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A epistemologia reformista de Plantinga

Domingos Faria

A epistemologia da crença religiosa é uma área da filosofia da religião


que procura responder ao seguinte problema: haverá justificação para
se ter fé sem provas, argumentos ou indícios? Ou formulando de outra
forma: será epistemicamente legítimo acreditar em Deus sem provas,
argumentos ou indícios? Além das respostas tradicionais de William
Clifford e de William James a esse problema, há uma resposta mais
contemporânea e filosoficamente prometedora: a epistemologia
reformista de Alvin Plantinga (n. 1932). Chama-se “reformista” à sua
epistemologia porque este filósofo se identifica com o pensamento
reformista, tradição protestante que remonta a João Calvino.

Clifford defende que não é legítimo acreditar que Deus existe, uma
vez que só é legítimo acreditar naquilo para o qual temos indícios
suficientes, e não temos indícios suficientes da existência de Deus.
Deste modo, Clifford argumenta que não há qualquer caso em que
acreditar em algo sem indícios conclusivos seja perfeitamente
racional. Plantinga nega esta proposição, mas para isso não se
compromete com a ideia de que é sempre racional acreditar em algo
sem indícios conclusivos. Apenas argumenta que há certos casos em
que acreditar em algo sem indícios conclusivos é perfeitamente
racional, nomeadamente que existem alguns contextos que justificam
racionalmente uma crença mesmo sem provas ou indícios. Por isso,
defende que pode ser legítimo acreditar na existência Deus sem
provas, argumentos ou indícios.
Portugal | Brasil

Porém, para defender a sua teoria Plantinga não utiliza uma


argumentação similar à de James. Este último salienta que é legítimo
acreditar na existência de Deus sem provas para evitar a perda de
uma possível verdade e de um bem vital — a vida eterna e outras
graças divinas. Plantinga, ao invés, defende que é perfeitamente
justificado crer em Deus sem que o façamos com base em quaisquer
indícios ou argumentos, e independentemente da possibilidade de
ganhar a verdade ou bens vitais; defende que a crença em Deus é
apropriadamente básica.

Uma crença é básica quando a aceitamos mas não com base noutras
crenças ou indícios. E estas crenças que não são justificadas com
base noutras tanto podem ser inapropriadas como apropriadas. Uma
crença básica é inapropriada quando não se justifica a si mesma,
sendo assim irracional. Por exemplo, a aluna Vera, apesar de
aprender várias teorias éticas, acredita, sem quaisquer razões ou
indícios, que no próximo teste de filosofia moral só sairá Kant, e por
isso só estuda a ética de Kant. Para ela, esta é uma crença básica,
pois não foi formada a partir de outros indícios ou razões; aliás, o
professor nem esclareceu que conteúdos iriam sair no teste. No
entanto, a crença básica desta aluna não é apropriadamente básica,
pois é uma crença arbitrária e a circunstância a partir da qual a formou
não a torna justificada.

Uma crença básica é apropriada quando se justifica por si mesma,


sendo por isso racional. Por exemplo, temos a crença de que 23 + 13
= 36; esta crença não é básica, pois, precisa se sustentar noutras
crenças adequadamente básicas que aceitamos sem recorremos a
outras proposições, como 2 + 1 = 3. Imaginemos outra situação: a
aluna Vera olha pela janela da sala de aula e vê uma árvore, formando
assim a crença de que vê uma árvore. Neste caso estamos perante
uma crença apropriadamente básica, uma vez que não adoptamos
esta crença com base em outras crenças. Poderíamos perguntar que
indícios poderiam sustentar a crença de ver uma árvore; mas a Vera
não tem qualquer indício a favor da sua crença, pois simplesmente
está a ver uma árvore e isso justifica a sua crença. Do mesmo modo,
mesmo que não haja qualquer indício a favor da crença em Deus, esta
pode mesmo assim ser adequadamente básica.

Para defender a sua teoria da crença em Deus como apropriadamente


básica, Plantinga começa por argumentar que o indiciarismo e o
fundacionalismo clássico são incoerentes. O indiciarismo critica a
crença em Deus afirmando que esta crença só é justificada se
existirem indícios suficientes a seu favor (como propôs Clifford); ora,
como não existem indícios suficientes a favor da crença de Deus,
então, esta crença não é justificada. Mas esta objecção indiciarista à
crença em Deus baseia-se no fundacionalismo clássico. O
fundacionalismo é uma teoria epistemológica que defende que as
nossas crenças se justificam inferindo-as adequadamente de outras
crenças justificadas, e assim por diante. Porém, isto seria um
processo sem fim de justificação. Por isso, a teoria fundacionalista
defende que há crenças autojustificadas, ou seja crenças
apropriadamente básicas, cuja adopção é o fundamento de todas as
outras crenças que não são básicas.

