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Informativo 885-STF
Márcio André Lopes Cavalcante
Processos excluídos deste informativo pelo fato de não terem sido ainda concluídos em virtude de pedidos de vista ou
de adiamento. Serão comentados assim que chegarem ao fim: AP 937 QO/RJ; RE 670.422/RS.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA
CNJ não pode examinar controvérsia que está submetida à apreciação do Poder Judiciário.
DIREITO ADMINISTRATIVO
CONCESSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO
A concessionária não tem direito adquirido à renovação do contrato de concessão.
DIREITO PENAL
CRIMES POLÍTICOS
Para a configuração do crime político exige-se o preenchimento de requisitos objetivo e subjetivo.
PROVA TESTEMUNHAL
Ordem de inquirição das testemunhas.
DIREITO INTERNACIONAL
EXTRADIÇÃO
Desnecessidade de novo processo de extradição em caso de reingresso de extraditando foragido.
DIREITO CONSTITUCIONAL
Não cabe ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cujas atribuições são exclusivamente
administrativas, o controle de controvérsia que está submetida à apreciação do Poder
Judiciário.
STF. 1ª Turma. MS 28845/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 21/11/2017 (Info 885).
Em suma:
Não cabe ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cujas atribuições são exclusivamente administrativas,
o controle de controvérsia que está submetida à apreciação do Poder Judiciário.
STF. 1ª Turma. MS 28845/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 21/11/2017 (Info 885).
DIREITO ADMINISTRATIVO
Importante!!!
A concessionária não tem direito adquirido à renovação do contrato de concessão de usina
hidrelétrica.
A União possui a faculdade de prorrogar ou não o contrato de concessão, tendo em vista o
interesse público, não se podendo invocar direito líquido e certo a tal prorrogação.
Dessa forma, a prorrogação do contrato administrativo insere-se no campo da
discricionariedade.
A Lei nº 12.783/2013 subordinou a prorrogação dos contratos de concessão de geração,
transmissão e distribuição de energia elétrica à aceitação expressa de determinadas
condições. Se estas são recusadas pela concessionária, a Administração Pública não é obrigada
a renovar a concessão.
A Lei nº 12.783/2013 pode ser aplicada para a renovação de contratos ocorrida após a sua
vigência mesmo que a assinatura do pacto original tenha ocorrido antes da sua edição.
STF. 2ª Turma. RMS 34203/DF e AC 3980/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgados em 21/11/2017 (Info 885).
A questão chegou até o STF por meio de recurso. O STF concordou com o pedido da concessionária?
NÃO.
A concessionária não tem direito adquirido à renovação do contrato de concessão de usina hidrelétrica.
A União possui a faculdade de prorrogar ou não o contrato de concessão, tendo em vista o interesse
público, não se podendo invocar direito líquido e certo a tal prorrogação.
Dessa forma, a prorrogação do contrato administrativo insere-se no campo da discricionariedade.
A Lei nº 12.783/2013 subordinou a prorrogação dos contratos de concessão de geração, transmissão e
distribuição de energia elétrica à aceitação expressa de determinadas condições. Se estas são recusadas
pela concessionária, a Administração Pública não é obrigada a renovar a concessão.
STF. 2ª Turma. RMS 34203/DF e AC 3980/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgados em 21/11/2017 (Info 885).
Discricionariedade na prorrogação
A prorrogação de um contrato administrativo não está condicionada apenas a critérios objetivos
(apresentação de documentos e comprovantes pela concessionária etc.). A prorrogação do contrato é
uma decisão inserida no campo da discricionariedade administrativa, sempre pautada pelo interesse
público.
Assim, a discricionariedade é uma caraterística presente na prorrogação do contrato administrativo.
