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O COMPORTAMENTO DA REGULAÇÃO PRIMÁRIA EM CENÁRIOS DE BAIXA

HIDRAULICIDADE

Guilherme Domingues de Cerqueira* Paulo Max Maciel Portugal


FURNAS FURNAS

André Fernando Barbon de Oliveira Ramil Carvalho Teixeira


FURNAS FURNAS

RESUMO DO ARTIGO:

Este trabalho tem a finalidade de apresentar uma análise do comportamento da regulação carga-
frequência das unidades geradoras que são despachadas com baixíssimo carregamento para
acumularem água nos reservatórios, enquanto se utilizam usinas térmicas. Nesse período, alguns
grupos geradores são conectados ao Sistema Interligado Nacional (SIN) com valores de geração de
potência ativa pouco acima de zero megawatt, ficando submetidos às variações naturais de carga e
frequência do sistema. Durante período de sobrefrequência, cujo desvio máximo permitido é de um
décimo de Hertz (60,1 Hz), os reguladores de velocidade fecham automaticamente as palhetas de
seus distribuidores, levando o valor da potência ativa para a faixa negativa, ou seja, colocando as
unidades geradoras em motorização (operação com potência reversa).

Em consequência destes despachos em baixa geração, além de algumas unidades geradoras


estarem em faixa proibitiva de operação de suas turbinas, sujeitas às cavitações constantes e
instabilidade mecânica, muitas delas tem entrado na região de motorização (potência reversa) por
regulação primária, extraindo energia da rede elétrica e acumulando potência ativa negativa nos
medidores de faturamento. Além disso, as unidades geradoras motorizadas ficam em risco de
rejeição por trip da função de proteção ANSI 32 (relé direcional de potência ou potência reversa).

Além dos conceitos teóricos relacionados à regulação primária de frequência, são mostrados
nesse artigo eventos reais de motorização, com e sem atuação de proteção, registrados pelo sistema
digital de supervisão e controle (SDSC) e pelos registradores digitais de perturbação (RDPs). Em
complementação das análises teóricas, são realizadas também algumas simulações em um sistema
teste utilizando o programa ANATEM.

Ao final do artigo são recomendadas algumas ações que poderiam evitar o processo de
motorização e suas sérias consequências, como por exemplo, a remoção súbita de várias unidades
geradoras sincronizadas ao SIN, por proteção ANSI 32.

PALAVRAS-CHAVE:

Controle Carga-Frequência, Sobrefrequência, Regulador de Velocidade, Regulação Primária,


Potência Reversa, Motorização, Relé ANSI 32.

*Rua Real Grandeza, 219, Bloco E, sala 110, Botafogo, Rio de Janeiro-RJ, 22281-035
gdc@furnas.com.br
2

O COMPORTAMENTO DA REGULAÇÃO PRIMÁRIA EM CENÁRIOS DE BAIXA


HIDRAULICIDADE

1- INTRODUÇÃO
Em sistemas de potência, as unidades geradoras são os equipamentos capazes de transformar
vários tipos de energia primária em energia elétrica. As cargas correspondem à potência elétrica
demandada pelos consumidores, as quais variam aleatoriamente dentro de intervalos cíclicos diários,
semanais e sazonais. A conexão entre as unidades geradoras e a carga é feita pelo sistema de
transmissão. A potência elétrica deve ser gerada no mesmo instante em que for requerida pela carga.

A frequência elétrica, padronizada em 60 Hz no Sistema Interligado Nacional (SIN), é uma medida


que traduz o balanço de potência ativa do sistema (balanço entre a potência ativa gerada pelos
geradores e a carga do sistema). Se a carga total do sistema diminui e a potência ativa nos geradores
não diminui na mesma proporção, ocorre um excesso de potência que é convertido em energia
cinética para as massas girantes das unidades geradoras, que em consequência sofrem uma
aceleração (aumento da velocidade angular no tempo). Essa aceleração dos geradores resultará em
sobrefrequência (valor acima do nominal ou equilíbrio). Por outro lado, quando as cargas ficam
subitamente maiores do que a potência gerada, os geradores sofrem desaceleração (redução da
velocidade angular no tempo) e o sistema entra em condição de subfrequência. Em (1 é mostrada a
relação entre o torque de aceleração/desaceleração e o efeito na variação da velocidade do gerador.

