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O Corpo em uma Perspectiva


Fenomenológico-Existencial:
Aproximações entre Heidegger e
Merleau-Ponty1
The Body In An Existential-Phenomenological Perspective:
Approximations Between Merleau-Ponty And Heidegger

El Cuerpo En Una Perspectiva Fenomenológico-Existencial:


Acercamientos Entre Heidegger Y Merleau-Ponty

Rafael Auler de
Almeida Prado,
Marcus Tulio Caldas
& Edilene Freire de
Queiroz

Universidade Católica
de Pernambuco
Artigo

PSICOLOGIA: CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2012, 32 (4), 776-791


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PSICOLOGIA:
CIÊNCIA E PROFISSÃO, Rafael Auler de Almeida Prado, Marcus Tulio Caldas & Edilene Freire de Queiroz
2012, 32 (4), 776-791

Resumo: Nosso objetivo é pensar sobre o corpo em uma perspectiva fenomenológico-existencial, tomando
Heidegger e Merleau-Ponty como referência. Nas concepções tradicionais, tem-se compreendido o corpo
como mecanismo biológico, contraposto a uma instância suprassensível (razão, psique ou alma), como fonte
de prazer erótico e impessoal e, mais contemporaneamente, como cartão de visita submetido aos ditames
da moda, da saúde e da boa forma. Seriam essas concepções absolutas ou expressão de determinado modo
de ser da sociedade contemporânea? Que implicações têm tais concepções? Haveria algo impensado? A
princípio – consideramos –, há muito que se pensar sobre o corpo sob diversos ângulos temáticos e teóricos,
e tanto tais concepções tradicionais quanto as atuais são expressões de um modo de pensar de determinada
época. Fazendo uma reflexão respaldada no pensamento heideggeriano, procuramos mostrar um dos
caminhos possíveis de se repensar o corpo, procedendo a algumas aproximações com o pensamento de
Merleau-Ponty. Veremos como a concepção atual de corpo se vincula a determinada concepção de homem
e de ser e que temos uma espécie de intimidade original com o mundo que o olhar sobre o corpo aponta.
Tal intimidade deve ser recuperada para cultivarmos um modo mais humano e mais próximo com os outros.
Palavras-chave: Corpo. Contemporaneidade. Fenomenologia existencial. Ser.

Abstract: This essay presents an existential-phenomenological perspective of the body, having Heidegger
and Merleau-Ponty as reference authors. In the traditional conceptions, the body has been understood
as a biological mechanism in opposition to a supersensible instance (ration, mind or soul), as source of
erotic and impersonal pleasure, and most recently, as a ‘visit card’, submitted to fashion, health and good
shape tendencies. Would those conceptions be absolute or expression of a certain way of life of the
contemporaneous society? Which implications do those conceptions have? Would there be something still
unthought? In the first place – we think – there is a lot to consider about the body under theoretical and
thematic obliquities. Reflecting on this based on the heideggerian view, this essay intents to show one of
the possible ways to rethink the body, according to some approximations to Merleau-Ponty’s view. We will
see how the present body conception is linked to a certain conception of man and being and that we have
a kind of “original intimacy” with the world that the body conception defended in this essay points out.
We should recover this intimacy in order to raise a more human, close and intimate way of being in the
world and with other people.
Keywords: Body. Contemporary time. Existential phenomenology. Being.

Resumen: Nuestro objetivo es pensar sobre el cuerpo desde una perspectiva fenomenológico-existencial,
tomando Heidegger y Merleau-Ponty como referencia. En las concepciones tradicionales, se ha comprendido
el cuerpo como mecanismo biológico, contrapuesta a una instancia suprasensible (razón, psiquis o alma),
como fuente de placer erótico e impersonal y, más contemporáneamente, como tarjeta de visita sometido
a los dictámenes de la moda, de la salud y de la buena forma. ¿Serían ésas concepciones absolutas o una
expresión de determinado modo de ser de la sociedad contemporánea? ¿Qué implicaciones conllevan
dichas concepciones? ¿Habría algo impensado? A principio – consideramos –, hay mucho qué pensar sobre
el cuerpo desde diversos ángulos temáticos y teóricos, y tanto dichas concepciones tradicionales como las
actuales son expresiones de un modo de pensar de determinada época. Haciendo una reflexión respaldada
en el pensamiento heideggeriano, buscamos mostrar uno de los caminos posibles de repensarse el cuerpo,
procediendo a algunos acercamientos con el pensamiento de Merleau-Ponty. Veremos cómo la concepción
actual de cuerpo se vincula a determinada concepción de hombre y de ser y que tenemos una especie de
intimidad original con el mundo que la mirada sobre el cuerpo señala. Dicha intimidad debe ser recuperada
para que cultivemos una forma más humana y más cercana con los demás.
Palabras clave: Cuerpo. Contemporaneidad. Fenomenología existencial. Ser.

Em meio ao esforço atual para se repensar perspectiva fenomenológico-existencial.


1 Agradecemos ao
o corpo – tradicionalmente concebido Heidegger (2001) aponta a carência de
Fundo de Amparo à com base na perspectiva dicotômica que reflexão mais aprofundada sobre o tema
Ciência e Tecnologia do
tanto o trata como uma coisa extensa a a partir da sua ontologia fundamental,
Estado de Pernambuco
(FACEPE) pela partir da concepção cartesiana quanto que aborda os fundamentos do ser e da
concessão de bolsa de o exalta nas suas virtudes de vontade existência humana. Aqui propomos uma
doutorado que permitiu
a realização do presente de poder a partir de Nietzsche –, neste reflexão que expõe alguns aspectos da
artigo. ensaio, pretendemos considerá-lo em uma corporeidade veiculados por Merleau-Ponty

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(1999), articulando o corpo com a relação O corpo em uma perspectiva


