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Estes apontamentos são textos de apoio às aulas teóricas da Unidade Curricular Resistência
dos Materiais 2 do Mestrado Integrado em Engenharia Civil, leccionado na Faculdade de
Engenharia da Universidade do Porto (ano lectivo 2010/2011). Não pretendem substituir a
consulta da bibliografia principal sugerida no Programa da Unidade Curricular, mas servir de
apoio à sistematização dos assuntos abordados no decorrer das aulas teóricas.
Estes textos de apoio foram criados tendo por base, essencialmente, o livro “Resistência dos
Materiais - Mecânica dos Materiais” [1] que consta da bibliografia principal da UC.
[1] Ferdinand P. Beer; E. Russel Johnston, Jr.; John T. DeWolf (2006). Resistência dos
Materiais - Mecânica dos Materiais, Mcgraw-Hill, 4ª Edição, ISBN 9788586804830, 758p.
Copyright © 2011
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
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Email: cvieira@fe.up.pt
2) ESTADO DE DEFORMAÇÃO--------------------------------------------------------------------------- 52
1) ESTADO DE TENSÃO
devido a V
tensões tangenciais, τ
Cálculo de Tensões em devido a T
(ou de corte)
Resistência dos Materiais 2
FLEXÃO
tensões normais, σ
COMPOSTA
Secção transversal
Q = 50 kN
3.0 m
x
P = 20 kN
z y
Figura 1
Tensões que se desenvolvem num elemento centrado num ponto (que se encontra numa face
da estrutura ao longo do seu comprimento)
1
Castorina Silva Vieira
Comecemos por analisar o que se passa numa barra de secção rectangular submetido a
esforço axial N (Figura 3).
N
σ= (faceta perpendicular ao eixo da barra)
A
Cortando a barra por um plano com orientação θ (Figura 4a) e desenhando o diagrama de
corpo livre da parte localizada à esquerda (Figura 4b), conclui-se que, para que se verifique o
equilíbrio, as forças distribuídas que actuam nessa secção devem ser equivalentes à força P.
Decompondo a força P nas componentes normal (F) e tangencial (V) à faceta, temos:
F = P cos θ V = Psenθ
Dado que a força F representa a resultante das forças normais distribuídas na secção e a força
V a resultante das forças tangenciais (Figura 4d), os valores médios das tensões normal e
tangencial são obtidos por:
F P cos θ P
σ= = = cos 2 θ
A θ A 0 cos θ A 0
2
Castorina Silva Vieira
V Psen θ P
τ= = = sen θ cos θ
A θ A 0 cos θ A 0
Das equações anteriores constata-se que a tensão normal σ é máxima quando θ = 0, ou seja,
quando o plano é perpendicular ao eixo da peça e que se aproxima de zero quando θ se
aproxima de 90º.
A tensão de corte é nula quando θ = 0 e θ = 90º e atinge o valor máximo para θ = 45º, dado
por:
P P
τ= sen 45º cos 45º =
A0 2A 0
Na mesma faceta (θ = 45º), a tensão normal é igual a:
P P
σ= cos 2 45 =
A0 2A 0
3
Castorina Silva Vieira
∆F x e ∆V x (Figura 6b) representam as forças normal e tangencial que actuam sobre uma área
(perpendicular ao plano yz ≡ direcção do eixo x), a força tangencial ∆V x pode ter uma direcção
a) b) c)
Figura 6 (adaptado de [1])
Dividindo cada uma das 3 forças pela área ∆A e fazendo-a aproximar-se de zero, obtém-se as
três componentes de tensão:
∆F x ∆Vyx ∆Vzx
σ x = lim τ xy = lim τ xz = lim
∆A → 0 ∆ A ∆A→0 ∆A ∆A →0 ∆A
4
Castorina Silva Vieira
Notar que o primeiro índice em σx, τxy e τxz é usado para indicar que as tensões se referem a
uma faceta perpendicular ao eixo x. O segundo índice em τxy e τxz identifica a direcção da
componente da tensão de corte. Por exemplo, a notação τxy refere-se à componente da tensão
de corte instalada numa faceta perpendicular ao eixo x segundo a direcção do eixo y (ver
Figura 7).
