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COMUNICAÇÃO SOCIAL
DESDE O PONTO DE VISTA DA
SOCIOLOGIA DO CONHECIMENTO
/ Ensaio de Sociologia /
Por
JACOB (J.) LUMIER
E-Book Monográfico
/Série Ciência e Tecnologia/
Área de Comunicação Social
ISBN nº.
As tecnologias da informação, as sociedades e a perspectivação sociológica do conhecimento.
©2007 Jacob (J.) Lumier
2
Resumen
Para fazer frente aos novos temas e novos desafios à compreensão/ explicação
colocados pela cultura do compartilhamento, e malgrado a orientação concorrente
da filosofia abstrata da mente orgânica, a nova sociologia do conhecimento
oferece à Teoria de Comunicação Social e aos estudos da cognição a noção
operativa diferencial do sistema cognitivo que, acentuando o concreto e a
assimilação das influências do ambiente de conjunto, libera o conhecimento do
seu suposto passado introspectivo e ultrapassa as metodologias introvertidas.
Portanto, o sistema cognitivo do qual nos fala a nova sociologia do
conhecimento revela-se um instrumento de análise e interpretação capaz de
aportar maior precisão ao uso da noção complexa do conhecimento na
reflexão da sociedade de informação e, por esta via, propiciar uma recolocação
mais qualitativa no âmbito da morfologia social para os debates do tema e do
problema das relações entre as tecnologias da informação e as sociedades.
Palavras Chave:
Teoria Sociológica, conhecimento, sistema cognitivo, realidade social, correlações
funcionais, microssociologia, sociedades globais, dialética.
Indicações para
FICHA CATALOGRÁFICA
Internet:
“Leitura da Teoria de Comunicação Social
desde o Ponto de Vista da Sociologia do Conhecimento”
(as tecnologias da informação, as sociedades e
a perspectivação sociológica do conhecimento). doc.”
DÉDICACE
Março/Abril 2006
Jacob Lumier
http://www.auf.org/rubrique1.html
http://www.cifdi.francophonie.org/
http://intif.francophonie.org/
http://www.20mars.francophonie.org/
http://www.francophonie.org/
Ensaio de Sociologia
Por
JACOB (J.) LUMIER
http://www.leiturasjlumierautor.pro.br
AGRADECIMENTO
APRESENTAÇÃO
(*)
Ver os pontos curriculares do autor no final desta obra.
(a)
La Sociedad Internet (Internet Society, ISOC) es una asociación no gubernamental y sin fines de lucro,
la cual está financiada por sus miembros. ISOC es la única organización dedicada exclusivamente al
desarrollo mundial de Internet, con la tarea específica de concentrar sus esfuerzos y acciones en asuntos
particulares sobre Internet; fundada en 1991 por una gran parte de los "arquitectos" pioneros encargados
de su diseño, la ISOC tiene como objetivo principal ser un centro de cooperación y coordinación global
para el desarrollo de protocolos y estándares compatibles para Internet. La ausencia natural de fronteras
nacionales en Internet requiere una perspectiva global para el desarrollo de políticas públicas. Internet
constituye un medio excepcional, debido a que toda información que se publica en la red,
instantáneamente es accesible en todo el mundo, desde cualquier parte y su impacto se percibe
globalmente. A través de sus miembros individuales e institucionales, así como de los Capítulos
Regionales filiales ubicados en 160 países, la Sociedad Internet mantiene una posición de liderazgo que le
permite cumplir con uno de sus principales objetivos: asesorar a gobiernos, empresas privadas,
asociaciones civiles y particulares sobre los diversos impactos de Internet en la sociedad, sean éstos en
los ámbitos políticos, económicos, sociales y éticos. De manera democrática y con la aprobación de sus
miembros, la Sociedad Internet desarrolla, propone y promueve posturas y tendencias relacionadas con
asuntos de especial interés para la comunidad global de Internet como son la privacidad, seguridad,
(b)
Ver Convenção Universal sobre Direito de Autor revista em Paris a 24 de Julho de 1971.
(c )
(Cf. Max Bense: "Uber den Essay und seine Prosa", apud Theodor W. Adorno: "N o t a s d e L i t e r a t u r a ", trad. Manuel
Sacristán, Barcelona, Ed. Ariel, 1962, pp. 28 e 30).
Abril 2006
Jacob Lumier
http://www.leiturasjlumierautor.pro.br
SOB A INFLUÊNCIA DO
IMPRESSIONANTE
DESENVOLVIMENTO DAS
TÉCNICAS DE COMUNICAÇÃO
PASSAMOS, NUM ABRIR E
FECHAR DE OLHOS, PELOS
DIFERENTES TEMPOS E ESCALAS
DE TEMPOS INERENTES ÀS
CIVILIZAÇÕES, NAÇÕES, TIPOS
DE SOCIEDADES E GRUPOS
VARIADOS.
GEORGES GURVITCH – SOCIÓLOGO
(o incentivador da nova sociologia do conhecimento)
Sobre a Multiplicidade dos Tempos
Em 1957
Por
JACOB (J.) LUMIER
ABSTRACT:
A teoria de comunicação social, ao examinar a cultura do compartilhamento
nas redes P2P fluindo no ciberespaço, sugere uma noção tecnológica do
conhecimento. Entretanto, a nova sociologia do conhecimento no século XX,
como disciplina das ciências humanas que examina os sistemas cognitivos,
nos faz relembrar a indispensabilidade do espaço da sociabilidade na
compreensão mesma do termo conhecimento.
(∗)
Sob o título de “Tópicos Para Uma Reflexão Sobre A Teoria De Comunicação Social
(relações entre tecnologias da informação e sociedades)”, uma primeira versão em quinze
páginas -pdf- da pesquisa em curso que me levou ao presente ensaio inteiramente original e
inédito, está publicada em <Sala de Lectura CTS+I; sección Sociedade de Información> da
Organización de Estados Iberoamericanos para la Educación, la Ciencia y la Cultura-OEI,
datada em 09 de Janeiro 2006 http://www.campus-oei.org/salactsi/.
Por
JACOB (J.) LUMIER
CONVENÇÃO
http://www.leiturasjlumierautor.pro.br
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO... pág.: 9
PREFÁCIO... pág.: 21
INTRODUÇÃO... pág.: 26
PRIMEIRA PARTE:
ATUALIDADE DA TEORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
(na trilha da cultura do compartilhamento)... pág.: 29
SEGUNDA PARTE:
O PONTO DE VISTA DA
SOCIOLOGIA DO CONHECIMENTO
(o problema do Coeficiente Existencial do Conhecimento)... pág.: 55
TERCEIRA PARTE:
VISTA SUCINTA DA
SOCIOLOGIA DO CONHECIMENTO TÉCNICO,
DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO E DO CONHECIMENTO
FILOSÓFICO (decompondo os sistemas cognitivos)... pág.: 93
QUARTA PARTE:
LINHAS DE APROFUNDAMENTO NA
SOCIOLOGIA DO CONHECIMENTO - I:
Os Quadros Sociais do Conhecimento... pág.: 119
QUINTA PARTE
LINHAS DE APROFUNDAMENTO NA
SOCIOLOGIA DO CONHECIMENTO – II:
A Multiplicidade dos Tempos Sociais... pág.: 180
SEXTA PARTE
LINHAS DE APROFUNDAMENTO NA
SOCIOLOGIA DO CONHECIMENTO – III:
A Dialética Sociológica... pág.: 220
ANEXO – 01:
A manifestação do problema da multiplicidade dos tempos
ou:
O caso do experimento de Popper e
O fracasso da sua tentativa em refutar a Heisenberg... pág.: 255
ANEXO – 02:
Notas sobre a sociologia do conhecimento
E a análise etnológica das sociedades arcaicas ou:
A relatividade da oposição metodológica do arcaico e do histórico... pág.: 269
ANEXO – 03:
A multiplicidade dos tempos sociais
como critério na apreciação da
Sociologia do realismo literário do século XIX... pág.: 288
Por
Jacob (J.) Lumier
PREFÁCIO
PREFÁCIO
(∗) Elaboramos um índice remissivo de termos e autores que deve ser consultado como
instrumento para esclarecer eventuais imperfeições e dificuldades nessa matéria complexa da
nossa disciplina.
conhecimento, como tal, age como causa sobre os quadros sociais. Por isso a
perspectivação sociológica do conhecimento nada tem a ver em si própria com a
afirmação de que um conhecimento é uma projeção ou um epifenômeno de um
quadro social, ou ainda que é uma superestrutura ideológica. Trata-se, afinal, de
verificar a coerência de um conhecimento; trata-se da procura de correlações
funcionais entre os quadros sociais e o conhecimento; trata-se de um estudo
explicativo que não levanta a questão do condicionamento de uns em relação ao
outro, mas limita-se a verificar seu paralelismo. Sob esse paralelismo posto em
destaque pelas correlações funcionais podem surgir, segundo GURVITCH,
ademais da dependência ao mesmo fenômeno social total, as relações entre o
simbolizado e o simbolizante. Quer dizer, dessa dependência configurando uma
realidade particularmente qualitativa e contingente em mudança decorre que a
afirmação do significado em sua autonomia relativa a respeito do significante -ou
do simbolizado a respeito do simbolizante- seja também a antecipação no
presente de um tempo futuro, seja também “um futuro atual”. Portanto, na
nova sociologia do conhecimento a subjetividade coletiva é reconhecida do ponto
de vista da metodologia como eficaz e levada em conta em nível operativo.
Se o conhecimento não é separado da
mitologia, podemos notar finalmente, em conseqüência, que, para a compreensão
dos sistemas cognitivos, se impõe o estudo do coeficiente existencial do
conhecimento. Por sua vez, nesse estudo do coeficiente existencial do
conhecimento – incluindo os coeficientes humanos (aspectos pragmáticos,
políticos e ideológicos) e os coeficientes sociais (variações nas relações entre
quadros sociais e conhecimento) -- deve-se ter em conta não somente o
reconhecimento da autonomia do significado, mas deve-se acentuar igualmente a
equivalência dos momentos antitéticos (anulação da oposição espiritualismo-
materialismo): a realidade que a sociologia estuda é a condição humana
considerada debaixo de uma luz particular e tornando-se objeto de um método
específico.
Contrariando os que buscam o
determinismo único em sociologia, na maioria das vezes atribuído às infra-
estruturas, neste ensaio seguimos a orientação de G.GURVITCH (1894 – 1965) -
o continuador/renovador dos trabalhos do grupo de Émile DURKHEIM e
Marcel MAUSS - ao chamar a atenção para a evidência de que, sem falsear e sem
desacreditar um conhecimento em sua coerência relativa não se pode afirmar que
seja uma simples projeção ou um epifenômeno da realidade social. Quer dizer,
antes de buscar a aplicação da causalidade, deve-se ter em conta que na sociologia
do conhecimento (nova), a explicação, a formulação de enunciados
determinísticos, não deve nunca na ‘primeira instancia’ ir mais além do
Abril 2006
Jacob Lumier
LEITURA DA
TEORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
DESDE O PONTO DE VISTA DA
SOCIOLOGIA DO CONHECIMENTO
(as tecnologias da informação, as sociedades e
a perspectivação sociológica do conhecimento)
Por
JACOB (J.) LUMIER
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
O estudioso de filosofia conhece bem a fórmula
muito citada para lembrar Spinoza de que não se deve rir nem chorar diante
das situações na realidade. Diz-se que o filósofo pretendeu com isto pôr em
relevo a liberdade intelectual, embora tenha igualmente revelado certo afeto
pelos valores da racionalidade na sua escala formalista dos níveis do
conhecimento, tão bem analisada e mais ainda interpretada pelo insuperável
León BRUNSCHVICG (cf.: 1971). Seja como for, a lembrança de que o
avanço do conhecimento positivo liga-se a uma atitude livre de conceitos
gerais ou sem pré-concepções é uma consideração oportuna quando se tece
algum comentário sobre a reflexão da sociedade de informação. Isso porque
não será difícil ao leitor atento sugestionar, de si para consigo, uma coloração
vistosa, como se contemplasse uma corrente de um pensamento satisfeito em
espelhar-se no esplendor dos recursos inovadores -- na pegada do qual uma
pessoa pode sentir-se estimulada a exercer-se no prolongamento dos
instrumentos das tecnologias da informação e da comunicação. Todavia, um
espanto admirado talvez pudesse afetar o nosso leitor de mirada curiosa caso
se perguntasse pela corrente contrária, a do pensamento insatisfeito. Veria que
para alcançá-la, ou somente buscá-la, já se encontraria em meio aos temas da
reflexão da sociedade de informação, e, dentre estes, não somente aqueles
voltados para configurar a inovação, como os que tratam da descrição e
conceituação do ciberespaço, mas, de uma maneira geral, em meio às relações
entre tecnologias da informação e sociedades. É que, em fato há, via de regra,
algo assim como uma predisposição para internalizar o sentimento do avanço e
da inovação que, a primeira vista, parece empolgar o pensamento iluminando a
sociedade de informação. Nota-se sobretudo a preocupação em enfatizar o
benefício das tecnologias da informação para o maior número. Não que haja
algo de errado com esse tipo de postura pública, mas que, se lembrarmos a
máxima do referido Spinoza, iremos constatar que o filósofo não está sendo
ouvido. “É claro!” - diria um interlocutor satisfeito: “nem houvera porquê
ouví-lo se o assunto é instrumental e não um fim em si mesmo”. Mas aí, nesse
caso, não há reflexão, não há meios de chegar a um pensamento de
compreensão e explicação, e a sociedade de informação não teria outra
realidade que a dos grupos de interesse e das estratégias de investimento
©Jacob Lumier
Por
JACOB (J.) LUMIER
PRIMEIRA PARTE:
1
Em 2001, já encontramos a boa formulação da virtualidade real, seguinte: “La especificidad
de Internet es que constituye la base material y tecnológica de la sociedad red, es la
infraestructura tecnológica y el medio organizativo que permite el desarrollo de una serie de
nuevas formas de relación social que no tienen su origen en Internet, que son fruto de una
serie de cambios históricos pero que no podrían desarrollarse sin Internet. Esa sociedad red es
la sociedad que yo analizo como una sociedad cuya estructura social está construida en torno
a redes de información a partir de la tecnología de información microelectrónica estructurada
en Internet. Pero Internet en ese sentido no es simplemente una tecnología; es el medio de
comunicación que constituye la forma organizativa de nuestras sociedades, es el equivalente a
lo que fue la factoría. Internet es el corazón de un nuevo paradigma sociotécnico que
constituye en realidad la base material de nuestras vidas y de nuestras formas de relación, de
trabajo y de comunicación. Lo que hace Internet es procesar la virtualidad y transformarla en
nuestra realidad, constituyendo la sociedad red, que es la sociedad en que vivimos”. Ver:
Castells,M.:“Internet y la Sociedad Red”, in: ”la factoría – revista cuadrimestral“, Febrero-
Septiembre 2001, nº14-15“ http://www.lafactoriaweb.com (verificado em 19.04.2006).
