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INVERNO 2017
Nº 301 – R$ 10,00
ISSN 2318-7107
n MENSAGEM
Saudações Rosacruzes!
Sincera e Fraternalmente
AMORC-GLP
11 Ah! Os relógios
Por MARIO QUINTANA
06
Por ABDUL CADRE, FRC
24 Os cavaleiros templários
Por RALPH M. LEWIS, FRC
32 A semente
Por AULORES FERREIRA LYRA, SRC
12
34 Os ensinamentos da Cabala
Por SANDRA REGINA RUDIGER AYYAD, SRC
48 Sanctum Celestial
“A FONTE DA JUVENTUDE” por H. SPENCER LEWIS, frc – Ex-Imperator da AMORC
52 Ecos do passado
UMA HOMENAGEM À HISTÓRIA DA AMORC NO MUNDO
24
2 O ROSACRUZ · INVERNO 2017
O
s textos dessa publicação não representam a palavra oficial da
AMORC, salvo quando indicado neste sentido. O conteúdo dos
artigos representa a palavra e o pensamento dos próprios autores
Publicação trimestral da e são de sua inteira responsabilidade os aspectos legais e jurídicos que
Ordem Rosacruz, AMORC
possam estar interrelacionados com sua publicação.
Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa
Bosque Rosacruz – Curitiba – Paraná Esta publicação foi compilada, redigida, composta e impressa na Ordem
Rosacruz, AMORC – Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa.
Todos os direitos de publicação e reprodução são reservados à Antiga
e Mística Ordem Rosae Crucis, AMORC – Grande Loja da Jurisdição de
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As demais jurisdições da Ordem Rosacruz também editam uma revista
do mesmo gênero que a nossa: El Rosacruz, em espanhol; Rosicrucian
Digest e Rosicrucian Beacon, em inglês; Rose+Croix, em francês; Crux
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Barajuji, em japonês e Rosenkorset, em línguas nórdicas.
CIRCULAÇÃO MUNDIAL
Propósito da expediente
Coordenação e Supervisão: Hélio de Moraes e Marques, FRC
Ordem Rosacruz n
A Ordem Rosacruz, AMORC é uma orga- n Editor: Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa
nização internacional de caráter templário,
místico, cultural e fraternal, de homens e
n Colaboração: Estudantes Rosacruzes e Amigos da AMORC
mulheres dedicados ao estudo e aplicação
como colaborar
prática das leis naturais que regem o uni-
verso e a vida.
Seu objetivo é promover a evolução da
humanidade através do desenvolvimento
das potencialidades de cada indivíduo e
n Todas as colaborações devem estar acompanhadas pela declaração do
propiciar ao seu estudante uma vida har- autor cedendo os direitos ou autorizando a publicação.
moniosa que lhe permita alcançar saúde,
felicidade e paz.
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Neste mister, a Ordem Rosacruz ofe- nas normas estabelecidas ou que não estiverem em concordância com a
rece um sistema eficaz e comprovado de pauta da revista.
instrução e orientação para um profundo
autoc onhecimento e compreensão dos n Enviar apenas cópias digitadas, por e-mail, CD ou DVD. Originais não
processos que conduzem à Iluminação. serão devolvidos.
Essa antiga e especial sabedoria foi cui-
dadosamente preservada desde o seu n No caso de fotografias ou ilustrações, o autor do artigo deverá providenciar
desenvolvimento pelas Escolas de Misté- a autorização dos autores, necessária para publicação.
rios Esotéricos e possui, além do aspecto
filosófico e metafísico, um caráter prático. n Os temas dos artigos devem estar relacionados com os estudos e práticas
A aplicação destes ensinamentos está ao rosacruzes, misticismo, arte, ciências e cultura geral.
alcance de toda pessoa sincera, disposta a
aprender, de mente aberta e motivação
positiva e construtiva. nossa capa
Pintura de J. Augustus Knapp, intitulada Father
C.R.C., uma concepção idealista do espírito
do Rosacrucianismo – o sábio sentado em sua
mesa, copiando do Livro Secreto da Natureza
apoiado na caveira humana, com suas páginas
iluminadas pela vela da mente iluminada. O
Rua Nicarágua 2620 – Bacacheri Grande Livro da Rosacruz ao lado na mesa
82515-260 Curitiba, PR – Brasil
Tel (41) 3351-3000 / Fax (41) 3351-3065 junto a uma ampulheta, mostra que oportu-
www.amorc.org.br namente tudo deverá ser revelado.
© AMORC
Por CHRISTIAN BERNARD, FRC – Imperator da AMORC
O
Código Rosacruz de Vida é um singular o campo de aplicação deste artigo.
guia de conduta para todo estu- É evidente que, demonstrar um profundo
dante Rosacruz que pretende vi- interesse pelas criaturas humanas, é ajudá-
ver conforme os ideais da Ordem. -las, sempre que possível ou tivermos ocasião
Publicamos nesta edição mais um artigo do para fazê-lo, é a nossos irmãos humanos
Código, comentado pelo nosso Imperator. que devemos estar prontos para acudir, para
prestar-lhes a assistência necessária. De fato,
“Preste assistência a qualquer ser humano, uma planta ou um animal estarão sempre
a despeito de raça, credo ou cor, sempre dispostos a aceitar nossa ajuda. Não haverá
que puder ajudar, direta ou indiretamente, dissimulação, ditada pela compreensível
em qualquer emergência. Se não puder altivez do homem e será fácil observar-se
auxiliar pessoalmente, mas puder interce- uma planta que definha, ouvir-se os ge-
der no sentido de lhe ser prestada ajuda, midos de um animal ou distinguir-se, nos
também isto será imperativo. Em silêncio olhos deste, um laivo de angústia ou um
e em paz, realize o seu trabalho, preste apelo de socorro. No que diz respeito ao ho-
o seu serviço, e retire-se sem alarde.” mem, é preciso ir, às vezes, muito além das
aparências, porque inúmeros são aqueles
Esta determinação inclui um apelo direto que, acreditando ser incompreendidos ou
à solidariedade humana, ou, indo mais além, mal interpretados, preferem não repartir
a todo ser vivente, o que amplia de forma sua dor ou seus tormentos, nem revelar a
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Cogitar
Por RODMAN R. CLAYSON, FRC – ex-Grande Mestre da GLI
ensão objetiva a seu respeito e a necessidade mentar de astronomia. Os planetas não têm
de cultivarmos a intensificação do conheci- luz própria, porém, emitem luz refletida do
mento e maior compreensão. Não temos de sol. É essa luz refletida que vemos na direção
ser cientistas. Muitas poucas pessoas o são e Oeste, à tarde, ou do Este, pela manhã, ao nos
muitas outras não têm o desejo de se reportar referirmos à estrela matutina e vespertina.
ou ultrapassar suas experiências diretas. Não Vênus e Mercúrio, porém, não são estrelas;
obstante, o pensador, aquele cuja consciência são planetas do sistema solar e, às vezes, refle-
está imbuída de cogitações, tem necessidade tem, brilhantemente, a luz do sol.
dos métodos científicos. Ele conduz suas Hoje, sorrimos quando lemos que há cen-
buscas inteligentemente, porque compreende tenas de anos o povo pensava que a Terra era
que não pode permitir que sua mente se obs- fixa, que era o centro do universo e que as
trua com incompreensões. estrelas, no céu, passavam sobre suas cabeças,
à noite. Isso era, realmente, incompreensão.
