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(1)
Por Michel Odent (2)
Assassinato de Cristo... Couraça... Peste emocional... Toda uma série de metáforas antigas
que datam de várias décadas. Os iniciados, cada vez mais numerosos, captam seu
verdadeiro significado e suas inúmeras implicações. O trabalho de Reich é hoje uma
evidência, um fato reconhecido. Os caminhos que nos levam ao seu trabalho são múltiplos.
Meu ponto de vista, minha aproximação, teve diferentes pontos de partida, ou pelo menos
dois: por um lado, eu estava interessado pelo fulgurante ressurgir da Neurofisiologia e da
Neuroendocrinologia e, por outro lado, minha atividade profissional em uma maternidade
bastante diferente do que são na atualidade os "serviços obstétricos convencionais".
Assim como o comportamento procura renovar sua ação gratificante, colocando em ação
seu "conjunto prosencéfalo medial" (ou zona de recompensa), também temos que quando
o comportamento de "luta ou fuga" ocorre em face de uma agressão, o sistema que, neste
caso, se coloca em ação é o "sistema periventricular". Nesta medida, "a inibição da ação" é
um esquema comportamental básico: é a representação do que ocorre quando, diante da
agressão, é impossível responder por meio de luta ou fuga. É, portanto, um comportamento
de submissão. O sistema inibitório de ação, que é essencialmente colinérgico e
serotonérgico, põe em jogo toda uma série de estruturas próprias do sistema
hipotalâmico-límbico. Tanto a sua individualização como as respostas neuro-hormonais que
a caracterizam possuem uma ampla fundamentação experimental, tendo sido analisadas
em detalhes pelo próprio Laborit (4).
O sistema inibidor da ação, libera el "factor de liberação de corticotrofina", ou seja, sua ação
motiva a secreção de "A.C.T.H." e "Cortisol"; comanda a secreção de cortisol suprarrenal
que estimula, por sua vez, o "sistema inibidor da ação". Assim entra em jogo um círculo
vicioso, sendo interrompido somente pela aparição de uma ação "gratificante". Este círculo
vicioso é o protótipo originário da angústia. As teorias sobre a angústia elaboradas por
Grey, da Universidade de Oxford, não estão em contradição com o ponto de vista de
Laborit. Ao contrário, o completa. Quando Grey fala de "sistema de inibição
comportamental" está pensando no que passa ao nível das sinapses límbicas que utilizam
como neuromediador o "G.A.B.A.". O estresse impede a transmissão nervosa nas sinapses,
o que está em paralelo com a inibição da ação.
Os incidentes próprios dos eventos do sistema "Inibição de ação" são fáceis de prever
quando se conhecem os efeitos da secreção do cortisol e da noradrenalina. O cortisol priva
o sistema imunitário e tende a destruir o timo, que tem um papel importante na maturação
dos linfócitos, capazes de manter em taxas muito baixas os auto-anticorpos dirigidos contra
os próprios constituintes do organismo. O cortisol se opõe à síntese proteica. Suprime
também o "sono REM". Favorece a retenção de água e de sal, aumenta a massa
sanguínea, enquanto a noradrenalina eleva o tônus muscular.
Vemos então que os efeitos da colocação em prática do "sistema de ação inibidor" diz
respeito a toda a economia neuroendócrina. As implicações deste termo parecem múltiplas
para Laborit, em uma sociedade onde situações altamente patogênicas são frequentes. No
entanto, em seu trabalho, Laborit não tomou em consideração o recém nascido, a criança. É
sem dúvida, na idade em que o "hormoniostato" hipotálamo-límbico é regulado, quando
essas situações comportamentais são as mais patogênicas. Então, temos uma grande
quantidade de recém nascidos em situação crônica de inibição de ação. O recém-nascido
percebe que seus gritos e seus gritos são inúteis, ele está em uma situação de submissão
total. Todos sabemos que a necessidade fundamental do recém nascido em seus primeiros
cuidados. está em uma situação de "inibição da ação". O recém nascido, além de precisar
de contatos cutâneos, estimulação de seu sistema vestibular pela ação de seu balanço,
estimulação auditiva significativa, referências olfativas, leite, calor, sucção, também precisa
saber que seus pedidos serão atendidos. O recém nascido, que é perfurado; O recém
nascido, cuja espinha é esticada sem ter chance de fugir ou lutar, está em uma situação de
"inibição da ação".
