favor, muito menos
concessão do comando: é uma obrigação com o militar que já
cumpriu seu expediente diário. Não há como solucionar todos os
problemas da MB em um único dia (e cabe ressaltar que a maior
parte dos nossos problemas são explicitamente gerados pelas
idiossincrasias de nossos oficiais superiores e almirantes, que
desejam governar este órgão como melhor lhes parecer,
satisfazendo suas prioridades pessoais e relevando as da
organização). E se for necessário ficar após o horário, que haja
compensação noutro dia. Além disso, a maior humilhação à qual me

17
Portaria do Navio.
18
Faxina matinal.
19
Quando uma lancha transportando um Almirante passa ao lado do Navio é
tradição cumprimentá-la com toques de apito.
41
sujeitei durante estes mais de quatro anos de oficial foi suplicar,
diariamente, para poder ir embora após cumprir meu
expediente(...)É inadmissível que se exija dos subordinados que se
mascarem notas fiscais a fim de burlar o controle orçamentário que
a própria Marinha idealizou e exportou para a Administração
Pública com tanto orgulho. É desnecessário me aprofundar
neste tema, mas eu alerto a todos que julgam que “os fins justificam
os meios” que a grande quantidade de oficiais descontentes que
foram aprovados como Analistas do TCU e na Polícia Federal
recentemente pode vir a mudar o destino de quem tem grande prazer
em resolver os problemas de bordo a qualquer custo, se achando
acima da lei, ou que pensa que pode se explicar a um magistrado
dizendo que o fez ?em prol do serviço?. Oficiais que desejam fazer o
que julgam correto são mal vistos e retirados de suas funções para
não atrapalharem o “bom” andamento do serviço...

17 - Esse tal de enxoval deve ser superfaturado... Encontrado


em: http://www.militar.com.br. Por: Marines. 24 de fevereiro de
2008 - Todo ano aqui na Vila Militar, tem um tal de enxoval do
recruta em vários , talvez em todos quartéis, o coitado do recruta
tem que adquirir um caneco verde, uma bolsa preta,um talher
articulado, um par de bombachas,uma lata de graxa e um
barbeador, em 2006 isto saiu por 134,00 reais,notei que desde 2003
que vários comerciantes aparecem do nada aqui na Vila Militar
assediando os comandantes , tipo - vc vai fazer enxoval comigo este
ano???aí aparece outro e diz - não o sr. vai fazer enxoval é comigo
não vai Coronel??...acho que esse tal de enxoval deve ser
superfaturado ( eu disse "acho" , para os que tentarem me processar
depois), ora bolas se o Exército quer que o recruta use caneco
verde, ele é que deve comprar e dar ao recruta e não ele pagar do
bolso, assim como a bolsa que tem que ser preta e o talher ( este eu
acho o maior absurdo , o talher é pago pelo recruta) o problema é
que não sei como começar a investigar ou denunciar
esta´prática...onde devo recorrer??? jornal O DIA , O globo ,
MINISTÉRIO PÚBLICO CIVIL OU MILITAR??? NA ALERJ ??
Alguém aí pode me dar uma dica, soube também que em 2003
esse tal de enxoval deu problema no CML e saiu até no O DIA , aqui
42
na Vila Militar teve um Comandante muito esperto que viu algo de
errado nisso e disse para cada recruta comprar os seus ítens (
caneco, talher etc ) no mercadão de madureira e não fechou com
nenhum comerciante, há uma tal de casa VEREJÃO no centro do
Rio que vive de vender este tal de enxoval e emblemas, e por último
uma permissionária aqui da Vila me disse que um desses
comerciantes comprou um apartamento no Recreio dos
Bandeirantes só com o dinheiro de enxoval em 2004...!!!não estou
afirmando que há mutreta ( só prá me precaver ) mas que acho isto
estranho, acho...

