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EVIDÊNCIAS EXPERIMENTAIS DE EVOCAÇÃO DE POTENCIAIS VISUAIS COM ESTÍMULOS

ACIMA DO LIMIAR DE PERCEPÇÃO CONSCIENTE

SÉRGIO G. RAMOS-JÚNIOR¹, DANIEL R. CELINO¹, FÁUZI F. RODOR¹, MOISÉS R. N. RIBEIRO¹, SANDRA M. T.


MÜLLER²

¹Programa de Educação Tutorial - PET, Departamento de Engenharia Elétrica, Universidade Federal do


Espírito Santo - UFES, Av. Fernando Ferrari, 514 - 29075-910, Vitória – ES, Brasil

²Departamento de Engenharia e Ciências Exatas, Universidade Federal do Espírito Santo – UFES, Rua
Humberto de Almeida Francklin, 257 – 29933-415, São Mateus – ES, Brasil

E-mails: sergioramos05@gmail.com, celiricardo@hotmail.com, fauzi.rodor@gmail.com, moises@ele.ufes.br,


sandramuller@ceunes.ufes.br

Abstract Steady state visual evoked potentials (SSVP) in electroencephalograph (EEG) using stimulus under flicker fusion
frequency (FFF) are currently used as a convenient approach for computer-brain interfaces. In this work the possibility of pro-
ducing SSVP for stimulus frequency above the FFF is investigated. Clear evidences for non-conscious perception are present in
our experimental results and their practical implications to both engineering and social issues are duly discussed.

Keywords Flicker, EEG, Computer-brain interfaces, SSVP, consciousness.

Resumo  A resposta cerebral, em regime permanente, a estímulos visuais em freqüências nas quais é possível perceber o efeito
de cintilação em fontes luminosas intermitentes (menores que o limiar de percepção consciente, i.e., de fusão de flicker) é am-
plamente estudada e utilizada em sistemas de interface cérebro-computador. Neste trabalho analisamos a resposta cerebral para
estímulos visuais em freqüências acima desse limiar. A evidente viabilidade da evocação de atividades cerebrais por estímulos
luminosos sem que o indivíduo tenha a percepção da sua presença é demonstrada, e são discutidas as suas implicações tanto para
a engenharia quanto para os aspectos sociais.

Palavras-chave  EEG, Interface Cérebro-computador, Potenciais evocados visuais, limiar de percepção, consciência.