Tanto no Ocidente quanto, e ainda mais, no Oriente, a grande maioria dos seres humanos
passa seus primeiros dias, as primeiras semanas, os primeiros meses, em situações
prolongadas de "inibição da ação". Tanto nossas mães como nossas avós nos ensinaram a
não favorecer "maus hábitos" nos bebês; isto é, não responder às suas necessidades
fundamentais, ou seja, deixá-las numa situação de "inibição da ação". Quais são as
consequências a longo prazo da "inibição da ação"? Não são outras que as desregulações
hipotálamo-límbicas chamadas "doenças da civilização". No quadro das doenças da
civilização, incluímos também tanto as diferentes formas de depressão (deprimidos têm uma
alta taxa de cortisol no sangue), disfunções sexuais - das quais tomam parte os partos
difíceis -, hipertensão arterial, úlceras gastroduodenais, as agressões de angústia e
irritabilidade, doenças autoimunes cuja frequência e polimorfismo se tornam cada vez mais
específicos (retocolite hemorrágica*, hipertireoidismo, certas formas de diabetes, miastenia,
etc.), depressões ou distúrbios imunológicos que desempenham um papel fundamental na
gênese das doenças infecciosas, assim como do câncer. Reich já havia estabelecido a
relação entre o tratamento recebido pelo recém-nascido e o desenvolvimento do câncer. Em
sua obra SUPERPOSIÇÃO CÓSMICA, escrevera: "se haveria utilidade em impedir doentes
de câncer de morrer quando bilhões de crianças estão sendo mortas emocionalmente".
Pessoalmente, segui esse itinerário, deixando pouco a pouco meu trabalho como cirurgião,
para consagrar-me cada vez mais ao nascimento.
Como prevenir essas situações altamente patogênicas tão freqüentes nos recém-nascidos,
particularmente nos recém-nascidos dessa sociedade industrial? Em primeiro lugar, levando
em consideração as necessidades básicas e fundamentais do recém nascido. As
necessidades de leite e calor são conhecidas por nós. Mas, de modo inverso, as
necessidades de estimulação sensorial são desconhecidas ou subestimadas. Não há
dúvidas, o recém-nascido precisa de estimulações sensoriais. Uma estimulação sensorial é
uma oferta de energia para o cérebro. Neste ponto de vista, já estamos em contato com o
trabalho de Reich e sua concepção de energia universal, sendo a "bioenergia" um aspecto.
A neurofisiologia moderna acomoda facilmente a visão de Reich. Hoje, já há evidência de
que o ser vivo capta e transforma constantemente, parte da energia cósmica. Assim, por
exemplo, quando uma retina percebe um raio de luz, a energia da luz é transformada em
energia eletrônica ao nível do nervo óptico e depois em energia química ao nível das
sinapses entre duas células nervosas, de modo que uma estimulação sensorial é uma
contribuição de energia para o cérebro.
A resposta da mãe às necessidades do recém nascido será mais correta quando se sabe
respeitar certos períodos sensíveis, particularmente, os momentos que se seguem ao
nascimento, não perturbando a relação mãe-filho. A noção de período sensível, de "apego",
foi bem estudada por ecologistas e hoje também é acessível à visão neuroendocrinológica.