5
Castorina Silva Vieira
Para visualizar o estado de tensão no ponto Q, considere-se um cubo de lado “a” centrado em
Q e as tensões que actuam em cada uma das seis faces (Figura 8).
Note-se que apenas três faces do cubo são visíveis na Figura 8. Nas faces não visíveis as
componentes de tensão são iguais e opostas.
Embora na realidade as tensões que actuam nas faces do cubo sejam ligeiramente diferentes
das tensões no ponto Q, o erro envolvido é reduzido e desaparece à medida que o lado do
cubo “a” tende para zero.
Considere-se, agora, as forças normais e de corte que actuam nas várias faces do cubo
(Figura 9) (estas obtêm-se multiplicando as componentes de tensão correspondentes pela área
∆A de cada face).
6
Castorina Silva Vieira
∑ Fx = 0 ∑ Fy = 0 ∑ Fz = 0
Como há forças iguais e opostas às que são visíveis na Figura 9, que actuam nas faces
escondidas, as equações anteriores são satisfeitas.
em relação aos eixos Qx’, Qy’ e Qz’, que passam pelo ponto Q e são paralelos,
respectivamente, aos eixos x, y e z.
Considerando a projecção das forças no plano x’y’ (Figura 10), verifica-se que apenas as
forças de corte geram momentos não nulos em relação ao eixo z’.
Assim: ∑ M z' = 0 ⇒ τ yx ∆A × a − τ xy ∆A × a = 0
+ ⇓
τ yx = τ xy
Ou seja, a componente y da tensão de corte existente numa face perpendicular ao eixo x é
igual à componente x da tensão de corte existente numa face perpendicular ao eixo y.
7
Castorina Silva Vieira
τ yz = τ zy τ zx = τ xz
Conclui-se, assim, que são necessárias apenas seis componentes de tensão para definir o
estado de tensão num dado ponto Q e não as nove
componentes representadas na Figura 8:
Se considerarmos um cubo com faces paralelas às faces do elemento estrutural (Figura 11a), o
estado de tensão será descrito apenas pela componente de tensão σx. Porém, caso se
considere um cubo de dimensões infinitesimais rodado de 45º em relação ao eixo z (Figura
11b), o estado de tensão será caracterizado por tensões normal e de corte (iguais entre si).
8
Castorina Silva Vieira
a) b)
Figura 11 (adaptado de [1])
9
Castorina Silva Vieira
10
Castorina Silva Vieira
Admita-se que existe um estado plano de tensão para o ponto Q, tal como o representado na
Figura 14a, caracterizado pelas componentes de tensão σx ; σy ; τxy e que se pretende-se
determinar a tensão normal, σx’ e a tensão de corte τx’y’ que actuam numa faceta de
orientação θ (Figura 14b).
Para tal, considere-se um elemento prismático com uma face de orientação θ e as restantes
perpendiculares aos eixos x e y (Figura 14c). O eixo x’ é perpendicular à faceta e o eixo y’ é
tangente a esta.
b) c)
a)
Figura 14 (adaptado de [1])
Se a área da face oblíqua for representada por ∆A, as áreas das faces vertical e horizontal são
iguais a ∆A cosθ e ∆A senθ, respectivamente (Figura 14c). Assim as forças resultantes que
actuam nas três faces são as representadas na Figura 15.