2 A noção de uma cultura da tecnologia foi posta em relevo, dentre as publicações eletrônicas em
língua espanhola, por Vicente Ortega, numa reflexão proposta a partir do mencionado livro de
Arnold Pacey. Segundo V. Ortega, trata-se ali de promover o conceito moderno de tecnologia, como
“visión multidisciplinar” da qual são aspectos conjugados a comunicação (sem a qual não há cultura),
a tecnologia e a sociedade. As relações entre tecnologias e sociedades dão lugar a um sistema
combinando “tres ámbitos o aspectos: el científico-técnico, el organizacional y el cultural” (Ortega,
2004).
A sociedade da informação é um
aprofundamento na cultura da tecnologia (consagra como foi dito o princípio
da virtualidade real). Todavia é preciso levar em conta que a apreensão do
ciberespaço, base dessa cultura da tecnologia, não se dá indiferentemente aos
conteúdos sociais comunicados, aos temas percebidos (como as próprias
relações entre tecnologias e sociedades), às línguas ou às significações nelas e
por elas apreendidas (as criações e os produtos segregados no ciberespaço,
como virtualidades reais, desdobram-se desses conteúdos, desses temas
percebidos, ainda que se possa observar o surgimento da atividade de
“conteudista de software”, invertendo aparentemente a ordem das funções,
mas consagrando a prioridade e a anterioridade dos conteúdos comunicativos).
A Teoria de Comunicação Social, como discurso da cultura da tecnologia
voltado para apreciar as situações surgidas nas redes de redes, trata seu objeto
(a mensagem, o mediu, a mídia) sem considerar as línguas em que as
informações são comunicadas em texto, nem a determinação que a
particularidade das línguas impõe aos conteúdos ou constitui os conteúdos. Dá
por suposto que a língua dos conteúdos informativos é tão formal ou
indiferente quanto os algoritmos da linguagem tecnológica ou digital que
constitui o medium (software, por ex.). Supõe um monismo da língua nas
informações. Neste sentido, a recolocação do tema e do problema das relações
entre tecnologias e sociedades, acentuando o aspecto da variedade nessas
relações, passa pela discussão sobre a Teoria de Comunicação Social em face
do pluralismo cultural e lingüístico. Note-se que do ponto de vista do
pluralismo há uma relativa autonomia dos conteúdos, sendo legítimo tratar ou
classificar as informações desde o aspecto temático e distinguir assim, por
diferença da sociedade da informação à qual estão ligadas como as suas regiões
diferenciais, as sociedades do saber, nas quais os conteúdos informativos são
realçados nas classificações variadas, em face dos critérios exclusivamente
tecnológicos ou das situações econômicas típicas resultantes das dinâmicas das
redes de redes na Internet.
De
fato, é neste ponto que a Teoria de Comunicação Social encontra o tema que
lhe dá projeção como teoria conjectural. O estudo das redes de redes introduz
na sociedade de informação um quadro diferencial que exige uma apreciação
mais ou menos profunda para ser compreendido. Aos olhos da Teoria de
Comunicação Social os programas peer-to-peer (P2P), como eMule, Gnutella,
eDonkey, BitTorrent e outros tantos permitiram que, de conteúdos
compartilhados nos servidores, a rede se estendesse desde a base dos 340
milhões de computadores ligados à rede (junho de 2005) para os
computadores pessoais dos usuários da rede, ou seja, estendendo o
intercâmbio de conteúdo para outras 910 a 940 milhões de máquinas em uso
(eTForecast, 2005). Trata-se de uma quantidade gigantesca de informação que
flui de forma descentralizada e frenética pela rede (apud Machado, 2005).
No estudo dessa situação da indústria
cultural na sociedade de informação e por efeito desta, a Teoria de
Comunicação Social não só nos oferece (a) - uma descrição da mentalidade no
círculo social dos administradores e usuários das redes de redes, à qual chama
“cultura do compartilhamento”, mas, por esta via, sem esclarecer sobre as
competências próprias às tecnologias, nos deixa ver (b) - uma noção do
de interesses e, cada vez mais, na troca entre particulares – nas redes do tipo
P2P (ibidem Machado, 2005)”.
Na realidade, o que a Teoria de
Comunicação Social quer dizer quando nos fala de um novo paradigma de
construção do conhecimento não é tanto o fato de que as tecnologias da
informação possibilitam que o conhecimento técnico seja construído em seus
conteúdos lógico-numéricos pelas próprias ferramentas tecnológicas, ou que as
tecnologias sejam construídas pelas próprias tecnologias (os computadores
constroem computadores, robôs constroem robôs), mas, simplesmente, que,
ao quebrar-se o elo convencional em torno da função de fazer o
conhecimento/informação/mensagem chegar ao consumidor, a difusão desse
conhecimento, tal como disponibilizado na indústria cultural, passa a sofrer os
efeitos das redes de redes, de tal sorte que “o compartilhamento desse
conhecimento tem sido a base da inovação e da produção de novos
conhecimentos”.
3
Aproveito aqui os comentários de Sara Bizarro que se apóia, dentre outros, em Goodin,
Robert E., Ut il it a ria nis m as a P ubl ic P hil os ophy , Cambridge University Press, 1995, e
sustenta as seguintes conclusões: “nas discussões acerca do utilitarismo muitas vezes ataca-se
exclusivamente a sua versão clássica ignorando o utilitarismo liberal de John Stuart Mill. O
utilitarismo liberal das ações escapa aos paradoxos propostos pelos críticos do utilitarismo [não
conseguiria evitar a ‘veneração das regras’ e deixaria de ser utilitarismo]. O utilitarismo das
regras reduz-se de fato ao utilitarismo das acções, mas o utilitarismo liberal é um utilitarismo
das acções capaz de bloquear os efeitos contra-intuitivos graças a sua vertente liberal”.
© Jacob Lumier
Por
Jacob (J.) Lumier
SEGUNDA PARTE
Tudo o que por ora nos interessa é apenas estabelecer a proposição de que a
sociologia do conhecimento pode nos ensinar a revalorizar a sociabilidade
humana.
mais ideológica que, de toda a evidência, tem a ver com uma redução
imprópria da sociologia do conhecimento à obra de Karl MANNHEIM e às
disputas intelectuais na London School of Economics, da tal sorte que não será de
estranhar se a rejeição a essa disciplina tiver também as cores do conhecido
anti-hegelianismo popperiano. Basta lembrar que, quando POPPER chegou a
Londres, em 1935, permanecendo nove meses na Inglaterra para depois, por
indicação do então diretor da “London School of Economics”, chegar à Nova
Zelândia em Março de 37, onde virá a escrever “ A Sociedade Aberta e Seus
Inimigos”, nutrida de anti-hegelianismo, Karl MANNHEIM, que faleceu em
Londres em 1947, já se havia transferido para essa cidade desde 1933, tendo
lecionado na mesma “ School” e lá editado, em 1936, seu livro “ Ideologia e
Utopia” , inspirado no neo-hegelianismo, cuja edição original em alemão data
de 1929 (cf. Mannheim, 1972).
Com efeito, em relação ao
posicionamento de MANNHEIM nessa obra considerada muito influente nos
Estados Unidos (cf. Gurvitch, 1968: p.161), cabe notar que, embora não
apresente uma análise da teodicéia já tratada no âmbito da sociologia do
conhecimento por Max Weber, (cf. 1971, pp.318 sq, pp.409 sq) comporta um
enfoque neo-espiritualista inteiramente baseado na concepção hegeliana
conservadorista, tomando o saber como instrumento de adaptação do espírito às
situações existentes ao longo da história, como já o mencionamos. O próprio Karl
MANNHEIM afirma nessa mesma obra que a suposta “relação dialética” em
que ”a ordem existente dá surgimento a utopias que, por sua vez, rompem com os laços da
própria ordem existente, deixando-a livre para evoluir em direção à ordem de existência
seguinte”, é uma formulação que “já foi bem enunciada pelo hegeliano Droysen”, cujas
definições MANNHEIM reproduz e subscreve, destacando a sentença de que”
toda a evolução no mundo histórico se processa da seguinte forma: o pensamento, que é a
contrapartida ideal das coisas como estas existem na realidade, se desenvolve como as coisas
deveriam ser...”; na medida em que esses pensamentos “possam elevar as condições ao
nível deles próprios, alargando-se depois e se enrijecendo de acordo com o costume, com o
conservadorismo e a obstinação, uma nova crítica se faz necessária, e assim por diante”
(op.cit.: p.223). Porém MANNHEIM vai mais longe no seu neo-hegelianismo
e, reforçando a concepção conservadorista do saber, consente que “o critério
razoavelmente adequado para a distinção entre o utópico e o ideológico é sua realização:
idéias que posteriormente se mostraram como tendo sido apenas representações distorcidas de
uma ordem social passada ou potencial eram ideológicas, enquanto as que foram
adequadamente realizadas na ordem social posterior eram utopias relativas”.
MANNHEIM entende que “as realidades atualizadas do passado põem um termo ao
conflito de meras opiniões...” sobre o que era utópico e o que era ideológico
(ib.p.228). Então, o problema crítico cultural do espiritualismo ou da teodicéia,
uma visão tão harmoniosa quanto na história universal, e só pode ser alcançada
pelo reconhecimento da existência positiva, na qual esse elemento negativo é
uma nulidade subordinada e vencida” (cf. Hegel, G.W.F.: “Lectures on the
Philosophy ou History”, p.16, apud Cassirer,E.: “O Mito do Estado”, op.cit, p.274;
tradução em Francês: “La Raison dans la Histoire”, Paris, Ed.10/18, cf. 1965
p.67sq). Para CASSIRER, resulta então inegável que Hegel “canoniza o
existente como tal” e tenta justificar a dura e cruel “realidade desprezada”. O
mal não aparece como um fato acidental ou como horrível necessidade: o mal
em Hegel não é apenas “razoável”: é a própria encarnação e atualização da
razão. Não no sentido da razão como imperativo moral, mas a razão que vive
no mundo histórico e que o organiza. No dizer de Hegel, “o mundo real é
como devia ser a razão divina universal”: “o verdadeiro bem não é mera
abstração, mas um princípio vital capaz de se realizar a si próprio”. “A filosofia
deseja descobrir o sentido substancial, o lado real da idéia divina, e justificar a
realidade das coisas, tão desprezada”. Nota CASSIRER, enfatizando sua tese,
que essa harmonização só se compreende se tivermos em mente a tendência
específica da filosofia religiosa de Hegel e da sua filosofia da história. Quer
dizer, se aprofundarmos no já mencionado conflito de Hegel com o dualismo do
pensamento metafísico, que separa o mundo sensível do mundo inteligível. No
estudo dessa “tendência específica”, cabe sublinhar, CASSIRER observa que
Hegel efetivamente fracassou a respeito do mais importante ponto da filosofia
moderna e contemporânea para as ciências humanas e não conseguiu identificar
realidade com existência empírica, sendo esta distinção lógica que se tem em mente
ao falar-se do sistema de Hegel, levando-o, por falta da identificação com a realidade,
a canonizar o existente. Em sua tese sobre Hegel, e como um antípoda do
Dilthey de “Hegel y el Idealismo” (cf. W. Dilthey, 1956: pp.234 sq), CASSIRER
começa por contestar que haja identidade de Hegel com outros pensadores
ditos “monistas”, como Spinoza, no qual, aos olhos do próprio Hegel, o
dualismo se mantém, embora apareça sob nova forma. Se o Deus de Spinoza
não é causa transcendente, mas causa imanente; se Deus e a Natureza são uma
e a mesma coisa, esse Deus é, segundo Hegel, uma unidade sem vida; é o
rígido e abstrato Uno que não admite diferenças, mudança ou variedade,
restando um abismo intransponível entre a ordem do tempo e a ordem da
eternidade: quer dizer, o tempo não tem verdadeira realidade, não é objeto
próprio da filosofia nessa imagem que Hegel se faz de Spinoza. Para Hegel,
nessa leitura de CASSIRER, Spinoza não contestaria a realidade de Deus, não
seria ateísta, mas contestaria a realidade do mundo, seria um “a-cosmita”.