1 Introdução rio de olhar para diferentes fontes luminosas pode


corresponder a diferentes ações, como por exemplo,
no sistema proposto por Müller (2008). Neste caso há
Várias tecnologias atuais baseiam-se em conhe-
a preocupação da seleção de freqüências para não
cimento do funcionamento sistêmico dos sensores
estimular crises epilépticas. O desconforto causado
humanos, em especial tecnologias para a compressão
por um sinal luminoso intermitente é ainda um as-
de informação, como os modernos algoritmos de
sunto que preocupa os pesquisadores da área ICC.
compressão de vídeo que conseguem reduzir a taxa
A proposta inicial desse trabalho é investigar se há
de transmissão sem perda perceptível de qualidade da
resposta cerebral a sinais luminosos em freqüências
imagem dos quadros ou prejuízo da impressão de
maiores que a freqüência de fusão de flicker (i.e.,
movimento contínuo. Dessa forma, é importante para
freqüência na qual um estímulo luminoso intermiten-
a engenharia conhecer não só os princípios mecâni-
te é visto como luz contínua). Mais que isso, entre-
cos da fisiologia, mas também aspectos mais sutis da
tanto, um procedimento criterioso para a obtenção de
psique humana uma vez que os dois campos do co-
dados de EEG de indivíduos saudáveis expostos a
nhecimento, muitas vezes, atuam de forma insepará-
estímulos luminosos de diferentes freqüências pode
vel. Todavia, a motivação não deve ser apenas aper-
ajudar a responder uma questão fundamental sobre o
feiçoar aspectos técnicos e facilitar o desenvolvimen-
papel dos aspectos fisiológicos e psicológicos na
to de sistemas que interagem com seres humanos,
percepção visual humana.
mas também de entender os possíveis impactos que
as soluções tecnológicas possam eventualmente ter O sinal de EEG, no presente experimento, pode ser
sobre seus usuários. visto como um ponto intermediário de medida entre
o estímulo (entrada) e a percepção que o indivíduo
Tomemos os potenciais evocados visuais (PEV). Este
manifesta (saída). A medida do EEG contribui para o
efeito desempenha papel importante nos sistemas de
isolamento entre as limitações fisiológicas e psicoló-
interface cérebro-computador (ICC): fontes lumino-
gicas do sistema de percepção visual. Caso sinais de
sas de diferentes freqüências estimulam atividades de
EEG coerentes com o estimulo visual além da fre-
freqüências semelhantes na região occipital do cére-
qüência de fusão de flicker sejam detectados, estes
bro. Essas ondas podem ser captadas por um apare-
constituiriam forte evidência de que a atividade cere-
lho de eletro encéfalo-grama (EEG) e processadas de
bral não se resume apenas aos estímulos visuais que
modo a controlar diferentes dispositivos. Forma-se
percebemos conscientemente. Nesse contexto, o
assim um sistema de ICC no qual a escolha do usuá-
sistema fisiológico de visão não poderia ser respon-
sabilizado pela “limitação de banda” do sistema de sua preocupação principal nos experimentos era
percepção visual humana, uma vez que o sinal de demonstrar que efeitos de ressonância, obtidas utili-
estímulo pode ser detectado em atividades cerebrais zando-se gatos, estavam presentes também em seres
do indivíduo que não percebe mais que a “compo- humanos. O presente artigo, por outro lado, preocu-
nente média” do estímulo. Seres humanos não con- pa-se em dimensionar o experimento para testar as
seguem distinguir, por exemplo, um sinal luminoso dissonâncias entre a percepção dos voluntários e os
piscando a 70 Hz de outro a 80 Hz, a resposta cons- sinais presentes em suas atividades cerebrais, o que
ciente é a mesma: temos a impressão de um sinal leva-nos a discutir as implicações desses resultados
contínuo, efeito que foi explorado pelos pioneiros em várias áreas, dentre elas a engenharia.
das imagens em movimento nas telas de cinema. Estudos como o de Küller (1998) trazem análises
Há várias implicações de tais resultados para os as- subjetivas e de EEG de indivíduos submetido à ilu-
pectos humanos da engenharia, estes vão desde a minação com lâmpadas fluorescentes. Os voluntários
escolha de freqüência de acionamento de lâmpadas são submetidos a lâmpadas que usam reatores con-
de descarga gasosa às taxas de refresh de monitores vencionais, que apresentam flicker de duas vezes a
de vídeo. O senso comum baseia-se na premissa que freqüência da rede, e a outras com reatores eletrôni-
o ser humano não percebe freqüências acima do cos que trabalham com freqüências mais altas (27
