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355). Hoje, de fato, está bem claro que a con- más), significa: "a felicidade é o fim da conduta
cepção 2 de E., tal como foi expressa, com uma humana, dedutível da natureza racional do ho-
uniformidade impressionante, de Parmênides mem", ao passo que a segunda asserção signifi-
até nós, não passa de imagem reduzida do tem- ca "o prazer é o móvel habitual e constante da
po: é o tempo reduzido a uma de suas determi- conduta humana". Como o significado e o
nações, a simultaneidade (o totumsimut), que, alcance das duas asserções são, portanto, com-
como hoje todos sabem, é não só tempora- pletamente diferentes, sempre se deve ter em
lidade, mas temporalidade mensurável. Quanto mente a distinção entre ética do fim e ética do
à concepção da E. como aevum, ou seja, como móvel, nas discussões sobre ética. Tal distin-
duração temporal indefinida, choca-se com as ção, ao mesmo tempo que divide a história da
objeções já expostas por Kant em sua crítica E., permite ver como são irrelevantes muitas
à cosmologia racional do séc. XVIII (v. COSMO- das discussões a que deu ensejo e que outra
LOGIA). causa não têm senão a confusão entre os dois
ÉTICA (gr. xò rjGiKá; lat. Ethica; in. Ethics; significados propostos.
fr. Éthique, ai. Ethik, it. Eticà). Em geral, ciência l2 Ambas as doutrinas éticas elaboradas por
da conduta. Existem duas concepções funda- Platão, quais sejam, a que se encontra expressa
mentais dessa ciência: 1- a que a considera em A República e a que está expressa em Fi-
como ciência do /zm para o qual a conduta dos lebo, pertencem à primeira das concepções que
homens deve ser orientada e dos meios para distinguimos. A É. exposta em A República é
atingir tal fim, deduzindo tanto o fim quanto os uma E. das virtudes, e as virtudes são funções
meios da natureza do homem; 2- a que a con- da alma (Rep., I, 353 b) determinadas pela natu-
sidera como a ciência do móvel da conduta hu- reza da alma e pela divisão das suas partes
mana e procura determinar tal móvel com vis- (Jbid., IV, 434 e). O paralelismo entre as partes do
tas a dirigir ou disciplinar essa conduta. Essas Estado e as partes da alma permite a Platão
duas concepções, que se entremesclaram de determinar e definir as virtudes particulares,
várias maneiras na Antigüidade e no mundo bem como a virtude que compreende todas
moderno, são profundamente diferentes e fa- elas: a justiça como cumprimento de cada parte
lam duas línguas diversas. A primeira fala a lín- à sua função (Jbid, 443 d). Analogamente, a É.
gua do ideal para o qual o homem se dirige por de Filebo começa definindo o bem como forma
sua natureza e, por conseguinte, da "nature- de vida que mescla inteligência e prazer e sabe
za", "essência" ou "substância" do homem. Já a determinar a medida dessa mistura (Fil., 27 d).
segunda fala dos "motivos" ou "causas" da con- A É. de Aristóteles é, aliás, o protótipo dessa
duta humana, ou das "forças" que a determi- concepção. Aristóteles determina o propósito
nam, pretendendo ater-se ao conhecimento da conduta humana (a felicidade), a partir da
dos fatos. A confusão entre ambos os pontos natureza racional do homem (Et. nic, I, 7), e
de vista heterogêneos foi possibilitada pelo depois determina as virtudes que são condição
fato de que ambas costumam apresentar-se da felicidade. Por sua vez, a É. dos estóicos,
com definições aparentemente idênticas do com a sua máxima fundamental de "viver se-
bem. Mas a análise da noção de bem (v.) lo- gundo a razão", deduz as normas de conduta
go mostra a ambigüidade que ela oculta, já da natureza racional e perfeita da realidade (J,
que bem pode significar ou o que é (pelo fato STOBEO, Ecl., II, 76, 3; DIÓG. L, VII, 87). 0
de que é) ou o que é objeto de desejo, de misticismo neoplatônico colocou como propó-
aspiração, etc, e estes dois significados corres- sito da conduta humana o retorno do homem
pondem exatamente às duas concepções de É. ao seu princípio criador e sua integração com
acima distintas. De fato, é característica da con- ele. Segundo Plotino, esse retorno é "o fim da
cepção Ia a noção de bem como realidade viagem" do homem, é o afastamento de todas
perfeita ou perfeição real, ao passo que na con- as coisas exteriores, "a fuga de um só para um
cepção 2- encontra-se a noção de bem como só", ou seja, do homem em seu isolamento
objeto de apetição. Por isso, quando se afirma para a Unidade divina (Enn., VI, 9,11).
que "o bem é a felicidade", a palavra "bem"
tem um significado completamente diferente Por mais diferentes que sejam as doutrinas
daquele que se encontra na afirmação "o bem mencionadas, em suas articulações internas
é o prazer". A primeira asserção (no sentido em as formulações são idênticas, pois: a) determi-
que é feita, p. ex., por Aristóteles e por S. To- nam a natureza necessária do homem, b) de-
duzem de tal natureza o fim para o qual sua
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conduta deve orientar-se. Toda a É. medieval Hegel, a moralidade é a intenção ou a vontade


mantém-se fiel a esse esquema. Assim, p. ex., subjetiva de realizar o que se acha realizado no
toda a É. de S. Tomás é deduzida do princípio Estado. O conceito de Estado é o ponto de par-
de que "Deus é o último fim do homem" (S. tida e o ponto de chegada da É. de Hegel. A É.