Nesta figura, a Natureza deixa de ter um significado independente, sendo
absorvida pela unidade abstrata de Deus - isto é, pela substância spinozista,
conhecimento – que ele coloca entre aspas – sendo levada ao seu ponto
extremo”. Faz referência ao livro aqui já referido de Peter L.BERGER e
Thomas LUCKMANN, intitulado “A Construção Social da Realidade” – cujo
subtítulo na edição brasileira é “Tratado de Sociologia do Conhecimento” – nos
dizendo que a “linha de pensamento” desses dois autores leva “até seus limites
máximos” a proposição atribuída a SCHUTZ de que “as relações sociais são
concebidas essencialmente como estruturas de conhecimento”. O suposto
“radicalismo” desses dois autores, pelo que podemos ver diretamente em sua
obra, estaria então em que “essa linha de pensamento” está ou estaria em
ligação com sua posição de considerar “as explicações funcionalistas” como
“prestidigitação teórica” e em afirmar que “uma sociologia puramente
estrutural corre endemicamente o perigo de reificar os fenômenos sociais (cf.
Berger, 1978: op.cit. p. 44) – fenômenos sociais estes que os dois autores
mencionados consideram como aspectos desse “espantoso fenômeno” que é a
sociedade, isto é, como parte de um mundo humano, feito pelos homens,
habitado por homens, por sua vez, fazendo os homens” (ib. p.247). Não se vê,
pois, radicalismo algum. Quanto a SCHUTZ, nos é dito que este pensador
“estava interessado na maneira pela qual os pensamentos ganharam uma
faticidade objetiva no mundo”, e, em favor do realismo sociológico, tomava
em consideração que “o mundo não é totalmente reduzido aos pensamentos
existentes na cabeça do homem”. Nos é dito também que esse interesse de
pesquisa é desdobrado: 1) - na constatação de que a reciprocidade de
perspectivas entre as consciências era o fundamento para os processus de
estabelecimento do significado e interpretação do significado; 2) - no
“paradigma” segundo o qual “a atividade (práxis) de construção do
significado”, que produziu “os significados objetivados capazes de retroagir
sobre os sujeitos” como que “de fora”, “perdeu-se para a consciência (alienou-
se)”. E prossegue STUART HALL, citando a seguinte passagem de SARTRE:
“Desse modo, as significações provêm do homem e de seu projeto, mas estão
inscritas em toda a parte, nas coisas e na ordem das coisas. Tudo a todo
instante está sempre significando, e as significações revelam-nos os homens e
as relações entre os homens através das estruturas de nossa sociedade” (Cf.
Sartre, 1960, p.98). Desdobrando tal paradigma, HALL nos diz que, em
SCHUTZ, “as muitas e várias objetivações no mundo correspondem a
diferentes níveis ou camadas da consciência”. Para ele, a realidade estava
estruturada em diferentes regiões, cada uma com sua camada apropriada de
consciência: as múltiplas realidades do jogo, sonho, teatro, teoria, cerimônia e
assim por diante. “Na medida em que se passava de um domínio para outro da
realidade social” (...) se trazia “um modo de consciência para o primeiro plano,
marco, nota que “deveria ser lembrado que HUSSERL e muitos pensadores
ainda mais recentes consideravam uma teoria científica como uma hipótese
científica que foi demonstrada verdadeira”, e que a tese do caráter conjectural
das teorias científicas era ainda vastamente execrada como absurda quando o
próprio Karl POPPER tentou propagá-la nos anos a partir de 1930 (cf.ib.p.348
sq). Em prosseguimento, POPPER expõe, em conexão com o problema da
compreensão histórica, uma tentativa de “ilustrar a superioridade” do seu
método de “reconstruir criticamente situações de problema”, por um lado,
sobre, por outro lado, o método “psicológico” de “reviver intuitivamente
alguma experiência pessoal”, que ele discutirá em cotejo com R.G.
COLLINGWOOD (cf. Collingwood, 1972: pp.343 a 401), mas em crítica
contra Dilthey. Neste marco, podemos observar os dois conjuntos de
argumentos que POPPER aventa para esclarecer sobre o “problema do círculo
hermenêutico” discutido por Dilthey quem, segundo POPPER, o teria feito,
todavia em vista de “livrar-se da subjetividade por temer a arbitrariedade” (cf.
Popper, 1975, op.cit: p.171). Ou seja, esse problema do círculo hermenêutico
teria surgido para Dilthey no marco da “necessidade de transcender as
tendências subjetivistas e céticas em historiografia” (ib.p.352). É o problema de
que “o todo (de um texto, de um livro, da obra de um filósofo, de um período)
só pode ser compreendido se compreendermos as partes constituintes,
enquanto estas partes, por sua vez, só podem ser compreendidas se
compreendermos o todo” (ib.ibidem). POPPER não só sugere haver em
Dilthey um desconhecimento da formulação anterior desse problema por
Bacon, mas destaca ser essa formulação anterior que deve ser levada em conta,
seguinte: “de todas as palavras temos de extrair o sentido de cuja luz cada
palavra isolada deve ser interpretada”; e frisa que 1)- “a palavra ‘interpretada’,
nesta proposição de Bacon, significa ‘lida’, simplesmente”; e 2)- que essa
mesma idéia de transcender as tendências subjetivistas e céticas mediante o
preceito de confrontar o sentido de “todas as palavras” a “cada palavra
isolada” está encontrável em Galileu, lá onde, “a fim de compreender
Aristóteles”, deve-se ter “todos os ditos dele sempre diante da mente”. Mas
não é tudo. Para melhor ilustrar seu método de “reconstruir criticamente
situações de problema”, POPPER retorna a Bacon em vista de avaliar a
distinção entre “interpretatio naturae” e “anticipationis mentis”, confrontando-a
com o uso que dela faz Dilthey. O que POPPER valoriza é que a idéia de
Bacon da pureza do intelecto e de purificar o intelecto significando purgar o
intelecto de preconceitos, equivale a purgá-lo de teorias historiográficas ou
representações de experiências passadas, de “anticipationis mentis”, sendo a estas
últimas assim entendidas que POPPER identificará as tendências subjetivas e
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TERCEIRA PARTE:
infinitas”, para assim justificar a veracidade dos mesmos. Daí sua rivalidade
com o conhecimento perceptivo do mundo exterior, já que ambos são
completamente autônomos, enquanto que, tanto o conhecimento científico
quanto o conhecimento político doutrinário, eram demasiadamente
dependentes do conhecimento filosófico no momento do seu nascimento.
É nas Cidades–Estados antigas que,
segundo a análise gurvitcheana, assistimos pela primeira vez a uma elaboração
consciente de doutrina política que sistematiza as experiências políticas
adquiridas. Os fins fixados e as táticas múltiplas próprias para consegui-los se
encontram ligados a certa tendência filosófica (sem alienar a independência que
garante a especificidade do conhecimento político). A este respeito,
GURVITCH oferece um esquema no qual: (1) - os sofistas são tidos por
individualistas e contractualistas, decididamente democráticos em suas
doutrinas, concordantes neste ponto com (2) - seu principal adversário,
Sócrates, que funda sua defesa da democracia na universalidade da razão
humana; (3) - Platão é tido por amigo de tiranos que exige o poder político
para os filósofos, revelando-se de uma só vez “estatista, totalitário e
reacionário”; (4) - quanto a Aristóteles , GURVITCH o considera mais realista,
busca o “justo meio” e o encontra em um equilíbrio entre a tirania, a
aristocracia e a democracia; (5) - Cícero também é contemplado como o
doutrinário da Roma republicana que, como Aristóteles, também busca
equilíbrios; (6)- finalmente, nota-se que o relativismo cético de Pirro e seus
discípulos poderia ocultar as tendências revolucionárias das massas
descontentes e desiludidas e que (7)- os estóicos de diferentes tendências se
opõem a esse relativismo cético, recorrendo à virtude da submissão às leis em
todas as circunstâncias e seja qual for o regime político (atitude esta que
aparece a GURVITCH como um presságio do cristianismo). Quanto às
formas do conhecimento filosófico, nota-se que as formas racional, conceitual,
adequada, superam suas rivais -respectivamente, as formas mística, empírica, e
simbólica- enquanto as formas positiva e especulativa, coletiva e individual,
tendem a equilibrar-se.
4 cf.”Le Capital” tomo I, 4ªseção, caps.XIV e XV da tradução francesa de 1872, formato “poche”, Paris, GF,
1969.
medida em que se mantém, o Antigo Regime necessita de uma política que não
leva geralmente em conta os grupos de interesse, por privilegiados que sejam,
quer dizer, as disputas políticas e, conseqüentemente, o conhecimento político
das pessoas, são de importância secundária para o absolutismo. Por sua vez,
esses grupos de interesses (os que têm futuro e os mais adiantados e
clarividentes) encontram uma compensação na elaboração das doutrinas
políticas, cujo esquema tirado da análise gurvitcheana é o seguinte: (a) - na
Inglaterra, Thomas Morus (“Utopia”, 1516) e Francis Bacon (“Nova Atlântida”,
inconclusa), durante a Renascença; posteriormente, nos séculos XVII e XVIII,
os escritos de Hobbes e Locke correspondem, nessa análise sociológica, às
aspirações da burguesia ascendente, como quadro social do conhecimento,
que, finalmente, só então triunfará; (b) - na França: os fisiocratas, os
enciclopedistas, Turgot, J.J.Rousseau, terão influência desde o começo e
durante a revolução, e suas doutrinas tratam tanto do fim ideal quanto da tática
a empregar para alcançá-lo, tipificando o conhecimento político formulado ou
elaborado; (c) - na Holanda: o “Tratado Político” (1675-1677) de Spinoza faz
pressentir, sublinha GURVITCH, “certos elementos do pensamento de
Rousseau”. Nota-se que nas doutrinas políticas (e nas ideologias em que se
inspiram), apesar do predomínio da forma racional, “o simbólico, o
especulativo, o conceitual, e o individual são sempre muito acentuados”,
mesmo naquelas doutrinas mais preocupadas pela racionalidade, pelo
empirismo, pela objetividade, pela adequação. Já no conhecimento político
espontâneo, a forma racional se combina à forma empírica, estando igualados
em importância o positivo e o individual.
Quanto à sociologia do conhecimento
de senso comum, aqui, neste tipo de sociedades globais dando à luz o
capitalismo, conhecimento encontrado em penúltimo lugar, está marcado pela
grande multiplicidade dos meios que lhe servem de quadro. Quer dizer, está
consideravelmente confundido pelo seguinte: por um ambiente tão novo e
imprevisto; pelo advento do começo do capitalismo e do maquinismo; pelo
descobrimento do Novo Mundo; pela política absolutista de nivelação dos
interesses; pelo debilitamento da igreja; pela afluência das grandes massas da
população às cidades, etc. Assim, esse conhecimento de senso comum se
encontra disperso em vários meios, seguintes: (a) - entre os cortesãos, os
representantes da nobreza de espada e os da nobreza de toga; (b) - nos
diferentes grupos da burguesia, no novo exército profissional, entre os
marinheiros, etc., ou ainda, entre os operários da fábrica. Seu refúgio será,
então, a vida rural e os círculos restritos da família doméstica conjugal.
GURVITCH nos lembra a observação de Descartes de que o senso comum é
“a mais compartilhada” das faculdades, avaliando que o mestre do
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QUARTA PARTE:
LINHAS DE APROFUNDAMENTO
NA SOCIOLOGIA DO CONHECIMENTO – I
Os Quadros sociais do conhecimento
na Microssociologia e
na Sociologia dos agrupamentos particulares.
esses quadros sociais exercem um envolvimento sobre a produção material e espiritual que se
manifesta no seu seio, domínio esse, por sua vez, que é exatamente o que se prova nas
correlações funcionais.
Na verdade, a projeção de um
determinismo único em sociologia é uma sobrevivência da filosofia da história
que a teoria sociológica de estruturas ou de sociedades históricas só é capaz de
ultrapassar se for precedida do estudo dialético dos determinismos sociais em
sua multiplicidade de tempos. Isto, esse estudo dialético, deve ser feito, como
já dissemos na “Segunda Parte” deste ensaio, a fim de colocar em relevo não só
por sua vez, o estudo “das hierarquias das diferentes manifestações do saber,
quer dizer, o estudo dos sistemas cognitivos“ (ib.p.7).
sei onde, não posso saber onde, e dizer que todo o ponto é um lugar
igualmente provável para o elétron. Esta última afirmação contém, além da
primeira, a garantia de que, se executo um número muito grande de
observações, os resultados serão distribuídos regularmente em todo o espaço.
