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Ana Paula Torres Megiani
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Cultura afro-brasileira:
temas fundamentais em ensino,
pesquisa e extensão
Copyright © 2017 José Carlos Gomes da Silva/ Melvina Araújo.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
C974
Apresentação 9
Flávia Alves de Sousa
Introdução 11
Melvina Araújo
Melvina Araújo1
Referências bibliográficas
ALMEIDA, Ronaldo. Dez anos do chute na santa: a intolerância
com a diferença. In: SILVA, Vagner Gonçalves da (org.). Intole-
rância Religiosa: impactos do neopentecostalismo no campo reli-
gioso afro-brasileiro. São Paulo: Editora da Universidade de São
Paulo, 2007. p. 171 - 190.
COPELOTTI, Lucía. Controvérsias em torno do uso do meio am-
biente em rituais religiosos afro-brasileiros na Região Metropo-
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mas, 2016. p. 277 – 296.
COSTA, Sérgio. Dois Atlânticos. Teoria social, anti-racismo, cosmo-
politismo. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2006.
MIRANDA, Ana Paula M. de. A força de uma expressão: intolerância
religiosa, conflitos e demandas por reconhecimento de direitos no
18 José Carlos Gomes da Silva • Melvina Araújo
Introdução
O debate mais recente sobre educação tem sido realizado de
modo polarizado; as recentes iniciativas de, supostamente, desideolo-
gizar a formação educacional das crianças e jovens vem acompanhada
11 O autor que, para Taylor, mais contribuiu para pensar essa mudança foi
Rousseau, pois este apresenta o problema da moral como a atenção que
prestamos a uma voz da natureza que está dentro de nós (TAYLOR, 1993).
12 A teoria da linguagem de Taylor está marcada pelo fecundo diálogo que
estabelece com o filósofo alemão Herder. Para este, a linguagem assume
um papel meramente descritivo. Para Taylor, ao contrário, a linguagem
tem conteúdo emotivo e expressivo (MATTOS, 2006).
Cultura afro-brasileira 27
modo isolado, mas que tenha negociado através do diálogo, uma parte
aberta, uma parte interna, com os outros. Por isso, o desdobramento do
ideal de identidade que se constitui internamente, na subjetividade do
indivíduo, confere uma nova significação ao reconhecimento, pois a
identidade do indivíduo depende, de modo decisivo, das suas relações
dialógicas com os outros parceiros de interação. Portanto, é preciso que
ele seja reconhecido como ser autêntico e digno (TAYLOR, 1993).
Ora, em sociedades nas quais o racismo se expresse aberta ou velada-
mente (lembre-se aqui das formas sutis, mas igualmente violentas das
formas racistas presente na sociedade brasileira), o objeto das práticas
e ideologias raciais não são objetos de reconhecimento autênticos e
dignos, afetando, portanto, sua identidade, logo um traço vital de seu
ser, segundo a teorização formulada por Taylor (idem).
Óbvio que o modelo teórico de formação das identidades desen-
volvido por Taylor valoriza em demasia este processo ao nível do indi-
víduo, mas infelizmente não é apresentada e teorizada a constituição
das identidades coletivas. Por isso ele se deteve longamente sobre a im-
portância dos conceitos de autenticidade e dignidade na formação da
subjetividade individual moderna. O prejuízo para o modelo teórico
é a insuficiência do modelo de reconhecimento para tratar, de modo
detido, as formas de reconhecimento denegado, como por exemplo, a
identidade de classe, como discutiremos abaixo.
O reconhecimento pode ser feito de duas maneiras distintas, su-
blinha Taylor. Na esfera íntima, a constituição da identidade pode ser
bem ou mal formada no decorrer das relações do indivíduo com outros
significantes – pai, mãe, familiares, amigos etc., aqueles que ama ou
são importantes para ele. Na esfera social, o indivíduo pode levar em
conta a política não interditada de reconhecimento igualitário, pois
este “não só é o modo pertinente a uma sociedade democrática saudável.
Sua recusa pode causar danos àqueles a quem se nega [o reconheci-
28 José Carlos Gomes da Silva • Melvina Araújo
luta que precede daí não pode ser um confronto pela pura au-
toconservação de seu ser físico; antes, o conflito prático que se
acende entre os sujeitos é por origem um acontecimento ético,
na medida em que objetiva o reconhecimento intersubjeti-
vo das dimensões da individualidade humana (HONNETH,
2003, p. 48 – Grifo nosso).