Nesse sentido, confira o que diz a doutrina:
“A Administração não está obrigada a prorrogar os contratos de prestação de serviços contínuos, ainda
que dentro das hipóteses e nas situações autorizadas pela Lei nº 8.666/93. Isso porque, como dito, a
validade da prorrogação depende das vantagens propiciadas por ela. Ora, a análise das vantagens ou
desvantagens da prorrogação equivale à análise da sua conveniência e da oportunidade, o que toca ao
núcleo da discricionariedade, uma vez que os agentes dispõem de margem de liberdade para realizar tal
juízo. Registre-se que os agentes administrativos não agem com liberdade absoluta. Se a prorrogação for
manifesta e objetivamente vantajosa, aos agentes administrativos não cabe pura e simplesmente recusá-
la, em detrimento do interesse público.” (NIEBUHR, Joel de Menezes. Licitação Pública e Contrato
Administrativo. 3ª dd. Belo Horizonte: Fórum, 2013, p. 774)
Possibilidade de incidência da nova legislação sobre o contrato em curso: ausência de direito adquirido
No caso concreto, não se trata de alteração legislativa com impacto em contrato em curso.
O prazo contratual definido tinha seu término previsto para 28/8/2013. Após essa data não havia qualquer
garantia de continuidade do contrato, salvo por meio de prorrogação contratual, se assim fosse do
interesse público (discricionariedade administrativa).
Por escolha governamental, definiu-se novo rumo ao sistema de fornecimento de energia elétrica por
meio da Lei nº 12.783/2013. Essa legislação trouxe novas disposições para as concessões de energia
elétrica, que deviam ser observadas pela Administração Pública no momento de avaliar a renovação dos
contratos de concessão. A lei era expressa nesse sentido. Também a mesma lei estipulou a necessidade
de manifestação das concessionárias quanto ao interesse de permanecer sob a contratação nas novas
bases legais, respeitando-se, assim, não apenas a discricionariedade administrativa na renovação do
contrato, mas também a bilateralidade, igualmente característica dessa forma de ajuste. Vide o teor da
norma, no ponto em referência:
Art. 1º A partir de 12 de setembro de 2012, as concessões de geração de energia hidrelétrica
alcançadas pelo art. 19 da Lei nº 9.074, de 7 de julho de 1995, poderão ser prorrogadas, a critério
do poder concedente, uma única vez, pelo prazo de até 30 (trinta) anos, de forma a assegurar a
continuidade, a eficiência da prestação do serviço e a modicidade tarifária.
§ 1º A prorrogação de que trata este artigo dependerá da aceitação expressa das seguintes
condições pelas concessionárias:
I - remuneração por tarifa calculada pela Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL para cada
usina hidrelétrica;
II - alocação de cotas de garantia física de energia e de potência da usina hidrelétrica às
concessionárias e permissionárias de serviço público de distribuição de energia elétrica do Sistema
Interligado Nacional - SIN, a ser definida pela Aneel, conforme regulamento do poder concedente;
III - submissão aos padrões de qualidade do serviço fixados pela Aneel;
COMPETÊNCIA
Ação proposta contra a Administração Pública por servidor que ingressou como celetista antes
da CF/88 e cuja lei posteriormente transformou o vínculo em estatutário
Tema polêmico!
1ªC Compete à Justiça do Trabalho julgar causa relacionada com depósito do Fundo de Garantia
do Tempo de Serviço (FGTS) de servidor que ingressou no serviço público antes da
Constituição de 1988 sem prestar concurso.
STF. Plenário. CC 7.950/RN, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/09/2016 (Info 839).
2ªC Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar demandas propostas contra órgãos da
Administração Pública, por servidores que ingressaram em seus quadros, sem concurso
público, antes da CF/88, sob regime da CLT, com o objetivo de obter prestações de natureza
trabalhista.
STF. Plenário. ARE 906491 RG, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 01/10/2015 (repercussão geral).
Não compete à Justiça do Trabalho julgar controvérsia referente aos reflexos de vantagem
remuneratória, que teve origem em período celetista anterior ao advento do regime jurídico
único.
Reconhecido que o vínculo atual entre o servidor e a Administração Pública é estatutário,
compete à Justiça comum processar e julgar a causa.
