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I. INTRODUÇÃO

A filosofia, de uns tempos para cá, viu-se na necessidade de estudar o fato religioso.
Com o advento da filosofia imanentista, a transcendência ao absoluto que sempre foi
admitida como uma realidade natural no homem, começa a ser questionada. Surgem
diferentes posicionamentos a seu respeito: desde a sua ne-gação por completo, como à sua
absolutização, chegando-se a afirmar que é um fato evidente, inquestionável.

Infelizmente, até o presente momento, fez-se pouca filosofia sobre a religio-sidade.


Os livros que se encontram a este respeito, são de caráter muito mais so-ciológico do que
filosófico. Este estudo pretende ir um pouco mais além, tentando responder perguntas como
estas: possui a religiosidade um fundamento antropo-lógico, mais ainda, metafísico Se há
um fundamento na natureza humana, por-que muitos homens não são religiosos? A
religiosidade é um sentimento ou é mais do que isto?

É de capital importância encontrar respostas a estas perguntas, para que a nossa fé


seja mais sólida e não dependa apenas da cultura em que vivemos ou de um bom senso
sem explicação, facilmente atacado por aqueles que se empenham em excluir Deus da sua
vida.

1. A Filosofia da religião na história da filosofia

Verifica-se que a religião constitui uma das dimensões centrais da existên-cia


humana: a mais básica e distintiva do ser humano. Assim, foi objeto de refle-xão desde os
primórdios da filosofia, sendo que, a partir do século XVII começa a surgir uma postura
crítica, que subsiste ainda, mas que pouco a pouco vai sendo desmistificada com os estudos
mais recentes sobre as origens e bases do fenôme-no religioso:

a) Filosofia Grega (séculos V-IV a.C.)

Numa sociedade politeísta, com sua mitologia decantada em poemas épi-cos,


concebe um Ser Superior e imutável como origem e ordenador do Universo, substituindo as
explicações mitológicas por explicações racionais dos fenômenos,

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cujo substrato último estaria num Deus Supremo e Transcendente (Anaximan-dro,


Parmênides, Heráclito e Aristóteles);

b) Filosofia Romana (século I)

Manifesta sua rejeição pela concepção mitológica da religião civil do Esta-do, como
meras fábulas, propugnando pela adoção de uma religião natural de união da alma com o
Transcendente (Sêneca e Varrão);

c) Filosofia Medieval (séculos XIII-XIV)

Caracteriza-se pela defesa filosófica da religião cristã e pela demonstração racional


da existência de Deus e de suas características (S. Agostinho, S. Anselmo e S. Tomás de
Aquino);

d) Renascimento (século XV)

Com a redescoberta do mundo greco-romano, busca-se formular uma sín-tese dos


elementos religiosos de diversas procedências, com a intenção de desco-brir um fundo
religioso universal e deduzir-se uma doutrina metafísica universal (Ficino e Mirandola);

e) Racionalismo (século XVII)

Começa a colocar em xeque a religião, pretendendo racionalizar o fenôme-no


religioso, a partir da negação de qualquer revelação divina (Hume, Tindal e To-land);

Hegel interpreta la r. dentro la prospettiva kantiana della sola ragione e vede


in essa il secondo momento del sapere assoluto, quando lo spirito prende
coscienza di se stesso e diventa "autocoscienza". Subito dopo Hegel, con
Feuerbach, Marx, Engels, Comte, Nietzsche inizia la demistificazione della r.
Alla r. fu fatale, tra l'altro, il nesso che essa sembrava avere con l'idealismo,
per cui la demolizione di quest'ultimo sembrò trascinare con sé anche il crollo
della r. Si cercò di dimostrare che essa non ha nessun fondamento oggettivo.
Se ne ricercò l'origine nei vari sentimenti di impotenza di fronte alla natura
(Feuerbach), di compensazione nella vita futura per ciò che manca nella vita
presente (Marx), di risentimento (Nietzsche), di sublimazione degli istinti
(Freud), di autotrascendimento (Bloch), ecc. Senonché, per quanto ingegnose,
tutte queste spiegazioni della r. risultano inadeguate: esse fanno luce su
qualche motivazione reale, ma per lo più secondaria, di essa. Davanti ad un
fenomeno così grandioso e così complesso come quello religioso, decisamente
il più imponente tra tutti quelli che segnano la storia dell'umanità, le
spiegazioni di Feuerbach,

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Marx, Nietzsche, Freud, Bloch risultano chiaramente riduttivistiche e


semplicistiche e pertanto assolutamente inadeguate. Esse tentano di
trasformare in un fenomeno secondario, accidentale e tutto sommato
trascurabile ciò che invece risulta profondamente radicato nella natura
umana e che costituisce sempre una componente fondamentale e primaria
della cultura. "Attraverso la parte più illustre della storia umana, in tutti i
secoli e in qualsiasi stadio della società, la r. è stata la forza centrale
unificatrice della cultura. È stata custode della tradizione, preservatrice della
legge morale, educatrice e maestra di sapienza. [...] La r. è la chiave della
storia. Non possiamo comprendere le strutture intime di una società, se non
conosciamo bene la sua r. Non possiamo capire le sue conquiste culturali, se
non comprendiamo le credenze religiose che stanno dietro di esse. In tutte le
età le prime elaborazioni creative di una cultura sono dovute ad
un'ispirazione religiosa e dedicate ad un fine religioso. La r. sta alla soglia di
tutte le grandi letterature del mondo. La filosofia è un suo prodotto ed è un
rampollo che fa continuamente ritorno al proprio genitore" (Ch. Dawson,
Religion and Culture, 1948, pp. 49-50)(Battista Mondin, Dizionario Teologico
e Filosofico).

f) Iluminismo (século XVIII)

Na linha do racionalismo, caracteriza-se pela negação das religiões positi-vas


(especialmente do cristianismo), sustentando um deísmo como crença geral na existência
de um Ser Supremo, sem que deva existir qualquer Igreja ou siste-ma organizado de culto
(Voltaire, Diderot e D’Alembert);

g) Escola Sociológica (século XIX)

Pretende que o fenômeno religioso seja necessariamente social, constituin-do um


sistema solidário de crenças e práticas relativas a coisas sagradas, adota-das por uma
comunidade (Durkheim, Weber, Croce e Gentile), esquecendo, no entanto, que o sentimento
religioso tem sua dimensão pessoal;

h) Escola Psicológica (século XIX)

Reduz o fenômeno religioso à consciência individual, surgindo do subcons-ciente o


sentimento religioso e todas as crenças (Schleiermacher, Freud, Hart-mann e James), o que
descartaria a possibilidade de revelação divina ao homem;

i) Evolucionismo (século XIX)

Concepção de que as religiões evoluíram das crenças míticas, politeístas e


rudimentares para as religiões monoteístas, organizadas e universais (Darwin e Spencer);

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j) Marxismo (século XX)

Concepção de que a religião é o ópio do povo, a maior das alienações, uma vez que
aquilo que se atribui a Deus seria próprio da Humanidade como um todo (Feuerbach e
Marx);

k) Escola Etnológica (século XX)

Procura mostrar, através do estudo dos povos primitivos e das culturas ru-
dimentares, que a crença num Deus Supremo e Único foi, desde os começos, a forma
religiosa originária, sendo as religiões politeístas posteriores corruptelas da crença original
(Lang e Schmidt).

Como se vê, a partir deste breve esboço histórico, já se afirmou tudo a res-peito da
religião: que existe, que não existe, que é um sentimento, que é um ins-tinto, que é uma
alienação, que é uma criação humana, etc, etc. A avaliação do que realmente é a religião,
sua existência, seu fundamento, será visto no segundo capítulo.

2. Método da filosofia da religião

Para o estudo filosófico da religião, vários são os métodos utilizados:

Método histórico-crítico comparativo – comparar as várias religiões no tem-po e no


espaço, buscando seus traços comuns e suas diferenças específicas, para verificar o que
constitui a essência do fenômeno religioso;

Método Filológico – mediante o estudo comparado das línguas, busca en-contrar nas
línguas parentes o que pensavam e acreditavam os povos antes de se dividirem em línguas
distintas (quais as palavras utilizadas para descrever e ex-pressar o sagrado e suas raízes
comuns);

Método Antropológico – reconstruir o passado religioso com base na etnolo-gia,


estudando os povos primitivos atuais (suas instituições, crenças, rituais e tradições).

A filosofia da religião deve conjugá-los, para obter a melhor soma de ele-mentos para
chegar às suas conclusões sobre a essência das manifestações religi-osas e suas
características universais.

Método metafísico – busca o fundamento do fenômeno religioso.

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3. Elementos básicos da religião

Constituem elementos básicos de toda religião, o que se denominam de:

religioso primário (componente racional e interno) – reconhecimento interior


da existência de Deus e da dependência do homem em rela-ção a Ele,
plasmado num conhecimento superior (fé) das realidades terrenas e
transcendentes (concepção do mundo, do homem e de Deus);

religioso secundário (componente afetivo e externo) – manifestações externas


e objetivas, pessoais e coletivas, derivadas desse reconheci-mento da
existência e da dependência de Deus, que plasmam e ex-ternam o desejo de
honrar, servir e amar a Divindade (ritos, cerimô-nias, moral).

Se, por um lado, tudo o que o homem faz pode ser considerado como “reli-gioso
secundário” (dada a total dependência do homem em relação a Deus: “quer comais, quer
bebais ou façais qualquer outra coisa, fazei-o por amor a Deus”), por outro, o mais
especificamente “religioso secundário”, como manifestação ca-racterística do culto a Deus, é
constituído por:

orações com suas variadas formas de gestos e palavras;

sacrifícios oferecidos à Divindade, em suas variantes cruentas e in-cruentas;

ritos sagrados, tanto públicos e sociais, quanto privados; e

altares e templos em que se realizam essas orações, sacrifícios e ce-


rimônias.

4. Constantes religiosas

Descobrir o núcleo ou denominador comum que existe subjacente às múl-tiplas


variantes religiosas, tanto no tempo (constantes religiosas) quanto no espa-ço (círculos ou
famílias de religiões) é uma das tarefas auxiliares da filosofia da Religião: saber distinguir,
através da comparação entre as várias formas religio-sas, o que é o essencial e comum a
todas elas (e que constitui o fenômeno religio-so) e o que é acidental e diferenciador.

No entanto, algumas diferenças não são meramente acidentais, quando se

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trata de comparar as religiões naturais em relação à religião revelada, pois dizem

respeito à concepção do mundo, do homem e de Deus que corresponde à realida-de. Daí o


antagonismo entre as posturas extremistas:

Reducionista - “Quem conhece uma religião, especialmente o cristianismo, conhece


todas” (Harnack);

Relativista - “Quem conhece apenas uma religião, não conhece nenhuma” (Max
Müller).

a) Constante Telúrica

A forma mais antiga de representação da divindade foi a da Deusa Mãe Terra (Tellus
= Terra): figuras femininas encontradas desde 30.000 a.C. (ídolo fe-minino da fecundidade,
com seios e útero exageradamente desenvolvidos ou com muitos seios).

Essa representação destacava o sentido sagrado da terra e o ciclo da vida, da


primavera ao inverno (renascer primaveril, maturidade estival e morte inver-nal), com a
fertilidade agrária e a fecundidade humana, até sua volta às entra-nhas da terra, com a
morte, que não é o fim, já que se acredita numa vida além da morte (Na terra – humus – se
esconderia a origem e o destino do homem – homo).

O cristianismo veio a dar um outro sentido às festas pagãs (pagã = do cam-po), que
celebravam as estações do ano, comemorando, nesses dias, os mistérios cristãos (Ex: Em
vez de festejar o Deus-Sol no dia primeiro do ano, celebrar a Santa Maria, Mãe de Deus).

Em todos os povos de religiosidade telúrica (Egito Antigo, Mesopotâmia, Az-tecas,


Povos Negros Africanos), a suprema divindade era representada pela Deusa Terra,
simbolizada por uma figura feminina ou, mais comumente, por um animal (teriomorfismo),
geralmente a serpente (futuro símbolo dos farmacêuticos, como sinônimo de saúde e vida),
o touro ou o cabrito. A veneração originária dos deu-ses que desceram e se assentaram
nessas representações vai se convertendo em idolatria.

b) Constante Celeste

Os povos indo-europeus têm a crença num Deus Supremo Celeste, criador de todas
as coisas e transcendente ao mundo, originariamente concebido mono-teistamente (os
nomes dos demais deuses assírio-babilônicos são atribuídos como nomes diversos de
Marduk, deus principal).

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A evolução posterior dessas religiões conduz ao politeísmo, mas no qual há sempre


um deus principal entre os muitos que são reconhecidos (12 deuses su-premos romanos,
correspondentes aos 12 gregos; mil deuses hititas; 3 mil deuses babilônicos; 330 milhões de
deuses hindus). Esse deus supremo é concebido na forma masculina e como Pai dos
demais deuses e homens (Iu-piter romano = Deus Pai).

A suprema divindade das religiões celestes tem no seu nome algum ele-mento que
dê a idéia de luz, céu, claridade (Deus, lembrando dies = dia). Ade-mais, há, para o mesmo
deus, um nome “terreno” (usado pelos mortais) e um nome “celeste” (usado pelos deuses).

Enquanto o designativo da suprema divindade telúrica é Grande (pela imensidão da


Terra), o da suprema divindade celeste é Altíssima (pela elevação aos Céus). Diante da
divindade telúrica, surge no homem a sensação do fasci-nans (atração, emoção, sedução),
enquanto a divindade celeste desperta a sensa-ção do tremendum (temor, medo e
reverência): Se, por um lado, os fenômenos metereológicos despertavam nos povos
primitivos um temor, por outro, esse po-der divino despertava também segurança e
confiança.

Apesar do antropomorfismo que caracteriza as religiões celestes (represen-tação


humana da divindade), com os deuses sendo retratados em forma corporal e com virtudes e
defeitos humanos, participando das vicissitudes terrenas (poe-mas homéricos), há uma
nítida separação entre o celeste e o terreno: o pecado dos homens é orgulho de querer
chegar até o lugar dos deuses (Prometeu na mi-tologia grega) ou se tornar imortais
(Gilgamesh na mitologia sumério-acadiana). Daí que o próprio do homem deve ser a
humildade (humilis), que tem a mesma raiz de terra (humus).

O símbolo da águia atacando a serpente representará a futura superação da


religiosidade celeste sobre a religiosidade telúrica. Mas, na verdade, as teofani-as
(manifestações) dos desuse celestes não será através de animais, mas de re-presentações
humanas (levando a imaginação de gregos e romanos a verem os bosques e em toda a
Natureza povoados de ninfas, sátiros e uma miríade de semi-deuses).

c) Constante Étnico-Política

A constante étnico-política liga-se à identificação entre religião e nação: cada povo


tem sua própria religião. São características dessa constante:

Nacionalismo religioso - confusão entre as origens da religião e da nação (a religião


é a dos antepassados e se confunde com o amor à pátria).

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Ausência de um fundador conhecido – a origem da religião se perde na noi-te dos


tempos (tradição oral, desde as próprias origens do homem e dos primeiros clãs, tribos e
nações).

Coletivismo Religioso – a pessoa se relaciona com a divindade mais como membro


da comunidade do que como indivíduo (a religião é vista como um dever cívico).

Pragmatismo religioso – as práticas e rituais religiosos buscam primordial-mente a


conservação e prosperidade terrena da comunidade, mais do que a salva-ção ultraterrena
da alma (o pecado se confunde com delito civil e deve ser evitado não tanto por ter um
castigo eterno, mas por comprometer a segurança da comu-nidade, ao atrair a ira dos
deuses).

Ausência de um corpo doutrinário estruturado - culto basicamente sacrifi-cial, sendo


os sacerdotes apenas ministros do culto e não mestres que ensinam uma doutrina salvífica).

Caráter teocrático do Estado - ser cidadão é pertencer à mesma comunida-de


político-religiosa e ter os mesmos deuses protetores (ser banido do Estado é fi-car sem
pátria e sem deuses).

Identificação do governante com a divindade – o monarca é reconhecido como filho


dos deuses e seu representante na Terra (representado muitas vezes pelo Sol: faraós
egípcios, imperadores romanos e japoneses, monarcas incas), ca-bendo-lhe a
intermediação com os deuses (sacerdócio) e a condução político-mili-tar da nação.

Ausência de proselitismo - membros da comunidade são apenas os mem-bros da


nação (concepção de povo escolhido pelos deuses).

Endogamia familiar ou tribal – casamento, dentro da família real, entre ir-mãos, para
manter a pureza divina (nacionalismo de não permitir casamento com estrangeiros).

Em geral, as religiões celestes são, também, étnico-políticas.

d) Constante Mistérica

Os mistérios têm suas raízes no telúrico, brotando durante a Idade de Bronze e o


Neolítico e ressurgindo com a decadência das religiões celestes e étni-co-políticas
(mistérios dionisíacos, órficos, eleusinos, pitagóricos, etc).

Eram ritos de iniciação que afastavam a pessoa da relação com os demais mortais e
a colocavam num círculo de eleitos, visando à sua união individual com

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divindade. O sentido da palavra não era de algo oculto, mas, pelos rituais ado-tados,
incompreensíveis e chocantes para os não iniciados, passaram a ser ocul-tados, para evitar
perseguições.

Esses rituais, que marcavam o renascimento da pessoa, tinham as seguin-tes


constantes:

Introdução da serpente (viva nos começos e depois de metal) no seio do ini-ciante


(sinal de consagração) – contato corporal e íntimo com a divindade, como símbolo de sua
união com ela;

Omofagia – despedaçar e comer cru ao animal teofânico, para incorporar as virtudes


da divindade;

Incubação – dormir em contato direto com a terra, para receber dela as vir-tudes
curativas e previsoras do futuro;

Práticas catárticas – retiros, jejuns, flagelações, abluções, acusação pública das


próprias faltas, etc.

As características básicas da constante mistérica são:

Henoteísmo (hen = principal + theos = deus) – união de uma divindade fe-minina


principal com um jovem deus inferior, que morre todos os anos, para de novo renascer;

Divindade Imanente – a união do indivíduo com a divindade se faz pela possessão


desta com aquele (danças das bacantes em éxtasis, ou seja, fora de si);

Panteísmo – concepção da divindade como o princípio ativo imanente ao mundo


(alma universal);

Despolitização da Religião – a religião não é a relação da comunidade (po-lis) com a


divindade, mas a do indivíduo com o seu deus (personalismo);

Aspiração a uma vida ultratumba – preparação para a vida após a morte, buscando a
purificação nesta vida (conteúdo ético e soteriológico).

e) Constantes das Religiões Universais

As denominadas religiões universais são aquelas não ligadas exclusiva-mente a um


povo (étnico-políticas) e que não possuem o substrato das religiões primitivas (telúrico-
mistéricas), mas que conseguiram uma difusão ampla no tem-po e no espaço (são,
principalmente, o Budismo, Islamismo e Cristianismo).

As constantes ou notas comuns dessas religiões são:

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Fundador conhecido – têm início conhecido no tempo, fundadas por um personagem


histórico;

Universalidade da mensagem – são supranacionais, visando estender sua doutrina


salvadora ao mundo inteiro (proselitistas);

Livro Religioso como base da doutrina – sua mensagem básica encontra-se


recolhida em livros sagrados de caráter irreformável, conservados na língua origi-nal, ainda
que não mais falada (só para a liturgia);

Vigência Atual – encontradas atualmente nos povos desenvolvidos ou em


desenvolvimento.

5. Principais religiões

a) Religiosidade do Homem Paleolítico

Observa-se, desde os primórdios da Humanidade, o costume do homem enterrar


seus mortos, sendo encontrados túmulos em que os ossos estão acompa-nhados por
utensílios, o que demonstra a crença na vida ultraterrena.

Ademais, as pinturas rupestres encontradas nas Cavernas, representando animais e


cenas de caça, permitem captar o sentido religioso do homem primitivo, que representava a
divindade sob forma de animais (constante telúrica), elegendo os mais fortes para a sua
representação. As cenas de caça poderiam conter a es-perança de que a representação
pictórica se tornasse realidade.

b) Religião do Egito Antigo

Teriomorfismo, politeísmo, idolatria; principais deuses: Ísis (Grande Deusa Mãe),


Osíris (esposo de Isis e morto por esta, renascia anualmente para fertilizar as margens do
Nilo), Set (irmão de Osíris), Hórus (falcão), Anúbis (cachorro), Ápis (boi) e Tote (ave íbis).

O faraó Amenófis IV tentou restabelecer o monoteísmo original, promoven-do o culto


do “Disco Solar”, mas essa reforma religiosa foi afastada depois de sua morte.

A crença na vida ultratumba em parâmetros semelhantes às deste mundo, com um


julgamento perante o Tribunal de Osíris e a existência de necessidades materiais, fez com
que se desenvolvesse o sepultamento em pirâmides, junto com os tesouros dos faraós e a
mumificação do cadáver, para que a base material da
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alma não se desfizesse. Construíram grandes templos para o culto de seus deu-ses.

c) Religião da Mesopotâmia

Os babilônios e assírios eram politeístas, possuindo mais de 3.300 divinda-des.


Porém, por cima de todas essas divindades se reconhece a Assur-Marduk como Deus
Supremo (Assur para os assírios e Marduk para os babilônios), sendo que todas as demais
teriam, na verdade, uma certa identidade com a mesma na-tureza divina (diferentes nomes
de um mesmo Deus). Seu culto público se dava em pirâmides escalonadas em patamares,
denominadas de zigurates.

d) Religião Greco-Romana

Politeísmo antropomórfico, de constante celeste, sendo os principais deu-ses os que


figuram no quadro comparativo abaixo:

PRINCIPAIS DEUSES GRECO-ROMANOS


GRÉCIA ROMA ATRIBUTOS
Zeus Júpiter Pai dos Deuses e Senhor do Trovão
Hera Juno Rainha dos Deuses, Deusa do Casamento e da Maternidade
Héstia Vesta Guardiã da Família e do Lar (Irmã mais velha de Zeus)
Poseidon Netuno Deus do Mar e dos Rios (Irmão de Zeus)
Deméter Ceres Deusa das Colheitas e da Fertilidade (Irmã de Zeus)
Hades Plutão Deus do Mundo Subterrâneo e da Morte (Irmão de Zeus)
Atena Minerva Deusa da Sabedoria e da Guerra (Filha de Zeus e Métis)
Ares Marte Deus da Guerra e da Destruição (Filho de Zeus e Hera)
Hefesto Vulcano Deus do Fogo e Ferreiro Aleijado dos Deuses (Irmão de Ares)
Afrodite Vênus Deusa da Beleza (Prima de Zeus e Esposa de Hefesto)
Apolo Apolo Deus do Sol, da Profecia e da Saúde (Filho de Zeus e Leto)
Artémis Diana Deusa da Lua e da Caça (Irmã Gêmea de Apolo)
Hermes Mercúrio Mensageiro dos Deuses (Filho de Zeus e Maia)
Dionísio Baco Deus do Vinho e da Vegetação (Filho de Zeus c/uma mortal)
Asclépio Esculápio Deus da Medicina (filho de Apolo)
Urano Urano Deus do Céu e Pai dos Titãs
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Cronus Saturno Deus do Céu e da Agricultura e Governante dos Titãs.


