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Resumo:
No âmbito educacional a Constituição Federal (CF) de 1988 trouxe alguns itens
fundamentais para que sejam perseguidas as bases que permitam uma sociedade mais
democrática. Um desses itens consiste na vinculação de mínimos percentuais
obrigatórios sobre os impostos recolhidos a serem aplicados em educação. Nesse
sentido, a CF de 1988 reitera um compromisso social que no Brasil existe desde a
Constituição de 1934 que estabeleceu o financiamento governamental em patamares
mínimos na educação, o que permitiu que passasse a haver maior previsibilidade e
continuidade de recursos para a área. A Proposta de Emenda Constitucional 55 (PEC
55) aprovada pelo Senado Federal em dezembro de 2016, institui um novo regime fiscal
que congela por vinte anos os investimentos em educação. Este artigo procura analisar
os impactos destas alterações constitucionais sobre as metas do Plano Nacional de
Educação (PNE) (Lei 13.005 de 25 de junho de 2014). Foram utilizadas fontes
legislativas, bem como análises realizadas pela Fineduca (Associação Nacional de
Pesquisadores em Financiamento da Educação) e pela Sociedade Brasileira de Economia
Política. Concluimos que o congelamento dos recursos educacionais pelo período
mencionado provocará a queda brutal de recursos para educação, inviabilizando o
cumprimento das metas do PNE. Os dados que caracterizam a situação educacional do
país mostram que os investimentos em educação no Brasil já estão muito aquém dos
desafios relativos à universalização, qualidade e equidade. Logo, o quadro que se
esboça com a PEC 55 é de redução dos gastos em educação, com baixas ainda maiores
em relação aos patamares atuais. Dentre os objetivos fundamentais da República
Federativa do Brasil presentes na Constituição de 1988 verificamos que a educação é o
setor mais transversal para que eles sejam cumpridos, bem como é o setor que induz e
reforça políticas públicas de outros setores, portanto, estamos diante da desconfiguração
da Constituição Federal que legalizou a ordem democrática após o período ditatorial.
O “novo regime fiscal” fixa o limite à despesa primária dos poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário, para cada exercício e pelos próximos 20 anos. No caso da
educação e da saúde, o congelamento de despesas passa a ser válido a partir de 2018.
Despesas primárias são todas as despesas do governo sem contar as despesas
financeiras, ou seja, a que corresponde à dívida pública. A busca pelo controle das
despesas primárias não é algo novo, uma vez que há mais de duas décadas as metas de
superávit primário, ou seja, a busca por reduzir as despesas primárias é uma das
principais diretrizes da política econômica posta em prática no país. O que há de novo
no momento total é um aprofundamento do rigor do controle dos gastos sociais do
governo que coloca em xeque a educação pública brasileira em amplo sentido.
De acordo com a PEC 55, para 2018, o limite será equivalente à despesa
primária realizada em 2017, corrigida pelo IPCA. Daí em diante, será definido pelo
valor limite do ano imediatamente anterior corrigido pelo índice de inflação.
A nova métrica do “equilíbrio fiscal” busca impedir o crescimento real do gasto
primário de um ano para o outro. Sua ampliação será no máximo igual à inflação do ano
anterior, ou seja, concedida apenas a atualização monetária. Como o PIB varia não só
pela inflação, que majora seu valor nominal, mas também pelo aumento de todos os
bens e serviços produzidos no País, salvo casos de deflação e recessão, a defasagem na
taxa de expansão da despesa primária provocará a perda da sua participação relativa,
decorrente de um crescimento inferior ao PIB. O que isso expressa é que,
perversamente, os serviços públicos seriam prejudicados em seu financiamento
inclusive nos momentos de crescimento da riqueza produzida no país.
Segundo esses dados, significa que, em 20 anos, restará apenas 3% do PIB para
todos os gastos sociais (educação, saúde, funcionalismo público, segurança pública,
exército, judiciário, legislativo). Este quadro financeiro inviabiliza a meta 20, de
financiamento estabelecida pelo Plano Nacional de Educação de 2014, que pretendia:
“[...] ampliar o investimento público em educação pública de forma a atingir, no
mínimo, o patamar de sete por cento do Produto Interno Bruto (PIB) do país no quinto
ano de vigência desta lei e, no mínimo, o equivalente a dez por cento do PIB ao final do
decênio” (BRASIL, 2014)
Desse modo, ficam comprometidas as ações de ampliação de matrículas, bem
como de valorização da carreira docente longamente debatidas pelos educadores e
definidas no PNE. Constatou-se, na elaboração do Plano, a necessidade superior a 17
milhões de vagas em etapas como creches, educação especial, educação profissional e
educação Superior. Na educação de jovens e adultos o desafio consiste em 30 milhões
de brasileiros. Com relação à valorização dos profissionais da educação, o PNE
estabeleceu que até 2024 todos tenham formação em nível superior obtido na área em
que lecionam (em 2013 apenas 50,6%) com um plano de carreira adequado. Além disso,
que até 2023, 50% dos professores possuam pós-graduação e que até 2020 os
profissionais do magistério da rede pública tenham seu rendimento médio equiparado
àquele dos demais profissionais com nível de formação equivalente. Considerando que
todos tenham nível superior, isso implicaria uma ampliação entre 60 e 90% dos valores
atualmente aplicados (FINEDUCA, 2017).