entre ser e tempo e com a relação entre ser
dicotômica
e ente – ambas presentes na perspectiva
fenomenológico-existencial. A perspectiva que domina o pensamento
ocidental desde Platão se caracteriza pela
A importância de refletir a respeito do busca da permanência das coisas, por isso
corpo na atualidade reside no fato de privilegia, quase exclusivamente, o traço
que o modo como ele foi concebido teórico e abstrato do pensamento como
tradicionalmente já não é suficiente para fonte de verdade. O corpo, concebido como
expressar as vivências atuais do homem pura matéria, é apenas mera aparência
com sua corporeidade. Procuramos, então, e transitório, portanto, desprezível. Ele
mostrar como essa insuficiência no modo de se contrapõe à razão – nossa dimensão
vermos o corpo se vincula à crise – apontada valorizada pela filosofia ocidental pós-
por Heidegger (2006) – pela qual a sociedade platônica. Mesmo na Idade Média, quando
contemporânea passa por viver de acordo o modo de pensar do homem ocidental se
com um modo técnico, cientificizado e, confundia com os dogmas religiosos cristãos,
acrescentaríamos, capitalista. Esse modo de dominava a concepção dualística: um criador,
pensar e de ser predominantemente técnico, Deus, e as criaturas, as coisas e nós mesmos.
segundo o pensamento heideggeriano, teria O corpo, em tal contexto, estava em oposição
levado o homem a perder de vista o ser aí no à alma e continuava sendo visto como algo
Critelli (1996),
mundo. Embora reconheça que, no fundo, passageiro, transitório, ao qual não devíamos
retomando a
trajetória do o Ocidente nunca deixou de questionar ter apego. O pensamento devia voltar-se para
pensamento as coisas perenes, e não para a finitude e a
ocidental, sobre o ser, o filósofo considera que o tenha
limitação do corpo.
identifica que feito de modo a atribuir ao ser uma ideia
o pressuposto conceitual, permanente, imutável e universal.
de que existe Critelli (1996), retomando a trajetória do
coincidência O filósofo propõe, então, uma ontologia
pensamento ocidental, identifica que o
entre ser e fundamental, ou seja, uma ontologia que
substância pressuposto de que existe coincidência entre
busca os fundamentos, as condições pelas
e verdade e ser e substância e verdade e representação
representação quais o ser acontece: como impermanente,
remonta a Platão e a Aristóteles. De acordo
remonta a Platão mutável, existente a partir de um sentido
e a Aristóteles. com Platão (1999), havia um mundo
constituído na existência, e não na sua ideal e não aparente de que só o espírito
constância. poderia recordar-se (processo chamado de
reminiscência), pois já teria estado lá antes
O artigo está dividido em quatro seções. de vir ao mundo sensível (transmutação). O
Na primeira, expomos a trajetória histórica ser, para Platão, é imaterial e não sensível;
de nossas concepções de corpo com base o ente, material e sensível (o próprio corpo
na tradição; na segunda, mostramos a é também um ente sensível). Já conforme
relação existente entre ser e tempo no Aristóteles (1969), o inaparente do ser,
pensamento heideggeriano e como o corpo seu conceito, não está em um mundo à
se vincula a essa relação; na terceira seção, parte do mundo aparente, sensível, mas no
apresentamos alguns aspectos do corpo mundo sensível mesmo, e o acesso a este
segundo o pensamento fenomenológico de pode ser realizado pelo intelecto. Aristóteles
Merleau-Ponty, e, na quarta, articulamos consolidou, assim, o primeiro método lógico
as concepções de Merleau-Ponty e de de fazer conhecimento, ou seja, as ideias
Heidegger sobre o corpo. seriam produzidas pelo pensamento ao

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seguirem seus procedimentos lógicos. A partir entre ser e aparência. Tal dicotomia não é
daí, consolidou-se a ideia de coisa em si e de mera constatação teórica; ela mostra a nossa
consciência em si, duas instâncias que existem relação fragmentada com o mundo, da qual
e se sustentam separadamente. nossa intimidade com o mundo e a nossa
espontaneidade de ser se perderam. Assim,
Descartes (2008), por sua vez, reafirmou a não vivemos uma relação de autenticidade
separação de coisa em si e de consciência que nos mostra como somos; na verdade,
em si na noção de sujeito e objeto. Sobre temos uma aparência – evidente na nossa
tal noção se apoiaram as ciências naturais. presença corporal, por isso tão explorada –,
Observação, mensuração, classificação e mas somos outra coisa. A incoerência entre
verificabilidade tornaram-se os procedimentos o que sou e o que mostro que sou denuncia
de investigação que permitiram a certificação o laço de desunião íntima com o mundo.
de algo segundo o modelo metodológico Essa incoerência pode ser vivida de diversas
técnico proposto por esse autor. formas, por exemplo, dissimulando com a
intenção de enganar e obter vantagem sobre
Nesse modelo, só se tem certeza de algo se o outro, de modo individualizante, ou ao
esse algo tiver patência e tangibilidade. O sofrer por nos sentirmos não pertencentes e
corpo consolidou-se como mero acessório, e estranhos ao mundo.
é considerado coisa, extensão, em oposição a
subjetividade, a racionalidade, a possibilidade Ademais, embora nos tempos atuais o corpo
de pensar (res extensa, objeto, e res cogitans, seja concebido como o nosso cartão de visitas
sujeito, segundo Descartes). e tratado de forma a evitarmos a ação do
tempo da impermanência e da finitude por
Não apenas a anatomia, a fisiologia e a meio de cirurgias estéticas e de outras formas
Medicina se desenvolveram nesse contexto de cuidado com a aparência, nossa vivência
do pensamento ocidental, mas também corporal se dá nas dimensões temporal,
a Revolução Industrial e o capitalismo só impermanente e finita.
foram possíveis a partir da mensurabilidade
e do domínio que norteiam o pensamento De qualquer maneira, não podemos
técnico. Com estes, surgiram o homem- negligenciar nosso corpo, ou sua vingança
consumidor e a mercadoria consumida. será nos tornar anoréxicos, bulímicos,
Entre um e outro “(...) se instaura, de modo obesos, denunciando desesperadamente
feroz, um vínculo de desgaste, de corrosão, um lugar que não quer para si. Assustados,
de esgotamento, de aniquilamento, de respondemos com uma supervalorização.
destruição – significados esses presentes no Entretanto, parece que o corpo quer nos dizer
vocábulo latino consumere” (Michelazzo, que as dicotomias nas quais temos vivido,
2003, p.111). O homem perdeu, assim, o além de torturantes, não respondem ao seu
sentido, a proximidade e a intimidade com lugar. Mas qual seria o lugar do corpo? O
as coisas, com os lugares e com as pessoas. que mostram essas dicotomias? O que elas
O corpo-objeto e o corpo-mercadoria escondem? Poderíamos descobrir algo que
assumiram valorizações mórbidas. nos apontasse outro modo de ser menos
cindido retomando a construção histórica
Atualmente, nossa sociedade capitalista dessas dicotomias?
promove uma relação com o corpo na qual o
utilizamos como coisa para mostrar ao mundo Dentro de tal realidade é que situaremos a
quem gostaríamos de ser. Essa relação indica corporeidade na seção seguinte.
uma dicotomia entre nós e nosso corpo,