Tal o caráter todo positivo do conhecimento provável. Além disso, que o
provável tampouco é assimilável ao irreal, nos mostra a noção de uma
“causalidade provável”: o acontecimento que possui a maior probabilidade
matemática acontecerá na natureza com freqüência maior correspondente. O
tempo se encarrega de realizar o provável, de tornar efetiva a probabilidade. E
BACHELARD vai mais longe ainda: “que haja coincidência entre a
probabilidade medida, é talvez a prova mais delicada, mais sutil, mais
convincente da permeabilidade da natureza à razão”. Quer dizer, a realidade
auxiliada pela duração acaba sempre por incorporar o provável ao ser. Seja
como for, “as formas prováveis, os objetos dotados de qualidades hierárquicas
que a ciência moderna nos habituou a manejar, não têm uma permanência
absoluta”. Daí que, prossegue BACHELARD, “o caminho do nosso
aprendizado com a física atual nos leve mais além da ‘física dos sólidos’ e nos
alimente pela instrução que poderíamos receber dos fluidos, das massas, dos
aglomerados”. Será nesse caminho que
BACHELARD entende situar-se com sua análise um nível acima do in-
determinismo de base e, por essa via, nos levar à compreensão psico-
pedagógica do determinismo topológico dos procedimentos gerais, que aceita
ao mesmo tempo as flutuações e as probabilidades. Com efeito, os fenômenos
tomados em sua “indeterminação elementar” podem, portanto, ser compostos
pela probabilidade e desse modo assumir “figuras de conjunto”, sendo sobre
essas figuras que atua a causalidade, como ligação qualitativa subsistente. A
partir deste ponto, a análise que se lê na obra de BACHELARD pauta-se sobre
a apreciação dos postulados de REICHENBACH (“La Philosophie Scientifique”,
1932), quem tivera indicado as “relações exatas” da idéia de causa e da idéia de
probabilidade, a partir da compreensão de que, nas leis deterministas ou
predizíveis, estamos na impossibilidade de levar em conta todos os fatores
variáveis que intervenham; se, contudo, podemos fazer excelentes previsões,
devemo-lo à noção de probabilidade, que exprime uma lei para os fatores não
considerados no cálculo. Em resumo: pode haver convergência da experiência
com o determinismo (admitindo-se em pensamento todas as condições
variáveis do fenômeno), mas “definir o determinismo de outro modo que
como uma perspectiva convergente de probabilidade é cometer um erro
insigne”. Neste ponto, BACHELARD elabora, em sua obra, sobre a assertiva
de REINCHENBACH, segundo a qual “coisa alguma prova a-priori que a
probabilidade de toda a espécie de fenômeno tenha necessariamente uma
realista é cada vez mais móvel; uma mudança bem escolhida do sistema de
referência suprime a gravitação, confirmando que as revoluções frutuosas do
pensamento científico são crises que obrigam a uma “reclassificação profunda
do realismo” (ib.p.315).
controles sociais, pelo direito, pela moral, pelo conhecimento, etc., não são
diferenciados, entre outros critérios. Segundo GURVITCH, na segunda
metade do século XX, nas sociedades mais desenvolvidas, nota-se que esse
movimento para uma estruturação acontece com o grupo de pessoas idosas, e
acontece também, por um lado, com os estratos de técnicos, peritos, diretores,
e, por outro lado, com os estratos de funcionários, empregados,
intermediários. Este autor sustenta, contra a tese que pretende separar análise
estrutural e análise dita histórica, que o procedimento de apreciar em um só
conjunto e contrapor grupo e estrutura na análise sociológica é válido, não só
para agrupamentos de grande envergadura , como os acima considerados, mas
para os agrupamentos particulares funcionais, já que: 1) - não pode deixar de
haver certa semelhança entre grupo e estrutura, sendo característica de todos
os agrupamentos o fato de serem estruturáveis, como já mencionado; ademais,
a possibilidade de uma estrutura não se confunde, e não é nem estruturação,
nem estrutura adquirida; 2) - num grupo não-estruturado, as relações com os
outros grupos e com a sociedade global ficam fluidas; 3) - é somente quando
começa a estruturação que essas relações se tornam precisas, quer dizer, que se
coloca toda uma série de questões a propósito de como o grupo se integra na
sociedade global e da medida da sua tensão com os outros grupos; 4) - por
isso, assinala GURVITCH, os mesmos grupos específicos podem adquirir
estruturas variadas em função da sua integração nos diversos tipos de
sociedades globais, como o grupo familiar, que ora é família doméstica, ora é
família conjugal, ora é família-lar; como, igualmente, o grupo profissional, que
ora aparece fazendo parte da família doméstica, ora identificado a uma
confraria mágica, ora fazendo um todo com uma casta, ora tomando o caráter
de uma associação voluntária, etc.; 5) - por fim, é indiscutível que um grupo
não-estruturado em um tipo de sociedade global, como é o caso das indústrias,
o dos consumidores, ou, ainda, o dos estratos tecnocráticos, em regime de
capitalismo concorrencial, pode vir a estruturar-se muito fortemente noutros
tipos de sociedades globais, como é ainda o caso dos grupos mencionado uma
vez postos sob o regime do capitalismo dirigista.
aquele que viola as leis e aqueles que conseguem não entrar nunca em conflito
com qualquer norma jurídica (ib.p.194). Vemos então que a objeção contra o
uso da filosofia social no âmbito da sociologia sobressai na “teoria da coação”
ao tratar-se, nesta, o tema da realização da justiça por fora da sociologia do
Direito e da metodologia inspirada na dialética sociológica. Tal proceder reduz
a justiça à força, pelo que retorna às proposições do mecanicismo do século
XVIII, seguinte: “deve haver coação para garantir um mínimo vital possível de
coerência” (ib.p.149). DAHRENDORF não leva em consideração de eficácia a
objeção procedente que ele mesmo se coloca ante a pergunta da filosofia social
consistente em saber “como a sociedade é possível”, objeção operativa tal que
afirma não ser necessária resposta alguma, pois, no dizer acertado desse autor,
“dificilmente alguma resposta poderia ser comprovada” (ib.p.155). Mesmo
admitindo que a mudança tem uma dimensão microscópica (ib.p.148), esse
autor, malgrado ele, nos deixa ver com clareza que a filosofia social inviabiliza
o aprofundamento da microssociologia por estar amarrada a preocupações
“axiomáticas” sobre “a grande força” que supostamente acarreta a mudança.
Desse modo o conflito social dos grupos de interesse deixa de ser um aspecto
da realidade social para se tornar “a grande força” mistificada da filosofia
social. Daí a contradição da filosofia social ao propor que a consciência dos
problemas não é apenas um meio de evitar a deformação da realidade por uma
preconcepção (“biais ideológico”), mas é sobretudo uma condição
indispensável do progresso em qualquer disciplina da investigação humana
(ib.p.144). Contradição porque a busca de uma axiomática a que serve a
filosofia social é dogmatismo -no sentido em que se fala de dogmas jurídicos
ou religiosos- e o dogmatismo exclui o progresso científico. Toda a preocupação da
filosofia social, no dizer de DAHRENDORF, “é estabelecer o elo perdido
entre a sanção do comportamento individual e a desigualdade das posições
sociais” (ib.p.193), “elo perdido” este que a filosofia social encontra como
contido na noção de “norma social”, a saber: “as expectativas de papéis são
apenas normas sociais concretizadas” ou “instituições”. De mais a mais, nos é
dito que é útil reduzir a estratificação social à existência de normas sociais
reforçadas por sanções, já que essa explicação demonstraria a “natureza
derivativa” dos problemas da desigualdade (ib.p.196). Por sua vez, essa
derivação teria a vantagem de reconduzir a pressupostos -tais como a
existência de normas e a necessidade de sanções- que “podem ser considerados
como axiomáticos”, isto é, que dispensariam uma análise maior! (ib.p.196). Com
poucas palavras: porque há normas e porque as sanções são necessárias para
impor conformidade à conduta humana (diferenciação avaliadora), tem que
haver desigualdade de classes entre os homens (ib.ibidem). Para encurtar, nota-
topo
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QUINTA PARTE
LINHAS DE APROFUNDAMENTO
NA SOCIOLOGIA DO CONHECIMENTO – II:
A Multiplicidade dos Tempos Sociais
Epígrafe:
O p r o b le m a d a m u l ti p l i c i d a de do s t em p o s s o c i a i s é co ns i de r a d o “ um
d o s p r o b lem a s c e nt r a i s d es s e no v o r a m o d a s o c i o l o gi a q u e s e c h a m a
s ociologia do conhecimento” (cf.Gurvitch, ”A Vocação...”, v o l.II,
o p .c it , p .369 ) . É a q ue s tã o da “ va ri ed a de das m an e i ras d e ap re e nde r,
d e p er c e b er, d e s i m bo l i za r , e de c o n h e ce r o t em p o n o s di f e r ent e s
qua dros soci ais ” , com os quais es tã o em co rrela çõ es funcio na is a s
d i f e r e nt es c l ass es d e c o n he c im en t o . N ão s e t r a ta , p or t a n to , d e u m
p r o b l ema art i f i ci a l , ma s d e a v a nç a r n a r e f le x ã o d e um a s i tu a ção d e
f a t os co m gra n d e im pac t o n o s é cul o X X , a s ab e r : a s i t uaç ã o d e qu e ,
dar a conhecer ao mundo e para fundar a Ciência”. Desta forma, fica excluída
em BERGSON qualquer identidade de conteúdo entre “Religião Estática” e
Magia, restando entre elas somente uma analogia de atitudes, a qual, todavia,
considerada improvável, GURVITCH contestará com firmeza, afirmando a
distinção já mencionada entre “angústia” e “receio-medo”, isto é: a diferença
entre a consolação pela esperança da graça e da salvação, por um lado, e, por
outro lado, a consolação pela confiança posta nas próprias forças do sujeito-
agente. A concepção de BERGSON de que, na Magia-Maná se trata apenas
de desejos e não de vontade, termos estes afirmados em oposição um ao outro,
é contestada, desde o ponto de vista da análise, sob o argumento de que, sendo
o desejo uma tendência expressa na Magia, a vontade, por sua vez, mais não é
do que a mesma tendência acompanhada da consciência: o desejo e a vontade
não podem ser postos em oposição porque não passam de graus do mesmo
processo de realização, existindo entre eles uma gradação de intermediários.
GURVITCH contestará igualmente a descrição mesma da função consoladora,
descrição esta que, em BERGSON, é fundada na oposição entre instintos
sociais, inteligência e intuição mística, oposição metodológica esta contestável,
já que “o conceito de instinto se encontra cada vez mais excluído da psicologia
social, onde causou bastantes danos”. Por contra, em sociologia, não se
verifica a vida social, a sociabilidade, em termos de instintos, mas, antes, como
projeções de atos coletivos -cujas configurações são as atitudes- de tal sorte que os
grupos sociais reais são penetrados por esses atos coletivos, os quais são
apreendidos nos estados conscientes, emotivos, voluntários e intelectuais.
Quer dizer, as intuições coletivas de diferentes espécies em que esses atos são apreendidos
estão virtualmente presentes em qualquer manifestação da mentalidade coletiva.
movimento, sendo nesta última que, como vimos, está imbricada a escala dos
níveis da realidade, pelo que tal tensão-movimento é constitutiva e afirmada na
esfera intermediária de compromisso entre o puramente qualitativo e a
quantidade, entre a liberdade plena e a necessidade imposta. Quer dizer, atento
à criação coletiva, sobretudo às significações humanas penetrando a morfologia da
sociedade, GURVITCH nos diz que a extensão concreta é desprovida da capacidade de
prolongar o seu passado no presente – capacidade esta de que dispõe tanto o espaço
homogêneo da consciência quanto a “tensão movimento” do ser. Desta sorte,
em sua variedade, essas extensões - definidas como concretas por se
manifestarem em durações - correspondem “às realidades flexíveis que
comportam graus”, existentes com relativa independência da tomada de consciência.
Será, pois, com base nessas extensões concretas, nessas realidades existentes
dos tempos múltiplos - os tempos qualitativo-quantitativos, heterogêneo-
homogêneos, contínuo-descontínuos de diferentes gêneros (GURVITCH
distinguirá oito gêneros de tempos sociais nos quais se contrapõem os
determinismos e a liberdade humana) - que se viabiliza o acordo entre ciência
e consciência, realizando a condição de que, para esse acordo em fatos, a
consciência seja considerada nos seus atos mais imediatos e a ciência nas suas
“aspirações mais longínquas”, isto é, a ciência como criação espiritual,
pensadas, ambas, ciência e consciência, para além do tempo espacializado e
quantificado. Quer dizer, o acordo entre ciência e consciência, constituído em
realidades de determinismos e liberdade, se fará sobre a base do tempo próprio
a cada domínio do real, e do tempo próprio a cada ciência particular, várias
ciências podendo estudar o mesmo domínio, confirmando, nessas realidades
flexíveis que comportam graus, as ligações entre os graus de espessura da
duração e a pluralidade dos tempos-espaços e dos espaços-tempos
dependentes dos quadros de referência escolhidos pelo observador -
pluralidade esta que, nos lembra GURVITCH, EINSTEIN porá em foco, por
sua vez, ensinando que o tempo da macrofísica não corresponde ao tempo da
microfísica, etc. (ver Anexo s/ o fracasso da hipótese de POPPER em
refutação das equações de HEISENBERG).
A física quântica revelou as realidades dos vários tempos nos tempos, revelou
as durações descontínuas, consolidando o “pluralismo temporal” introduzido
com a relatividade e superando a aceitação da continuidade (as relações
homogêneas) como característica evidente. Os vários tempos na física servem
de base, então, a diferentes relações. Tal o caminho da multiplicidade dos
tempos nos quais se verifica o acordo entre ciência e consciência.
dizer, para chegar a uma moral teórica afirmando a certeza moral; para
libertar a moral da sua sujeição a um conhecimento prévio, só se consegue
mediante o apelo ao vivido moral experimentado no próprio esforço.