Rhea Ops Deusa Mãe (Esposa de Cronus)
Eros Cupido Deus do Amor
Hypnos Sonus Deus do Sono
Gea Terra Mãe da Terra
Têmis Têmis Deusa da Justiça (segunda mulher de Zeus)
Pan Pan Deus dos Bosques e das Pastagens

Acreditavam na predestinação, procurando ver nos augúrios (vôos de aves ou


entranhas de um animal sacrificado) o que estava predestinado pelos deuses. Concepção
fatalista da vida.

e) Religião dos Celtas e dos Vikings

Os Celtas enterravam seus mortos com as armas, comida, roupas e jóias, na crença
de que necessitariam delas na outra vida. Adoravam, além de deuses e deusas, o javali, por
sua coragem e ferocidade (tereomorfismo) e as cabeças corta-das dos inimigos (fincadas
em postes, como sagradas). Os druidas eram os sacer-dotes e magos que dirigiam o culto e
ensinavam o povo, com poder curandeiro.

Os Vikings acreditavam que os deuses viviam no Walhalla (paraíso viking), sendo os


principais deuses Odin (Rei dos Deuses), Thor (Deus do Vento, da Chu-va e da Agricultura),
Frey (Deus do Casamento e da Fertilidade) e outros. As valquírias eram as mulheres
enviadas por Odin para conduzir ao paraíso os guer-reiros mortos em combate. Os deuses
vikings eram adorados ao ar livre (não ti-nham templos).

f) Religião dos Astecas e dos Incas

Os Incas eram politeístas, acreditando num Deus Supremo Criador (Vira-cocha), Pai
dos demais deuses, homens e criaturas. Inti (Deus-Sol) deu origem à família real inca.
Anualmente, celebrava-se a grande festa do Sol, em que o ani-mal a ser sacrificado (lhama)
era levado para as montanhas, com as mensagens ao Deus, que o rei lhe havia dito ao
ouvido. Havia os sacerdotes que cuidavam do culto ao longo do ano e as “Virgens do Sol”,
que os assistiam. Havia também Quil-la (Deusa-Lua). Os lugares sagrados (huacas) eram
tanto os templos, quanto as pedras de formato invulgar, túmulos, fontes, colinas e cavernas.

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Já os Astecas possuíram uma religião cruenta de sacrifícios humanos: acreditavam


que a manutenção da luz solar dependia do oferecimento de vítimas humanas ao Deus Sol
(alimentar os deuses com a “água sagrada”, que seria o sangue). Sacrificavam milhares de
pessoas, quer fossem inimigos capturados nas guerras, quer fossem crianças preparadas
para isso. Arrancavam da vítima o co-ração ainda batendo, para esfregá-lo na parede do
templo. Seus principais deuses eram Tonatiuh (Deus do Sol), Tezcatlipoca (Deusa da Noite),
Coatlicue (Deusa Mãe Terra), Quetzalcoatl (Deus da Sabedoria), Tlaloc (Deus da Chuva).

g) Hinduísmo

É a religião nacional do povo indiano (permeia toda a vida do indiano, des-de o


levantar-se até o deitar-se). O sânscrito (idioma dos escritos sagrados hin-dus) não tem uma
palavra para designar “religião”: a palavra dharma significa a realidade total. Assim, cabem,
dentro do hinduísmo, as concepções religiosas de outros povos (Mahatma Gandhi pregava
uma síntese de todas as religiões, num amálgama sincretista que não excluísse nenhuma).

Evolução histórica:

Panteísmo Védico (séc. XII-IX a. C.) – anterior à invasão dos povos indoeu-ropeus
(Civilização de Harappa), de religiosidade telúrica;

Brahmanismo (séc. IX-II a. C.) – posterior à invasão indoeuropéia, de religi-osidade


mistérica;

Hinduísmo (séc. II a. C. até os dias atuais) – de religiosidade étnico-política,


caracterizada pela aceitação da divisão político-religiosa da sociedade em castas.

Núcleo básico do Hinduísmo:

Divisão da sociedade em castas (varuna, que designa “casta”, etimologica-mente


significa “cor”: caráter racista da divisão).

Crença em Brahman (panteísmo).

“Vedas” como livros sagrados (mais antigos textos religiosos conhecidos).

VEDA CONTEÚDO
Rig-Veda Veda dos louvores
Sama-Veda Veda dos cânticos litúrgicos
Yajur-Veda Veda das fórmulas sacrificiais
Atharva-Veda Veda das fórmulas mágicas

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Sistema de Castas e a crença na Reencarnação:

A sociedade indiana está dividida em castas, sendo a explicação política-re- ligiosa


dessa diferenciação explicada pelo quadro abaixo (os povos arianos indo- europeus,
quando invadem a Índia, submetem a civilização harappiana existente, fixando as crenças
na sociedade estratificada de origem divina):

CASTA ORIGEM DIVINA FUNÇÃO ORIGEM HUMANA


Brahmane Cabeças de Brahman Sacerdotes Arianos Loiros
Ksatriya Braços de Brahman Nobres e Guerreiros Arianos Brancos
Vaisya Pernas de Brahman Trabalho Liberal Arianos Morenos
Sudra Pés de Brahman Trabalho Manual Arianos Negros
Paria Sem casta e sem deuses Escravos (intocáveis) Povos Vencidos
Adhiwasi Sem deuses Fora do Sistema Hindu Aborígenes

Cada casta tem seu estatuto próprio (direitos e obrigações). O cumprimen-to fiel das
obrigações da própria casta (especialmente as profissionais) permite ao indivíduo, após a
morte, reencarnar-se numa casta superior, e assim progressiva- mente, até a purificação
total da alma, unindo-se definitivamente a Brahman (já o descumprimento desses deveres
leva à reencarnação em casta inferior e, inclusi- ve, em animal; daí o caráter sagrado das
vacas na Índia, que não devem ser mor- tas ou molestadas). Uma das proibições é da do
casamento fora da casta (deve ser endogâmico). As reencarnações seriam exigência da
justiça (daí a passividade in- diana diante das discriminações de castas).

Panteísmo e Politeísmo Religioso:

Brahman é a substância básica que deu origem a todos os seres (Princípio


Universal, o Uno, o Todo, o Absoluto). Tudo o que existe provêm dela, por emana-ção, e,
ciclicamente, a ela retorna (a alma inteiramente purificada volta a Brah-man: essa é a
aspiração de todo hindu).

Há um ciclo cósmico das emanações da realidade, a partir de Brahman, que dura


mais de 4 milhões de anos, até tudo retornar a Brahman, havendo, en- tão um novo
recomeço.

O homem é constituído do kama (“amor” ou “desejo”) e do karma (“ação”, que pode


ser boa ou má). Maya (= ilusão) é a realidade aparente (emanada de Brahman), que atrai o
homem e faz com que permaneça na samsara (mundo

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das
contínuas mudanças e reencarnações), até que se liberte definitivamente desses desejos,
através das boas ações.

Os avatares (= descida) são seres nos quais a divindade se encarna periodi-camente


(alguns desses seriam Buda, Ghandi e o próprio Jesus Cristo).

Além de panteísta (confusão entre Deus e o Mundo, sendo o princípio das coisas
imanente ao próprio mundo), o hinduísmo é também politeísta (milhões de deuses,
masculinos e femininos) e enoteísta (3 divindades principais: Brahma, Criador do Universo,
representado com 4 cabeças; Siva, Transformador do Uni-verso, representado com 4
braços; e Visnú, Conservador do Universo, também re-presentado com 4 braços.

Ritual:

Os mantras são fórmulas magicamente eficazes (orações tiradas dos textos védicos),
que devem ser recitadas com escrupulosa exatidão (postura, ritmo, pro-núncia, melodia e
movimentos), para que tenha perfeito valor ritual.

Outras formas de união à divindade são o yoga (exercício de ascese) e a bhakti


(adoração ou devoção), que, em algumas seitas hindus, degenerou em prá-ticas de total
dissolução erótica (manifestações sexuais como doação total à divin-dade). O
apaixonamento devocional, calcado no sentimento e não na razão, aca-bará levando a
esses dois extremos: a ascese ou a promiscuidade.

h) Confucionismo

Confúcio ou Kung-Fu-Tse (551-479 a. C.) não foi o fundador de uma nova religião,
mas apenas um filósofo (sábio que mais profundamente influiu na cultu-ra chinesa) que
começou seus estudos aos 15 anos, se casou aos 19, teve muitos filhos e se dedicou, a
partir dos 22 anos, a ensinar e a fazer carreira política como conselheiro de reis chineses.
Sabia-se um homem sujeito a erros (como reconhece em seu livro “Analecta”). Passou, no
entanto, a ser cultuado e divinizado vários séculos após a sua morte.

O confucionismo não é uma religião, mas apenas um sistema ético, de ca-ráter


pragmático e não teórico. Não visa ao aperfeiçoamento pessoal, mas consiste numa
doutrina política de como devem ser e comportar-se os governantes e súdi-tos, de modo a
harmonizar o convívio social (norma básica: “O que não quiseres para ti, não o faças aos
demais”).

Toda a ética confuciana parte das “cinco relações” ou deveres de cada ho-mem
(tradição chinesa antiquíssima):

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Relação de justiça entre o príncipe e súditos;

Relação de mútuo amor entre pais e filhos;

Relação de fidelidade entre marido e mulher;

Relação de respeito entre velhos e jovens;

Relação de lealdade entre amigos.

Os pressupostos fundamentais do sistema confuciano são:

Crença na bondade natural do homem;

Inexistência de uma culpa ou pecado original;

Capacidade de salvação pelo esforço natural do homem, através do exercício


das virtudes, superando a maldade decorrente da má edu-cação ou do
ambiente eticamente contaminado.

i) Taoísmo

Lao-Tse (séc. VI a. C.), fundador do taoísmo, foi arquivista do governo im-perial na


dinastia Chu que, descontente com a corrupção da Corte, abandona a China, viaja para o
Ocidente e escreve, ao voltar, o “Tao-Te-King” (Livro da Atua-ção do Princípio Primordial do
Universo).

Ao contrário de Confúcio, a preocupação fundamental de Lao-Tse não é com o


convívio social, mas com a harmonia do indivíduo com a Natureza: o Tao é o “Caminho”, o
princípio do Ser e do Mundo.

O taoísmo não chega a ser uma religião, pois não visa ao relacionamento do homem
com Deus, mas apenas à adaptação do homem ao ritmo da Natureza (a própria arte chinesa
é uma demonstração disso, pois não retrata deuses, mas principalmente animais, plantas e
a Natureza; ao contrário dos ocidentais, que buscam o domínio técnico-científico sobre a
Natureza, os chineses pretendem apenas harmonizar sua vida com a Natureza, sem
violentá-la).

O Tao, como princípio absoluto, é mais passivo que ativo, e deve levar o ho-mem à
tranqüilidade e serenidade, à ausência de tensão interior e não ao ativis-mo (a ciência está
na diminuição da ação): “Os que de verdade sabem, não falam; os que falam, não sabem”;
“As palavras verazes não são floridas e as floridas não são verazes; o homem bom não
discute e os que discutem não são bons”.

Os princípios básicos naturais (encontrados na tradição ancestral chinesa),


complementares e não antagônicos, seriam:

“Yin” (passivo, feminino, imanente, frio, escuro, brando, úmido, ter- ra);
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“Yang” (ativo, masculino, transcendente, quente, luminoso, duro, seco, céu).

Admite a tradição mítica chinesa, de que, da união do Céu (masculino) e da Terra


(feminina) teriam nascido todas as coisas (vestígio das constantes celeste e telúrica). Os
próprios imperadores chineses eram vistos como “filhos do Céu”.

O homem possuiria um corpo e duas almas:

Alma “p’oh” – permanecia, depois da morte, junto ao cadáver no reino do deus da


terra (necessitava de alimentos, roupas, armas e utensílios; daí que junto aos túmulos dos
imperadores e nobres falecidos deviam ser enterrados suas mu-lheres, servos, cavalos e
demais instrumentos necessários para a vida após a morte);

Alma “hun” – separava-se do corpo, para gozar do reino do céu (os ante-passados
eram venerados como residentes do Reino dos Céus, protegendo seus descendentes).

Na busca do Caminho (“Tao”), muitos discípulos de Lao-Tse descambaram para a


alquimia, buscando encontrar a essência do Princípio Primeiro. O próprio taoísmo perdeu
seu vigor, na medida em que sua filosofia básica de quietismo, desprezo pelas virtudes
ativas, pelos negócios humanos e pelas ciências levou ao atraso do povo chinês.

j) Budismo

Fundador:

O fundador do budismo foi Siddhartha Gautama (560-480 a. C.), filho de um príncipe


indiano ksatriya (casta dos guerreiros). Casa-se jovem, tendo, além da esposa três
concubinas. Uma noite, quando tinha 29 anos, após ter contato com a miséria e o
sofrimento, abandona a família e os privilégios de casta e se torna um asceta ambulante
(rapa a cabeça e troca as roupas delicadas por uma veste áspera), em busca de uma
verdade superior, que explique e faça superar a dor neste mundo. Depois de jejuns e
rigorosas práticas ascéticas, que quase o le-vam à morte pelo seu excesso, percebe que a
verdade estaria no “Caminho Médio”, que se prontifica a difundir. Passa a ser chamado por
seus seguidores de Buda (“Iluminado”). Reúne em torno de si um grupo de discípulos (os
“bonzos”, monjes budistas), que procurarão viver sua doutrina, divulgando-a também entre
os leigos.

Doutrina Básica:

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O budismo, em sua forma original, não é uma religião (pois não fala em Deus ou
salvação como união com a divindade), nem uma ética (pois não propõe regras de vida para
o convívio social e carece da referência a um legislador supe-rior), mas um “caminho” para a
superação dos sofrimentos desta vida, em busca do Nirvana (a outra margem), onde a
pessoa se perderia no Todo, aniquilando-se integralmente.

O budismo admite a reencarnação como meio de contínua purificação dos seres, até
seu total aperfeiçoamento (milhões de anos, até atingir o estado de bodhisattva, última
reencarnação sob forma humana, antes de libertar-se total-mente da matéria).

A doutrina básica do budismo segue a seguinte cosmovisão:

Existência e Universalidade do Sofrimento – tudo o que existe, por ser


mutável e perecível, é duhkha (contingência, limitação, inconsis-tência,
decepção e angústia vital);

Origem e Causa do Sofrimento – é o desejo, que faz com que se bus-que


continuamente o contingente (samsara hindu);

Remédio do Sofrimento – é a aniquilação completa do desejo (estado de


impassibilidade, que só será perfeito no Nirvana, paraíso budista);

Meios para a Eliminação do Desejo:

Afastamento ou “saída do mundo” (tornar-se bonzo);

Práticas de exercícios de concentração (meditação) que levem a ani-quilar as


paixões ativas (refletir sobre as virtudes contrárias ou nas conseqüências do
prazer desordenado);

Vivência das 5 regras morais: 1) respeitar a vida de todos os seres viventes;


2) ser generoso com os próprios bens e não roubar os alheios; 3) abster-se
da impureza (viver a castidade); 4) ser amável no trato e não mentir; e 5)
abster-se das bebidas que embriagam (re-gras da lei natural).

Ramos:

Hinayana (“Pequeno Veículo”) – interpretação mais estrita da doutrina ori-ginal


budista, vivida pelos bonzos (maior importância à ascese, à impassibilidade pela aniquilação
do desejo) ;

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Mahayana (“Grande Veículo”) – interpretação menos rigorista do budismo original,


adaptada à vivência laical (busca da salvação, pela prática das boas obras, consistente num
estado de beatitude no nirvana, com o reconhecimento da existência de uma divindade).

k) Jinismo

O jinismo, como o budismo, surgiu a partir do hinduísmo, como movimen-to


heterodoxo, ao não aceitar a autoridade dos Vedas.

O fundador do jinismo foi Vadhamana Mahavira (séc. VI a. C.), que seguiu uma
trajetória semelhante a Buda: pertencente a uma família real, abandona a mulher e a filha
aos 28 anos, quando morrem seus pais, rapa a cabeça, renuncia à vida principesca e se
dedica durante 12 anos ao ascetismo, após os quais re-cebe uma “iluminação”, sendo
chamado, a partir de então, por seus discípulos de Jina (ou Yina, “o vitorioso”), dedicando-
se, pelo resto de sua vida, a pregar essa doutrina.

A doutrina básica do jinismo é formada pelos seguintes elementos:

Panteísmo - o que existe é o universo material, que é eterno;

Animismo - todos os seres teriam alma (pedras, plantas, animais, homem);

Politeísmo - não admissão de um Deus pessoal (os deuses seriam os


“perfeitos”: as almas dos que já alcançaram o nirvana);

Libertação do karma – a salvação se alcança através do esforço pes-soal,


mediante os exercícios ascéticos (jejuns e mortificações tão ri-gorosos, que
muitas vezes levavam à morte por inanição);

Moral – as mesmas cinco obrigações dos budistas;

Ahimsa (“Não Violência”) – respeito exagerado a todos os seres viven-tes (os


monjes jinistas caminham com uma escova na mão, para varrer do chão
qualquer animalzinho, para que não o pisem por des-cuido, pois matar
qualquer animal tem como pena a reencarnação em seres inferiores,
aumentando o tempo de estadia neste mundo).

Os discípulos de Jina se dividiram em dois ramos: os “vestidos de branco” e os


“vestidos de ar”, assim chamados por serem praticantes do nudismo (só os homens, uma
vez que estava proibida à mulher, que só se salvava depois de se reencarnar num homem).

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l) Zoroastrismo

O fundador do zoroastrismo foi Zoroastro (ou Zarathustra), nobre e sacer-dote persa


que viveu no século VI a. C., teve várias esposas e filhos e sucesso na pregação de sua
doutrina. O livro sagrado do zoroastrismo é o Zend-Avesta, re-sultado do recolhimento por
escrito das doutrinas do mestre em três períodos dis-tintos.

Para tentar explicar a existência do mal na Terra, o Zoroastro concebe um dualismo


de princípios: um Deus do Bem (Mazda ou Ormuz) e um Deus do Mal (Arimã), em luta
contínua, até a prevalência final do Bem sobre o Mal.

O dualismo religioso é uma das saídas equivocadas para a explicação da existência


do mal (outras são a negação de Deus pelo ateísmo ou a exclusão de Sua intervenção no
mundo pelo teísmo). Várias são as correntes filosófico-religio-sas que sustentaram esse
dualismo: pitagóricos, platônicos e neoplatônicos, gnósticos e herméticos.

Esse dualismo cosmológico se refletiria na própria constituição do homem: a alma,


que existiria antes da encarnação, é boa, enquanto o corpo, por ser com-posto de matéria, é
mau. O terreno é o campo do Deus do Mal e de seus demôni-os, enquanto o celeste é o
campo do Deus do Bem e dos sete espíritos que o ser-vem e acompanham (esses espíritos,
intermediários entre Deus e os homens, se-rão posteriormente considerados também
divinos, formando o cortejo de Mazda: Mitra, deus do Sol; Anahita, deusa das águas e da
fecundidade; Vayu, deus da vi-tória; etc).

A iniciação na religião zoroástrica se fazia aos 7 anos de idade, depois que a criança
houvesse aprendido as orações mais importantes, recebendo do sacer-dote uma faixa de
algodão, com fitas e trançados, que levará nas cerimônias.

As crenças básicas do zoroastrismo são na imortalidade da alma e na exis-tência de


um prêmio ou castigo eterno, depois da submissão da alma a um juízo, havendo a
restauração do Universo, quando o Deus do Bem derrotar o Deus do Mal.

m) Maniqueísmo

O fundador do maniqueísmo foi Manes (216-286), que se autodenominou Khayya (=


“O que participa da Vida”, em sírio), de onde o nome Manikkaios em grego. De origem nobre
(partos), afasta-se da religião de seus pais quando ouve, por três vezes, uma voz que lhe
diz: “Não comas carne, não bebas vinho e afasta-

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te das mulheres”. Depois dessa inspiração, inicia a pregação de uma nova doutri-

na, de caráter dualista, considerando o espírito bom e a matéria má. Percorre a Índia e a
Pérsia pregando sua nova religião, sendo finalmente preso pelos magos persas, morrendo
na prisão.

Os pontos principais do maniqueísmo são:

Dualismo religioso – Na origem, havia uma separação total entre o Bem (“Pai
da Luz”) e o Mal (“Príncipe das Trevas”), que se mistura-ram na criação do
mundo; apenas pelo sofrimento e pela vinda de um libertador é que se
chegará à restauração universal, com a sepa-ração definitiva entre bons
(“Reino do Bem”) e maus (“Reino do Mal”).

Vinda de espíritos esclarecidos ao mundo, para revelar o caminho de


salvação aos homens (Adão, Noé, Abraão, Buda, Zoroastro, Jesus Cristo e,
finalmente, Manes);

Redenção pelo conhecimento (gnose), abstendo-se de tudo o que seja carnal


(vegetariano, abstêmio de bebidas alcoólicas e de relações se-xuais).

Os Livros Sagrados do maniqueísmo foram escritos diretamente por Ma-nes, sendo


sete: Sabuagã, o Evangelho Vivente, o Tesouro da Vida, Pragmateia, o Livro dos Mistérios,
o Livro dos Gigantes e as Cartas.

O maniqueísmo virá a desaparecer, sendo sua última manifestação a dos cátaros (ou
albigenses) na França do século XI. O termo “maniqueu” ficará para designar a concepção
dualista do mundo, da divisão dos homens em bons e maus.

n) Islamismo

Fundador:

O fundador do islamismo foi Maomé (570-632), nascido num poderoso clã árabe,
perde cedo seus pais, sendo educado pelos avós e tios para o comércio iti-nerante. Em suas
viagens toma contato com o judaísmo e cristianismo. Casa-se com uma viúva rica, 15 anos
mais velha, que lhe dá todo o apoio e meios econô-micos quando, aos 40 anos, depois de
fortes experiências espirituais, nas quais diz ter recebido a revelação do arcanjo S. Gabriel,
começar a pregar sua nova doutrina monoteísta de submissão total a Alah dado à religião
(daí o nome de Islã [“Islam” = submissão]) e de muçulmano [“muslim” = submisso] para os
seus
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adeptos. A perseguição levada a cabo por seus conterrâneos (afeitos ao politeísmo reinante
entre as tribos árabes) fará com que tenha que fugir de Meca para Medi-

na no ano de 622 (é a hégira, que marca o início do calendário muçulmano). Após a morte
de sua primeira mulher, casa-se com várias outras, defendendo, a partir de então, a
poligamia. Reunindo muitos adeptos ao seu redor, volta para Meca, apodera-se da cidade e
inicia a guerra santa (“jihad”) para levar a religião “revela-da” a todas as tribos árabes,
começando pela Síria (o Islã passa a ser não apenas uma religião, mas o próprio Estado
muçulmano, onde o religioso e o temporal se confundem).