É a natureza jurídica do vínculo existente entre o trabalhador e o Poder Público, vigente ao
tempo da propositura da ação, que define a competência jurisdicional para a solução da
controvérsia, independentemente de o direito pleiteado ter se originado no período celetista.
STF. Plenário. Rcl 8909 AgR/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Cármen Lúcia, julgado
em 22/09/2016 (Info 840).
STF. 2ª Turma. Rcl 26064 AgR/RS, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, julgado
em 21/11/2017 (Info 885).
SITUAÇÃO 1
Imagine a seguinte situação hipotética:
Em 1982, João foi contratado pela Administração Pública estadual, sem concurso público, para atuar na
função de auxiliar de serviços gerais de um órgão público.
Vale ressaltar que João foi contratado para ocupar um emprego público, sendo seu vínculo jurídico
celetista, ou seja, regido pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Nessa época, era permitida a vinculação de servidores à Administração Pública sob regime da CLT.
Com o advento da Constituição Federal de 1988, João adquiriu estabilidade, nos termos do art. 19 do ADCT:
Art. 19. Os servidores públicos civis da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
da administração direta, autárquica e das fundações públicas, em exercício na data da
promulgação da Constituição, há pelo menos cinco anos continuados, e que não tenham sido
admitidos na forma regulada no art. 37, da Constituição, são considerados estáveis no serviço
público.
Foi editada uma lei estadual transformando o emprego ocupado por João em cargo público, tendo seu
regime jurídico mudado de celetista para estatutário.
Logo em seguida, João percebeu que a Administração Pública não recolheu as parcelas do FGTS a que ele
teria direito.
Diante disso, ele procurou um advogado para ajuizar ação contra o Estado-membro pedindo o pagamento
das parcelas do FGTS que não foram recolhidas.
Surgiu, no entanto, uma dúvida quanto à competência: esta demanda deverá ser proposta na Justiça
Estadual (pelo fato de atualmente ele ser servidor estatutário) ou na Justiça do Trabalho (em razão de
a verba pleiteada ser trabalhista)?
Justiça do Trabalho.
O STF também entende que a Justiça competente para julgar litígios envolvendo servidores temporários (art.
37, IX, da CF/88) e a Administração Pública é a JUSTIÇA COMUM (estadual ou federal). A competência NÃO
é da Justiça do Trabalho, ainda que o autor da ação alegue que houve desvirtuamento do vínculo e mesmo
que ele formule os seus pedidos baseados na CLT ou na lei do FGTS (STF. Plenário. Rcl 4351 MC-AgR/PE, rel.
orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em 11/11/2015. Info 807).
Caso de João
No caso de João, não se alega a existência de vínculo estatutário nem de trabalho temporário. Trata-se de
contrato de trabalho celebrado em 1982, época na qual se admitia a vinculação de servidores à
Administração Pública sob regime da CLT.
A verba pleiteada é de natureza celetista e está relacionada com período anterior à CF/88, de empregado
público que ingressou no serviço público sem concurso. Em tais situações, o STF possui diversos
precedentes, inclusive um em sede de repercussão geral, afirmando que a competência é da Justiça do
Trabalho, mesmo tendo havido alteração por meio de lei para o vínculo estatutário do servidor:
Compete à Justiça do Trabalho julgar causa relacionada com depósito do Fundo de Garantia do Tempo
de Serviço (FGTS) de servidor que ingressou no serviço público antes da Constituição de 1988 sem
prestar concurso.
STF. Plenário. CC 7.950/RN, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/09/2016 (Info 839).
Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar demandas propostas contra órgãos da Administração
Pública, por servidores que ingressaram em seus quadros, sem concurso público, antes da CF/88, sob
regime da CLT, com o objetivo de obter prestações de natureza trabalhista.
STF. Plenário. ARE 906491 RG, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 01/10/2015 (repercussão geral).
O Supremo Tribunal Federal decidiu que os precedentes formados na ADI 3.395-MC não se aplicam ao
julgamento de ação envolvendo direitos de servidor público contratado sem concurso, pelo regime
celetista e anteriormente à atual Constituição.