Ilusões e Atualmente, sabemos que o nosso sol é o
centro do sistema solar. A Terra é apenas um
superstições dos nove planetas que giram em torno do sol
em seu sistema. Sabemos, também, que há
Mencionemos aqui algumas das incompreen- centenas de milhares ou mesmo milhões de
sões mais comuns. Todos nós, com probabi- outros sistemas solares, girando em torno de
lidade, gostamos de descrever as belas glórias sóis-estrelas, nas profundezas dos espaços
do luar. Agrada-nos dizer que a lua cheia tem cósmicos do universo. Sabemos que a Terra é
iluminado a Terra. Mencionamos seu brilho. uma esfera giratória no espaço; que as estre-
Consciente ou inconscientemente pensa las não passam sobre nossas cabeças, à noite;
mos na lua como emitindo uma intensidade que é a rotação da Terra para o Leste, da qual
tremenda de luz, ao passo que o que nos refe- não estamos conscientes, que faz com que
rimos como luar é, na verdade, luz do sol re- a luz, o sol e as estrelas pareçam nascer no
fletida. A lua não tem luz própria. É um corpo Leste e se pôr no Oeste, o que, naturalmente,
escuro, exceto que quando o sol brilha sobre não é a realidade. A Terra está girando em
ela a luz é refletida para a Terra. Verificamos torno do seu eixo, abaixo deles e temos essa
que o mesmo se aplica aos planetas do siste- grande ilusão do movimento estelar.
ma solar, se nos entregarmos ao estudo ele- Talvez alguém possa achar que essas coisas
são por demais remotas, por demais afastadas
de nós para que façam grande diferença no co-
nhecimento prático, porém, examinemos mais
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mos o gosto da soda e sorvete de baunilha,
porém, a ciência nos diz que temos sido
enganados em nossa suposição, porque nem
a soda nem o sorvete de baunilha têm sabor
distinto, mas apenas um odor distinto que é o
fator que orienta a nossa escolha.
A mente
inquiridora
Alguém poderá argumentar: quando desa-
parece a incompreensão? A verdade ou fato
de uma circunstância ou coisa será revelada e adquirir maior compreensão. Com essa
pela investigação e conhecimento acurado da compreensão não estaremos inclinados a nos
mesma. Até a época de Leonardo Da Vinci, lançar a conclusões que possam ser impreci-
no século XV, os médicos não acreditavam sas. Para a pessoa mentalmente preguiçosa
que o sangue circulasse através do corpo é muito fácil aceitar uma incompreensão.
físico. O talento de Da Vinci abarcava muitos Usualmente, chegamos a esse ponto pela ma-
campos. Ele era, primariamente, pintor e nutenção de pensamentos que nos agradam,
cientista. Descobriu, contudo, que o sangue sem levar em consideração o ponto de vista
no corpo humano circula e anunciou este mais generalizado ou a perspectiva que, por
fato às escolas científicas da época. Sua afir- necessidade, deve incluir maior conhecimen-
mativa foi recebida com escárnio. Escreveu to geral e, possivelmente, também conheci-
sobre sua descoberta com amplos detalhes. mento específico, em determinados campos.
Seu manuscrito, afortunadamente, foi pre- Devemos estar a par das novas descober-
servado para os anos futuros, quando os tas da época; devemos ter mente inquiridora
médicos se tornariam mais compreensivos e investigar. Da pesquisa e investigação
e evoluídos para receber a notícia alarmante advém novo conhecimento, e este traz nova
de sua descoberta e testá-la. compreensão. As incompreensões, via de re-
Naturalmente, pode ser argumentado gra, são o resultado da falta de conhecimento
que não havia uma incompreensão e que e, se não formos cuidadosos, isto poderá
era apenas questão de conhecimento que nos levar ao reino da superstição e da ilusão.
estava aguardando descoberta. A despeito Portanto, entreguemo-nos às cogitações.
do ponto de vista que se possa formar, deve Adquiramos conhecimento. Determinemos
ser admitido que a curiosidade, a cogitação, os fatos e a verdade. Se isto fizermos com
a busca e a investigação eliminaram o que mente ampla, a falta de compreensão desapa-
anteriormente tinha se tornado uma ideia recerá. Pela auto aplicação as falsas crenças
ou conceito errôneo. são despojadas, uma a uma. O resultado é
A educação e a aquisição de conhecimento que nos tornamos mais verdadeiramente
não são apenas para uns poucos; elas se des- eruditos, mais propriamente preparados e
tinam a todos. Portanto, é de vantagem para mais abundantemente qualificados para vi-
todos procurar aumentar seu conhecimento ver uma vida de sucesso e felicidade. 4
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Agostinho
da Silva
O Paradoxo e a
Vida Conversável
Por ABDUL CADRE, FRC*
C
hegou a este lado da vida no ano de 1906, desembarcou na ci-
dade do Porto sob o signo de Aquário e entendeu deixar-nos no
Domingo de Páscoa de 1994. Neste entretanto, foi o mais que
numa só vida se pode ser: filósofo (no mais profundo do concei-
to), professor contagiante, escritor polifacetado, conferencista, educador,
poliglota, viajante, fundador de institutos e universidades. À semelhança de
Fernando Pessoa, usou vários heterónimos, não para produzir um drama
em gente, como dizia aquele, mas como matriz de uma vida conversável.