Na maternidade onde eu trabalho (5), é comum encontrar a mãe sentada no chão nos
momentos que seguem a entrega, com a criança no colo, totalmente presa ao peito, porque
o parto ocorre em uma posição que leva consigo o máximo respeito ao período sensível,
verdadeiramente determinante. Agora, compreendemos melhor que a mãe e a criança
estão em um período hormonal ainda crítico, porque parece que tanto uma quanto a outra
estão fortemente impregnados de "endorfinas"; isto é, de opióides endógenos***. Esses
hormônios têm um papel preponderante nos comportamentos afetuosos, nas condutas de
assistência atenta, bem como na indução de hábitos.
- Contato "primitivo" com uma mulher de quem seja suficientemente íntima, e que seja
experiente e atenta. A parteira, sendo mulher, tem com frequência o papel mais positivo, já
que pode desempenhar o papel de substituta de mãe [da parturiente]; tal papel também
poderia ser feito pelo parceiro sexual. Você não pode ignorar o sexo das pessoas presentes
no parto, porque é um ato inscrito na vida sexual.
- Assim como a mulher que vai dar à luz precisa de um contato habitual com o solo, com a
terra, também outro elemento natural: a água, tem o efeito misterioso de criar um sem fim
de inibições, seja pelo chuveiro, por ver a água, ou por imersão na piscina. Aproveitamos a
oportunidade de evocar o trabalho de Ferenczi (6), bem como o de Reich.
Deste modo, nosso primeiro objetivo é o esforço de conhecer melhor, para não perturbar, a
fisiologia do parto. Facilitando-o para, ao mesmo tempo, facilitar - em grande medida - as
primeiras relações da mãe com seu filho.
De fato, nossa posição está situada dentro de uma ampla perspectiva da gênese da saúde,
porque somos, em outras palavras, pela prevenção das múltiplas doenças da civilização. Na
linguagem reichiana, isso significa que nos opomos à constituição da couraça. Por que
precisamente os profissionais que trabalham nos locais onde se dá a luz são cúmplices
habituais da constituição da couraça? Simplesmente, porque eles são encouraçados como
são os homens e mulheres da nossa sociedade. Estamos em um círculo vicioso. O caráter
encouraçado é contagioso. O homem encouraçado sempre busca eliminar a mãe. A história
do obstetra É TAMBÉM AS DIFERENTES FORMAS DE ELIMINAR A MÃE. Quando o
médico do sexo masculino, penetrando nos quartos onde se paria no século XVII, impôs a
posição deitada, para colocar de forma mais cômoda seus fórceps, eliminou de certo modo
a mãe.
O círculo vicioso não pode ser quebrado, exceto pela tomada de consciência, que deve
levar ao questionamento radical das condições habituais de nascimento.
(1) Escrito por Michel Odent (1930-) em 1982, para a revista L’ARC (1958-1985), em
sua 83a. edição, dedicada a Wilhelm Reich. O título faz referência direta ao livro de
Wilhelm Reich “O Assassinato de Cristo”; A primeira tradução deste artigo foi de Jerónimo
Bellido para o Espanhol, e em cima dessa, tradução de Arnaldo V. Carvalho para a língua
portuguesa.
(2) Cientista francês dedicado há décadas aos estudos sobre a saúde humana no período
primal (da gestação ao primeiro ano de vida), bem como seus impactos para a vida
posterior, individual e coletiva. Mais informações consultar o Instituto Michel Odent:
www.institutomichelodent.com.br e ainda o Primal Health Research.
* O termo utilizado na tradução original foi “rectilitis femorragica”. Não há referências sobre
esse termo na literatura médica, seja em espanhol, francês ou português. Por tratar de
distúrbio notadamente relacionado à “inibição da ação”, me pareceu que o tradutor espanhol
referiu-se à retocolite hemorrágica, doença inflamatória crônica e com muitas evidências
que a associam ao grupo das chamadas doenças psicossomáticas.
*** Mais uma vez observamos o tradutor para o espanhol em possíveis dificuldades
terminológicas. Acreditamos que a digitação de “encógenos” deveria ser “endógenos”.
**** Citação por Odent do texto “As Crianças do Futuro”, de Wilhelm Reich ainda não
oficialmente publicado no Brasil..