limiar de fusão de flicker, e, portanto, qualquer des- KHz, por exemplo). Sua preocupação, entretanto,
conforto no uso de tais tecnologias no ambiente de ficou restrita aos efeitos sobre as ondas Alfa e não no
trabalho ou mesmo doméstico estaria associado a aparecimento de atividades mensuráveis fora da
aspectos puramente subjetivos. região de percepção visual consciente.
O restante do artigo é organizado da seguinte forma:
a Seção 2 traz uma breve discussão sobre alguns
trabalhos correlatos de forma a contextualizar os 3 Metodologia
resultados apresentados. Na Seção 3 são apresenta-
dos os procedimentos realizados para os testes, o A estrutura física para a obtenção dos dados e a
tratamento e a validação dos dados e dos experimen- sua respectiva forma de tratamento para a obtenção
tos. Os resultados são apresentados e analisados na dos resultados apresentados na Seção 4 são aqui
Seção 4, enquanto as suas possíveis implicações são discutidos.
discutidas na Seção 5.
3.1 Aparato de Estímulo
2 Trabalhos Relacionados Para execução dos testes foi confeccionado um
painel contendo oito light emission diodes (LEDs) da
Um amplo apanhado histórico sobre a compre- cor azul dispostos em duas linhas de quatro elemen-
ensão científica, por abordagens fenomenológicas, do tos, conforme a Fig.1.
efeito da persistência visual é apresentado por Gali-
fret (2006). Seu foco é na questão do desaparecimen-
to do efeito de cintilação que exige uma taxa de ex-
posição de quadros a 48 ou até mesmo 72 quadros
por segundo enquanto a taxa de quadros necessária
para dar a impressão de movimento está na faixa de
24 quadros por segundo. Embora na sua conclusão a
hipótese da “memória da retina” seja descartada, a
sua tese ainda aponta para a limitação do sistema de
percepção, em particular, do sistema de percepção de
brilho, “que não nos permite seguir freqüências al-
tas”.
Müller (2008) demonstra a viabilidade de sistemas
ICC em freqüências específicas, mas ainda dentro da Figura 1 - Posicionamento do voluntário em relação ao aparato de
faixa perceptível conscientemente. Por outro lado estímulo. Modo de aquisição de dados com destaque para os
canais O1, O2 e Oz e para o ponto de referência elétrica.
Herrmann (2001) realiza uma varredura com estímu-
los visuais de 1 a 100 Hz, mas esta é feita com o A forma de acionamento dos LEDs foi feito de modo
objetivo de detecção de possíveis freqüências de que se um determinado LED acendia, os seus subse-
ressonâncias da atividade cerebral. qüentes (horizontal e vertical) se apagavam, manten-
O presente trabalho avança em relação ao trabalho de do a luminosidade constante e criando-se assim um
Galifret (2006) por trazer evidências empíricas facili- estímulo por padrão reverso, como em Odom (2004).
tadas pelo ponto intermediário de medida entre o Os LEDs foram acionados por um sinal com forma
estímulo e a percepção dos voluntários. Tais resulta- de onda quadrada bipolar proveniente de um gerador
dos podem permitir o falseamento da sua hipótese da de sinais com freqüência aferida por um osciloscópio
limitação causada pelo sistema sensorial. Embora digital para maior precisão. Assim, metade dos LEDs
Herrmann (2001) tenha uma base mais ampla de (seguindo o padrão reverso) era acionada enquanto a
voluntários e de gama de freqüências de estímulo,
onda estava no semi-ciclo positivo e a outra metade em que  é o valor corrente da série no tempo,
no semi-ciclo negativo. para o n-ésimo ponto do vetor de dados e  … 
são os coeficientes que devem ser estimados de for-
3.2 Captura dos Dados ma a minimizarmos ℰ. De outro ponto de vista,
O painel foi afixado a uma distância de 1 m dos
são coeficientes de um filtro digital FIR (Finite
olhos do voluntário. Este deveria concentrar a aten- Impulse Response) de ordem M, o qual recebe como
ção fixamente para o painel enquanto os LEDs eram entrada um ruído branco gaussiano com média zero e
acionados conforme um sinal de freqüência determi- variância   e deve selecionar as componentes de
nada. Quatro voluntários saudáveis e devidamente freqüência observada no sinal original . A dis-
informados do propósito do experimento (identifica- tribuição espectral de potência () do EEG pode
dos por suas iniciais D, M, P, S) foram expostos por ser calculada pela Equação (2), Takalo (2005).
dois minutos aos estímulos luminosos criados pelos
LEDs. As freqüências de 8, 17, 24, 41, 52, 67, 71 e 
85 Hz foram escolhidas para excitar os LEDs en- () =  . (2)
quanto o aparelho de EEG captava a atividade cere- 1 + ∑