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Situando o corpo nas noções O ser concebido como presença constante diz
respeito apenas a uma de suas dimensões: a
de ser e de tempo propostas
do verbo ser, no presente, é, algo subsistente,
por Heidegger simplesmente dado, observável, calculável
e passível de teorização. Essa dimensão do
A questão do corpo apresentada na
ser não é, de forma alguma, equivocada,
seção anterior vincula-se a um modo de
mas parcial e somente possível por meio de
compreender o ser humano. Para repensar
elaboração intelectual a partir do sentido
o corpo, optamos por refletir a respeito fundamental e originário do tempo. Por
da condição humana de existir à luz da esse motivo, Heidegger (2008) busca a
compreensão de ser e de tempo desenvolvida compreensão do tempo apoiando-se no
por Heidegger. sentido originário, que diz respeito à origem
do tempo – refere-se ao questionamento:
Conforme postula Heidegger (2001, 2006, – como é o tempo?, a partir do qual outras
2008), o pensamento ocidental se esqueceu concepções foram geradas, por exemplo, a
do sentido do ser, que é dinâmico, pois que se tornou a corrente, quase hegemônica,
sempre perguntou pelo ser baseando- como sucessão quantitativamente mensurável
se no imutável, constante e permanente de agoras (tempo do relógio e do calendário).
dentro da frequente mutabilidade do
mundo (movimento do tempo). A ontologia O tempo não é, para Heidegger (2008), um
(estudo do ser) proposta por Heidegger conceito concebido fora do homem. Embora
é fundamental, porque considera o ser a nunca cheguemos a saber o que é o tempo,
partir de seu fundamento, ou seja, existindo justamente por termos com ele relação
na sua impermanência e mutabilidade – tão estreita, Heidegger identifica profunda
consideradas fundamentos da existência. vinculação entre tempo e existência, daí o
título de uma de suas principais obras: Ser
No entendimento do mesmo autor, o tempo e Tempo. Sobre esses dois aspectos, afirma
é a dimensão existencial do que passa, do Michelazzo: “Um é condição do outro,
um não é sem o outro” (2003, p.115).
que se move, do que nunca permanece o
Perguntando não o que é o tempo (o que
mesmo, por isso os conceitos, que anulam
levaria a uma definição que é conceitual
a qualidade de impermanência do real, são
e estática), mas como é o tempo, a partir
atemporais. Heidegger (2001, 2008) critica
de nossa experiência, damo-nos conta de
a hegemonia que o pensamento metafísico
que o tempo passa. Se falamos de nossa
pode atingir, porque apenas se considera
experiência, então, quem passa: nós ou o
verdadeiro o permanente, o constante, e,
tempo? Ambos passam. Aí está a conexão
portanto, o que é passível de mensuração
entre ser e existência.
e cálculo. Inegavelmente, a perspectiva
técnico-científica é extremamente válida Nessa perspectiva, compreende-se a existência
e útil na produção de conhecimento e de como meu passar. Segundo Michelazzo
tecnologia; no entanto, se a sociedade (2003), Heidegger, buscando conexão mais
pensar e viver exclusivamente a partir dela, íntima entre existência e tempo, afirmou,
as pessoas correm o risco de restringirem ao final de uma conferência, em 1924, que
sua vivência, sua abertura afetiva e sua “tempo é existência”, e que “a existência
disponibilidade para o outro a um modo é o tempo”. Os dois seriam, na realidade,
previsível e controlado, próprio dessa um. “Esse passar da existência e do tempo,
perspectiva. entretanto, se dá de três modos: é um passar

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que aguarda (futuro), um passar que fica ao corpo confere a este a primeira dimensão
junto (presente) e é um passar que conserva temporal. Pelo fato de sabermos que teremos
(passado)” (Michelazzo, 2003, p.116). um fim, ocupamo-nos com as pessoas e com
as coisas. Se a vida fosse eterna, seria uma
Conforme Heidegger (2008), a essência vida de adiamento.
do ser-aí está na sua existência. Nessa
concepção, o filósofo reuniu duas instâncias Durante a vida, o corpo vai existindo,
que, desde Platão e Aristóteles, vinham passando com o tempo. Quando nascemos,
sendo consideradas separadamente pelo nossa mobilidade é extremamente limitada,
pensamento ocidental. A existência refere-se e nossa existência/corpo depende do cuidado
a como algo se mostra; já a essência (o que do outro em todos os sentidos. Quando
algo realmente é) está oculta, refere-se a um aprendemos a andar, ganhamos liberdade,
âmbito suprassensível ou racional, além e passamos a conquistar um mundo. Na
diferente do que se mostra, e somente pode adolescência, o corpo vive as metamorfoses
ser acessada pela razão (Aristóteles) ou pela da infância para a idade adulta. Vivenciamos
reminiscência (Platão). isso acompanhando a mudança no tom de
voz, o surgimento dos pelos pubianos, o
A coincidência entre essência e existência crescimento dos órgãos genitais e o aumento
aponta a coincidência entre o que é e o da estatura e da massa muscular, que nos
que se mostra. Se o que é é o que se mostra, possibilita realizar novas tarefas. Na idade
então não há como engessar a existência em adulta, somos um corpo que trabalha, que
um conceito, e ela passa a ser compreendida procura o sustento da família e as realizações
como possibilidades de ser. Heidegger (2001) pessoais. Na velhice, ele vai perdendo a
chama de ontológico o horizonte em que autonomia no mundo e volta a necessitar de
alguma coisa se pode mostrar. A algo que se cuidado – fase em que nos voltamos mais para
mostra em suas condições de possibilidade, nós mesmos e, aos poucos, nos desligamos do
Heidegger chama ôntico. Por isso, segundo mundo. Corporalmente, nossas possibilidades
o mesmo autor, tradicionalmente se no mundo vão restringindo-se.
considera a existência na sua perspectiva
ôntica (substancialista). De outra parte, ao O passado e o futuro presentificam-se no
compreendê-la na perspectiva ontológica, corpo. Quando determinado acontecimento
ele irá utilizar o termo alemão Dasein, que do passado me atormenta e sofro por ele,
significa ser-aí (Das, aí/ abertura, e sein, meu corpo se agita, esquenta, a visão turva,
ser). Da palavra existentia, do latim, deriva a cabeça dói, no presente. Se me preocupo
existência (em português, tem sentido demais com um compromisso futuro, meu
semelhante, significa sustentar para fora) corpo não dorme, a preocupação é vivida
(Michelazzo, 2003, p.117). Ex quer dizer corporalmente. O aspecto biológico do corpo
para fora de si mesmo, e sistere, sustentar. não tem autonomia para dormir sozinho
enquanto estou preocupado.
A relação entre corpo e existência pertence
à mesma ordem da relação entre existência Contribuições de Merleau-
e tempo: ambos estão profundamente
Ponty para a compreensão dos
envolvidos um com o outro, um não
acontece sem o outro. A existência acontece fenômenos corporais
pelo corpo, corporalmente. Há também
relação estreita entre corpo e tempo. Assim, Em francês, empregam-se dois termos
em princípio, a finitude imposta pela morte para carne: viande significa carne morta,

