RESUMO

Palavras-chave: o Poder da Arte; Mark Rothko; Expression- EUAC | ESCOLA UNIVERSITÁRIA DAS ARTES DE COIMBRA
ismo Abstracto; “Campos de Cor”; As Telas Seagram
09 / 09 / 2010
14h 30
Desde sempre a Arte foi usada para efeitos de persuasão, quer DISSERTAÇÃO
como instrumento político, quer como markting, ou simples-
mente como Arte. Ela é um instrumento de poder.
Em toda a história de todos os tempos, passados ou presentes, a
Arte, em todas as suas vertentes, qualquer que seja a sua
expressão, tem modelado a mente humana.
A arte de mostrar imagens que queremos ver, a Arte usada para
contar uma mentira política, a arte de transformar um ditador
sanguinário numa pomba de paz.
A Arte que cria a pomba de paz também cria o símbolo da guerra!
Nos nossos dias a Arte “ganhou asas” com os meios de comunica-
ção social, seja ela no campo da Música, do Teatro, do Cinema, do
Design, da Literatura, da Poesia, da Moda, da Escultura, da Arqui-
tectura, etc.
Aos artistas resta a suprema responsabilidade de direccionar a
Arte para o caminho correcto na existência do Homem.
Um caso
Em 1958 Mark Rothko, o mais solicitado pintor vivo de Nova
Iorque, nessa época, foi contratado para pintar umas telas
destinadas às paredes do restaurante Four Seasons que estava
para ser inaugurado no r/chão do edifício Seagram na Park
Avenue de Manhattan.
Foi um desafio que o pintor aceitou, mas, com muita reserva e só
depois de ouvir os seus pares. A encomenda significava ainda
mais reputação, muito dinheiro e a possibilidade de trabalhar em
muito grandes dimensões.
AS TELAS SEAGRAM
A tarefa era gigantesca e “Manhattan estava a ver”. DE MARK ROTHKO
Passou um ano, e depois de toda uma extenuante produção
artística, Rothko foi fazer uma viagem à Europa. No regresso a E
Nova Iorque, já o restaurante Four Seasons tinha aberto ao
público e Mark foi finalmente conhecer o ambiente físico e social
OS SÍMBOLOS DO PODER DA ARTE
onde iam ser colocadas as suas pinturas. Pelo que viu, Rothko
resolveu que as suas obras nunca iriam ser colocadas naquele
local, e ao abrigo do que lhe permitia o contrato, rescindiu o
JOAQUIM BAPTISTA
mesmo.
A questão que se coloca, e que se pretende expor neste trabalho
é a seguinte:
A Arte venceu Manhattan!
As “Telas Seagram”, são sem dúvida um caso na pintura do século
XX. Um caso em que a Arte se elevou mais alto do que o poder
económico.. O Poder da Arte. MESTRADO EM ARTES PLÁSTICAS
JOAQUIM BAPTISTA
Ao abordarmos o caso das Telas Seagram de Mark Rothko,
e para que se possa perceber o mesmo, propusemo-nos
tentar compreender o que foi a sua infância, a sua educa-
ção e as suas dificuldades, bem com a sua integração social.
Dissecando um pouco estas questões, talvez consigamos
perceber melhor, como é que alguém em meados do
século XX, recusou uma fortuna para defender a sua arte.
Abordamos as dificuldades dos judeus no inicio do século,
os problemas causados pela Grande Depressão da década
de 1930 nos Estados Unidos, a humilhação dos americanos,
obrigados a trabalhar pela sobrevivência com uma
“esmola” do Estado, (o Plano New Deal). É importante para
a percepção do caso das telas Seagram, a influência que
Mark Rothko recebeu da Arte Europeia, a sua própria
ambivalência perante a vida e a Arte, a Escola de Nova
Iorque, e o recurso artístico utilizado pela CIA nos Estados
Unidos, em oposição ao Realismo Social russo, tendo em
conta todo o período da Guerra Fria.
Foi também um factor de capital importância, a definição
de um estilo pictórico que Mark Rothko elevou à “espiritu-
alidade”. É com a “espiritualidade” do seu trabalho que se
começa a compreender a rescisão unilateral de um
contracto milionário de que Mark Rothko foi o protagoni-
sta. Também se entende mais facilmente este caso, quando
percebemos o que estava em causa: o antagonismo de um
homem que cresceu artisticamente com as dificuldades de
sobrevivência em Nova Iorque e a burguesia americana.
Abordamos ainda, embora superficialmente, o conceito de
Arte Instalada, e Rothko como seu pioneiro.
O nosso tema é o poder da Arte e as Telas Seagram de Mark
Rothko, o poder que uma obra teve ao confrontar-se com
as elites de Manhattan, neste contexto abordamos
também o período posterior ao episódio da Seagram, pois
ele também nos dá pistas na percepção do que foi na
realidade a obra de Mark Rothko. É importante saber-se os
efeitos desta contenda e o destino das obras em causa,
bem como os reflexos sociais que o trabalho de Rothko
teve, e ainda tem, na geração dos seus filhos que também
é a nossa.
JOAQUIM BAPTISTA
O objectivo principal deste trabalho, foi tentar consolidar a
ideia de que o Poder da Arte, subordinado ao poder
económico, na maioria das vezes, é um facto incontestável
que cruzou todas as civilizações de todos os tempos e que
continuará a ser um factor mobilizador de ideias e normas
sociais, individuais e colectivas, caracterizadoras do “modus
vivendi”, de forma a que a sociedade concorde em discor-
dar, permitindo uma conveniência informal ao induzir a
acomodação das diferenças, tornando o senso comum
numa via para a caracterização das diferenças respectivas.
Ao dissecarmos a vida pessoal e artística de Mark Rothko,
incluindo as vicissitudes da sua infância, as suas histórias de
vida que a sua apreensão de criança transferiu para a sua
vivência da vida adulta, o viver “in loco” a Grande Depressão
da década de 1930 nos Estados Unidos, o facto de ter de
alterar a identidade para facilitar a sua protecção contra o
anti-semitismo, tornaram Rothko um homem decidido a
viver à procura de um caminho no qual pudesse expressar
a sua individualidade, aquilatando passo a passo as suas
capacidades de interpretar o meio social e artístico que os
Estados Unidos lhe “ofereceram” e de se opor ao mesmo
quando a sua consciência lhe ditava nuances na interpreta-
ção da vida e da Arte.
Rothko elegeu as Artes Plásticas como o caminho da reden-
ção e fonte para a progressiva evolução das emoções senti-
das, não racionalizadas em todo o seu esplendor
prolongado, do encanto, do envolvimento e do arrebata-
mento.
O contacto com a Arte Europeia, o refugio na New York
School, apoiada pela CIA (Agência Central de Inteligência)
nos Estados Unidos com a finalidade de contrapor o
Expressionismo Abstracto com o Social Realismo da União
Soviética em tempo de Guerra-fria, a necessidade de
demarcar o seu “território”, (radicalmente contrário ao
método usado pelos artistas da Action Painting) uma nova
articulação estética essencial nos seus trabalhos ao priori-
zar o espectador como observa Rothko em 1947: “Um
quadro vive de companheirismo, expandindo-se ou
reduzindo-se aos olhos do observador sensível”.
JOAQUIM BAPTISTA