Desta forma, ensina GURVITCH, a moral do progresso conhecido pela
inteligência se revela uma nova forma de sujeição àquilo que é conhecido de
antemão (cf. “A Vocação...”, vol.II, op.cit, pp.239sq). Por contra, o
conhecimento dos critérios morais concretiza-se como uma reflexão posterior
sobre o ato moral diretamente vivido, sobre os valores entrevistos no calor da
própria ação. E essa ação moral criadora dos seus próprios critérios está
em oposição direta a qualquer crença no progresso automático, notando-se
que a especificidade da experiência moral assim reconhecida se verifica,
exatamente, como reconhecimento, como ação participante nos variados graus do
esforço, ou, numa só sentença: “é a vontade de olhos abertos nas trevas”. Segundo
GURVITCH, a base dessa experiência moral específica é a teoria da intuição da
vontade orientada pelas suas próprias luzes, à qual se chega pela concepção dinâmica
de qualquer moralidade efetiva: (a) - como ultrapassagem contínua do
adquirido; (b) - como recriação permanente dos Nós e de Outrem; (c) - como
moralidade de ação e de aspiração participando na liberdade criadora pelo
próprio esforço incessante dos Nós. Concepção dinâmica esta resumida na
fórmula de BERGSON segundo a qual “para que a consciência se destacasse
do ‘já feito’ e se aplicasse ao que ‘se está a fazer’, seria necessário que,
voltando-se e retorcendo-se sobre si mesma, a faculdade de ver constituísse
uma só unidade com o ato de querer”. Na ação livre, ao lançar-se para frente,
tem-se a consciência dos motivos e dos móveis, tornando-se ambos idênticos.
GURVITCH observa que esta teoria da intuição da vontade é não só a base da
especificidade da experiência moral, mas que essa especificidade é a liberdade
consciente. Quer dizer, assim como há diferentes espessuras da duração e variadas
intensidades da liberdade, há também diferentes graus da vontade consciente, a qual se
torna cada vez mais livre à medida que: (a) - ultrapassa a escolha entre as
alternativas, mediante o exercício da decisão; (b) - ultrapassa a própria decisão
voluntária, mediante o exercício da vontade propriamente criadora. Desta
forma, a moral da criação em BERGSON encontra fundamento para
prosseguir a sua realização nas diferentes camadas em profundidade da
realidade social. É a liberdade situada no âmago da vida humana consciente.
Enfim, GURVITCH assinala que o desvio místico de BERGSON deve-se ao
não ter ele encontrado na sua análise da liberdade consciente o problema dos
valores, aos quais GURVITCH chama “esses escalões que dirigem a elevação
libertadora”.
A definição descritiva toma o tempo “ora como uma coordenação, ora como
uma disparidade dos movimentos”. “Coordenação e disparidade estas que
duram na sucessão e se sucedem na duração” (cf. “A Vocação Atual da
Sociologia”, vol.II, op.cit, p.371).
(a) - cada esfera do real, (b) - cada gênero de determinismo (c) - cada
procedimento operativo para o constatar, “se encontra situado, não somente
em outro grau de compromisso entre o qualitativo e o quantitativo, o contínuo
e o descontínuo, o contingente e o coerente, mas também em outra
temporalidade”.
coerente. (3) - No primeiro caso, o recurso às leis causais torna mais limitada a
expressão do determinismo, enquanto no segundo caso torna-se mais propícia
a aplicação dessas leis (salvo em microfísica); (4) - De todas as maneiras,
permanece-se sempre na esfera do determinismo desde que: (a) - se tenha em
conta o pluralismo dos determinismos como correspondentes à multiplicidade
dos tempos e, (b) - se tenha em conta o fato de que lei e determinismo não se
entrelaçam (ver s/ BACHELARD à p.96 sq ). (5) - Nota-se que não existe
sempre correspondência entre o reforço do qualitativo e o da descontinuidade
(p.ex.: o tempo na ciência da história é simultaneamente mais continuista e
mais qualitativo que em sociologia), o que, sublinha nosso autor, acentua a
multiplicidade dos tempos. (6) - Nota-se, ainda, que os tempos se multiplicam:
segundo as acentuações variadas do presente, do passado e do porvir; de suas
projeções e contatos diversos; segundo seus avanços, retardos, caráter cíclico,
alternância, virtualidade de crises e de explosões, aparição e desaparição de
ritmos. (7) - Entretanto, estes diferentes critérios podem coincidir ou entrar em
conflito, bem como podem ter importância e significação desiguais nas
diversas esferas do real : apreendidas, conhecidas, ou conscientemente
construídas pelas diferentes ciências.
do seu presente no passado que estudam sem supor uma continuidade e uma
unidade entre as diferentes escalas de tempos próprios às diversas sociedades;
decorrendo daí (b) - que a grande tentação que espreita a ciência da história é a
“predição do passado”, a qual – com sublinha o nosso autor - se verte
comumente em projeção dessa predição no futuro. Quanto aos tempos sociais
propriamente ditos, se encontram e se debatem nas diferentes camadas ou
níveis em profundidade da realidade social estudada em sociologia e, no dizer
de GURVITCH, se encontram e se debatem nas oposições entre os
elementos não-estruturais, estruturáveis e estruturados. O tempo social é
caracterizado pelo máximo de significações humanas que nele se enxertam e pela sua extrema
complexidade, levando à variabilidade particularmente intensa da hierarquia de tempos
sociais. Há uma dialética levando ao esclarecimento do conceito de tempo e
outra dialética levando ao esclarecimento do conceito de social. A primeira é a
dialética das complementaridades entre sucessão e duração, continuidade e
descontinuidade, instante e homogeneidade, a que já nos referimos (a
multiplicidade dos tempos, a escala dos determinismos e as realidades por eles
regidas estão na mesma situação de intermediários entre os contrários
complementares); a segunda é a dialética complexa tridimensional, a dialética
entre o microssocial, o grupal e o global, constituindo a dinâmica do fenômeno
social como um todo.
tais como: nas Cidades-Estados antigas, nas cidades da Idade Média, ou nos
agrupamentos de localidade, ou ainda nos de vida econômica. São as
comunidades ativas que manifestam uma tendência contínua a dirigir seu
tempo. Segundo nosso autor, elas o fazem procurando equilibrar as
alternativas entre o tempo em retardo e o tempo em avanço. Qualquer outro
fator sendo afastado, elas tentam aproximar-se deste equilíbrio orientando-se
no sentido de um retardamento prudente e moderado de seu tempo.
Ensaiando dirigir o tempo, as comunidades favorecem o presente e,
habitualmente, o concordam com o passado e o afastam, tanto quanto
possível, no sentido de fazer prevalecer a duração sobre a sucessão. Isto pode
algumas vezes aumentar a eficácia dos determinismos próprios às
comunidades, porém, segundo GURVITCH, conduz geralmente ao
enfraquecimento da intervenção da liberdade humana nas comunidades, as
quais favorecem sobretudo os graus menos intensos. (c) - Em sua análise
sociológica GURVITCH nota que o tempo das comunhões é muito menos
propício à tomada de consciência do tempo que elas produzem e no qual
vivem do que aquele das comunidades. Com efeito, as comunhões não têm
certa oportunidade de apreender seu tempo, de o perceber e, com mais fortes
motivos, não têm a oportunidade de simbolizá-lo e de conceituá-lo, a menos
que se trate de comunhões muito passivas e místicas. Mas então, esta
simbolização e esta conceituação ultrapassam apenas o tempo cíclico que as
faz “dançar no mesmo lugar”, tudo dependendo das unidades coletivas reais
nas quais as comunhões estão integradas (por ex.: as Igrejas, as seitas, etc.). As
comunhões ativas e, em particular, as comunhões de ação racional, conseguem
habitualmente apreender seu próprio tempo. Elas “não têm o tempo” de
percebê-lo, representá-lo, simbolizá-lo e conceituá-lo. Na maioria dos casos,
tão somente podem elas revoltar-se contra as representações, as simbolizações
e as conceituações do tempo das sociedades globais, das classes sociais e de
outras coletividades reais no seio das quais surgem. Isto porque as comunhões
ativas são raramente de longa duração. Quanto à direção do tempo as
comunhões passivas em particular as comunhões místicas, unicamente a
alcançam fazendo em grande parte desaparecer seu tempo em cerimônias,
períodos fastos e nefastos, festas, etc., que as dominam em lugar de serem
dominados por elas. As comunhões ativas, por seu lado, não mostram
nenhuma capacidade particular para dirigir seu próprio tempo. O que elas
tentam fazer e o conseguem às vezes, é subverter o tempo e as escalas dos
tempos dos grupos, das classes e das sociedades globais em que elas se
introduzem. A direção do tempo não pertence então às comunhões, senão em
certos momentos muito excepcionais, tais como as revoluções, os grandes
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SEXTA PARTE
LINHAS DE APROFUNDAMENTO
NA SOCIOLOGIA DO CONHECIMENTO – III:
A DIALÉTICA SOCIOLÓGICA
dialética que não é nem uma arte de discutir e de enganar, nem um meio de
fazer a apologia de posições filosóficas preconcebidas - sejam elas
denominadas racionalismo, idealismo, criticismo, espiritualismo, materialismo,
fenomenologia, existencialismo. Tal a dialética experimental e relativista,
recorrendo à especulação para melhor adaptar os objetos do conhecimento às
profundezas do real. O mesmo vale, segundo GURVITCH, para um
importante filósofo da cultura científica como Gaston BACHELARD, quem
começou a introduzir a dialética desde o ano de 1936 (ver “La Dialectique de la
Durée”, op.cit.) e notou que a dialética é ligada a procedimentos operativos que
tornam relativo o aparelho conceitual de toda a ciência.
A COMPLEMENTARIDADE DIALÉTICA
No estudo sociológico do
procedimento operativo da complementaridade dialética, nota-se, na obra de
GURVITCH, a crítica ao erro de confundir essa complementaridade aos
extremos que se podem juntar. Os exemplos de extremos que não têm sentido
uns sem os outros incluem o pólo Norte e o pólo Sul, o Oriente e o Ocidente,
o pólo positivo e o pólo negativo da corrente elétrica, o branco e o negro, o
alto e o baixo, o dia e a noite, o quente e o frio, o inverno e o verão, a direita e
a esquerda, etc., extremos esses que nada têm a ver com a complementaridade
dialética. Malgrado a presença de múltiplos intermediários entre esses extremos
já acessíveis por eles mesmos, não surge nenhum problema de um conjunto,
de uma totalidade, não somente real, mas conceitual; tampouco se entrevê
“alguma incapacidade dos conceitos retidos”. Quer dizer, os “procedimentos
discursivos” se revelam inteiramente suficientes e o método dialético nada tem
a ver nisso (ib.p.248). No procedimento operativo da complementaridade
dialética, por sua vez, se trata de desvelar a aparência de uma exclusão
recíproca dos termos ou dos elementos contrários que se revelam à
clarificação-purificação dialética como irmãos siameses, duplos se afirmando
uns em função dos outros e, desse fato, entrando eles nos mesmos conjuntos,
os quais podem ser conjuntos de gêneros muito diferentes. Nas ciências da
natureza inanimada, a dialética de complementaridade se propõe simplesmente
a mostrar a relatividade e a insuficiência dos conceitos contrários, utilizados
para exprimir um conjunto conceitual que não se consegue delimitar de outra
maneira. Tratando-se ainda de conjuntos conceituais e não dos conjuntos reais,
nota-se na sociologia que os tipos microssociais, os tipos de agrupamentos, os
tipos de classes sociais e os tipos de sociedades globais se apresentam de início
compreendidos numa dialética de complementaridade. Todavia, GURVITCH
põe em relevo o caráter mais coerente desses últimos conjuntos conceituais em
face daqueles considerados nas ciências da natureza, já que as tipologias
sociológicas devem servir para estudar os conjuntos reais que se engendram
eles mesmos em um movimento dialético direto, limitando-se a
complementaridade unicamente como uma etapa preliminar de dialetização.
Quer dizer: (1) - posto que os tipos sociais são construídos em função uns dos outros,
eles exigem a clarificação da implicação mútua; (2) - posto que eles podem
tornar-se tão simétricos, eles devem ser colocados em reciprocidade de
perspectiva; (3)-possibilidades essas que não excluem que eles possam entrar
em contradição e assim exigir a clarificação dialética da polarização. Essas
No Estudo sociológico do
procedimento operativo da implicação dialética mútua sobressai na análise de
GURVITCH, além do (a) - domínio da realidade social em seu conjunto, (b) -
a ligação entre as estruturas sociais e as obras de civilização, e (c) - a descrição
da imanência recíproca entre o psiquismo individual, o psiquismo interpessoal
ou intergrupal (dito “psiquismo social”) e o psiquismo coletivo, incluindo-se
nessa descrição a comunicação social. A implicação dialética mútua consiste em
reencontrar nos elementos ou termos a primeira vista heterogêneos ou contrários, os setores por
assim dizer secantes que coincidem, que se contém, se interpenetram em certo grau, ou são
parcialmente imanentes uns aos outros. (cf.”Dialectique et Sociologie”, op.cit.,p.257);
Quer dizer, a implicação dialética revela-se o procedimento imprescindível
para dar precisão à ligação entre a vida psíquica e a vida social. A
imanência recíproca parcial entre esses dois termos é verificada, segundo nosso
autor, no fato de que, não sendo reduzida às suas exteriorizações seja na
morfologia social ou base morfológica da sociedade, seja nas técnicas e nas
organizações; nem sendo reduzida às suas cristalizações nas estruturas e nas
obras de civilização, a realidade social porta nela tensões crescentes ou decrescentes até as
reações mais ou menos espontâneas - as quais se manifestam em graus variados do
inesperado, do flutuante, do instantâneo e do imprevisível que, no dizer de
GURVITCH, correspondem ao que se chama o psíquico (este último, por sua
vez, como já o mencionamos, sendo incrustado no real que é, antes de tudo, a
realidade social , ao invés de ser o estado interno de uma consciência
individual, implica uma tripla direção para o Meu, o Teu e o Nosso afirmados
nos Nós, nos grupos, nas classes e nas sociedades globais).