18 - Satisfazer o EGO de superiores que acham necessário


"pintar mais um pouquinho" xxx@f.yuyuyuy.com - Por Gustavo
Antonio - 29/01/2006 às 04:29.- Sendo um funcionário de
"dedicação exclusiva", o militar deve estar a disposição da nação
em tempo integral, mas reitera-se aqui, à DISPOSIÇÃO DA
NAÇÃO, e não de superiores sujeitos à variações constantes de
humor, variações estas que refletem imediatamente sobre seus
subordinados, cerceando os seus direitos de ir e vir por motivos
injustificados já que não estamos diante de uma situação de crise
que justifique a convocação dos militares por períodos além
daqueles especificados como expediente normal. Há um mês um
militar foi punido com prisão, em (...), por ter recorrido à justiça
para denunciar falhas na administração militar, (...). A dedicação
exclusiva foi instituída em função da necessidade constitucional de
assegurar a soberania nacional a qualquer momento que se faça
necessário, e não para SATISFAZER o EGO de superiores que
acham necessário "pintar mais um pouquinho", tarefas que
invariavelmente podem ser realizadas no dia seguinte, mas são
encaradas habitualmente como "indispensáveis e urgentes". Esse
costume que tem se tornado rotina, estender o expediente além do
horário determinado, destroça qualquer planejamento atrapalhando
a vida familiar dos militares, isso tem se instituído a ponto de em
alguns quartéis aqueles milicos que saem no horário "normal"
serem advertidos e terem seus conceitos reduzidos. Pode parecer
"coisa pouca" essa discussão por algumas horas a mais no
expediente, mas se trata muito mais do que isso, essa "coisa pouca"
43
recai sobre inúmeros outros fatores relacionados. Esse rol mínimo
de direitos concedidos aos militares jamais poderia estar submetido
a constantes variações de entendimentos e humores de oficiais,
comandantes, diretores e vice-diretores de quartéis. É necessário e
urgente que seja implementado uma regulamentação séria no que
diz respeito estabilidade de garantias aparentemente fúteis, mas
necessárias à estabilidade física e moral dos militares e seus
familiares, e para que esta insatisfação não repercuta
negativamente no cumprimento de suas funções. OS HOMENS
ESTÃO NO LIMITE. As principais reivindicações são:
Cumprimento rigoroso do Horário de início e fim do expediente. ·
Serviço condizente com o grau hierárquico.· Recompensa em horas
de folga como ressarcimento em caso de serviço noturno. (como nas
PMs)· Descrição das situações excepcionais em que se possa
ignorar as regras acima e instituição de um instrumento que
fiscalize contra o desrespeito dos direitos e garantias individuais
dentro das instituições militares. (CORREGEDORIAS).

19 - Dois dramas perseguem os militares desde o início de suas


carreiras... - Artigo EXPEDIENTE ILIMITADO! Citado em
http://hdl.handle.net /1884/14669 - Univ. Fed. do Paraná - (...) Você
acha que nada se fala sobre o assunto? Engano seu, a vida na
caserna é atípica, os comentários são freqüentes, mas não passam
do círculo onde são realizados, por regulamento é proibido
qualquer contestação a ordens superiores, não é seguro que as
reclamações passem das mesas de rancho e alojamentos. Dois
dramas perseguem os militares desde o início das carreiras. Um
deles é o serviço noturno, dia em que terá que pernoitar no quartel
sem receber nenhum adicional remuneratório por isso, e o outro é o
expediente "sem-fim", aquele em que o militar permanece no quartel
muitas vezes até altas horas da noite executando serviços por ordem
de superiores, (...) rotina das organizações militares é definida em
regulamentos ou ordens internas, geralmente das 08 as 16:30 ou
17:00. Para que um militar regresse mais tarde ao quartel é
necessária uma burocracia, pedidos de licença etc. A recíproca não
é verdadeira, para que um militar saia mais tarde do trabalho basta

44
a ordem de um superior, mesmo indo contra regulamentos internos
assinados por comandantes de quartéis (...)

20 - Eu via a Roberta Close e me imaginava sendo como ela...