Th., II, 2, q. 1, a. 8), do qual se infere a doutri- de Rosmini conforma-se à É. tradicional; segun-
na da felicidade e a da virtude. Pode-se entre- do ele o bem identifica-se com o ser, de tal
ver uma crítica contra essa formulação em Duns modo que a máxima fundamental da conduta
Scot e em muitos escolásticos do séc. XIV: as pode ser assim formulada: "Querer ou amar o
normas morais fundam-se pura e simplesmente ser onde quer que seja este conhecido, segun-
no mandamento divino, com exceção da nor- do a ordem que ele apresenta à inteligência"
ma que impõe obedecer a Deus, que seria a (Princ. delia scienza morale, ed. nacional, p.
única "natural" (Op. Ox., III, d. 37, q. 1; cf. 78). Mas, quer se defina a realidade como Ser,
OCKHAM, In Sent., II, q. 5 H). Com efeito, esse quer se defina como Espírito ou Consciência, a
recurso ao arbítrio divino é resultado do reco- estrutura das doutrinas morais que enten-
nhecimento da impossibilidade de deduzir dem inferir a moral de seu objetivo mostram
da natureza do homem o fim último de sua grande uniformidade de procedimentos e con-
conduta (Op. Ox., IV, d. 43, q. 2, n. 27, 32). clusões. Consideremos, p. ex., na filosofia
Mas nem por isso se abriu uma alternativa à contemporânea, a É. de Green e a de Croce.
indagação ética. Segundo Green, a Consciência infinita, Deus, é,
Na filosofia moderna, os neoplatônicos de ab aetemo, tudo o que o homem tem a possi-
Cambridge retomam a concepção estóica de bilidade de vir a ser, ou seja, o Bem ou Fim su-
ordem do universo que também vale para diri- premo, que é o objeto da boa vontade huma-
gir a conduta do homem; portanto, insistem na; à razão cabe a tarefa de concebê-lo e de
no caráter inato das idéias morais, bem como, colocá-lo como fundamento de sua lei (Prole-
em geral, de todas as idéias gerais ou diretivas gomena to Ethics, 3a ed., 1890, pp. 198, 214).
de que o homem dispõe (CUDWORTH, The True Querer o bem significa, .portanto, querer a
Intell. System, 1678, I, 4; MORE, Enchiridion, Consciência absoluta, procurar realizar o que
1679, III). A filosofia romântica deu forma mais está presente nela. Do mesmo modo, para
radical a essa concepção ética. Fichte exige que Croce a atividade ética é "volição do universal",
toda a doutrina moral seja deduzida da "auto- mas o universal "é o Espírito, é a Realidade en-
determinação do Eu" (Sittenlehre, Intr., § 9). Por quanto verdadeiramente real, enquanto unida-
isso, vê como objetivo da moral a adequação de de pensamento e vontade; é a Vida apreen-
do eu empírico ao Eu infinito; essa adequação dida em sua profundidade como unidade; é a
nunca é completa e por isso provoca um pro- Liberdade, se uma realidade assim concebida
gresso ad infinitum, a liberação progressiva for perpétuo desenvolvimento, criação, pro-
do eu empírico de suas limitações (Ibid., em gresso" (Filosofia delia pratica, 1909, p- 310).
Werke, II, p. 149). Segundo Hegel, o objetivo da Agir moralmente significa, portanto, querer o
conduta humana, que é ao mesmo tempo a rea- Espírito infinito, assumi-lo como um Fim: for-
lidade em que tal conduta encontra integração mulação essa que (assim como a de Fichte,
e perfeição, é o Estado. Por isso, para Hegel, a Hegel, Green) não se distingue da É. tradicio-
É. é filosofia do direito. O Estado é "a totalida- nal que (como a de Platão, Aristóteles, S. To-
de ética", Deus que se realizou no mundo (Fil. más e Rosmini) recorre à Realidade ou ao Ser.
dodir., § 258, Zusatz). O Estado é o ápice da- Uma forma mais complexa e moderna da É.