Que critérios exige o fundacionalismo clássico para aceitar uma


crença como apropriadamente básica? O fundacionalismo clássico
propõe que uma crença é apropriadamente básica se for auto-
evidente, incorrigível ou evidente sensorialmente. Ao satisfazer estes
critérios podemos dizer que estamos perante uma crença básica
devidamente justificada e correcta.

Mas há um problema: será que este critério de basicidade exprime ele


mesmo uma crença auto-evidente, incorrigível ou evidente
sensorialmente? Constatamos que, em si, o critério de basicidade do
fundacionalismo clássico não é nem auto-evidente, nem incorrigível,
nem evidente sensorialmente; assim, ao aceitar o critério de
basicidade como crença básica o fundacionalista clássico está a violar
o próprio critério de basicidade que ele mesmo estabeleceu. Deste
modo, o fundacionalismo clássico é incoerente, pois não cumpre as
suas próprias exigências. Ora, se o fundacionalismo clássico é
incoerente, a objecção indiciarista à crença em Deus, que se baseia
no fundacionalismo clássico, não é procedente.

É preciso notar que a crítica de Plantinga incide essencialmente no


critério de basicidade apropriada do fundacionalismo clássico, mas
não na estrutura epistemológica fundacionalista, pois continua a
defender que há algumas crenças que são apropriadamente básicas e
que sustentam as crenças restantes que não são básicas. E apesar de
Plantinga rejeitar o critério de basicidade apropriada do fundacionalista
clássico não defende que qualquer crença possa ser apropriadamente
básica. Assim, na ausência de um critério totalmente delimitado de
basicidade, Plantinga sugere que a melhor forma de chegar a tais
critérios é por via indutiva. Ou seja, é necessário reunir vários
exemplos de crenças que obviamente são adequadamente básicas e
a partir delas estabelecer por generalização quais são as outras
crenças básicas; e é também preciso formular hipóteses de basicidade
apropriada e testar estas hipóteses por referências a vários exemplos
candidatos ao estatuto de basicidade apropriada. Plantinga também
defende que nos vários exemplos existem circunstâncias e condições
que conferem ou não basicidade apropriada a determinada crença.
Assim, mesmo rejeitando os critérios de basicidade do
fundacionalismo clássico, podemos ainda aceitar certas crenças como
apropriadamente básicas. Por exemplo, a aluna Vera, ao deitar-se na
cama, recorda que olhou para uma árvore através da janela da sala de
aula; se ela não costuma ter lapsos mnésicos, então pode alegar
como crença apropriadamente básica a crença de que viu uma árvore
durante a aula de filosofia. Porém, se a sua memória fosse pouco
fiável, pregando-lhe várias partidas, a crença de que ela viu uma
árvore durante a aula de filosofia não poderia contar como uma crença
básica.

E a crença em Deus? Poderá ser uma crença básica? Plantinga pensa


que a crença em Deus pode ser apropriadamente básica (tal como ter
a experiência de ver uma árvore) sendo, portanto, legítimo e racional
acreditar em Deus sem provas, argumentos ou indícios. Mas isto não
significa de forma alguma que é uma crença infundada, gratuita ou
arbitrária. Há pelo menos três razões que podem justificar a tese de
que a crença em Deus é apropriadamente básica:

1. Certas circunstâncias e condições tornam a crença em Deus


apropriadamente básica. Ou seja, existem muitas circunstâncias e
condições que tornam racional e justificada a crença em Deus.
Plantinga indica algumas circunstâncias nas quais a crença em Deus
não é infundada para um teísta:

“Ao ler a Bíblia, pode-se ficar impressionado com o profundo sentido de que Deus nos
fala. Depois de fazer o que considero reles, ou imoral ou malévolo, posso sentir-me
culpado aos olhos de Deus e formar a crença Deus desaprova o que fiz. Ao confessar-
me e arrepender-me, posso sentir-me perdoado formando a crença Deus perdoa-me o
que fiz. Uma pessoa em grave perigo pode voltar-se para Deus, pedindo-lhe protecção
e ajuda; e claro que ele ou ela formará então a crença de que Deus é de facto capaz
de ouvir e ajudar se o considerar apropriado. Quando a vida é doce e gratificante, um
sentido espontâneo de gratidão pode ascender na alma; alguém nesta condição pode
agradecer e louvar o Senhor pela bondade e formará evidentemente a crença
concomitante de que na verdade há que agradecer ao Senhor e louvá-lo”. (Plantinga
1981: 186)