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como a carne de animal em um açougue; mas segundo nossa intencionalidade que


chair quer dizer carne viva em corpo vivo. nos situa no mundo. Isso acontece por meio
Merleau-Ponty (2007) considera que a chair de nossas possibilidades corporais, sem
é o meio em que homem e mundo estão intermédio da razão. Assim, não pensamos
entrelaçados. O homem-chair está sempre para realizar um gesto motor; simplesmente
entrelaçando o mundo. O homem não é agimos.
o centro do mundo. Ele constitui o mundo
como o mundo o constitui. O homem é um A espacialidade do meu corpo não é a
ser no mundo, em um processo de mútua mesma dos objetos exteriores. Ele se coloca
constituição com o mundo. A reflexão faz de determinado modo, visando a executar
ver, inclusive, que existe certa aproximação determinada tarefa. Por isso, a espacialidade
entre Merleau-Ponty e Heidegger, pois o do corpo é de situação, ou seja, diz respeito
filósofo alemão também postula que não a como me situo no mundo em relação aos
há separação entre homem e mundo e que outros objetos e às outras pessoas. Os objetos
ambos se constituem mutuamente. A chair e exteriores estão dispostos no espaço, de
seus movimentos de existência evidenciariam modo que cada um tem uma posição em
o entrelaçamento do homem com o mundo relação ao outro, ou uma espacialidade de
em sua cooriginalidade e coconstituição. posição. Eles se posicionam para alguém que
vê e/ou estabelece essa disposição. Assim,
Aqui nos limitaremos a mostrar como podemos dizer que um objeto está atrás ou
Merleau-Ponty compreende o corpo sob o ao lado de outro, por exemplo.
ponto de vista de três aspectos fundamentais:
o espaço e a motricidade, a sexualidade e Conforme a concepção cartesiana,
a linguagem. Pretendemos compreender poderíamos entender que precisamos do
alguns desdobramentos possíveis do corpo, espaço objetivo para conseguir orientação
tendo como ponto de partida uma reflexão espacial; no entanto, ocorre o contrário. Por
sobre o corpo apenas acenada na obra de exemplo, se digo que meu livro está sobre
Heidegger. a mesa, situo-me na mesa ou no livro em
pensamento e estabeleço com eles uma
Espacialidade e motricidade relação, ou seja, originalmente, o meu corpo
mantém relação com os objetos exteriores
Ao contrário do que nos ensinam as ciências que o circundam. Portanto, a própria
naturais, o espaço objetivo – um espaço orientação do espaço objetivo me faz dizer
neutro onde as coisas se relacionam umas ao lado de e em cima de. Isso não é abstração
com as outras de acordo com suas posições pura que me exclui como sujeito de uma
– não é o fundamento espacial ou o fundo de realidade objetiva neutra, mas, ao contrário,
espaço no qual vivemos nossa espacialidade. funda-se no meu modo de me situar como
Merleau-Ponty (1999) mostra o contrário: corpo em relação aos objetos ao meu redor
nossa vivência espacial como corpos situados e a como intenciono determinado objeto,
no mundo em relação às coisas e aos outros mesmo abstratamente. É meu corpo que,
é que nos permite a construção racional no mundo, no espaço orientado por ele no
posterior de um espaço objetivo, o qual, mundo, me dá a dimensão de em cima, em
conforme procuramos mostrar nesta seção, baixo, sobre ou sob.
é formado pelas referências de nosso corpo
situado no mundo. Da mesma forma, não Só há espaço porque há corpo. A espacialidade
nos movemos no mundo de acordo com do corpo, por sua vez, só se realiza na ação.
nossas representações objetivas de espaço, Eis aí a relação íntima entre espacialidade

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e motricidade. O espaço não está acessível Quando entramos em nossa casa, sabemos
em forma de representação em dimensão a disposição dos cômodos. Sabemos que
intelectível, separada do meu corpo. Por tal entrar pela sala significa igualmente caminhar
razão, o sujeito ao lado da varanda. Tal saber adquirido,
no entendimento de Merleau-Ponty, não
(...) posto diante de uma tesoura, sua agulha está alojado na consciência sob forma de
e suas tarefas familiares não precisa procurar
suas mãos ou seus dedos porque eles
categoria; estamos falando, sim, de nossa
não são objetos a se encontrar no espaço capacidade de representar. Mas representar
objetivo, ossos, músculos, nervos, mas não quer dizer aqui formar conceitos,
potências já mobilizadas pela percepção da deixá-los guardados em um compartimento
tesoura ou da agulha, o termo central dos
‘fios intencionais’ que o ligam aos objetos imaterial e acessá-los no momento em que
dados (Merleau-Ponty, 1999, p.153) deles necessitarmos; “representar é situar-se
por um momento em uma situação imaginária
O corpo não apenas está situado no concreto, e dividir-se em mudar de meio” (Merleau-
no âmbito das tarefas práticas, mas também Ponty, 1999, p. 189). Se pensamos em nossa
está aberto às situações verbais e fictícias. casa, por exemplo, nossa intencionalidade
O corpo se mobiliza no real e no virtual. dirigida a ela naquele momento é que nos
Assim, quando nos entristecemos, recolhemo- dá a disposição dos cômodos. A motricidade,
nos, fechamo-nos para o mundo concreto, portanto, é a intencionalidade original,
fechamos nossas pálpebras e lacrimejamos, porque é a partir da intencionalidade de
o corpo se põe triste. Da mesma forma, nosso corpo dirigida a objetos que temos
quando refletimos sobre algo ou desejamos condições de representar um mundo. Antes
algo não presente na forma de objeto tangível de eu penso, somos eu posso. Representar,
pelo volume e grandeza, desviamos o olhar então, para Merleau-Ponty, diz respeito a
do nosso redor para nosso mundo desejado. dar conta de como estou situado em relação
Nesse momento, o corpo pode até sorrir, mas a determinados objetos ou de como me
sorri para o mundo sonhado. intenciono em direção a eles.

