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Índice
Resumo ................................................................................................................................................ 1
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 2
Delimitação do Tema ........................................................................................................................... 3
Problematização ................................................................................................................................... 4
Hipóteses .............................................................................................................................................. 4
Justificativa .......................................................................................................................................... 5
Objectivo Geral .................................................................................................................................... 6
Objectivos específicos ......................................................................................................................... 6
Metodologia de Investigação ............................................................................................................... 6
Enquadramento Teórico ....................................................................................................................... 8
Estrutura do Trabalho ........................................................................................................................ 10
CAPÍTULO I .................................................................................................................................. 12
SURGIMENTO E PRÁTICA DO LOBOLO NO SEIO DO GRUPO ETNO-LINGUÍSTICO .... 12
1.1 Conceptualização ......................................................................................................................... 12
1.2 Origem do Lobolo ........................................................................................................................ 14
1.2.1 Da Troca de Objectos à Capitalização do Lobolo .................................................................... 15
1.3 Procedimentos a Observar na Prática do Lobolo ......................................................................... 15
1.4 Valor Social do Lobolo ................................................................................................................ 16
CAPÍTULO II ................................................................................................................................ 18
A PRÁTICA DO LOBOLO DO CADÁVER E SUA EVOLUÇÃO NA CIDADE DE XAI-XAI
........................................................................................................................................................ 18
DE 2009 A 2011............................................................................................................................. 18
2.1 Premissas do Lobolo do cadáver.................................................................................................. 18
2.2 Procedimentos do Lobolo do cadáver .......................................................................................... 19
2.2.1 O Papel dos Pais no Lobolo do cadáver.................................................................................... 21
2.3 Evolução do Lobolo do cadáver na Cidade de Xai-Xai, de 2009 a 2011 .................................... 22
CAPÍTULO III ............................................................................................................................... 24
PERCEPÇÃO SOCIAL DO LOBOLO DO CADÁVER NA CIDADE DE XAI-XAI ................ 24
3.1 O Lobolo do cadáver Como Oportunismo, Educação ou Castigo. .............................................. 24
3.2 Posicionamento dos Religiosos sobre o Lobolo do cadáver ........................................................ 25
3.3 Enquadramento Legal e Institucional do Lobolo do Cadáver ..................................................... 26
3.3.1 Enquadramento Legal ............................................................................................................... 26
3.3.2 Enquadramento Institucional .................................................................................................... 27
3.4 Impacto Social e Cultural do Lobolo do Cadáver ........................................................................ 28
CONCLUSÃO ............................................................................................................................... 30
SUGESTÕES ..................................................................................................................................... 32
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................... 34
APÊNDICES E ANEXOS ................................................................................................................. 36
1
Resumo
A presente monografia, intitulada “O lobolo do cadáver: Uma Apreciação sobre a Evolução e sua
legitimação Social na Cidade de Xai-Xai (2009 a 2011) ”, retrata uma nova vertente da prática do
lobolo que tende a ganhar espaço nos últimos anos no seio do grupo etno-linguístico Changana.
Trata-se do lobolo do cadáver, fenómeno que surge quando uma mulher que viveu com seu marido
sem que se tenha realizado o lobolo perde a vida e, a família dela exige que seja realizado o lobolo
como condição para poder-se proceder com o funeral. Para a melhor percepção do conteúdo, o
trabalho está dividido em três capítulos, onde no primeiro versa-se sobre o historial da origem e
evolução do lobolo, no segundo discute-se as premissas para a realização do lobolo do cadáver a
sua frequência e, no terceiro procura-se o nível de legitimidade social que o fenómeno ostenta. A
principal conclusão deste trabalho sustenta que o lobolo do cadáver não é legitimado pela
sociedade, é visto como um oportunismo das famílias praticantes.
INTRODUÇÃO
É nesta linha de pensamento que se multiplicam casais que não passam dessa cerimónia, por um
lado, por se determinar valores altíssimos de lobolo, por outro, aliado ao facto de se deparar com
uma economia basicamente virada ao consumo, que não sustenta as grandes despesas do nível das
exigências do lobolo e, ainda, ligado à delapidação dos valores político-familiares que este outrora
era atribuído. Nesse âmbito, surge a obrigação do lobolo do cadáver que, muitas das vezes, é tido
como condição para o funeral da noiva, assunto que constitui objecto de análise para o presente
trabalho, com tema “O Lobolo do Cadáver: Uma Apreciação Sobre a Evolução e Sua Legitimação
Social na Cidade de Xai-Xai (2009-2011)”.
Nesta perspectiva, procura-se saber em que contexto surge o lobolo do cadáver e, será que esta
prática concorre para alguma educação ou se trata de mero castigo para os sobreviventes e para o
próprio cadáver? Procura-se ainda entender a legitimidade do lobolo do cadáver na sociedade
diversificada na actualidade, em muitos pontos de vista, como a económica, social e religiosa.
Por esta tipificação na sua elaboração, adoptou-se o método indutivo, tendo como ponto de partida a
Cidade de Xai-Xai e, os resultados colhidos nesta área delimitada, serão válidos para todas as
comunidades do grupo etno-linguístico Changana, que observam o lobolo e, em alguns casos
negligentes tenha lugar o lobolo do cadáver.
A compreensão da questão do lobolo do cadáver deve radicar na concepção dos valores que a
sociedade moçambicana atribui à esta instituição cultural ao longo do tempo, tendo em
consideração o pensamento, o sistema político, económico, social e cultural de cada época.
Procedeu-se, portanto, à análise das obras que versam sobre o lobolo de modo a conhecer a
evolução que a instituição conheceu em Moçambique. Para o efeito a interpretação da informação
foi feita com recurso ao método Hermenêutico, que permitiu fixar o seu sentido e alcance,
combinado com os métodos de abordagem histórico e comparativo que facultaram o conhecimento
da evolução que o objecto de análise conheceu no tempo, na Cidade de Xai-Xai e noutros
ordenamentos territoriais.
Delimitação do Tema
A presente monografia tem como tema: o lobolo, uma instituição cultural que no Sul do Save
simboliza a saída de uma mulher da sua casa paternal para viver junto à casa do seu marido, com
vista a criação da família.
O objecto desta temática é o lobolo do cadáver, fenómeno que surge pela morte da mulher que se
juntara ao seu marido sem que tenha passado pela prática do lobolo, que é típico das sociedades
patrilineares, e como reacção da família da noiva, obriga que se efectue o acto antes da realização
do funeral.
Problematização
O lobolo é uma forma simples e isenta da burocracia do Estado de contrair matrimónio acessível
para pessoas de todos os estatutos sociais, tanto nas zonas urbanas, como rurais. Tem funções claras
dentro de uma sociedade patrilinear, que são: uma forma tradicional de celebração de matrimónio;
uma forma de mostrar o amor que um homem sente por uma mulher; de mostrar o respeito pela
família da futura esposa; união de duas famílias em redor da construção de uma nova família;
garante a atribuição do apelido do marido aos filhos; serve para mostrar um sentimento de gratidão
da família que vai se beneficiar do convívio e trabalho desta nova filha que passará a pertencer à
família do noivo. Na história política o lobolo é visto como meio de legitimação do poder que o
Homem tem sobre a sua esposa na família (HONWANA, 2002).
Actualmente, há um fenómeno que se resume no lobolo do cadáver, feito com o corpo a espera do
seu funeral, facto que se relaciona com o condicionalismo para autorização do funeral deste corpo.