(1)
onde:

Torque de Aceleração;
Torque Mecânico;
Torque Elétrico;
Velocidade angular do rotor;
Momento de inércia combinado do gerador e turbina;
Tempo;

Em proporções maiores, fenômenos como este acontecem quando ocorrem grandes perturbações
no sistema elétrico tais como a saída súbita de um grande número de geradores, abertura de linhas
de transmissão ou uma grande variação de carga em um intervalo curto de tempo. Para garantir a
segurança da operação é necessário manter uma reserva de potência ativa sincronizada no sistema
que possa ser despachada rapidamente em caso de necessidade. Com a finalidade de trazer de volta
o equilíbrio entre geração e carga, reguladores automáticos de velocidade (de frequência) atuam
diretamente nas máquinas primárias (turbinas), variando a potência mecânica no eixo dos geradores
aumentando ou diminuindo a potência elétrica gerada.

Quando a frequência do sistema aumenta, geradores que estão operando com potência próxima
de zero em regime normal podem sofrer motorização devido à atuação da regulação primária. Essa
operação em motorização pode ocasionar deslocamento axial do grupo gerador, assim como serem
desconectados do sistema devido atuação da proteção ANSI-32, que de uma forma geral são
ajustados pelos fabricantes na faixa de -2% a -5% da potência base do gerador. Além do problema
mecânico no gerador, a medição de faturamento também sofre influência devido à operação
motorizada do gerador com contabilização negativa.

Alguns grupos geradores são dotados com sistemas de rebaixamento que permitem a sua
operação como compensador síncrono. Nesses casos existem equipamentos de ar comprimido que
desafogam a turbina, retirando a água de contato com as pás do rotor.
3

2- AUTORREGULAÇÃO DA CARGA COM A FREQUÊNCIA


Considerando que não há nenhum tipo de ação de regulação automática de velocidade (regulador
travado), o sistema terá uma capacidade de alcançar um novo estado de equilíbrio, devido à
característica de autorregulação da carga com a frequência, explicada pela presença de motores
(carga do tipo P constante). Nesse caso, quando a frequência diminui, há uma diminuição da carga, e
no sentido contrário, quando sobe a frequência, ocorre um aumento da carga [1].

A propriedade de um sistema de potência de chegar a um novo estado de equilíbrio, por si só, é


denominada Regulação Própria do Sistema, e se expressa através do parâmetro D, chamado de
coeficiente de amortecimento da carga, ou damping. Este parâmetro representa a variação da carga
com a frequência. Chamando a demanda de carga ativa do sistema de , e conforme mostrado em
(2, pode ser dito que [1]:


(2)

onde:

Variação da carga do sistema;

Variação da frequência do sistema;

Coeficiente de amortecimento da carga com a frequência;

A Figura 1 apresenta a característica global da variação da carga de um sistema com a


frequência, tendo seus pontos de equilíbrio descritos pelos pontos 1 e 2 (f1 e PD1, f2 e PD2). Vale
ressaltar que esse comportamento apresentado na Figura 1 não considera a atuação dos reguladores
de velocidade dos geradores do sistema de potência (reguladores travados).

Figura 1– Característica da autorregulação - variação da carga (∆PD) com a frequência (∆f).

Em um sistema de potência de grande porte estas variações de carga ∆PD, instante a instante,
atingem valores consideráveis. Por outro lado, os valores de amortecimento da carga (D) são
relativamente baixos, levando a possibilidade de grandes variações de frequência, operacionalmente
inadequadas, reforçando a necessidade do uso de dispositivos automáticos para o controle da carga
4

e frequência, conhecidos como reguladores de velocidade. Vale ressaltar que a característica de


carga mostrada na Figura 1 pode ser válida para um dado período de carga (pesada, por exemplo) e
não ser válida para outro período da mesma jornada de carga diária (por exemplo, leve) [1], pois a
parcela de motores presentes na carga pode variar.