Livro Sagrado:

O livro sagrado do islamismo é o Alcoorão (“Corán” = declamação), recebido por


Maomé do arcanjo S. Gabriel, que o traduziu para o árabe, do original celeste que estaria
diante de Alah (como Maomé se dizia o último profeta de Alah, numa cadeia que começa em
Noé, passando por Abraão, Ismael, Moisés, João Batista e Jesus Cristo, aproveita muitos
elementos judaico-cristãos, além de algumas tra-dições árabes mais arraigadas no povo,
como a veneração à Kaaba, “pedra negra”, que era foco de peregrinações em Meca).

Além do Alcoorão, os muçulmanos têm a Suna (“Sunna” = tradição): reco-lhimento,


por escrito, dos ensinamentos e da vida de Maomé, interpretando o li-vro sagrado (que pode
também ser livremente interpretado pelos muçulmanos, salvo sobre os raros pontos em que
há um acordo comum de toda a comunidade islâmica).

Doutrina Básica:

Os pontos básicos da doutrina islâmica podem ser resumidos nos seguin-


tes:

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Monoteísmo – “Alah é o único Deus e Maomé é o seu profeta” é a fra-se que


resume a crença muçulmana.

Criação – além do mundo material, do qual faz parte o homem, exis-tem as


criaturas espirituais (anjos e demônios).

Escatologia – as ações dos homens serão premiadas com o Paraíso ou


punidas com o Inferno, conforme sejam boas ou más, de acordo com os
preceitos do Alcoorão;

Moral – os muçulmanos devem cumprir os 5 preceitos básicos (“pila-res do


Islã”), que consistem em: 1) Profissão de fé, reconhecendo Alah como único
Deus e Maomé como seu profeta; 2) Recitação da oração canônica 5 vezes
ao dia (amanhecer, meio-dia, tarde, pôr-do-sol e noite), ajoelhado,
prostrando-se em direção a Meca (na sexta-feira, dia sagrado da semana
islâmica, devem participar da oração

do meio-dia na mesquita); 3) Dar esmola; 4) Jejum durante todos os dias


do mês de Ramadã (do nascer ao por do sol), abstendo-se de alimentos,
bebidas, fumo, perfumes e relações sexuais; e 5) Peregri- nação a Meca
uma vez na vida.

Principais Seitas:

Sunitas – tradicionalistas, partidários do respeito total à Sunna e aos ante-


passados (maior parte dos muçulmanos).

Xiitas – radicais, consideram o único pecado grave o da apostasia (perda da fé


muçulmana), que deve ser punido com a morte (no entanto, condenam a di- nastia
omíada por ter assumido o poder com o crime de sangue de seu primeiro califa).

o) Judaísmo

Fundador:

O judaísmo tem sua origem na chamada que Abraão (séc. XIX-XVIII a.C.) recebe
para deixar sua parentela e sua terra natal de Ur, na Caldéia, pois Deus pretende fazer
dele um povo eleito, que lhe preste o culto devido, numa terra pro- metida em Canaã.
Completa-se com a revelação de Deus a Moisés (séc. XIII a. C.) no Monte Sinai, quando
lhe entrega as Tábuas da Lei (10 Mandamentos) e lhe mostra como deve ser o culto
sacrificial.

Livro Sagrado:

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Tem como livros sagrados a Torá (é o Antigo Testamento da Bíblia Cristã,


composto de 46 livros, que contém a Lei Mosaica e a História do Povo Eleito) e o Talmud
(tradição oral e adaptação da lei à casuística da vida diária pelos rabinos e doutores da
lei).

ANTIGO TESTAMENTO
LIVROS HISTÓRICOS (21 livros)
LIVRO CONTEÚDO BÁSICO PERSONAGENS PRINCIPAIS
Gênesis Criação, Pecado Original, Dilúvio, Adão, Eva, Caim, Abel, Noé, Abraão,
Formação inicial do Povo Eleito Isaac, Ismael, Jacó, Esaú e José
Êxodo Saída do Egito, Peregrinação pelo Moisés
Deserto, Aliança no Sinai
Levítico Culto Sacrificial e Leis Religiosas Aarão
Números Censo e Revoltas no Deserto Caleb

Deuteronômio Mandamentos e Leis Morte de Moisés


Josué Conquista da Terra Prometida Josué e Raab
Juízes Luta contra os povos da Palestina Débora, Gedeão, Sansão e Dalila
(filisteus, cananeus, madianitas)
Ruth Ascendência moabita do Rei Davi Ruth, Booz e Noemi
Samuel I Início da Monarquia Israelita Samuel e Saul
Samuel II Reinado de Davi Davi e Absalão
Reis I Divisão em dois Reinos, de Judá e Salomão, Roboão, Jeroboão, Acab,
de Israel Elias e Jezabel
Reis II História da Monarquia e Quedas Eliseu, Ezequias e demais reis
de Israel (Assírios) e Judá (Babilô-
nios)
Crônicas I e II Resenha da História de Israel Todos do A.T., até fim da monarquia
Esdras Volta do Cativeiro da Babilônia Esdras, Ciro
Neemias Reconstrução do Templo e da Lei Neemias
Tobias História de Tobias e de S. Gabriel Tobias
Judith Ameaça dos Medos a Israel Judith, Holofernes
Ester Ameaça dos Persas aos judeus Xerxes, Assuero, Amã e Mardoqueu

2
5
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Macabeus I e Luta dos Judeus contra o domínio Antíoco, Matatias, Judas Macabeu
II seleucida na Palestina
LIVROS SAPIENCIAIS (7 livros)
Jó Sentido do sofrimento e comportamento do justo diante da dor
Salmos Cânticos de Davi (Livro de orações dos judeus)
Provérbios Ensinamentos de Salomão
Eclesiastes (Coelet) Meditações sobre a instabilidade da vida humana e suas vaidades
Cânticos dos Cânticos Poemas sobre o amor humano, aplicados ao amor divino
Sabedoria Louvor à Sabedoria Divina
Eclesiástico (Sirac) Aplicação dos mandamentos às mais variadas situações da vida
LIVROS PROFÉTICOS (18 livros)
LIVRO PERÍODO CONTEÚDO BÁSICO
Isaías Reino de Judá Messias sofredor (Servo de Javé), Virgem Mãe
Jeremias Reino de Judá Judá como o barro nas mãos do oleiro pelo pecado

Lamentações Cativeiro na Babilônia Elegias de tristeza pela queda de Jerusalém


Baruc Cativeiro na Babilônia Palavras de consolo e esperança ao povo cativo
Ezequiel Reino de Judá Prevê os castigos pela idolatria de Judá e sua recu-
peração (ossos secos que se reencarnam)
Daniel Cativeiro na Babilônia Fornalha Ardente, Cova dos Leões, Banquete de
Baltazar, Apocalipse, 70 semanas de anos, Suzana
Oséias Reino de Israel Israel como esposa infiel de Deus a ser castigada
(Oséias casa-se c/1 prostituta, por mandato divino)
Joel Restauração de Israel Apelo ao jejum e à penitência pelos pecados
Amós Reino de Israel Prevê a queda de Samaria e posterior restauração
Abdias Cativeiro na Babilônia Castigo para os povos que espezinharam Israel
Jonas Domínio Assírio Prega a penitência para Nínive, para não sucumbir
Miquéias Reino de Judá Julgamento de Samaria e Judá; Belém como cida-
de onde nascerá o Messias esperado
Naum Reino de Judá Oráculo contra Nínive, prevendo sua ruína
Habacuc Reino de Judá Queda de Jerusalém, mas punição final do invasor
Sofonias Reino de Judá Castigo aos pecadores e preservação dos justos
Ageu Restauração de Israel Reconstrução do Templo de Jerusalém
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Zacarias Restauração de Israel Reforma moral e apocalipse de um reino de paz


Malaquias Restauração de Israel Amor de Deus p/seu povo, castigando os inimigos

Características:

O que mais impressiona no judaísmo é ser uma religião monoteísta, quan- do


todos os povos da Antigüidade eram politeístas. A elevada concepção de Deus que o
judaísmo tem só se explica quando se reconhece o seu caráter de religião revelada,
ainda que nela possam ser encontradas as constantes celeste (divindade masculina e
altíssima), étnico-política (povo eleito, esperando até hoje um messi- as libertador
político, formando um Estado teocrático) e telúrica (idolatria nos momentos de
infidelidade do povo eleito à aliança divina, adorando o bezerro de ouro ou os Baais
fenícios, sendo castigados com as invasões a Israel e Judá e de- portações).

Javé é o Deus único, de caráter espiritual (não representado por qualquer


imagem, ainda que descrito com traços psicológicos humanos), transcendente (criador do
mundo, sem se confundir com ele), moralizador (exige um comporta- mento ético, porque
Ele próprio é Santo, diferentemente dos deuses dos outros

povos, envolvidos em adultérios, astúcias e trapaças) e providente (preocupa-se de suas


criaturas, ao contrários dos deuses pagãos, preocupados apenas com seus descansos e
aventuras).

Mandamentos:

A Lei Mosaica, revelada por Deus a Moisés no Monte Sinai, se resume nos Dez
Mandamentos:

1. Não ter outros deuses além de Javé (Amar a Deus sobre todas as coisas, não
fabricando ídolos e a eles devotando culto)

2. Não pronunciar o Santo Nome de Deus em vão (As 4 consoantes Hebrai-cas


YHWH, de difícil pronúncia por faltarem as vogais, faziam com que se usasse para Deus o
designativo de “Adonay” = “Senhor”, ou o étnico de “Deus de Abraão, Isaac e Jacó”)

3. Guardar o dia de Sábado para santificá-lo (é o “Sabath”, dia sagrado ju-daico, de


descanso e oração)

4. Honrar pai e mãe

5. Não matar
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6. Não cometer adultério

7. Não roubar

8. Não levantar falso testemunho

9. Não desejar a mulher do próximo

10. Não cobiçar as coisas alheias


Culto Sacrificial:

Para a purificação pelos pecados cometidos, o povo deve oferecer sacrifícios a


Deus, com derramamento de sangue. Cabe aos membros da tribo de Levi o exercício do
sacerdócio na Antiga Lei (Na divisão de Canaã, a tribo de Levi não re-cebe nenhum
quinhão, dedicando-se inteiramente ao culto; o território é dividido pelas tribos de Rúben,
Simeão, Judá, Issacar, Zabulão, Benjamin, Gad, Asser, Dã, Neftali, Manassés e Efraim,
sendo estes dois últimos filhos de José, que já havia morrido).

Os sacrifícios eram, basicamente, de 5 tipos:

cordeiro pascal – imolado na libertação do cativeiro do Egito.

vítimas pacíficas - ovelhas e bois imolados.

holocausto - a vítima era queimada após o sacrifício, não ficando ne-nhuma


parte para o sacerdotes;

bode expiatório - ao qual o sacerdote contava ao ouvido os pecados do


povo, antes de matá-lo;

ofertas vegetais – impetratórias para que Deus lhes fosse propício.

Após a destruição do Templo de Jerusalém, com a diáspora do povo hebreu pelo


mundo, cessam os sacrifícios cruentos e o culto passa a ser de orações e je-juns, realizados
nas sinagogas.

p) Cristianismo

Fundador:

A religião cristã se distingue de todas as demais por ter como fundador o Deus-
homem, Jesus Cristo (0-33). Personagem histórico referido por historiado-res como Tácito,
Flávio Josefo, Suetônio e Luciano, nasceu em Belém da Judéia, na pobreza total de um
presépio, de Maria Virgem, no tempo do Imperador Roma-no Otávio César. Viveu em
Nazaré, trabalhando como carpinteiro até os 30 anos,
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quando começou sua pregação, surpreendendo pela sabedoria profunda, quando carente
de estudos. Formou um grupo de discípulos mais próximos (apóstolos), corroborou a
autoridade de seus ensinamentos com milagres (curas e domínio so-bre as forças da
Natureza), e manteve-se celibatário durante toda a sua vida, vin-do a morrer flagelado e
crucificado no tempo do Imperador Tibério César, quando era procurador da Judéia Pôncio
Pilatos, abandonado de seus discípulos. Ressus-citado ao terceiro dia, passou 40 dias
confirmando em sua doutrina os apóstolos, até sua ascensão ao Céu.

Ao contrário dos demais fundadores de religiões, que se dizem enviados de Deus,


Jesus se diz “igual ao Pai”, da mesma natureza divina, ensinando com au-toridade própria
(“Foi dito aos antigos...”; “Pois Eu vos digo...”).

Livro Sagrado:

A Bíblia, composta pelo Antigo Testamento (comum aos judeus) e pelo Novo
Testamento, integrado por:

EVANGELHOS – Vida de Cristo (4 livros)


AUTOR CARACTERÍSTICAS
S. Mateus Escrito pelo apóstolo Levi (publicano) para os judeus, buscando mostrar que
Jesus é o Messias prometido (n’Ele se cumprem as profecias do AT) e que a

Igreja por Ele fundada é o novo Reino de Deus (escrito originariamente em


hebraico, entre 40-50 d.C.)
S. Marcos Escrito pelo discípulo João (primo de S. Barnabé) para os cristãos vindos da
gentilidade (recolhendo a pregação oral de S. Pedro), buscando mostrar que
Jesus é o Filho de Deus encarnado (daí que dê mais destaque aos milagres do
que aos discursos de Cristo, sendo escrito em grego vulgar, entre 55-62 d.C.)
S. Lucas Escrito pelo discípulo de S. Paulo, Lucas, que era médico e buscou compor
uma história ordenada e documentada da vida de Cristo (dirigida nominal-
mente a Teófilo), que servisse de fundamento para os ensinamentos recebi-
dos (escrito em grego literário, entre 60-63 d.C.)
S. João Escrito pelo apóstolo João, para completar o que os outros evangelhos não
trouxeram (omite passagens que já se encontram neles) e para mostrar o sen-
tido mais profundo dos discursos e fatos da vida de Cristo (escrito em grego,
no final do século I)
EPÍSTOLAS – Ensinamentos de Cristo (livros)
AUTOR LIVRO CARACTERÍSTICAS

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S. Paulo I Tessalonicenses Escrita desde Corinto, em 51 d.C., durante a 2ª viagem,


para animar os tessalonicenses diante das perseguições
e para resolver a questão da época da parusia (2ª vinda
de Cristo) e se os mortos a veriam.
II Tessalonicenses Escrita também desde Corinto, em 52 d.C., em face dos
efeitos da 1ª Carta, para exortar a trabalhar e não ficar
ociosos esperando a parusia (estavam ainda inquietos).
I Coríntios Escrita desde Éfeso, em 57 d.C., durante a 3ª viagem,
para corrigir alguns abusos (incesto, divisões, litígios e
fornicação) e responder a consultas dos coríntios (ma-
trimônio e celibato, uso das carnes imoladas, culto, ca-
rismas e ressurreição dos mortos).
II Coríntios Escrita desde Filipos, em 57 d.C., depois de deixar Éfe-
so a caminho de Corinto, preparando sua chegada, pois
os problemas tratados na epístola anterior não se havi-
am resolvido (faz uma apologia de seu apostolado e es-
timula a uma coleta em favor de Jerusalém)
Romanos Escrita desde Corinto, em 58 d.C., ao final da 3ª via-
gem, anunciando sua ida a Roma e desenvolvendo o
tema da justificação pela fé em Cristo e pela graça (fala
da lei natural para os gentios).
Gálatas Escrita no mesmo local e data da epístola aos romanos,
aborda a mesma temática da justificação, num estilo
mais enérgico, diante da aparente defecção dos gálatas
(introdução de heresias judaizantes na comunidade).

Colossenses Escrita durante o 1º cativeiro de S. Paulo em Roma


(61-63 d.C.), combatendo os desvios gnósticos dos co-
lossenses, dando-lhe o verdadeiro sentido (buscar as
coisas do alto e não a sabedoria humana), destacando a
dignidade supereminente de Cristo.
Efésios Epístola do cativeiro, combatendo o gnosticismo e ex-
pondo o “mistério” ou plano divino da salvação (esco-
lha de cada um para a santidade), que se cumpre na
Igreja (Corpo Místico de Cristo).
Filipenses Escrita no cativeiro (contando detalhes de como se en-
contrava), para incentivá-los a perseverar na fé, imitan-
do o modelo de Cristo.
Filemôn Escrita desde o cativeiro para interceder por um escra-
vo perante o seu dono (fala da igualdade natural entre
os homens, ainda que não ataque a escravidão).
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I Timóteo Escrita ao Bispo de Éfeso após a 1ª catividade, em 65


d.C., desde a Macedônia, fala da organização hierárqui-
ca da Igreja e do culto público, e do modo de dirigir a
sua diocese.
Tito Escrita ao Bispo de Creta também após a 1ª catividade,
em 65 d.C., desde a Macedônia, dando critérios sobre o
governo da Igreja e sobre os falsos doutores.
Hebreus Destinada ao cristãos procedentes do judaismo que vi-
viam em Jerusalém e escrita entre 64-66 d.C., desde a
Itália, fala da superioridade da Nova sobre a Antiga
Aliança (sacerdócio e sacrifício redentor de Cristo).
II Timóteo Última epístola paulina, escrita em seu 2º cativeiro em
Roma, no ano 67 d.C., exorta o bispo a permanecer fir-
me na doutrina (fala da inspiração dos livros sagrados e
do juízo particular).
S. Tiago Epístola Escrita por Tiago Menor, primo de Cristo e Bispo de
Jerusalém, entre 35-50 d.C., falando da necessidade das
obras para a salvação (junto com a fé) e da bem-aven-
turança da pobreza (menciona o sacramento da unção
dos enfermos e fala dos abusos da língua).
S. Pedro I Epístola Escrita entre 63-64 d.C. desde Roma, destinada aos
cristãos da Ásia Menor, exortando-os a viver com ple-
nitude as exigências da vida cristã (infância espiritual),
permanecendo firmes nas tribulações.
II Epístola Escrita entre 64-67 d.C. desde Roma, para os mesmos
destinatários, alertando sobre os falsos doutores e tra-

tando da parusia (exortação à santidade).


S. João I Epístola Escrita entre 95-100 d.C., desde Éfeso, para os cristãos
da Ásia, opondo-se aos erros do gnosticismo (Deus é a
Luz, a Justiça e o Amor), devendo fugir do pecado.
II Epístola Escrita na mesma época a uma das Igrejas da Ásia, para
fugir dos erros dos falsos pregadores (ebionitas).
III Epístola Escrita na mesma época, dirigida a Gayo, com exorta-
ções a ele e recriminações aos que se desviaram.
S. Judas Epístola Escrita pelo irmão de Tiago Menor e primo de Cristo,
entre 70-80 d.C., falando da Santíssima Trindade, dos
anjos bons e maus e do juízo final.
APOCALIPSE – Visão do Futuro (1 livro)

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AUTOR CARACTERÍSTICAS
S. João Revelação feita ao apóstolo sobre o futuro da Igreja, com o fim de consolá-la
perante as tribulações que passará (escrita em 95 d.C. na ilha de Patmos): a)
Mensagens às 7 Igrejas da Ásia; b) Visão do Trono de Deus, com os 24 an-
ciãos, os 4 animais e o Cordeiro degolado; c) Livro dos 7 Selos; d) Visão das
7 Trombetas; e) Luta do Dragão contra a Mulher e S. Miguel; f) O Surgi-
mento da Besta; g) O Cordeiro e seus servidores; h) As 7 taças da Ira de
Deus; i) Os 4 Cavaleiros do Apocalipse; j) Castigo de Babilônia; k) Extermí-
nio da Besta; l) A Nova Jerusalém Celeste.

Os hagiógrafos (autores sagrados) escreveram sob inspiração divina, reco-lhendo


por escrito parte dos ensinamentos e da vida de Cristo. O que não foi reco-lhido por escrito
faz parte da Sagrada Tradição (que, posteriormente, foi sendo re-gistrada pelos primeiros
Padres da Igreja e está viva no sentir do povo cristão [sensus fidei fidelium], interpretada
autenticamente pelo Magistério da Igreja).

Desenvolvimento Histórico:

Primeiros Cristãos – tanto judeus como gentios convertidos ao cristianismo eram


cidadãos correntes do Império Romano, que trabalhavam nas suas respecti-vas profissões,
procurando santificar-se no meio das suas atividades profissionais e difundir a mensagem
de Cristo.

Primeiras Heresias – os principais desvios em relação aos ensinamentos originais


de Cristo foram os seguintes: a) judeu-cristianismo (exigir a observância da lei mosaica e da
circuncisão); b) gnosticismo (sincretismo religioso com corren-tes orientais, apresentando o
cristianismo como uma sabedoria superior ao al-cance apenas de alguns eleitos); c)
arianismo (Jesus Cristo não seria Deus, mas inferior ao Pai); d) macedonianismo (negava a
divindade do Espírito Santo); e)

nestorianismo (negava a maternidade divina de Nossa Senhora); f) monofisismo (negava


as duas naturezas de Cristo, humana e divina, unidas na única Pessoa do Verbo Divino) e
g) pelagianismo (salvação sem necessidade da graça divina, pe- las puras forças
humanas).

Perseguições – Nero, Trajano, Décio, Valeriano, Diocleciano e Juliano (o Apóstata),


onde os cristãos souberam dar a vida pela fé que professavam (muitos foram mártires).

Liberdade Religiosa – conseguida através do estatuto de tolerância para os cristãos


(Edito de Galério, de 311), da concessão de liberdade religiosa (Edito de Milão, de
Constantino, de 313) e da transformação do Cristianismo em religião oficial do Império
Romano (com Teodosio, em 380).
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Conversão dos Povos Bárbaros – Clodoveu (francos), Recaredo (visigodos), S.


Estêvão (magiares), S. Wenceslau (bohemios), Duque Miesko (polacos), S. Wla- dimir
(russos) e seus respectivos povos.

Ordens Religiosas – diante da cristianização da sociedade, mas da munda- nização


do cristianismo vivido então pelos povos bárbaros, surgem as vocações de afastamento do
mundo, para se consagrar inteiramente a Deus: beneditinos, franciscanos, dominicanos,
jesuítas, etc.

Sociedade Cristã Medieval – penetrada inteiramente pelo ideal cristão (ideal de


cavalaria, com valorização da palavra dada; fundação das Universidades; cons- trução das
grandes Catedrais; etc).