Não há também separação entre o gesto e a No gesto de pegar certo objeto, minha mão
percepção do gesto. Quando faço um gesto não se dirige a um objeto representado, mas
para alguém, essa pessoa imediatamente ao que existe para ela e para o qual se projeta,
o compreende e responde a ele. É o que se dirige. Por isso Merleau-Ponty questiona
Merleau-Ponty mostra com o seguinte o fato de comumente entendermos que a
exemplo: cabeça envia uma ordem motora à mão. É
a mão mesma, claro, integrada à totalidade
O fundo do movimento concreto é o mundo
do corpo, que se dirige ao objeto que quero
dado, o fundo do movimento abstrato,
ao contrário, é construído. Quando faço pegar. Isso não impede de o gesto ter uma
sinal para um amigo se aproximar, minha correspondência em sinapses cerebrais,
intenção não é um pensamento que eu mas está longe de se provar que o cérebro
prepararia em mim mesmo, e não percebo
o sinal em meu corpo. Faço sinal através
determinou aquela ação motora. Essa
do mundo, faço sinal ali onde se encontra crença, levada ao extremo, nos faria concluir
meu amigo; a distância que me separa dele, que nossa motricidade é determinada
seu consentimento ou sua recusa se lêem biologicamente, e que não podemos ter um
imediatamente em meu gesto, não há uma
percepção seguida de um movimento, a gesto voluntário.
percepção e o movimento formam um
sistema que se modifica como um todo O movimento não resulta de um instante
(1999, p. 159-160) anterior, mas vincula-se aos instantes

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anteriores no sentido de que estes estão No exemplo a seguir, pensaremos somente


envolvidos no presente, assim como o sobre a relação do cego com a bengala quanto
momento presente também envolve os à orientação espacial. Isso não significa
instantes que completarão o movimento. No restringir tal função ao uso da bengala, pois
plano da motricidade, tal relação do corpo consideramos que outros sentidos do cego,
com o tempo se aproxima da condição como a audição, mais aguçados que em
temporal do dasein, que, para Heidegger, pessoa não cega, são também fundamentais.
presentifica o passado e o presente no A verdade é que ele se habitua à bengala de
momento atual. Assim, se tenho um maneira semelhante à maneira como nos
sentimento ligado à memória de determinado estendemos a um carro quando dirigimos,
evento passado, o sentimento não resulta do mas sua bengala tem função permanente.
evento, mas expressa como torno presente O carro se estende ao nosso corpo somente
esse evento hoje. O futuro também está no quando queremos ir rapidamente a lugares;
presente como perspectiva de vir a ser: nossa ele não é nosso andar; a visão dá a distância
destinação, para onde nos dirigimos e como espacial entre as coisas. Desprovido dessa
nos dirigimos a esse ainda não sido. possibilidade de distanciar as coisas, o cego
tem a bengala como o seu olhar, o que se
Diferenciando-se de concepções sobre torna muito familiar e íntimo para ele e que
o corpo fundamentadas na dicotomia da se circunscreve nas possibilidades dadas
realidade, as quais separam o corpo de uma pela bengala. Assim, a bengala passa a ser
instância suprassensível, Merleau-Ponty a medida desse olhar do cego. O carro e a
afirma que o corpo habita o espaço e o bengala, portanto, não são mais meros objetos
tempo. Ele não está no espaço e no tempo, para quem os utiliza; são instrumentos, eles
porque estar indica uma posição em tempo se tornaram “(...) potências volumosas, a
e espaço objetiváveis – espaço mensurável exigência de um espaço livre” (Merleau-Ponty,
em metros, classificado como urbano ou 1999, p.198).
rural ou delimitador de cidades e países, e
tempo mensurável no relógio, que se marca Entretanto, convém ampliar nosso
no calendário. Já habitar implica relação de entendimento sobre compreensão, a fim de
familiaridade com o mundo. O mundo é situar o que estamos caracterizando como
habitado pelo ser humano, cujos gestos e hábito. A compreensão é o encontro de
ações, nesse sentido, são hábitos. como nos dirigimos a algo e nos situamos no
mundo com o que é dado. Compreender
Quando dirigimos um carro, não precisamos significa nos situarmos em tal encontro. É
calcular nem medir o espaço para sabermos
nesse sentido que Merleau-Ponty afirma que
se vamos passar ou não. Não é a medição do
o corpo compreende na aquisição do hábito.
coeficiente de atrito do asfalto que nos fará
reduzir a velocidade ao sentirmos a pista mais
Segundo Merleau-Ponty, o corpo é
lisa. O carro, portanto, se torna a extensão do (...) a origem de todos os outros (espaços
nosso corpo no mundo. Ampliamos, por meio expressivos), o próprio movimento de
de um instrumento como o carro, nossas expressão, aquilo que projeta as significações
no exterior dando-lhes um lugar, aquilo que
possibilidades quanto a volume e grandeza.
faz com que elas comecem a existir como
Dessa forma, o hábito de dirigir me torna um coisas, sob nossas mãos, sob nossos olhos.
corpo ampliado por uma estrutura metálica (1999, p. 202)
que se move velozmente no espaço. O corpo
se une ao carro e ganha a velocidade deste, Mais adiante, na seção sobre linguagem,
tendo-a ao seu alcance. veremos que a expressão verbal constitui
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uma modalidade de expressão originada pelo observar a profunda relação entre existência
corpo, ou mesmo corporal. e sexualidade, tentou explicar a primeira
pela segunda. No entanto, para Merleau-
Corpo como ser sexuado Ponty, nem existência, nem sexualidade se
determinam, porque estão diluídas uma
A sexualidade diz respeito à dimensão do na outra, de maneira que a existência nos
nosso meio afetivo. O modo de desejarmos é dada a partir de como estamos situados
e de amarmos um objeto é inseparável do sexualmente no mundo. O filósofo utiliza
modo como o objeto existe para nós. Em um exemplo que esclarece a diferença entre
outras palavras, o modo como um objeto ambos ao considerar a sexualidade: o caso
tem existência para nós é profundamente de uma jovem que se tornara afônica depois
marcado por como o desejamos e o de a mãe ter-lhe proibido de falar com o
amamos. De acordo com Heidegger (2008), rapaz de quem gostava. Conforme Merleau-
a disponibilidade afetiva nos abre para o Ponty (1999, p. 222), uma “(...) interpretação
mundo, para os outros e para os entes e, a estritamente freudiana colocaria em questão a
partir dela, eles teriam existência para nós. O fase oral do desenvolvimento da sexualidade”.
modo como nos abrimos afetivamente para Entretanto, de acordo com o filósofo, não
o mundo nos permite que nós sejamos de foi apenas a existência sexual que se “fixou
determinado modo e que o mundo também na boca”, mas também a emoção da jovem
exista para nós de determinada maneira. expressa na forma de afonia, porque a fala
constitui a função corporal mais ligada à
Nesse sentido, a reflexão de Merleau-Ponty existência com o outro, à coexistência.
(1999) sobre a sexualidade se aproxima Portanto, a mãe da jovem lhe proibiu não
da condição existencial de disponibilidade só uma possibilidade afetivo-sexual mas
afetiva do pensamento heideggeriano. também, em razão da importância do rapaz
Mesmo a concepção de sexualidade naquele momento, a possibilidade de ser
para Freud se aproxima da compreensão para o outro, que certamente envolve a
fenomenológica, no sentido de ambas não sexualidade.
considerarem a sexualidade como aspecto
genital, biologicamente determinado. A Nossa sexualidade não está ligada a como
libido, segundo Freud, não está ligada ao representamos mentalmente estímulos sexuais
instinto; ela é energia da pulsão de vida, liga- externos. A eroticidade, por exemplo, não
se ao erotismo, e não à reprodução. Merleau- acontece a partir de representação mental
Ponty reconhece haver profunda relação que fazemos do objeto de desejo nem se
entre sexualidade e existência, afirmando determina por uma estimulação biológica;
que existe osmose entre elas. No entanto, tal ela acontece a partir da possibilidade de nos
relação não é do tipo causal, em que uma colocarmos em situação erótica em relação
determina a outra, e sim, a que aponta o fato ao corpo de outrem. É o que afirma Merleau-
de a existência sempre acontecer a partir de Ponty no seguinte trecho:
um modo sexual, afetivo, de nos colocarmos
no mundo e de nos abrirmos para ele. Por A percepção erótica não é uma Cogitatio
que visa a um Cogitatum; através de um
isso, para o filósofo, é impossível dizer se um
corpo, ela visa a um outro corpo, ela se faz
gesto é sexual ou não sexual. no mundo, e não em uma consciência. Um
espetáculo tem para mim uma significação
A posição de Merleau-Ponty em relação à sexual não quando me represento, mesmo
confusamente, sua relação possível aos
sexualidade diferencia-se da de Freud, pois, órgãos sexuais ou aos estados de prazer, mas
segundo aquele filósofo, o psicanalista, ao