Vemos aqui várias situações que ocorrem frequentemente com os


teístas e que geram nas circunstâncias adequadas a crença em Deus
de uma forma justificada. Estas experiências religiosas dão origem a
proposições e crenças apropriadamente básicas como “Deus fala-me”
ou “Deus perdoa-me”. E partindo destas crenças básicas podemos
inferir directamente a crença “Deus existe”.
2. A crença em Deus é apropriadamente básica numa
comunidade natural (por exemplo, na comunidade dos cristãos).
Com o que vimos até agora, será que qualquer crença não poderá ser
apropriadamente básica? Imaginemos a formação de uma crença
numa entidade superior chamada Grande Abóbora, por ocasião do
Halloween. Poderemos dizer que esta crença é apropriadamente
básica? Plantinga defende que não é possível que tal crença seja
adequadamente básica. Pois para se poder justificar como tal, é
preciso determinar se existem circunstâncias adequadas para se
formar essa crença básica: principalmente averiguar se existe uma
experiência frequente dessa Grande Abóbora ou se existe uma
comunidade natural que conceda crédito a tal entidade. Ora, é fácil
constatar que não existem experiências frequentes e condições nas
quais fosse natural formar uma crença espontânea na Grande
Abóbora, nem sequer existe qualquer comunidade natural dos crentes
na Grande Abóbora que desse fundamento a tal crença; logo, a
crença na Grande Abóbora é infundada e não justificada.

Pelo contrário, teístas, como os cristãos, por exemplo, têm a


legitimidade de formar uma crença apropriadamente básica em Deus;
pois têm experiências frequentes da presença de Deus (como o sentir-
se amado por Deus, perdoado, escutado, etc.) e existe uma
comunidade natural dos cristãos, que autorizam e dão fundamento à
crença em Deus como apropriadamente básica. Vejamos um exemplo:
suponhamos que a aluna Vera tem quinze anos, vive numa
comunidade onde todos acreditam em Deus e foi educada para
acreditar na existência de Deus. Podemos dizer que a Vera não
acredita em Deus com base em provas ou indícios (e ainda nem
sequer estudou o argumento ontológico ou cosmológico), limitando-se
a acreditar naquilo que lhe ensinam. Aqui vemos que a Vera tem uma
crença em Deus apropriadamente básica, pois não é inferida de
provas ou argumentos. E esta crença é justificada, pois não tem boas
razões para pensar que Deus não existe, nem que a sua comunidade
a está a enganar. Portanto, a Vera está justificada a acreditar em
Deus sem provas, indícios ou argumentos.

3. A crença em Deus torna-se apropriadamente básica por meio


do nosso sentido do divino. Plantinga defende que existe nos seres
humanos uma faculdade cognitiva que, funcionando adequadamente,
conduz à justificação da crença em Deus como apropriadamente
básica; chama-se a essa faculdade sensus divinatis. Este sentido do
divino funciona de forma análoga à percepção, levando as pessoas a
ficarem cientes de Deus de uma forma imediata. Voltando ao exemplo
da Grande Abóbora, podemos constatar que no mundo não há
qualquer tendência natural para aceitar crenças na Grande Abóbora;
mas existe uma tendência nos humanos para percepcionarem a
presença de Deus no mundo, devido a este sentido do divino.

Uma objecção a este argumento é que muitos ateus e agnósticos


(plenamente racionais) afirmam que não têm tal crença básica em
Deus. Ora, se os seres humanos foram dotados por Deus de
faculdades cognitivas e do sentido do divino, então por que existe uma
percentagem significativa de pessoas que não crê em Deus?
Plantinga responde a esta objecção explicando que o pecado humano
pode corromper esta faculdade cognitiva do sentido do divino, que ao
deixar de funcionar adequadamente não permite a formação da
crença em Deus. Assim, tal como um objecto afiado pode causar uma
lesão num olho, o pecado também pode lesionar a faculdade cognitiva
do sentido do divino originando, por conseguinte, a descrença. Mas se
o nosso sentido do divino funcionar adequadamente, então, formar-se-
á a crença apropriadamente básica em Deus de uma forma justificada
e racional.