É na análise das funções do lobolo, com particular realce, o de unir as duas famílias dos noivos, a
partir da ligação de duas pessoas vivas, que urge a seguinte questão de partida para a pesquisa: Até
que ponto evoluiu e é legitimada a prática do lobolo do cadáver na Cidade de Xai-Xai?
Hipóteses
É provável que o lobolo do cadáver não seja legitimado pela comunidade e a sua evolução
seja movida pelo oportunismo das famílias que o exigem, para prosseguir com o funeral da
filha perecida.
É possível que a obrigação do lobolo do cadáver seja justificada pelo sancionamento do
noivo por não ter cumprido com o lobolo da noiva em vida, apesar da família ter
1
demonstrado o interesse de integrá-lo na família.
1
A referida pressão para que o noivo faça o lobolo, é geralmente feita através de esteriotipagem do noivo, chamando –o
de Mukwaxe (designação de um genro fracassado, inútil, sem prestígio).
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Justificativa
Constitui motivação para a escolha do tema, o facto de assistir, por vezes repetidas, fenómenos em
que a família do noivo, que não tenha lobolado a sua nora, se dirigir á família da noiva para
comunicar a triste notícia da perca da vida desta mulher e, aquela família ser recebida por um outro
pesadelo mais forte que a perda da sua nora, do tipo «só se realiza o seu funeral depois do lobolo».
Outro factor que contribuiu para a escolha do tema, centra-se no facto de não ter-se encontrado
estudos anteriores que retratam sobre o lobolo do cadáver. Os autores que já debruçaram sobre o
tema do lobolo, cingiram-se em muitos outros aspectos que não seja, necessariamente, do lobolo do
cadáver. A título de exemplo, Junod (1974), interessou-se na origem e evolução do lobolo e, evoca
em algum momento a questão do lobolo de defuntos, que ocorre, geralmente, muito depois do
funeral, como meio de busca de sorte para os filhos, o que contribui que muitas das vezes a prática
do lobolo da mãe (já falecida), seja feita pelos próprios filhos;
Granjo (2005), direccionou o seu estudo aos procedimentos a observar no lobolo e na comparação
do lobolo ora com o velho idioma, ora com uma nova tradição moderna, mas em nenhum momento
referenciou a particularidade do lobolo do cadáver;
Honwana (2002), ao se deter no lobolo, focaliza o factor de mudança das modalidades das
exigências do lobolo, colocando o emprego dos moçambicanos nas minas da África do Sul, como
fundamento para o início da monetarização do lobolo, mas não se refere ao lobolo do cadáver;
Tembe (2005), apesar de ter feito a sua pesquisa na mesma área de estudo (Cidade de Xai-Xai),
focalizou o aspecto da legitimidade do próprio lobolo na actualidade e não buscou nenhum
elemento que liga com o lobolo do cadáver que surge, a prior, quando se ignora este lobolo normal.
Deste modo, esta monografia se insere no tema do lobolo, trazendo como novidade, o estudo do
fenómeno do lobolo do cadáver, visto como uma prática nova na sociedade e na comunidade
académica, facto provado pela escassez da literatura específica sobre o fenómeno.
A área de estudo, Cidade de Xai-Xai, foi escolhida pelo facto do autor deste trabalho ser residente
desta urbe há mais de dez anos, o que possibilitou a observação do fenómeno em estudo e, também,
pelo facto da urbe ser predominantemente do grupo etno-linguístico Changana pois, segundo INE
(2007), constitui 68% da população total da urbe. Para este grupo, o lobolo constitui algo que,
tradicionalmente, dignifica e dá direito ao exercício de poderes do homem perante a sua mulher, a
família da sua mulher e para a sociedade, no geral.
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A escolha do tempo, 2009-2011, prende-se com o facto da frequência do fenómeno neste período,
pois no primeiro Semestre de 2009 foram identificados dois casos e, no segundo Semestre de 2011
identificar-se dez, numa linha evolutiva, dentro dos semestres inseridos neste intervalo.
Objectivo Geral
Objectivos específicos
Descrever o surgimento e a prática do lobolo no grupo etno-linguístico Changana;
Contextualizar a prática e evolução do lobolo do cadáver na Cidade de Xai-Xai;
a percepção social sobre a legitimidade do lobolo do cadáver na Cidade de Xai-
Demonstrar
Xai.
Metodologia de Investigação
Para o alcance dos objectivos preconizados no trabalho fez-se uma combinação dos métodos, de
acordo com as circunstâncias, tendo como ponto de partida, a revisão bibliográfica. Os documentos
consultados foram submetidos à críticas de veracidade, autenticidade e credibilidade, com recurso à
heurística e hermenêutica, dada a sua relevância em temáticas de história. Para as fontes orais que,
devido à natureza prática da pesquisa, dominam o trabalho, a veracidade é apurada pela
repetitividade das questões aos mesmos aludidos, em tempos diferentes, completada pelo
cruzamento destas questões a diferentes indivíduos.
Foi usado o método indutivo, partindo-se da análise do fenómeno do lobolo do cadáver na Cidade
de Xai-Xai, para generalizar os resultados da pesquisa a todo o grupo etno-linguístico Changana,
pois Gil (1999:28), afirma que neste método, parte-se do particular e coloca a generalização como
produto posterior do trabalho de colecta de dados particulares.
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Com recurso a esta técnica foram abarcados 16 indivíduos, sendo quatro secretários dos bairros, na
proporção de um para cada Posto Administrativo, três viúvos submetidos ao fenómeno do lobolo
dos corpos das suas esposas, três líderes religiosos, entre cristãos e reformistas, duas famílias
promotoras de submissão ao lobolo do cadáver, um gestor público e três agentes da Autoridade
Policial, de modo a se apurar a legitimidade do fenómeno em vários estratos da sociedade da
Cidade de Xai-Xai. A característica dos entrevistados é ilustrada na tabela 1.
Paralelamente à entrevista, a recolha de dados também consistiu num inquérito dirigido à uma
amostra cujo o universo considerado compreende a todas famílias que vivem ou viveram com as
noras sem realizar a cerimónia tradicional do Lobolo, na Cidade de Xai-Xai. Como população de
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estudo, delimitou-se o conjunto de famílias que perderam as suas noras antes de efectivarem o
lobolo.
A pesquisa na Internet foi outra forma não menos privilegiada que se recorreu para a busca de
informação.
Viúvos Masculino 25 a 40 3
Líderes Religiosos Masculino 45 a 55 3
Enquadramento Teórico
O trabalho é analisado à luz da teoria do Dinamismo Cultural, defendido por Marcel Mauss,
segundo a qual a manifestação cultural das comunidades inseridas numa sociedade em contínua
modernização é dinâmica e acompanha a própria sociedade (MALINOWSKI, 1975:112).
Marcel Mauss, precursor da escola antropológica francesa, inspirou-se aos ideais do seu tio Émile
Durkheim, opondo-se ou resignificando os seus conceitos. É no concernente a reabordagem dos
conteúdos que Marcel Mauss trata o facto social, abordado por Émile Durkheim como coisa, por
Facto Social Total. Na sua obra “O Ensaio Sobre a Dádiva de 1923” argumenta que os fenómenos
sociais devem ser analisados de forma versátil em prismas social, cultural, económico, psicológico,
bem como técnico-científico, de acordo com o lugar e o tempo.
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Deste modo, o trabalho enquadra-se nesta teoria, na medida em que o lobolo, analisado a partir dos
seus primórdios, sofreu uma dinâmica, acompanhando a evolução da sociedade, desde a entrega de
2
produtos da machamba, como tihaka , para enxadas, mais adiante para manadas de bois, até altos
valores que de forma subjectiva implicam, actualmente, a exigência do lobolo do cadáver.
