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Aula 04 - As Especificidades da Antropologia

Nesta aula, com a ajuda dos personagens Pedro, Maria, João, Laura, Gabi e o professor de Antropologia da
Religião, você vai estudar algumas especificidades da Antropologia, como o etnocentrismo, a diversidade e o
relativismo cultural.

4.1 Nós e Eles: o Etnocentrismo

Em uma sexta-feira, após as aulas, Pedro e Maria se encontraram com João e Laura em um bar no Pistão Sul
de Taguatinga. Conversavam sobre suas leituras e sobre as discussões ocorridas nas aulas e nos fóruns virtuais
da disciplina Antropologia da Religião.

Pedro disse:

- Não imaginava que essa disciplina teria um conteúdo e assuntos tão interessantes! Nas primeiras aulas já
pude perceber que ela me ajudará a ver com outros olhos temas e aspectos da realidade que não perceberia ou
veria de uma forma tradicional, com uma visão não-crítica.

Maria, após refrescar a garganta, sorriu e retirou de sua mochila o bloco de anotações, colocou o bloco sobre
a mesa, apontando para um esquema que fez a partir das leituras que tratavam o modo como, ao longo da
história, foram construídos os conceitos para explicar e compreender o ‘outro’. Daí vieram conceitos como o
etnocentrismo, a diversidade e o relativismo cultural como campo teórico. Ela convidou seus amigos a verem
seu esquema-síntese:

- É um bom esquema, mas como qualquer esquema apresenta limites e precisa ser explicado, problematizado
e pensado. Por exemplo, só para aprofundarmos, pensarmos sobre a antropologia e as ideias desse esquema,
vamos analisar alguns dados. Dado 1: Sabemos que a antropologia, enquanto ciência moderna, se constituiu
apenas a partir do século XIX; Dado 2: A consciência da identidade de um grupo frente aos outros é antiga,
isso demarcou e demarca a diferença entre um grupo e outro. Muitas vezes, a consciência dessa diferença se
expressou de forma violenta por meio de preconceitos, discriminações, guerras, perseguições e outros. Não é
mesmo? Diante desses dados surge minha questão: Como o pensamento antropológico explica essa
recorrência no modo de ver o ‘outro’, em grande parte das vezes, como desvio da ‘normalidade’ ou da
humanidade? Ou, em outras palavras, por que o ‘eu’ geralmente vê o diferente, o ‘outro’, como desviante da
‘normalidade’ ou até como não-humano?

Nesse momento, o garçom se aproximou com o cardápio e perguntou o que eles queriam comer. Pedro sugeriu
uma pizza e todos concordaram. Laura avistou seu ex-professor de Antropologia da Religião chegar com uma
amiga e prontamente levantou-se para cumprimentá-los. Após sondar os amigos da mesa, convidou-os a
sentarem com eles.

Após as apresentações do professor e de sua amiga Gabi aos amigos, Laura contextualizou a conversa que
estavam tendo sobre o pensamento antropológico a partir das aulas e leituras da disciplina e especialmente do
esquema apresentado por Maria e a pergunta formulada pelo João. Os convidados acharam a conversa muito
interessante.

Pedro disse que a questão de João era bem complexa e que estava lendo um livro que mencionava essa mesma
questão. Disse que esse problema é chamado pelos antropólogos de ‘etnocentrismo’.

Gabi fez uma cara de quem não escutou direito e perguntou:

- Etno o quê?
Maria respondeu:

- Etnocentrismo!

Pedro retomou a palavra e falou:

- O etnocentrismo é caracterizado por distorções que fazemos do outro, daqueles que são diferentes de nós
tanto no plano intelectual, expresso na dificuldade de pensarmos o diferente, quanto no plano afetivo, gerando
medo, hostilidade, estranheza, por exemplo. Esse fenômeno não é exclusivo de uma determinada época ou de
apenas algumas sociedades (ROCHA, 2004). Por isso, podemos observar no esquema da Maria que, em
diferentes períodos históricos, há uma forma etnocêntrica de caracterizar o diferente do ‘eu’, isto é, o ‘outro’.