Da mesma maneira, a implicação mútua permite dar precisão
à ligação entre o psiquismo individual, o psiquismo interpessoal e o psiquismo
coletivo. O argumento de GURVITCH é o seguinte: considerando que no
psiquismo coletivo tem lugar uma fusão prévia das consciências
(assegurando a mesma significação aos signos e aos símbolos, como, p.ex., às palavras de
uma linguagem), nota-se que o psiquismo interpessoal ou intergrupal implica os
dois outros, pois, se este psiquismo é afirmado nas suas manifestações na
comunicação, nenhuma comunicação pode ter lugar sem o psiquismo
coletivo. Ao mesmo tempo - prossegue nosso autor - são os psiquismos
individuais que comunicam, fato este que supõe sua diferenciação tanto quanto
sua fusão. A respeito desses psiquismos, observa GURVITCH que o crescimento
dos graus de implicação mútua entre os mesmos conduz para a reciprocidade de
perspectivas entre eles, sendo este o caso quando se passa do quadro social da
Massa ao da Comunidade, e do quadro da Comunidade ao da Comunhão.
Quanto à implicação mútua entre as estruturas
sociais e as obras de civilização, GURVITCH sublinha que só o estudo das
A AMBIGUIDADE DIALÉTICA
segundo nosso autor, certa ambigüidade nessas relações. Elas implicam de uma
só vez certa harmonia de interesses quanto à validade das obrigações previstas,
e um conflito de interesses quanto à interpretação de suas cláusulas materiais e
dos modos de sua execução. Essa ambigüidade se exaspera em ambivalência quando
essas relações com Outrem de caráter misto tomam uma forma passiva, já que os indivíduos,
grupos, sociedades (os Eu e os Outrem) são de uma só vez atraídos e repelidos uns pelos
outros, sem que cheguem a se dar conta da parte de elementos negativos e positivos nessas
confusões.
POLARIZAÇÃO DIALÉTICA
A RECIPROCIDADE DE PERSPECTIVA
desempenhando nesses grupos os diversos papéis sociais; (c)- em nível das classes
sociais e das sociedades inteiras, que elaboram seus critérios de harmonização da
personalidade humana (é o chamado problema da “personalidade de base”).
No segundo item, no que concerne às relações entre as diferentes
manifestações da mentalidade coletiva e da mentalidade individual, nota o
nosso autor que a aplicação do procedimento de colocação em reciprocidade
de perspectiva não chega aos mesmos graus de paralelismo e simetria
alcançados nas escalas do individual e o social. Desta forma, (a) - quando se
trata das relações entre estados mentais, tomados estes como as manifestações do
psíquico e do consciente que não se ultrapassam elas mesmas e onde a
tendência para a abertura característica de todo o fenômeno consciente não
alcança senão um fraco grau (como as representações, a memória, as
percepções, os sofrimentos, as satisfações, as atrações, as repulsas, as alegrias,
as tristezas e as cóleras, as veleidades e os esforços), a reciprocidade de
perspectivas entre a mentalidade coletiva e a mentalidade individual resta
sumária, pois se encontra fortemente limitada pelas tensões, pelas defasagens e
os conflitos; (b) - quando se trata das opiniões, tomadas como manifestações
intermediárias entre estados e atos mentais, onde a consciência se entreabre,
mas não chega a se transcender e resta hesitante, incerta e flutuante,
GURVITCH nota que a reciprocidade de perspectivas entre as opiniões
coletivas e as opiniões individuais, torna-se bem mais intensa do que no caso
dos estados mentais, sem atingir a simetria e o paralelismo completos,
habitualmente característicos dos atos mentais (os quais, como veremos a
seguir, tendem a ser de uma só vez coletivos e individuais); (c) – quando se trata
dos atos mentais: a aplicação do procedimento de colocação em reciprocidade de
perspectiva deve levar em conta o seguinte: que os atos mentais tendem para a
reciprocidade de perspectivas a mais completa sob seus aspectos coletivos e
individuais; que esses atos variam quanto às suas acentuações segundo os tipos
de quadros sociais reais nos quais estão incrustados (em particular, segundo os
tipos de classes sociais e de sociedades globais). Conforme GURVITCH, a
colocação em reciprocidade de perspectiva para aclarar as relações entre os
atos mentais, “não é tanto uma solução quanto o é uma maneira de formular
os problemas inspirada pela dialética”. Os atos mentais são as manifestações as mais
intensas do consciente que se transcendem elas mesmas na posse, no conhecimento ou na
participação nos conteúdos reais, experimentados, afirmados ou moldados como
heterogêneos aos atos mesmos -isto é, como heterogêneos às intuições intelectuais e aos juízos;
às preferências e às repugnâncias em linha com os valores, a simpatia, o amor, o ódio enfim,
às escolhas, às decisões e às criações. No Terceiro item: quanto à aplicação do
procedimento de colocação em reciprocidade de perspectiva para estudar a
topo
© Jacob Lumier
CONCLUSÕES
Para fazer frente aos novos temas e novos desafios à compreensão/ explicação
colocados pela cultura do compartilhamento, e malgrado a orientação concorrente
da filosofia abstrata da mente orgânica, a nova sociologia do conhecimento
oferece à Teoria de Comunicação Social e aos estudos da cognição a noção
operativa diferencial do sistema cognitivo que, acentuando o concreto e a
assimilação das influências do ambiente de conjunto, libera o conhecimento do
seu suposto passado introspectivo e ultrapassa as metodologias introvertidas.
Portanto, o sistema cognitivo do qual nos fala a nova sociologia do
conhecimento revela-se um instrumento de análise e interpretação capaz de
aportar maior precisão ao uso da noção complexa do conhecimento na
reflexão da sociedade de informação e, por esta via, propiciar uma recolocação
mais qualitativa no âmbito da morfologia social para os debates do tema e do
problema das relações entre as tecnologias da informação e as sociedades.
topo
Por
JACOB (J.) LUMIER
BIBLIOGRAFIA
BACHELARD, Gaston: “O Novo Espírito Científico”, São Paulo, ed. Abril, 1974,
coleção “Os Pensadores”, vol.XXXVIII, pp.247 a 338 (1ªedição em Francês,
1935).
CASTELLS, Manuel ("The Internet Galaxy: reflections on the internet, business and
society", Oxford University Press, Oxford (England), 200l. Tradução em
português-brasileiro, editor Zahar, Rio de Janeiro 2003);
GORMAN, Robert A.: “A Visão Dual: Alfred Schutz e o mito da Ciência Social
Fenomenológica”, trad. Lívia de Holanda, Rio de Janeiro, Zahar, 1979, 245 pp.
(1ªedição em Inglês, Londres, 1977).
GIDDENS, Anthony: “As Novas Regras do Método Sociológico: uma crítica positiva
das sociologias compreensivas”, trad. Ma. José Lindoso, revisão Eurico Figueiredo,
Rio de Janeiro, Zahar, 1978, 181 pp. (1ªedição em Inglês, Londres, 1976).
KOLAKOWSKI, Leszek : ‘’A Presença do Mito ‘’, tradução José Viegas Filho,
apresentação J.G.Merquior, Brasília, editora Universidade de Brasília, 1981,
112pp. (1ªedição em Polonês, 1972).
MONDOLFO, Rodolfo : ‘Sócrates’, tradução Lycurgo Motta, São Paulo, editora Mestre
Jou, 2ªedição, 1967, 107pp.(1ªedição em castelhano, 1959).
topo
FIM DA BIBLIOGRAFIA
© Jacob Lumier
SOCIOLOGIA DO CONHECIMENTO
Por
ANEXO – 01:
A manifestação do problema da multiplicidade dos tempos ou:
O caso do experimento de Popper e
o fracasso da tentativa de refutação de Heisenberg... pág.: 226
ANEXO – 02:
Notas sobre a sociologia do conhecimento e
a análise etnológica das sociedades arcaicas ou:
a relatividade da oposição metodológica do arcaico e do histórico... pág.: 239
ANEXO – 03:
A multiplicidade dos tempos sociais como critério
na apreciação da sociologia do realismo literário do século XIX... pág.: 255
Por
JACOB (J.) LUMIER
A N E X O – 01
OU:
O caso do experimento de Popper e
o fracasso da sua tentativa em refutar a Heisenberg.
A N E X O – 01
A MANIFESTAÇÃO DO PROBLEMA DA MULTIPLICIDADE DOS TEMPOS
OU:
(∗) Cf. POPPER, Karl: ‘A Lógica da Pesquisa Científica’, traduzida da edição alemã de 1973 por
Leonidas Hegenberg e Octanny Silveira da Mota, São Paulo, Editora Cultrix/EDUSP, 1975,
567 pp. (1ªedição em Alemão: Viena, 1934), pp.239sq.
ondulatória pode ser vista como uma teoria de partículas, pois a “equação de
onda”, formulada por SCHRODINGER, admite interpretação tal que fornece
a probabilidade de localizar a partícula em qualquer dada região do espaço
(ib.p.244) - segundo acrescenta POPPER, tal probabilidade é determinada
matematicamente pelo quadro da amplitude da onda; é grande dentro do
pacote de ondas, em que estas se reforçam umas às outras; e desaparece fora
do alcance desse pacote.
POPPER entende que a situação-problema
de localizar a partícula, sendo fundamental na teoria quântica, sugere que essa
teoria seja interpretada estatisticamente. Diz-nos que essa situação-problema
está contida no que seria a missão mais importante da teoria quântica, a saber:
a dedução dos espectros atômicos, e sustenta que essa dedução tinha de ser
encarada como tarefa estatística, considerando notadamente que EINSTEIN
formulou a hipótese dos fótons ou quanta de luz, e que assim devia ser
encarada desde o momento em que ele fez isso. Reforçando sua avaliação,
POPPER utiliza citações de BORN-JORDAN (“Elementos de Mecânica
Quântica”, 1930, apud POPPER, op.cit), já que a hipótese de EINSTEIN
interpretava os efeitos luminosos observados em termos de fenômenos de
massa, devido à incidência de muitos fótons. Quer dizer, a experiência de
observação de muitos fótons favorece as afirmativas de BORN de que (a)- “os
métodos experimentais da física atômica... sob a orientação da experiência,
passaram a preocupar-se exclusivamente com questões estatísticas”; (b)- “A
Mecânica Quântica, que oferece a teoria sistemática das regularidades
observadas, corresponde, sob todos os aspectos, ao presente estado da física
experimental, pois que se restringe, desde a origem, a indagações estatísticas e a
respostas estatísticas”.
Privilegiando tal consideração sobre as
regularidades observadas como preocupação estatística central na física
atômica, POPPER sublinha exatamente que é em sua aplicação aos problemas
da física atômica que a teoria quântica leva a obtenção de resultados que
diferem dos alcançados pela Mecânica Clássica: no dizer de MARCH,
“segundo a teoria quântica, as leis da Mecânica Clássica serão válidas se forem
vistas como enunciados acerca das relações entre médias estatísticas” (apud
POPPER, op.cit, p.245). A partir dessa compreensão da missão da teoria
quântica como ligada à dedução dos espectros atômicos, POPPER propõe
uma interpretação estatística das fórmulas de incerteza. Para isso, sustenta que
as fórmulas de HEISENBERG “ΔX.Δpx > h/4π” apresentam-se como
conclusões lógicas da teoria, mas a interpretação dessas fórmulas, tomando-as
como regras limitadoras da precisão da medida possível de atingir -de acordo
“delta p” (e não “delta X”), ou seja, quando falamos de uma classe que faz parte
de classe mais ampla de partículas, da qual não foi fisicamente separada.
Segundo POPPER, toda seleção física pode naturalmente ser vista como
se fora uma forma de medida, e pode efetivamente ser usada como tal. Medida
significa “não apenas operações diretas de medida, mas também medidas
obtidas indiretamente, através de cálculos (em física, são praticamente estas
últimas as únicas medidas que surgem). Isto não quer dizer que devamos
encarar toda a medida como uma seleção física, pelo contrário. Qualquer
seleção baseada na posição das partículas equivale a uma interferência no
sistema, resultando em aumento da dispersão dos componentes do momento
“px”, de modo que a dispersão crescerá (de acordo com a lei traduzida pela
fórmula de HEISENBERG) com o estreitamento da fenda. Com isto, POPPER
sustenta que as fórmulas peculiares à teoria quântica constituem hipóteses de
probabilidade e se colocam como enunciados estatísticos, de tal sorte que se
tornará difícil perceber de que maneira “as proibições de eventos isolados” (ou proibições de
medidas exatas) poderiam ser deduzidas de uma teoria estatística de casos de probabilidade.