Parece não ser objeto de dúvida o fato de que Hegel toma como
ponto de partida das suas inflexões teóricas as formas elementares de
reconhecimento humano: as relações entre pais e filhos (família), as
relações de troca regulamentadas, entre proprietários, por contratos
(sociedade civil) e as relações entre sujeitos éticos (Estado). As figuras
nesse percurso são: indivíduo (carências concretas), pessoa (autonomia
formal) e sujeito (particularidade individual). O percurso direciona-se
na busca de uma autonomia individual que se confere ao sujeito em
cada situação (HONNETH, 2003). Igualmente, parece indubitável
que a teoria do reconhecimento de Honneth se arma nesse diálogo
fecundo com as premissas éticas do modelo hegeliano de reconheci-
mento. No entanto, ciente das limitações idealistas do pensamento de
Hegel, Honneth busca os fundamentos empíricos de sua teoria nas
formulações de George Mead.
Vale ressaltar que os escritos de Hegel que Honneth emprega para
construir sua teoria do reconhecimento são, como mostraremos a se-
guir, aqueles mais próximos de uma formulação moral do que aqueles
escritos nos quais as relações de reconhecimento recíproco estejam
baseados no trabalho. De fato, a relação de troca regulamentada entre
proprietários, através do contrato, como base para o reconhecimento
parece desconsiderar o que a economia-política tem a dizer precisa-
mente sobre essa relação. Ora, isto dificulta, ou talvez impeça, a crítica
de perceber a relação de exploração que o reconhecimento recíproco
baseado no trabalho engendra, a relação entre senhor e escravo na Fe-
nomenologia do Espírito é, neste sentido, exemplar; ou ainda, a relação
de exploração presente na relação entre proprietários. Como ficará cla-
32 José Carlos Gomes da Silva • Melvina Araújo
20 Não tem outro sentido a afirmação a seguir: “em relação à questão cen-
tral, redistribuição ou reconhecimento, a diferença consiste em que eu
vejo somente a possibilidade de justificar as finalidades da redistribuição
com as categorias do reconhecimento social”. Como se verá mais adian-
te, é a partir desse ponto que Fraser (2001) elabora sua crítica à teoria do
reconhecimento de Honneth e tenta construir sua própria teoria.
21 A solidariedade “refere-se ao reconhecimento de minhas particularida-
38 José Carlos Gomes da Silva • Melvina Araújo
22 Para Honneth (2003), a luta apenas deve ser definida como social quando
suas intenções superam o limitado quadro dos propósitos individuais para
se transformar em ponto de partida de um movimento de grupo: “uma
luta só pode ser caracterizada como ‘social’ na medida em que seus obje-
tivos se deixam generalizar para além do horizonte das intenções indivi-
duais, chegando a ponto de se tornar a base de um movimento coletivo”
(HONNETH, 2003, p. 256).
Cultura afro-brasileira 41
Reconhecimento e racismo
A luta contra o reconhecimento denegado dado pelo racismo, pre-
conceito e discriminação no interior dos partidos, sindicatos e movimen-
tos sociais seguiu, de um modo geral, o caminho da luta por direitos;
especialmente, porque procurou privilegiar a associação desta proble-
mática com a cidadania e a luta por direitos em detrimento do problema
das classes sociais e da construção de um projeto político alternativo à
ordem social existente. Neste sentido, partidos, sindicatos e movimentos
circunscreveram – e circunscrevem ainda hoje – a luta contra o reco-
nhecimento denegado expresso pelo racismo à lógica da cidadania.
A ideologia racial – ao mesmo tempo em que transforma a marca
ou traço fenotípico em estigma e, simultaneamente, cria o objeto de
seu racismo – serve também como símbolo, emblema e traço identi-
tário para que os indivíduos racistas racionalizem, legitimem e natura-
lizem suas práticas: “o racismo pode ser um elemento básico, freqüen-
temente essencial, da ‘identidade’ com a qual se apresenta o indivíduo,
grupo, coletividade ou povo” (IANNI, 1996, p. 19 – Grifo do autor).
Ianni (1996) aborda a problemática do racismo a partir da cate-
goria do estigma. De fato, estigma é, de acordo com Goffman, o pro-
cesso social que consiste em transformar um indivíduo ou coletividade
comum e total como ser estragado ou diminuído. Nesse sentido, será
considerado estigma quando o efeito de descrédito é muito amplo –
podendo ainda ser considerado um defeito, uma fraqueza ou uma
48 José Carlos Gomes da Silva • Melvina Araújo
Gênero e raça
O termo ‘gênero’ “parece ter feito sua aparição inicial entre as
feministas americanas, que queriam enfatizar o caráter fundamental-
mente social das distinções baseadas no sexo” (SOCTT, 1995, p. 72).
34 Uma versão ampliada dessas reflexões sobre gênero pode ser encontrada
em (SILVA, 2004, p. 350-358)
Cultura afro-brasileira 53
Referências bibliográficas
ALEXANDER, Jeffrey C. Ação coletiva, cultura e sociedade civil -
secularização, atualização, inversão, revisão e deslocamento do