11
Castorina Silva Vieira
∑ Fx ' = 0
σ x ' ∆A − σ x (∆A cos θ ) cos θ − τ xy (∆A cos θ )senθ − σ y (∆Asenθ )senθ − τ xy (∆Asenθ ) cos θ = 0
∑ Fy ' = 0
τ x ' y ' ∆A + σ x (∆A cos θ )senθ − τ xy (∆A cos θ ) cos θ − σ y (∆Asenθ ) cos θ + τ xy (∆Asenθ )senθ = 0
( ) (
τ x 'y' = − σ x − σ y senθ cos θ + τ xy cos 2 θ − sen 2 θ )
Usando as relações trigonométricas:
1 + cos 2θ 1 − cos 2θ
cos 2 θ = sen 2 θ =
2 2
A equação de σ x ' pode ser escrita como:
1 + cos 2θ 1 − cos 2θ
σ x' = σ x + σy + τ xy sen 2θ
2 2
ou,
σx + σy σx − σy
σx' = + cos 2θ + τ xy sen 2θ
2 2
σx − σy
τ x 'y ' = − sen 2θ + τ xy cos 2θ
2
12
Castorina Silva Vieira
Se na equação de σ x ' substituirmos o ângulo θ pelo ângulo (θ+90º), que é o ângulo que o eixo
x’ faz com o eixo x e sabendo que:
cos (2θ + 180º ) = − cos 2θ sen (2θ + 180º ) = −sen 2θ
obteremos:
σx + σy σx − σy
σ y' = − cos 2θ − τ xy sen 2θ
2 2
Note-se que somando membro a membro as equações de σ x ' e de σ y ' conclui-se que:
σ x ' + σ y' = σ x + σ y
Como no caso plano de tensão σ z = σ z ' = 0 , a equação anterior permite concluir que, em
estado plano de tensão a soma das tensões normais que actuam num elemento de volume é
independente da orientação daquele elemento.
13
Castorina Silva Vieira
EXEMPLO DE APLICAÇÃO
Para o estado de tensão representado na figura, determine as tensões normal e de corte que
actuam na face oblíqua do elemento triangular sombreado. Use um método de análise
baseado no equilíbrio daquele elemento.
14
Castorina Silva Vieira
σx − σy
τ x 'y ' = − sen 2θ + τ xy cos 2θ
2
σx + σy
Na equação de σ x ' passemos o termo para o 1º membro e elevemos ao quadrado os
2
dois membros da equação:
2 2
⎛ σ + σy ⎞ ⎛ σ − σy ⎞
⎜⎜ σ x ' − x ⎟⎟ = ⎜⎜ x cos 2θ + τ xy sen 2θ ⎟⎟
⎝ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎠
2
⎛ σx − σy ⎞
τ x 'y '
2
= ⎜⎜ − sen 2θ + τ xy cos 2θ ⎟⎟
⎝ 2 ⎠
Somando membro a membro as duas equações anteriores obtém-se:
2 2 2
⎛ σ + σy ⎞ ⎛ σ − σy ⎞ ⎛ σx − σy ⎞
⎜⎜ σ x ' − x ⎟⎟ + τ 2x 'y ' = ⎜⎜ x cos 2θ + τ xy sen 2θ ⎟⎟ + ⎜⎜ − sen 2θ + τ xy cos 2θ ⎟⎟
⎝ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎠
Desenvolvendo o segundo membro da equação:
2 2
⎛ σ + σy ⎞ ⎛ σ − σy ⎞ σx − σy
⎜⎜ σ x ' − x ⎟⎟ + τ 2x 'y ' = ⎜⎜ x (
cos 2θ ⎟⎟ + τ xy sen 2θ 2 + 2 × ) cos 2θ × τ xy sen 2θ +
⎝ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎠ 2
2
⎛ σx − σy ⎞ σx − σy
+ ⎜⎜ − (
sen 2θ ⎟⎟ + τ xy cos 2θ 2 + 2 × − ) sen 2θ × τ xy cos 2θ
⎝ 2 ⎠ 2
15
Castorina Silva Vieira
2 2
σ + σy ⎛ σ − σy