Cruzadas e Inquisição – aspectos da unidade político-religiosa: as guerras de


defesa contra a expansão árabe acabavam tendo feição religiosa (libertar a Ter- ra Santa
do domínio mouro, que impedia as peregrinações e profanava os lugares santos) e os
pecados mais graves contra a religião eram considerados crimes con- tra o Estado
(utilizando-se, para o julgamento dos hereges, o processo inquisitório do Direito Civil
vigente, que admitia o uso da tortura, para se obter a confissão do acusado, em face da
ausência de outros meios de prova para se chegar à verdade dos fatos).

Cismas – dos ortodoxos (1054) e dos protestantes (1521), esfacelando-se, estes


últimos, em infinidade de confissões distintas, cada vez mais afastadas da tradição católica
original:

PRINCIPAIS CONFISSÕES CRISTÃS SEPARADAS DA IGREJA CATÓLICA


CONFISSÃO FUNDADOR INÍCIO CARACTERÍSTICAS
Ortodoxos Miguel Ceru- 1054 Cisma das Igrejas Orientais, a partir da sede de

lário Constantinopla, calcado numa distinção teoló-


gica do Credo, mas de caráter disciplinar, recu-
sando a autoridade do Papa e da Igreja Católi-
ca Latina, mas mantendo todos os sacramen-
tos.
Luteranos Martinho Lu- 1520 Dá início à reforma protestante na Alemanha,
tero sustentando a livre interpretação da Bíblia
(fonte exclusiva da Revelação), a corrupção to-
tal da natureza humana (com a negação da li-
berdade humana), a salvação apenas pela fé e a
rejeição dos sacramentos da Ordem, Eucaristia
e Confissão.

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Calvinistas João Calvino 1525 Deflagra a reforma protestante na Suiça, sus-


tentando a predestinação de justos e condena-
dos, sendo o sinal da predestinação para a sal-
vação o sucesso nos negócios e a adesão à
Igreja Reformada.
Anglicanos Henrique VIII 1534 Para divorciar-se de sua 1ª esposa, declara-se
Chefe da Igreja da Inglaterra e separa-se de
Roma, rejeitando alguns sacramentos, mas não
os sacerdotes e os bispos (chamados, por isso,
de ”episcopalistas”).
Presbiterianos João Knox 1540 Reforma da Igreja Anglicana na Escócia, ado-
tando o calvinismo como doutrina e rejeitando
o episcopado, mas mantendo os “presbíteros”
para governarem as comunidades (negando, no
entanto, o sacramento da Ordem).
Puritanos Roberto 1580 Reforma da Igreja Anglicana, buscando “puri-
Browne ficá-la” de todas as suas tradições católicas.
Pregou a total independência disciplinar e dou-
trinária, mas seus seguidores (Greenwood e
Barrow) instituem, em 1592, a forma “congre-
gacionalista”: chamado pessoal, mas com asso-
ciação para edificação mútua, elegendo-se os
pastores pela comunidade, cada uma com total
independência (Vieram para os EUA no navio
Mayflower).
Batistas João Smith 1604 Dissidência do Anglicanismo, buscava uma re-
forma mais espiritual, rejeitando uma hierar-
quia visível (cada pastor governa o seu reba-
nho), a liturgia e pregando a necessidade de
um novo batismo dos adultos, por imersão.
Quakers Jorge Fox 1649 Dissidência do Anglicanismo, dá ênfase à “ilu-

minação interior” direta de Deus, que faz “tre-


mer” (quake), tendo a Bíblia em segundo plano
e negando a necessidade do Batismo.
Metodistas João Wesley 1738 Reforma da Igreja Anglicana, buscando um
ideal de santidade, segundo uma regularidade
de vida (“método”) e cumprimento dos própri-
os deveres (salvação pelas obras), ressaltando a
experiência mística (relação com o Espírito
Santo).

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Adventistas do Guilherme 1816 Dissidente dos Batistas, previu, com base nas
Sétimo Dia Miller Escrituras, a 2ª Vinda de Cristo para o ano de
1844 (Ellen White, sua discípula, explicou, de-
pois, que, nesse ano, Cristo teria começado o
julgamento dos já falecidos). Rigorismo ético
(proibição do fumo e do álcool).
Mormons José Smith 1820 Dissidente dos Metodistas, teria recebido a re-
velação do anjo Moroni, para restaurar a antiga
Igreja de Cristo (nos EUA), pregando um Deus
uno e defendendo a poligamia. O seu “Livro de
Mórmon” seria a 3ª Revelação (depois do An-
tigo e Novo Testamentos).
Testemunhas Carlos Russel 1874 Dissidente dos Adventistas, sustentou que o
de Jeová fim do mundo se daria em 1918: prega um
Deus Uno (nega a Ssma. Trindade), a recriação
das almas depois da batalha final de Harmage-
don e rejeita todas as religiões e instituições
políticas, como satânicas.
Pentecostais Carlos 1900 Dissidência da Igreja Metodista, dando maior
Parham ênfase às manifestações do Espírito Santo:
lado emocional, fenômenos milagrosos e fun-
damentalismo bíblico (Assembléias de Deus e
Igreja Universal do Reino de Deus).

Expansionismo Apostólico – colonização da África, América e Ásia, em que os


navegadores e colonizadores eram acompanhados por sacerdotes e frades que

tinham por ideal pregar a mensagem cristã a todos os povos de todas as raças.
º
Busca da Reunificação – esforços do Papa João Paulo II para iniciar o 3 Milênio
com a volta da unidade entre os cristãos.

Separação da Igreja e do Estado – da confusão advinda de se tornar reli-gião


oficial do Império Romano, até o término dos Estados Pontifícios, com a reu- nificação
italiana, verifica-se a prevalência do caráter fundamentalmente espiritu-

al da mensagem da Igreja (os efeitos colaterais serão a instauração da Justiça So-


cial).

Doutrina Básica:

O conjunto básico da doutrina cristã encontra-se resumido no Credo (ou “Símbolo


dos Apóstolos”), cuja estrutura ficou estabelecida após os Concílios de
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Nicéia (325) e de Constantinopla (381). Daí chamar-se, também, “Símbolo Niceno-


Constantinopolitano”. Contribuíram para essa formulação também os Concílios de Éfeso
(431) e Calcedônia (451). As verdades básicas nele definidas são:

Unidade e Trindade de Deus – Monoteísmo Trinitário, em que Deus Pai, ao se


conhecer, gera intelectualmente Deus Filho e, do Amor perfeito entre o Pai e o Filho
procede o Espírito Santo (Vida Íntima da Santíssima Trindade, intelectual e afetiva);

Encarnação, Paixão e Morte de Cristo – Deus Filho assume a natureza hu- mana,
para libertar o homem do jugo do pecado, morrendo na Cruz e ressusci- tando depois;

Unidade da Igreja de Cristo – Instituição fundada por Cristo para dar conti- nuidade
à pregação de sua mensagem, até o final dos tempos (em que se dará a ressurreição da
carne e o juízo universal, com prêmio e castigo eternos), com to- dos os fiéis batizados
formando uma comunhão.

Culto:

Os meios que Cristo instituiu para dar ao homem a sua salvação denomi-nam-se
sacramentos (sinais sensíveis de uma realidade que permanece oculta, que é a graça
divina, isto é, uma participação na natureza divina, pela qual o ho- mem se torna filho
adotivo de Deus).

SACRAMENTO NO QUE CONSISTE


Batismo Nascimento para a vida cristã, pelo recebimento da graça e remição
do pecado original, com o derramamento de água na cabeça do ba-
tizando e pronunciando-se as palavras sagradas.
Crisma Confirmação e Maturidade cristã, pela infusão maior do Espírito
Santo, através da imposição das mãos do bispo ou sacerdote.
Eucaristia Alimento espiritual, em que se recebem o Corpo e o Sangue de
Cristo, sob as espécies de pão e vinho consagrados na Missa.
Confissão Remição dos pecados pela sua acusação perante o sacerdote.
Unção dos Enfermos Alívio na doença e preparação para uma morte cristã.

Ordem Consagração do sacerdote, para poder administrar os sacramentos,


ensinar com a autoridade da Igreja e dirigir os fiéis.
Matrimônio Consagração da união conjugal, para que seja una, indissolúvel e
fecunda e conte com a ajuda divina para superar as dificuldades.
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Na administração dos sacramentos, segue-se a liturgia (modo de se cele-brar as


cerimônias), revivendo-se, ao longo do ano, a vida de Cristo, especialmen- te na
celebração do Santo Sacrifício do Altar, que é a Santa Missa.

Doutrina Moral:

Jesus Cristo, no sermão da montanha (Mat 5-7), deixa claro que não vem para
revogar a Antiga Lei (10 Mandamentos), mas para aperfeiçoá-los. Assim, a moral cristã
contém exigências maiores do que a moral judaica: amor aos inimi-gos (frente à lei do
talião: “olho por olho e dente por dente”); indissolubilidade do matrimônio (frente à
admissão do divórcio pela lei mosaica); etc.

6. Formas religiosas derivadas ou degeneradas

A par das constantes religiosas e das religiões estabelecidas, desenvolve-ram-se,


ao longo dos séculos, algumas formas secundárias, que apenas impropri- amente podem
ser chamadas de religiosas, uma vez que constituem degeneração da religião. São elas:

Animismo – crença em que todos os seres possuem alma (animais, plantas e até
os minerais) e, por isso, são, como o homem, dotados de uma inteligência e de uma
vontade, ainda que não perfeitamente discerníveis.

Chamanismo – crença no poder de projetar o próprio espírito no mundo dos


espíritos (através de jejuns, flagelações e transes), obtendo, assim, ajuda para cura de
doenças e predição do futuro (druidas celtas, yogas hindus, derviches is- lâmicos, etc).

Fetichismo – crença mágico-religiosa nos poderes sobre-humanos de obje-tos


naturais ou artificiais (amuletos, talismãs, etc). Também chamada de supers- tição (tribos
africanas). Contemporaneamente, manifesta-se na crença no horós- copo: influência dos
astros na vida humana, determinando o comportamento.

Magia – crença na força impessoal existente em certos objetos ou ritos, que,


dirigidos e aplicados em determinadas cerimônias, podem conseguir objeti- vos humanos,
predominantemente materiais, quer sejam benéficos (magia bran- ca), quer sejam
maléficos (magia negra). É também denominada de feitiçaria.

Totemismo – crença no parentesco de indivíduos ou grupos étnico-políticos

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com um objeto inanimado, planta ou animal: descendência comum de um totem (tribos


americanas e australianas).

Panteísmo – crença num Deus que se confunde com a Natureza: Deus ima-nente ao
Cosmos (religiosidade hindu, onde Brahma é a substância primogênita de todos os seres).

Politeísmo – crença na existência de vários deuses, derivada da deificação das


diversas forças da Natureza, da divinização dos diferentes atributos da Divin-dade e da
individualização divinizada das diferentes designações de uma mesma divindade, conforme
o local em que se lhe prestava o culto.

Ateísmo – pretensa negação da existência de Deus, que, na realidade, se manifesta


na substituição de Deus por algum ídolo (a Razão, a Força, o Estado, a Raça, a Matéria, o
Dinheiro, o Sexo, etc), já que a “morte de Deus”, apregoada por Nietzsche, só levaria à
“morte do homem”, como ressaltou Foucault. Não existem ateus, teóricos ou práticos, mas
diferentes espécies de idolatrias. O ateísmo vai li-gado ao materialismo, negando qualquer
tipo de supervivência no além (prêmio e castigo são nesta terra). O ateísmo de base
científica (não generalizado, uma vez que muitos cientistas fazem questão de reconhecer a
Deus) deve ser atribuído à falta de conhecimento metafísico dos cientistas, especialmente
da metafísica do ser.

7. A secularização da sociedade

O processo de secularização e de descristianização da sociedade tem sua origem


nos séculos XVII e XVIII, a partir de Descartes e Kant, quando começou a derrubada da
filosofia realista, substituída pelo idealismo, onde o homem passa a ser o centro de tudo e a
realidade passa a ser o pensado pelo homem. Hegel e Marx, nos séculos XIX e XX, levarão
esse idealismo a suas últimas conseqüênci-as, desembocando no materialismo onde não há
lugar para Deus. Assim, toda a alta cultura torna-se anti-religiosa.

A classe dirigente européia (políticos, jornalistas, professores), formada nas


universidades segundo a matriz de três filosofias básicas – marxismo, neopositi-vismo e
existencialismo –, irá conceber a vida social à margem da religião e na crença de sua
desnecessidade e de sua irrelevância teórica. Assim, o século XX será marcado pela
descristianização da cultura ocidental e pelo ataque a qual-quer forma de religião por parte
dos intelectuais, ainda que a fé popular permane-

ça firme, mas agora fundada mais no sentimento do que na razão (falta o pão da
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cultura católica, que é a doutrina sólida difundida desde as cátedras).

A secularização da sociedade é, pois, a dissociação entre a religião e sua vi-vência


no cotidiano dos cidadãos: já não há lugar nem lembrança para Deus nas atividades
normais da vida. É a prevalência do mundanismo, marcado pela de-gradação moral que
segue ao afastamento de Deus.

Buscam-se, assim, sucedâneos para Deus: dedicar a vida à ecologia (defesa das
espécies em extinção, mas esquecimento da defesa da vida humana em ges-tação), culto
do corpo através do esporte (paraliturgia dos jogos olímpicos), a New Age moderna,
pregando uma imersão estática no processo cósmico (uma religiosi-dade sem religião e sem
Deus: o que existe seria uma energia espiritual que im-pregnaria todas as coisas), etc.

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II. DEFINIÇÃO E FUNDAMENTAÇÃO DA RELIGIÃO

1. Definição

A origem etimológica da palavra religião é explicada de 3 modos distintos:

a) “Relegere” (Cícero) – voltar a ler as orações previstas nos ritos religiosos, quando
não recitadas corretamente, dado o seu caráter sagrado;

b) “Reeligere” (S. Agostinho) – voltar a eleger a Deus, depois da queda do pecado


original;

c) “Religare” (Lactâncio) – reconhecer a dependência pessoal em relação a Deus,


ligando-se novamente a Ele.

Santo Tomás adotará esta terceira definição, dando perfis mais exatos ao sentido
desta religação, recordando o seu estatuto metafísico ou ontológico. Com imensa
simplicidade e clareza, descreverá a nossa dependência a Deus, desta for-ma:

o mundo inteiro, antes de existir em si, existia na mente de Deus (eis a nossa
primeira dependência com relação ao Criador)
pelo ato criador, o universo vem à existência (eis a separação; só que esta
separação não é total como a de uma pedra que se desprende do seu bloco
original; o universo continua “ligado”, mais ainda, “ten-dente” para Deus,
como um objeto que está preso por um elástico e se distancia do seu ponto
original)

a criatura racional, tendente para Deus, reconhece a existência des-ta


ligação, desta “força”, retornando a Ele, de modo consciente e li-vre (eis aí a
re-ligação, a religião)

2. Fundamentação ôntica da religião

Trata-se agora de provar no âmbito metafísico o que foi dito acima: que to-das as
criaturas não só estão ligadas a Deus, mas tendem a Ele de modo neces-sário.

Os passos que seguiremos serão os seguintes:


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1. Passo um: Partindo da idéia que a existência é um movimento (pas-sagem da


“potência de existir” ao “ato de existir), provar a Primeira Via de S. Tomás e
chegar à conclusão que Deus sustenta todo movi-mento e, por conseqüência,
o “movimento da existência”.

2. Passo dois: Provar, além disso, que o “movimento da existência” deve vir
diretamente de Deus, não podendo vir de um anjo ou outro ser criado
(dependência direta).
3. Passo três: Provar a inclinação de toda criatura ao Criador.

1) Passo um: o existir depende em última instância de Deus

De fato, podemos dizer que a existência é um movimento pois é a passa-gem da


“potência de existir” ao “ato de existir”.

Sendo a existência um movimento, temos que provar agora que Deus sus-tenta todo
movimento e, por conseqüência, o existir. Provar que Deus sustenta todo movimento é
percorrer a Primeira Via de S. Tomás.

Antes, provaremos algo prévio que está incluído na Primeira Via: “que tudo o que se
move é movido por outro”:
1. Sabemos que é verdadeiro o princípio da não-contradição metafí-sico
(algo não pode estar em ato e potência ao mesmo tempo, sob o mesmo
aspecto).

2. Sabemos, por outro lado, que o movimento é a passagem da po-tência ao


ato (referente ao mesmo aspecto: falar, andar, cantar, etc.).

3. Ora: se algo se moveu, este, num dado momento, enquanto esta-va em


potência (de pensar, por exemplo) começou a ter a presen-ça de um ato
(de pensar) simultaneamente.

4. Seguindo o princípio da não contradição, vê-se que este ato só pode vir
de outro.
5. Conclui-se, portanto, que tudo o que se move, tudo que passa da
potência ao ato, é movido por outro, recebe o ato de outro.
Algumas conclusões que se pode tirar desta prova:
1. Não existe o automovimento. Se existisse, forçosamente algo teria que estar
em algum momento em ato e potência ao mesmo tempo sob o mesmo aspecto.
Ex: se algo se automoveu a falar, por exemplo, em al-gum momento esteve,
ele mesmo, ao mesmo tempo, simultaneamen-te, em “potência de falar” e “ato
de falar”; ora, isto é absurdo!

2. Toda “potência de algo” será sempre relegada a ser “potência deste algo”.
Caso contrário, feriria o princípio da não-contradição.

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Agora a prova da Primeira Via. São Tomás a formula assim:


“A primeira e mais manifesta via (para provar a existência de Deus) é a do
movimento. É inegável e se comprova pelo testemunho dos sentidos, que neste mundo
existem coisas que se movem. Assim sendo, tudo o que se move é movido por outro, já que
nada se move quando está em potência , pois mover requer es-tar em ato, mover é fazer
passar algo da potência ao ato. Isto só pode ser feito por algo que está em ato, por exemplo;
o calor em ato, como o fogo, faz a madeira, que é calor em potência, ser calor em ato, e por
isto o move e o altera”. Mas não é possível que uma coisa esteja ao mesmo tempo em ato e
em potência sob o mes-mo aspecto; o que é calor em ato não pode ser ao mesmo tempo
calor em potên-cia. Conseqüentemente, é impossível que algo seja, sob o mesmo aspecto,
motor e movido, isto é, que se mova a si mesmo. Portanto, tudo o que se move é movido por
outro. Mas, se aquilo pelo qual se move é também movido, é necessário que se mova por
outro, e este por outro. Como não se pode proceder até o infinito, porque então não haveria
primeiro motor e, conseqüentemente, nenhum outro motor, visto que os motores segundos
não movem mas são movidos pelo primeiro, como o báculo, que só se move quando movido
pela mão. Por tanto, é necessário chegar a um primeiro motor que não seja movido por
ninguém e, por este, todos entendem a Deus (I, q. 2, a. 3).

Podemos colocar a “Primeira Via” na seguinte forma esquemática:


1. Sabemos por experiência que as criaturas se movem.
2. Sabemos, por outro lado, que tudo o que se move é movido por ou-tro;
assim, se algo se moveu, deve-se a um outro e assim sucessiva-mente.

3. Não é possível estender ao infinito a série dos motores que por sua vez são
movidos.
Pensemos, por exemplo, numa luz que chega aos nossos olhos.
Podemos dizer que provém de um espelho e por sua vez de outro
espelho, e assim sucessivamente. Porém isso não explica porque chega
até nós. Para explicar, precisamos dizer que há uma fonte de luz inicial
que provoca todas as outras.
Também podemos dizer que o conceito de infinito é um conceito
matemático, formal, que não explica o movimento real. Dado um
movimento real, é preciso encontrar uma causa real.
4. Assim, deve existir um motor imóvel que move a todos os outros, sem ser
movido. A este chamamos Deus.
Subsídio: prova de que o Motor Imóvel é Deus.
1. Se é um Motor imóvel, e todos os movimentos provém dele, e não
depende de nenhum outro para mover todo e qualquer movimen-to, então
não possui nenhum potência.

2. Não tendo nenhuma potência, é puro ato, ou ato puro. Todos os


movimentos que vemos, inclusive a existência, provém dele sem
depender de ninguém.

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3. Logo, tem o ser por si mesmo; e aquele a quem tem o ser por si mesmo,
chamamos Deus.
Uma vez provado que todo movimento se sustenta por Deus e que a exis-tência é
um movimento, chegamos à conclusão que a existência de qualquer cria-tura é sustentada
por Deus. Se Deus deixasse de sustentar este movimento, a criatura cairia ao nada
imediatamente.

2) Passo dois: a existência deve vir diretamente de Deus e não de um ser intermediá-rio

Para se provar isto, basta seguir este raciocínio:


1. Consideremos todos os seres que não se identificam com o Ato Puro: ou
seja, todas aqueles que para existirem receberam o ser, porque o ser não
lhes é próprio.
2. Ora, se o ser não lhes é próprio, se recebem e estão recebendo o ser, em
nenhuma hipótese poderão, em algum momento, dar o ser a algo ou alguém,
pois isto feriria o princípio da não-contradição (a potên-cia de existir não pode
ser ato de existir em nenhum momento). Logo, só quem tem o ser como
próprio pode dar o ser.

A figura abaixo ilustra a nossa dependência a Deus.

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3) Passo três: a tendência de toda criatura a Deus

Uma vez explicada a dependência radical do ser da criatura do Ser de


Deus, falta-nos ainda um passo para que se justifique a existência –no âmbito
metafísico– de uma inclinação, de uma “religiosidade”, de um “tender para Deus”
na criatura. Se esta inclinação não existisse, a re-ligação do homem seria “fria”,
uma ato puramente racional, levado pela descoberta da dependência com o Cria-
dor.

É possível afirmar que há uma “inclinação” no âmbito metafísico, uma


“pendência” de toda criatura para o Criador? É possível. E isto se prova relem-
brando a teoria da causalidade e do Ato Puro.

Como bem sabemos, todo efeito guarda em si um vestígio da causa do


agente que o produziu. Segundo a teria aristotélica, são quatro as causas que
concorrem na produção de um efeito: causa final, causa formal, causa eficiente e
causa material. Destas quatro causas, três pertencem ao agente e uma ao sujeito
do efeito. As três do agente são a causa final, a causa formal e a causa eficiente.
Estas três causas deixarão um vestígio no sujeito do efeito. De modo concreto nos
interessa aqui a causa final. Deus ao criar as criaturas, o faz por uma causa, por
uma finalidade. Sabemos que o fim se identifica com o bem. Ora, Deus ao criar,
sendo a Suma Bondade e buscando um bem, só pode dar a Suma Bondade como
bem, como fim de toda criatura. Aparece assim uma “direção”, uma “inclinação”
de toda criatura a Deus.