quilo que Hegel chama de "eticidade" (Sitt- do fim pode ser vista na doutrina de Bergson,
lichkeii), isto é, a moralidade que ganha corpo que distinguiu a moral fechada da moral aber-
e substância nas instituições históricas que a ta. Moral fechada é aquilo que se entende co-
garantem; ao passo que a "moralidade" (Mo- mumente por esse termo. No mundo humano,
ralítãt) por si mesma é simplesmente intenção corresponde ao que é o instinto em certas so-
ou vontade subjetiva do bem. Mas, por sua ciedades animais, pois seu propósito é conser-
vez, o bem é "a essência da vontade em sua var a sociedade. "Suponhamos por um instan-
substancialidade e universalidade", ou então, te", diz Bergson, "que, na outra ponta da linha
"a liberdade realizada, o objetivo final e absolu- [na ponta da linha evolutiva da inteligência, di-
to do mundo" (Ibid., §§ 139-42), ou seja, o pró- ferente da linha do instinto], a natureza tenha
prio Estado. Assim, pode-se dizer que, para desejado obter sociedades em que fosse permi-
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tida certa amplitude à opção individual: nessas jetividade, típica da noção de bem. Ora, as
sociedades, agiria de tal modo que, em termos doutrinas que reconhecem a necessidade do
de regularidade, a inteligência obteria resul- valor, ou seja, sua absolutidade, sua eternidade,
tados comparáveis aos do instinto na outra etc, têm estreito parentesco com as doutrinas
ponta da linha: teria recorrido a hábitos. Cada éticas tradicionais do fim, ao passo que as dou-
um desses hábitos, que podem ser chamados trinas que reconhecem a problematicidade do
de 'morais', será contingente, mas seu conjun- valor são estreitamente aparentadas com as
to, ou seja, o hábito de contrair hábitos, por doutrinas éticas da motivação. As doutrinas de
estar na base das sociedades, terá uma força Scheler e Hartmann estão entre as que afir-
comparável à do instinto tanto em intensidade mam a necessidade do valor. Scheler elaborou
quanto em regularidade" (Deux sources, I; trad. sua "É. material dos valores" justamente com o
it., p. 23). Do outro lado, porém, está a moral fim de imunizar a É. contra o relativismo a que
dos profetas e dos inovadores, dos místicos e conduz a É. material do bem, que vê no bem
dos santos. Essa é a moral em movimento, fun- simples objeto de apetição. Segundo Scheler,
dada na emoção, no instinto, no entusiasmo: as apetições (aspirações, impulsos ou desejos)
moral que é impulso de renovação coinciden- têm seus fins em si mesmas, ou seja, "no senti-
te com o próprio impulso criador da vida. Segun- mento, contemporâneo ou anterior, dos seus
do Bergson, essa dualidade de forças funda- componentes axiológicos". Os fins da apetição
menta a moral: "Pressão social e impulso de podem tornar-se propósitos da vontade quando
amorsão duas manifestações complementares representados e escolhidos, tornando-se assim
da vida, normalmente dedicadas à conserva- um dever-ser real, vale dizer, termos de uma
ção, em linhas gerais, da forma social caracte- experiência objetiva. Mas os valores são dados
rística da espécie humana desde a origem, mas anterior e independentemente tanto em relação
excepcionalmente capazes de transfigurá-la aos fins quanto em relação aos propósitos, sen-
graças a indivíduos que, assim como o surgi- do também dadas independentemente de tais
mento de uma nova espécie, representam fins e propósitos as preferências dos valores,
um esforço de evolução criadora" (Ibid., p. isto é, sua hierarquia. Scheler diz: "De fato,
101). Assim, do ideal de renovação moral, podemos sentir os valores, mesmo os morais, na
Bergson deduziu a existência de uma força compreensão dos outros, sem que eles se
destinada a promover essa renovação, assim transformem em objeto de aspiração ou sejam
como do conceito de "sociedade fechada" imanentes a uma aspiração. De modo seme-
deduziu a noção de moral corrente. Sua É., lhante, podemos preferir ou pospor um valor a
portanto, obedece à clássica formulação da É. outro, sem com isso optar entre aspirações vol-
do fim. tadas para esses valores. Todos os valores po-
dem ser dados e preferidos sem nenhuma aspi-
Quando, na filosofia contemporânea, a no- ração" (Formalismus, p. 32). Em outros termos,
ção de valor (v.) começou a substituir a de a É. não se funda na noção de bem nem na de
bem, a antiga alternativa entre É. do fim e É. da fins imediatamente presentes à aspiração ou
motivação assumiu nova forma. Com efeito, o em propósitos deliberadamente almejados,
valor subtrai-se à alternativa própria da noção mas na intuição emotiva, imediata e infalível
de bem, que pode ser interpretada ou em sen- dos valores e das suas relações hierárquicas; in-
tido objetivo (como realidade) ou em sentido tuição é base de qualquer aspiração, desejo e
subjetivo (como termo de apetição). O valor deliberação voluntária. Hartmann expressou de
possui modo de ser objetivo, no sentido de que forma mais didática, clara e eficaz essa mesma
pode ser entendido ou apreendido indepen- concepção de ética: "Existe um reino de valo-
dentemente da apetição; mas, ao mesmo tem- res subsistente em si mesmo, um autêntico
po, é dado em certa forma de experiência 'mundo inteligível' que está além da realidade e
específica. O valor, portanto, é constantemente além da consciência, uma esfera ideal ética,
reconhecido como dotado de três caracteres: d) não construída, inventada ou sonhada, mas
objetividade; b) simplicidade, graças à qual é efetivamente existente e apreensível no fenô-
indefinível e indescritível, do mesmo modo meno do sentimento axiológico, subsistindo ao
que uma qualidade sensível elementar; c) ne- lado da esfera ôntica real e da esfera gno-
cessidade ou problematicidade. Esta última é a siológica atual" (Ethik, 1926, p. 156). O "serem
alternativa que, no âmbito da noção de valor, si" dos valores ressalta que eles não dependem
substitui a alternativa entre subjetividade e ob-
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da mesma intuição axiológica em que são da- 2° A segunda concepção fundamental da É.