O professor confirmou a fala de Pedro e disse, citando Lévi-Strauss (1993, p.334):

A humanidade cessa nas fronteiras da tribo, do grupo linguístico, às vezes mesmo da aldeia; a tal ponto, que
um grande número de populações ditas primitivas se autodesignam com um nome que significa ‘os homens’
(...) implicando assim que as outras tribos, grupos ou aldeias não participam das virtudes ou mesmo da
natureza humana mas são, quando muito, compostos de “maus”, de “malvados”, de “macacos da terra” ou de
“ovos de piolho” (...).
Maria com um ar pensante, disse:

- Ah! É isso mesmo! Isso que o antropólogo observou nessas tribos indígenas nós podemos observar em nossa
sociedade, em nosso meio, isto é, em nossas atitudes frente a outros grupos sociais com os quais convivemos
nas grandes cidades. São ideias e atitudes geralmente repletas de etnocentrismo: ‘as mulheres’, ‘os negros’,
‘os nordestinos’, ‘os gays’, ‘as dondocas’ etc. Isso nos faz rotular e aplicar estereótipos por meio dos quais
nos guiamos para o confronto cotidiano com o diferente, transformando “a diferença pura e simples num juízo
de valor perigosamente etnocêntrico” (ROCHA, 2004, p. 20).

O professor continuou:

- A partir de pesquisas realizadas em diferentes regiões do mundo e em diversos grupos, nós antropólogos
podemos afirmar que se existe algo em comum entre os diferentes grupos humanos seria justamente a
capacidade de se diferenciar uns dos outros em suas expressões linguísticas, costumes, instituições etc. Assim,
a capacidade de criar, de se diferenciar foi a resposta dos grupos humanos, inclusive o nosso, frente aos
desafios e limites existenciais comuns, como por exemplo, o alimentar-se, o relacionar-se, o conhecer etc.
Para a antropologia, a diferença pode ser vista como alternativa e não necessariamente como ameaça. Mas
para tanto há de se colocar no lugar do outro. Dessa forma, criou-se algo como uma ciência sobre a diferença
entre os seres humanos.

Laura, que já havia cursado Antropologia da Religião com o professor, relembrou-se das aulas e leituras sobre
essa discussão e disse:

- De fato, a Antropologia, apesar de, em alguns momentos da história, também enveredar por teorias
etnocêntricas, foi criando métodos e técnicas de caráter científico para se colocar no lugar do outro, como
menciona o professor.

Ela destacou que um dos pilares da antropologia moderna, o polaco Bronislaw Malinowski, orienta que um
“trabalho etnográfico só terá valor científico irrefutável se nos permitir distinguir claramente, de um lado, os
resultados da observação direta e das declarações e interpretações nativas” e, de outro, “as interferências do
autor, baseadas em seu próprio bom senso e intuição psicológica” (MALINOWSKI, 1984, p. 18).

João pediu a palavra e disse:


- É isso mesmo, Laura! Os antropólogos, ao desenvolverem suas pesquisas em contato direto com grupos e
sociedades diferentes de sua cultura, tiveram de atentar para a relatividade de suas interpretações sobre o que
viam, ouviam e vivenciavam. Criaram, assim, a necessidade de distinguir, com rigor acadêmico, em suas
pesquisas de campo, o que era observação dos fatos e o que era conclusão a partir do observado.

Citando Laplantine, o professor acrescentou que a abordagem antropológica suscitou “uma verdadeira
revolução epistemológica, que começa por uma revolução do olhar. Ela implica num descentramento radical,
uma ruptura com a ideia de que existe um ‘centro do mundo’, e, correlativamente, uma ampliação do saber e
uma mutação de si mesmo”. Assim, a antropologia fez com que descobríssemos a alteridade, que nos “permite
deixar de identificar nossa pequena província de humanidade com a humanidade e correlativamente deixar de
rejeitar o presumido ‘selvagem’ fora de nós mesmos” (LAPLANTINE, 2000, p. 22-23).

A Gabi pegou de sua mochila o livro Um diário no sentido estrito do termo, de Malinowski, que havia tomado
emprestado do professor. Ela contou que o livro mostra o diário de pesquisa de Malinowski quando esteve nas
Ilhas Trobriand (1917-1918), revelando claramente como um cientista, porque é humano, está sujeito a
condicionantes de diversas naturezas e formas. Gabi leu com entusiasmo os seguintes trechos:

21.12.1917. Acordei tarde, às 7. (...) Chuva; uma caganeira violenta perto do matagal. Resolvi nunca mais
tomar purgante! Preguiça: gostaria de quebrar a monotonia, de “tirar uma folga”. Esta é uma das minhas piores
tendências! Mas farei o contrário: terminarei umas tarefas de rotina, “o diário etnográfico”, reescreverei as
minhas anotações do censo e as impressões de ontem. (...) Durante todo aquele dia senti saudades da
civilização. Pensei nos amigos de Melbourne. À noite, no bote, pensamento agradavelmente ambicioso: eu
certamente serei um eminente estudioso polonês. Essa será minha ultima aventura etnológica. Depois disso,
dedicar-me-ei à sociologia construtiva: metodologia, economia política etc., e na Polônia posso concretizar
minhas ambições melhor do que em qualquer outro lugar. Forte contraste entre meus sonhos com uma vida
civilizada e minha vida com os selvagens. (...). (MALINOWSKI, 1997, p. 184).
25.6.1918. De manhã trabalhei com calma, sem surchauffage, e tirei fotografias. Depois revisei minhas notas
e as aumentei. A seguir fui caminhar via Kkabwaku, Okaykoda. Muito cansado. Solucei e fiquei muito triste.
À noite tornei a trabalhar. Maravilhosa noite enluarada. Fui a Yourawotu; uma angústia e um pesar irrefreáveis
inundaram tudo. Solucei. Ao luar etc., pensamentos lascivos. (p. 310).
27.6.1918. Dia frio, céu encoberto. Trabalhei ate o ponto de total exaustão com técnica excelente, ou seja, sem
esforços desnecessários. De manhã, Tokulubakiki e Tokaka'u de Tilakaywa. Depois só Tokaka'u. Depois do
almoço, uma conversa rápida com Towese'i, depois fui observar a connstrução de uma grande guguta, e a
Kwaybwaga, onde eles estão assando butukwa. Depois, uma caminhada curta com Tokulubakiki. Senti-me
debilitado e fiquei imaginando se deveria arriscar uma caminhada longa ou me deitar para dormir. Fui a M'
tava, e isso me fez um bem enorme. Quando retornei, escrevi wosi:para escrever e traduzir 8 dísticos raybuta
levei 2 horas! Li Papuan Times, e fiquei impressionado com o artigo de Murray. Sentimentos e pensamentos:
a tristeza e o pesar tudo permeiam. No momento em que deixo de me controlar, meus pensamentos voltam à
Polônia, ao passado. Sei que tenho um abismo negro, um vácuo, na alma, e, com toda a mediocridade
emocional peculiar a mim, tento evitar o abismo. Mas minha tristeza é intensa e profunda. Não tenho
pensamentos alegres. Uma sensação do mal da existência. Penso constantemente no otimismo superficial das
crenças religiosas: daria qualquer coisa para acreditar na imortalidade da alma. O terrível mistério que cerca
a morte de alguém querido, próximo a nós. A última palavra não pronunciada – algo que deveria esclarecer é
enterrado, o resto da vida se encontra meio oculto na escuridão. Ontem, durante minha caminhada, senti que
a felicidade e a alegria de viver, em sua forma verdadeira e completa, fogem de mim sempre que tento
aproximar-me delas. Ontem, deliberadamente, afastei as ideias e planos ambiciosos (MALINOWSKI, 1997,
p. 311-312).
Pedro, muito espontaneamente, disse:

- Que barato! O cara era como nós, cheio de dúvidas, pensava ‘naquilo’ e tinha piriri (risos) apesar de ter sido
um dos mais célebres e influentes antropólogos do início do século XX. A ciência é realmente uma criação
humana, e por isso revela sua grandeza e sua pequenez.

Todos sorriram como uma forma de anuência à fala de Pedro. Nesse momento, chegou o garçom com as pizzas
e todos começaram a se servir. João começou a sorrir e todos perguntaram a razão daquele sorriso. Ele disse:
- Vejam como são as coisas: estamos a conversar e pensar sobre as diferenças, o etnocentrismo e o relativismo
cultural e agora nos deliciamos com essa pizza! Lembrei-me de uma interessante passagem de um antropólogo
estadunidense que afirmava que muito do que temos como desenvolvimento próprio, por exemplo uma
culinária original, autóctone, na verdade é fruto de todo um processo de difusão e mistura de padrões culturais
de outros grupos e sociedades. Isso me parece evidenciar que o aquilatamento dos grupos humanos tem se
dado, ou pode se dar, por uma relação de alteridade dialogal entre diferentes culturas.