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quando ele existe para meu corpo, para o ser se manifesta pelo ente-homem. O
essa potência sempre prestes a armar os
corpo (ente-homem) realiza e atualiza a
estímulos dados em uma situação erótica,
e a ajustar a ela uma conduta sexual. existência, ou seja, deixa-se manifestar pelo
Há uma ‘compreensão’ erótica que não ser, coorigina-se e coexiste com o mundo.
é da ordem do entendimento, já que o
entendimento compreende percebendo
uma experiência sob uma idéia, enquanto
A sexualidade tem importância diferencial
o desejo compreende cegamente, ligando dentre as condições de nossa existência,
um corpo a um corpo (1999, p. 217) porque nela engajamos a vida pessoal.
Fazemos isso porque
A sexualidade tem intencionalidade que
segue o mesmo movimento da existência; (...) nosso corpo é para nós o espelho do
nosso ser, (...), uma corrente de existência
logo, não é função corporal que reage dada, de forma que nunca sabemos se
automaticamente a estímulos externos as forças que nos dirigem são as suas
ou internos, dissociados de como o ser ou as nossas – ou antes, elas nunca são
está situado no mundo por meio de seu inteiramente suas nem nossas (Merleau-
Ponty, 1999, p. 236), por isso a sexualidade
corpo, nem é um ciclo autômato (Merleau- nunca é ultrapassada nem fechada em si
Ponty, 1999, p. 218), conforme se pode mesma.
compreender em uma posição determinista.

Um fundamento da sexualidade reside no A linguagem compreendida


fato de meu corpo ser, ao mesmo tempo, como gesto
objeto para o outro e sujeito para mim. Isso
não quer dizer que só podemos vivenciar o A dicotomia sujeito-objeto proposta pelo
corpo a partir da dicotomia radical sujeito- modelo cartesiano deu origem a duas
objeto, cuja limitação apontamos desde correntes de pensamento: o intelectualismo,
o início deste ensaio. Não se conclua, que privilegia o subjetivismo, e o empirismo
entretanto, que o corpo do outro seja (ou mecanicismo), que privilegia o objetivismo.
No âmbito da concepção da linguagem,
equiparado a qualquer objeto mundano;
ambas as correntes consideram separáveis
trata-se, sim, de objeto especial. Em outras
pensamento e fala – ou um é causa do outro,
palavras, vejo o corpo do outro nas suas
ou um representa o que outro expressa. Para
possibilidades corpóreas humanas, capaz de Merleau-Ponty (1999), a fala e o pensamento
abraçar, de realizar tarefas, de amar. constituem dois momentos de um mesmo
gesto, que só se realiza por meio do corpo,
Merleau-Ponty não entende a afonia como por isso o autor afirma: “(...) Para poder
recusa de falar ou a anorexia como recusa de exprimi-lo, em última análise, o corpo precisa
viver, e sim, uma recusa ao outro e ao futuro tornar-se o pensamento ou a intenção que ele
que se torna situação de fato pelo corpo. “O nos significa. É ele que mostra, é ele que fala”
papel do corpo é assegurar essa metamorfose. (Merleau-Ponty, 1999, p. 267).
Ele transforma as idéias em coisas, minha
A linguagem, fenômeno do corpo, é uma
mímica do sono em sono efetivo. Se o corpo
modalidade de gesto. Como todo gesto, a
pode simbolizar a existência, é porque a
fala só acontece segundo as possibilidades
realiza e porque é sua atualidade” (Merleau-
expressivas do corpo, como vociferar e
Ponty, 1999, p. 227). Consideramos tal soltar ar silibante, e, ao mesmo tempo, ela
afirmação de Merleau-Ponty decorrência constitui um mundo de significados que
direta da afirmativa de Heidegger de que expressam intenções e disposição emocional.

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Tal mundo de significações se refere a uma o pensamento trazem e contêm em si o seu