STF. 1ª Turma. Rcl 17654 ED, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 15/03/2016.
(...) É pacífica a jurisprudência da Corte de que é da Justiça do Trabalho a competência para processar e
julgar o feito em que se discute o direito a verbas remuneratórias relativas ao período em que o servidor
mantinha vínculo celetista com a Administração, antes, portanto, da transposição para o regime
estatutário em decorrência do regime jurídico único.
2. No caso dos autos, não se discute a existência, a validade ou a eficácia das relações entre servidores e
o poder público fundadas em vínculo jurídico-administrativo, mas tão somente o direito ou não da ora
agravante ao ressarcimento de verbas pagas aos agravados à época em que esses eram regidos pelo
regime celetista. (...)
STF. 1ª Turma. RE 649995 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 21/10/2014.
TST
O TST possui OJ relativamente semelhante e que é importante conhecer. Confira:
OJ-SDI1-138
Compete à Justiça do Trabalho julgar pedidos de direitos e vantagens previstos na legislação trabalhista
referente a período anterior à Lei nº 8.112/90, mesmo que a ação tenha sido ajuizada após a edição da
referida lei. A superveniência de regime estatutário em substituição ao celetista, mesmo após a sentença,
limita a execução ao período celetista.
Tudo parecia tranquilo e calmo, mas o STF tem proferido algumas decisões aparentemente contraditórias
com a sua jurisprudência e que serão explicadas na situação 2 logo abaixo:
SITUAÇÃO 2
Imagine a seguinte situação hipotética:
Em 1982, Maria foi contratada pela Administração Pública estadual para um emprego público em regime
celetista.
Em 1990, foi editada uma lei estadual transformando o emprego ocupado por Maria em cargo público,
tendo seu regime jurídico mudado de celetista para estatutário.
Posteriormente, ela ajuizou ação na Justiça pedindo diferenças remuneratórias decorrentes de reajustes
promovidos entre 1987 e 1988, período em que ainda era celetista.
Se você perceber bem, esta conclusão exposta nas reclamações contraria os precedentes do STF listados
na situação 1 e vai de encontro, inclusive, ao que a Corte decidiu no ARE 906491/RG.
Compete à Justiça do Trabalho julgar causa relacionada com depósito do Fundo de Garantia do Tempo
de Serviço (FGTS) de servidor que ingressou no serviço público antes da Constituição de 1988 sem
prestar concurso.
STF. Plenário. CC 7.950/RN, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/09/2016 (Info 839).
Não compete à Justiça do Trabalho julgar controvérsia referente aos reflexos de vantagem
remuneratória, que teve origem em período celetista anterior ao advento do regime jurídico único.
Reconhecido que o vínculo atual entre o servidor e a Administração Pública é estatutário, compete à
Justiça comum processar e julgar a causa.
É a natureza jurídica do vínculo existente entre o trabalhador e o Poder Público, vigente ao tempo da
propositura da ação, que define a competência jurisdicional para a solução da controvérsia,
independentemente de o direito pleiteado ter se originado no período celetista.
STF. Plenário. Rcl 8909 AgR/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Cármen Lúcia, julgado em
22/09/2016 (Info 840).
STF. 2ª Turma. Rcl 26064 AgR/RS, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, julgado em
21/11/2017 (Info 885).
DIREITO PENAL
CRIMES POLÍTICOS
Para a configuração do crime político exige-se o
preenchimento de requisitos objetivo e subjetivo
Por quê?
Porque os delitos previstos na Lei nº 7.170/83 são considerados crimes políticos, sendo de competência
da Justiça Federal, nos termos do art. 109, IV, da CF/88:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
(...)
