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Trabalho de Literatura
Fernando Pessoa
Autopsicografia
O poeta é um fingidor. Não as duas que ele teve,
Finge tão completamente Mas só as que eles não têm.
Que chega a fingir que é dor E assim nas calhas de roda
A dor que severas sente. Gira, a entreter a razão,
E os que lêem o que escreve, Esse comboio de corda
Na dor lida sentem bem, Que se chama coração.
Isto
Dizem que finjo ou minto Sobre outra coisa ainda.
Tudo o que escrevo. Não. Essa coisa que é linda.
Eu simplesmente sinto Por isso escrevo em meio
Com a imaginação. Do que não está ao pé,
Não uso o coração. Livre do meu enleio,
Tudo o que sonho ou passo, Sério do que não é.
O que me falha ou finda, Sentir? Sinta quem lê!
É como que um terraço
No poema, o autor diz que não mente ao escrever, ao contrário do que dizem, ele
simplesmente não usa seu coração, e sim sua imaginação, para sentir; ele racionaliza o
sentimento. O autor compara seus sentimentos a um terraço que está sobre “outra
coisa”, sendo essa a sua imaginação. Ele diz escrever sobre o sentimento, e ser ao
mesmo tempo livre dele, remetendo o leitor a senti-lo de fato.
O eu lírico fala sobre a “pobre velha música”, diz, na primeira estrofe, que não sabe
por que gosta considerando que enche seus olhos de lágrimas. Ele recorda de tê-la
ouvido na infância que por sua vez lembra a música. Na terceira estrofe, diz que quer a
infância de volta; que não sabe se era feliz, mas foi ouvindo a música que lembra ela.
Qualquer música
Qualquer música, ah, qualquer, Um canto que se desgarra...
Logo que me tire da alma Um sonho que nada vejo...
Esta incerteza que quer Qualquer coisa que não vida!
Qualquer impossível calma! Jota, fado, a confusão
Qualquer música- guitarra, Da última dança vivida...
Viola, harmônio, realejo... Que eu não sinta o coração!
No poema o eu lírico se refere à música como algo capaz de fazê-lo sentir, ele pede
“qualquer música” que lhe tire sua incerteza e sua vontade de calma. Ele cita
instrumentos diversos para enfatizar o fato de querer qualquer música que seja. Na
terceira estrofe, diz querer uma música que o faça esquecer-se da vida, uma dança que
não seja confusa como a vivida, algo que o distraia para que não sinta o coração.
No poema, o eu lírico fala sobre uma ceifeira que canta só, suavemente, como um
pássaro, e, apesar de trabalhar arduamente, canta alegre, como se tivesse outras
razões para isso. Ele anseia ser ela, sendo ele, ser conscientemente inconsciente, ser
alegre. Ele ressalta que a vida é tão curta, e a ciência pesa tanto, e assim pede para
que a ceifeira faça de sua alma leve como a dela.
O poema fala sobre viajar e não ter raízes; sobre perder países, ter diferentes culturas
(“ser outro constantemente”). Diz que, ao viajar, ele não se pertence, mas sim àquela
cultura do país em que está; que não quer que a viagem, porém tem a ânsia de
conseguir terminá-la. O eu lírico diz que, ao viajar, nada mais o preocupa além do
sonho da passagem, o resto é só terra e céu.
Liberdade
Ai que prazer Estudar é uma coisa em que está indistinta
Não cumprir um dever, A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Ter um livro para ler
E não o fazer! Quanto é melhor, quando há bruma,
Ler é maçada, Esperar por D. Sebastião,
Estudar é nada. Quer venha ou não!
O sol doira
Sem literatura. Grande é a poesia, a bondade e as
danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
O rio corre, bem ou mal,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Sem edição original.
Só quando, em vez de criar, seca.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
O mais do que isto
Como tem tempo não tem pressa...
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Livros são papéis pintados com tinta. Nem consta que tivesse biblioteca...
No poema, o eu lírico fala sobre a liberdade de se poder fazer o se quer, e não fazer o
que não se quer; de se fazer as coisas, como faz o rio e a brisa, sem pressa. Ele fala
sobre poder apreciar o melhor do mundo, que são as flores, crianças, e até o sol. Fala,
ainda, sobre Jesus, que, apesar de não ter estudado nada, foi grande.