bral do voluntário. Também foi captada a atividade


cerebral para o repouso (ausência de estímulo) e para A ordem do polinômio que melhor mostrou resulta-
o estímulo CW (Continuous Wave), isto é, à luz con- dos foi a de M=500. A função AR combinada com a
tínua com todos os LEDs acesos. Deve-se destacar função ffplot do software Matlab® foram as ferra-
ainda que os voluntários estavam em sala não isolada mentas de análise e extração dos resultados. Para
e iluminada por luz natural e por lâmpadas fluores- melhor visualização os pontos da curvas dos gráficos
centes alimentadas por uma rede elétrica em 60 Hz são ligados via interpolação spline no software Ori-
(não dispomos da informação se estas estavam liga- gin®.
das a reatores convencionais ou eletrônicos).
O sinal de EEG foi registrado em 12 canais com o 3.4 Validação de Resultados
equipamento BrainNet36 (EMSA – Equipamentos
A forma de detecção das freqüências via modelo
Médicos Ltda.) com freqüência de amostragem de AR foi testada numericamente utilizando-se vetores
600 Hz (16 bits por amostra), banda de passagem 0,1 de dados com diversos sinais periódicos que foram
a 100 Hz. Os potenciais obtidos estão referenciados à identificados corretamente tanto em freqüência quan-
orelha esquerda dos voluntários. Os eletrodos foram
to em amplitude.
colocados diretamente sobre o escalpo, utilizando-se
Um espectro do EEG sem estímulo sempre é tomado
pasta condutiva, conforme protocolos usuais de aqui-
para cada voluntário, este serve de linha de base para
sição de sinais de EEG.
comparação do EEG sob estímulo, uma vez que cada
indivíduo possui EEGs com características particula-
3.3 Tratamento dos Dados res.
Os eletrodos O1, O2 e Oz (padrão do sistema in- Os demais canais de EEG capturados (além dos ca-
ternacional 10-20 estendido, ver Fig. 1) foram sele- nais O1, O2 e Oz) são utilizados como controle para
cionados para análise pois capturam sinais da região verificarmos se os PEVs observados tinham origem
occipital do cérebro, a qual responde aos estímulos de interferência eletromagnética do sinal utilizado
visuais, Müller (2008). Para a detecção dos PEVs, para acionar os LEDs.
optou-se após vários testes, pelo método Auto- Casos com estímulo dentro da faixa consciente tam-
Regressive (AR) no lugar de métodos tradicionais bém foram obtidos como forma de validação dos
como a transformada discreta de Fourier; como em resultados. O limite entre as regiões de percepção
outros trabalhos correlatos que analisam o espectro consciente e não consciente é determinado, para cada
de EEG, e.g., Herrmann (2001). O método AR per- voluntário, pela declaração de perda de percepção
mite a obtenção de um espectro de potência mais entre o regime pulsado e contínuo (CW) dos LEDs
suave e mais fácil de identificar o PEV dentre os do aparato de estímulo. Deve-se destacar o fato desse
demais sinais de atividades cerebrais, ruídos e inter- valor ser variável dependendo do voluntário e do uso
ferências presentes no sinal capturado. de visão periférica ou do foco principal. Curiosamen-
De forma resumida, o método AR assume que cada te, a visão periférica é capaz de perceber estímulos de
valor da série obtida pode ser previsto como uma freqüência mais alta do que a região principal.
soma ponderada dos M valores anteriores da mesma
série, além de um termo de erro ℰ, como repre-
sentado na Equação (1) 4 Resultados

 Dentre os resultados obtidos, aqui são apresenta-


 = 
 −  + ℰ, (1) dos os mais significativos, porém estes não são resul-
tados singulares uma vez que o mesmo padrão foi


notado nos diversos voluntários. Os picos relativos
aos estímulos não foram notados em outros eletrodos
fora da região occipital, descartando, portanto, a
hipótese dos picos de freqüência percebidos nos 10000
Sem Estímulo
EEGs terem contribuição de interferência eletromag-
Estímulo 17 Hz
nética do sinal de acionamento dos LEDs. 1000 PEV 17Hz
O primeiro resultado, apresentado na Fig. 2, tem o
objetivo de delimitar as regiões de percepção consci- a
1 harmônica

2
Magnitude ( µV)
ente e não-consciente do estímulo visual. A figura 100 (34Hz)
mostra ainda duas curvas típicas de um indivíduo (no
caso o voluntário “M”). Na primeira este não está
10
sujeito a estímulos (exceto aos externos ao experi-
mento), enquanto na segunda “M” é submetido a um
sinal luminoso em CW. 1

10000
Região de Transição 0,1
Sem Estímulo
1000 Estímulo CW 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Ondas Alfa (~10Hz)
Frequência (Hz)

Figura 3 - Espectro de potência do voluntário “D” na ausência de


2
Magnitude (µ V)

100 Influência da Rede


Elétrica (60Hz) estímulo e sob estímulo de 17 Hz. Destacam-se na resposta o pico
na freqüência de estímulo e o aparecimento de potencial na pri-
10
meira harmônica da freqüência estimulada.