Se quiséssemos um nome para o seu pensamento, podíamos chamar-
-lhe “filosofia da vadiagem”. Em que consiste? Tornarmo-nos na criança
que se maravilha com tudo o que observa, poetas à solta e arranjarmos
maneira de criar as condições adequadas para cumprir o nosso destino
(que é a nossa liberdade) de contemplar o mundo tornado conversável,
isto é, pacífico, fraternal e solidário. Como fazê-lo? Ser cada um aquilo
que verdadeiramente é e tornar-se contagiante. Contagiar pelo exemplo e
não fazer batota com o vírus que o torna humano, que é a fala, não esque-
“
diríamos nós que aqueles mais virados ao
Ele nunca orientalismo chamavam-lhe Mahatma;
os tocados pelo new age diziam que tinha
quis discípulos, vindo do futuro; os esoteristas queriam-no
apenas procurou como mestre; os ateus lamentavam que ele
não repudiasse a crença em Deus, os cris-
despertar no tãos que ele fosse budista e os budistas que
ele fosse cristão; os monárquicos queriam-
outro a chama -no para alferes da pátria, os conservadores
tímida ou chamavam-lhe comunista, os comunistas
chamavam-lhe intelectual burguês, os amigos
ignorada.
” do autoritarismo chamavam-lhe anarquista.
Que bom, para quem dizia que não ti-
nha discípulos, porque quem puxa carroça
é burro; que discutir, que etimologicamente
significa sacudir, é bom, porque, mais do que
romance Casa da Rússia, do escritor britânico despertar-nos, não nos deixa adormecer; que
John Le Carré, que o visitou um dia no nº 7 da se a natureza quisesse que todos pensássemos
Travessa do Abarracamento de Peniche, a bem igual não dava uma cabeça a cada um.
conhecida morada, situada na 7ª colina de Ele nunca quis discípulos, apenas pro-
Lisboa, onde acorriam em peregrinação per- curou despertar no outro a chama tími-
manente os muitos amigos e admiradores, que da ou ignorada. Além disto, sendo certo
tinham por ele uma atração quase religiosa. que não desprezava os livros nem o saber
Após uma série de entrevistas televisi- de que eles são depósito, prezava bem
vas, subordinadas à designação Conver- mais a vida, que ela sim é que é mestra.
sas Vadias, o pensamento do professor Quando lhe perguntavam se se considera-
Agostinho da Silva chegou ao grande va um esoterista, ou um ocultista, dizia que
público, tornando-se conversa de café, não, que o Pessoa é que sim, ele seria sim-
nem sempre fiel, antes pelo contrário. plesmente, se lhe quisessem pôr uma etique-
O seu magnetismo e a aura pública que ta, um místico, cuja principal característica é
ganhara eram tais que o número daqueles o amor no seu sentido mais lato, implicando
que não gostavam dele seria bem reduzido, naturalmente o amor ao saber. Dizia ele: Tal-
poucos se atrevendo a criticá-lo negativa- vez o maior amor seja o dos místicos, porque
mente. Um dos seus poucos detratores, o esse [amor] tem consigo a suprema qualidade
melhor que achou para dizer – citamos de de nunca ser plenamente realizável1.
cor – foi: “como filósofo, é uma fraude, mas Quando lhe diziam do quão utópicas eram
o que mais me aborrece nele é aquela pos- as suas proposições, respondia que pois claro,
tura presunçosa e anacrónica de profeta”. pois que se referiam ao futuro. Não seriam
Todavia, tal remoque mais se destacou pelo utópicas se havidas no passado, pois que uto-
azedume do que pela originalidade, pois pia é aquilo que ainda se não realizou, aquilo
é certo que alguns comentadores de boa que ainda não teve lugar, segundo a própria
vontade e respeito o designavam como um etimologia. Não se trata de coisas impossíveis.
misto de filósofo grego e profeta bíblico. A utopia de hoje é a realidade de amanhã.
uma serva e o sagrado como postura tola de Notas: 1. “Sete Cartas a Um Jovem Filósofo”; 2.
Uma das obras de Agostinho da Silva chama-se
poetas vagos e beatas serôdias. E assim a vida precisamente Reflexões, Aforismos e Paradoxos; 3.
se nega pela assunção da morte e esta nos Podíamos identificar com Idade de Aquário; 4. Teo-
ria das três idades: do Pai, do Filho e do Espírito
despreza, porque a escolhemos por engano. Santo; 5. De educação e ascendência cátara, à Rai-
E há palavras que são vírus de enganar, nha Santa Isabel atribui a lenda o célebre milagre
das rosas: teria transformado moedas de ouro nas
como o moderno diálogo, que é o divórcio na mencionadas flores. O curioso é que à sua tia-avó,
Isabel da Hungria, também a lenda diz o mesmo.
fala pela emulação dos monólogos; a língua De Santa Isabel, o que muito poderá despertar a
bifurcada com palavras de pontas aceradas, es- curiosidade dos rosacruzes é a sua relação com o
médico, astrólogo e alquimista Arnaldo de Vilano-
perando a rendição. Falsamente polidas, enve- va. O túmulo da santa, com o seu corpo incorrupto,
encontra-se no Convento de Santa Clara-a-Nova,
nenadamente sopradas. Eis o credo ainda inse- em Coimbra; 6. “Raízes Intemporais da Vida e da
pulto e já cadáver, a sombra que passa. Diálogo Alma de Agostinho da Silva”, Ellys, Editora Sete
Caminhos, Lisboa, 2006; 7. A título de afastar qual-
que, como dizia o mestre, tem o mesmo prefi- quer confusão, devemos esclarecer que os célebres
xo que diabo, que é aquele que divide. Diabo colóquios “TRADIÇÃO E INOVAÇÃO – SUA UNI-
DADE EM AGOSTINHO DA SILVA”, que tiveram
que só existe quando lhe damos existência. lugar na Faculdade de Letras do Porto (1996-1999),
se deveram ao grande empenhamento da associa-
E há ainda palavras de ornamento, inúteis ção agostiniana CADA, onde membros da AMORC
como togas, e outras de ruído que empapam e seguidores da Fé Bahá’í tiveram a iniciativa; 8.
“Carta Vária”; 9. “Conversação com Diodima”; 10.
a conversa. E há o discurso da promessa e “Conversas Vadias”, entrevistas televisivas. Foram
do apelo, a ameaça e os esbirros de soslaio. publicadas em DVD; 11. “Quadras Inéditas”; 12.
“Parábola da Mulher de Loth”; 13. “Diário de
Mas vem o menino imperador e diz: “bas- Alcestes”; 14. “Considerações”; 15. “Conversas
Vadias”; 16. “Vida Conversável”, textos organiza-
ta!” Nem grades nem ornamentos. O me- dos e prefaciados por Henryk Siewierski, Assírio
nino tem o sorriso bondoso e matreiro do & Alvim, Lisboa, 1994; 17. Ibidem.