3- REGULAÇÃO PRIMÁRIA
Uma vez que a autorregulação da carga não é suficiente para manter o sistema elétrico em ponto
operativo adequado (de 59,9 a 60,1 Hz) diante das variações naturais da demanda, são instalados
nas turbinas das usinas hidrelétricas reguladores automáticos que mantém a velocidade síncrona dos
grupos geradores através do controle da vazão d’água na turbina. Além disso, podem também
controlar a quantidade de geração de potência ativa (MW). Esta regulação automática exercida pelos
reguladores de velocidade das máquinas frente às variações de frequência do sistema é denominada
de Regulação Primária.

A resolução normativa da ANEEL nº 697, de 16 de dezembro de 2015, define em seu Art. 2º, item
III, o controle primário de frequência como sendo “o controle realizado por meio de reguladores
automáticos de velocidade das unidades geradoras, para limitar a variação da frequência quando da
ocorrência de desequilíbrio entre a carga e a geração”. No Art. 7º, define que “o controle primário de
frequência deverá ser provido por todas as unidades geradoras integrantes do SIN, sem ônus para os
demais agentes e consumidores”.

Para uma divisão de carga estável entre duas ou mais unidades geradoras operando em paralelo,
os reguladores de velocidade devem possuir uma característica de estatismo permanente (R),
também conhecido como droop ou slope, para que não haja “briga de controle” entre os diversos
reguladores automáticos de velocidade que observam a mesma frequência, comum para toda a rede
elétrica em regime permanente.

A característica do estatismo permanente de velocidade pode ser obtida pela adição de uma
malha de realimentação de abertura dos distribuidores (reguladores mecânicos, mais antigos) ou da
medição de potência ativa através de transdutores (reguladores eletro-hidráulicos, mais modernos).

A Figura 2 apresenta a função de transferência no domínio de Laplace da regulação de


velocidade/potência baseada em realimentação de velocidade e abertura do distribuidor.

Figura 2 - Modelo de regulador de velocidade mecânico baseado em realimentação de velocidade e abertura do distribuidor
5

A Figura 3 apresenta a malha de controle da regulação de velocidade/potência baseada em


realimentação de frequência e potência.

Figura 3 - Modelo de regulador eletro-hidráulico baseado em realimentação de frequência e potência ativa

O bloco de realimentação R mostrado na Figura 2 e na Figura 3 relaciona a característica de carga


à de frequência de regime permanente de uma unidade geradora. A razão entre o desvio de
velocidade (∆ ou desvio de frequência (∆ para mudar a posição da válvula de
admissão/gate ∆ ou a potência de saída ∆ é igual a R. Logo, o estatismo R pode ser expresso
por:

∆ ∆
% . 100; (3)

!"# $ ∆ %

&' (
% = )'
.100 (4)
*

onde:

∆ Desvio de velocidade;
∆ Desvio de frequência;
∆ Variação da potência de saída;
+, Velocidade de regime permanente na condição da máquina a vazio;
-, Velocidade de regime permanente na condição da máquina a carga nominal;
% Velocidade nominal da máquina.

O droop ou estatismo R pode ser entendido como sendo o desvio de frequência ou velocidade do
gerador que causa uma mudança de 100 % na sua potência de saída ou na posição do gate. Por
exemplo, um estatismo de 5% significa dizer que um desvio de 5% na frequência ou na velocidade do
gerador causa uma variação de 100% na potência de saída ou na posição do gate.
No sistema elétrico brasileiro, por definição, o estatismo permanente padrão adotado é de 5% na
base do gerador, seguindo o modelo dos EUA. O padrão europeu de estatismo é 4%.
Dois ou mais geradores conectados em paralelo, observando a mesma frequência elétrica da
rede, irão dividir a variação da carga segundo o estatismo de seus respectivos reguladores de
velocidade. A Figura 4 apresenta como exemplo duas unidades geradoras com estatismo diferentes.
6

Figura 4 – Característica ideal de regime permanente de um regulador de velocidade com estatismo

Considerando esses geradores operando inicialmente na frequência nominal % , com suas


respectivas potências de saída P1 e P2, após um aumento da carga no sistema, dado por ∆ , ,
ocorrerá uma redução na velocidade dos grupos geradores e os reguladores de velocidade irão
aumentar suas respectivas potências mecânicas até que as unidades alcancem um novo ponto de
operação, dado por uma frequência em comum dado por ′.