Além dos sinais presentes na Fig. 2, a Fig. 3 traz um


1 claro pico na freqüência de estímulo, e também, na
freqüência correspondente à primeira harmônica do
Região de Percepção Região de Percepção tom usado como estímulo. Há ainda um pequeno
0,1 não Consciente
Consciente pico próximo à região de 8,5 Hz, que poderia indicar
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 uma sub-harmônica do estímulo. Resultados simila-
Frequência (Hz) res foram obtidos em trabalhos correlatos, e.g., Her-
Figura 2 - Espectro de potência do voluntário “M” na ausência de rmann (2001). Note que tais picos estão ausentes no
estímulo e sob estímulo CW (Constant Wave). Também é indicada resultado obtido para ausência de estímulo. Como
a região de frequências na qual o voluntário declara não distinguir afirmado anteriormente, esse resultado serve ainda de
o estímulo pulsado do estímulo em CW. validação para a forma de medição e identificação de
Nota-se na Fig.2, como esperado, a presença de si- PEVs.
nais oriundos de ondas alfa na região de 10 Hz, Basar Estímulos bem superiores aos valores de freqüência
(1997), assim como a influência dos sinais de 60 Hz nas quais o voluntário “P” declara perceber a oscila-
(seja por interferência eletromagnética da rede elétri- ção dos LEDs do aparato de teste serão apresentados
ca ou por sub-harmônica do flicker da iluminação nas Figs. 4 e 5.
ambiente feita com lâmpadas fluorescentes). Repre- 10000
sentamos por uma faixa hachurada (pois depende do Sem Estímulo
ângulo de visão em relação ao aparato de estímulo) a Estímulo 71 Hz
delimitação entre a faixa de freqüências que o volun- 1000

tário “M” declara não mais perceber diferença entre o


regime pulsado e CW. A similaridade das curvas sem
Magnitude (µ V)2

100
PEV 71Hz
estímulo e sob estímulo CW é bastante clara neste
resultado, evidenciando que não temos PEV para
estímulo CW. Todavia, percebem-se alterações na 10
região das ondas Alfa e em torno de 60 Hz. As cur-
vas que representam a captação de sinais sem estímu-
1
lo servirão ainda para referenciar a identificação dos
PEVs quando o indivíduo for submetido a estímulos
por freqüências dentro e fora da faixa de percepção 0,1
consciente.
Na Fig. 3 o voluntário “D” é submetido a um estímu- 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

lo de 17 Hz para verificarmos o aparecimento de Frequência (Hz)


PEV dentro da região de percepção consciente. O Figura 4 - Espectro de potência do voluntário “P” na ausência de
espectro para o mesmo voluntário quando este não é estímulo e sob estímulo de 71 Hz. No gráfico, é indicada a respos-
submetido a estímulos também é mostrado para fins ta à freqüência fundamental de estímulo.
de comparação. A utilização de PEV nessa faixa de Nos resultados da Fig. 4, o voluntário “P” é submeti-
freqüências perceptíveis já é uso corrente em siste- do a um sinal luminoso pulsante na freqüência de 71
mas ICC, como em Müller (2008). Hz. O resultado do espectro do EEG quando o apara-
to de estímulo estava desligado também é mostrado
para fins comparativos. Um pico de PEV coincidindo 10000
Sem Estímulo
com o valor de estímulo é claramente visível, além
Ondas Alfa (~10Hz) Estímulo CW
de picos secundários na faixa de 85 e 90 Hz. Portan- 1000
to, constata-se que há atividade cerebral correlata ao
estímulo aplicado, porém sem a mínima percepção

2
Magnitude ( µV)
consciente do voluntário que não diferencia mais a 100
situação do estímulo pulsante em 71 Hz da condição
CW. Nota-se ainda que, sob estímulo, o voluntário
10
“P” apresenta um incremento significativo das ativi-
dades cerebrais na região das ondas Alfa em compa-
ração com seu EEG obtido sem estímulo. 1

10000
Sem Estímulo 0,1

Estímulo 85 Hz 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
1000
Frequência (Hz)
2
Magnitude ( µ V)