⎛
⎜⎜ σ x ' − x
⎞
⎟⎟ + τ 2x 'y ' = ⎜⎜ x
⎞
( ) (
⎟⎟ × cos 2 2θ + sen 2 2θ + τ 2xy × sen 2 2θ + cos 2 2θ + )
⎝ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎠
σx − σy
+ 2× τ xy × (cos 2θsen 2θ − sen 2θcos 2θ )
2
2 2
σ + σy ⎛ σ − σy
⎛
⎜⎜ σ x ' − x
⎞
⎟⎟ + τ 2x 'y ' = ⎜⎜ x
⎞
( ) (
⎟⎟ × cos 2 2θ + sen 2 2θ + τ 2xy × sen 2 2θ + cos 2 2θ + )
⎝ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎠
=1 =1
σx − σy
+ 2× τ xy × (cos 2θsen 2θ − sen 2θcos 2θ )
2
=0
Obtém-se:
2 2
⎛ σ + σy ⎞ ⎛ σ − σy ⎞
⎜⎜ σ x ' − x ⎟⎟ + τ 2x 'y ' = ⎜⎜ x ⎟⎟ + τ 2xy
⎝ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎠
Num sistema de eixos cartesianos ortogonais de abcissas σ x ' e ordenadas τ x 'y ' , a equação
2
⎛ σx − σy ⎞
R = ⎜⎜ ⎟ + τ 2xy
⎟
⎝ 2 ⎠
σx + σy
σ med =
2
16
Castorina Silva Vieira
Assim, os valores do ângulo θ que correspondem aos pontos A e B (ângulos θp) podem ser
obtidos impondo que τ x ' y ' = 0 .
σx − σy
0=− sen 2θ p + τ xy cos 2θ p
2
sen 2θ p τ xy
=
cos 2θ p σx − σy
2
2τ xy
tg 2θ p =
σx − σy
A equação anterior define dois valores de θp que estão desfasados de 90º. Um deles
corresponde à orientação referente ao valor máximo da tensão normal e o outro à direcção
correspondente ao valor mínimo da tensão normal (Figura 18).
17
Castorina Silva Vieira
θp foram determinados considerando τ x ' y ' = 0 , então pode afirmar-se que a tensão de corte é
2
σx + σy ⎛ σx − σy ⎞
σ max = + ⎜⎜ ⎟ + τ 2xy
⎟
2 ⎝ 2 ⎠
2
σx + σy ⎛ σx − σy ⎞
σ min = − ⎜⎜ ⎟⎟ + τ 2xy
2 ⎝ 2 ⎠
Para saber qual das direcções (Figura 18) está submetida a σmax e qual está submetida a σmin,
é necessário substituir um dos valores obtidos para θp na equação:
σx + σy σx − σy
σx' = + cos 2θ + τ xy sen 2θ
2 2
18
Castorina Silva Vieira
⎛ σx + σy ⎞
σ x ' = ⎜⎜ ⎟
⎟
⎝ 2 ⎠
na equação:
σx + σy σx − σy
σx' = + cos 2θ + τ xy sen 2θ
2 2
σx + σy σx + σy σx − σy
= + cos 2θ c + τ xy sen 2θ c
2 2 2
σx − σy
0= cos 2θ c + τ xy sen 2θ c
2
sen 2θ c σx − σy
=−
cos 2θ c 2τ xy
σx − σy
tg 2θ c = −
2τ xy
Esta equação define dois valores de θc desfasados de 90º.
19
Castorina Silva Vieira
2
⎛ σx − σy ⎞
τ max = ⎜⎜ ⎟⎟ + τ 2xy
⎝ 2 ⎠
2τ xy σx − σy
Comparando, agora, a equação tg 2θ p = e a equação tg 2θ c = − verifica-
σx − σy 2τ xy
se que tgθ c é o inverso negativo de tgθ p . Isto significa que os ângulos 2θc e 2θp estão
desfasados de 90º e, portanto, os ângulos θc e θp estão desfasados de 45º. Isto é: a
orientação dos planos de tensão de corte máxima está desfasada de 45º das direcções
principais de tensão.