O montante de carga tomado por cada unidade dependerá da sua característica de estatismo e
será definido por:


∆ / (5)
/

∆ 0 (6)
0

∆ / 0
(7)
∆ 0 /

Na análise a seguir, considere um sistema de potência com n geradores, respondendo a uma


variação de carga de acordo com seus estatismos. Assumindo todos os n geradores desse sistema
equivalentados num único gerador, com constante de inércia equivalente Meq igual à soma de todas
as constantes de inércias. Nesse caso, a resposta mecânica de cada turbina individual é somada. Os
efeitos das cargas são concentrados em uma única constante de amortecimento D. A velocidade do
gerador equivalente representa a frequência do sistema, pois em p.u., a frequência e a velocidade
são iguais. Assim, o sistema equivalente apresenta-se conforme a Figura 5 [2].

Figura 5 – Sistema equivalente simplificado para uma análise do controle carga-frequência

A característica entre potência-frequência composta de um sistema de potência com vários


geradores depende do efeito combinado dos estatismos de todos os reguladores de velocidade. Ela
também depende de todos os dampings das cargas do sistema.

O desvio de frequência de regime permanente após uma mudança de carga ΔPL é dado por:
7

∆ , ∆ ,
∆ 11 / / /
(8)
/
2 5 5 ⋯5 95 : =5
34 36 38 3;<

onde

1
> / / /
(9)
5 5 ⋯5
34 36 38

A característica da resposta da frequência do sistema é definida por:

(∆ ' /
? = 5 (10)
∆ @@ 3;<

A característica da resposta da frequência β é normalmente expressa em MW/Hz. Esse termo


também é referido como o “stiffness” do sistema. A característica de regulação do sistema é igual a
1/?.

Os efeitos do estatismo de velocidade do regulador de velocidade e a sensibilidade de frequência


da carga na variação de frequência são ilustrados na Figura 6, a qual considera os efeitos compostos
de todas as unidades geradoras e cargas no sistema. Um aumento da carga do sistema dado por ΔPL
(na frequência nominal) resulta em um aumento da geração total de ΔPG devido à ação do regulador
de velocidade e uma redução da carga total do sistema de ΔPD devido à sensibilidade da carga com a
frequência.

Figura 6 – Resposta composta do sistema considerando a ação do regulador de velocidade e a característica da carga

4- SIMULAÇÕES
As simulações desenvolvidas nesse item têm a finalidade de demonstrar as análises teóricas
abordadas nesse artigo. As simulações foram feitas no programa ANAREDE e ANATEM.

4.1- AUTORREGULAÇÃO DA CARGA


Foram realizadas simulações de retirada de 10% de toda a carga do sistema teste “FCE 3Barras”,
variando o damping total do sistema de 0, 0.5, 1.0, 1.5, 2.0, 2.5 e 3.0 p.u./p.u., considerando o
regulador de velocidade travado. A Figura 7 descreve o caso 1 do sistema teste e a Figura 8
apresenta a comparação de todas as simulações. Os valores das cargas vieram do sistema teste
“IEEE 6Barras” [3], e as gerações foram ajustadas de acordo com as capacidades das usinas
escolhidas para criar o sistema “FCE 3Barras”, quais sejam Marimbondo, Corumbá e Funil.
8

Figura 7–Sistema de três barras usado na análise da autorregulação do sistema

A Tabela 1 mostra uma relação entre a potência total gerada e a carga total do sistema.

Tabela 1 – Valores de despacho dos geradores e carga usados no sistema teste da Figura 7
Geração (MW) Carga (MW)
BUS01_Marimbondo 145 110
BUS02_Corumbá 105 100
BUS03_Funil 50 90
Total (MW) 300 300

A Figura 8 mostra o comportamento da frequência do sistema considerando uma redução total de


carga de 10% para os vários amortecimentos citados.

Figura 8 – Resposta da frequência do sistema teste para uma variação de carga de 10%

Para uma mesma variação de carga no sistema, considerando valores diferentes de damping, a
estabilização da frequência ocorre em diferentes patamares. Quanto maior o valor do damping
aplicado na carga, menor será a variação da frequência em relação ao seu valor de regime. No caso
em que o damping é igual a zero (vermelho) é possível visualizar que o sistema se torna instável para
essa mesma redução de carga, pois não há amortecimento no sistema.