Granjo (2005), antropólogo que acompanhou o casamento do seu amigo, em Maputo, refere, na sua
obra, Um Velho Idioma para Novas Vivências Cojungais, que os contornos do lobolo vão desde a
formação dos noivos até ao nível de vida das suas famílias, passando, com efeito, pelas exigências
socioeconómicas. Antes da massificação do uso da moeda como meio de aquisição de bens de uso e
consumo, no sul de Moçambique havia outras modalidades que simbolizavam a passagem da
mulher para a família do esposo, sendo usados por exemplo em algumas partes a fruta de “kakana”,
conhecida por “tihaka” e nas linhagens ronga, chamado também de “tihakana”. A entrega deste
elemento simbólico, não visava a “compra da mulher” e muito menos a transição desta, como fonte
de prazer sexual masculino e fonte de reprocriação familiar, mas sim o reconhecimento da união.
Nesta perspectiva, dificilmente podia se falar do lobolo do cadáver, porque, por um lado, Granjo
olha na formação académica e o nível de vida económica de cada família envolvente, portanto,
nestas condições, as famílias estão numa disponibilidade imediata para cumprir as exigências do
lobolo, porém, o autor fornece ferramenta sobre as etapas a observar na prática do lobolo.
Junod (1974), um padre suíço, porque viveu em tempos do respeito de tradição e que entende o
lobolo como uma prática oriunda dos Grandes Lagos, que, com o fenómeno de aculturação,
expandiu-se em muitas regiões do mundo, afirma que em Moçambique conheceu-se com a chegada
dos Bantus nos Séculos I e IV. Para este autor, na sua obra, Usos e Costumes dos Bantus, exalta o
carácter promissor dos Bantus por serem agricultores e com técnicas metodológicas de fundição de
ferro e, encontra neles alto espírito do trabalho, factor que contribui bastante para o cumprimento
das exigências tradicionais. Nesta obra, busca-se a chegada da prática do lobolo na nossa sociedade,
bem como os contornos históricos que este foi assumindo no decurso do tempo.
2
Frutas de cacana, uma planta rastejante, cujas folhas servem de carril no Sul do Save e de Remédio para o Norte do
Save
10
Cipire (1996), que escreveu o livro, A Educação Tradicional em Moçambique, mostra a importância
e o significado do lobolo, referindo-se às suas vantagens e desvantagens. Menciona como
vantagens, a moralidade que este traz para com os filhos do casal que passou do ritual, na protecção
que a mulher lobolada tem na família do seu marido e na recompensa que os seus pais se
beneficiam para garantir a legitimidade da sua união. No lote das desvantagens, o autor evoca o
facto de o lobolo ganhar contornos capitalistas, que inicia com o trabalho migratório, a partir de
1890, nas minas da África do Sul, que este perde o valor simbólico e passa a custar valores
elevados, associados à satisfação das necessidades económicas das famílias que cobram o lobolo.
Para Tembe (2005), em sua monografia intitulada “A Legitimidade do Lobolo nos Últimos 30 anos
em Moçambique: O Caso da cidade de Xai-Xai” indica que na Cidade de Xai-Xai, em cada 60
jovens unidos maritalmente com idade compreendida entre 18 a 30 anos, escolhidos aleatoriamente,
36 vivem com as suas esposas sem antes realizar a cerimónia tradicional de lobolo (Anexo 1).
Apesar das diferenças visualizadas pelo pensamento dos autores acima referenciados, algo de
comum se extrai no seu posicionamento, pois todos eles foram unânimes em colocar as
metamorfoses do lobolo como fruto da evolução da sociedade e, havendo uma necessidade de
acompanhamento, esta instituição tinha que passar das fases referenciadas. Ao mesmo tempo, os
autores não encontraram um enquadramento do lobolo do cadáver na estruturação do tecido social
durante essa linha evolutiva.
Estrutura do Trabalho
O presente trabalho apresenta, na sua estrutura, três capítulos, expostos em rol, desde o surgimento
e evolução do lobolo até à prática do lobolo do cadáver e a sua legitimação na Cidade de Xai-Xai,
sendo:
Capítulo II: A Prática do Lobolo do cadáver na Cidade de Xai-Xai, de 2009 à 2011. Versa sobre as
premissas do lobolo do cadáver e a sua evolução, mostrando a sua tendência crescente, de 2009 à
2011.
Capítulo III: A Prática do Lobolo do cadáver na Cidade de Xai-Xai, de 2009 à 2011. É neste
capítulo que se esgota a sensibilidade da legitimação social do lobolo do cadáver na Cidade de Xai-
Xai e diferentes visões e estractos sociais.
CAPÍTULO I
O grupo etno-linguístico Changana instalou-se no Sul do Save vindo da região do Natal pela fuga
3
das grandes convulsões políticas denominadas de M’fecane . É marcadamente conhecido pelo
respeito das tradições que transporta desde a origem, com destaque ao lobolo. Neste capítulo
aborda-se, sobre a origem do lobolo e a sua evolução, passando de diversas fases de exigência.
1.1 Conceptualização
São vários os autores que conceituaram o lobolo, contudo eles encontram algumas diferenças nas
suas análises, facto justificado pelas áreas de formação, o tempo histórico, a localização geográfica,
bem como as perspectivas de análise de cada autor. Nas definições de Malinowski e Junod, pode se
ler:
Lobolo como uma forma pela qual a união entre um homem e uma mulher é socialmente
reconhecida (Malinowski, 1975: 87). Por seu turno, Junod (1974) vê o lobolo como troca entre as
unidades colectivas que compõem um clã. Uma unidade adquire novo membro (mulher) e a unidade
doadora exige a recomposição através de uma compensação que lhe permita adquirir outra mulher.
Destas definições, pode se afirmar que o lobolo é uma forma simples e isenta da burocracia do
Estado de contrair matrimónio acessível para pessoas de todos os estatutos sociais, tanto nas zonas
urbanas, como nas zonas rurais.
Esta forma de legitimação do casamento tradicional é muito mais do que um costume antigo, ela é o
4
símbolo da aceitação do xiloso do marido para os futuros filhos. É também uma forma de
introduzir os filhos junto aos antepassados da família, para que os mesmos sejam aceites e se
estabeleça essa ponte de ligação dos novos membros com o sobrenatural.
O lobolo é tido como uma instituição sócio-cultural, daí o interesse de discutir o conceito de cultura.
Lima (1991:36), define cultura como um sistema simbólico de um grupo humano, que só poderá ser
apreendido por outro grupo por meio de interpretação e não por mera descrição. Não fugindo muito,
Malinowski (1975:76), define cultura como um sistema estrutural em que o eixo de tudo é a
3
Movimento dos Ngunis, do qual faz parte Sochangane, da região da Zululândia em direcção ao Sul de Moçambique
em fuga dos ataques do Chaka Zulu, pela disputa dos espaços aráveis para agricultura e pastorícia (Serra, 2000)
4
Designação do apelido em língua Tsonga.
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Em função das necessidades para o presente trabalho, pode se definir cultura como sistema de
padrões de comportamento, de modos de organização económica e política de tecnologias, em
permanente adaptação com vista o relacionamento dos grupos humanos com seus respectivos
ecossistemas. A partir desses conceitos pode se chegar à conclusão de que a cultura não é algo
biológico, mas sim adquirida, através da interacção das sociedades, daí que ganha o carácter
dinâmico.