20
Castorina Silva Vieira
σx
τxy
σy
τxy
21
Castorina Silva Vieira
Unindo os pontos X e Y por uma linha recta, define-se o ponto C de intersecção desta linha
com o eixo σ e desenha-se a circunferência de centro C e diâmetro XY (Figura 20).
Atendendo a que a abcissa de C e o raio da circunferência são, respectivamente, iguais a
2
σx + σy ⎛ σx − σy ⎞
σ med = e a R = ⎜⎜ ⎟ + τ 2xy conclui-se que a circunferência obtida coincide com
⎟
2 ⎝ 2 ⎠
o Círculo de Mohr para estados planos de tensão. Desta forma, as abcissas dos pontos A e B,
onde a circunferência intersecta o eixo σ representam, respectivamente, a tensão principal
máxima e a tensão principal mínima no ponto Q.
Analisando a Figura 20
22
Castorina Silva Vieira
No traçado do Círculo de Mohr, quando a tensão de corte que actua sobre um dada face (ou
faceta) tende a girar o elemento no sentido horário, o ponto do círculo correspondente
àquela face está localizado acima do eixo σ, isto é, a tensão de corte nessa face é positiva
(Figura 21).
τ>0
Sentido horário
Figura 21 (adaptado de [1])
No que se refere às tensões normais, usa-se a convenção habitual, isto é, uma tensão de
tracção é considerada positiva, enquanto uma tensão de compressão é considerada negativa.
Para determinar o pólo de irradiação das direcções de tensão, passemos pelo ponto X uma
recta paralela ao eixo x (ou seja, com a direcção da tensão σx) e pelo ponto Y uma recta
paralela ao eixo y (ou seja, com a direcção da tensão σy). A intersecção das duas rectas define
o ponto In que representa o pólo de irradiação das direcções de tensão (Figura 22).
23
Castorina Silva Vieira
In
a) b)
Figura 23 (adaptado de [1])
Se unirmos o pólo das direcções de tensão (In) ao ponto A (ponto representativo da tensão
principal máxima no ponto Q) obtemos a direcção principal que lhe está associada. O mesmo
se passa relativamente ao ponto B, referente à tensão principal mínima no ponto Q – Figura
23.
Tendo em consideração que para o exemplo apresentado σx, σy e τxy são positivos, o ângulo θp
2τ xy
que se obtém através da equação tg 2θ p = é também positivo. Analisando a Figura
σx − σy
24
Castorina Silva Vieira
23 verifica-se que o ângulos θp é positivo quando a rotação que faz o raio CX coincidir com o
raio CA (Figura 23b) é anti-horária. O mesmo se passa na rotação representada na Figura 23a:
a rotação que faz a direcção Ox coincidir com a direcção OA é também anti-horária
(ângulo θp > 0).
Com o pólo de irradiação das direcções de tensão (In) é possível definir o ponto do Círculo de
Mohr que caracteriza o estado de tensão segundo qualquer orientação θ. Se pretendermos
conhecer a orientação associada à máxima tensão de corte (ângulo θc), basta unir o pólo In aos
pontos do Círculo de Mohr a que corresponde o valor máximo de τ.
b)
a)
Figura 24 (adaptado de [1])
O pólo de irradiação das facetas é o ponto do círculo de Mohr a partir do qual é possível
definir a direcção das faces onde actuam as tensões correspondentes um qualquer ponto do
círculo.
Para determinar o pólo de irradiação das facetas, passemos pelo ponto X uma recta paralela à
face onde actua σx (isto é, uma recta paralela a y) e pelo ponto Y uma recta paralela à face
25
Castorina Silva Vieira
onde actua σy (isto é, uma recta paralela a x). A intersecção das duas rectas define o ponto If
que representa o pólo de irradiação das facetas (Figura 25).