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou
interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as
contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;
Recurso
Contra a sentença do Juiz Federal que julgar crime político não cabe apelação, mas sim recurso ordinário
constitucional, de competência do STF:
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição,
cabendo-lhe:
II - julgar, em recurso ordinário:
b) o crime político;
Trata-se, portanto, de um interessante caso no qual uma sentença de Juiz Federal é apreciada diretamente
pelo STF em grau de recurso. Vale ressaltar que o STF funcionará como “tribunal de apelação”, ou seja, ele
poderá inclusive reexaminar as provas.
(...) O Supremo Tribunal Federal, a partir de interpretação sistemática da Lei nº 7.170/83, assentou que,
para a tipificação de crime contra a segurança nacional, não basta a mera adequação típica da conduta,
objetivamente considerada, à figura descrita no art. 12 do referido diploma legal. 2. Da conjugação dos
arts. 1º e 2º da Lei nº 7.170/83, extraem-se dois requisitos, de ordem subjetiva e objetiva: i) motivação e
objetivos políticos do agente, e ii) lesão real ou potencial à integridade territorial, à soberania nacional, ao
regime representativo e democrático, à Federação ou ao Estado de Direito. (...)
STF. Plenário. RC 1472, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 25/05/2016.
No caso concreto, houve dúvidas sobre a real motivação do agente ao alterar a posição da chave da
bomba. Pode ter sido por curiosidade ou para causar algum tipo de dano. O certo é que não havia nenhum
indício de que ele tenha agido por motivação política.
Informativo 885-STF (28/11/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11
Informativo
comentado
Dessa forma, isso, por si só, já afasta a tipificação do crime definido no art. 15 da Lei nº 7.170/83.
Crime impossível
Por fim, a conduta do réu configura aquilo que é chamado de crime impossível. Isso porque a conduta do
réu de “virar a chave do controle remoto para o controle local” não tinha condições de causar nenhum
embaraço ao funcionamento da Usina, uma vez que a lesividade em concreto dependia de um segundo
comando, no painel central, que não foi feito pelo acusado.
Processo: STF. 1ª Turma. RC 1473/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/11/2017 (Info 885).
Em regra, o STF entende que deverá haver o desmembramento dos processos quando houver
corréus sem prerrogativa. Em outras palavras, permanece no STF apenas a apuração do
investigado com foro por prerrogativa de função e os demais são julgados em 1ª instância.
No entanto, no caso envolvendo o Senador Aécio Neves, sua irmã, seu primo e mais um
investigado, o STF decidiu que, no atual estágio, não deveria haver o desmembramento e a
apuração dos fatos deveria permanecer no Supremo para todos os envolvidos. Isso porque
entendeu-se que o desmembramento representaria inequívoco prejuízo às investigações.
STF. 1ª Turma. Inq 4506 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 14/11/2017 (Info 885).
Em suma:
Em regra, o STF entende que deverá haver o desmembramento dos processos quando houver corréus
sem prerrogativa. Em outras palavras, permanece no STF apenas a apuração do investigado com foro
por prerrogativa de função e os demais são julgados em 1ª instância.
No entanto, no caso envolvendo o Senador Aécio Neves, sua irmã, seu primo e mais um investigado, o
STF decidiu que, no atual estágio, não deveria haver o desmembramento e a apuração dos fatos deveria
permanecer no Supremo para todos os envolvidos. Isso porque entendeu-se que o desmembramento
representaria inequívoco prejuízo às investigações.
STF. 1ª Turma. Inq 4506 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 14/11/2017 (Info 885).
PROVA TESTEMUNHAL
Ordem de inquirição das testemunhas
Segundo a redação atual do art. 212 do CPP, quem primeiro começa fazendo perguntas à
testemunha é a parte que teve a iniciativa de arrolá-la. Em seguida, a outra parte terá direito
de perguntar e, por fim, o magistrado.
Assim, a inquirição de testemunhas pelas partes deve preceder à realizada pelo juízo.
Em um caso concreto, durante a audiência de instrução, a magistrada primeiro inquiriu as
testemunhas e, somente então, permitiu que as partes formulassem perguntas.