4.2- INFLUÊNCIA DA AUTORREGULAÇÃO NA REGULAÇÃO PRIMÁRIA


Foram realizadas as mesmas simulações do item 4.1, porém com os reguladores de velocidade
ativos utilizando estatismo de regime permanente de 5%. A Figura 9 apresenta a comparação de
todas as simulações com os diversos dampings.
9

Figura 9 – Frequência do sistema para uma variação de carga de -10% com estatismo de 5% em cada máquina

Observa-se que a variação do damping não afeta o erro a frequência em regime permanente,
apenas a dinâmica transitória. Este fato pode ser entendido pela (8) e pelo fato do inverso do
estatismo ser bem maior que o damping em p.u..

4.3- MOTORIZAÇÃO DE UNIDADE COM BAIXA GERAÇÃO


De forma similar ao item 4.2, foram realizadas simulações utilizando o sistema teste
“FCE3Barras”, porém com reajuste dos despachos de geração de forma que a UHE Funil ficasse com
5 MW. A Figura 10 apresenta o diagrama do caso 2 do sistema FCE 3Barras. Realizou-se uma
redução de 10 % da carga em um caso com todas as UGs com estatismo de 5%, e outro caso com os
estatismo da UHE Funil em 10% e o das demais em 5%. O damping nas duas simulações foi de 1,5
p.u./p.u..

Figura 10 - Caso 2 do sistema FCE 3 Barras, com despacho de 5 MW em Funil

A Figura 11 apresenta a comparação entre as frequências, já a Figura 12 e Figura 13 apresentam


a dinâmica dos valores das cargas e das gerações.
10

Figura 11- Frequência da rede – Caso 02, remoção de 10% da carga; D=1,5; R_Funil=5% e 10%;

Figura 12- Carga e Geração – Caso 02, remoção de 10% da carga; D=1,5; R_Funil=5% ;

Figura 13- Carga e Geração – Caso 02, remoção de 10% da carga; D=1,5; R_Funil=10%
11

Pela comparação entre a Figura 12 e Figura 13 observa-se que o aumento do estatismo da UHE
Funil (de 5% para 10%) no sistema teste, tornou-a menos sensível à variação de frequência,
realizando menos regulação primária, movimentando menos sua geração, evitando que entrasse em
faixa de potência reversa. As duas outras máquinas modificaram sua geração por conta disso.

O quadro 5, do submódulo 3.6, dos Procedimentos de Rede do ONS, apresenta a faixa de 2% a


8% para ajuste do estatismo permanente. No entanto, a utilização de uma simples margem de
segurança da geração em relação à posição de zero megawatt já seria suficiente para evitar uma
série de motorizações desnecessárias, resultantes da regulação primária. A Figura 14 ilustra essa
distância que deve ser mantida para possibilitar que a máquina varie sua geração por regulação
primária sem, contudo, entrar em motorização.

Figura 14 - Ilustração da Margem de Segurança para evitar motorizações

Para a definição dessa margem de segurança (M%) podem ser feitas simulações considerando a
variação de frequência de 0,1 Hz, aprovada pela ANEEL, ou um pouco mais, por critério de
segurança, em vários cenários de geração, com quantidades de geradores conectados diferentes e,
portanto, com o estatismo equivalente do SIN variando em cada caso.

Observações feitas pelo sistema supervisório (SDSC) da potência de cada gerador podem apontar
os casos de motorização real com necessidade de aumento da margem de segurança. Para tal, as
medidas analógicas de potência SDSC devem estar escalonadas para medir abaixo de zero
megawatt.

5- REGISTROS DE CASOS REAIS DE MOTORIZAÇÃO


Apresenta-se a seguir análise de registros reais de campo envolvendo motorizações.

5.1- MOTORIZAÇÃO REAL DE GERADORES SEM PROTEÇÃO ANSI 32


A Figura 15 e Figura 16 apresentam oscilografias reais de motorização de unidades geradoras que
ocorreram em uma usina do SIN, durante várias semanas. Cada figura apresenta o registro de um dia
inteiro, com períodos de várias horas de motorização tanto na UG01 quanto na UG03.