If
Se unirmos o pólo das facetas (If) ao ponto A (ponto representativo da tensão principal
máxima no ponto Q) obtemos a orientação da face onde actua a tensão principal máxima. Se
unirmos o pólo das facetas (If) ao ponto B (ponto representativo da tensão principal mínima
no ponto Q) obtemos a orientação da face onde actua a tensão principal mínima (Figura 26).
If
b)
a)
Figura 26 (adaptado de [1])
26
Castorina Silva Vieira
Com o pólo de irradiação das facetas (If) é possível definir a direcção da faceta correspondente
a um determinado estado de tensão representado por um qualquer ponto do Círculo de Mohr.
Viu-se, anteriormente, que o ângulo XCA é igual a um dos ângulos 2θp e é igual a duas vezes o
ângulo que a direcção Ox faz com a direcção Oa (Figura 27).
a) b)
Figura 27 (adaptado de [1])
Isto significa que se duas direcções de tensão fazem entre si um ângulo θ, as suas
representações no círculo de Mohr farão um ângulo ao centro 2θ.
(A amplitude do ângulo inscrito é igual a metade da amplitude do ângulo ao centro
correspondente).
Figura 19 (repetição)
27
Castorina Silva Vieira
Note-se, porém, que o círculo de Mohr que representa o estado de tensão num ponto se define
de forma unívoca, pelo que, o mesmo círculo poderá ser obtido considerando as componentes
de tensão σx’, σy’, τx’y’ (Figura 28).
O ângulo ao centro 2θ (ângulo XCX’) será então duas vezes o ângulo formado pelas direcções
Ox (representação no círculo de Mohr – X) e Ox’ (representação no círculo de Mohr – X’) –
ângulo inscrito θ (Figura 29b).
In θ
b)
a)
Figura 29 (adaptado de [1])
28
Castorina Silva Vieira
EXEMPLO DE APLICAÇÃO
Considere o estado plano de tensão representado na Figura.
29
Castorina Silva Vieira
tensão principal intermédia e σ3 corresponde à tensão principal mínima. Admitindo, tal como o
representado na Figura 30, que todos os valores são positivos, às tensões σ1, σ2 e σ3,
correspondem, respectivamente, os pontos A, B e C no círculo de Mohr representado na Figura
31.
30
Castorina Silva Vieira
Considerando que o elemento sofre uma rotação em torno de um dos eixos principais, por
exemplo o eixo 3, os pontos representativos do estado de tensão nas facetas inclinadas
(σx; -τxy) e (σy; τxy) Figura 32 - encontram-se no círculo de Mohr de diâmetro AB. O estado de
tensão na faceta perpendicular ao eixo 3, mantém-se inalterado.
Figura 31 (repetição)
No estado plano de tensão, que temos vindo a analisar, admitimos σz = τzx = τzy = 0. Isto
significa que o eixo z é um dos três eixos principais de tensão. Na representação do círculo
de Mohr, o eixo z corresponde à origem do sistema de eixos, onde σ = τ = 0. Os outros dois
eixos principais correspondem aos pontos onde o círculo de Mohr para o plano xy intercepta o
eixo σ (pontos A e B na Figura 33).
31
Castorina Silva Vieira
Plano xy
Note-se que (ver Figura 33), o ponto representativo da tensão de corte máxima é o ponto D’ e
não o ponto D (este representa a tensão de corte máxima no plano xy).
A tensão de corte máxima é igual ao raio do círculo de Mohr definido pelos pontos O e A, isto
1
é, τ max = σ1 e ocorre nos planos sombreados na Figura 34 (fora do plano xy).
2
σ1 > σ2
σ3 = 0
Isto é, vamos considerar que os eixos principais determinados a partir do círculo de Mohr
referente ao plano xy são SEMPRE os eixos 1 e 2, sendo que σ1 > σ2.
33
Castorina Silva Vieira
σ1 > σ2
σ3 = 0
por esse motivo, neste caso a tensão principal mínima é igual a σ2. Note-se porém, se a análise
for efectuada considerando o valor absoluto das tensões, a tensão principal mínima será
σ3 = 0.