Marketing pessoal
e Misticismo
Por LUIZ AFONSO CAPRILHONE ERBANO, FRC*
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estes atributos com os valores de um verda- uma filosofia de gestão, aplicada a qualquer
deiro místico, que busca a plena harmonia atividade humana, na qual as decisões são
entre o plano material e o plano espiritual? tomadas mais de fora para dentro (o que o
Dentre os diversos conceitos utilizados mercado ou a sociedade precisa), do que de
pela moderna Administração de Negócios, dentro para fora (o que eu tenho para ofere-
destaca-se o Marketing como um dos mais cer ao mercado ou à sociedade).
importantes neste mundo globalizado e cheio Por extensão, pode-se, a partir da defi-
de desafios. Porém, no mais das vezes, esta nição original de Marketing, atribuir um
Ciência é mal-entendida e até mesmo mal- conceito à ideia de Marketing Pessoal como
vista, num sentido frequentemente bastante sendo como o indivíduo/profissional projeta
pejorativo. Entretanto, trata-se de ferramenta sua imagem no mercado de trabalho, ou seja,
estratégica indispensável e fundamental para o processo contínuo que visa à construção e
o sucesso das organizações. manutenção de uma imagem pesso-
Destaca-se, por sua abran- al e profissional diferenciada.
gência, a definição estabe- Trata-se, em última instân-
lecida por Kotler (2000, cia e dentro de padrões
p.30): Marketing é rigorosamente éticos
…o
“
um processo social e profissionais, de
por meio do qual como o profissional
pessoas e grupos
de pessoas obtêm
sucesso pessoal “vende” sua ima-
gem ao mercado
aquilo de que e profissional está de trabalho.
necessitam e o Mas, antes de
que desejam com atrelado a pessoas tudo, é necessário
a criação, oferta e
livre negociação de com visão de conhecer o que o
mercado de traba-
produtos e serviços
de valor com outros.
Ou seja, a principal
função do Marketing é a
futuro…
” lho procura num
profissional; quais
são os conhecimentos
que ele deve desenvolver,
de satisfazer desde as neces- quais deverão ser as habi-
sidades básicas dos indivíduos lidades que devem ser desen-
até e os seus mais sofisticados desejos, volvidas para enfrentar os desafios da
por meio de ferramentas que impliquem no vida cotidiana, quais serão as suas atitudes
processo de trocas, ou seja, se há uma neces- diante destes desafios? A soma destes valores
sidade (estado de carência, falta) ou um dese- denomina-se competência e a soma das com-
jo (aspecto da necessidade, derivado de fato- petências individuais origina, numa organi-
res socioculturais e individuais) há como sa- zação, o que se chama de capital humano.
tisfazê-los, obtendo, em troca, uma remune- Assim, o capital humano de uma orga-
ração ou o reconhecimento de uma situação nização deriva da capacidade individual de
que traga algum benefício aos envolvidos. resolver problemas (Competências Técnicas,
O conceito de Marketing surgiu no final Habilidades Pessoais, Atitudes, Educação,
dos anos 50, com conotação fortemente Experiência e Valores), cujo valor pode e
empresarial, mas nos dias de hoje é mais deve ser atribuído ao balanço das organi-
zações, pela impossibilidade de se conceber primeiro lugar, deve-se ter visão de mundo
uma organização sem pessoas. holística, ou seja, perceber claramente que
Destes conceitos, pode-se ainda depreen- a vida é uma só quer estejamos em casa, no
der que o sucesso pessoal e profissional está trabalho, no lazer ou num templo sagrado. A
atrelado a pessoas com visão de futuro (ca- realização é um processo contínuo e ocorre a
pacidade de analisar possibilidades), que são cada minuto do dia, onde quer que estejamos
capazes de resolver problemas com compe- ou estejamos fazendo. Para isto, é preciso uma
tências específicas para determinadas funções grande dose de autoconhecimento, ou seja,
(ancoragem técnica) e que possuam vontade devemos conhecer profundamente nossos
de fazer as coisas, com capacidade de trabalhar talentos no sentido de aprimorá-los, e nossas
em equipe, além de serem comprometidas e limitações, na intenção de minimizá-las.
com grande capacidade e vontade de aprender. Para tornar estes atributos perceptíveis é
E isto tudo deve estar solidamente fundamen- necessário também aprender a se comuni-
tado em valores éticos e num grande sentido car, a expressar pensamentos e ideias com
de responsabilidade social e ambiental. clareza, criando assim um ambiente favorá-
Além disto, há uma série de atributos que vel junto aos possíveis interlocutores, para
certamente são necessários para um maior a consecução de objetivos que favoreçam
desenvolvimento pessoal e que os estudantes não só o desenvolvimento individual, mas
de misticismo, em geral, têm mais facilida- principalmente de todo o grupo envolvido
de de reconhecer e, então, aprimorar. Em numa determinada atividade. Perseverança,
persistência e nunca desanimar, devem ser estes fatores todos são apenas um instrumen-
palavras de ordem, para que se tenha a capa- to para que ele possa atingir as condições
cidade de suportar as pressões do dia e dia e necessárias para perseverar na senda da ilu-
voltar à luta sem perder o ritmo e o entusias- minação, ou seja, o sucesso material deve ser
mo, o que se chama de resiliência. visto como um facilitador para o acesso aos
Importante ainda é destacar a importân- recursos que levem o buscador ao caminho
cia de ampliar os relacionamentos pessoais e da Luz, da Vida e do Amor.
profissionais, formando uma rede (network) Neste momento surge a necessidade de se
de contatos que manterão o indivíduo, no analisar a segunda proposta deste texto, que
sentido pessoal e profissional, sintonizado é a de definir as condições que vão além do
com o mundo e com o mercado de trabalho. texto científico, além das exigências do mer-
Deve-se lembrar o que diz a sabedoria popu- cado, mas que se configuram como a inclu-
lar: “quem se assemelha se aproxima”. são de aspectos de natureza mística
Logo, aqueles que fazem parte na busca da evolução profissio-
de uma rede de relaciona- nal, tornando clara a fina-
mentos, geralmente apre- lidade espiritual a partir
sentam semelhanças da busca de melhores
em diversos aspectos condições materiais.
que acabam por A ideia de su-
qualificar o grupo cesso para o mís-
todo, facilitando tico deve ser a de
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Os cavaleiros
templários
Por RALPH M. LEWIS, FRC
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Templários fo-
ram um desen-
volvimento na-
tural das Cruzadas da Idade
Média. Como é de conheci-
mento geral, as Cruzadas fo-
ram uma série de expedições
à Síria e à Palestina, esta últi-
ma denominada Terra Santa.