3. Fundamentação axiológica e dinâmica da religião

Cabe agora, de modo bem sucinto, comentar a fundamentação axiológica (valorativa,


qualitativa) da religião e a fundamentação dinâmica que não são mais do que diferentes
pontos de vista da fundamentação ôntica que vimos acima. É importante fazer estas
distinções, pois foram poucos os filósofos que procuraram chegar até Deus através das
perfeições da natureza (aspecto axiológico) e através da busca de um princípio motor de
todas as coisas (aspecto dinâmico).

a) fundamentação axiológica ou das perfeições

É fácil notar que todas as nossas perfeições estão religadas a Deus recor-
dando que o ser é a perfeição das perfeições; ou seja: todas as perfeições têm sua origem
no ser. Como já vimos que o ser da criatura está sendo causado de um modo permanente
por Deus, conseqüentemente a perfeição, seja qual for, tam-
bém. Em outras palavras: todas as perfeições, como convertíveis que são com o ser, levam
ou incluem necessariamente a mesma ligação. São aspectos do ser que
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exigem uma causa, que é Deus.

b) fundamentação dinâmica

S. Tomás tem uma questão completa dedicada a este tema na I, q. 105. Dela nos
interessa o a. 5, onde pergunta se Deus intervém na ação de todos os seres operativos em
quanto tais. A resposta é afirmativa.
Não se deve entender –diz S. Tomás– esta ação divina sobre as criaturas no sentido
de que estas nada ponham na realização do efeito, como defende o ocasi-onalismo,
afirmando que nenhuma ação corresponde às criaturas, mas a Deus que opera tudo em
todas as coisas, pondo estas de sua parte só a ocasião. O ex-tremo oposto é o de Molina,
que admite na criatura uma atividade sem necessida-de da causa primeira.

S. Tomás resolve a questão dizendo que nada pode sair da potência ao ato a não
ser pela ação de um ser em ato. E assim sucessivamente até chegar em Deus.

Vista assim, esta questão fica reduzida ao estudo das cinco vias, principal-mente das
vias dinâmicas. A conclusão da primeira via, por exemplo, é que deve existir um “primeiro
motor imóvel” com relação ao qual todos os demais motores são movidos; ou seja, motores
subordinados que recebem todo seu impulso da-quele primeiro motor. Dentro de nosso
tema, estamos ligados a Deus em todos nossos atos até tal ponto que não podemos mover-
nos, realizar a mais simples atividade, se não nos é dado do alto.

4. Conclusões

Todas estas questões nos levam a algumas conclusões que veremos a se-
guir:
Primeira: a religião, a ligação com Deus, não é algo que se pode ter ou não

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ter, a capricho da liberdade humana. Vem-nos dada. No mesmo momento que co-meçamos
a existir, já nos encontramos ligados, dependentes radicalmente de Deus. “O homem –como
diz Zubiri– não “tem” religião mas “consiste” na religação, na religião (Zubiri, Natureza,
Historia, Deus, Madri, 1944, pp. 437-438).

Segunda: do ponto de vista metafísico, o homem está em idênticas condi-ções dos


seres que o rodeiam. A ligação não é algo que afeta exclusivamente o ho-mem, separando-
o e diferenciado-o do resto da criação. Não, afeta todos os seres. A diferença é que no
homem esta ligação se atualiza formalmente.

Por essa semelhança com as demais criaturas, o homem pode descobrir nelas a
mesma perspectiva de ligação ontológica que descobre em seu próprio ser, e chegar por
este caminho até Deus. Que outro caminho é este senão as cinco vias de S. Tomás?

A ligação não nos dá, no entanto, um conhecimento perfeito de Deus. Nós sabemos
que a perfeição do nosso conhecimento depende da perfeição com que a coisa, ou o objeto,
nos é manifestada. Deus não se manifesta a nós perfeitamente,

nem sequer diretamente. Conhecemos a Deus através das criaturas, pelas perfei-ções que
encontramos nelas, e por analogia chegamos até Deus (I, q. 13, a. 4).

Terceira: falando ainda no âmbito metafísico, chegamos a uma conclusão muito


simples, mas de grande força: metafisicamente falando não podem existir ateus, pois seria o
mesmo que afirmar que existem seres a-ligados. Um ateu, nes-te sentido, é um ser
impossível, contraditório. No momento em que um ateu nega o “ser”, seu ser delata sua
ligação.

O ateísmo (tanto teórico quanto prático, viver sem precisar de Deus) é, como agora
se torna patente, a coisa mais absurda que existe. Um homem des-li-gado seria o nada
subsistente.

Todo o vazio que cai a filosofia moderna nasce do esquecimento dessa liga-ção. Se
o ser, a permanência no ser, e todas as perfeições humanas e todas as nossas ações
supõem nossa fundamentação em Deus, o próprio nosso é a finitu-de, o nada, a limitação.
Esquecendo-se o homem da sua fundamentação em Deus e pondo sua fundamentação em
si mesmo, em breve se deparará com o nada subsistente, com o vazio, seu apoio se
desmoronará como um torrão de açúcar se desmorona.

Quarta: outra dedução importante que podemos chegar, ao aprofundar na


fundamentação ontológica da religião, é a enorme transcendência de Deus sobre as
criaturas e, ao mesmo tempo, a sua profunda intimidade no ser.
Por um lado, Deus apresenta-se como o ser maximamente transcendente, fora de
toda categoria, fora de toda a ordem do criado, causa incausada, ser ne-cessário, motor
imóvel, perfeição absoluta, inteligência dominadora, etc. Porém, todas estas afirmações
expressam pouco do que é Deus em si mesmo, de sua vida íntima, do seu verdadeiro ser e
personalidade. É um mundo desconhecido, onde a inteligência não chega; só a revelação e
a fé podem nos aproximar desta realida-de.

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Por outro lado, Deus é o que de mais íntimo, imanente, se dá nas criatu-ras. Dando
sustentação a todo seu ser, sendo o Ato de todos os atos. Como dizia S. Agostinho, Deus
está mas íntimo a nós, a todos os seres, do que os seres a si mesmos.

Este enorme contraponto é o que explica grande parte dos erros das diver-sas
religiões que foram criadas por pessoas humanas.

Quinta: analisando a teoria da causalidade, vemos que o universo inteiro “ilumina”


Deus, da notícia de Deus. O universo inteiro, impregnado da Bondade que foi comunicada
como causa final a toda criatura, nos “atrai” para a Bondade Suprema.

Deus se “impregna” em todas as criaturas, impregnado todas as suas po-tências. Daí


que todas nos levam a Deus e todo o nosso ser nos leva a Deus.

III. NOÉTICA DA RELIGIÃO

Depender de Deus não basta para sermos religiosos. É necessário tomar de alguma
forma consciência desta dependência para que haja uma união efetiva com Deus.

Veremos a seguir os diversos caminhos pelos quais o homem pode tomar


consciência da religião.

1. Consciência da religião por via do intelecto

Para nós, o meio fundamental de fazer-nos conscientes de nossa ligação é o


conhecimento intelectivo. Mas, diz S. Tomás, existem três modos distintos de conhecer a
realidade:
a) pela presença da própria essência do objeto conhecido no cognoscente;
b) pela presença da própria imagem do objeto conhecido na potência cog-noscitiva
(como o conhecimento de uma pedra se realiza no olho pela presença da sua imagem na
retina);
c) pela semelhança ou imagem tirada não do objeto próprio, mas de outro objeto
onde, de algum modo, ela é representada (como quando vemos uma ima-gem através de
um espelho (I, q. 56, a. 3)).

a) O conhecimento pela presença da própria essência divina (conhecimento intuitivo)

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O problema de um conhecimento intuitivo de Deus, “per essentiam”, como diz São


Tomás, é o problema do ontologismo. Sobre este tema existem duas posi-ções igualmente
extremas e igualmente errôneas.

Por um lado, estão os que afirmam que nenhum entendimento criado pode chegar ao
conhecimento imediato da Essência Divina. Nem mesmo os anjos e os bem-aventurados,
que, mais do que ver a Essência Divina, vêem um resplendor que procede dEle.

Outra é a posição que afirma a possibilidade para o homem, ainda nesta vida,
contando com as suas próprias forças, da visão da Essência Divina. Neste grupo podemos
contar os ontologistas, racionalistas, imanentistas, etc.
A verdade não está em nenhum desses dois extremos: se examinamos o problema
desde um ponto de vista natural, podemos facilmente comprovar como a visão intuitiva de
Deus é totalmente impossível para nós no estado atual em que nos encontramos. Para que
possa existir conhecimento, é necessário que haja proporção entre o objeto conhecido e a
potência cognoscitiva, pois o modo da operação segue o modo de ser. O entendimento
humano tem por objeto e não co-

nhece mais do que aquelas coisas que estão realizadas na matéria, e as conhece
precisamente mediante as imagens –fantasmas– extraídas das coisas sensíveis. Conhece
as essências das coisas sensíveis, em seu aspecto universal, abstraído da forma concreta e
singular em que se dão na ordem da realidade.
Isto não quer dizer que em outras condições da natureza humana, ou de algum
modo fortalecida por uma potência superior, a visão facial de Deus não possa realizar-se.

b) O conhecimento pela presença da própria essência divina

Também aqui a conclusão é totalmente negativa. Uma imagem própria de Deus teria
que ser tão espiritual como Ele, em que sua Divina Essência se mani-festasse como é em si,
em sua Infinita Imaterialidade. Como, segundo o que aca-bamos de dizer, não conhecemos
nem podemos conhecer por nossas puras forças naturais mais que as essências das coisas
sensíveis, temos que tal imagem está por cima também de nossas possibilidades.

Conhecer “per speciem propriam”, como diz S. Tomás, a Deus seria conhe-cer como
os olhos, por exemplo, conhecem as cores próprias na imagem que ne-las se reproduz. Esta
visão ou conhecimento, diz o Angélico, só se dá no conheci-mento natural dos anjos, em
que a imagem de Deus está neles “impressa” (I, q. 56, a. 3).

c) O conhecimento indireto ou “per analogiam”

Só nos resta um modo, do ponto de vista natural, de conhecer a Deus: pelo reflexo
de Deus nas criaturas. Realidade possível para o nosso conhecimento.
Estes vestígios de Deus nas criaturas estão fundamentados na causalida-de. Como,
necessariamente, o efeito tem que guardar uma proporção e semelhan-
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ça com a causa que o produz, as coisas são semelhantes a Deus e podem nos le-var –por
analogia– ao seu conhecimento.

d) Os que negam esta via de acesso

Os agnósticos. Para os agnósticos este problema ou não existe, ou não deve existir.
Se não podemos demonstrar a existência de Deus, menos ainda po-deremos fazer-nos
conscientes de nossa ligação.

Os panteístas. Da mesma maneira, esta questão não existe para os pan-teístas. De


fato, o panteísmo, em qualquer forma que se apresente, desde Parmê-nides até Spinoza, de
Heráclito até Bergson, nega sempre um dos termos da rela-ção criatura-Criador: ora nega o
homem, dizendo que tudo não passa de Deus; ora nega Deus, colocando-o no mesmo nível
das coisas contingentes. O máximo que os panteístas podem chegar, como chegaram os
estóicos e Schleiermacher, e muitos filósofos afins, é ter consciência da nossa participação
em Deus; mas nun-

ca chegarão ao conceito verdadeiro de ligação entre a criatura e um ser bem dis-tinto dela,
que é o Criador.

Depois: todos os filósofos idealistas, que ora são agnósticos ou panteístas.

2. Consciência da religião por via da vontade

Desde já, devemos partir daquele velho princípio filosófico que diz que “nada se
quer se não se conhece”.
Uma vez estabelecido este princípio, podemos dizer que tudo que se aplica ao
conhecimento, aplica-se à vontade. Ou seja: não podemos querer a Deus dire-tamente mas
unicamente por analogia. Os bens criados e finitos serão sempre uma alavanca para o Bem-
Infinito, por darem notícia deste Bem.

3. Consciência da religião por via da sensibilidade

A última via que pode dar acesso a Deus, no plano natural, é a via da sen-sibilidade.
O problema aqui é muito semelhante ao dos itens anteriores. Trata-se de conhecer a
influência que tem esta parte sensitiva na consciência de nossa li-gação com Deus.

a) Esclarecimentos importantes

Como a sensibilidade humana é muito rica, é necessário fazer uma breve distinção
entre os diversos grupos que a compõem, isto é: as tendências, apetites,

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instintos, paixões e sentimentos.

a.1) Tendências
A tendência é uma inclinação natural a. Santo Tomás a chama o “pondus naturae”,
uma espécie de peso que leva sobre si a própria natureza e que a incli-na sempre a
determinados fins. Estende-se não só ao seres animados mas tam-bém aos inanimados. A
pedra tende a cair, tem tendência a cair. A árvore busca a luz, tem tendência à luz. O animal
ama sua existência, tem tendência a conservar sua existência, etc.

a.2) Apetite
O apetite tem uma significação mais restrita, refere-se propriamente ao animal
(racional ou irracional) e sua atuação segue sempre a um conhecimento.
Pode ser um “apetite superior” (apetite racional ou vontade) e pode ser também um
“apetite inferior” (segue a um conhecimento puramente sensitivo ou tende a aperfeiçoar a
parte sensitiva ou animal do indivíduo).

a.3) Instintos
Estes dois apetites fundamentais vistos acima envolvem infinitas modali-dades, que
respondem às diversas maneiras em que podem se apresentar os infi-nitos objetos. Estas
modalidade, estas concretizações, chamamos instintos. São sempre inatos.

a.4) Paixões
É fácil distinguir, uma vez entendida assim a natureza dos instintos, dois aspectos
bem diferentes em quem os possui. O instinto enquanto força, tendência do sujeito; e o
instinto enquanto elemento passivo, sofrendo as conseqüências da apetecibilidade. A isto
chamamos paixões. É algo transitório. Costuma ocorrer com alguma mutação orgânica.

a.5) Sentimentos
É um conjunto de afetos, de excitações que surgem no sujeito causadas pela
presença do objeto apetecível sob uma infinidade de circunstâncias.

b) Se a religião pode ser objeto destas realidades

Como ponto de partida, podemos descartar as tendências, já que estas são


movimentos comuns aos seres animados e inanimados. Não tem sentido dizer que a religião
é objeto de um ser inanimado.
Com relação aos outros elementos da sensibilidade, levando em considera-ção que
todos eles são decorrentes de um prévio conhecimento, Deus em si não pode ser objeto
destes elementos, mas sim por analogia: realidades que por ana-logia conduzem a Deus.

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Vejamos como isto ocorre, a título de exemplo, nas paixões e sentimentos e no


instinto.

c) A religião nas paixões e sentimentos

De fato, a religião, por analogia, pode ser objeto das paixões e dos senti-mentos.
Basta pensar, por exemplo, o que ocorre quando ouvimos uma peça de música
extraordinária, quando contemplamos um quadro famoso, ou quando le-mos uma obra
prima: nosso espírito costuma elevar-se a regiões inauditas. Facil-mente passamos do belo
ao sublime, do grande ao grandioso, da harmonia à ma-ravilha.

Pensando neste exemplo, é fácil imaginar que em determinadas circuns-tâncias,


admirando a beleza da natureza, fazendo um retiro espiritual, obtendo uma graça
extraordinária (a solução de um problema econômico, a cura de uma doença), sintamos
Deus no nosso coração. Não será propriamente Deus que esta-remos sentindo, mas uma
Grandeza Superior, uma Luz inigualável dentro de nós, etc.

Podemos dizer que da mesma maneira que a nossa inteligência é levada a ver nas
coisas contingentes uma dimensão transcendente, os sentimentos e as paixões podem
vislumbrar a divindade nas criaturas.
Muitas conversões surgem destes sentimentos. Não há dúvida que é preci-so
procurar posteriormente um fundamento para esta experiência sensível.

d) A religião nos instintos

Como já vimos anteriormente, vários filósofos imanentistas, tentando expli-car o


fenômeno religioso, afirmaram ser este o produto de um instinto comum a todos os homens.

Freud, por exemplo, em seu clássico pansexualismo, diz ser a religião a “sublimação
da libido”, semelhante ao “élan vital” de Bergson e à ânsia de viver de Schopenhauer, mas
introduzindo nestes conceitos a idéia de sexualidade. Esta sublimação da libido é o fundo de
toda vida religiosa. Os místicos são uns eróti-cos refinados. Aduz como testemunho os
modos de expressar-se dos místicos em metáforas do amor humano.

Feuerbach, por outro lado, afirma ser a religião uma aspiração ilusória do homem
que diante da dominação da Natureza e da limitação de suas faculdades, sonha com a
liberdade, com a independência. Neste delírio, cria um mundo novo e põe nele a esperança
da sua liberação.
Boutroux põe a essência da religião no instinto de superação que caracteri-za a
sociedade e o indivíduo. O progresso é a prova deste instinto. A sociedade não se detém e
as gerações tratam de superar-se umas às outras.

Spencer apresenta uma teoria da religião que, em última análise, reduz-se a um


movimento instintivo, o instinto de conservação. Daí o culto aos mortos, o
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temor dos espíritos, etc.


Conhecida é também a teoria de Nietzsche afirmando ser a religião o ins-tinto de
conservação dos escravos frente à potência e afirmação de poder dos se-nhores.

Também Otto fundamenta a religião em um instinto: o temor ante o “numi-noso” (o


que causa estupor).

Todos estes filósofos, tem em comum o fato de reduzirem a religiosidade a um


subproduto do eu. Erram, portanto, ao negarem a existência de um ser trans-cendente à
subjetividade. Veremos como a perspectiva realista olha com outros olhos os instintos que
nos levam a Deus.

Vejamos, em primeiro lugar se é possível existir um instinto religioso. Te-mos que


recordar, mais uma vez, que o exercício do instinto exige sempre o co-nhecimento prévio de
um objeto, apesar da sua mecanicidade. Qualquer que seja o nosso instinto, ele só é posto
em ação, na presença de um objeto, ainda que não seja claramente definido.

Se é necessário um conhecimento prévio, mais uma vez descartamos a possibilidade


de um instinto que tenha como objeto Deus. O que pode haver, sim, é um instinto, por
exemplo, de curiosidade, que nos leva a observar os fenômenos e –graças à ação do
conhecimento– atribuí-los a determinadas causas.
Descrevemos a seguir alguns instintos que podem intervir na religião:
instinto de conservação: é o que nos leva a perpetuar a nossa exis-tência e
procurar para ela um apoio para continuar existindo. Nesta busca, sentimo-
nos empurrados a apoiar-nos num apoio que esteja além das realidade
materiais.

instinto de curiosidade: os fenômenos naturais de terror, de beleza


extraordinária, de aparição e desaparição das coisas, excitam em nós a
busca de uma causa que esteja por trás.
instinto de temor: é o medo que surge diante dos fenômenos da na-tureza,
das reações humanas, da morte, etc. Ele nos leva a buscar um apoio que
seja superior às coisas que nos cercam.

instinto de felicidade: sem percebermos, estamos sempre procuran-do a


felicidade. Concomitantemente vamos tendo a experiência da insaciabilidade
dos bens alcançados. Isso nos leva a procurar en-contrá-la em bens maiores.

Poderíamos destacar muitos outros instintos naturais ao homem. Porém, com estes,
já percebemos aquilo que havíamos mencionado anteriormente que Deus, através da causa
final, põe um direcionamento a Ele não só em todas as criaturas, mas em todas as suas
potências; daí que todas nos levem a Deus, in-clusive os nossos instintos.

Desta forma entendemos que os filósofos modernos tenham descoberto ins-


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tintos que nos levam a Deus. Erraram, por outro lado, ao afirmarem que estes instintos têm
uma realidade meramente imanente.

e) Possibilidade do ateísmo no âmbito da noética da religião

Concluímos o segundo capítulo fazendo a pergunta se era possível o ateís-mo no


âmbito da fundamentação metafísica da religião? E respondemos que não era possível. O
homem, queira ou não, está ligado ao Ser, em sua existência e em sua permanência no ser.

Ao concluir este terceiro capítulo nos perguntamos também se é possível o ateísmo


no que diz respeito à noética da religião? Isto é: é possível que exista um homem que, por
via racional, volitiva ou sensitiva, não chegue à reconhecer Deus em sua vida?

Podemos dizer que, sendo tantas as “forças” que nos levam a Deus (racio-nais,
volitivas, sensitivas) não é possível que um homem normal não tenha, pelo menos em algum
momento, uma consciência da sua ligação.

IV. ATITUDE DO HOMEM DIANTE DA CONSCIÊNCIA DA RELIGIÃO

1. O ateísmo

Dizíamos antes que não é possível a existência do ateísmo. Nenhum ser, o mais
ínfimo de todos, enquanto possa receber com verdade o qualificativo de ser, pode deixar de
estar religado. O ser – dizíamos– é um efeito próprio ou privativo da primeira causa. Onde
quer que esteja o ser, ali está presente a primeira causa.
Também –como já vimos– é muito difícil que se dê o ateísmo no que toca à noética
da religião. É tão palpável o direcionamento das nossas potências em di-reção ao absoluto,
tão forte a nossa busca da verdade, do bem, da felicidade que é praticamente impossível
que alguém não se dê conta da sua ligação com Deus.
No entanto, como sabemos, o ateísmo existe. É um fato que presenciamos com
relativa freqüência. Como explicá-lo, então? Onde estão as suas raízes?
Penso que podemos entendê-lo à luz destas palavras de Aristóteles de um profundo
valor: “A verdade está sempre diante de nós, e nós estamos por ela cir-cundados e
iluminados: a nossa inteligência é que deve habituar-se a vê-la, assim como os nossos olhos
devem habituar-se a ver a luz que nos circunda e nos ilu-mina” (Aristóteles).

Aristóteles afirma uma verdade inequívoca: “a verdade está diante de nós”. Sua luz é
de tamanha força que nos ilumina, mais ainda, nos circunda. De fato, como vimos, a luz da
nossa ligação está por todos os lados, em todos os nossos
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sentidos e potências e em todas as criaturas. O que precisamos fazer é habituar-nos a ver


esta ligação, como os olhos estão habituados a ver a luz que os ilumina. E isto é uma atitude
da vontade, da liberdade. Se a liberdade não quiser ver, não verá. Da mesma forma que se
os olhos não quiserem ver a luz que brilha no mun-do, não a verá.

Isso mostra como diante de qualquer verdade, por mais evidente que seja, podemos
negá-la.
Superar o ateísmo é render-se ao excesso de luz. É justamente isso que se-para
aqueles que “vêem” a Deus, daqueles que não o “vêem”.

2. A única atitude racional ante a consciência da religião

De tudo o que vimos, a única atitude sensata diante da consciência da reli-gião é dar
a Deus o seu culto devido. O estudo desta matéria já não é propria-mente filosofia da
religião.