Para Saber Mais

Leia o texto “O cidadão 100% norte-americano”, de Ralph Linton. Atente para os detalhes desse
interessantíssimo texto sobre as misturas de culturas e costumes no mundo atual.

4.2 O Relativismo Cultural

O professor, depois de se deleitar com uma fatia de pizza, pediu a palavra e disse:

- Acho muito importante estarmos conversando sobre isso. Quero retomar uma questão que esteve presente
em nossa conversa quando a Laura falou dos métodos e técnicas da antropologia ao fazer ciência, e a Gabi leu
aqueles reveladores trechos do diário de Malinowski. Vejamos: a própria realidade do etnocentrismo e a
reflexão científica sobre ele fizeram com que antropólogos e antropólogas cunhassem outro conceito de grande
valia: o relativismo cultural.

O professor fez uma pausa reflexiva, e os estudantes se entreolharam como indicativo de atenção para a
explicação que viria a seguir. O professor, então, explicou:

- A história da antropologia, enquanto ciência, demonstra que o contato direto de antropólogos com povos
diferentes demandou a criação de métodos e técnicas para se colocar no lugar do ‘outro’, para compreender o
‘outro’. Hoje, está claro para esses estudiosos que se colocar no lugar do ‘outro’ não significa que o
antropólogo ou a antropóloga se transformará em um ‘nativo’. O entender, o interpretar o ‘outro’ sempre se
dará a partir da cultura própria do pesquisador. Contudo, esse movimento de deslocamento cultural, de se
colocar no lugar do ‘outro’ gera um conhecimento científico que relativiza uma tendência do pensamento
científico, de pretensões absolutizadoras. É o que a antropologia interpretativa chama de ‘encontros
etnográficos’ ou ‘intersubjetividade’. Isso ajuda a depurar o etnocentrismo, que também se faz presente em
pesquisas de cientistas de todas as áreas, porque a ciência moderna se desenvolveu a partir de uma ‘“cultura
europeia ocidental’.

Laura acrescentou:

- Isso é muito interessante! Na semana passada li um artigo do Boaventura de Souza Santos que menciona o
seguinte (Laura rapidamente clicou sobre a tela de seu notebook e iniciou uma breve leitura):

Não é por acaso que no final do milênio boa parte da biodiversidade do planeta existe em territórios dos povos
indígenas. Para eles, a natureza nunca foi um recurso natural, foi sempre parte da sua própria natureza
enquanto povos indígenas e assim a preservaram preservando-se, sempre que conseguiram escapar à
destruição ocidental. Hoje, à semelhança do que ocorreu nos alvores do sistema mundial capitalista, as
empresas multinacionais da farmacêutica, da biotecnologia e da engenharia genética procuram transformar os
indígenas em recursos, agora não em recursos de trabalho, mas antes em recursos genéticos, em instrumentos
de acesso, não ao ouro e à prata, mas, por via do conhecimento tradicional, à flora e à fauna, sobre a forma de
biodiversidade (SANTOS, 2008).
Para Saber Mais

Leia na íntegra o artigo “O fim das descobertas imperiais”, de Boaventura de Souza Santos.

4.3 Ciência e Cultura


Laura fez uma pausa na leitura, ao ver Pedro levantar o dedo em sinal de que queria fazer um comentário:

- Que visão crítica! A ciência moderna trouxe muitos benefícios para a humanidade, o que é facilmente visto
ao nosso redor, mas, ao mesmo tempo, a forma de produção desse conhecimento também foi condicionada
pela cultura, ou, como diz meu professor de Metodologia Científica, por “paradigmas”. No caso do texto lido,
falamos de uma ciência que se desenvolveu a partir de um paradigma mecanicista. É isso mesmo?

João respondeu:

- É isso mesmo! O paradigma mecanicista, que é hegemônico em nossa ciência, caracteriza-se por um olhar
instrumental sobre o ‘outro’. Isto é, vê o objeto de pesquisa, aqui representado pela natureza (flora e a fauna)
ou pelo ser humano (índio), como produtos comerciais, meros objetos, meios para sua utilização, e não se
‘pré-ocupa’ em conhecer, dialogar, saber como se dá o processo de interação entre o ser humano e a natureza,
saber o que gera equilíbrio e o que violenta o sistema socioambiental.