É altura de perguntar: será esta teoria plausível? Para avaliar


criticamente a plausibilidade desta teoria é melhor tomar primeiro nota
de algumas objecções. Vejamos as principais críticas que se podem
levantar contra a teoria de Plantinga:

1. As várias condições e circunstâncias que evocam a crença em


Deus não são em si suficientes para justificar a crença em Deus
como apropriadamente básica. Por exemplo, imaginemos que a
Vera não vai à missa num domingo, pois simplesmente não lhe
apeteceu. Ora, como a Vera se considera uma católica-romana e
como desrespeitou o terceiro mandamento de santificar os domingos e
festas de guarda, começa a sentir-se culpada e forma a crença “Deus
desaprova o que fiz”. Mas será esta uma crença adequadamente
básica? Talvez a Vera sinta-se culpada por faltar à missa porque na
catequese lhe ensinaram que isso é pecado.

No entanto, se pensarmos bem, veremos que a Vera continuaria a


sentir-se culpada por faltar à missa mesmo que Deus não exista e
mesmo que os mandamentos estejam errados, pois suas crenças
foram formadas a partir de uma educação religiosa rigorosa, acrítica e
dogmática. Logo, ter uma determinada experiência de culpa não
significa realmente que se esteja justificado em ter uma crença básica
em Deus, pois esta experiência pode ser apenas o fruto de uma
educação religiosa. Poderíamos aplicar este raciocínio a um leque
alargado de acções que são naturais e moralmente não
problemáticas, como o caso da masturbação ou da
homossexualidade, mas que podem ser consideradas pecaminosas e
gerar sentimentos de culpa, devido a uma educação religiosa rigorosa.
Porém, pelo facto de uma pessoa ter uma experiência deste género
(ou outra de agradecimento, louvor, etc.), não significa que se
justifique a crença em Deus.

2. A comunidade pode legitimar crenças bizarras e monstruosas.


Plantinga defendeu que a comunidade é decisiva na autorização de
crenças como apropriadamente básicas. Assim, como não existe uma
comunidade da Abóbora Gigante, esta crença não pode ser básica.
No entanto, é fácil encontrar comunidades que legitimam crenças tão
bizarras e monstruosas como a da Abóbora Gigante. Se a
comunidade dos cristãos justificam as suas crenças como
apropriadamente básicas pelo facto de pertencerem à sua
comunidade, também outros grupos e comunidades justificam as suas
crenças pelo de facto de pertencerem às suas comunidades. Por
exemplo, para a comunidade Al-Qaeda, afirmações como “Alá exige
que dominemos o ocidente e façamos terrorismo”, “Alá diz-nos para
matar os descrentes” ou “ao fazer-me ir pelos ares a mim e aos
outros, Alá dá-me setenta e duas virgens no paraíso” podem ser
crenças apropriadamente básicas. Assim, da mesma forma que a
comunidade cristã pode justificar a crença “Deus existe” como
apropriadamente básica, também pode justificar qualquer outra crença
monstruosa ou bizarra que surja em alguma comunidade, como as do
xamanismo, da bruxaria, do vudu, entre outros.

3. Cada comunidade justifica como apropriadamente básica a


crença na sua entidade superior, mas a existência simultânea de
tantas entidades parece incoerente. Esta objecção é apenas um
corolário natural da objecção anterior. Uma consequência das teses
de Plantinga é que qualquer pessoa no seio de uma comunidade
poderia aceitar como justificada a crença na entidade superior que a
sua comunidade partilha como apropriadamente básica. Assim, é
justificado os cristãos terem a crença “o deus Trinitário existe e ele é
um só”, os judeus assumirem “Javé existe e é o único deus”, os
muçulmanos proferirem “não há outro deus senão Alá”, os crentes do
hinduísmo proclamarem “Brama é o primeiro deus”, os budistas
assumirem “existem seres celestiais que são Devas”, etc. Mas parece
que se está a cair numa incoerência: como é possível que existam em
simultâneo todas estas divindades incompossíveis? Se o Deus
trinitário, Javé, Alá, Brama, Devas, entre muitos outros, não podem
existir em simultâneo, então precisamos de argumentar e dar boas
razões para se justificar a crença numa determinada entidade
superior. Deste modo, não parece justificado crer em Deus sem
argumentos.
4. As pessoas que investigam seriamente as questões religiosas
parecem não ter justificação racional para ter uma crença
apropriadamente básica em Deus, sem qualquer bom argumento.
No caso da Vera podemos achar legítimo assumir a crença em Deus
como apropriadamente básica, pois a Vera não acredita em Deus com
base em indícios, limitando-se a acreditar naquilo que a comunidade
em que está inserida lhe ensina. Porém, algo análogo aconteceria se
estivesse numa comunidade ateísta; aí a crença “Deus não existe”
tornava-se apropriadamente básica pelo facto de se limitar a acreditar
no que a comunidade ateísta lhe ensina. Mas suponhamos que a Vera
entra em contacto com tradições religiosas que divergem
significativamente da sua e questiona-se sobre a verdade da sua
religião.