ANEXO 1

“Para quê ter uma religião” (D. Estevão Bittencourt, PR 297/1987)

Em síntese: A religião é a única resposta cabal às aspirações fundamentais do ser


humano, pois o eleva ao Transcendental e Absoluto. A tentativa de procu-rar na ciência e na
técnica a solução para os anseios congênitos do homem tem decepcionado o cidadão de
nossos dias: atesta-o o ressurgimento da religião nos países submetidos a regimes ateus
como também o surto de novas e novas seitas; estas infelizmente são mais emotivas e
fantasiosas do que racionais.
O indiferentismo religioso de muitas pessoas de nossos dias explica-se, em parte,
pelo consumismo, que embota o senso religioso e dá ao homem a impres-são de poder
saciar-se com os bens materiais; cedo ou tarde, porém, os bens ma-teriais falham, abrindo
um vazio no coração do homem, que só Deus pode ade-quadamente ocupar. Verifica-se
também que a agitação e as preocupações do ga-nha-pão, o barulho da civilização
contemporânea dificultam ao homem o encon-tro consigo mesmo no silêncio; muitos não
estão acostumados ao recolhimento e à reflexão - o que torna difícil aprofundar o senso
religioso inato em tais cidadãos.
A perda da religião é grave dano para o homem, pois se observa que a “morte de
Deus” vem a ser a “morte do homem”.
Não é raro encontrarmos pessoas que perguntam: “Por que ou para que ter religião?”
Dizem não precisar de religião, pois vivem satisfeitas sem fé. Daí o indi-ferentismo, que não
combate a religião, mas a menospreza como um derivativo

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oportuno para quem dele precise.


Tal fenômeno é novo na história da humanidade. Outrora ter religião era um fato
normal. A partir do século XVIII, o ateísmo passou a impugnar a religião como algo de
irracional, alienante e nocivo; a religião mereceria ser combatida, na concepção desses
ateus. Atualmente, porém, há pessoas que nem concebem o problema religioso; por isto
nem combatem a religião; esta, segundo elas, não me-rece atenção. Por isto há quem diga
que vivemos numa época “pós-religiosa”; esta expressão é exagerada ou mesmo falsa, pois
há sinais eloqüentes de retorno à re-ligião em nossos dias, como se verá no decorrer deste
artigo.

A seguir, examinaremos a questão: “por que ou para que uma religião”


Procuraremos a resposta a dar-lhe e os porquês do indiferentismo.

1. O sentido da vida

1.1. A questão básica

Uma das necessidades fundamentais do ser humano é, conforme bons psi-cólogos,


a de saber o sentido da vida: “por que vivo?... para que vivo?... por que sofro? Por que a
morte?... por que o mal na história dos homens?... Afinal de con-tas, quem sou eu?”. A
necessidade de resposta para tais perguntas se evidenciou especialmente nos campos de
concentração: nestes os prisioneiros, sentindo-se condenados a trabalhos e condições de
existência absurdas, deixaram-se, não raro, morrer ou perderam todo estímulo para viver;
muitos não tinham sequer a coragem de se colocar de pé, apesar da pressão dos golpes e
maus tratos, da fome e da sujeira em que jaziam. O psicólogo austríaco e judeu Viktor
Frankl o narra muito vivamente em seu livro: “Psicoterapia e sentido da vida” (cf. PR
281/1985, pp. 329-340).

1.2. Tentativa de resposta sem Deus


O homem moderno se afastou de Deus e da Religião, tidos como elementos pré-
científicos ou obscurantistas, para se entregar ao cientificismo: a ciência e a técnica,
progredindo continuamente, lhe trariam todas as respostas e preencheri-am todas as suas
aspirações. O homem moderno teria deixado de ser criança, atingindo finalmente a sua
maioridade (assim pensava Dietrich Bonhoeffer em suas cartas de prisão). Negar Deus seria
a condição para que surgisse o Super-Homem, capaz de vencer as “fatalidades” da história.
A fé no homem, traduzida na filosofia do progresso, do crescimento e do secularismo,
substituiria a fé em Deus; foi ressuscitada a figura mitológica de Prometeu, que subiu aos
céus, ar-rancou o fogo, monopólio dos deuses, e o trouxe para a terra, anunciando que ele
doravante seria o doador do fogo para a humanidade.

1.3. A insuficiência do cientificismo


A ciência não responde às questões fundamentais do homem; ela estuda o
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que cai sob os sentidos ou o que se pode ver, tocar, medir, calcular, isto é, o mundo dos
fenômenos. Os objetos que estejam para além do sensível e dos fenô-menos fogem ao
setor próprio da ciência. Ora os problemas concernentes ao sen-tido do homem e da vida já
não são da área dos fenômenos sensíveis; não são problemas para os quais a ciência,
como ciência (como investigação empírica), possa dar resposta. - Tenhamos em vista, por
exemplo, a biologia: investiga tudo o que se possa observar empiricamente a respeito da
vida (transmissão, leis da genética, do crescimento, da restauração...). Mas, depois que
alguém estudou tudo o que a biologia lhe possa ensinar, ainda conserva as perguntas
fundamen-tais: vale a pena viver? Por que viver? Qual o sentido da vida?

Ademais a ciência é assaz frágil em suas construções; está sujeita a se re-formar e


retratar constantemente; cada problema que parece resolver-se, abre vá-rios outros
problemas que desafiam o cientista. Eis o testemunho significativo de um grande
pesquisador, o Professor Dr. Newton Freire-Maia, do Departamento de Genética da
Universidade Federal do Paraná:

Quando me lembro de que, ao longo de minha vida de professor, já ensinei meras


hipóteses de trabalho como se fossem a mais pura verdade, ou relatei fatos

que simplesmente não existiam - fantasia dos nossos sentidos - ponho-me a ima-ginar que,
na maioria dos casos, nós passamos a vida a substituir uma fantasia por outra, na
esperança de atingirmos, um dia, o pleno conhecimento da essência do universo...

Um amigo meu, professor de português e literatura numa Faculdade de Fi-losofia,


com o fim de acentuar as dificuldades que encontrava no seu campo de trabalho, disse-me
certa vez mais ou menos o seguinte:

“Vocês, cientistas, é que são felizes! Em ciência, o que é, é mesmo; o que não é, não
é. No setor das línguas e das literaturas, as divergências de opiniões são tantas que a tarefa
de um especialista se torna extraordinariamente pesada e difícil, uma vez que ali ele nunca
encontra a segurança e a certeza que as ciênci-as oferecem”.

...Para esse amigo, a ciência era uma fonte de verdades e, como os cientis-tas não
são suficientemente loucos a ponto de negar verdades, todo o edifício das ciências seria um
conjunto de proposições certas sobre as quais ninguém ousaria depositar a mais tênue das
dúvidas: a água ferve a 100º C; a gravidade tudo atrai para o centro da terra; a lua não cai
de sua órbita por causa da interação de for-ças gravitacionais com a inércia; a velocidade da
luz é de 300.000 km por segun-do; a molécula de água tem dois átomos de hidrogênio e um
de oxigênio; para for-mar um novo ser, é preciso que um espermatozóide fecunde um óvulo;
o coração
é o órgão central da circulação sangüínea; pensa-se com o cérebro e não com o fí-gado; as
plantas absorvem gás carbônico e liberam oxigênio (e isto se chama fo-tossíntese ou função
clorofiliana); a tuberculose é produzida pelo bacilo de Koch (a lepra, pelo de Hansen); os
antibióticos e a sulfamida matam micróbios; a asma
é uma doença alérgica. etc. Todas essas ‘verdades’ (nem sempre verdadeiras ou apenas
‘meias verdades’) seriam ‘científicas’, por isto, não poderiam ser postas em dúvida. Por este
motivo é que os anúncios de pasta dental usam, muitas vezes, como prova da eficácia de
uma marca, a fórmula mágica: ‘A ciência comprovou’.

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Se a ciência comprovou, é verdade...

A ciência está repleta de hipóteses (provisórias) e, comumente, o próprio ci-entista


não tem consciência da precariedade das suas proposições. Quando estu-damos história da
ciência e ali encontramos as hipóteses que foram alijadas para o porão e substituídas por
outras, ficamos aturdidos com a possibilidade de que muitas das nossas hipóteses de hoje
possam tomar o mesmo destino (pp. 102-104).

Em nossos dias, assistimos ao desabamento da ideologia do progresso, que seria


uma “religião leiga” (sem Deus), baseada sobre o pressuposto da infinita perfectibilidade do
homem. A definição do homem em função da eficiência e da produtividade já não satisfaz;
procuram-se outros modelos para o ser humano. Aqueles que acreditavam no poder, sem
limites, da ciência e da técnica, recuam; verificam que o gigante Prometeu está abalado; o
mito do Progresso cede à consci-ência de que a humanidade está em crise, sob o signo de
um futuro cada vez mais ameaçador ou marcado pela perspectiva de um holocausto
nuclear. Pode-se, portanto, falar do fim do otimismo histórico que caracterizou a primeira
metade

do século XX. Há quem diga que lá entramos - ao menos no Ocidente - na fase da pós-
modernidade e do pós-racionalismo.

1.4. A resposta da Filosofia


A própria filosofia, que por definição indaga a respeito das causas últimas, e procura
formular o sentido do homem e do mundo, apresenta um leque de res-postas que, se não
são contraditórias entre si, são incertas e insuficientes (não indo ao fundo das questões).
Para os pensadores, mesmo para os mais sagazes, o homem fica sendo um mistério, que a
razão só consegue decifrar em parte e com grandes dificuldades. Precisamente - e com
muita lógica - os maiores pensadores reconhecem a radical incapacidade da razão para
penetrar, na sua profundidade, o mistério do homem e, por isto, não raro acenam para outra
fonte de conheci-mentos ou seja, para “uma divina revelação”. É o caso, por exemplo, de
Platão, que no diálogo Fedon aborda a questão da imortalidade da alma: afirma então que
sobre tal assunto é impossível ou muito difícil chegar a uma conclusão clara; é preciso, por
conseguinte, que nos contentemos com a teoria menos obscura que a razão possa
construir, para atravessarmos numa jangada o perigoso mar da vi-da. E acrescenta: “...a
menos que alguém esteja em condições de fazer o trajeto mais seguro e menos
perigosamente sobre um barco mais sólido, confiando-se a uma divina revelação”.

Na realidade, o mistério do homem é tão profundo que só Deus, que criou o homem
e lhe deu a sua vocação, pode dar-lhe a conhecer o sentido da vida me-diante “uma divina
revelação”. Ora na revelação cristã Deus não revela apenas o mistério de sua vida, mas
manifesta o homem ao homem, oferecendo-lhe a res-posta para as suas indagações:
“Donde venho? Para onde vou? Qual o sentido da minha vida sobre a terra? Por que sofro?
Por que há tantas desgraças no mundo? Por que hei de morrer?” Mais: Deus não somente
ilumina a noite escura do ho-

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mem; Ele também realiza o que revela, tornando o homem participante da vida do próprio
Deus; não somente projeta luz sobre o mistério do sofrimento e da morte, mas livra o
homem do mal e da morte. Sim; a religião não é mera filosofia ou uma mensagem de ordem
puramente intelectual, mas é uma realidade de ordem vital, portadora de nova vida ou de
novo modo de ser. Assim é que a religião dá um sentido à vida humana.

1.5. O ressurgimento da religião


É precisamente neste contexto que se registra um retorno das questões re-lativas a
Deus e aos valores transcendentais. Este retorno se dá na Rússia Sovié-tica, na China
comunista e em outros países, onde o ateísmo tentou extirpar a fé dos cidadãos e
camponeses. Dá-se também no pulular de seitas e correntes religi-osas, que encontram eco
fácil na sociedade de hoje, sequiosa de descobrir o senti-do da vida e da morte do homem.
Nada de mais significativo do que esse desper-tar do senso religioso da humanidade
(embora se deva lastimar que se faça não raro à custa de charlatanismo e exploração da
credulidade de pessoas infelizes). Na verdade, dentro da inteligência e da vontade do
homem há uma capacidade de

Infinito e somente a Verdade Plena e o Bem Absoluto podem saciar adequada-mente esse
potencial; sabiamente dizia o filósofo francês Blaise Pascal que existe no homem “um
abismo infinito que não pode ser preenchido senão por um objeto infinito e imutável, isto é,
por Deus mesmo” (Pensées nº 300). É essa aspiração inata ao Infinito que suscita
constantemente o problema religioso, mesmo quando o homem o quer sufocar; é a própria
natureza do homem, e não algum fator ex-terno, de cultura contingente, que provoca esse
anseio. O homem é um ser es-pontaneamente inquieto e insatisfeito procura aquilo que não
tem e quando o consegue, experimenta o fastio e o dissabor porque nada o satisfaz. O
motivo pro-fundo desta constante sofreguidão é que ele não foi feito para as coisas
transitóri-as e limitadas mas para o Infinito ou para Deus: “Senhor, Tu nos fizeste para Ti e
inquieto é o nosso coração enquanto não repousa em Ti” (S. Agostinho, Confis-sões I, 1, 1).

Nisto o homem se diferencia nitidamente do animal irracional. Com efeito; este, tendo
atendido às suas necessidades biológicas, se dá por saciado e nada mais pede. Não atinge
o transcendental, ao passo que o homem, mesmo satisfeito no plano biológico, não pára:
quer conhecer sempre mais, quer experimentar si-tuações novas, que dilatem seus
horizontes. É por isto, aliás, que muito sabia-mente se aponta a atitude religiosa como
característica do humano, isto é, da in-teligência e da dignidade do homem. Em
conseqüência, um dos sinais típicos da passagem do homem na pré-história são os
símbolos ou as manifestações religio-sas: especialmente o sepultamento dos mortos
(expressão da crença na vida do além e na existência de Deus) é tido como um dos mais
rudimentares sinais que caracterizam o ser humano.

Em conseqüência também, verifica-se que a religião é um fenômeno uni-versal, isto


é, de todas as tribos e de todas as épocas; nunca houve povos arreligi-

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osos ou não religiosos; mesmo as populações mais primitivas descobertas recen-temente na


África ou na Oceania manifestam senso e culto religioso; verdade é que a religião por vezes
sofre aí o contágio da magia, da bruxaria e das supersti-ções, mas é sempre perceptível. Tal
fato é reconhecido por todos os historiadores e etnólogos, por mais diferentes que sejam as
concepções filosóficas de cada um.

Em síntese, pode-se dizer que é a própria estrutura do homem que põe o problema
de Deus. Desde que reflita um pouco sobre si mesmo e suas aspirações, ele descobre em si
a sede de algo que está além de tudo o que ele experimenta com os seus sentidos. Muitas
vezes ele não sabe dar o nome a esse algo mais, nem pode explicar essa sede, que se volta
para o Transcendental. Se ele a quer acalmar com o gozo dos prazeres materiais,
intelectuais, culturais - que esta vida lhe oferece, sente em breve o vazio, pois tudo lhe
escapa de entre as mãos: “E coi-sa horrível sentir que nos escapa tudo o que possuímos”
(Pascal, Pensées nº 152). Auscultando um pouco mais a si mesmo, o homem verifica que a
sua sede é de Absoluto ou de Infinito ou de Deus; com todo o dinamismo do seu ser, o
homem tende para Deus. Por conseguinte, Deus nunca é estranho à criatura humana, mas
lhe está muito próximo; antes diríamos que Deus lhe é mais íntimo do que o que o homem
tem de mais íntimo. Bem dizia S. Agostinho: “Deus superior sum-

mo meo, intimior intimo meo”. - “Deus é mais elevado do que o que tenho de mais elevado
e mais íntimo do que o que tenho de mais íntimo”.

2. A consciência das limitações

Além de experimentar a necessidade de conhecer o sentido da vida para poder


motivar sua existência, o homem faz a experiência inevitável de certas limi-tações que o
afetam no mais profundo do seu ser.

2.1. Nascimento e morte


Nem o começo nem o fim da existência do homem sobre a terra estão em seu poder.
Não é o homem quem dá a si a existência; esta lhe é outorgada; nem o homem é senhor da
mesma, pois ela lhe é retirada. Isto torna evidente a cada in-divíduo a respectiva
contingência: ao nascer, o homem, que não existia, vem a ser; ao morrer, o homem, que
existia, deixa de existir sobre a terra; realmente o ser humano é alguém que não tem em si
mesmo a razão da sua existência; esta não é, por si mesma ou por sua definição,
necessária.

Entre o nascer e o morrer, também o agir do homem é limitado: condicio-nado pelos


traços da sua personalidade e influenciado por fatores internos e ex-ternos, o homem
experimenta a fragilidade do seu labor.

A mais dolorosa experiência de limitação é a que a morte impõe: dir-se-ia que ela
não rouba algum pertence ao homem, mas rouba o próprio homem a si

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mesmo. Esta convicção é tão brutal que muitos fazem tudo para não pensar na morte;
entregam-se a atividades frenéticas, que não lhes deixam o tempo de se encontrarem
consigo mesmos.
A experiência da finitude leva o homem a querer superar os seus próprios limites.
Este desejo está impregnado no mais profundo do ser humano; ele aspira a ser plenamente
livre e feliz numa vida sem fim ou sem ameaças de morte. De todos os anseios do homem,
este é certamente o mais intenso e profundo; ele quer beber da fonte da vida imortal. Mas
onde a encontrará? - A resposta só pode ser uma: junto Àquele que é, por definição, a Vida
e, por isto, pode dar ao homem a vida sem fim. Voltando-se para Deus, e só assim, o
homem encontra a resposta para a sua demanda. Deste modo a experiência da finitude -
especialmente a da morte - põe para o homem o problema religioso como problema
fundamental. Com efeito, a religião, como re-ligação do homem com Deus, é o caminho para
a Vida..., e para a Vida no sentido pleno da palavra. Dir-se-ia mesmo que, sem di-mensão
religiosa, o homem é uma demanda clamorosa que não encontra eco ou ressonância no
universo.

2.2. As limitações do erro

erro.

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Além da experiência da finitude e da morte, o homem faz a experiência do

Criado para a verdade o ser humano se vê envolvido na ignorância e no erro; no tocante ao


mundo material, tem alcançado sem dúvida níveis elevados de conhecimento, embora
caminhe sempre às apalpadelas; no setor moral e no espi-ritual porém é-lhe difícil conhecer o
que e verdade, o que é reto, o que é justo, o que e o bem, facilmente propõe o erro como
verdade, o mal como bem, a ponto que muitas pessoas são céticas com relação aos valores
espirituais e morais; não haveria aí verdade propriamente dita nem padrão de bem. O
ceticismo tem sido uma permanente tentação para o homem.

Mais trágica ainda é a experiência do pecado. Este não somente atrai o ho-mem,
mas escraviza-o, tornando a mente obcecada, a ponto de não reconhecer os males que
comete ou, se os reconhece, não conseguir evitá-los; o ser humano é arrastado a fazer o
que não quisera; já notava o Apóstolo São Paulo, fazendo eco aos filósofos romanos: “O
querer o bem está ao meu alcance, não, porém, o prati-cá-lo. Com efeito, não faço o bem
que eu quero, mas cometo o mal que não quero” (Rm 7,18s).

Essa sujeição ao erro e ao mal suscita no homem a aspiração a livrar-se do erro e da


escravidão do pecado, aspiração que não e superficial, mas brota do mais profundo do ser
humano Este porém verifica que por si só não consegue li-bertar-se pois apesar dos
melhores propósitos, é constantemente solicitado a re-cair e cede a tentação Quem pode
então salvar o homem de tal humilhação? Não outra criatura sujeita também ela à falência,
mas sim o Ser absoluto, que é a pró-pria Verdade e o próprio Bem: Deus. Assim o homem
chega a noção e a necessi-dade de Deus. Este não é um Rei Todo-poderoso que se oporia
à grandeza do ho-mem, mas, ao contrário, é aquele Ser Perfeito que, por ser perfeito, ajuda
o ho-mem a superar suas limitações, fazendo-o participar da plenitude da vida divina; é
Aquele que liberta o homem do erro e do pecado.

Eis, pois, o sentido da religião: é o caminho mediante o qual o homem, mo-vido pelas
mais profundas exigências do seu ser, se põe em contato com Aquele que é o Absoluto e
vem a ser a Resposta aos grandes anseios da pessoa humana; tira o homem de suas
servidões humilhantes e da própria morte, fazendo-o viver na verdade, na liberdade e na
alegria.

Temos assim os elementos para responder à pergunta: por que “ser religio-so”? -
Porque, mediante a religião - e só desta maneira - o homem se realiza ple-namente ou
encontra o cumprimento das suas aspirações mais profundas. Por conseguinte, ao homem
a-religioso falta algo de essencial para o total desdobra-mento das suas virtualidades e a
consecução dos objetivos. A religião não é uma dimensão secundária ou acidental da vida
humana, mas está arraigada no íntimo da pessoa; quem deseje prescindir dela, não pode
deixar de se prejudicar. Por isto o ateísmo e a irreligiosidade não são opções equivalentes a
outras no horizonte da filosofia, mas são atitudes extremamente graves, porque põem em
perigo a reali-zação e a consumação do ser humano.

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Tenham-se em vista, aliás, as considerações de psicólogos recentes, dos quais Carl


Gustav Jung é um representante significativo; ao contrário de Freud, que desprezava a
religião, Jung valorizou a dimensão de fé como integrante do psiquismo humano, sem o qual
a saúde mental é afetada. A propósito, queira conferir PR 289/1986, pp. 277s.

3. Mas por que tanta indiferença?

Apesar do papel capital do encontro com Deus na vida do homem, registra-se grande
faixa de indiferença religiosa na sociedade contemporânea. - Por quê?
As causas são múltiplas. Poremos em relevo algumas que parecem mais
importantes.
1) Muitas e muitas pessoas são tão absorvidas pelos problemas imediatos e
urgentes da vida que não têm as disposições de ânimo necessárias para refletir sobre o
sentido da própria vida: encontram-se sempre fora de si mesmas, emara-nhadas em
dificuldades que não lhes deixam tempo e gosto para a reflexão.

Ademais a civilização contemporânea é rumorosa; provoca trepidação con-tínua e


dos mais diversos tipos, que dificulta ao cidadão o recolhimento silencio-so; o bombardeio
de fatos e o suceder-se de imagens ocupam-lhe a imaginação e o pensamento. Isto tudo faz
que o homem de hoje esteja pouco habituado a en-trar em si mesmo, embora muito precise
desse exercício. Ora, para aprofundar a questão religiosa, é indispensável a capacidade de
refletir e fazer silêncio interior; sem esta, a pessoa é tragada pelo turbilhão dos bens
transitórios, podendo mes-mo esquecer que tudo passa, mas as aspirações congênitas do
ser humano não passam.

2) Outras pessoas há que são absorvidas não por problemas de subsistên-cia, mas
pelo afã de gozar a vida, ganhar dinheiro, conseguir êxito na sua carrei-ra, a ponto de não
conceberem nem o gosto nem o interesse pelos problemas do espírito. O materialismo e o
consumismo têm o triste poder de extinguir no ho-mem a aspiração para Deus e a têmpera
religiosa, que são constitutivas do psi-quismo humano. Quem é tomado pelo anseio de
possuir sempre mais bens mate-riais, fica embotado para os valores transcendentais; já não
experimenta necessi-dade religiosa nem vê utilidade na fé. Isto explica que a crise religiosa
seja hoje mais forte não nos países em que a fé é perseguida e sufocada, mas nos países ri-
cos do Ocidente materialista e consumista.