Porém, se o elemento estrutural estiver submetido a um estado plano de tensão (Figura 37b),
este é diferente do estado de tensão uniaxial existente no ensaio de tracção do provete e
portanto não é possível prever directamente se o elemento estrutural entra ou não em
cedência. Torna-se, então, necessário determinar as tensões principais no ponto em análise e
estabelecer critérios que permitam comparar os dois estados de tensão no material (uniaxial e
biaxial).
a)
b)
Figura 37 (adaptado de [1])
34
Castorina Silva Vieira
a) b)
Figura 38 (adaptado de [1])
A ductilidade é uma propriedade muito importante para os metais. Diferencia, por exemplo o
aço do ferro. O facto do aço ser dúctil torna a sua utilização atractiva na Construção Civil, ao
contrário do ferro que é um material frágil.
35
Castorina Silva Vieira
cargas inferiores para que a deformação do provete aumente. Verifica-se que a rotura ocorre
ao longo de uma superfície em forma de cone (Figura 39).
Este critério é respeitado num dado elemento estrutural se o valor máximo da tensão de
corte, τmax, permanecer inferior ao valor máximo da tensão de corte registada num
ensaio de tracção quando o provete entra no patamar de cedência.
Como o valor máximo da tensão de corte num elemento submetido a uma carga axial é igual a
metade do valor da tensão normal correspondente (ver Figura 11), então o valor máximo da
tensão de corte registada num ensaio de tracção quando o provete entra no patamar de
cedência é igual a metade da tensão de cedência, σc.
σc σ max − σ min σ c
τ max < ⇒ τ max = <
2 2 2
O valor de τmax deve ser determinado tendo em consideração o exposto anteriormente:
36
Castorina Silva Vieira
37
Castorina Silva Vieira
A energia de distorção por unidade de volume num material isotrópico é dada por:
Ud =
3 2
4G
τ oct =
1
12G
[
(σ1 − σ 2 )2 + (σ 2 − σ 3 )2 + (σ 3 − σ1 )2 ] (*)
(*) Note-se que a tensão octaédrica, que é tensão que actua em facetas igualmente inclinadas
em relação às direcções principais, é dada por:
τ oct =
1
(σ1 − σ 2 )2 + (σ 2 − σ 3 )2 + (σ 3 − σ1 )2
3
A energia de distorção por unidade de volume necessária para provocar a cedência num
ensaio de tracção, obtém-se considerando σ1 = σc e σ2 = σ3 = 0, resultando:
σ2
(U d )c = 1
× 2σ c2 = c
12G 6G
Então, o critério da energia de distorção máxima, também conhecido como Critério de Von
Mises, é expresso pela condição:
(σ1 − σ 2 )2 + (σ 2 − σ 3 )2 + (σ 3 − σ1 )2 < 2σ c2
o que equivale a:
1
(σ1 − σ 2 )2 + (σ 2 − σ 3 )2 + (σ3 − σ1 )2 < σc
2
38
Castorina Silva Vieira
A equação σ12 − σ1σ 2 + σ 22 = σ c2 é, num sistema de eixos coordenados σ1, σ2, a equação de uma
Constata-se que o eixo maior da elipse divide o primeiro e o terceiro quadrantes e vai do ponto
A com coordenadas σ1 = σ2 = σc até ao ponto B com coordenadas σ1 = σ2 = -σc. O eixo menor
da elipse estende-se do ponto C (σ1 = - σ2 = -0,577σc) até ao ponto D (σ1 = - σ2 = 0,577σc).
De igual forma, se o estado de tensão num ponto de um elemento estrutural for representado
no sistema de eixos σ1, σ2 por um ponto dentro da área sombreada na Figura 41, o critério
de cedência de Von Mises é respeitado. Se esse ponto cair fora dessa área, o critério de
cedência não é respeitado.