100
PEV 85Hz Figura 6 - Espectro de potência do voluntário “P” na ausência de
estímulo e sob estimulo CW.
10
Nota-se na Fig. 6 que há uma alteração na resposta
das ondas alfa de maior freqüência, próximo a 12 Hz.
1 Entretanto, essa alteração não é tão significativa na
região abaixo de 10 Hz quanto à provocada pelos
0,1
estímulos em freqüências acima do limiar de percep-
ção vista nos resultados das Figs. 4 e 5. Evidencia-se,
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 assim, que as alterações da resposta na região das
Frequência (Hz) ondas Alfa podem ser provocadas pela natureza dos
Figura 5- Espectro de potência do voluntário “P” na ausência de estímulos acima da freqüência de fusão de flicker
estímulo e sob estímulo de 85 Hz. É destacado o PEV na mesma apresentados ao voluntário “P”.
freqüência do estímulo.

A Fig. 5 apresenta resultados de estímulo em 85 Hz.


5 Implicações dos Resultados
Novamente detecta-se um pico na freqüência de
estímulo comprovando atividades cerebrais relacio-
nadas ao estímulo. Um pico secundário em 90 Hz em Nota-se que os diversos voluntários apresentam
contraste com o espectro do EEG obtido sem estimu- valores de limiares de percepção consciente muito
lar o voluntário também é notório. É interessante próximos na faixa de 45-53 Hz. Todavia, os seus
destacar que também há alterações de atividades na níveis de atividades cerebrais, exceto pelas ondas
região das ondas Alfa, consistente com as alterações Alfa, diferem assim como a forma que respondem
impostas pelo estímulo no experimento de excitação aos estímulos visuais apresentados.
com 71 Hz. Nota-se ainda um pequeno nível de ati- A hipótese ainda amplamente aceita de limitação de
vidades cerebrais em torno de 70 Hz. Portanto, há um freqüência percebida pelo olho humano em função da
processo de aparente acoplamento nas atividades persistência da retina ou de limitação de percepção
cerebrais que produzem freqüências em torno de 70, de brilho, e.g., Galifret (2006), perde força em fun-
85 e 90 Hz. Uma vez que uma delas é estimulada, as ção da clara presença de atividade cerebral coerente
demais vêm à tona; de maneira similar a sistemas com o estímulo apresentado aos voluntários. Os
não-linear acoplados, como sugerido em outro traba- resultados trazem evidências que a informação é
lho que analisou ondas Alfa, Stam (1999). captada pelos sensores ópticos (a retina incluída),
De forma a esclarecer questões relacionadas às alte- transmitidas ao cérebro e este a processa à revelia do
rações das ondas Alfa no voluntário “P” sob estímulo fato do voluntário não estar minimamente ciente de
além da fusão de flicker, a Fig. 6 apresenta a compa- sua presença.
ração de resultados entre o estímulo CW e a situação Embora seja aceito o conceito de que nem toda rea-
sem estímulo. O objetivo é verificar se as alterações ção a estímulos sensoriais é consciente, a estudada
das atividades cerebrais na região de 10 Hz são me- aqui pode estar incluída na classe daquelas que não
ramente resultados do estímulo luminoso. estão confinadas a reações em ato reflexo, mas às
reações que resultam de processamento de informa-
ção e tomada de decisão como a frenagem e a mu-
dança de direção, em milésimos de segundos, de um
motorista prestes a se acidentar, Libet (2005). Portan-
to, o fato de não percebemos uma informação que
chega ao nosso cérebro, o qual realiza o seu proces-
samento, tem amplas implicações que chegariam a
tocar aspectos legais e filosóficos como a existência Agradecimentos
ou não de livre arbítrio, Nørretranders (1998).
Em relação a questões mais pragmáticas relacionadas Ao Programa de Educação Tutorial (SE-
à engenharia, podemos citar pontos como: Su/MEC/CAPES) pelo apoio financeiro, ao Labora-
i) os sistemas de eletrônicos atuais usam LEDs, tório de Automação Inteligente do Programa de Pós-
lâmpadas de descarga gasosa, monitores de compu- Graduação em Eng. Elétrica da UFES pela disponibi-
tadores e TVs que apresentam flicker fora da faixa lização do Equipamento de EEG e aos voluntários