Dirá alguém: mas há pessoas que afirmam ser felizes sem religião. Pergun-tamos:
será realmente assim? Há momentos em que a vida mostra seu rosto dra-mático mediante
uma doença grave, uma desgraça, um revés financeiro, um luto, a dissolução do casamento,
um sério insucesso na carreira... Em tais momentos parece que os sonhos se dissipam
como um castelo de cartas, caem as certezas que pareciam inabaláveis, tudo dá a
impressão de ser vazio e sem sentido. É en-tão que surge a questão: que significado tem a
vida? Na verdade, o homem toma

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consciência de que é mesquinho e volúvel tudo o que lhe acarretava segurança e bem-estar;
é amarga a condição do homem. Faz-se então sentir a necessidade de algo que, em meio à
volubilidade geral, seja estável, ou entre as incertezas seja verdade firme. Em última análise,
esta é a necessidade de Deus, que por defini-ção é o Bem Absoluto e Imutável.

Por conseguinte não é plenamente verdade que alguém possa viver feliz sem
religião. Por algum tempo talvez isto possa acontecer mas o passar dos anos encarrega se
de fazer sentir a todo homem a necessidade de Deus. Verdade é que tal necessidade pode
ser interpretada erroneamente; o homem pode procurar em cisternas furadas aquilo de que
carece (cf. Jr 2,13); pode bater em portas falsas à procura da verdadeira resposta para seus
anseios. Isto não impede que cedo ou tarde o indivíduo seja, de algum modo posto diante do
problema religioso
3) O desinteresse de muitos também se pode explicar como efeito da luta que o
racionalismo vem movendo contra os valores da fé desde o século XVIII. Com efeito, a
religião tem sido acusada de ser desarrazoada, infantil ou um con-junto da fábulas e mitos...,
de ser alienante e, por isto, prejudicial à sociedade, ...
de alimentar o fanatismo e a intolerância..., de ser contrária à ciência ou obscu-rantista,
responsável pelo subdesenvolvimento de seus adeptos. A polêmica anti-religiosa suscitou
em torno da religião um clima de ceticismo, suspeitas e aver-são; em conseqüência, para
muitos, quem abraça a religião dá provas de pouca cultura, fraqueza de personalidade,
infantilismo, medo, falta de senso crítico...
Em tal contexto compreende-se que o número de pessoas “sem religião” tenda a aumentar.

Na verdade, algumas destas acusações têm seu fundamento na conduta deficiente


de pessoas ou grupos religiosos; deram à sua fé expressões inadequa-das ou caricaturais,
que provocaram o desdém dos racionalistas. Além disto, é preciso que não se apliquem
critérios do presente a épocas passadas; o que para os homens de hoje é evidente no plano
da ciência, da moral, não o era aos ante-passados, de modo que estes, de boa fé, disseram
ou praticaram coisas que hoje não seriam repetidas (assim a insistência no geocentrismo
contra Galileu, os fei-tos da Inquisição, das Cruzadas, etc.). Uma serena consideração do
que é a reli-gião como tal e do conteúdo da mensagem cristã, evidencia que tais acusações
não afetam o valor da religião. Só servem para empalidecer ou apagar na consci-ência
humana a imagem de Deus, o que redunda em eclipse do próprio homem. Pois, na verdade,
à “morte de Deus” se segue inevitavelmente a “morte do ho-mem”.

Este artigo muito deve ao editorial de La Civiltà Cattolica nº 3260, de


l5 04 86, pp. 105-114.

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ANEXO 2

“Compreendendo a Nova Era” (D. Estevão Bittencourt, PR 379/1993)

Em síntese: Nova Era é um conjunto de proposições "místicas" pouco lógi-cas e


concatenadas, mas perpassadas por quatro principais teses: o panteísmo, a reencarnação,
a comunicação com o além... em vista da implantação de uma Nova Era, dita "de Aquário
(ou Aguadeiro)'; em que a humanidade estará unifica-da sob um só Governo mundial e uma
só religião. Tal mensagem é mais fantasio-sa e emocional do que lógica e científica. O
panteísmo, por exemplo, é uma aber-ração filosófica, pois identifica a Divindade (o Absoluto,
o Eterno) com o mundo e o homem, que são relativos e passageiros. Não há prova de
reencarnação, nem al-guém tem reminiscência do que fez ou foi em sua "vida pregressa".
Também se pode dizer, à luz da psicologia e da parapsicologia, que os fenômenos
mediúnicos nada têm que ver com comunicação do além, mas são expressões do
inconsciente do médium e dos seus clientes.

Apesar de tudo, a Nova Era faz sucesso, porque promete paz, fraternidade e
felicidade - valores que faltam ao mundo de hoje e que ninguém vê como instau-rar
mediante os meios convencionais. Na falta de solução racional e lógica, a mente humana se
abre facilmente para as propostas fantasiosas e mágicas, como são as da Nova Era. - Aos
cristãos, conscientes disto, compete responder à inter-pelação que Nova Era lhes dirige,
apresentando um testemunho mais lúcido e eloqüente da grande novidade, que é o
Evangelho vivido e transmitido na Igreja de Cristo confiada a Pedro.

São sempre muito freqüentes as indagações a respeito de Nova Era, cor-rente de


pensamento e ação que tem chamado a atenção por suas proclamações, seus símbolos,
suas previsões... O assunto já foi abordado em PR 354/1991, pp. 518-526 e 360/1992, pp.
235-240. Voltamos a considerá-lo acrescentando novos dados a quanto já publicamos;
proporemos as linhas gerais que caracterizam o Movimento, e uma reflexão a respeito das
mesmas.

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1. TRAÇOS GERAIS

A diferença de outras correntes modernas, Nova Era não tem data precisa de
fundação nem fundador definido; não apresenta um governo centralizado que assuma a
liderança do Movimento. Podemos dizer, sim, que este começou na dé-cada de 1960,
quando apareceram os beatles e os hippies, que exaltavam o amor à natureza, a liberdade
sexual, a paz e uma nova era, dita "de Aquário"; esta foi sendo enaltecida em prosa e verso
no musical Hair.

Sem dúvida, contribuíram para o surto de Nova Era a Sra. Helena Bla-vatsky,
fundadora da Teosofia (corrente panteísta ligada ao pensamento indiano) no século XIX, e
sua discípula, a Sra. Alice Bailey (+ 1948). A Sra. Blavatsky era profundamente infensa ao
Cristianismo, e transmitiu essa sua maneira de ver aos discípulos; assim se manifestava
Blavatsky:

"A doutrina da expiação é um perigoso dogma, em que os cristãos acredi-tam.


Ensina que, independentemente da enormidade de nossos crimes contra as leis de Deus e
dos homens, temos apenas de acreditar no auto-sacrifício de Jesus para a salvação da
humanidade e que seu sangue lavará todas as máculas. Faz vinte anos que prego contra
isso" (A Sabedoria Tradicional. Hemus Ed., São Paulo 1987, 4a. ed., p. 194).

A Nova Era não professa um sistema de pensamento concatenado; ao con-trário,


compreende várias linhas de pensamento, que correm paralelas entre si, e formam um
conjunto heterogêneo, como se verá a seguir: assim o panteísmo, a ufologia, a comunicação
com os extraterrestres vivos e com os mortos, a psicolo-gia transpessoal, o movimento
ecológico, a cura por medicina alternativa... É o que permite aos adeptos da Nova Era estar
presentes na política, na medicina, na educação, na religião, na cultura...

Apontemos os principais temas inseridos nas propostas de Nova Era.

2. PRINCIPAIS TEMAS

Deter-nos-emos sobre sete pontos.

2.1. Deus e a Reencarnação

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A Nova Era professa o panteísmo: Deus seria uma energia universal, donde
procedem todas as coisas. Assim tudo que existe no mundo, é tido como emana-

ção e expressão da Divindade; cada partícula de matéria é divina, pois possui em si todas
as informações do universo. O pensador Roberto Crema, da Universidade Holística
Internacional de Brasília, assim se exprime:

"Deus dorme nos minerais, sente nos vegetais, sonha nos animais, e des-perta nos
humanos" (II Congresso Holístico Internacional. Belo Horizonte, julho de 1991).

Através de encarnações sucessivas, cada ser vivo pode alcançar níveis mais
elevados de consciência, a tal ponto que não precise mais de se reencarnar, mas se tome o
que se chama "um espírito cósmico". É o que lembra Pierre Weil, citan-do Mayse Choisy:

"Na teoria da ida e volta, o espírito decide encarnar-se, e passa dos níveis mais sutis
aos planos grosseiros. Em conseqüência, a matéria não se aquieta en-quanto não volta à
sua fonte divina primitiva. É a involução evolução, simboliza-da pelos dois triângulos que
compõem a estrela de Davi. Não era isso que ensina-va Platão, ao afirmar que conhecer é
lembrar-se? Ou então quando Lamartine es-crevia: 'O homem é um deus decaído que se
lembra dos céus? Coitado, o homem tem memória tão curta... Volta e meia é preciso
lembrar-lhe o que já sabe' " (Pier-re Weil, Sementes para uma Vida Nova. Ed. Vozes,
Petrópolis, p. 47).

Como se vê, o panteísmo da Nova Era está associado, como em outros sis-temas
panteístas, à tese da reencarnação. Já que em tais sistemas não existe Deus distinto do
homem, é o homem mesmo que se salva..., e se salva mediante sucessivos retornos ao
corpo a fim de se aperfeiçoar cada vez mais.

2.2. O Homem

O homem está no centro das considerações da Nora Era. Já que o panteís-mo


professa que a Divindade, o mundo e o homem se identificam, o homem, nes-se contexto,
vem a ser a expressão mais elevada da evolução divina. A Sra. Hele-na Blavatsky, uma das
precursoras do Movimento, assim manifesta seu pensa-mento:

"Vocês acreditam que o homem é um deus?


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- Por favor, diga Deus, e não um deus. A nosso ver, o homem é o único Deus que
podemos conhecer. E como poderia ser de outra forma? Nosso postula-do aceita como
verdadeiro que Deus é um principio universalmente difuso, infini-to e, sendo assim, como
poderia o homem sozinho escapar de ser embebido por e na Deidade? Chamamos pai do
'céu' a essa essência deífica que reconhecemos dentro de nós, em nosso coração e em
nossa consciência espiritual" (A Sabedoria Tradicional, p. 62).

Em conseqüência, os mentores da Nova Era julgam que todas as energias existentes


no universo estão dentro do homem; este, pelo poder de sua mente, quando se concentra
sobre determinado objeto ou projeto, pode torná-lo realida-de, chegando mesmo a efetuar
façanhas milagrosas, tanto para o bem como para o mal da sociedade.

Mas não somente as forças do bem e do mal estão dentro do homem. Aí se acham
também outros elementos contrastantes, como o masculino e o feminino, o amor e o ódio,
Cristo e o demônio... O cérebro consta de dois hemisférios: o es-querdo é a sede das
nossas características masculinas (analisar, contar, plane-jar...); o direito corresponde aos
elementos femininos (a intuição, os sonhos, as metáforas...). O homem perfeito tem que
saber equilibrar e harmonizar esses seus dois lados: o masculino e o feminino. Por isto, os
mestres da Nova Era reconhe-cem as práticas heterossexuais e homossexuais como
igualmente legítimas; desde que haja "relacionamento saudável", os seres mais evoluídos
devem gozar de ple-na liberdade sexual.

Assim Nova Era prevê novo estilo de vida para a humanidade; extinguir-se-á a
família e instaurar-se-á absoluta igualdade entre os seres humanos. A família é tida como
fonte de egoísmo, inveja e possessividade, pois incita o homem a tra-balhar para os seus
descendentes e não para a comunidade como tal; desse egoísmo brotam competições e
conflitos. A solução estaria, portanto, em pôr ter-mo à instituição familiar e instituir
comunidades abertas, cooperativistas e soli-dárias.

Tal procedimento já deixou de ser proposta ou projeto teórico, pois é prati-cado,


segundo relata Pierre Weil em seu livro "Sementes para uma Nova Era":

"Em certas comunidades existe uma liberdade total de relações amorosas entre os
sexos. Existe, por exemplo, na Alemanha um movimento comunitário chamado Action
Analysis Comune, que exigiu, em filosofia de vida, a eliminação total do núcleo familiar.
Consideram a relação de duas pessoas no núcleo famili-ar, à luz da experiência coletiva,
como uma verdadeira doença. Muito influencia-
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da pelas idéias de Reich, a comunidade considera o núcleo familiar como oriundo

de uma necessidade materialista de assegurar a posse da propriedade privada. A


comunidade existe para satisfazer às necessidades materiais e existenciais dos seus
membros. Há nela um respeito muito grande pela vida. Por exemplo, o abor-to é
inconcebível nela. A comunidade dá amparo à mãe durante a gestação e as-sume a
responsabilidade da criação dos filhos. Rajneesh preconiza também um sistema desta
natureza e afirma que é muito mais saudável, para uma criança, ter vários modelos de
adultos com que identificar e escolher o seu próprio com-portamento, do que apenas dois,
sobretudo quando estes modelos são indesejá-veis do ponto de vista humano. Carl Rogers
também questiona bastante o atual modelo familiar. As experiências atuais de 'casamento
aberto' constituem também uma reação aos aspectos penosos de certo modo de vida
familiar" (pp. 139 e 141).

Aliás, o projeto de unificação da humanidade numa comunidade global está sendo


elaborado com certa rapidez. Em 1977, uma assembléia mundial de Aquarianos adotou o
anteprojeto da Constituição da Federação do Planeta Terra. Em maio de 1991, foram
aprovadas emendas dessa Constituição, que atualmente vai sendo examinada pelos líderes
mundiais do Movimento para ser aperfeiçoada.

Essa Constituição da Federação do Planeta Terra, que deverá vigorar no mundo


unificado, prevê um organograma bem definido: na cúpola haveria uma Procuradoria Geral
Mundial e uma Comissão de Procuradores Mundiais Regio-nais. A Procuradoria Geral
constará de cinco membros. Terá a seu serviço uma Polícia Mundial, responsável pelo fiel
cumprimento da legislação internacional.

2.3. A Ufologia

A Nova Era não duvida da existência de seres extraterrestres; são ex-pressões da


Energia Divina Cósmica postas em diversos graus de evolução. Por-tanto deve haver os
mais adiantados dos que nós em civilização, como também os menos evoluídos. Dentre os
mais adiantados, alguns atingiram a condição de ul-traterrestres; aperfeiçoaram-se tanto que
não precisam mais de se encarnar para evoluir; são considerados mestres cósmicos que
podem encarnar-se, caso haja es-pecial missão a cumprir entre seres menos evoluídos.

A bibliografia relativa a seres extraterrestres e ultraterrestres é cada vez mais vasta e


rica em episódios que tomam traços do fantasioso e fictício. Eis al-guns espécimens:

A Sra. Eve Carney e suas duas filhas narram uma visita que fizeram a uma
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nave espacial:

"Há muitos anos, em minha casa situada nos profundos bosques da Pen-silvânia,
minhas filhas e eu estávamos juntas em meditação, quando três Irmãos Espaciais
apareceram no jardim em frente à casa. Preferiram permanecer lá fora quando os convidei
para entrar, devido à sua diferença de altura em relação às portas e ao teto normais.
Convidaram-nos a conhecer sua nave, o que aceitamos com satisfação. Fixaram a hora da
visita para 8.00 horas do dia seguinte, dando-nos instruções para relaxarmos em posição
horizontal no piso, para que pudesse vir a escolta.

Agradecidas, regressamos à casa. Minhas filhas puderam ver a nave sobre nós, já
que ambas têm o dom perceptivo visual.

Ao entardecer do dia seguinte, relaxamos, como combinado, e fizemos três


experiências com meditações diferentes. Abandonei meu corpo e apoiei minhas mãos sobre
os braços de minhas escoltas, experimentando uma emoção tremen-da enquanto
ascendíamos, a uma velocidade incrível, à nave que nos esperava acima. Imediatamente
encontrei-me parada no aposento de controle principal, frente a Athena, enquanto as
lágrimas rolavam-me pela face. Chorando, abraça-mo-nos. Athena (comandante mulher)
começou a mostrar-me vários mapas. Senti que uma de minhas filhas seguia por um longo
passadiço. Embora eu não tenha visto, sabia que se encontrava em alguma outra parte da
nave. Caminhamos e passamos por uma parede transparecente, através da qual pude ver
minha outra filha reclinada sobre uma mesa de exame médico, com alguém junto dela.
Essas recordações são fragmentadas.

Depois de alguns minutos, não mais de quinze, estávamos de volta à nossa


consciência e começamos a comparar nossas experiências" (ERGOM, Projeto Eva-cuação
Mundial. Roca, São Paulo 1991, pp. 99s).

Não raro o contato com naves espaciais é realizado, segundo dizem, por pessoas
postas em estado hipnótico, pois os extraterrestres praticam a hipnose sobre as pessoas
que eles contactam. Daí o seguinte caso:

"Um dos casos mais famosos é o de Bety e Barney Hill, casal norte-americano.
Somente sob hipnose narrava um encontro imediato de terceiro grau, quando teriam sido
levados a bordo de uma espaço-nave e submetidos a detalha-do exame médico por
humanóides extraterrestres...

Sabemos que a hipnose é uma técnica altamente vantajosa no sentido de


desencadear e melhorar a percepção extra-sensorial„ dando alto resultado em tes-

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tes controlados - por exemplo, em telepatia, visão á' distância (clarividência) e precognição.

Ao mesmo tempo, são inacreditavelmente freqüentes na casuística ufológi-ca as


experiências em que os referidos fenômenos parapsicológicos estão presen-tes, sendo
mesmo a telepatia o meio usual de comunicação com os UFO-operado-res, segundo os
contatados.

Certos indivíduos que viveram uma experiência ufológica marcante, passa-ram e ter
o que nós chamamos efeito residual'. após o incidente, entram em esta-do de transe
sonambúlico, de maneira espontânea ou induzida, dando informa-ções de teor variado,
dados técnicos, planetas' de origem, nomes dos comandan-tes de naves e mensagens
místicas" (Artigo “Hipnose na pesquisa Ufológica”; na revista Planeta Ufologia. Editora Três,
São Paulo, abril de 1982, p. 19).

Passemos a outra unidade da mensagem da Nova Era.

2.4. Era de Aquário

Conforme as correntes esotéricas e os mestres da Nova Era, a história da


humanidade compreende ciclos de evolução, também chamados "Eras". A dura-ção dessas
Eras é diversamente indicada pelos diversos autores, mas equivale a 2.000 anos ou pouco
mais cada qual. Segundo as várias contagens, tal seria a seqüência das Eras:

Era de Touro: de 4304 a 2154 a.C.


Era de Carneiro: de 2154 a 4 a.C.
Era de Peixes: de 4a.C. a 2146 d.C.
Era de Aquário: de 2146 a 4296 d.C.
Nesta tabela cada Era compreende 2.150 anos.

A Era de Touro seria a da antiga civilização egípcia; tinha a vaca como ani-mal
sagrado, deusa da fecundidade, e a pecuária como principal cultura.

A Era de Carneiro seria a do povo de Israel... Carneiro, porque o ritual de Israel


praticava o sacrifício de cordeiros; além do quê, o povo cultivava ovelhas

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(seja recordada a típica figura do pastor). O momento de transição da Era do Tou- ro para o
do Cordeiro terá sido a saída, de Israel, do Egito; os hebreus tentaram ainda preservar o
poder do Touro confeccionando o bezerro de ouro no deserto; mas Moisés os censurou e
inaugurou a Era do Cordeiro. Seguiu-se a Era de Pei- xes, inaugurada por Jesus Cristo, que
chamou seus apóstolos para serem pesca- dores de homens; donde se conclui que os
homens são dominados pelo signo de Peixes. O próprio nome Jesus Cristo foi associado ao
símbolo do Peixe, visto que ICHTHYS (em grego, peixe) compõe-se das iniciais de uma
fórmula de fé cristã: Ie- sous Christós Theou Yiós Soter, Jesus Cristo, Filho de Deus
Salvador. Assim o povo dominante da Era de Peixes veio a ser o povo dos discípulos de
Cristo ou o povo cristão.

Jaap Huibers julga que, sendo o peixe um animal que vive no fundo do mar escuro, a
Era de Peixes está sendo uma era marcada pelas trevas; claro es-pécimen disto seriam as
catedrais católicas, sempre sombrias (Aqui não se pode deixar de observar que a
associação de idéias é extremamente frágil, se não ridí-cula. A civilização e a tecnologia
estão num ápice nunca dantes atingido. Quanto à penumbra das catedrais, ela se deve ao
sadio desejo de facilitar o recolhimento e a oração dos seus freqüentadores).

Após a Era de Peixes, espera-se a de Aquarius ou Aguadeiro (um jovem portador de


um cântaro, cuja água ele vai derramando). Aquário é um signo as-trológico regido pelo
planeta Urano, descoberto em 1781, ou seja, durante a Revo-lução Francesa. Por isto o
lema da Revolução Francesa "Liberdade, Igualdade, Fraternidade", que é também o de
Urano, passará a ser o da Nova Era; somente assim o mundo se transformará numa aldeia
global sob um regime único para to-dos os povos.

Os aquarianos dizem que São João, ao falar de céus novos e terra nova em Ap 21,1,
se referiu à Nova Era, que Urano, o Ancião dos Dias, proporcionaria à humanidade; a Nova
Jerusalém, que desce dos céus, seria precisamente a nova Era de Urano (note-se que a
palavra Urano corresponde ao grego ouranós, céu).

2.5. Jesus Cristo

Para a Nova Era, Jesus Cristo foi apenas um dos muitos mestres que con-tribuíram
para a evolução da humanidade. O seu nome consta de Jesus - apelati-vo judaico masculino
- e Cristo, adjetivo que designa um nível de evolução eleva-do; Jesus, portanto, foi um
homem altamente crístico; daí ser chamado "Jesus Cristo".

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Jesus Cristo não é chamado Senhor pelos mentores da Nova Era, porque o seu
senhorio termina com a Era de Peixes. O autor de um artigo na revista "Des-tino", ano II, sg
21, abril de 1991, p. 51, descreve o papel de Jesus frente aos no-vos tempos aquarianos:

“A passagem de Peixes para Aquário, do ponto de vista da astrologia, é ex-


tremamente difícil, pois as características dos dois signos são bem diferentes. Pei-xes é
representado pelo espírito de sacrifício, de caridade. Aquário aponta em ou-tra direção. É o
signo da amizade, do companheirismo, da esperança e da criação de um mundo novo.