Em suma: POPPER acredita haver meios para refutar a argumentação de que
medidas exatas de posição e momento estariam em contradição com a teoria
quântica.
O raciocínio dedutivo que a este respeito nos é apresentado entende que o
problema está “no produzir condições iniciais precisas através de manipulação
experimental do sistema”, ou seja, através do processus de “seleção física”. Quer
dizer, (1) - em razão das próprias “relações de dispersão” concebidas na
interpretação estatística de POPPER -como já vimos- “haveremos de falhar no
produzir condições iniciais precisas”. (2) - Ora, “é indubitavelmente verdade
que a técnica normal do experimentador consiste em produzir ou construir
condições iniciais”; e isso, esse raciocínio, permite a Karl POPPER deduzir, a
partir de suas “relações estatísticas de dispersão” (como, em sua interpretação, chama ele as
“relações de incerteza”, de HEISENBERG), o teorema segundo o qual “da teoria
quântica não podemos derivar quaisquer predições singulares, mas apenas previsões de
freqüência” (probabilidades).
Segundo POPPER, esse teorema resume
sua atitude diante de todos os experimentos imaginários discutidos por
HEISENBERG (POPPER faz questão de frizar que este último autor
acompanha a BOHR). Se HEISENBERG tinha o objetivo de provar a
impossibilidade de efetivar medidas com uma precisão proibida pelo seu princípio de
incerteza, POPPER, por sua vez, afirma que “a dispersão estatística torna impossível
notadamente prever qual será a trajetória da partícula após a alteração da medida”. A
topo
FIM
do
A N E X O – 01
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JACOB (J.) LUMIER
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JACOB (J.) LUMIER
A N E X O – 02
A N E X O – 02
NOTAS SOBRE A SOCIOLOGIA DO CONHECIMENTO E
A ANÁLISE ETNOLÓGICA DAS SOCIEDADES ARCAICAS
OU:
A Relatividade da Oposição Metodológica do Arcaico e do Histórico
francesa de 1968 por Orlando Daniel, Lisboa, Cosmos, 1986, 567 pp.
(1ªedição em francês: Paris, PUF, 1957) pp.79 a 122.
ligada à experiência dos Nós humanos e não somente à do homem arcaico. O mesmo se
aplica aos objetos sociais do item (d), quer dizer: o prestígio social é algo que
“desfrutamos”; o grau do ascendente social é algo que “possuímos”. Trata-se
de objetos da referência humana que alcançam tanto os “históricos” quanto os
“arcaicos”, e que a análise do Maná, como produto da sociedade e projeção
dos atos coletivos, permite descrever. Essa análise de GURVITCH, como já
vimos, põe em foco o agir de uma forma eficaz, sendo o Maná o potencial
sobrenatural de uma eficácia ativa, um fluido vital que se realiza na ação, a
qual, então, passa a conferir qualidades mágicas exatamente quando
“participamos” desse fluido. A referência aos Nós da experiência nas
sociedades históricas para referir os objetos sociais descritos nas sociedades
arcaicas, como estando no âmbito da nossa consciência e aos quais podemos
nos relacionar como “nossos”, constitui, segundo GURVITCH, não só uma
aplicação da perspectivação sociológica, mas também releva do fato de que é a
experiência da moral do esforço -sobretudo a experiência da racionalidade da
técnica, mais ligada à nossa condição de homens das sociedades históricas- que
nos abre o acesso aos arcaicos, que passa na relatividade da oposição do
arcaico e do histórico na teoria sociológica. Desse modo, retomando o
resumo das três espécies do Maná, temos que: na descrição do Maná humano - o
“Maná-Tangata” dos melanésios - se constata, segundo GURVITCH, uma
interpenetração incessante do Maná coletivo e do Maná individual: chefes
combinam o seu próprio Maná com o Maná da coletividade que representam;
a transmissão jamais se faz pelo simples nascimento ou pelo exercício de uma
função análoga, mas pressupõe iniciação; a capacidade de representar o Maná
de um grupo pode ser perdida; o indivíduo pode aumentar o seu Maná
participando nas sociedades que possuem o seu próprio Maná coletivo; o
próprio Maná coletivo também pode ser reforçado, além do fato de que
indivíduos e grupos podem criar seu próprio Maná. Para GURVITCH essas
descrições mostram o quanto o Maná-Tangata é familiar ao homem, que o
adquire, o perde, o aumenta, e o reduz pelo seu próprio esforço (cf.”A Vocação
Actual da Sociologia”, vol.II, op.cit, p.112). Há ainda o fato de que o Maná é um
elemento ativo da organização do trabalho nas sociedades arcaicas, incutindo
no agente social uma fé na sua capacidade de triunfar. Quanto à outra espécie
do Maná mencionada, GURVITCH faz sobressair que o Maná dos animais,
das plantas e das coisas inanimadas é afirmado como o Maná que existe
independentemente do homem e da sua intervenção. Quer dizer, esse Maná,
nas sociedades arcaicas, não provém da ação do mágico, mas é uma verdadeira
força sobrenatural difusa no mundo e que existe mesmo quando o homem não
se ocupa dela. Esse Maná é, não somente independente dos espíritos, mas
Neste ponto, podemos notar que a análise pela colocação do saber arcaico
em perspectiva sociológica traz um esclarecimento e um aproveitamento
(8) Cf. POPPER, Karl: ‘A Sociedade Aberta e seus Inimigos-1ºvol. : o fascínio de Platão ’, traduzida
da edição inglesa revista e atualizada de 1973 por Milton Amado, São Paulo/Belo Horizonte,
EDUSP/ed.Itatiaia, 1974, 394pp.(1ªedição em Inglês : Nova Zelândia, 1944 ; 1ªedição em
português : 1959, traduzida da edição londrina de 1957), p.219.
(∗) Cf.GRANGER, Gilles Gaston: “A Razão”, tradução de Lúcia Prado e Bento Prado, São
Paulo, Difusão Européia do Livro, 1969, 2ªedição, coleção Saber Atual, 126 pp., págs.29 a 32.
(♦) Cf. CASSIRER, Ernst: “La Philosophie des Formes Simboliques (La Conscience
Mythique)”, versão francesa por Jean Lacoste, Paris, Les Éditions du Minuit, 1972, 342 pp.,
(1ªedição em Alemão: 1925), págs. 103,104.
bem definido como natureza indiferente, será exatamente para ser conservada
que ela deve ser ao mesmo tempo anulada, debulhada de suas determinações
materiais e, por referência à oposição fundamental do Bem e do Mal, deve ser
reconduzida em toda uma outra dimensão do pensamento: a dimensão em que
a linguagem da religião designa um meio termo entre a realidade e a aparência,
entre o ser e o não-ser. Para CASSIRER, em relação à divinização da natureza,
é possível mostrar, portanto, pela análise da linguagem, esse estado
intermediário e em flutuação tão particular da consciência religiosa, estado
presente nos termos que servem para designar linguisticamente o mundo
mítico como “mundo inferior dos demônios”, meio termo entre a realidade e a
aparência, meio termo entre o ser e o não-ser. Segundo CASSIRER, neste
ponto tem aplicação o enfoque do desenvolvimento geral da história das
religiões, pelo qual as imagens da “fantasia mítica” reaparecem sem cessar,
mesmo quando elas perderam sua vida própria e terminaram por constituir um
universo de sombras e de sonhos. O universo imaginário do mito continua por
longo tempo a exercer sua antiga pujança, mesmo quando contestado em
nome da verdade religiosa. As criações míticas continuam a existir, como
potências inferiores e demoníacas que, em face do divino, não são coisa
alguma e que, todavia, mesmo que tenham sido reconhecidas como
“aparências”, não deixam de continuar a meter menos “medo”, como
aparências substanciais e, “em certo sentido, essenciais”. Tudo o que pertence
a essa camada elementar da divinização da natureza recebe, em certa medida,
um valor oposto, um signo negativo para o pensamento religioso “superior”,
que tenha se elevado acima dela. Enfim, CASSIRER destaca um dado de
civilização da religião indo-iraniana da luz e da sombra, sugerindo que o
contraste entre a luz e a sombra, cultuado originalmente na religião iraniana
(antiga Pérsia), alcança o próprio desenvolvimento de todas as formas
simbólicas. Luz e sombra são correlativos: a luz só se manifesta e só prova a
sua existência pela sombra que ela projeta. Tal a interpretação alegórica: o
“inteligível puro” tem o “sensível” por contrário, mas esse contrário é também seu correlato
necessário.
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FIM
do
A N E X O – 02
© Jacob Lumier
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JACOB (J.) LUMIER
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JACOB (J.) LUMIER
A N E X O – 03
A N E X O – 03
A Simbolização dos tempos sociais como critério
na apreciação da sociologia do realismo literário do século XIX
(9) Cf. LUKACS, Georges: ‘Le Roman Historique’, tradução Robert Sailley, prefácio C-E.
Magny, Paris, Payot, 1972, 407 pp. (1ªedição em Alemão: Berlim, Aufbau, 1956).
da multiplicidade dos tempos a ela ligada que a análise lukacseana deverá ser
apreciada - deixado de lado, bem entendido, a sugestão dogmatista de
LUKACS sobre a afirmação das etapas de um suposto pensamento histórico
progressista de vertente hegeliano-marxista que cruzaria o horizonte dos
escritores realistas.
Na verdade, a análise de LUKACS deixa
escapar uma contradição a respeito dessa sugestão, haja vista a autenticidade
do realismo temporal nos escritores do século XIX, que, como expressão do
conhecimento e da experiência humana elaborada em modo artístico, dispensa
qualquer tomada de posição filosófica prévia, dispensa qualquer esquema de
interpretação alheio. Aliás, não fora outro o tratamento sociológico
concedido por LUKACS a esse aspecto do seu tema, tanto que os escritores
do realismo como Scott, Stendhal, Balzac, Pouchkine, Tolstoi, são apreciados
na referência de Walter Scott, isto é, na referência da própria atitude dos
autores, do próprio realismo temporal, e não sob um esquema de saber
histórico estranho.
Quanto a Walter Scott, LUKACS nota o seu
conservantismo como escritor sem que isso signifique a interferência de algum
modelo de interpretação estranho ao quadro social em que figura integrado o
grande literato. De fato, se, (a)-em relação à obra, há que estabelecer uma
referência para Scott, será a mesma encontrada na “reviravolta da existência e
da consciência dos homens em toda a Europa” (Cf.ib.op.cit, p.30); (b)-já para
o que se relaciona ao autor, nota-se que se trata desses grandes escritores que
não compreendem suas obras, as quais são brotadas do conflito com suas
próprias concepções pessoais, isto é, surgem do “manejamento
verdadeiramente realista de sua matéria”. É o que se depreende do seguinte:
Scott fez estudos aprofundados sobre o trabalho dos escritores do romance
social realista do século XVIII - LUKACS nos lembra “Moll Flanders”, “Tom
Jones”, etc.; e os autores como Smollet e Fielding, além de Swift, Voltaire e
mesmo o mais avançado Diderot, que fazem desenrolar seus romances
satíricos em “um jamais e parte alguma” que, todavia, no dizer de LUKACS,
“reflete fielmente as características essenciais da Inglaterra e da França de
então” (Cf.ib.op.cit, p.18). Os traços realistas do romance inglês do século
XVIII ligam-se ao caráter pós-revolucionário do desenvolvimento da Inglaterra (a
“gloriosa revolução” de 1688 levou à realização efetiva das liberdades
burguesas civis e aos costumes parlamentaristas), de tal sorte que o realismo
daquele século já é inseparável do caráter histórico do pensamento e da atitude
(conservantista) que o desenvolve. Enfim, o conservantismo de Walter Scott o
torna e o orienta na busca da via intermediária entre os extremos, e o motiva a
topo
FIM
do
A N E X O – 03
A Simbolização dos tempos sociais como critério
na apreciação da sociologia do realismo literário do século XIX
© Jacob Lumier
ÍNDICE R E M I S SI V O
(♣) Na Lista que segue, (1)-selecione a palavra buscada; (2)-tecle no “Menu Editar ”; (3)–abra a “Caixa de
Diálogo Localizar”; (4)– caso a palavra não apareça, digite-a, clique em “Ir Para” e digite o respectivo
número de página; (5)–volte para as “Opções de Pesquisa” e selecione a “Direção Abaixo”; (6)-acione o
comando “Localizar Próxima”: a página de texto buscada será aberta automaticamente e se poderá visualizar
em destaque a palavra localizada.