dos e, portanto, são necessários e absolutos, o é a que se configura como uma doutrina do
que, como pretendia Hartmann, deveria con- móvel da conduta. A característica dessa con-
ter o avanço do "relativismo axiológico de cepção é que nela o bem não é definido com
Nietzsche" (Ibid., p. 139). base na sua realidade ou perfeição, mas só
No entanto, o "relativismo axiológico de como objeto da vontade humana ou das regras
Nietzsche" tem a mesma estrutura formal, ou que a dirigem. Assim, enquanto na primeira
seja, a mesma elaboração da E. de Hartmann e, concepção as normas derivam do ideal que se
em geral, da É. tradicional do fim, porque tam- assume como próprio do homem (a perfeição
bém se funda em uma hierarquia absoluta de da vida racional, segundo Aristóteles, o Esta-
valores. Para Scheler e Hartmann, essa hierar- do, segundo Hegel, a sociedade fechada ou aber-
quia, assim como os próprios valores, é de ta, segundo Bergson, etc); na segunda concep-
todo independente da escolha humana; aliás, ção procura-se em primeiro lugar determinar
toda escolha é pressuposta pela escolha, quer o móvel Ao homem, ou seja, a normas que ele
esta se conforme ou não a ela. Essa também é de fato obedece; portanto, define-se como bem
a crença de Nietzsche. Só que, para Nietzsche, aquilo a que se tende em virtude desse móvel,
essa hierarquia é diferente: é a hierarquia ou aquilo que se conforma à norma em que ele
dos valores vitais, dos valores em que se en- se exprime. Assim, quando Pródico formulava
carna a Vontade de Poder: "Até hoje os valo- sua moral em proposições condicionais ou im-
res morais ocuparam posição superior; quem perativos hipotéticos, estava criando uma das
poderia duvidar deles? Mas retiremos esses primeiras É. do móvel. Dizia: "Se quiseres que
valores de sua posição e mudaremos todos os os deuses te sejam benévolos, deves venerar os
valores: inverteremos o princípio da sua hie- deuses. Se quiseres ser amado pelos amigos,
rarquia precedente" (Wille zur Macht; trad. fr. deves beneficiar os amigos. Se desejares ser
Bianquis, III, 503). O imoralismo de Nietzsche, honrado por uma cidade deves ser útil à ci-
seu "relativismo axiológico", que o leva a criti- dade. Se aspiras a ser admirado por toda a
car a moral corrente e ver nela formas camufla- Grécia, deves esforçar-te por fazer bem à Gré-
das de egoísmo e hipocrisia, é simplesmente a cia", etc. (XENOF., Memor.. II, i, 28). Do mesmo
proposta de uma nova tábua de valores, funda- modo, Protágoras aspira a uma E. do móvel
da no princípio de aceitação entusiástica da quando reconhece que o respeito mútuo e a
vida, na preeminência do espírito dionisíaco. É justiça são as condições para a sobrevivência
por esse motivo que Nietzsche pretende substi- do homem. Esse é o sentido do mito de Prome-
tuir as virtudes da moral tradicional pelas novas teu, que Protágoras expõe no diálogo homôni-
virtudes em que se exprime a vontade de po- mo de Platão (Prot., 322 c). E a obra conhecida
tência. É virtude toda paixão que diz sim à vida com o nome de Anônimo de Jâmblico reafir-
e ao mundo: "a altivez, a alegria e a saúde; o ma esse ponto de vista. "Mesmo que houvesse
amor sexual, a inimizade e a guerra; a vene- (mas não há) um homem invulnerável, insensí-
ração, as belas aptidões, as boas maneiras, a vel, com corpo e alma de aço, só aliando-se às
vontade forte, a disciplina da intelectualidade leis e ao direito, fortalecendo-os e utilizando
superior, a vontade de potência, o reconhe- sua força por eles e em favor deles, poderia
cimento para com a terra e para com a vida: salvar-se, pois de outro modo não poderia resis-
tudo o que é rico e quer dar, quer recompensar tir" (Anôn.Jâmbi, 6, 3). Nessas formulações, o
a vida, dourá-la, eternizá-la e divinizá-la" (Ibid., que se costuma evidenciar é o mecanismo dos
5 479). Assim, daquilo que considerou a na- móveis que fundam as normas do direito e da
tureza do homem, a vontade de potência, moral: para sobreviver, o homem conforma-se
Nietzsche deduziu a tábua de valores morais a tais regras e não pode agir de outro modo.
que deveriam dirigir o homem para a realiza- Em tais formulações, o móvel da conduta hu-
ção da vontade de potência num mundo de mana é o desejo ou a vontade de sobreviver.