O STF entendeu que houve violação ao art. 212 do CPP e, em razão disso, determinou que fosse
realizada uma nova inquirição das testemunhas, observada a ordem prevista no CPP.
STF. 1ª Turma. HC 111815/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em
14/11/2017 (Info 885).
O art. 212 do Código de Processo Penal dispõe sobre a forma de inquirição das testemunhas na audiência.
Este dispositivo foi alterado no ano de 2008 e atualmente prevê:
Art. 212. As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha, não admitindo
o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com a causa ou importarem
na repetição de outra já respondida.
Parágrafo único. Sobre os pontos não esclarecidos, o juiz poderá complementar a inquirição.
(Redação dada pela Lei nº 11.690/2008)
Com a reforma do CPP, operada pela Lei nº 11.690/2008, a participação do juiz na inquirição das
testemunhas foi reduzida ao mínimo possível.
Desse modo, as perguntas agora são formuladas diretamente pelas partes (MP e defesa) às testemunhas
(sistema de inquirição direta ou cross examination).
Outra inovação trazida pela Lei é que, agora, quem primeiro começa perguntando à testemunha é a parte
que teve a iniciativa de arrolá-la. Ex: na denúncia, o MP arrolou duas testemunhas (Carlos e Fernando). A
defesa, na resposta escrita, também arrolou uma testemunha (André).
Depois de serem ouvidas todas as testemunhas de acusação, serão inquiridas as testemunhas de defesa
(no exemplo dado, apenas André). Quem primeiro fará as perguntas a André?
A defesa. Quando a defesa acabar de perguntar, o Ministério Público terá direito de formular
questionamentos e, por fim, o juiz poderá complementar a inquirição, se houver pontos não esclarecidos.
Ex: o juiz passa a palavra ao promotor: Dr., o senhor pode formular as perguntas diretamente à
testemunha arrolada pela acusação. Daí, então, o promotor inicia as perguntas, dirigindo-se diretamente
à testemunha: Você viu o réu matar a vítima? O réu segurava um revólver? Qual era a cor de sua camisa?
O que o juiz fará? Em regra, o juiz deverá apenas ficar calado, ouvindo e valorando, em seu íntimo, as
perguntas e as respostas.
O juiz deverá, contudo, intervir e indeferir a pergunta formulada pela parte caso se verifique uma das
seguintes situações:
a) quando a pergunta feita pela parte puder induzir a resposta da testemunha;
b) quando a pergunta não tiver relação com a causa;
c) quando a pergunta for a repetição de outra já respondida.
Se ocorrer alguma dessas três situações, o juiz deverá indeferir a pergunta antes que a testemunha
responda.
O que acontece se o juiz não obedecer a esta regra? O que ocorre se o juiz iniciar as perguntas, inquirindo
a testemunha antes das partes? Haverá nulidade absoluta ou relativa?
Segundo o STF, trata-se de caso de nulidade RELATIVA. Nesse sentido: STF. 1ª Turma. HC 123840, Rel.
Min. Marco Aurélio, julgado em 01/08/2017.
Alguns pontos importantíssimos que devem ser ressaltados sobre o tema:
• Não deve ser acolhida a alegação de nulidade em razão da não observância da ordem de formulação de
perguntas às testemunhas, estabelecida pelo art. 212 do CPP, se a parte não se desincumbiu do ônus de
demonstrar o prejuízo decorrente da inversão da ordem de inquirição das testemunhas.
• O STF vem entendendo que a demonstração de prejuízo, a teor do art. 563 do CPP, é essencial à alegação
de nulidade, seja ela relativa ou absoluta, eis que “(...) o âmbito normativo do dogma fundamental da
disciplina das nulidades pas de nullité sans grief compreende as nulidades absolutas” (HC 85.155/SP, Rel.
Min. Ellen Gracie).
• A inobservância do procedimento previsto no art. 212 do CPP pode gerar, quando muito, nulidade
relativa, cujo reconhecimento necessita que a parte demonstre a ocorrência de prejuízo.