Antero Gomes. Oficial Sup. da Marinha, de 36 anos, fala pela
primeira vez sobre sua decisão de virar mulher. Publicada em
19/05/2008 às 08:50. RIO - Durante os últimos 24 meses, o capitão-
de-corveta X. de 36 anos, viveu uma crise de identidade dentro do
Corpo de Oficiais da Armada da Marinha. Quando estava de
serviço na Escola Naval, o militar se vestia e tinha postura de
homem. Em casa e entre amigos, X. vivia como mulher. Foi dessa
forma, vestindo elegantemente um short de brim azul, um casaco de
moletom, óculos escuros Dior e uma peruca ruiva que ela - gênero
de tratamento pelo qual pediu para ser tratada pela reportagem -
falou pela primeira vez sobre a polêmica em que se envolveu
recentemente. Há muito tempo atrás, eu via a Roberta Close e me
imaginava sendo como ela. Estou há 21 anos na Marinha, que é
uma instituição muito séria. Quando fiz a opção pela carreira
militar é porque eu gostava, mas pensava, ao mesmo tempo, que, no
internato (Colégio Naval), eu poderia esquecer tudo aquilo (ser
mulher) - disse X., que preferiu não divulgar o seu novo nome. Em
março deste ano, a transexual procurou seus superiores para lhes
informar que estava tomando hormônios femininos há seis meses. E
mais: que pretendia fazer uma cirurgia de redesignação sexual
(mudança de sexo). Foi uma decisão difícil, depois de reprimir por
21 anos o que considera sua verdadeira identidade. "Não consigo
mais suportar o fato de ter que me vestir de homem".(Ver nota20)

20
Surpreendidos ao saber que existe uma alma feminina dentro do Corpo
da Armada da Marinha, cujo quadro de oficiais só permite a entrada de
homens, os comandantes colocaram o militar de licença médica, para
tratamento de saúde. Segundo X., que pediu para ser tratado pelo gênero
feminino, a corporação se baseou no Código Internacional de Doenças
(CID). (Acesso em 27/05/2008, Encontrado em:
http://extra.globo.com/rio/materias/2008/05/20/marinha_pede_dignidad
e_para_oficial_que_assumiu_ser_gay-427465860.asp
45
21 - Na Marinha do Brasil existem certos tipos de câncer com
mortalidade proporcional de 339% maior em relação ao restante
da população. Revista de Saúde Pública - Volume 34 - Número 4 -
Agosto 2000. Encontrado em:
http://biblioteca.universia.net/ficha.do?id=275364 - Resultados
de estudos de mortalidade têm revelado que certos tipos de câncer
são mais comuns em militares do que na população geral. Exemplo
disso são os mesoteliomas, mais freqüentes na Marinha do que na
população geral, e os cânceres de pulmão, cavidade oral, esôfago,
laringe, fígado, cólon, testículo, próstata, cérebro e sistema nervoso,
doença de Hodgkin, leucemias, linfomas não Hodgkin e melanomas
de pele, de maior mortalidade nas demais corporações militares.
Atividades ocupacionais das corporações militares são diferentes do
padrão encontrado na população geral e podem ser a origem de
exposições a carcinógenos confirmados, como o asbestos, solventes
orgânicos, óleos lubrificantes e radiações não ionizantes; ou a
carcinógenos potenciais como as poeiras de metais, fumaças, gases,
diesel, solventes inorgânicos e radiações ionizantes. Além disso, é
possível que exposições sejam de maior intensidade no interior de
navios, onde as dimensões dos ambientes de trabalho são reduzidas
e a ventilação nem sempre é adequada.
A MB, além da responsabilidade da salvaguarda marítima de
portos e costas nacionais, produz armas e munições, equipamentos
bélicos e de navegação e até mesmo medicamentos. Os serviços
desenvolvidos são vários, como a manutenção de instalações de
terra, de navios e seus equipamentos, de atividades de ensino,
administração e assistência médica e social, entre outras. Dados
preliminares mostraram as neoplasias como a segunda causa de
morte, com razão de mortalidade proporcional de 170,4%,
tomando-se a população geral como referente. As razões de
mortalidade proporcional do câncer, ajustadas por idade, apontam
as neoplasias de cérebro (339,3%), linfomas não Hodgkin (152,3%)
e câncer de próstata (135,0%) como as três mais importantes causas
de maior mortalidade por câncer entre os militares em comparação
com a população de referência.