super-homens. A estrutura de sua doutrina não Em outras formulações do mesmo gênero, esse
é, portanto, diferente da estrutura de muitas móvel é o prazer. Aristipo afirmava que só o
outras que, utilizando o mesmo processo, ten- prazer é desejado por si mesmo, e via a confir-
dem a conservar e justificar as tábuas de valo- mação disso no fato de que, desde a infância,
res tradicionais, deduzindo-as da natureza do os homens procuram o prazer sem vontade de-
homem ou da estrutura do ser. liberada e, quando o alcançam, não procuram
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outra coisa, ao passo que evitam a dor, que é outros, já que estão convencidos de que, se as
o seu oposto (DIÓG. L, II, 88). O princípio da observarem, auferirão vantagens para si mes-
É. de Epicuro tem o mesmo significado de reco- mos" (Ensaio, I, 2, 6). E Leibniz, por sua vez,
nhecimento daquilo que, de fato, é o móvel da reconhecia como fundamento da moral o prin-
conduta humana: "Prazer e dor são as duas cípio de "adotar a alegria e evitar a tristeza",
afeições que se encontram em todo animal, considerando-o, porém, mais relacionado com
uma favorável e outra contrária, através das o instinto do que com a razão (Nouv. ess., I, 2,
quais se julga o que se deve escolher e o que 1). Como se vê, a É. dos sécs. XVII e XVIII tem
se deve evitar" (DIÓG. L, X, 34). alto grau de uniformidade: não só ela é uma
Essa concepção de É. esteve ausente duran- doutrina do móvel como também a oscilação
te toda a Idade Média e só é retomada no que apresenta entre "tendência à conservação"
Renascimento. Lorenzo Valia foi o primeiro a e "tendência ao prazer" como base da moral
reapresentá-la em De voluptate, afirmando que não implica uma diferença radical, já que o
o prazer é o único fim da atividade humana e próprio prazer não passa de indicador emocio-
que a virtude consiste em escolher o prazer nal das situações favoráveis à conservação (v.
(De vol, II, 40). Telésio reapresenta a outra EMOÇÃO). Semelhante É. opõe-se radicalmente
alternativa tradicional da mesma concepção à É. do fim, ou seja, à É. em sua formulação
(De rer. nat, IX, 2), extraindo as normas da tradicional que se encontra em Platão, em Aris-
É. do desejo de conservação que existe em tóteles e na Escolástica. A característica funda-
cada ser. Com rigor e sistemaüzação, Hobbes mental da filosofia moral inglesa do séc. XVTII,
via nesse mesmo princípio o fundamento da que tem importância particular na história da
moral e do direito: "O principal dos bens é a E., consiste em evidenciar e assumir como
autoconservação. Com efeito, a natureza pro- tema principal de discussão precisamente a
veu a que todos desejem o próprio bem, mas oposição entre a É. do móvel e a É. do fim, que
para que possam ser capazes disso é necessá- pareceu idêntica à oposição existente entre ra-
rio que desejem a vida, a saúde e a maior segu- zão e sentimento. Hume diz: "Há uma contro-
rança possível dessas coisas para o futuro. De vérsia surgida recentemente, que é muito mais
todos os males, porém, o primeiro é a mor- digna de exame e que gira em torno dos funda-
te, especialmente se acompanhada de sofri- mentos gerais da moral: se eles derivam da
mento; mas, como os males da vida podem razão ou do sentimento, se chegamos ao conhe-
ser tantos, se não for previsto seu fim próximo, cimento deles por meio de uma seqüência de
levarão a incluir a morte entre os bens" {De argumentos e de induções ou por meio de um
bom., XI, 6). Nessa tendência à autoconserva- sentimento imediato e de um sutil sentido in-
ção e, em geral, à consecução de tudo o que é terno" (Inq. Cone. Morais, I). Hume afirma que
útil, Spinoza viu a ação necessitante da Subs- o primeiro a aperceber-se dessa distinção foi
tância divina: "A razão nada exige contra a na- Lord Shaftesbury; na verdade, Shaftesbury fa-
tureza, mas exige por si mesma, acima de tudo, lou de um sentido moral, que é uma espécie
que cada um ame a si mesmo, que procure de instinto natural ou divino, especificação no
aquilo que seja realmente útil para si, que de- homem do princípio de harmonia que regula
seje tudo o que conduz o homem à perfeição o universo (Características de homens, manei-
maior e, de modo absoluto, que cada um se ras, opiniões e tempos, 1711). Já Hutchinson
esforce, no que estiver a seu alcance, para con- interpretava o sentido moral como tendência a
servar o próprio ser. O que é necessariamente realizar "a maior felicidade possível do maior
tão verdadeiro quanto é verdadeiro que o todo número possível de homens" (Indagação sobre
é maior que a parte" (Et., IV, 18, scol.). Locke as idéias de beleza e de virtude, 1725, III, 8),
e Leibniz concordavam quanto ao fundamento fórmula que será adotada por Beccaria e por
da ética. Locke dizia: "Uma vez que Deus esta- Bentham. Foi Hume quem encontrou a pala-
beleceu um laço entre a virtude e a felicidade vra que exprimia essa nova tendência: o funda-
pública, tomando a prática da virtude necessá- mento da moral é a utilidade. Em outros ter-
ria à conservação da sociedade humana e visi- mos, é boa a ação que proporciona "felicidade
velmente vantajosa para todos os que precisam e satisfação" à sociedade, e a utilidade agrada
tratar com as pessoas de bem, não é de sur- porque corresponde a uma necessidade ou
preender que todos não só queiram aprovar tendência natural: a que inclina o homem a
essas normas, mas também recomendá-las aos promover a felicidade dos seus semelhantes
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(lnq. Cone. Morais, V, 2). Portanto, razão e sen- qual Kant recorre, é a exigência de agir segun-
timento constituem igualmente a moral; segun- do princípios que os outros podem adotar.