Por sua vez, a cultura funda-se na tradição, que é o conhecimento que provém da transmissão oral
de hábitos durante um longo espaço que passa de geração em geração. O termo foi originalmente
aplicado pelos cristãos às crenças centrais transmitidas através da instrução nas coisas religiosas
(AAVV., 2011, captado a 26 de Novembro).
Para Giddens et all (1997:80), tradição é a cola que une as ordens sociais pré-modernas, e envolve,
de alguma forma, controle do tempo, ou seja, é uma orientação para o passado, de tal forma que o
passado tenha uma pesada influência ou, mais precisamente, seja constituído para ter uma pesada
influência para o presente.
A tradição inspira muitas vezes o respeito, simplesmente, através da autoridade que nela se alicerça
que é a tradicional. Portanto, representa, normalmente, o padrão ou modelo de referência, sendo por
isso, particularmente respeitada pelos conservadores, por um lado e, por outro lado, atacado por não
conservadores, como obstáculos à mudança.
De qualquer forma, apenas as crenças mais rígidas, como o lobolo, são incapazes de ver a tradição
como processo crescente e cumulativo e as revoluções mais radicais tentaram romper
completamente com todas as ligações ao passado, em fim, tradição é tudo aquilo que do passado
não morreu.
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O Cadáver, no presente trabalho, refere-se ao corpo moribundo que se espera o seu funeral em seus
procedimentos locais. Ligando os dois conceitos, por um lado, o lobolo e por outro, o cadáver,
lobolo do cadáver vai significar a obrigação do procedimento do casamento tradicional entre um
homem vivo e uma mulher morta, ainda em corpo antes de se realizar o funeral.
Assim, fica perceptível que o lobolo do cadáver é um fenómeno que surge quando a noiva perde a
vida antes da devida realização da cerimónia do casamento tradicional, feita pelo noivo. Para o
presente trabalho, noivo refere-se ao marido da falecida.
No Estado Natural onde não havia propriedade privada, todos tinham direito a tudo, embora o
usufruto desse direito punha a força como condição, era a lei do mais forte. Neste Estado, todas as
mulheres eram também para qualquer homem. Foi quando o homem cercou um espaço e declarou
que “isto é meu”, isolou uma mulher como sua propriedade e daí gerou filhos (as) legítimos que
para possuí-las necessitava de alguma troca, começando, assim, a propriedade privada (HOBBES,
1651:253).
Desta forma, o lobolo nasceu do princípio de uma condição que tinha que existir um instrumento
legal que testemunhasse a celebração do contrato de casamento entre filhos de determinadas
famílias (CIPIRE, 1996:55). Antigamente, o instrumento eficaz que podia simbolizar a ligação de
duas famílias sem nenhum vínculo consanguíneo era o lobolo.
Esta prática, tem a sua origem nos Grandes Lagos e, com o fenómeno de aculturação expandiu-se
em muitas regiões do mundo, mas em Moçambique, conheceu-se com a chegada dos Bantus, nos
Séculos I e IV. No início dessa prática, as trocas eram feitas em géneros alimentícios, como Tihakas
e mais tarde em produtos artesanais e objectos metalúrgicos, como enxadas (JUNOD, 1974).
Com a evolução da actividade de criação de gado bovino, o lobolo começou a ser pago por meio de
cabeças de gado que, era condicionada a sua devolução, juntamente com as suas crias, no caso da
perca do lar.
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Em Moçambique, há três tipos de casamentos: Civil (do Registo Civil), Tradicional (lobolo) e
Religioso (da Igreja) e, geralmente, os indivíduos procuram contrair os três tipos para que a
sociedade diversificada considere-os casados (CIPIRE, 1996).
O lobolo ganha contornos capitalistas a partir da segunda metade do século XIX (1890), quando se
celebrou um acordo entre Moçambique e África do Sul para se albergar naquele país a mão-de-obra
moçambicana no trabalho das minas e receber em troca, o dinheiro. Com este dinheiro, para mostrar
a supremacia masculina e, também, para demonstrar o grau de poderio no que diz respeito ao
sustento de uma mulher, tinha que pagar um valor à família da noiva (HONWANA, 2002).
Nessa época, o lobolo era uma forma de agradecer a família da esposa, a honra dada ao rapaz e,
além de ser uma forma de informar aos espíritos dos antepassados que a jovem ia sair de casa
paterna e, ainda, como uma prova de que o pretendente está suficientemente preparado para prestar
cuidados à sua noiva. Com a dinâmica económica, social, cultural e política, os valores cobrados
pela família da noiva iam crescendo, variando de lugar, nível económico das famílias, grau de
formação da mulher pretendida, entre outros factores.
O lobolo na sua plenitude obedece vários momentos, desde a recepção da carta que faz a relação das
exigências da família da noiva até à despedida da delegação do noivo no próprio dia do acto que,
5
esta é recebida de volta à casa do noivo, geralmente por uma canção de “hoio-hoio mati ”, ou
simplesmente bem-vindo à mais um elemento para nos dar água (GRANJO, 2005).
Assim, o lobolo apresenta os seguintes momentos principais: recepção da carta feita pela família da
noiva, que faz a relação dos requisitos para o lobolo; preparação do jovem para aquisição completa
dos bens exigidos; entrega de dinheiro e artigos à família da noiva; a declaração da concordância da
noiva; os pais da noiva vestem o que receberam; ela é saudada e felicitada pelo novo estatuto social
que adquiriu e, as duas famílias se unem para consolidação de nova relação que ambas contraíram.
A concordância da noiva consiste em tirar algum dinheiro daquele valor do lobolo oferecer ao pai
ou tio paterno dizendo “pode usar o dinheiro, vou passar o resto da minha vida nesta família e
trabalhar para compensar” (Idem).
5
Expressão Tsonga para significar bem-vinda a água, transportada desde o período em que a mulher servia apenas para
funções domésticas.
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Na prática actual, a concordância da noiva não implica a submissão da noiva ao marido, nem o
compromisso de trabalhar em compensação do valor monetário, como era antes, mas sim um
consentimento da relação conjugal.
Foto tirada pelo Autor, 2011. Foto tirada pelo Autor, 2011
O lobolo serve de mecanismo protector da mulher e dos seus filhos em caso de uma fatalidade que
a deixe sem recursos. A mulher lobolada e com filhos, em caso da morte do marido, passa a ser um
encargo da povoação onde vive, isto é, sente-se protegida e para ela, a situação do lobolo é um
amparo nas contingências da vida (CIPIRE, 1996:60).
Outro valor social e político-familiar é que o lobolo é o meio para o homem se sentir chefe perante
a sua mulher e a família o que concorre para a admissão deste homem nos fóruns de liderança local,
partindo do princípio de que se já tem poderes familiares, então pode assumir, também, poderes
locais (Apêndice 16, Q2, I2).
Portanto, o valor social do lobolo, busca-se a partir do fundamento da existência desta instituição
cultural, que se resume na necessidade de legitimar, tradicionalmente, as uniões dos cônjuges e
comunicar aos espíritos a movimentação de um membro de uma família para a outra, a protecção
desta mulher em todas as circunstâncias, conferir o direito do uso de poderes do homem sobre a
mulher na família e na sociedade. Na prática estes valores concorrem a desuso devido à vários
factores, dentre estes, a liberalização do namoro e as revoluções tendentes à emancipação da
mulher.
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São várias as razões associadas a este facto, contudo Tembe (2005:38), avança as seguintes:
- A indisponibilidade dos valores cobrados pela família da noiva em situação da baixa renda do
noivo;
- A facilidade encontrada para se unir com a sua mulher sem realizar o lobolo, dada pelos próprios
pais.