consciente de percepção, porém o cérebro está, na pela participação no experimento.
verdade, constantemente submetido a um estímulo ao
qual responde. Note por exemplo as alterações signi-
ficativas e consistentes que foram observadas nas Referências Bibliográficas
ondas Alfa do voluntário “P” submetido a estímulos
acima da freqüência de fusão de flicker. Por outro Başar, E. et al., 1997, “Alpha Oscilations in Brain
lado, na Fig. 3 o voluntário “D” quando estimulado functioning: an integrative theory”, Int. J.
com 17 Hz não apresenta alterações significativas na Psychophysiol, Vol. 26, pp. 5-29.
atividade na região das ondas Alfa em relação ao Galifret, Y., 2006, “Visual persistence and cinema?”,
repouso. Essa comparação sugere que pode haver Comptes Rendus, Vol.329, pp. 369-385.
ligações dos estímulos não percebidos com aspectos Herrmann, C. S., 2001, “Human EEG responses to
cognitivos e de percepção. Levantamos tais hipóteses 1–100 Hz flicker: resonance phenomena in
uma vez que estas atividades estão ligadas a sinais na visual cortex and their potential correlation to
faixa das ondas Alfa, segundo Başar (1997). cognitive phenomena”. Experimental Brain
ii) mostramos a viabilidade de ICC usando freqüên- Research, Vol.137 pp. 346–353.
cias de estímulo acima do limiar de percepção, os Küller R, Laike T 1998. “The impact of flicker from
quais podem ser mais confortáveis para os seus usuá- fluorescent lighting on well-being, performance
rios. Entretanto técnicas mais elaboradas de detecção and physiological arousal”. Ergonomics 41 (4):
das freqüências de PEV podem ser necessárias em 433–47.
virtude da menor intensidade e dos diversos picos Libet, B., 2005, “Mind Time: The Temporal Factor
secundários que surgem para os estímulos acima de in Conscionusness (Perspectives in Cognitive
60 Hz. Todavia, aspectos relacionados a alterações Neuroscience)”. Harvard University Press
no sistema nervoso, como as levantadas por Küller Müller, S.M.T., et al. 2008, “Estudo de Potenciais
(1998) para o caso da iluminação com lâmpadas Evocados Visuais para Aplicação em uma
fluorescentes, devem ser também considerados. A Cadeira de Rodas Robótica”. XII CBA, Juíz de
possibilidade de excitação indireta, como verificado Fora – MG, Brasil
no voluntário “P”, de freqüências próximas à região Nørretranders, T., 1998, “The User Illusion: Cutting
de 5 Hz pode ser um complicador para usuários pro- Consciousness Down to Size”. Penguin Books
pensos epilepsia foto-sensitiva. Canada.
Odom, J.V., et al., 2004. “Visual evoked potentials
standard”. Documenta ophthalmologica.
6 Conclusões Advances in ophthalmology 108(2):115-123.
Stam, C. J, et al, 1999, “Dynamics of the human
O presente trabalho apresentou resultados expe- alpha rhythm: evidence for non-linearity?”.
rimentais que trazem evidências de atividades cere- Clinical Neurophysiology 110(10):1801-1813.
brais, motivadas por estímulos luminosos, em fre- Takalo, R., 2005. “Tutorial on Univariate
qüências acima das percebidas conscientemente num Autoregressive Spectral Analysis”. The Journal
grupo de quatro voluntários. Usamos como controle of Clinical Monitoring and Computing
o espectro de EEG na ausência de estímulo, assim 19(6):401-410.
como quando os voluntários eram submetidos a um
estímulo CW. Notamos claramente atividades corre-
lacionadas a estímulos além do limiar de fusão de
flicker. Além disso, observamos fenômenos que
sugerem o acoplamento de um grupo de freqüências
características, incluindo as ondas Alfa e abaixo
delas. Isso pode ligar estímulos não perceptíveis a
atividades cognitivas, ou mesmo a estímulo de fre-
qüências que afetam a epilepsia foto-sensitiva. Tra-
balhos futuros terão por objetivo ampliar a base de
voluntários, assim como o detalhamento do processo
de acoplamento de atividades cerebrais para determi-
nados estímulos além das freqüências de estímulo
percebidas pelos voluntários.

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