Trata-se de entendimento reiterado do STF: HC 103525, Min. Cármen Lúcia, 1ª Turma, julgado em
03/08/2010; RHC 110623/DF, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 2ª Turma, julgado em 13/3/2012.
Importante frisar que o STJ também entende que se trata de nulidade relativa:
A inobservância ao disposto no art. 212 do Código de Processo Penal gera nulidade meramente relativa.
São necessárias para seu reconhecimento a alegação no momento oportuno e a comprovação do efetivo
prejuízo.
STJ. 6ª Turma. AgRg no RHC 62.461/MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 03/10/2017.
DIREITO INTERNACIONAL
EXTRADIÇÃO
Desnecessidade de novo processo de extradição em caso de reingresso de extraditando foragido
Diante disso, indaga-se: neste caso, será necessária nova decisão do STF analisando e deferindo a
extradição?
NÃO. Veja o que diz o art. 98 da Lei de Migração (Lei nº 13.445/2017):
Art. 98. O extraditando que, depois de entregue ao Estado requerente, escapar à ação da Justiça
e homiziar-se no Brasil, ou por ele transitar, será detido mediante pedido feito diretamente por
via diplomática ou pela Interpol e novamente entregue, sem outras formalidades.
A análise da extradição já foi feita pelo STF por ocasião da primeira entrega. Assim, não é necessária uma
segunda avaliação jurisdicional, em caso de reingresso indevido no território nacional.
Essa entrega pode ser feita apenas pela via administrativa (diplomática), ou seja, sem a participação do
Poder Judiciário?
NÃO. A CF/88 proíbe a prisão administrativa e diz que ninguém será preso “senão em flagrante delito ou
por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente” (art. 5º, LXI). Logo, é
indispensável a intervenção jurisdicional para decretar a prisão e viabilizar a nova entrega.
Resumindo:
Em caso de reingresso de extraditando foragido, não é necessária nova decisão jurisdicional acerca da
entrega, basta a emissão de ordem judicial.
STF. 2ª Turma. Ext 1225/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 21/11/2017 (Info 885).
Vale ressaltar que essa ordem judicial determinando a entrega pode ser uma decisão monocrática
proferida pelo Ministro do STF, não se exigindo um julgamento do colegiado.
DIREITO PROCESSUAL
DO TRABALHO
COMPETÊNCIA
Ação proposta contra a Administração Pública por servidor que ingressou como celetista antes
da CF/88 e cuja lei posteriormente transformou o vínculo em estatutário
Compete à Justiça do Trabalho julgar causa relacionada com depósito do Fundo de Garantia
do Tempo de Serviço (FGTS) de servidor que ingressou no serviço público antes da
Constituição de 1988 sem prestar concurso.
STF. Plenário. CC 7.950/RN, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/09/2016 (Info 839).
Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar demandas propostas contra órgãos da
Administração Pública, por servidores que ingressaram em seus quadros, sem concurso
público, antes da CF/88, sob regime da CLT, com o objetivo de obter prestações de natureza
trabalhista.
STF. Plenário. ARE 906491 RG, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 01/10/2015 (repercussão geral).
Não compete à Justiça do Trabalho julgar controvérsia referente aos reflexos de vantagem
remuneratória, que teve origem em período celetista anterior ao advento do regime jurídico
único.
Reconhecido que o vínculo atual entre o servidor e a Administração Pública é estatutário,
compete à Justiça comum processar e julgar a causa.
É a natureza jurídica do vínculo existente entre o trabalhador e o Poder Público, vigente ao
tempo da propositura da ação, que define a competência jurisdicional para a solução da
controvérsia, independentemente de o direito pleiteado ter se originado no período celetista.
STF. Plenário. Rcl 8909 AgR/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Cármen Lúcia, julgado
em 22/09/2016 (Info 840).
STF. 2ª Turma. Rcl 26064 AgR/RS, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, julgado
em 21/11/2017 (Info 885).
EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) Não cabe ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cujas atribuições são exclusivamente administrativas, o
controle de controvérsia que está submetida à apreciação do Poder Judiciário. ( )
2) A concessionária tem direito adquirido à renovação do contrato de concessão de usina hidrelétrica desde
que cumpridos os requisitos objetivos previstos no ajuste. ( )
3) Para que se configure crime político, além de a conduta estar enquadrada em um dos tipos previstos na
Lei nº 7.170/83, exige-se também que fique comprovada a motivação política do agente. ( )
4) (Juiz TJ/PE 2013 FCC) As perguntas no procedimento comum serão formuladas pelas partes diretamente
à testemunha, não admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com a
causa ou importarem na repetição de outra já respondida. ( )
5) (Juiz TJ/AM 2013 FGV) Desde a reforma do Código de Processo Penal realizada pela Lei n. 11.690/2008,
a oitiva de testemunhas no procedimento ordinário passou a ser feita pelo sistema cross examination,
ou seja, primeiro as partes devem formular as perguntas, cabendo ao magistrado a sua
complementação. De acordo com a jurisprudência majoritária dos Tribunais Superiores, a inversão
dessa ordem configura hipótese de nulidade relativa. ( )
6) Em caso de reingresso de extraditando foragido, é necessária nova decisão jurisdicional acerca da
entrega. ( )
Gabarito
1. C 2. E 3. C 4. C 5. C 6. E
OUTRAS INFORMAÇÕES
CLIPPING DA R E P E R C U S S Ã O G E R A L
DJe de 13 a 24 de novembro de 2017
Decisões Publicadas: 4
INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
13 A 24 DE NOVEMBRO DE 2017
Lei n° 13.506, de 13.11.2017 - Dispõe sobre o processo administrativo sancionador na esfera de atuação do
Banco Central do Brasil e da Comissão de Valores Mobiliários; altera a Lei no 6.385, de 7 de dezembro de
1976, a Lei no 4.131, de 3 de setembro de 1962, a Lei no 4.829, de 5 de novembro de 1965, a Lei no 6.024, de
13 de março de 1974, a Lei no 7.492, de 16 de junho de 1986, a Lei no 9.069, de 29 de junho de 1995, a Lei
no 9.613, de 3 de março de 1998, a Lei no 10.214, de 27 de março de 2001, a Lei no 11.371, de 28 de novembro
de 2006, a Lei no 11.795, de 8 de outubro de 2008, a Lei no 12.810, de 15 de maio de 2013, a Lei no 12.865,
de 9 de outubro de 2013, a Lei no 4.595, de 31 de dezembro de 1964, o Decreto no 23.258, de 19 de outubro
de 1933, o Decreto-Lei no 9.025, de 27 de fevereiro de 1946, e a Medida Provisória no 2.224, de 4 de setembro
de 2001; revoga o Decreto-Lei no 448, de 3 de fevereiro de 1969, e dispositivos da Lei no 9.447, de 14 de
março de 1997, da Lei no 4.380, de 21 de agosto de 1964, da Lei no 4.728, de 14 de julho de 1965, e da Lei
no 9.873, de 23 de novembro de 1999; e dá outras providências. Publicada no DOU, Seção 1, Edição n° 218,
p.1, em 14.11.2017
Lei nº 13.509, de 22.11.2017 - Dispõe sobre adoção e altera a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto
da Criança e do Adolescente), a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no
5.452, de 1o de maio de 1943, e a Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil). Publicada no DOU,
Seção 1, Edição n° 224, p.1, em 23.11.2017
OUTRAS INFORMAÇÕES
13 A 24 DE NOVEMBRO DE 2017
Decreto nº 9.199, de 20.11.2017 - Regulamenta a Lei no 13.445, de 24 de maio de 2017, que institui a Lei de
Migração. Publicado no DOU, Seção 1, Edição n° 222, p.1, em 21.11.2017
Medida Provisória nº 808, de 14.11.2017 - Altera a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo
Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Publicada no DOU, Seção 1, Edição n° 218, p.1, em 15.11.2017
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Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
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