As Cruzadas consistiam de
“devotos e intrépidos reis e
cavaleiros”, bem como cléri-
gos, soldados e simples cam-
poneses. Seu intuito era de Rua dos Cavaleiros: Em 1310, os Cavaleiros de St. John construíram um
castelo e fortaleza na cidade de Rodes, na ilha grega de Rodes, no Mar Egeu,
libertar ou recuperar a Terra próxima à costa da Turquia. Os templários originalmente juraram defender a
Santa, a terra natal do Cristo, segurança de todos os peregrinos que viajassem para a Terra Santa.
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Castelo dos Cavaleiros. Este castelo, do Grande Mestre dos Cavaleiros de São João de Jerusalém, está situado na antiga
cidade de Rodes, onde fundaram uma cidade-fortaleza, no século catorze. Os italianos a restauraram em 1937-40.
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avançado séculos se tivesse sido permitido
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DIA
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que a sabedoria dos muçulmanos se pro
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pagasse pela Europa naquela época.
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Foram necessários vários séculos de
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progresso do conhecimento, na Europa,
para igualar e superar o conhecimento
que os muçulmanos então possuí
am. Os povos islâmicos eram os
preservadores do conhecimento
original dos gregos e dos egípcios.
Talvez a maior realização dos Tem
plários tenha sido o estímulo à virtude
entre os bravos e fortes. Muitos cavaleiros
haviam adquirido muito conhecimento
nos países orientais durante as Cruzadas.
Tinham descoberto que havia no Oriente
uma civilização superior à que existia na
mais rude sociedade do Ocidente cristão.
Muitos Templários foram secretamente
iniciados nas escolas de mistério do Oriente,
onde lhes foi revelada a sabedoria do passa
do. Embora constituíssem uma Ordem cristã,
os Templários eram independentes da Igreja,
no sentido de que esta não dominava o seu Jacques de Molay
pensamento. Muitos se tornaram Templários
porque, dentro da esfera de influência e prote
ção da Ordem, podiam estudar e desenvolver Segundo a tradição, muitos cavaleiros
um conhecimento que não ousavam, como Cruzaram o Umbral da Ordem Rosacruz
indivíduos, estudar e desenvolver fora dessa e a ela se afiliaram os que eram membros
esfera. As pessoas de mentalidade liberal ti de escolas esotéricas. Muitos cavaleiros ti-
nham na Ordem dos Cavaleiros Templários veram a coragem de investigar os campos
uma espécie de refúgio. Foram estes estudos, de conhecimento que suas aventuras nos
a investigação intelectual e os rituais mís países orientais haviam possibilitado. E
ticos, que provavelmente deram crédito ao esse conhecimento ultrapassava as limita-
boato de que os Templários eram hereges. das fronteiras de indagação da Igreja. 4
S
enhor, criador e doador da vida. abrir meu coração, e de braços abertos
Experimento a vocação para nos acolher como semente e para nos
de ser semente, encontro‑me acompanhar cada uma na sua simplicidade.
no meio de muitas outras E chega um momento histórico,
sementes, sinto‑me em comunhão e um momento decisivo: é preciso
ao mesmo tempo me sinto única. descer até as profundezas da terra.
Tu nos tomas em tuas mãos, É preciso mergulhar no
conheces profundamente cada uma novo, no desconhecido.
de nós, acolhes nossas diferenças e O semeador com toda a ternura
tens carinho especial por todas. do mundo deita‑me terra adentro.
Senhor, reconheço que estar em Algo estranho acontece comigo:
tuas mãos dá‑me segurança, sentir foge‑me a luz, sufoca‑me a terra,
tua ternura me deixa em paz. invade‑me o medo e a solidão…
Sinto alegria única em ser Tudo é escuridão, estou só.
semente e alegria maior por estar Sinto falta da luz, das outras sementes.
em tuas mãos, nosso criador. Sinto falta do carinho, falta‑me
Nesta presença amorosa e significativa, a mão do semeador.
experimento algo novo em meu viver: Deparo‑me com os muros da terra,
sinto grande encanto por minha estou num mundo desconhecido,
existência, sinto sinceros desejos de num silêncio gritante.
querer trabalhar mais em tua senda. Experimento o desespero, o abandono,
Quero ser útil, quero ser sinal, quero não vejo saída, estou sem forças. Sinto‑me
ser tua. Por isso confio no Senhor. acorrentada ao meio, à impotência, ao nada.
Começo a acolher mais e mais O que está acontecendo comigo? O que
teu projeto de vida para comigo, fazer? Como sair dessa? De longe escuto uma
sonho de esperança para todos. voz suave que me diz: “não tenhas medo,
Confesso Senhor, que muitas vezes seja amigo da terra, confie nela” confiar
não sei o que desejas de mim. Vivo em quem me sufoca? Como acolher o que
em muitas dúvidas e resistências. parece uma ameaça? Como ser amigo de
Mesmo assim confio. Sei que quem me amedronta? Com as lágrimas e o
em Tuas mãos estou segura. suor reguei a terra e pouco a pouco fui me
Pois sei que me amas muito. Às vezes rendendo, fui confiando apesar de todas as
me sinto cansada, reajo, e sigo em especial, resistências. Uma voz terna e amiga me diz:
a chuva que vem do céu e que está fazendo não fique na escuridão, você foi feita para a
M
uitos caminhos nos levam ao Criador. Podem ser ca-
minhos filosóficos, religiosos ou científicos; o certo é
que todos nós chegaremos a ele, em tempos diferentes.
Eu escolhi estudar Cabala. Desde minha mais
tenra adolescência lia e buscava livros sobre este assunto. Até hoje
ainda faço isso; só me tornei mais seletiva. A Cabala abriu muitas
portas para mim, respondeu perguntas internas e através dela en-
tendi que há uma metodologia certa para entender esse assunto,
que muitos ainda hoje acham complexo. Os estudos sobre Cabala
possuem três vertentes. Sei que poucos sabem sobre isso.
A primeira vertente é a Egípcia. Ela é a Kabash ou Magia dos
Sacerdotes do Antigo Egito. É a mais antiga e foi transmitida ao
príncipe Moisés. Hoje ela é extremamente reservada e existem no
mundo apenas 12 iniciados.