do Hume, "a razão nos instrui sobre as diver- Conquanto essa fórmula possa parecer mais
sas direções da ação, a humanidade nos faz rigorosa e mais abstrata que as empregadas
estabelecer a distinção em favor daquelas que pelos filósofos ingleses, seu significado é o mes-
são úteis e benéficas" (Ibid., Ap. I). Para Hume, mo. O que ambas pretendem sugerir como
o sentimento de humanidade, ou seja, a tendên- princípio ou móvel da conduta é o reconheci-
cia a ter prazer pela felicidade do próximo, é o mento da existência de outros homens (ou,
fundamento da moral, o móvel fundamental da como queria Kant, de outros seres racionais")
conduta humana. Alguns anos mais tarde, e a exigência de comportar-se em face deles
Adam Smith chamará de simpatia esse senti- com base nesse reconhecimento. O imperativo
mento do espectador imparcial que olha e julga kantiano de tratar a humanidade, tanto na pri-
a sua conduta e a dos outros (lhe Theory of meira pessoa quanto na pessoa do próximo,
Moral Sentiments, 1759, III, 1). sempre como fim e nunca como meio, não
Pelo fato de a concepção moral de Kant passa de outra expressão dessa mesma exigên-
corresponder às características fundamentais da cia, que os moralistas ingleses chamavam de
doutrina do móvel, está claro que deve ser "sentido moral" ou "sentido de humanidade".
inserida nessa tradição. Em primeiro lugar, Infelizmente, a evolução sofrida pela filosofia
Kant julga que "o conceito do bem e do mal moral de Kant a partir de Fichte teve como
não deve ser determinado antes da lei moral ponto de partida mais freqüente o seu arsenal
(cujo fundamento aparentemente deveria ser), dogmático e absolutista do que suas coloca-
mas depois dela e através dela" (Crít. R. Práti- ções fundamentais e a substância de seus en-
ca, I, 1, 3). Isto quer dizer que Kant compartilha sinamentos morais. Tanto esses ensinamentos
a concepção (2) do bem, que corresponde à É. quanto a postura de que dependem estão de
do móvel. Em segundo lugar, é justamente com acordo com a É. setecentista, com a diretriz
base nos móveis (Bestimmungsgründê) que moral do iluminismo, mas com esta não se coa-
Kant classifica as diferentes concepções funda- duna a contraposição estabelecida por Kant en-
mentais do princípio da moralidade (Ibid., I, 1, tre o mundo moral e o mundo natural e, por-
§ 8, nota 2). Em terceiro lugar, Kant considera a tanto, entre a É. e a ciência da natureza. Essa
lei moral como um fato (Factum), porque "não oposição ingressa na doutrina de Kant a partir
pode ser deduzida de dados precedentes da ra- do arsenal absolutista de sua É., ou seja, a par-
zão, como p. ex. da consciência da liberdade", tir do aspecto que a transformou em menina
mas se impõe por si mesma como um sic volo, dos olhos dos metafísicos moralistas do séc.
sic iubeo (Ibid., § 7). Desse modo, Kant transferiu XIX, em pretexto para inumeráveis (e ino-
o móvel da conduta do "sentimento" para a perantes) perquirições a respeito do caráter
"razão", utilizando o outro lado do dilema pro- absoluto do dever, bem como do acesso que
posto pelos moralistas ingleses. Com isso, quis ele permitiria a uma Realidade superior e in-
garantir a categoricidade da norma moral, ou condicionada (a do "númeno"), sem nenhuma
seja, o caráter absoluto de comando graças ao relação com a realidade fenomênica e condi-
qual ela se distingue dos imperativos hipotéti- cionada da natureza. Ainda hoje, muitas vezes
cos de técnicas e prudência. Em vista dessa exi- amigos e adversários da É. de Kant vêem nela
gência, a É. kantiana sem dúvida compartilha exclusivamente esse aspecto; os primeiros para
com a concepção (1) da É. a preocupação bási- exaltá-la como ancoradouro seguro de todas as
ca de ancorar a norma de conduta na substân- certezas referentes à vida moral, os últimos
cia racional do homem. Mas, deixando de lado para condená-la como baluarte das ilusões me-
essa preocupação absolutista (que deve ser tafísicas no campo moral. Mas uma considera-
explicada pelo "rigorismo" kantiano), a É. de ção dessa É. que se subtraia a tais alternativas
Kant tem grande afinidade com a É. dos mora- e a veja no quadro da É. setecentista, cuja pos-
listas ingleses do séc. XVIII (pelos quais, aliás, tura compartilhou, ao mesmo tempo em que
nas obras iniciais Kant não escondeu sua sim- pretendeu fundamentá-la com necessidade ri-
patia), não só na formulação fundamental gorosa, talvez permita apreciá-la mais adequa-
como também nos resultados. Se o sentimento, damente. Pode, efetivamente, abrir caminho
ao qual recorriam os moralistas ingleses, era a para a utilização das análises kantianas com
tendência à felicidade do próximo, a razão, à vistas à formulação da É. como técnica da con-
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duta, independente de pressupostos metafí- inferiores a que somos impelidos pelo desejo;
sicos. nessa fase, portanto, a antítese entre egoísmo
Nesse ínterim, em clima positivista, a É. do e altruísmo não terá mais sentido {Data ofEthics,
móvel tinha a pretensão de valer como ciência § 46). Pode-se dizer que a É. do evolucionismo
exata da conduta. Helvétius dizia: "Acredito não passa da expressão, em termos de otimis-
que se deve tratar a moral como todas as outras mo positivista, da É. fundada no princípio da
ciências e fazer uma moral como se faz uma fí- autoconservação que Telésio e Hobbes reintro-
sica experimental" {De Vesprit, 1758, 1, p. 4). duziram no mundo moderno.