Com a mudança de Peixes para Aquário, dizem os astrólogos, sai de cena também
Jesus Cristo, o grande avatar da Era que termina, dando lugar ao patro-no máximo de
Aquário, o mestre Saint Germain”.

O mestre Saint Germain é uma das figuras caras ao esoterismo.

2.6. O Avatar

Os mestres da Nova Era esperam um Messias, que eles também chamam Avatar
(Avatar vem do sânscrito avatara, descida (do Céu sobre a Terra)). Deverá instaurar a
unidade, a ordem e a paz no mundo. Cada Era tem seu Avatar ou Messias. Esse
personagem aguardado tem nomes diversos, entre os quais Saint Germain e Lord Maitreya;
Jesus terá sido discípulo de Maitreya. Eis o que Worls Goodwill, conceituado adepto de
Nova Era, diz a respeito do Avatar:

"Este é um tipo de preparação não apenas para uma nova civilização e cul-tura
numa Nova Ordem Mundial, mas também para a vinda de uma nova dispen-sação espiritual.
A humanidade não está seguindo um curso não planejado. Há um plano divino no cosmos,
do qual somos parte. No fim de uma Era os recursos humanos e instituições estabelecidas
parecem inadequados para suprir as neces-sidades e resolver os problemas do mundo. Em
tal tempo, a vinda de um Mestre, um líder ou avatar espiritual, é antecipada e invocada pelas
massas da humani-dade em todas as partes do mundo. Hoje o reaparecimento do Instrutor
do mun-do - o Ungido - é esperado por milhões, não só por aqueles da fé cristã, mas por
aqueles de todas as crenças que esperam o Avatar, debaixo dos nomes: Senhor Maitreya,
Krishna, Messias, Iman Mahdí e o Bodhísattva... A preparação por ho-mens e mulheres de
boa vontade é necessária para introduzir novos valores, no-vos padrões de comportamento,
novas atitudes de não separação e cooperação, guiando as retas relações humanas a uma
paz mundial. O Instrutor mundial vin-

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douro estará principalmente preocupado não com o resultado ou erros passados e


insuficiências, mas com as necessidades de uma Nova Ordem Mundial e com a organização
da estrutura social" (A Rede Cresce, Londrina, p.3).

O esperado Messias satisfará aos anseios de todas as crenças religiosas, que


aguardam a vinda de um Salvador: o Maitreya de Nova Era será o prometido aos judeus, o
quinto Buda dos budistas, o Iman Mahdi dos muçulmanos, o Krishna dos hinduístas, e
também o Cristo dos cristãos. Alguns aquarianos jul-gam que Maitreya já nasceu em 1982 -
o que não combina coma previsão de que a Era de Aquário só começará em 2146 d.C.
(Maitreya terá 164 anos quando se manifestar ao mundo, ou seja, 2146 - 1982 = 164?).

Como quer que seja, a vinda do novo Avatar unificará não somente os inte-resses
políticos e administrativos da humanidade, mas também o senso religioso: o Cristianismo
será extinto em favor de uma nova e única religião, dizem os aqua-rianos.

2.7. Magia e Curandeirismo

A Nova Era conhece agentes seus chamados "bruxos, magos, iluminados..." Seriam
seres mais evoluídos do que o comum dos homens; dotados de poderes especiais,
paranormais, realizarão façanhas portentosas em dois planos:

- no plano de adivinhação: os magos poderão revelar coisas ocultas ou fu-turas,


recorrendo ao tarô, aos búzios, à astrologia; farão mapa astral mediante computador;
cultivarão a grafologia (a caligrafia) para predizer o futuro das pes-soas, praticarão a
quiromancia ou a leitura "profética" das linhas das mãos...

- no plano ritual: os bruxos da Nova Era têm seus ritos semelhantes aos dos xamãs
(exorcistas de povos primitivos), aos dos sabbat e da Missa Negra dos bruxos medievais,
aos do tranta, que adota a prática sexual ritualista. Há tam-bém o uso da pirâmide, tida
como fonte de grande energia. Seja também mencio-nada a projeção astral ou o exercício
segundo o qual o bruxo julga abandonar seu corpo durante o sono a fim de viajar pelos
espaços. A revista Planeta descreve tal exercício nos seguintes termos:

"Até uns poucos anos atrás chamava-se a peculiar experiência de estar fora do
corpo 'projeção astral' mas ultimamente ela tem sido denominada ‘experi-ência
extracorpórea’. A viagem astral consiste, essencialmente, na projeção do corpo interior ou
personalidade do corpo físico, geralmente durante o sono, mas

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não exclusivamente. As projeções astrais acontecem na vigília e costumam ser


chamadas 'deslocamentos momentâneos'...

Nesse fenômeno a pessoa viaja cobrindo distâncias diversas, desde o teto de seu
quarto até o outro lado do continente, e permanece ligada ao corpo físico por um fio
prateado, que nem sempre lhe é visível...

Os habituais efeitos físicos e emocionais da projeção astral são os seguin-


tes:

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- Sensação de extremo cansaço ao despertar, mesmo que a pessoa tenha dormido


por muitas horas.

- No final de cada projeção astral, sensação de queda de grande altura, de estar


girando em direção ao solo, geralmente acompanhada pelo medo de cair. Isto representa
apenas a reação física à desaceleração de vibrações, que se dá à medida que o eu interior
retorna ao invólucro físico, restabelecendo a ligação com ele.

- A nítida lembrança de ter atravessado muros aparentemente sólidos ou de ter visto


de cima o próprio corpo, geralmente no início da viagem. Sensações de estar flutuando para
fora do corpo, primeiro devagar, elevando-se até o teto do quarto, depois ganhando
velocidade, às vezes fulminante, deslocando-se rapida-mente pela paisagem, observação,
ao mesmo tempo, dos marcos físicos em volta e, às vezes, sensações de conforto e
desconforto devidas à temperatura, tais como calafrios, umidade ou calor. Ocasionalmente,
observação de um fio prateado atrás de si, que tornava a se enrolar por ocasião do
regresso.

- Ao fim da viagem ou no local de destino, observação de pessoas ou cenas,


geralmente com incapacidade de estabelecer contato através da fala. Há registro de
contatos visuais.

- Posse plena das faculdades de raciocínio durante o sonho" (Artigo "Expe-riências


Extracorpóreas" em Revista "Planeta Especial - Sonhos". Editora Três, São Paulo, pp. 54s).

3. OS SÍMBOLOS DA NOVA ERA

A Nova Era recorre a muitos símbolos, que pretendem insinuar as proposi-ções de


sua mensagem. Cada corrente da Nova Era tem seus emblemas corres-pondentes ao que
ela professa. Eis alguns dos principais sinais utilizados:

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1) O arco-iris significa a luz divina, que se vai irradiando e faz a ponte en-tre o céu e
a Terra ou entre os seres terrestres e os extraterrestres.

2) Fitas entrelaçadas designam a interdependência dos seres existentes e a


tendência a fazer da multiplicidade uma unidade global.

Símbolo proposto por Marilyn Ferguson em seu livro "A Conspiração Aqua-riana"
(1980).

3) Yin-Yang é antiga figura oriental que lembra o equilíbrio das forças cós-micas
positivas e negativas; os opostos se compensarão mutuamente na Nova Era.

4) Urano é o planeta que rege o mundo na Era de Aquário, como dito atrás.
Simboliza a harmonia dos homens com o cosmos.

5) Pirâmide é tida como elemento que capta a energia cósmica e beneficia as


pessoas (A propósito de pirâmides e "efeitos maravilhosos'; ver PR 326/1989, pp. 324-329).

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6) Cruz de Nero ou Símbolo de Paz é uma cruz de cabeça para baixo ou em


aparência de pé de galinha. Traz a paz a quem a usa em brincos, broches, cami-setas,
cadernos...

7) Pomba com ramo no bico. Simboliza a paz à qual tendem os aquarianos, na


esperança de que as águas de Peixes sequem para dar lugar à Nova Era.

8) Estrela de Davi, com seis pontas, simboliza os processos de involução e evolução.


Com efeito; o triângulo que aponta para baixo, apresenta a involução da energia divina que
desce às suas formas mais boçais, ao passo que o triângulo voltado para cima indica a
ascensão dos seres que tendem a se divinizar cada vez mais.

9) Estrela de cinco pontas significa o Ser Cósmico Divino em sua plenitude ou o


Absoluto. O triângulo superior com um olho no centro simboliza o Ser Supe-rior a todos na
escala hierárquica (Serquealguns identificam com Lúcifer, consi-
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derado como anjo de luz). Esse pentagrama é irradiante de bons fluidos, se colo-cado de
cabeça para cima; em posição inversa, emite maus fluidos.

10) Borboleta significa o homem que deixa as trevas do casulo de Peixes para
entrar na dimensão celestial do Aquário.

11) Unicórnio (animal de quatro patas, com um chifre só): símbolo de liber-dade
sexual e moda unisex, com todas as suas manifestações mais ousadas.

12) Cruz suástica é o símbolo da boa sorte que toca aos iniciados.

Além destes e de outros símbolos típicos, Nova Era usa um vocabulário próprio, do
qual vão abaixo apresentados alguns espécimens.

4. A NOMENCLATURA DA NOVA ERA

1) O Movimento tem os seguintes apelativos: Nova Era (New Age), Era de Aquário
ou Aquarius, Conspiração Aquariana, Nova Ordem Mundial, Nova Cons-ciência.

2) Deus é dito: Eu Maior, Grande Mente Universal, a Força, o Absoluto.

3) O planeta Terra é: Mãe Terra, Mãe Gaia (do grego gé, terra), Mãe de Água,
Nave Terra.

4) A unificação do gênero humano é: Fraternidade Universal, Família Glo-bal,


Holismo (de holon, tudo, em grego), Colônia Global, Paradigma (= padroniza-ção).

5) Os espíritos que, do além, se comunicam com o homem, são: Mestres Cósmicos,


Espíritos Cósmicos, Mestres Universais, Extraterrestres ou ETs.

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6) O canal de comunicação é dito channeling.

7) O chefe que governará a nova Ordem Mundial, é: Senhor Maitreya, Saint


Germain, Instrutor do Mundo, o Ungido, o Avatar.

8) Os que se dedicam à implantação da Nova Era, mediante contato com Espíritos


Cósmicos, são: Médiuns da Nova Era, Bruxos, Magos, Sensitivos, Para-normais. Tais seres
são tidos como emissários de um Governo secreto, dirigido por seres extraterrestres, que vai
comandando todas as transformações ocorren-tes hoje sobre a Terra.

5. ATUAÇÃO DA NOVA ERA

Dizem muitos observadores que os adeptos de Nova Era são, em grande parte,
responsáveis pelas mudanças de ordem cultural e comportamental pelas quais vai passando
o mundo contemporâneo. - A própria Sra. Marilyn Ferguson, em seu livro "A Conspiração
Aquariana", o verifica:

"Uma rede poderosa, embora sem liderança, está trabalhando no sentido de


provocar uma mudança radical no mundo. Seus membros romperam com al-guns
elementos-chave do pensamento ocidental, e até mesmo podem ter rompido com a
continuidade da História...

Há Conspiradores Aquarianos de todos os níveis de renda e educação, dos mais


humildes aos mais poderosos. São professores, auxiliares de escritório, cien-tistas famosos,
funcionários do governo e legisladores, artistas e milionários, mo-toristas de taxi e
celebridades, expoentes da medicina, da educação, do direito e da psicologia. Muitos são
conhecidos em suas áreas de trabalho, e seus nomes podem ser familiares. Outros se
mantêm em silêncio quanto a seu envolvimento, acreditando que possam ser mais eficazes
se não forem identificados com idéias que, com demasiada freqüência, têm sido mal
interpretadas" (pp. 23s).

Pode-se averiguar, dizem, a atuação de Nova Era em alguns setores de maior


projeção na vida pública.

5.1. Educação

Verifica-se que a mentalidade e os símbolos da Nova Era vão penetrando


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nos estabelecimentos de ensino de todos os graus. Existem mesmo Universidades


Holísticas pelo mundo, sendo que em Brasília há uma, dita Universidade da Paz, construída
com recursos do Distrito Federal; neste está sendo preparada a Cida-de da Paz ou a
Alvorada. Brasília é tida como região de grande força espiritual e ponto de convergência dos
diversos ramos ocultistas.

Em julho de 1991, realizou-se o II Congresso Holístico Internacional na ci-dade de


Belo Horizonte: reuniu membros das Universidades Holisticas e profissio-nais da educação
para estudar como fazer da educação um veículo transmissor das idéias da Nova Era e um
canal transformador da sociedade. Para tanto, são programados exercícios de relaxamento
e meditação transcendental, que incutem ao aluno uma espiritualidade alheia aos princípios
tradicionais da educação cris-tã. Nesse Congresso um médico brasileiro defendeu a tese
segundo a qual as mães falharam na educação dos filhos, por isto o mundo de hoje é
caótico. Para resolver o problema, dever-se-iam criar "escolas de mães" ou de profissionais
fe-mininas que se encarregariam da formação holística das crianças desde os seis anos de
idade. "Ser mãe" tornar-se-á, no caso, uma profissão, independente da maternidade física.

Um dos princípios da educação "Nova Era" afirma que o aluno não precisa de
aprender coisa alguma de fora para dentro, mas deve aprender de dentro para fora, suposto
que todo o saber já está contido dentro dele; essa nova forma de educação põe o discípulo
em estado de "superconsciência", levando-o à vivência de uma consciência cósmica ou
transpessoal, estado este que se opõe ao estado de consciência normal e de vigília.

5.2. Música

Nova Era se propaga também pela música. Há dois tipos de música aquari-ana: a
música New Age propriamente dita e a música rock convencional.

A Música New Age tem o estilo mantra. Mantra quer dizer, em sânscrito, li-bertação
da mente (man = mente; tra = libertação). O estilo mantra utiliza sons que alteram e
influenciam o estado de consciência; na verdade, os mantra são sí-labas, palavras ou frases
que, repetidos com freqüência, marcam o consciente e o inconsciente da pessoa, servindo-
lhe para o relax e a meditação.

A Música Rock Convencional é outro veículo de Nova Era, tanto por sua le-tra como
por seu ritmo. Com efeito; a letra rock pesada refere-se muitas vezes ao sexo livre, ao
homossexualismo, ao adultério e à prostituição como formas válidas
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de comportamento. Quanto ao ritmo, dito beat, é concebido matematicamente de modo a


excitar o sistema nervoso: o som é elevado a sete decibéis, cota que está acima da
tolerância do sistema nervoso e debilita o funcionamento normal do cé-rebro; tem efeito
provocador, que cede à depressão, à revolta e à agressividade; daí a procura de drogas e
libertinismo sexual por parte de quem é assim atingido e procura saída para o seu estado de
ânimo convulsionado.

5.3. A Medicina Alternativa

A Nova Era valoriza a Medicina não convencional, ou seja, a Medicina al-ternativa,


mais relacionada com "misticismo" do que com ciência. A justificativa antropológica dessa
prática é a seguinte: o homem possui um corpo energético, do qual o corpo físico é apenas
uma manifestação. Esse corpo energético consta da mesma energia que constitui a
Divindade. As doenças do corpo físico, portan-to, são dependentes do corpo energético,
pois o corpo físico é o espelho do corpo energético.

Na base desta concepção, os aquarianos adotam as terapias alternativas já


existentes no Oriente e acrescentam-lhes ainda outras. Entre estas maneiras al-ternativas,
merece destaque o cultivo de pensamentos positivos.

Além disto, a Medicina da Nova Era julga que, como a energia divina é luz e a luz
compreende as sete cores do espectro, assim também nosso corpo energé-tico, que é
divino, é formado pelas cores contidas na luz branca, cores que são chamadas chakas.
Cada cor ou cada chakra corresponde a uma região do corpo humano. Conseqüentemente,
o tratamento de moléstias se faz mediante a "ener-gização" do chakra (ou da parte do
corpo) afetado; o chakra causa a doença, por-que está afetado. Tal energização ocorre
mediante o recurso a cores, pirâmides, cristais, Florais de Bach (terapia pelas flores), frases
de conteúdo positivo, musi-coterapia, massagens orientais e muitos outros procedimentos.

Pode-se mencionar aqui também a psicoterapia utilizada pela Nova Era: re-corre à
chamada "psicologia transpessoal". Esta leva o indivíduo a vários estados de consciência,
para que finalmente transcenda os limites do tempo, do espaço e da individualidade,
atingindo o grau de consciência cósmica. Essa terapia servia-se, a princípio, do ácido
lisérgico (LSD), provocador de sucessivos estados de consciência; tal método já foi
abandonado em favor do recurso à meditação trans-cendental, que propicia os mesmos
efeitos. A hipnose e a regressão em idade são também instrumentos caros á psicoterapia
aquariana.

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6. QUE DIZER?

O contato com o programa da Nova Era sugere várias considerações, das quais três
serão, a seguir, propostas. Os demais pontos da mensagem de Nova Era são elucidados no
Curso sobre Ocultismo da Escola "Mater Ecclesiae", Caixa postal 1362, 20001-970- Rio
(RJ).

6.1. Fusão-confusão

O Holismo, pretendendo unificar a humanidade, com suas crenças e seus


comportamentos, propõe uma fusão, que é confusão. Falta à mensagem da Nova Era a luz
de um discurso lógico, racional, pois a emoção e o sentimento prepon-deram. Por
conseguinte, as proposições do Holismo não podem ser comprovadas nem podem
apresentar credenciais; a emoção e a fantasia são as suas principais fontes inspiradoras.
Por isto, o edifício de idéias da Nova Era é extremamente frá-gil; é adaptável ao gosto de
cada interessado, pois o subjetivismo aí prepondera. Este fato dispensa o estudioso de uma
crítica muito cerrada, pois a Nova Era ver-sa mais sobre o plano subjetivo dos sentimentos e
da imaginação do que na esfe-ra da lógica e da intelectualidade.

6.2. Panteísmo, reencarnação, comunicação com o além.

Como quer que seja, distinguem-se na Nova Era três teses, que parecem ser as
pilastras da respectiva mensagem.

a) Panteísmo. A identificação da Divindade com tudo (pari) ocorre em qual-quer


apresentação do Holismo. Ora este ponto é altamente vulnerável, pois con-tradiz às regras
mais elementares da lógica: faz coincidir o Absoluto (Deus) com o

relativo (o mundo volúvel e o homem), o Eterno (Deus) com o temporal (mundo e homem), o
Necessário (Deus) com o contingente (mundo e homem), o Imutável (Deus) com o mutável e
volúvel (o mundo e o homem). Assim o Sim é identificado com o Não - o que fere as normas
fundamentais do pensar.

b) Reencarnação. Esta tese é geralmente associada ao panteísmo, como dito atrás.


Com efeito; se não há um Deus distinto do homem, é o homem mesmo que se salva, e se
salva através de sucessivas tentativas e experiências de vida neste mundo. - Ora esta
afirmação é arbitrária, pois carece de provas ou de fun-damento; nenhuma pessoa sadia se
recorda do que tenha sido e vivido numa en-
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carnação anterior; os próprios "relatos de vida pregressa" são explicados pela pa-
rapsicologia como manifestações do inconsciente da pessoa hipnotizada, que traz à tona
episódios vividos na existência presente e livremente associados entre si para formar um
enredo aparentemente novo.

c) Comunicação com o além. A suposição de que nos podemos comunicar com o


além (almas de defuntos, anjos ou seres de outros planetas) é desmentida pela Filosofia e a
própria Psicologia. Não há receita que nos permita chamar ao nosso convívio seres
extraterrestres; os encantamentos e as artes rituais mediú-nicas não o conseguem; as
pretensas comunicações do além captadas por bruxos ou médiuns não são senão
expressões do próprio médium, que tira do seu in-consciente e do inconsciente dos seus
clientes as mensagens que ele profere como se fossem oriundas do além.

Tal fenômeno é muito conhecido pela Parapsicologia, que no caso dispensa


explicações misteriosas ou "transcendentais". A propósito ver as pp. 532-536 des-te
fascículo.

6.3. O sucesso da Nova Era

Apesar de muito inconsistente, a Mensagem da Nova Era encontra grande aceitação


em nossas sociedades da América e da Europa. Por quê?

- O simples fato de propor uma novidade de índole mundial, radical e total


é um atrativo de grande influência. Os homens de nossos tempos sofrem de uma crise
generalizada na política, na economia, na cultura em geral; não vêem solu-ção próxima no
recurso aos meios convencionais da ciência e da lógica. Por con-seguinte, estão
especialmente abertos a qualquer tipo de solução "transcendental, mágica, irracional".
Quanto mais maravilhosa é a mensagem proposta em tais cir-cunstâncias, tanto mais poder
sedutor terá. Afinal de contas, é sempre verdade que em todo homem, mesmo culto, há o
gosto inconsciente do mito, do irreal, do

romance, da lenda..., pois o irreal é mais belo do que o real; o irreal é construído por cada
um como ele o quer, e cada um tende a fazer do irreal sonhado a sua re-alidade ou a própria
realidade. Esta tendência é mais acentuada em nossos dias, quando prevalece um certo
antiintelectualismo em matéria de religião e Moral; a metafísica é desprezada por certas
escolas; parece a muitos que os sentimentos e as emoções é que devem inspirar as crenças
religiosas, pois estas careceriam de parâmetros objetivos firmes e válidos para todos os
homens.

Não obstante, pode-se dizer que o Movimento da Nova Era tem o valor de

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despertar a consciência dos cristãos. Lembra-lhes que o mundo está ávido de algo maior e
melhor do que a situação aflitiva de muitos povos contemporâneos. Ora o cristão sabe que a
grande novidade que responde cabalmente a tal anseio, é a do Cristo Jesus ou é a do
Evangelho pregado por Cristo e entregue a Pedro e seus sucessores na Igreja. É o Senhor
quem afirma: "Vós sois o sal da terra... Vós sois a luz do mundo... Não se acende uma
lâmpada para coloca-la debaixo do alquei-re, mas no candelabro, e assim ela brilhe para
todos os que estão na casa. Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que, vendo
as vossas boas obras, glo-rifiquem vosso Pai que está nos céus" (Mt 5,13-16).

Possam os cristãos, interpelados pelos seus irmãos aquarianos, tomar sempre mais
viva consciência da seriedade e do valor de tais palavras!

A guisa de bibliografia, sejam citados:

MARCO ANDRÉ, Nova Era - O que é? De onde vem? O que pretende? Ed. Betânia,
Caixa postal 5010, Venda Nova (MG).

NEW AGE. A Nova Era à luz do Evangelho. Editor Gehard Sautter, Caixa postal
21486, 04698-970 - São Paulo (SP).

SCHLINK, BASILÉA M., Nova Era à luz da Bíblia, Caixa postal 3440,80001-970
Curitiba (PR).

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