46
22 - Entendo o que dizem neste desabafo sobre serviço na
marinha. Enviada: 09 06 2009, Nome: Verdade. Enc. em:
http://www.militar.com.br/modules.php?name=Forums&file=viewto
pic&t=720. Não sou fuzileiro naval mas pertenci aos quadros da
marinha. Até mesmo como oficial de serviço senti na pele o que os
praças sentem em grau muito superior. Noites e mais noites de
serviço em condições de higiene sub-humanas com mosquitos e
baratas nos rondando. Comidas servidas em sacos plásticos. Nos
dias de calor impossível relaxar quando se tem que acordar a meia-
noite para pegar um serviço de 4 horas até as 4 da madrugada e no
outro dia estar preparado para cumprir o expediente normal.
Acredito que a marinha, dentre as 3 ffaa deveria de alguma forma
rever as normas que regulamentam o serviço (não me recordo pelo
tempo já fora o nome do regulamento - algo como serviço da
armada) e proporcionar aos seus oficiais e praças que tiram serviço
melhores condições.

Blogueiro: dumbo. Outras postagens. DESVIOS E FALCATRUAS


NA Marinha - 09 de Fev. de 2008. Àqueles que acham que o que
dizemos sobre isso (o descaso do governo e o descontentamento da
tropa nos quartéis) é besteria, digo-lhes o seguinte:
Tenho 27 anos de dedicação exclusiva às FFAA (Marinha), fui
promovido ao topo máximo da carreira de um Praça (Suboficial -
como se hoje isso fosse alguma coisa, porque um Praça será sempre
um Praça - subalterno), fui primeiro colocado de turma nos diversos
cursos de carreira que fiz (Especialização e Aperfeiçoamento, bem
como nos diversos cursos expeditos) e o que vejo hoje é que todo o
tempo investido nessa intituição só me serviu para moldar a minha
racionalidade sobre o que vem a ser política corrupta e de
favorecimentos. Ou alguem tem dúvida que muitos foram
promovidos e são beneficiados por conseguirem "puxar mais o saco
de almirantes e comandantes? Conheço alguns que já fizeram várias
movimentações, viagens de ouro, destaques em navios que vão para
o exterior, apenas por uma pequena "troca" de presentinhos.
Quantos não fizeram isso? Alguns aqui falam que as falcatruas não
se instalaram nos quartéis. MENTIRA!!!! Verifiquem nas bases
navais, arsenais, bases de combustíveis, e outras OM como são
47
feitas as falcatruas. Digo isso porque (às minhas custas e não da
instituição) sou formado em nível superior, possuo duas pós-
graduações e estou terminando o meu Mestrado. Portanto, não sou
qualquer tipo de alienado que está apenas “reclamando” apenas
por reclamar. Existem sim, fatos verídicos de desvios de verbas e de
desmandos administrativos dentro das unidades militares, causando
com isso um prejuízo enorme ao erário público. A carta do Ten.
Cardoso coloca à mostra as vísceras do sistema, e o pior de tudo,
existem pessoas (militares) que dizem que ele não pode falar aquilo
tudo porque ele está "cuspindo no prato que comeu". Será que ele
comeu ou se sentiu mal com esse tipo de “comida”? Como muitos
de nós, VERDADEIRAMENTE BRASILEIROS, estamos nos sentindo
mal com todas essas cafajestices que estamos assistindo e que
estamos sendo “alimentados”. Denunciem nesse portal fatos que
envolvam desvios de verbas públicas dentro dos quartéis. Mais até
do que os "cartões corporativos" utilizados para as festinhas dos
Oficiais nas churrascarias de Brasília acompanhados devidamente
de suas esposas, amantes, etc... como está sendo noticiado na
imprensa. Devemos mostrar de fato como acontece a "venda" de
óleo "contaminado" dos navios que vão para reparo e aqueles que
estão com os tanques muito cheios (este é só um exemplo). Acho que
com isso poderemos iniciar uma verdadeira “faxina” de dentro para
fora e não fiquemos apenas nas que ficamos sabendo pelos órgãos
de impresa. Por razões óbvias (por estar na ativa e saber as
conseqüências da divulgação de meu nome) meu nome é Dumbo.
Mas antes de mais nada, sou um VERDADEIRO BRASILEIRO que
ama e luta pela sua pátria. Sucesso à todos nós!!!!