Mas essa pretensão caracteriza sobretudo o Na filosofia contemporânea, essa concep-
utilitarismo do séc. XIX, encabeçado por Ben- ção de É. não sofreu mudanças nem apresentou
tham. Segundo ele, os únicos fatos de que se progressos substanciais. Bertrand Russell limi-
pode partir no domínio moral são os prazeres e tou-se a repropô-la na forma mais simples e
as dores. A conduta do homem é determinada grosseira, afirmando que "a É. não contém afir-
pela expectativa de prazer ou de dor, e esse é o mações verdadeiras ou falsas, mas consiste em
único motivo possível de ação. Com estes fun- desejos de certa espécie geral" (Religion and
damentos a ciência da moral torna-se tão exata Science, 1936). Dizer que alguma coisa é um
quanto a matemática, embora seja muito mais bem ou um valor positivo é outro modo de di-
intricada e ampla (Jntroduction to the Princi- zer "agrada-me" e dizer que algo é mau signifi-
pies of Morais and Legíslation, 1789, em Works, ca exprimir igualmente uma atitude pessoal e
I, p. V). Desse ponto de vista, consciência, sen- subjetiva. Contudo, Russell acha que é possí-
tido moral, obrigação moral, são conceitos fictí- vel influir nos próprios desejos, reforçando
cios ou "não-entidades". A realidade que tais alguns e reprimindo ou destruindo outros. E
conceitos ocultam é o calculo dos prazeres e julga também que isso deve ser feito por
das dores em que repousa o comportamento quem almejar a felicidade ou o equilíbrio da
moral do homem, cálculo cujos princípios vida. Mas está claro que essa posição é contra-
Bentham quis estabelecer fornecendo a tábua ditória: se a É. nada tem a ver com desejos, fal-
completa dos móveis de ação, que deveria ser- tam motivos ou critérios para que um deles
vir de guia para as legislações futuras. Na reali- prevaleça sobre os outros. Na E. de Russell,
dade, a obra de Bentham inspirou a ação perdeu-se um dos aspectos fundamentais da
reformadora do liberalismo inglês e ainda hoje É. inglesa tradicional: a exigência do cálculo
seus princípios estão incorporados na doutrina de tipo benthamiano, ou seja, da disciplina na
do liberalismo político. O utilitarismo de James escolha dos desejos, ou melhor, das alternati-
Mill e de John Stuart Mill não passa de defesa vas possíveis de conduta. No entanto, foi justa-
e ilustração das teses fundamentais de Bentham. mente a esse ponto de vista tão mutilado que
O positivismo inspirou-se no mesmo ponto de se filiou a concepção de É. predominante no
vista: a realização da moral do altruísmo, cujo positivismo lógico, segundo a qual os juízos
arauto é Comte e cujo princípio é: "viver para éticos expressam tão-somente "os sentimentos
os outros", também fica por conta de instintos de quem fala, sendo portanto impossível en-
simpáticos que, segundo Comte, podem ser contrar um critério para determinar a sua va-
gradualmente desenvolvidos pela educação, lidade" (AYER, Language, Truth and Logic, p.
até que dominem os instintos egoístas (Caté- 108; cf. STEVENSON, Ethics and Language, p.
chismepositíviste, 1852, p. 48). A É. biológica 20). O que, obviamente, é o ponto de vista de
de Spencer adota essas teses. Spencer vê na Russell, para quem a É. trata de desejos e não
moral a adaptação progressiva do homem às de asserções verdadeiras ou falsas; é um ponto
suas condições de vida. O que o indivíduo en- de vista que marca a renúncia à compreensão
xerga como dever ou obrigação moral é resul- dos fenômenos morais, e não um avanço em
tado de experiências repetidas e acumuladas sua compreensão. Mostra-se mais frutífero o
através de inúmeras gerações: é o ensinamento ponto de vista de Dewey, cuja É. se vincula à
que essas experiências propiciaram ao homem noção de valor. Dewey tem em comum com
em sua tentativa de adaptar-se cada vez mais às boa parte da filosofia do valor(y.) a crença de
suas condições vitais. Spencer prevê ainda uma que os valores são não só objetivos, mas tam-
fase em que as ações mais elevadas, necessá- bém simples e, portanto, indefiníveis, mas não
rias ao desenvolvimento harmônico da vida, a crença de que eles são absolutos ou necessá-
serão tão comuns quanto hoje o são as ações rios. Para Dewey, os valores são qualidades
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imediatas sobre as quais, portanto, nada há a coexistência, mas se refletirmos que toda es-
dizer; só em virtude de um procedimento críti- pécie ou forma de conduta é uma forma ou
co e reflexivo é que podem ser preferidos ou espécie de coexistência, ou vice-versa, logo ve-
preteridos (Theory ofValuation, 1939, p 13). remos que a distinção dos dois campos é ape-
Mas eles são fugazes e precários, negativos e nas circunstancial, com vistas a delimitar pro-
positivos, além de infinitamente diferentes em blemas particulares, grupos de problemas ou
suas qualidades. Daí a importância da filosofia, campos específicos de consideração e estudo.