Figura 15 – Motorização real em unidades geradoras de uma usina do SIN


12

Figura 16 – Motorização real em unidades geradoras de uma usina do SIN

As unidades geradoras mostradas anteriormente possuem histórico frequente de motorização


pois, em épocas de pouca acumulação nos reservatórios, são solicitadas a operarem com baixa
geração a fim de prestarem suporte de energia reativa, ajudando no controle regional de tensão.
Devido à inexistência de função de proteção ANSI 32, as unidades não se desconectam nessas
ocasiões. Esta usina não possui sistema de rebaixamento para operar como Compensador Síncrono.

5.2- MOTORIZAÇÃO REAL DE GERADORES COM ATUAÇÃO DE PROTEÇÃO ANSI 32


No dia 08/03/2016 houve uma ocorrência de trip de quatro geradores de outra usina do SIN,
ocasionada por um processo de motorização. As unidades geradoras estavam despachadas com
potências muito baixas, e após um distúrbio com corte de carga, e subsequente elevação da
frequência até 60,48 Hz, todas as unidades entraram em motorização, sendo que quatro delas deram
trip por relé de potência reversa, ajustado em -5% da base da máquina.

Figura 17- Registros do sistema SDSC do evento do dia 08/03/2016


13

A Figura 17 apresenta os registros do sistema supervisório e a Figura 18 mostra as oscilografias


do RDP de uma das unidades geradoras, que devido ao fato de ser do tipo “curta duração” apresenta
apenas os últimos milissegundos antes do trip, e alguns milissegundos após.

Figura 18 - Registros do sistema RDP do evento do dia 08/03/2016

6- CONCLUSÕES

Conforme abordado nesse artigo, a operação de geradores síncronos em potência reversa tem
ocorrido com maior frequência devido ao despacho em baixa potência com a meta de aumentar os
armazenamentos de água nos reservatórios nos períodos de maiores restrições hídrica. Essa
operação motorizada é danosa para o grupo gerador causando desgastes nos componentes
mecânicos, extrai energia da rede elétrica que tem que ser fornecida por outros geradores, diminui a
medição de faturamento da usina (MWh), além de trazer um risco implícito de desconexão de várias
máquinas do SIN por proteção direcional de potência (ANSI 32) durante as sobrefrequências.

As simulações no sistema teste validaram a fundamentação teórica apresentada, mostrando


principalmente a influência do estatismo (R), do damping da carga (D) e do ponto operativo na
regulação primária.

Motorizações devido à regulação primária com baixa geração podem ser revertidas desde que se
aumente a referência de potência a ser despachada.

A utilização de uma margem de segurança da geração em relação à posição de zero megawatt


seria suficiente para evitar uma série de motorizações desnecessárias. Para a definição dessa
margem de segurança podem ser feitas simulações considerando a variação de frequência de 0,1 Hz,
aprovada pela ANEEL, ou um pouco mais, por critério de segurança, em vários cenários de geração.
14

A margem de segurança de geração mínima deve ser coordenada com as informações de faixa
operativa, oriundas das curvas de colina (hill chart) das turbinas de cada unidade geradora.

Observações feitas através do SDSC da medição de potência de cada gerador podem apontar os
casos de motorização real com necessidade de aumento da geração e da margem de segurança.
Para tal, as medidas analógicas de potência dos sistemas de supervisão e controle (SDSC) devem
estar escalonadas para medirem valores abaixo de zero megawatt.

As motorizações devem ser anunciadas em tela do SDSC e por alarme, assim que ocorrerem,
para que a operação da usina fique ciente, e possa tomar providências.

O ajuste do relé 32 deve ser temporizado adequadamente, de modo que o trip recorrente de
unidades não dificulte os processos de recomposição (black-start), ao mesmo tempo, deve-se
garantir que unidades não fiquem indefinidamente motorizando, extraindo energia do SIN. e sujeitas a
danos mecânicos . As informações do fabricante são fundamentais em cada projeto.

Toda vez que se sincroniza uma unidade geradora ao SIN, recomenda-se a tomada de alguma
quantidade de carga, evitando que a unidade fique ajustada em zero, ou muito próximo, pois por
regulação primária ela pode motorizar e ser desconectada precocemente por trip. São conhecidas
ocorrências desse tipo, de máquinas que foram conectadas zeradas e motorizaram, evoluindo para
trip, enquanto se aguardava a coordenação da tomada de carga total com o Centro de Operação do
Sistema (COS).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] Xisto Vieira Filho, Operação de Sistema de Potência com Controle Automático de Geração, Rio de
Janeiro, Eletrobrás – Editora Campus, 1984.