Além disso, apercebe-se de muitos horrores no mundo: vê pessoas,


muitas delas religiosas, que cometem atentados causando inúmeras
mortes e sofrimento de pessoas inocentes; e dá-se conta da
existência de terramotos, cheias, tsunamis, furacões, e outros
desastres naturais, e surge a pergunta: “se Deus é sumamente bom,
omnipotente e omnisciente, como me ensinaram, então por que existe
tanto mal e sofrimento?” E questionando-se sobre a existência de
tanto mal gratuito começa a reflectir: “será que Deus existe?”

Na aula de filosofia, a Vera também inicia uma aprendizagem de


diversos argumentos a favor e contra a existência de Deus, que a
fazem analisar e pensar criticamente.

Será agora racional e legítimo a Vera acreditar em Deus sem


argumentos ou indícios? A Vera dedicou-se a investigar seriamente
estas questões religiosas averiguando a sua plausibilidade e
analisando diversos argumentos a favor e contra a existência de Deus;
por isso, parece que a Vera não está justificada a acreditar em Deus
na ausência de argumentos e indícios.

5. O sentido do divino que garante a basicidade da crença em


Deus pressupõe a verdade sobre a doutrina do pecado e sobre a
existência de Deus. O argumento do sentido divino é duplamente
circular. É circular porque pressupõe a existência de uma faculdade
que depende da existência de Deus para então justificar a existência
de Deus. E também é circular por pressupor a existência de uma
propriedade chamada “pecado” que depende da existência de um
Deus específico, que é o Deus cristão. Assim, temos um argumento a
favor do teísmo que depende da suposição de que o teísmo cristão é
verdadeiro.
Mas teremos boas razões para afirmar que o Deus cristão existe? E
será que a doutrina do pecado, que corrompe o sentido do divino, é
plausível? Imaginemos que se apresentam argumentos cogentes
contra a existência de Deus. Isto nos levará a concluir que não existe
qualquer sentido do divino entre as nossas faculdades cognitivas, e
sem este sentido do divino não podemos garantir a basicidade
apropriada da crença em Deus. Assim, parece mais razoável examinar
criticamente se Deus existe do que pressupor desde logo um sentido
do divino e uma crença básica em Deus sem qualquer argumento.

Após toda esta exploração de argumentos e razões que sustentam a


teoria de Plantinga, e depois de vermos algumas objecções principais,
está no momento de pensares e examinares criticamente: consideras
plausível a teoria de Plantinga que defende que é racional aceitar a
crença em Deus sem que o façamos com base em quaisquer provas,
argumentos ou indícios? Será a crença em Deus apropriadamente
básica?

Domingos Faria

Questões de revisão
1. O que significa dizer que a crença em Deus é apropriadamente básica?
2. Por que motivo Plantinga consideras que não é plausível a crítica
indiciarista?
3. Explique em que circunstâncias e condições a crença em Deus pode
tornar-se apropriadamente básica.
4. A crença na Grande Abóbora pode tornar-se apropriadamente básica?
Justifica.
5. Segundo Plantinga, por que razão os ateus não têm uma crença básica
em Deus?
6. Formula a objecção que consideres mais forte contra a teoria de
Plantinga.

Questões de discussão
7. “A crença em Deus é apropriadamente básica”. Concordas? Porquê?
8. “A crença apropriadamente básica em Deus não é infundada ou
gratuita”. Concordas? Porquê?
9. Consideras que é ética e epistemicamente legítimo acreditar em Deus
sem qualquer prova, argumento ou indício? Justifica.

Para saberes mais


 Parsons, Keith (2006) “Alguns Argumentos Teístas Contemporâneos”
in Um Mundo sem Deus: Ensaios sobre o Ateísmo, dir. Michael Martin,
trad. de Desidério Murcho. Lisboa: Edições 70, 2010, pp. 133-153.
 Plantinga, Alvin (1981) “Será a Crença em Deus Apropriadamente
Básica?” in A Ética da Crença, org. de Desidério Murcho, trad. de Vítor
Guerreiro. Lisboa: Bizâncio, 2010, pp. 175-196.
 Rowe, William (2010) Introdução à Filosofia da Religião, trad. de Vítor
Guerreiro. Lisboa: Verbo, 2011.

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