A actual ideia de considerar o lobolo como compra da noiva é chocante e fere o padrão dos nossos
ideais culturais (MELLO, 2008:337). Esta tendência concorre para o desvio do valor social do
lobolo, para uma explicação económica e financeira.
Em relação aos valores atribuídos ao lobolo pela sociedade, Granjo (2005) avança os seguintes:
- Garante a comunicação dos espíritos de ambas famílias que a mulher sai da sua família biológica e
passa a pertencer à família de aliança, que é do marido, portanto, a primeira família não deve mais
dar falta da sua existência e, por sua vez, a família do marido deve lhe receber e contar-lhe como
membro integrante desta.
- Garante o reconhecimento do apelido do marido aos filhos que saírem do ventre da mulher
lobolada.
-Permite o reconhecimento e legitimidade da sua união e moralidade dos casais que se sentem
orgulhosos por terem cumprido o ritual do lobolo.
CAPÍTULO II
Actualmente, uma nova forma da prática do lobolo começa a ganhar espaço nas sociedades
patrilineares. Trata-se do lobolo do cadáver, que surge pela não realização do lobolo em tempo útil.
Por isso, este capítulo irá debruçar-se sobre a evolução do fenómeno do lobolo do cadáver na
Cidade de Xai-Xai.
Na actualidade, há uma tendência de proliferação das uniões sem observar os ditames culturais,
tradicionalmente aceites nesta sociedade, o que concorre para uma imposição de lobolar o cadáver.
O fenómeno tem frequência nos jovens, que segundo INE, (2007), constitui mais de um terço da
população da Cidade de Xai-Xai. Geralmente, esta faixa etária vive, em média, três anos
maritalmente, sem antes realizar o lobolo e, este período se justifica, por um lado, pela facilidade
encontrada de viver com a mulher, sem antes lobolar e, por outro, pelas exigências dos requisitos do
lobolo acima das capacidades (Apêndice 2, Q2 e Q3).
Os casos de interdição do funeral da noiva, impondo o lobolo do cadáver como condição daquele,
são uma manifestação de insatisfação dos pais da noiva em relação ao seu genro por ter lhes tratado
mal quando a sua filha estava em vida. Mas, esta posição não é extensiva a todos os casos, pois
geralmente quando em vida o genro convive com os seus sogros, mesmo nestas situações tidas
como ilegais (SERRA, 2008:7).
Para Serra, as principais razões que levam as famílias a submeterem os seus genros ao ritual do
lobolo de um corpo moribundo são:
mais-valia noutra família, isto é, a do noivo. Com a sua morte, uma situação do desespero
lhes move a se vingar pela cobrança do corpo;
Para mostrar a necessidade de respeitar as vontades dos sogros em tempo útil, quando estes
requererem as formalidades do lobolo;
Para mostrar que é preciso ter uma responsabilidade para viver com uma mulher sem
formalização tradicional do casamento, através do lobolo” (Idem).
São várias as razões que concorrem para esta prática na sociedade changana, contudo, todas
elas, bem analisadas, entram em contradição com as funções do lobolo descritas no capítulo
anterior, porque o lobolo é fundamentalmente para a união de dois indivíduos vivos.
Neste caso, deixa-se bem claro que no lobolo do cadáver, o mais importante é valor o monetário e
exclui-se todas as formalidades basilares que a cerimónia obedece na sua regra geral, como a
confirmação através da declaração da noiva para a recepção dos bens do noivo pelos pais, a
saudação da noiva pelo novo estatuto de casada, e a satisfação das duas famílias.
Num estrato do Jornal Notícias (2009:14), descreve-se um acto similar, quando aborda-se sobre a
família Tovela, residente no Bairro 5 Koca-Missava, da Cidade de Xai-Xai que foi, a 20 de
20
Novembro de 2009, impedida de realizar o funeral, pelo facto de a malograda ter perdido a vida
antes da relação marital ser devidamente autorizada por via do lobolo.
Para esta família, por não se dispor do valor exigido de 20.000, 00Mt (vinte mil meticais), contou
que houve intervenção da polícia para permitir o funeral, mediante uma declaração do compromisso
do lobolo que prometia faze-lo dentro de 30 dias. Contactada a família, explicou que, findos os
trinta dias, mandou-se três elementos ligados à família com apenas o valor exigido sem vestes nem
bebidas (Apêndice 10, Q4, E7).
Para responder às exigências de lobolo com o corpo moribundo, por se tratar de situações urgentes e
extraordinários, recorre-se à empréstimos, à poupanças familiares, porém, há circunstâncias em que
tanto o primeiro, como o segundo caso não respondem à condição, demorando-se mais dias para a
efectivação do funeral, facto que leva à intervenção das autoridades (Apêndice 2, Q7).
Tanto no primeiro, como no segundo caso, colocou-se o problema da família da mulher que perdera
a vida não conhecer o esposo dela e uma situação de se cobrar, basicamente, o dinheiro do lobolo,
como se tratasse de compra de cartão de funeral.
Foto Tirada pelo Autor, 2011 Foto Tirada pelo Autor, 2011
Facto curioso é que o casal pode viver anos sem os pais se pronunciarem sobre a exigência do
lobolo e, ainda, a conviverem felizmente com o seu genro ilegal, paradoxalmente, no caso da morte
da noiva, os pais exigem que se efective a prática deste ritual antes que se proceda o funeral
21
No sistema patrilinear, os filhos devem respeito e obediência ao patriarca, razão pela qual, mesmo
casados, estes tem maior influência na criação e condução dos seus lares. Neste sistema, as
raparigas são dirigidas pelos pais ou na sua falta, pelos irmãos mais velhos do pai. Este princípio,
como isola na generalidade as mães, faz com que nos casos de negociações de assuntos de grande
relevância na família, como o lobolo, gravitem poderes enormes nos tios paternos, relativamente
aos pais (FERREIRA, apud CIPIRE, 1996:54).
Neste diapasão, um dos entrevistados que protagonizou a cerimónia do lobolo do cadáver, conta que
todo o processo de lobolo da sua filha (já falecida), fora dirigido pelo seu irmão mais velho, porque
ele estava na África do Sul em serviço e, quando foi comunicado o incidente, via telefone, ordenou
que tudo devia ser à decisão do seu irmão. Este, por sua vez, colocou o lobolo do cadáver, como
condição para o funeral (Apêndice 12, Q1, E9).
Situação similar foi encontrada na segunda família que também protagonizou o fenómeno em Abril
de 2011. Diferentemente da primeira, em que o chefe da família estava ausente, quando se procedeu
a obrigação de lobolo do cadáver da sua filha, ele explicou que quando recebeu a notícia, estava em
casa, mas foi aconselhado para não se pronunciar, delegando o seu irmão mais velho, porque ele
podia poupar o seu genro (Apêndice 12, Q1, E10).
Com estas posições, constata-se que os pais legítimos geralmente entram com poucas possibilidades
de decisão, respeitando o princípio do patriarcado que reserva a supremacia dos tios paternos. Este
princípio, para o caso concreto desta análise, é a razão de ocorrência deste fenómeno, porque
conclui-se que os tios não têm a profunda afeição sentimental com os sobrinhos, comparativamente
aos pais em relação aos seus próprios filhos, portanto são raros os casos de submissão directa dos
pais.
Neste caso, o papel dos pais é de opinar sobre os procedimentos do funeral da filha não lobolada,
cabendo aos tios a decisão final e, no caso de não concordância dos pais sobre a execução do acto
decidido pelos tios, aqueles são rotulados de modernos que transgridem a tradição e ainda mais
tarde são culpados pela falta de sorte dos filhos da falecida, devido à não realização do lobolo.