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APÊNDICE III – O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA
PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA e OS MILITARES.

Dispõe o inciso LVII do art. 5o da Constituição Federal de 1988:


"ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória".

Os militares brasileiros são a única categoria profissional não


contemplada com o princípio da presunção de inocência. A partir do
momento que ocorre a acusação formal despenca sobre o militar
uma enxurrada de sanções e limitações ao seu direito de ir e vir.

Regulamento de Promoções de Praças da Marinha: Art. 21. Ficará


impedida de acesso: I - temporariamente, a Praça: (...) b)
denunciada em processo ou submetida a Conselho de Disciplina (...)

Estatuto dos Militares: art. 97, par. 4º “Não será concedida


transferência para a reserva remunerada, a pedido, ao militar que:
a) estiver respondendo a inquérito ou processo em qualquer
jurisdição (...)”

Decide o Desembargador LA.Raposo: Não há violação ao princípio


constitucional da presunção da inocência por parte de legislação
que exclui do quadro de acesso militar denunciado em processo
criminal, desde que o diploma legal preveja ressarcimento em caso
de absolvição. (Encontrado em:
<http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/14328046/agravo-
agv-202042-pe-02020420-tjpe> Acesso em: 08/03/2010

É incontestável que há várias sanções e limitações que recaem


sobre militares arrolados em IPM ou indiciados em processo, porém,
a justiça conclui que havendo previsão de ressarcimento não há
afronta ao princípio da presunção de inocência. Todavia, o
entendimento da Câmara dos Deputados não é o mesmo dos
magistrados, por isso a mesma decidiu solicitar à Presidência da
República alterações no Estatuto dos Militares, lei que data de 1980,
visando adequá-lo a esse princípio básico e aceito em todos os países
democráticos. A Indicação Parlamentar foi motivada por carta
enviada ao congresso por um sargento da Marinha, onde o mesmo
49
explica a insuficiência da “previsão de ressarcimento”, que é usada
para anular a extensão do Princípio da Pres. Inocência aos militares,
narrando ainda alguns dos diversos danos que acometem os militares
“sub júdice”.

(...) Há sempre comentários a título de consolo, "depois você recebe os


atrasados", "é como uma poupança", mas não expressam a realidade,
pode-se perceber facilmente que militares nessa situação jamais
poderão ser plenamente ressarcidos por retroações de antiguidade e
pagamento de salários atrasados. O militar em questão tem três filhos
em idade escolar, essas crianças, ao longo dos oito anos em que o pai
se encontra sub júdice, poderiam ter estudado em escolas melhores,
feito cursos extra-classe, esportes, inglês etc. Porém sua situação
financeira não permite isso. Em vários outros aspectos essas crianças
também são prejudicadas: alimentação, planos de saúde, tratamentos
dentários etc. São prejuízos que se estenderão por toda a sua vida, seja
na sua atuação escolar/profissional, seja na sua saúde. Quando, e se
for concedida tal “reparação”, essas crianças não poderão voltar no
tempo e receber o que lhes deveria ter sido proporcionado - há uma
idade correta para cada tipo de investimento - tanto em saúde quanto
educacional (...). Os militares sub judice, que são colocados na já
mencionada situação de exceção, permanecem concorrendo a escala de
serviço e cumprindo expediente normal nos quartéis, junto com outros
militares para os quais o "tempo não parou". Frequentemente aqueles
que lhes eram diretamente subordinados são promovidos - invertendo a
ordem hierárquica normal (...). Embora esteja claro que
problemas dessa dimensão possam afetar drasticamente a condição
psicológica e o desempenho de qualquer ser humano, tornando-o
irritadiço, distante e desanimado, há uma interessante dualidade de
tratamento, um paradoxo. Se por um lado está sempre presente o
estigma de indiciado, e as já citadas restrições regulamentares, por
outro procede-se como se nada de anormal ocorresse com tais
militares, eles permanecem executando os mesmos tipos de serviços que
executavam anteriormente; sendo-lhes cobrado o mesmo desempenho
daqueles que tem perspectivas normais de carreira. Portam armas em
serviço, participam de operações perigosas, tem subordinados sob seu
comando etc. (Acesso em 19/08/2010, Disponível em:
http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=481863)