“ O Propósito
-ZOHAR – o Livro do mundo espiritual
do Esplendor. É, sem através da linguagem
sombra de dúvida, do estudo da dos ramos e das raízes.
a obra principal e Nós humanos, que vi-
mais sagrada da Cabala é ser vemos no Mundo dos
Cabala, a dimensão
mística do judaís- um itinerário Resultados e das Cau-
sas (Mundo dos Ra-
mo. Estudo místico
do mundo divino e
para as pessoas mos), não temos acesso
ao (Mundo das Raízes)
suas relações com o alcançarem o Mundo Espiritual, onde
Criador.
”
nosso mundo. São tudo é criado e deci-
22 livros, correspon- dido. O Propósito do
dentes a cada letra estudo da Cabala é ser
hebraica. O Zohar é um ITINERÁRIO para
a coluna vertebral da as pessoas alcançarem o
Cabala, também chamada de Chochmat ha- Criador. Este caminho da alma consiste em
-Emet – a Sabedoria da Verdade. 125 etapas ou Degraus, que são alegóricos.
Além destes há outros livros que aos pou- Somente um cabalista que passa por todas
cos servem de base e também como orientado- estas etapas quer ardentemente compartilhar
res em nosso caminho, são eles: o que colheu com a humanidade.
– O Sepher Há-BAHIR – O Livro da O objetivo daquele que chega ao Criador
Iluminação; ou o Inefável é compartilhar o que aprendeu.
– O Sepher Sephiroth – O Livro das É Aprender e Ensinar, o tempo todo.
Emanações; A nossa amada Ordem Rosacruz em seus
– O Talmud – Legislação CÓDIGO MO- ensinamentos trabalha de forma a funda-
RAL Hebraico. Conduta do povo. É a junção mentar bem os conhecimentos nos instruin-
das Michná (livro sobre a lei judaica, escrito do sobre: Hermetismo, Alquimia e Cabala
em hebraico – pilar central da Lei Oral); as – em seus graus mais elevados. Os conheci-
Dois livros da
Bíblia Hebraica
(Tanach)
mais do que “
Tudo o
que pedimos podemos prestar.
originalmente
concebêramos é que irradiem o Nossa influência
sobre as pessoas
como a nossa
meta de serviço.
Amor do Cósmico e que venhamos a
atrair será forte
Pergunta-se manifestem o desejo e útil, porque
com frequên- elas estão bus-
cia: “Se o Deus de ajudar e servir o cando orientação
”
é infinito em seu
conhecimento e seu semelhante. e um caminho
para uma vida me-
poder, por que não lhor e mais proveito-
faz mais para ajudar sa. Tenhamos em mente
a humanidade”? Muito irradiar o conhecimento
simplesmente, os poderes cós- que adquirimos e as conse-
micos para os quais nos voltamos cuções espirituais, interiores, que
em busca de orientação têm plena consciên tenhamos alcançado. Atrairemos as pessoas
cia das necessidades da humanidade, mas conforme as vibrações que emanem do nosso
não impõem nem podem impor sua vontade âmago, e poderemos ajudar os necessitados
aos seres humanos. Precisam de almas so- de um modo que pouco percebemos. Uma
lícitas, aqui na Terra, que se tornem canais palavra de conforto e encorajamento, um
de serviço, a fim de que eles possam se ex- sorriso ou um pensamento, isto é muitas ve-
pressar ou manifestar neste plano. Como zes tudo o que se faz necessário para ajudar-
Rosacruzes, através dos princípios expostos mos aqueles que buscam maior compreensão
em nossos ensinamentos, estamos nos es- para suportar o fardo que a vida lhes impôs.
forçando para harmonizar nossa mente, Para nos tornarmos canais de serviço
de modo a torná-la receptiva a impressões dos Poderes Cósmicos, devemos aprender
dos níveis superiores do Cósmico, e, final- a irradiar uma consciência espiritual em
mente, para sermos iniciados a um contato nossa vida diária, e, por nossa boa dis-
superior com a Consciência do Cósmico. posição de ajudar, mesmo do modo mais
Entretanto, a menos que procuremos simples, estaremos preparados para assistir
ser úteis aos outros, os reinos superiores do o Cósmico em seu sublime empenho.
Cósmico não estarão à nossa disposição. Serviço sempre foi o núcleo do ideal
Portanto, cabe-nos a todos a tarefa de nos Rosacruz. É pelo serviço que verdadeira
unirmos e servir; este é o nosso lema; este mente expressamos a consciência anímica
é o nosso dever. Nós, que tivemos o privi- em nosso âmago. À medida que desenvolve
légio de nos tornarmos Rosacruzes, temos mos ou desabrochamos a beleza da Luz
uma sagrada obrigação. Divina de nosso interior e permitimos
Nossa primeira tarefa consiste em irra- que ela de nós se irradie, manifestamos a
diarmos paz e amor o tempo todo; em dei- Vontade Divina. A vida espiritual é uma
xarmos que a harmonia do Cósmico de nós vida de serviço, expressando a Vontade, a
se irradie. Essa radiação do nosso coração Inteligência e o Amor de Deus, em ação.
demonstrará a melhor forma de serviço que Sempre que nos dedicamos a esforços úteis,
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e a didática do Mito
Por MARIO SALES, FRC
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Agora, digamos que a imagem seja mais complexa. Digamos que o que
queremos é explicar o que é o Bem. Não há imagem que possa dar uma idéia
aproximada de um conceito tão amplo. Nesta hora entram em cena as cir-
cunlocuções, o contorno do fato, do dado, a “voltinha” que torna a explica-
ção mais complicada e às vezes mais equivocada.
A didática, a arte de transmitir informações a outros de forma accessível
ao seu nível de compreensão, sofre com esses problemas todos os dias. Didá-
ticos todos precisamos ser, não apenas professores e educadores, mas médi-
cos, policiais, operadores de turismo, cientistas, jornalistas, políticos etc.
Talvez a única classe que não precise disso sejam os artistas. Eles criam
um novo real, reinventam a percepção, não para explicá-la, mas para
ampliá-la, com isso ampliando a percepção de todos os seres. Somos nós
que tentamos explicar o que os artistas fazem, para nós mesmos e para os
outros, o que é absolutamente contraproducente, já que arte não é para ser
entendida com o cérebro, mas compreendida pelo coração.
“ Os místicos, iniciadores
da humanidade, só têm um
objetivo com seu serviço:
desfazer os mistérios.