Outro papel fundamental dos pais, em situação de convivência marital dos seus filhos, antes do
lobolo, é de procurar manter uma ligação contínua entre as duas famílias, apesar de não ter
reconhecimento. Por falta desta comunicação, algumas vezes as famílias só se conhecem quando for
para comunicar a notícia do falecimento da noiva, o que implica ignorar aos transmissores da
notícia (Apêndice 2, Q5).
22
O levantamento feito nos quatro postos Administrativos que compõem a Cidade de Xai-Xai, no
intervalo do início de 2009 até ao primeiro semestre de 2011, com o objectivo de se apurar o grau
de repetitividade do fenómeno de lobolar os cadáveres, com a ajuda dos secretários dos bairros,
mostrou que dos 41 casos de mortes das noivas antes do lobolo, 22 famílias dos noivos foram
submetidas ao lobolo do cadáver antes do funeral, conforme ilustra a tabela abaixo (Apêndice 2, Q1
e Q7).
Inhamissa 13 08 61,5%
Praia de Xai-Xai 5 0 0%
Total 41 22 53,7%
O fenómeno tende a ganhar contornos alarmantes no Posto Administrativo de Patrice Lumumba que
se associa ao oportunismo dos protagonistas. Este Posto lidera na prática de obrigação do noivo a
lobolar o cadáver com 45,4% de casos em relação ao total dos que foram submetidos a esta prática
ao nível da Cidade de Xai-Xai. O lobolo de cadáver também pode ser associado à atitude
exacerbada da juventude actual em banalizar o lobolo enquanto em vida as suas esposas (Apêndice
8, Q7, E4). Esta banalização pode se vislumbrar também na afeição de Tembe (2005) pois há mais
uniões sem lobolo na faixa etária de 18 aos 30 anos e, este comportamento vai diminuindo com o
aumento da idade (Anexo 1).
A afirmação dos que olham o fenómeno como uma prática da actualidade é confirmada pelo
inquérito lançado à amostra referenciada, pois evidencia uma multiplicação massiva do lobolo do
cadáver, analisado desde o primeiro semestre de 2009 até o primeiro semestre de 2011. Com esta
crescente intenção, Serra (2008), encontra o seu enquadramento na dinâmica da própria conjuntura
económica, que exige uma adaptação quantitativa diária. Há cada vez mais famílias a aderirem a
esta prática, agora do que antes.
23
É preciso, também, olharmos que a função política do lobolo no seio da família que já se perdeu
acaba influenciando a fraca aderência, dado que o lobolo ficou apenas com o valor simbólico social,
perdendo o seu peso de exercício da autoridade do homem na família.
Assim, pode-se entender que esta atitude depende de uma família para outra, havendo famílias que
inequivocamente submetem o genro a este ritual e outras que ficam indiferentes. A generalização
deste fenómeno requer um estudo paralelo com este, que procura interpretar as origens linhageiras
de cada família, com vista a encontrar fundamentos para esta prática (Apêndice 8, Q4, E8).
Nota-se, portanto, que o lobolo do cadáver surge, quando uma mulher que viveu maritalmente com
o seu marido, sem realizar o lobolo, morre. Nem todas as famílias nesta sociedade Changana
exigem o lobolo do cadáver, porém há uma minoria delas que colocam este ritual como condição
para o funeral do corpo. Isto ocorre porque os pais legítimos, no respeito pelas normas tradicionais
do patriarcado, não tem o direito de decidir em situações do género, sobre os destinos dos filhos,
deixando para os tios e, por sua vez, estes não agem em concordância com a liderança comunitária.
Com esta tendência crescente, pode se afirmar que num futuro muito próximo todo o homem que
perder a sua esposa antes do lobolo, inevitavelmente, poderá passar do lobolo do cadáver, como
condição para o funeral da sua companheira marital.
24
CAPÍTULO III
Na introdução deste trabalho referiu-se que o lobolo é abrangente para pessoas de todos os níveis e
status sociais, seja para as zonas rurais e urbanas. É daí que neste capítulo irá-se buscar a percepção
da sociedade em diferentes perspectivas, como a religiosa, a jurídica, administrativa e social sobre a
legitimidade desta prática, na Cidade de Xai-Xai.
O lobolo de pessoas mortas, outrora era aceite quando tratar-se de uma reivindicação espiritual do
apelido dos filhos. Nesta vertente, o lobolo significava para comunicação aos espíritos que os filhos
em causa apesar de nascerem do ventre da mulher passam a pertencer a família do marido com
quem os gerou e, consequentemente, o seu apelido (JUNOD, 1996, passim). Os procedimentos para
este fenómeno não significam, necessariamente, a interdição do funeral, para além de não se dar um
prazo para a sua efectivação e, ainda, pode ser feito pelos próprios filhos.
No entanto, a obrigação do lobolo do cadáver é encarada por uma minoria do grupo alvo inquirido,
que corresponde a 12,2%, como uma forma de reeducação coerciva, para os jovens que não
acataram as normas da sociedade de forma espontânea (Apêndice 2, Q8 e Apêndice 16, Q2, I3).
“Penso que os pais e toda a família têm o papel de educar os seus filhos a respeitar
as normas e regras sociais. Se a família da rapariga exige o lobolo é preciso
respeitar isso, porque não é saudável esperar que ela morra para resolver o
problema do lobolo que não foi feito quando ela esteve viva. Esta prática relaciono
com oportunismo da parte da família da noiva” (Apêndice 16, Q2, I2).
O inquérito que incidiu nas 41 famílias escolhidas aleatoriamente, dentro de muitas que perderam as
suas noras antes de efectuar o lobolo, mostra que 26 famílias, correspondentes 63,4% encaram o
lobolo do cadáver como um oportunismo e 10 famílias que representam 24,4% olham como um
castigo para o noivo e para o próprio cadáver (Apêndice 2, Q8). A percepção oportunista do lobolo
do cadáver também é evidenciada pelo comportamento dos obrigados, pois das 22 (vinte e duas) só
menos que metade, ou seja, 9 (nove) satisfizeram a imposição, como ilustra o gráfico 2.
25
Assim, pode se afirmar que os argumentos tendentes à classificação do lobolo do cadáver como
oportunismo dominam a amostra, o que conduz a uma inferência da necessidade de revisão desta
prática.
A religião, de um modo geral, admite a possibilidade de uma continuidade da vida pela alma após a
morte do corpo físico, o que a priori remete-nos à necessidade do tratamento saudável deste
cadáver.
A Bíblia Sagrada, no evangelho de Lucas 9:60 ostenta, “deixa os mortos enterrar os seus
mortos”(AAVV., 2000).
Os que exigem o lobolo do cadáver tem um excesso de paganismo e ainda não renunciaram a vida
mundana e, essas pessoas são espiritualmente mortas, portanto, podem tratar esses assuntos
(Apêndice 14, Q5, E18). Esta posição, ainda atenção bíblica, é fundamentada por Eclesiastes que
compara a necessidade do funeral digno com um aborto nos seguintes moldes:
26
“Se um homem gerar cem filhos, e viver muitos anos e os dias dos seus anos forem muitos e a sua alma se não furtar
do bem e além disso não tiver um enterro, digo que um aborto é melhor do que ele” (AAVV., 2000).