rede significativa intersubjetiva já adquirida, sentido. A fala tem a própria potência de
permitindo que a fala seja compreendida significação. A operação expressiva realiza a
pelo outro. No entanto, ela não se relaciona significação da fala, não a traduz. Ela, como
à rede intersubjetiva como processo causal, (todo) gesto, contém seu sentido, o que
nem se relaciona, por acesso intelectual, a permite a comunicação, que acontece de
representações mentais preexistentes. A fala mim para um outro “sujeito falante”, que tem
do outro habita meu corpo; há reciprocidade determinado modo de ser e com “um mundo
entre minhas intenções e desejos e a fala do que ele visa” (Merleau-Ponty, 1999, p. 249).
outro e vice-versa. Só por isso há fala. A rede Não nos comunicamos com pensamentos
intersubjetiva é apenas o meio (linguístico) nem com representações, conforme proposta
possibilitador da fala. E ela ainda não do intelectualismo.
pressupõe o pensamento. Falar não é unir-se
ao objeto por meio de representação idealista A fala é um gesto cuja origem é o “silêncio
(como o idealismo concebe representação), primordial” (Merleau-Ponty, 1999, p. 250),
nem por uma intenção de conhecimento. e que, ao mesmo tempo, rompe esse
A denominação dos objetos é seu próprio silêncio. A sua significação é um mundo,
reconhecimento, e não, anterior a ele. daí a comunicação acontecer não pela
apreensão de determinado sentido, mas
(...) A fala não é o signo do pensamento, pela compreensão do gesto do outro. Tal
se entendemos por isso um fenômeno que
compreensão só é possível porque existe
anuncia outro, como a fumaça anuncia o
fogo. A fala e o pensamento só admitiriam reciprocidade entre minhas intenções e
essa relação exterior se um e outro fossem os gestos dos outros. Dessa forma, minhas
tematicamente dados; na realidade, eles intenções podem habitar o corpo do outro,
estão envolvidos um no outro, o sentido
está enraizado na fala, e a fala é a essência
assim como as intenções do outro podem
exterior do sentido (Merleau-Ponty, 1999, habitar meu corpo.
p. 247)
Tanto a compreensão do outro quanto a
Compreendemos além do que pensamos percepção das coisas se dão por meio do
espontaneamente. Isso mostra que corpo. O sentido do gesto, portanto, está
o pensamento não se relaciona com a na sua expressão (jamais dado separada ou
fala com base em processo associativo, anteriormente a ele em uma representação),
conforme sustenta o intelectualismo. Há e estrutura um mundo de significações.
um pensamento que fala (tanto no escutar Quanto à gesticulação verbal, ela se serve de
e ler quanto no falar e escrever), e isso é significações já disponíveis, estabelecidas por
desconsiderado pelo intelectualismo. expressões anteriores, comuns aos falantes. O
sentido da fala é o modo como esta articula
Pronunciar uma palavra é o único modo as significações adquiridas.
de representá-la. Assim como outras
modalidades da consciência corporal, a A fala constitui uma das possibilidades
imagem verbal constitui uma das modalidades da potência irracional humana, que cria
de gesticulação fonética. Fala e pensamento, significações e as comunica. Sua singularidade
portanto, estão arraigados um no outro, não entre as operações expressivas reside na
são dados separadamente. A fala é a essência possibilidade de criar um saber intersubjetivo
exterior do sentido, que, por sua vez, está a partir de sua sedimentação. Por isso, só
fundado na fala. a metalinguagem, ou falar sobre a fala,
A duplicação e a vociferação que revestem é possível, o que não ocorre em outras

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modalidades expressivas, como pintar tipo de ente é o ente-corpo. Nesse âmbito,


sobre a pintura e cantar sobre a música. A convém esclarecer, a dimensão entitativa do
atividade categorial, ou nossa possibilidade corpo não devia ser compreendida como
de estabelecer categorias, é apenas um a das ciências naturais, que, de costume,
modo de nos relacionarmos com ou de concebem o ente como coisa ou como
estarmos no mundo, ou mesmo um modo coisa extensa, com realidade exterior à
de configurarmos nossa experiência. O consciência e com existência independente
pensamento cartesiano e as ciências que nele da qual o sujeito se assegura em razão de
se fundamentam elegem tal possibilidade sua constância. Entendemos o ente, aqui,
como a mais verdadeira ou confiável, e profundamente relacionado com o ser.
invalidam as outras.
Tendo a questão do ser como tema central
A partir do momento que o homem faz de seu pensamento, Heidegger (2001,
uso da linguagem para estabelecer uma
relação viva consigo mesmo ou com seus 2008) propôs uma filosofia que rompesse as
semelhantes, a linguagem não é mais um representações metafísicas sustentadas pelas
instrumento, não é mais um meio, ela é uma qualidades que pudessem ser mensuráveis,
manifestação, uma revelação do ser íntimo
quantificáveis e calculáveis. Tal filosofia
e do elo psíquico que nos une ao mundo
e aos nossos semelhantes (Merleau-Ponty, compreende e fala do homem a partir de
1999, p. 266) suas condições existenciais. O homem
é compreendido como dasein (ser-no-
Tal modo de viver a linguagem, proposto por mundo ou ser-aí). Homem e mundo são
Merleau-Ponty, nos sugere um modo de viver coconstitutivos e cooriginários, não são duas
com os outros (e de construir um mundo) mais realidades existentes separadamente – a de
humano. Compreendendo e procurando sujeito e a de objeto.
estabelecer essa possibilidade de linguagem,
podemos nos tornar menos fragmentados Assim, para Heidegger (2001, 2008), não existe
e menos determinados pelos ditames de um aparelho psíquico ou mecanismo causal
uma época em que a impessoalidade e o externo que determina o comportamento
individualismo imperam. humano: só na dimensão de ser-no-mundo-
com-os-outros se entende o ser humano.
Algumas aproximações entre A propósito disso, a filosofia heideggeriana
Merleau-Ponty e Heidegger busca as suas condições ontológicas, cuja
angústia é a condição originária.
Considerando o entendimento de Merleau-
Ponty – que fundamenta sua reflexão sobre Conforme Heidegger, a vida não dá ao
a corporeidade na noção de entrelaçamento homem o mesmo acolhimento que oferece
entre homem e mundo (homem-chair), em aos entes, pois estes últimos têm lugar
que o homem não é o centro do mundo, determinado no mundo como destinação
mas um ser no mundo, em processo de sua vigência: uma pedra se destina a
de mútua constituição com o mundo – ser pedra, uma flor, a ser flor, e um animal,
como podemos situar o corpo na relação a ser animal. O homem tem no mundo a
entre ser e ente proposta por Heidegger? experiência originária de inospitalidade, pois
Imediatamente nos ocorre que o corpo tem o mundo não lhe dá destino, nem ele mesmo
vinculação profunda com a dimensão de pode antecipar seu vir a ser. Assim, diante da
ente do homem. Podemos considerá-lo, angústia e da liberdade, ele constrói o mundo
pois, a dimensão entitativa do homem? O humano com os outros.
primeiro passo, então, é refletir sobre que

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O mundo é a trama de significados humanos nossa espacialidade, viver nossa sexualidade