O professor, então, complementou:

- Isso é tão recorrente na academia que, em alguns trabalhos de extensão e pesquisa, estudantes e professores,
ao terem contato com comunidades pobres, por exemplo, levam seu ‘conhecimento científico’ sem criar um
efetivo processo de ‘encontro etnográfico’. A relação entre culturas é esquecida, negligenciada e até negada.
Há, assim, a imposição cultural de um conhecimento que não dialoga com outros saberes. Não é à toa que em
muitos trabalhos de extensão, por exemplo na área de saúde, não se tem êxito, e muitos ‘doutores’ persistem
em uma postura de ausência de diálogo e interação com a comunidade, restringindo suas atividades a palestras
e cursos. Nesses casos, não há diálogo, interação, e sim monólogo, mesmo que se façam perguntas e os
comunitários respondam. A interação cultural se dá para além de esquemas padronizados, de mero
cumprimento de tarefas. A verdadeira interação requer considerar o ‘outro’ em sua completude e
complexidade. Daí ouvirmos coisas como “esses pobres não aprendem mesmo, a gente faz tudo e eles
continuam na mesma, não querem crescer”.

Para Saber Mais

Leia o texto “Você tem cultura?”, de Roberto Damatta. Este texto apresenta uma perspectiva antropológica
do que é cultura e uma análise desse conceito a partir de aspectos da realidade brasileira.

Laura interrompeu e disse:

- Escutem só outro trecho do Boaventura de Souza Santos, que explica essa recorrente estratégia de
inferiorização do diferente:

A produção da inferioridade é, assim, crucial para sustentar a descoberta imperial. Para isso, é necessário
recorrer a múltiplas estratégias de inferiorização. Neste domínio pode dizer-se que não tem faltado imaginação
ao Ocidente. Entre tais estratégias podemos mencionar a guerra, a escravatura, o genocídio, o racismo, a
desqualificação, a transformação do outro em objeto ou recurso natural e uma vasta sucessão de mecanismos
de imposição econômica (tributação, colonialismo, neocolonialismo, e, por último, globalização neoliberal),
de imposição política (cruzadas, império, estado colonial, ditadura e, por último, democracia) e de imposição
cultural (epistemicídio, missionação, assimilacionismo e, por último, indústrias culturais e cultura de massas).
(SANTOS, 2008)
O professor anunciou que teria de ir embora e pediu a palavra mais uma vez. Ele disse:

- O relativismo apresentado pelo pensamento antropológico é uma espécie de antídoto contra o etnocentrismo,
que sempre estará presente, em maior ou menor grau, em todas as culturas. O relativismo questiona nossas
próprias premissas como verdades únicas e absolutas. Há um texto clássico de Herskovits, cujo título é “O
problema do relativismo cultural”, que complementa e acrescenta muitos outros aspectos a essa nossa
conversa. Aliás, a conversa está muito boa e instigante, é pena que eu tenha de ir...
Maria interrompeu e disse:

- Tô lendo esse texto. É muito rico de informações e exemplos. Vale a pena ler!

O professor e sua amiga Gabi se levantaram, anunciando novamente a partida, e se despediram do grupo,
cumprimentando cada um.

Pedro se levantou e disse:

- Vamos nessa, galera! Tenho de pegar o metrô, que passa daqui a meia hora. Você me dá uma carona, Maria?

Maria, sorrindo, brincou:

- O que você seria sem mim, Pedro?

Ambos sorriram e se despediram de Laura e João, que decidiram continuar um pouco mais no bar.

Maria deixou Pedro na parada do Pistão Sul, mais próxima da estação do metrô, e Pedro se despediu
agradecendo o ‘papo cabeça’ e a carona.

Ao chegar na estação do metrô, sua linha não demorou, e logo ele embarcou. No percurso, seu pensamento
seguiu as luzes que, de fora, se distanciavam e se aproximavam, em um movimento dependente do lugar em
que ele estivesse. Ou melhor: dependente do lugar em que o trem do metrô, criado pelo ser humano, o levasse.

Sorriu com seu pensamento. Seria assim com a ciência? Com a Antropologia? A proximidade nos ajuda a ver
melhor, tornando o ‘estranho’ mais ‘familiar’. E, por outro lado, muita proximidade ofusca a visão, não
permitindo o distanciamento metodológico científico do ‘estranhamento’. E o distanciamento excessivo não
nos permite ver efetivamente o ‘outro’.

Foram esses os pensamentos que a conversa e a imagem, na janela do metrô, trouxeram-lhe à mente e ao
inquieto coração estudante. Ele ia feliz, satisfeito com suas novas descobertas.

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