Os mentores desta prática não fazem ao acaso, mas sim vem ambicionando a usurpação dos bens do
seu noivo e naquele momento encontram um espaço em que o seu noivo não tem outra
preocupação, se não de se concentrar nos últimos momentos de despedida da sua amada e realizar
um funeral, unido com as duas famílias criadas por alianças (Apêndice 14, Q3, E6).
O lobolo pode se fazer, mas não, precisamente, no momento de grande consternação e dor, porque é
preciso notar que este já não é para o corpo moribundo que se espera o seu enterro, mas sim para a
conexão dos seus filhos, com os antepassados espirituais da família do marido (Apêndice 14, Q3,
E5).
Com esta posição, fica claro que a prática de se submeter os corpos moribundos à cerimónia do
lobolo fere directamente o conteúdo da Bíblia Sagrada, que é o guião mor da religião cristã, na
medida em que aquele dossier orienta o funeral dos seus ente queridos e, de forma metafórica
compara, com maior equilíbrio, entre a falta deste ritual com um aborto. Com esta metáfora,
pretende-se aferir que vale apenas não ter nascido do que carecer ou ser dificultado o funeral.
Segundo a Lei da Família (2004) no seu artigo 21, a convivência conjunta de um casal sem se
realizar o casamento tradicional se resume na promessa do casamento e, no caso de não efectivação
desta promessa pela morte de um dos promitentes, o promitente sobrevivo pode conservar os
donativos do falecido, mas nesse caso, perde o direito de exigir os que por sua parte lhe tenha feito.
Com esta posição, o espírito da lei se funde no direito de herança dos bens do falecido, mas,
também, deixa bem claro que não é legal a exigência ao falecido das promessas que não se
efectivou ou ainda dos feitos que o sobrevivente tenha feito a favor do falecido. Nas promessas
inclui-se o lobolo, que durante a convivência conjunta constituía um sonho para ambos.
27
Nos requisitos para o lobolo, plasmados no artigo 51 da Lei 10/2004 de 25 de Agosto, constata-se
que é indispensável para a realização do casamento tradicional a presença:
- Dos contraentes;
- Da Autoridade Comunitária;
- De duas Testemunhas.
Neste contexto, a lei não considera válido o lobolo do cadáver, como casamento reconhecido, pois,
nele não se presenciam ambos nubentes, isto é, não há noiva, consequentemente não há declaração
do consentimento deste cadáver.
Segundo o jornal Notícias (2008:15), um jovem abandonou o corpo da sua esposa, na Casa
Mortuária do Hospital Provincial de Gaza e, fugiu para um lugar desconhecido porque este não
tinha legalizado a cerimónia do lobolo e, na família da falecida é frequente a submissão do genro ao
lobolo do cadáver, como condição para o funeral.
Como o Governo Municipal tem, como uma das competências, garantir a saúde pública, em
situações do género, tem que criar condições para se proceder ao funeral, através de mecanismos
previamente criados.
A morgue é um lugar transitório num período normal de cinco a sete dias mas, é
frequente reservar-se corpos até dezoito dias para se tratar de assuntos tradicionais
como o lobolo, complicando, deste modo, os serviços desta Instituição Pública. Como a
Morgue tem uma capacidade de conservar dezoito corpos, quando situações de género
complicarem o funcionamento normal, os Serviços Sociais encarregaram-se em custear
as despesas do funeral depois de fracassar as tentativas de localização dos familiares do
corpo, ou quando se confirmar que a família é tanto carente, quanto às despesas do
funeral (Apêndice 6, Q6, E17).
Este fenómeno da demora do corpo na morgue, que para além de dificultar o exercício normal da
instituição, devido ao congestionamento, se fundamenta na procura pressionada do dinheiro
requerido no curto intervalo de tempo, que durante a vida da mulher, o marido não conseguiu.
Instituição e dos beneficiários deste e doutros corpos aí depositados e, o risco se arrasta até aos
participantes no funeral deste, generalizando-se a proliferação da saúde pública.
Para Junod (1996), desde os tempos mais longínquos os mortos são respeitados pelos seus entes e
pelos demais próximos a ele. Neste contexto, o respeito é aquele de cunho reverencial, religioso,
abarcando os dogmas que foram se edificando através dos tempos e das mais diversas culturas.
Assim, ainda actualmente, remanesce a preocupação de oferecer aos mortos algo que, nestas
condições, possa honrá-los.
Todavia, embora essa veneração aos mortos seja revestida de respeito e religiosidade, não são esses
os motivos que determinam a tutela moral em relação ao respeito pelos mortos que está-se tratando,
mas sim, os valores sociais e éticos que envolvem a questão, não importando, portanto, se o morto
ou seus familiares eram religiosos ou se esses estariam interessados em respeitar o defunto e todo o
ritual de que normalmente é procedido a morte.
É interessante relatar que grande parte dos doutrinários entende que os artigos integrantes do
respeito aos mortos foram idealizados, somente, para assegurar o sentimento de respeito que os
vivos guardam pelos mortos, já que, segundo eles, os defuntos não são sujeitos de direito, posto que
não mais subsistem.
Sob tais aspectos, os tipos de atentados que ferem o respeito aos mortos propõem-se a proteger,
principalmente, os sentimentos dos familiares e amigos do morto, desde a cerimónia funerária,
passando pela violação de sepultura, destruição, subtracção ou ocultação de cadáver, até o
vilipêndio a cadáver.
O escopo desta visão tem a intenção de oferecer tranquilidade aos que acompanham o morto, com o
intento de evitar qualquer forma de obstar, interromper, atrapalhar ou desassossegar o andamento
do cerimonial, objectivando resguardar o sentimento de respeito pelos mortos.
29
É necessário que se faça conceituar o que vem a ser a cerimónia funerária, distinguindo-a do enterro
que, na óptica do Junod (1996), cerimónia funerária é a solenidade religiosa que se realiza em
homenagem póstuma ao morto, enquanto o enterro é a condução do corpo do defunto ao local em
que será definitivamente sepultado ou cremado.
Consta que depois da morte da mulher, há uma necessidade imperiosa de se guardar o corpo na
morgue, para se proceder a colecta das dádivas do lobolo e, de seguida, a família do noivo divide-
se, enquanto uns vão em busca do corpo para o funeral, outros vão efectuar o lobolo, do mesmo e
daí vão se encontrar no cemitério, facto que carecia das cerimónias fúnebres (Apêndice 14, Q6, E6).
Morgue do
HPXX
Morte da
Mulher Lobolo em
Cemitério
não Casa do
lobolada cadáver que
se encontra na
Morgue
A atitude afecta fortemente a moral, se o agente agir com dolo para, de alguma forma, impedir ou
perturbar a cerimónia, o cortejo fúnebre ou o sepultamento e cremação com a finalidade de ofender
o sentimento de respeito aos mortos, atendendo que em nossa tradição a morte é algo sagrado.
30
CONCLUSÃO
O lobolo, na Cidade de Xai-Xai, seguiu uma linha evolutiva, desde a troca de géneros alimentícios
até à sua monetarização, que surge com o emprego dos moçambicanos nas minas da República da
África do Sul. É no contexto da capitalização que surge o lobolo do cadáver, na medida em que
guarda-se uma expectativa monetária nas filhas e, com a sua morte, surge um desespero total dos
pais até ao ponto de exigirem o lobolo antes do seu funeral.
O lobolo do cadáver acontece quando uma determinada mulher vive, maritalmente com o seu
marido antes de se realizar o lobolo e, perde a vida. O facto de convivência marital fora do lobolo
associa-se às exigências do lobolo acima das capacidades imediatas dos interessados e ao desuso
dos valores sociais do lobolo pela sua capitalização e a emancipação da mulher que já não permite
com que, através do lobolo, o homem exerça, inquestionavelmente, o poder no seio da família e da
sociedade.