[2] P. Kundur, Power System Stability and Control, McGraw-Hill, 1994.

[3] Working Group on Primer Mover and Energy Supply Models for System Dynamic Performance
Studies, "Hydraulic turbine and turbine control models for system dynamics studies", IEEE Trans. on
Power Systems, vol.7, no. 1, February 1992, pp. 167-179.

[4] Apostila de curso da Reivax – Regulação de Geradores Síncronos – Módulo II, Junho 2014.

BIOGRAFIAS DOS AUTORES

GUILHERME DOMINGUES DE CERQUEIRA é engenheiro eletricista, graduado pela Universidade


Federal de Juiz de Fora/MG (2002); pós-graduado em MBA de Gestão Empresarial – FGV (2005) e
pós-graduado em Sistemas Elétricos – CESE Transmissão pela Universidade Federal de Itajubá/MG
(2009). Trabalha desde 2004 em Furnas Centrais Elétricas S/A. Tem experiência na área de
Engenharia Elétrica, com ênfase em Sistemas Elétricos de Potência, atuando principalmente nos
seguintes temas: Estabilidade Dinâmica de Hidrogeradores, Reguladores Automáticos de Tensão e
de Velocidade, Controle Conjunto de Potência e de Tensão, Sinais Adicionais Estabilizadores,
Equipamentos de C.A.G., Características Dinâmicas de Turbinas e sistemas hidráulicos associados e
Identificação de Parâmetros de Geradores.
E-mail: gdc@furnas.com.br
Fone: (21) 2528-3602
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PAULO MAX MACIEL PORTUGAL é engenheiro eletricista, graduado pela Universidade do Estado
do Rio de Janeiro em agosto de 2002, com especialização em Sistemas de Potência. Possui os
títulos de M.Sc. e D.Sc. em Auto Excitação de Geradores Síncronos e Eletrônica de Potência,
respectivamente. Trabalhou na empresa Eletrobras de 2002 até 2015 na área do planejamento dos
sistemas de transmissão. Trabalha atualmente na empresa Furnas desde 2015, atuando na área de
estudos elétricos da operação. Possui experiência nas áreas de sistemas de transmissão, estudos de
estabilidade eletromecânica e eletrônica de potência.
E-mail: pmaxpo@furnas.com.br
Fone: (21) 2528-4698

RAMIL CARVALHO TEIXEIRA é técnico em eletrônica, graduado pela Escola Técnica de Eletrônica
Francisco Moreira da Costa em Santa Rita do Sapucaí em 1981. Trabalha em Furnas Centrais
Elétricas desde 1981 atuando no setor de Controle e Automação de Geradores Elétricos com
equipamentos de Sistemas de Excitação, Reguladores de Velocidade, Compensadores Síncronos e
Estáticos nas funções de modernização, comissionamento e manutenção elétrica e eletrônica, projeto
e aceitação de novos produtos.
E-mail: ramill@furnas.com.br
Fone: (35) 3523-5866

ANDRÉ FERNANDO BARBON DE OLIVEIRA é Engenheiro Civil, graduado pela Fundação de


Ensino Superior de Passos UEMG/FESP em junho de 2011, Técnico em Eletrônica, graduado pela
Escola João Baptista de Lima Figueiredo em dezembro de 1999, Técnico em Eletrotécnica, graduado
pela Escola Estadual de Furnas em julho de 2001 e pós-graduação em Engenharia de Segurança do
Trabalho pela Faculdade Pitágoras em dezembro de 2012. Trabalha em Furnas Centrais Elétricas
desde 2001 atuando no setor de Controle e Automação de Geradores Elétricos com equipamentos de
Sistemas de Excitação, Reguladores de Velocidade, Compensadores Síncronos e Estáticos nas
funções de modernização, comissionamento e manutenção elétrica e eletrônica, projeto e aceitação
de novos produtos. Ministra cursos por Furnas de Sistemas de Excitação e Reguladores de
Velocidade.
E-mail: barbon@furnas.com.br
Fone: (35) 3523-5875

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