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Indicação parlamentar nº 6481/2010, pelo Deputado Marcelo
Itagiba, enviada à Presidência da Republica e ao Ministério da
Defesa visando alterações no Estatuto dos militares para adequá-lo a
CF1988:

Sugere a elaboração de projeto de lei estabelecendo novas regras,


compatíveis com a Constituição Federal, para os militares que estejam
respondendo a Inquérito Policial Militar. Excelentíssimo Senhor
Ministro da Defesa, Nelson Jobim: Por meio da presente Indicação,
sugiro a V.Exa. a adoção de todas as providências cabíveis visando à
elaboração de projeto de lei a ser submetido a essa Casa Legislativa,
ou se for o caso, alterações de normas internas, com vistas a corrigir
uma injustiça que vem prejudicando militares de todas as patentes, pelo
simples fatos de terem sidos arrolados em Inquéritos Penais Militares.
Deveras, tal medida tem por escopo um dos princípios norteadores da
Constituição Federal, qual seja, “ninguém será considerado culpado
até o transito em julgado de sentença penal condenatória”, direito
fundamental, insculpido no inciso LVII, do seu art. 5º. Para melhor
compreensão, do que ora se pretende, tomo a liberdade de transcrever
carta enviada pelo Sr. xxx, ao Comandante da Marinha, que bem
descreve a situação ora posta ao descortino de Vossa Excelência.
Verifica-se que o tema ali tratado vem ao encontro da finalidade
precípua do Ministério da Defesa, criado sob a égide do Governo do
Presidente Fernando Henrique Cardoso, para, dentre outras questões,
ter a sensibilidade e a compreensão sobre a necessidade do
enfrentamento de situações que, aparentemente, são consideradas
dogmas, por vezes intocáveis, pelos Comandantes das Forças Armadas
(...). Isto posto, (...) aguardo as providências que certamente Vossa
Excelência adotará para solucionar a questão trazida a sua colação.
Sala das Sessões, em 16 de junho de 2010. (Acesso em 10/08/2010:
http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=481863 ).

Em Portugal, em decisão contrária do que é comum no Brasil, o


presidente da Associação Nacional de Sargentos foi promovido,
mesmo indiciado em processo na justiça criminal. O Chefe do
Estado Maior da Força Aérea lusa declarou que: “ (...) a morosidade
do referido processo não deve contribuir para, de alguma forma, o
penalizar”. Evidenciando que as Forças armadas lusas marcham em

51
passos rápidos em direção à garantir os princípios de dignidade e
valorização da pessoa humana para os militares daquele país.

A Força Aérea encerrou sexta-feira o processo de "demora na pro-


moção" relativo ao sargento-ajudante Lima Coelho, presidente da
Associação Nacional de Sargentos (ANS), soube ontem o DN. A decisão
- apesar de continuar pendente o processo judicial que justificara a sua
não promoção - faz com que Lima Coelho seja promovido ao posto de
sargento-chefe, com efeitos ao início de 2008 (altura em que abriu a
vaga para a sua promoção). "O militar em causa tem tido um compo-
rtamento disciplinar e profissional digno de realce ao longo dos últimos
dois anos. O desfecho do processo pendente não vai alterar em termos
valorativos a percepção da actual conduta deste militar e a morosidade
do referido processo não deve contribuir para, de alguma forma, o pe-
nalizar", escreveu o chefe do Estado-Maior da Força Aérea (CEMFA),
general Luís Araújo, no despacho de sexta--feira com que encerrou o
caso. O documento do CEMFA revoga o seu próprio despacho de 20 de
Outubro de 2008 que adiou a promoção de Lima Coelho.( Em 20/08/10
http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1370511).

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