O facto que agudiza a prática deste fenómeno é a falta de diálogo entre as famílias unidas por este
laço, havendo algumas que só procuram conhecer a casa da sua nora quando esta perde a vida,
portanto, só para comunicar a notícia da morte. Esta prática não se generaliza em todas as famílias,
havendo umas que exigem e outras que não se importam com o fenómeno, encaram a morte como
algo natural.
O lobolo do cadáver tem algum lado positivo, pois com o medo de passar em situações idênticas, a
sociedade tem em mente a necessidade do lobolo, porém, esta vantagem é consumida pelos
fundamentos negativos que o lobolo do cadáver transporta ao ferir a constituição, a lei da família, a
religião, bem como a própria tradição que, alguns praticantes do fenómeno defendem o
conservadorismo e o guardião do lobolo na base dele, porque, tradicionalmente, a morte é algo
sagrado e, não permite a exposição e objecto de discussão do cadáver.
O lobolo do cadáver está, mais inclinado ao oportunismo das famílias praticantes, do que à
educação para o lobolo normal, facto que concorre à não legitimação pela sociedade. Esta posição
se justifica, por um lado pela proporcionalidade directa entre o lobolo do cadáver e as uniões
maritais sem lobolo, o que devia ser o inverso e, por outro lado, pela pouca assunção da
responsabilidade dos praticantes deste fenómeno. Os protagonistas, num momento se
responsabilizam pelo acto, como forma de resgatar a prática do lobolo, mas noutro, arrependem-se,
culpando a orientação do patriarcado.
31
Assim, fica claramente comprovada pelo estudo a hipótese do lobolo do cadáver ser um
oportunismo das famílias praticantes, por esta se identificar com a maioria da amostra. A segunda
que vê o lobolo de cadáver como sançionamento não teve um peso significativo na explicação deste
fenómeno.
32
SUGESTÕES
Com o presente trabalho, como se referiu nos capítulos anteriores, não se pretende abolir, nem
criticar a prática do lobolo, mas sim o fenómeno específico, dentro do lobolo, que é o do cadáver.
Para tal, avança-se com três grandes sugestões que submetem a sociedade actual num desafio para
reduzir as constatações e, dividem-se em dois planos, sendo curto e médio prazos.
Curto Prazo
Para os pais, tanto do noivo, como da noiva, deveriam colaborar com os filhos de forma a
considerar o lobolo como um mecanismo de união familiar, e não uma compensação financeira.
Há necessidade de diálogo permanente entre as famílias cujos filhos se juntaram sem lobolo para
que os sensibilizem a cumprir com esta norma costumeira.
As famílias das noivas deveriam envolver as suas filhas na definição dos bens necessários para o
acto do lobolo que estejam em consonância com o nível de vida que ela leva com o marido, de
forma a evitar as desistências para a prática.
Todos os jovens deviam valorizar o lobolo, como forma de preservação da identidade cultural do
grupo etno-linguístico changana, para não sofrerem represálias que actualmente estão sendo
estabelecidas pelos guardiãs da cultura.
O poder local que vive esses casos no concreto, através das esquadras, da comunidade, dos
Hospitais, entre outros actores, devia criar um mecanismo, junto com a própria comunidade, através
de palestras, para desincentivar o lobolo do cadáver.
Admitindo que se faça o lobolo de pessoas mortas, este não pode decorrer com o corpo à espera do
funeral, muito menos imposto como senha para o funeral, pois nestes moldes o lobolo é
basicamente a compra da condição funerária.
No Currículo Local, deveria ser introduzido um capítulo denominado “Respeito das Tradições
Sociais” que de entre vários pode englobar temas como:
Esta recomendação irá, certamente, incutir aos adolescentes e jovens de ambos sexos, tidos como os
mais vulneráveis ao lobolo do cadáver, à necessidade de respeitar os modos vivendus tradicionais e
a interpretação do lobolo de forma mais detalhada e metódica ao ponto de olhar esta instituição
tradicional como uma norma costumeira importante, pois garante a ligação dos ancestrais das
famílias.
Feito isto, estaria preparado, logo nos mais novos, um ambiente para incontornar o lobolo e,
consequentemente, limita o campo da acção do lobolo do cadáver, porque este só tem espaço
quando o lobolo normal não ocorrer até à morte da noiva.
Deveria ser criada uma equipe multi-sectorial, composta pelo menos, pelo Hospital Provincial,
Comando Provincial da PRM de Gaza e pelas Autoridades Tradicionais para elaborar um “Manual
de Educação dos Pais e Responsáveis pelas Famílias sobre o Lobolo” que contenha a experiência
que estas instituições usam para dirimir este fenómeno quando chega àquele nível que, geralmente,
tem terminado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Revoga o Livro IV do Código Civil em Moçambique In: Boletim da República, Nº 34/2004 de 25 de
Agosto de 2004.
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de Outubro, Maputo, Imprensa Nacional, 2008. P7
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ordem social moderna. São Paulo: Unesp, 1997.
BEUREN, Ilse Maria. Como Elaborar Trabalhos Monográficos em Contabilidade. 2ª Edição, São
Paulo, Editora Atlas, 2004.
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Ed., Porto, Campo das Letras Editores S.A., 2005.
HOBBES, Thomas. O Leviathan. Magdalen College, Oxford, 1ª Ed., 1651. (Tradução Portuguesa).
35
44
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1974.
JUNOD, H. A. Usos e Costumes dos Bantu. Maputo, Arquivo histórico de Moçambique, vol. 2,
1996.
MARTINEZ, Francisco Lerma. Antropologia Cultural. 6ª Ed., Paulinas Editora, Maputo, 2009.
MELLO, Luíz Gonzaga De. Antopologia Cultural: Iniciação, Teoria e Temas. 15ª Ed., Petrópolis,
Vozes, 2008
TEMBE, Maria Atália. A Legitimidade do Lobolo nos Últimos 30 anos em Moçambique: O Caso
da cidade de Xai-Xai. Tese de licenciatura em Antropologia. Faculdade de Ciências Sociais,
Maputo, Universidade Eduardo Mondlhane, 1993. 63p.
36
APÊNDICES E ANEXOS
Apêndice 1
Inquérito
2. Quanto tempo a família viveu com a falecida sem ter efectuado o lobolo?
a) Pedimos a relação dos requisitos mas não tivemos resultados b) As exigências do lobolo
estavam acima do nosso alcance c) Ainda estávamos a preparar os bens exigidos
outros factores ______________________________
4. Qual foi a via usada para comunicar a família da nora sobre a perca da vida da filha?
5. Qual foi a atitude da família da noiva perante a informação da perda de vida da sua filha?
6. O que é que a família da noiva fez para que se pudesse realizar o funeral?
c) Obrigou que houvesse o lobolo do cadáver antes do funeral d) Exigiu que a sua filha fosse
enterrada na sua família
7. Para o caso da obrigação do Lobolo de Cadáver antes do funeral, como é que resolveu o
problema?
a) Satisfação das exigências por via de empréstimo b) Satisfação das exigências por via de
poupanças c) Solicitação da intervenção das autoridades d) Realização do
funeral face à fuga do noivo
9. Acha que o Lobolo do cadáver deveria ser considerado legítimo pelas autoridades?
Apêndice 2
Nº % Nº % Nº % Nº %
ANEXOS
Anexo1
ANEXO 2
Mapa de Localização da Cidade de Xai-Xai
Distrito de Xai-Xai