que vão sendo tecidos nas relações dos e ter experiência de linguagem –, não
homens entre si e destes com as coisas. Logo, aconteceriam também somente através de
não há uma essência de algo, mas múltiplas nossa corporeidade?
possibilidades de algo se mostrar e de ser
vivido por nós. O que alguma coisa é, no
entendimento de Heidegger (2001, 2008), Considerações finais
diz respeito a determinados aspectos da
coisa para os quais o homem se abre e com Retomando nossa discussão inicial acerca
os quais entra em contato. No construir do do modo como vivemos o corpo na
mundo, o homem se constrói mutuamente. contemporaneidade, indagamos: será que
se trata de pensarmos sobre uma nova
Diferenciado da concepção metafísica – relação com o corpo? Ou ainda, será que os
como objeto, o que é objetivável (passível problemas que vivemos em relação ao corpo
de observação, mensuração e cálculo) –, na nossa sociedade atual são meros problemas
o ente, segundo Heidegger, é aquilo que de corpo, como se pudéssemos tratá-los
tem sustentação na rede de significados e cindidamente, como se nada tivessem a ver
sentidos tecida pelos seres humanos; ele com outros problemas contemporâneos?
é iluminado pelo ser. Tal iluminação não Acreditamos que não. O mesmo modo de
resulta de duas esferas separadas que se pensar e de ser dominante na nossa era da
tocam de fora, assim como a alma move o técnica moderna é que faz com que, além
corpo, em uma concepção dicotômica. O de supervalorizarmos ou de negligenciarmos
ser, ao contrário, não é substância imaterial, nosso corpo, também tomemos a natureza
e sim, a possibilidade de algo se mostrar como reservatório de energia e a exploremos
de determinado modo, de algo vir a ter inescrupulosamente, tornando a Terra um
existência. Esse algo é o ente, que só tem local cada vez menos propício à vida. Esse
existência na rede humana de significados mesmo modo de pensar e de ser também
e sentidos. se consuma na legitimação da fome, da
miséria e da guerra. Entre outras coisas,
Podemos, então, compreender o corpo como aceitamos calados e passivos a especulação
a dimensão do ser humano pela qual o ser do mercado de armas – negócio mais
nele se manifesta. A abertura do homem ao lucrativo do mundo capitalista – que lucra
ser se dá pela corporeidade, pelo corporar. com a morte das pessoas. Cegamo-nos
Embora não seja como os outros entes, não diante da exploração (muitas vezes escrava)
seria também o corpo a dimensão do ente da mão de obra. Como uma sociedade em
do homem? O homem se diferencia dos que os interesses individuais e de pequenos
outros entes por dar sentido e significado grupos se sobressaem com tanta facilidade
ao mundo que o circunda na relação com sobre os outros semelhantes e a natureza ao
os outros homens e com as coisas, mas sua redor poderia ter outro tipo de relação com
existência se configura com base na sua o próprio corpo?
possibilidade de significar, de dar sentido e
de criar o mundo (o mundo é um existencial, Desde pequenos, o mundo, mesmo que não
na compreensão de Heidegger). Não seria, na forma de discurso assumido, mas muitas
então, o corpo a dimensão entitativa humana vezes nas entrelinhas de nossas relações,
a partir da qual o ser se desvela? E nossos nos não ditos e na própria tradição filosófica
modos de ser e de estar situados no mundo ocidental, nos ensina que somos separados
– como passar, destinar-se à morte, viver uns dos outros, que cada um é fundado

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em si mesmo e posto junto de outros, que mim. Entre o eu e o mundo/outros, existe


as coisas que estão ao nosso redor são um corte no qual se situa o corpo. Quando
para usar e consumir. O corpo do outro vivo com o meu corpo – minha dimensão
também é colocado assim. A prostituição e entitativa – uma relação de ente externo,
a pornografia em nossa época são expressão ou coisa externa, ele se torna apenas o que
disso. Temos um corpo e exploramos outro aparece de mim, o que mostro ao mundo;
corpo, tomamo-lo como objeto de satisfação tem importância no nosso mundo atual como
dos desejos do nosso corpo. Embora, é meio que manipulo para me mostrar sensual,
claro, a prostituição não tenha surgido na competente ou confiável, por exemplo.
contemporaneidade, talvez nunca antes
tenha atingido tamanha proporção. E a Não pretendemos, de forma alguma,
pedofilia? Como explicar que um adulto encerrar a discussão sobre a corporeidade,
sinta atração por um corpo de criança? Seria deixando transparecer que a perspectiva na
uma disfunção da atração corporal, ou mais qual apoiamos nossa reflexão é a mais válida
um problema de nossa época com inúmeras ou o único caminho de pensamento possível
nuances em que a questão corporal está para repensarmos o corpo. Apenas tentamos
também envolvida de forma cindida? apontar, com base na visão fenomenológico-
existencial, que nossa relação com o mundo
O sentido desta reflexão é mostrar como pode ser repensada, no sentido de nos
perdemos nossa intimidade com o mundo tornarmos, de verdade, pertencentes a ele,
e como vivemos com ele uma relação envolvidos e comprometidos com ele, daí a
dicotômica. O corpo, restritamente vivido nossa tentativa de mostrar que temos com
e considerado na dimensão de aparência ele intimidade e familiaridade originárias.
para os outros e para o mundo, se põe no Precisamos, no entanto, resgatá-las para
meio da dicotomia entre o eu, constituído assumirmos responsabilidade com o mundo,
a partir de mim mesmo, e um mundo de modo a não permitir que o individualismo
que não me diz respeito, com existência se torne o modo hegemônico ou dominante
exterior independente e desvinculada de de ser.

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Rafael Auler de Almeida Prado


Doutorando em Psicologia Clínica pela Universidade Católica de Pernambuco, Recife – PE - Brasil.
E-mail: rafaelpradoauler@gmail.com

Marcus Tulio Caldas


Doutor em Psicologia. Professor dos programas de graduação e pós-graduação em Psicologia Clínica da
Universidade Católica de Pernambuco, Recife – PE - Brasil.
E-mail: marcus_tulio@uol.com.br

Edilene Freire de Queiroz


Doutora em Psicologia. Professora dos programas de graduação e pós-graduação em Psicologia Clínica da
Universidade Católica de Pernambuco
E-mail: equeiroz@unicap.br

Endereço para envio de correspondência:


Rua Benvinda de Farias, 449, apto 1001 Recife-PE. CEP: 51020-140

Recebido 15/09/2010, 1ª Reformulação 02/11/2011, Aprovado 10/01/2012.

Referências Aristóteles. (1969). Metafísica. (L. Vallandro, trad.). Porto Alegre: Heidegger, M. (2008). Ser e tempo (3a. ed.; M. S. C. Schuback,
Globo trad.). Bragança Paulista, SP: Universitária São Francisco;
Petrópolis, RJ: Vozes
Critelli, D. M. (1996). Analítica do sentido. São Paulo: EDUC/
Brasiliense Merleau-Ponty, M. (1999). Fenomenologia da percepção (2a. ed.;
C. A. R. Moura, trad.). São Paulo: Martins Fontes.
Descartes, R. (2008). Discurso do método (P. Neves, trad.). Porto
Alegre: L&PM Pocket. Merleau-Ponty, M. (2007). O visível e o invisível (4a. ed., J. A.
Gianotti & A. M. Oliveira, trads.). São Paulo: Perspectiva
Heidegger, M. (2001). Seminários de Zollikon (G. Arnhold & M.
F. A. Prado, trads.). Petrópolis, RJ: Vozes. Michelazzo, J. C. (2003). Corpo e tempo. In Castro, D. S. P. de.
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Heidegger, M. (2006). Ensaios e conferências (3a. ed.; E. C. L. Campo, SP: UNESP-FENPEC.
G. Fogel & M. S. C. Schuback, trads.). Bragança Paulista, SP:
Universitária São Francisco; Petrópolis, RJ: Vozes Platão. (1999). A República de Platão. (E. Corvisieri, trad.). São
Paulo: Nova Cultural. (Coleção Os Pensadores)

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