que, como "crítica das críticas", em primeiro lu- ÉTICAS, VIRTUDES (gr. ii0iKai; àperaí; lat.
gar tem o objetivo de interpretar acontecimen- Virtutes morales; in. Ethical Virtues; fr. Vertus
tos para deles fazer instrumentos e meios da morales; ai. Ethísche Tugenden-, ít. Virtú eti-
realização dos valores, e em segundo lugar, o cbé). Segundo Aristóteles, são as virtudes que
de renovar o significado dos valores (Experien- correspondem à parte apetitiva da alma, na
ce andNature, pp. 394 ss.). Essa tarefa da filo- medida em que esta é moderada ou guiada
sofia é condicionada pela renúncia à crença pela razão (Et. nic., I, 13, 1102 b 16), e que
na realidade necessária e no valor absoluto. consistem no justo meio (v. MEIO) entre dois
"Abandonar a busca da realidade e do valor extremos, dos quais um é vicioso por exces-
absoluto e imutável pode parecer um sacrifício. so, o outro por deficiência (Ibid., II, 6, 1107 a
Mas essa renúncia é a condição para o empe- 1). As virtudes É. são: coragem, temperança, li-
nho numa vocação mais vital. Na busca dos valo- beralidade, magnanimidade, mansidão, fran-
res que podem ser garantidos e compartilhados queza e justiça; esta última é a maior de todas
por todos, porque vinculados aos fundamentos (Ibid., III-V); cf. os verbetes respectivos.
da vida social, a filosofia não encontrará rivais, ETICIDADE (ai. Sittlichkeit). Hegel fez uma
mas coadjutores, nos homens de boa vontade" distinção entre moralidade, que é a vontade
(The Questfor Certainty, p. 295). Essas conside- subjetiva, individual ou pessoal, do bem, e a E.,
rações de Dewey certamente circunscrevem o que é a realização do bem em realidades histó-
quadro em que a investigação ética contempo- ricas ou institucionais, que são a família, a so-
rânea deve mover-se, mas não lhe oferecem ciedade civil e o Estado. "A E.", diz Hegel, "é o
instrumentos eficazes. Ainda falta na É. con- conceito de liberdade, que se tornou mundo
temporânea uma teoria geral da moral que existente e natureza da autoconsciência" (EU.
corresponda à teoria geral do direito (v.), ou do dir., § 142). As instituições éticas têm uma
seja, uma teoria que considere a moral como realidade superior à da natureza, porque cons-
técnica de conduta e se dedique a considerar tituem uma realidade "necessária e interna"
as características dessa técnica e as modalida- (Ibid., § 146). A mais elevada manifestação da
des com que ela se realiza em grupos sociais E., o Estado, é Deus, que ingressou no mundo,
diferentes. Obviamente, uma teoria geral da um "Deus real" (Ibid., § 258, Zusatz). Essa dis-
moral não partiria de compromisso prévio com tinção entre moralidade e E. só foi repetida
determinada tábua de valores; seu compromisso entre os seguidores da escola hegeliana.
seria simplesmente com a consideração da
constituição das tábuas dos valores que se ofe- ÊTICO-RELIGIOSAS, ANTINOMIAS (ai.
recem ao estudo histórico e sociológico da vida Etisch-religiose Antinomien). Antíteses em
moral, com a descoberta, se possível, das con- que se expressa o conflito entre o ponto de
dições formais ou gerais de tal constituição. vista ético e o ponto de vista religioso. Foram
Mas poderia (e deveria) utilizar amplamente a enunciadas por Nicolai Hartmann do seguinte
É. do séc. XVIII e, em geral, a É. da motivação, modo: ls a ética está radicada nesta existência,
apresentando-se como a continuação dessa enquanto a religião tende a uma existência ra-
concepção. dicada além desta; 2S a ética está voltada para o
homem, a religião para Deus; 39 a ética afirma a
A propósito das relações entre moral e direi- autonomia dos valores, a religião os subordina
to, cabe aqui reafirmar o que se disse a pro- à vontade de Deus; 4a a ética funda-se na liber-
pósito do direito, ou seja, que tais relações po- dade humana, a religião transfere toda ini-
dem configurar-se de varias maneiras, mas ciativa a Deus (Ethik, 1926, 3a ed., 1949, pp.
nunca se especificam como relações de hetero- 811-17).
geneidade ou independência recíprocas. A É. ETTOLOGIA (in. Etiology, fr. Étiologies; ai.
como técnica de conduta à primeira vista pare- Aetiologie, it. Etiologid). Pesquisa ou deter-
ce mais ampla que o direito como técnica de minação das causas de um fenômeno. Esse

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