”
INVERNO 2017 · O ROSACRUZ
43
n SIMBOLOGIA
A via do coração
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A sensibilidade desenvolvida nos livra da necessidade didática. Aqui a compreensão é
intuitiva, sem palavras, sem intermediários, sem conceitos auxiliares. Aprendemos com
nosso coração.
Estas considerações me vêm à mente enquanto penso nas dificuldades do místico de
todas as eras para explicar àqueles que não eram iniciados as boas novas do conhecimento
esotérico. Sim, porque a luz deve estar no alto, no velador, para que todos possam vê-la, e
não oculta atrás dos armários. Os místicos, iniciadores da humanidade, só têm um objetivo
com seu serviço: desfazer os mistérios.
Esta é sua missão mais nobre e mais urgente, embora a heterogeneidade humana obri-
gue esta missão a ser cercada de prudência. É aí que entra o símbolo, o mito explicativo.
Com sua riqueza interpretativa, o mito se revela mais poderoso e didático do que a narrati-
va cheia de comparações do pobre intelecto aristotélico.
Se os místicos dissessem, ao tempo de Moisés, (onde a barbárie e a ignorância eram
extremas e civilização, uma palavra ainda não totalmente entendida) que Deus, Todo Po-
deroso, gerou tudo que existe em períodos de milhões de anos, e que no princípio, vórtices
de plasma se contorciam em busca de densidade, para explodir em estrelas e galáxias e
planetas, ninguém alcançaria o significado destas palavras. Nem o próprio Moisés deve ter
recebido a informação desta forma.
Ninguém ainda tinha visto uma galáxia, a Terra era todo o Universo conhecido e falar em
Sistema Solar seria uma abstração inalcançável. Então, não se podendo narrar os fatos por
faltar capacidade expressiva, tanto pela inexistência de conceitos e fatos que sustentassem a
compreensão quanto pela falta de cérebros que os compreendessem, usou-se o Mito.
“No Princípio, criou Deus o Céu e a Terra. E o verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.”
Verbo, a ação, a capacidade de realização. Criar, fazer surgir, como o Sol misteriosamente sur-
gia no horizonte, todas as manhãs. De onde vem o Sol? Para onde vai quando se põe?
Lembrem-se: não existiam estações espaciais, nem astronautas. A Terra, para a compre-
ensão da época, era plana. Portanto, o Sol aparecia e desaparecia. Era o Carro de Luz que
percorria o firmamento e depois mergulhava no horizonte.
E tudo ficava bem assim.
Então, surge a necessidade de explicar o homem. Biologia? Isto ninguém conhecia.
Células, mitose, Darwin? Não, ainda não havíamos chegado lá. Nada fluía, tudo era dual
em oposição, sem complementaridade, sem dinamismo. O mundo do passado era estático.
E aí, novamente, surge o Mito.
Uma narrativa não lógica. O homem, o paraíso, a costela e a mulher “traiçoeira”, que
“induz o pobre, inocente e nobre homem” ao pecado. A serpente; a maçã.
E tudo fica bem assim.
As massas aceitaram que a explicação era até plausível. E o mundo seguiu seu caminho,
um pouco menos aflito com sua ignorância atávica. A mulher herdou a maldição bíblica
de ser a tentadora. O homem, a vítima. Machismo mítico explícito, sem questionamento
durante centenas de anos.
Surgem os interpretado-
res, aqueles que dizem: “– eu
sei quem é esse menino, ele
apenas finge ser um meni-
no, mas na verdade é um
boneco de madeira.” E dito
isto, começam a dissecá-lo,
a destruí-lo, a desmembrá-lo
de tal forma que de Pinó-
quio, transformam-no em
um Frankenstein.
Pode-se evitar tal
atrocidade? Totalmente não.
O símbolo e o
equívoco interpretativo
Em simbologia existem muitos Pinóquios e alguns deles perderão a vida duramente
conquistada às custas da bênção de uma fada mística, ao serem desmembrados
pelos pseudo-doutos. Outros, entretanto, sobreviverão, mesmo que seus narizes
vez em quando cresçam um pouco, nos alertando para a presença de uma
impropriedade oculta, para uma inverdade, que alguns chamariam de mentira, mas
que eu prefiro chamar de falha didática.
Não só quem traduz trai o sentido do que traduz. Quem explica também pode
fazê-lo, e o faz.
E o que são narrativas míticas senão textos explicativos, didáticos ao seu modo,
embora não lógicos?
Os Gepetos do mundo poderão ver os narizes de sua criação crescer quando
fugirem ao sentido original do que deveriam narrar.
Os mitos são animais perigosos, orgulhosos, que só se submetem a uma vontade
superior a sua ou a uma inteligência atenta, que antecipe seus movimentos e que
escape de seus ardis. Pois os mitos são como a Esfinge: seus enigmas, uma vez
resolvidos, produzem a sua própria extinção.
Gênesis 3:1 Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos que o SENHOR Deus
tinha feito, disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?
Gênesis 3:2 Respondeu-lhe a mulher: do fruto das árvores do jardim podemos comer,
Gênesis 3:3 Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: dele não co-
mereis, nem tocareis nele, para que não morras.
Gênesis 3:4 Então, a serpente disse à mulher: É certo que não morrereis.
Gênesis 3:5 Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e,
como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal.
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humanidade
Por CHARLES VEGA PARUCKER, FRC
Q
ual a maior Na verdade, todas estas Eis a maior descober-
descoberta da invenções e descobertas ta dos tempos modernos:
Humanidade? incorporam em si o espíri- “Cada indivíduo pode uti-
Seria a imprensa, que per- to criativo e de pesquisa de lizar o Princípio de Vida de
mitiu estender o conheci- milhares de mentes, mas acordo com sua vontade,
mento a todas as partes da para mim, a compreen- pois este princípio é um
Terra? A navegação marí- são do Princípio de Vida, servo de sua mente, como o
tima, o avião e suas des- que, de alguma forma, foi era o gênio da lâmpada de
cendentes naves espaciais? trazido à nossa Terra há Aladim”. Cada um deve pro-
As vacinas que reduziram milhões de anos atrás, abre curar entender as suas leis e
as doenças e aumentaram uma possibilidade infinita trabalhar em harmonia com
a duração da vida? A te- para o bem-estar e felici- este princípio para conseguir
levisão, o telefone, o raio dade geral do ser humano. qualquer coisa útil de que
laser? A eletrônica com Estamos tomando ciên- necessitar, quer seja saúde,
sua ilimitada capacidade cia gradativamente deste alegria, bens materiais, feli-
de reduzir os sistemas de grande poder colocado cidade e sucesso pessoal.
comunicações a milési- em nossas mãos e de suas Para constituir o que de-
mos de pequenos tempos reais possibilidades para nominamos de civilização
em pequenos espaços? utilização construtiva. moderna, o Criador trouxe
“
O próposito da existência,
como expressão de Vida, é Evolução.