CASSIRER · 61, 62, 63, 64, 65, 245, 280, 281, é muito particular e se identifica bastante à
282, 283, 284 função de um quadro social bem
causalidade delimitado; · 42, 43, 116, 117, 158
em geral; psicológica; singular; e conhecimento filosófico
determinismo; · 24, 57, 68, 70, 71, 72, é reflexivo em segundo grau; · 22, 49, 94,
73, 103, 110, 125, 194, 197, 212, 238, 95, 97, 99, 104, 105, 106, 107, 108, 113,
273 126, 182, 183, 184, 238
classe social · 141, 152, 158, 166, 167, 177, conhecimento perceptivo do mundo exterior
300 dá conta das perspectivas recíprocas sem as
classes de conhecimento quais não há funções sociais; · 43, 51,
profundamente implicadas na realidade 52, 100, 104, 106, 107, 108, 109, 114,
social e na engrenagem de suas 115, 156, 159, 238
estruturas; · 22, 41, 42, 43, 49, 50, 51, conhecimento político
108, 109, 125, 126, 157, 181, 192 concilia partidarismo e realismo; · 46, 49,
classes sociais · 43, 44, 49, 51, 52, 59, 73, 81, 51, 56, 70, 76, 77, 78, 95, 104, 106, 107,
82, 87, 88, 94, 101, 102, 105, 110, 111, 120, 115, 156, 157, 158, 159, 160, 238
127, 128, 129, 131, 144, 151, 156, 165, 166, conhecimento simbólico
167, 168, 169, 170, 171, 172, 174, 175, 176, corresponde à incerteza do conteúdo
177, 206, 207, 215, 227, 235, 237, 271, 290, desejado; · 50, 203, 208, 215
300 conhecimento técnico
coeficiente da intenção humana valorativa · 86 parte constitutiva da praxis; · 22, 56, 58, 80,
coeficiente existencial · 23, 59, 88, 91, 126, 141 95, 96, 97, 100, 108, 115, 126, 158
coeficiente existencial do conhecimento · 23, conhecimentos coletivos
59, 91, 141 como conteúdos cognitivos; · 124, 126, 127
coeficiente humano · 86, 88, 90, 127, 183 conjuntos práticos · 144
coeficiente social do conhecimento consciência coletiva · 100, 124, 151, 152, 167,
como fator numérico da variação; · 97, 98, 294
126 consciência de classe · 99, 105, 167, 168, 170
coeficientes de discordância consciência idêntica · 72, 103
entre as sondagens de opinião e as atitudes consciência mistificada · 88, 120
reais dos grupos; · 143, 222, 223 consciência real · 87, 88, 120, 174
coeficientes humanos · 23, 69, 70, 78, 91 consumidores · 58, 152, 168, 172, 178
coeficientes ideológicos correlação funcional · 71, 75, 158, 215, 296,
na História e na Sociologia; · 98 301
coeficientes positivos · 88 correlações funcionais
coeficientes pragmáticos entre o saber e os quadros sociais · 24, 39,
do conhecimento; · 70 42, 44, 45, 46, 49, 70, 71, 72, 73, 74, 77,
coeficientes práticos · 70, 74 88, 103, 110, 113, 120, 125, 126, 127,
coeficientes sociais · 23, 78, 91, 95, 97, 124 139, 142, 174, 181, 192, 213, 215, 238,
COLLINGWOOD · 83, 245 271, 272
competências tecnológicas · 96 cristalização · 47, 174
COMTE · 69, 84 critério cognitivo · 96
conhecimento científico critério da liberdade · 168
busca a união do conceitual e do empírico; · culturalismo abstrato
22, 44, 45, 49, 51, 56, 80, 82, 95, 96, 97, é preconceito filosófico; · 21, 82, 127, 128,
100, 101, 104, 106, 107, 108, 113, 126, 129, 130, 281
159, 238, 282
conhecimento de outro
diretamente apreendido nos atos mentais; · D
43, 51, 108, 109, 117, 156, 158
conhecimento de senso comum
DAHARENDORF · 43, 44, 82, 126, 162, 163,
164, 245
H
K
HALBWACHS · 82
HALL · 78, 247 KANT · 45, 117
Hegel · 63, 67, 245 KOLAKOWSKI · 86, 247
HEGEL · 40, 61, 62, 63, 64, 65, 84, 183, 247
HEIDEGGER · 90
HEISENBERG · 126, 150, 189, 223, 224, 256,
257, 258, 259, 260, 261, 262, 263, 264, 265,
L
266
hierarquia LEFÉBVRE · 39, 40, 41, 247
das formas da sociabilidade; dos LEIBNIZ · 113
agrupamentos ; das classes; · 43, 81, 108, LEVY-BRUHL · 71, 72, 273
109, 111, 112, 140, 151, 157, 166, 167, LEVY-STRAUSS · 45, 52, 280
168, 176, 177, 183, 198, 215, 235, 290 liberdade humana · 39, 77, 80, 86, 142, 150,
hierarquias · 42, 68, 109, 132, 144, 152, 164, 165, 167, 168, 184, 189, 200, 204, 205, 206,
167, 171, 174, 175, 176, 177 207, 208, 210, 211, 212, 217, 230, 270, 275,
hierarquias múltiplas · 175, 176 300
hiperempirismo dialético LOURAU · 143, 247
umbral metodológico comum à filosofia e à LOWY · 67, 247
ciência; · 131, 142, 183, 221
SÓCRATES · 62, 104, 107, 108 a dos Nós, a dos grupos e classes, a das
SPINOZA · 63, 84, 97, 113 sociedades globais; · 143, 151, 155, 161,
STARK · 72, 73, 250 169, 170, 174, 175, 183, 194, 202, 222
STENDHAL · 295, 299
U
T
unidade relativa do Nós
TARDE · 161 dá acesso a um mundo de significados
tecnologia · 95, 96 inacessível de outra maneira; · 140
temas coletivos reais · 51, 52, 59, 73, 98, 127, unidades coletivas observáveis diretamente ·
143, 291, 297 152
tempos sociais unidades coletivas reais · 81, 85, 86, 143, 151,
persistem na sucessão e se sucedem na 154, 202, 207
duração; · 102, 150, 176, 189, 198, 199, unificação
206, 210, 236 dos determinismos ou modos de operar; é
tendências cognitivas esforço coletivo; · 81, 103, 144, 150,
verificam-se nos grupos e nas manifestações 151, 164, 165, 167, 169, 170, 171, 172,
da sociabilidade; · 129 175, 176, 177, 181, 192, 196, 197, 209,
tendências sociológicas probabilitárias · 171 212, 213, 214, 292, 297
teoria de estrutura social · 144
teoria de sociedades históricas · 103, 104, 109
teoria dinâmica · 82, 130, 151, 282 V
teoria microfísica · 126, 150
teoria social da percepção · 75
variabilidade · 94, 102, 155, 164, 167, 168,
teoria sociológica · 69, 81, 86, 142, 151, 160,
176, 198
169, 174, 175, 272, 276, 277
variações do saber · 24, 50, 68, 95, 97, 125,
teoria sociológica atual · 69
128, 141
teorias de consciência aberta · 73, 87
visão
tipos de agrupamentos · 131, 166, 227
de mundo; de conjunto; campo de _; · 61,
tipos de estruturas · 80, 127, 166, 271
63, 67, 73, 86, 101, 106, 128, 130, 131,
t i p o s d e s o c i e d a d e s · 13, 50, 81, 96, 102,
276, 291
108, 128, 131, 153, 158, 164, 166, 181, 192,
VOLTAIRE · 293, 295
227, 272
tomada de consciência · 39, 42, 49, 52, 58, 67,
71, 85, 86, 103, 104, 106, 125, 127, 140,
142, 143, 154, 168, 189, 206, 207, 208, 211, W
216, 297
TONNIES · 157 WEBER · 60, 65, 66, 78, 82, 129, 130, 228,
totalidade dinâmica específica · 167 250
três escalas WEBER, · 60, 65, 66, 69, 78, 130
WRIGHT MILLS · 74, 250
WRIGHT.MILLS · 74, 75
Mensagem Sobre o
Autor
***
Perfil do Autor
c(Cf. Max Bense: "Uber den Essay und seine Prosa", apud Theodor W. Adorno: "N o t a s d e L i t e r a t u r a ", trad.
Manuel Sacristán, Barcelona, Ed. Ariel, 1962, pp. 28 e 30).
http://stores.lulu.com/democratie
Dans ce livre de sociologie Jacob (J.) Lumier enseigne comment apprécier l'art littéraire
de Proust sous l'aspect de la crise de l’objetivité littéraire, rappelant que la suppression de
l'objet du romance en raison du reportage dans le siècle XX modifie la position du
narrateur qui, par différence du réalisme littéraire du siècle XIX, ne possède plus
l'expérience du contenu à être dit. Dans ces lectures critiques on y décrive aussi les
variations de la position du personnage et de la relation avec le lecteur; on y approfondit
dans la critique de la culture, surtout en vue d’y situer l’art de Proust comme point de
repère pour la découpage de l'idéologie du futurisme. L’UTOPIE NÉGATIVE DANS...
a été élaboré par Jacob (J.) Lumier sous le régard du sociologue en vue de produire de la
bibliographie basique pour la formation dans les Sciences Humaines et actualiser
certaines interprétations historiques qui revalorisent le monologue Proustien.
(133 pages) Livre broché: $11.15 Download: $2.71
Descrição em Português
Jacob (J.) Lumier ensina aos universitários como chegar à compreensão dos
sistemas cognitivos nas escalas do microssocial, dos grupos e classes sociais, das
ANEXO
INDICE ANALÍTICO:
DÉDICACE 5
AGRADECIMENTO 8
APRESENTAÇÃO 9
SO B A INFLU ÊN CIA DO IMPRESSIONANTE DESENVOLVI MENTO
DAS TÉCNICAS DE COMUNI CA ÇÃO PASSAMOS, NU M A BRI R E
F E CHA R DE OLHO S, P ELO S DI FE RENT ES T E MPO S E E S CALA S DE
T E MPO S INE RENT ES À S CIVI LIZA ÇÕ ES, NA ÇÕE S, TIPO S D E
SO CI EDADES E G RUPOS VA RIADOS. 13
LEITURA DA TEORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL 16
SUMÁRIO 16
PREFÁCIO 20
PREFÁCIO 21
INTRODUÇÃO 25
PRIMEIRA PARTE: 28
ATUALIDADE DA TEORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL 28
(NA TRILHA DA CULTURA DO COMPARTILHAMENTO) 28
A teoria de comunicação social se afirma dentro da sociedade de informação e não vê o
pluralismo cultural e lingüístico 29
A sociedade de informação, em seu caldo de cultivo, afirma uma ideologia ou um
discurso como expressão de seu vínculo estrutural e recíproco ao desenvolvimento das
tecnologias da informação. 31
O pluralismo cultural e lingüístico é uma realidade sociológica independente e
individualizada, não é um produto da cultura da tecnologia embora lhe seja transversal
ou interveniente. 32
A indústria do copyright tornou-se vulnerável em conseqüência das redes P2P. 33
A representação do conhecimento como insumo ou produto promove os valores do
utilitarismo 36
A física quântica revelou as realidades dos vários tempos nos tempos, revelou as
durações descontínuas, consolidando o “pluralismo temporal” introduzido com a
relatividade e superando a aceitação da continuidade (as relações homogêneas) como
característica evidente. Os vários tempos na física servem de base, então, a diferentes
relações. Tal o caminho da multiplicidade dos tempos nos quais se verifica o acordo
entre ciência e consciência 189
GURVITCH se empenha em superar a habitual identificação do tempo com a
consciência do tempo, e da consciência do tempo com a consciência individual. Diz-
nos que nem BERGSON, por um lado, nem HUSSERL, por outro lado, ultrapassaram o
“subjetivismo idealista”, apesar de terem “revolucionado a interpretação da consciência,
tornando-a aberta”. 192
A definição descritiva toma o tempo “ora como uma coordenação, ora como uma
disparidade dos movimentos”. “Coordenação e disparidade estas que duram na sucessão
e se sucedem na duração” (cf. “A Vocação Atual da Sociologia”, vol.II, op.cit, p.371).
193
(a) - cada esfera do real, (b) - cada gênero de determinismo (c) - cada procedimento
operativo para o constatar, “se encontra situado, não somente em outro grau de
compromisso entre o qualitativo e o quantitativo, o contínuo e o descontínuo, o
contingente e o coerente, mas também em outra temporalidade 195
Perquirindo seu objetivo de chegar à descrição da multiplicidade dos tempos
especificamente sociais, GURVITCH se propõe apreciar a diferença entre tempo
sociológico e tempo histórico. 196
O tempo social é caracterizado pelo máximo de significações humanas que nele se
enxertam e pela sua extrema complexidade, levando à variabilidade particularmente
intensa da hierarquia de tempos sociais. 198
As Coincidências dos Determinismos Sociais E da Liberdade Humana Nos Tempos
Sociais 200
PRIMEIRO ASPECTO DOS RESULTADOS DO ESTUDO DE GURVITCH SOBRE
AS COINCIDÊNCIAS DOS DETERMINISMOS SOCIAIS E DA LIBERDADE
HUMANA NOS TEMPOS SOCIAIS 201
NÍVEL DOS MICRODETERMINISMOS 201
TÓPICO INICIAL 201
SEGUNDO ASPECTO DOS RESULTADOS DO ESTUDO DE GURVITCH SOBRE
AS COINCIDÊNCIAS DOS DETERMINISMOS SOCIAIS E DA LIBERDADE
HUMANA NOS TEMPOS SOCIAIS 205
NÍVEL DOS DETERMINISMOS SOCIOLÓGICOS 206
TÓPICO INICIAL 206
Estatísticas:
Páginas: 338
Palavras por página: 455
Linhas por página: 40
E-book Monográfico
Disciplinas de interesse:
1º) - Comunicação Social;
2º) – Teoria Sociológica;
3º) – Metodologia Científica.