A vida é dinâmica, nunca estática.
Ela nunca para e jamais regride.
”
INVERNO 2017 · O ROSACRUZ
49
“ Os grandes
impérios da
antiguidade,
os egípcios, os
persas, os gregos,
os romanos
deixaram de
existir quando
não mais se
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preocuparam com
agressores e adaptar-se a
evolução.
ameaçou extinguir-se, por-
”
Os grandes impérios
cada mudança desenvolveu que pleno de poder e ener- da antiguidade, os egíp-
inúmeras formas de escudos gia, com o sentido ilimitado cios, os persas, os gregos,
de segurança - as conchas, de vida, possui uma inteli- os romanos deixaram de
as peles, os cabelos, as gar- gência imanente, chamemo- existir quando não mais se
ras, os chifres, as penas, -la de Natureza, de Criador preocuparam com evolu-
etc., mas sempre o mesmo ou de Cósmico, em busca de ção. A decadência começou
Princípio de Vida, ansiando sua completa expressão. quando julgaram ter obtido
manifestar-se na criatura. O propósito da existên- o máximo para seu povo
Todavia, houve seres que cia, como expressão de Vida, e pararam no tempo.
após cumprirem suas mis- é Evolução. A vida é dinâmi- O estudante de misti-
sões, nos momentos em que ca, nunca estática. Ela nunca cismo pode aproveitar esta
aqui viveram, não mais se para e jamais regride. Se aos potencialidade, trabalhan-
adaptaram às constantes mu- nossos olhos se aparentar do com a energia vital e
tações a que foram solicita- uma parada da Natureza, um utilizando-a na solução de
dos, como os grandes répteis pecado imperdoável ocorre- suas dificuldades. Adotando
e monstros da pré-história, rá, como o desaparecimento como base o princípio fun-
e, por isso, não estão, hoje, dos animais e vegetais a que damental de vida podemos
entre nós. Isto não quer di- nos referimos. Mas a vida vencer e até triunfalmente
zer que o Princípio de Vida, ao seu redor continuou sua superar os obstáculos que
a Força Vital dos Rosacruzes busca por mais evolução. se nos apresentam, porque
TERCEIRA CHAVE
“A terceira chave compreende, sozinha, uma série mais
longa de operações do que todas as outras juntas; os
filósofos dela falaram muito pouco, ainda que a perfeição
sal fixo que é o sangue de nossa pedra. Eis o mistério essen-
cial dessa operação, que só é cumprida após uma digestão
conveniente e uma lenta destilação.”
de nosso mercúrio dependa dela; mesmo os mais sinceros, “Filhos da arte, saibam que diz Hermes: Oportet autem
como Artefius, Trevisan e Flamel, ignoraram os prepara- nos eum aquina anima, ut formam sulphuream possideamus
tivos de nosso mercúrio, e deles não se encontra quase ne- aceto nostro eam miscere; cum enim compositum solvitur, clavis
nhum que a tenha suposto, em vez de ensinar a mais longa est restaurationis.”
e mais importante das operações de nossa prática.” “É preciso que o artista saiba fazer a paz entre a água e
“Queremos lhe estender a mão nesta parte do caminho o fogo; vejam o que diz o cosmopolita: Purga ergo rebus, fac
que diz respeito à separação e à purificação de nosso mer- ut ignire et aqua amici fiant; quod in terrá suâ quae cum üre
cúrio, que se faz por uma perfeita dissolução e glorificação (?) ascenderat facile facient.”
do corpo, do qual ele se origina, e pela união íntima da “Sejam, pois, atentos quanto a este ponto; reguem com
alma com seu corpo, cujo espírito é o único elo que opera frequência a terra com sua água, e terão aquilo que desejam.”
essa conjunção. Aí está a intenção e o ponto essencial das “Não é preciso que o corpo seja dissolvido pela água e
operações desta chave que se conclui com a geração de uma que a terra seja infiltrada por sua unidade para que seja pró-
nova substância bem mais nobre do que a primeira.” pria para a geração? Hermes diz a mesma coisa com outras
“Depois que o sábio artista extraiu da pedra uma fonte palavras: Aqua namque est fortissima a natura, quae trans-
de água viva, que extraiu o suco da vinha dos filósofos e cendit et fixam in corpore naturam excitat.”
que fez seu vinho, ele deve observar que em sua substân- “De fato, essas duas substâncias são de uma mesma na-
cia homogênea, que aparece na forma de água, existem três tureza, mas de dois sexos diferentes; elas se abraçam com o
substâncias diversas e três princípios naturais de todos os mesmo amor e a mesma satisfação que o macho e a fêmea,
corpos: sal, enxofre e mercúrio, que são o espírito, a alma e se elevam insensivelmente juntos, deixando apenas um
e o corpo. E ainda que pareçam puros e unidos, é preciso pouco de fogo no fundo do recipiente, de tal modo que a
muito para que de fato o sejam porque, quando pela desti- alma, o espírito e o corpo, após uma depuração exata, pa-
lação nós extraímos a água que é a alma e o espírito, o corpo recem enfim amigos inseparáveis sob a mesma forma, mais
permanece no fundo do recipiente, como uma terra morta, nobre e mais perfeita do que antes e tão diferente da primei-
negra e amilácea, que todavia não deve ser desconsiderada, ra forma líquida, assim como o álcool e o vinho, exatamente
pois em nosso tema nada há que não seja bom.” retificado e aerado com seu sal, é diferente da substância do
“O filósofo Jean Pontanus afirma que as superfluida- vinho de que foi extraído. Essa comparação não é apenas
des da pedra se convertem em uma verdadeira essência e se muito justa, mas também dá ainda aos filhos da ciência um
aprimoram pela ação de nosso fogo, pois os filhos da ciên- conhecimento preciso das operações desta terceira chave.”
cia não devem ignorar que o fogo e o metal estão escondi-
dos no centro da terra e que é preciso lavá-los exatamente (a ser continuado)
com seu espírito para que deles seja extraído o bálsamo, o J. Marcus de Vèze
S.I.
A
humanidade recebe de tempos em tempos personalidades-
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“A alma busca na Divindade e também nas profundezas da natureza; pois ela tem
a sua fonte e a sua origem no todo do Ser divino”.
– Jakob Böhme