39
Castorina Silva Vieira
Na Figura 43a) apresenta-se uma curva típica de um ensaio de tracção de um material frágil. A
Figura 43b) ilustra o aspecto de um provete de um material frágil após a rotura.
Exemplos de materiais frágeis são o ferro fundido, o vidro e a pedra.
a) b)
Figura 43 (adaptado de [1])
40
Castorina Silva Vieira
O elemento estrutural não romperá desde que os valores absolutos das tensões principais σ1 e
σ2 sejam ambos inferiores a σU:
σ1 < σ U σ2 < σU
O Critério de Coulomb tem uma limitação importante, pois baseia-se na hipótese de que o
limite de resistência do material é o mesmo em tracção e em compressão.
41
Castorina Silva Vieira
Qualquer estado de tensão representado por um círculo contido inteiramente num dos círculos
referidos será um estado de tensão para o qual não ocorre rotura. Assim, se ambas as tensões
principais forem positivas, não ocorre rotura se:
σ1 < σ UT σ 2 < σ UT
Para analisar os casos em que σ1 e σ2 têm sinais contrários, terá de ser conhecida a
resistência ao corte τU determinada através de um ensaio de torção. Traçando o círculo de
Mohr centrado em O representando o estado de tensão correspondente à rotura do provete no
ensaio de torção (Figura 46a), verifica-se que qualquer círculo contido inteiramente naquele
círculo de Mohr também é seguro.
De acordo com o Critério de Mohr, não ocorrerá rotura se para um qualquer estado de tensão,
se esse estado de tensão for representado por um círculo localizado inteiramente dentro da
área limitada pela envolvente dos círculos correspondentes aos ensaios de tracção,
compressão e torção (Figura 46a).
42
Castorina Silva Vieira
Considerando vários círculos de Mohr tangentes à envolvente, define-se a área que representa
graficamente o Critério de Mohr (Figura 46b).
Caso os únicos dados disponíveis forem os valores da tensão limite de resistência em tracção
σUT e da tensão limite de resistência em compressão σUC, as envolventes apresentadas na
Figura 46a são substituídas pelas rectas tangentes aos círculos de Mohr representativos dos
ensaios de tracção e de compressão e a representação gráfica do Critério de Mohr será a
apresentada na Figura 47.
NOTA FINAL
Note-se que para determinar se ocorrerá rotura (ou cedência) num elemento estrutural, o
estado de tensão deve ser analisado em todos os pontos críticos.
43
Castorina Silva Vieira
EXEMPLO DE APLICAÇÃO
Considere que o estado plano de tensão ilustrado na Figura representa o estado de tensão no
ponto crítico de um elemento estrutural constituído por um material com tensão de cedência
igual a 160 MPa. Verifique:
i) o critério de cedência de Tresca
ii) o critério de cedência de Von Mises
44
Castorina Silva Vieira
Reservatórios cilíndricos
Considere-se um reservatório cilíndrico de raio interno r, com paredes de espessura t,
contendo no seu interior um fluído sob pressão (Figura 48). Pretende-se determinar as tensões
que actuam num elemento da parede, em que um dos lados é paralelo ao eixo do cilindro e o
outro é perpendicular. Devido à axissimetria do reservatório e da solicitação (pressão interior),
não actuam tensões de corte no elemento. Portanto, as tensões normais σ1 e σ2 representadas
na Figura 48 são tensões principais. A tensão σ1 é conhecida como tensão circunferencial e
a tensão σ2 é a tensão longitudinal.
Para determinar a tensão circunferencial σ1, vamos seccionar o reservatório pelo plano xy e por
2 planos paralelos ao plano yz, distando entre si ∆x (Figura 49). Paralelamente ao eixo z
existem forças elementares internas σ1dA que actuam nas secções da parede e forças
elementares de pressão pdA que actuam na parte do fluído incluída no corpo livre.
Tendo em consideração o significado de “dA” nas forças referidas no parágrafo anterior:
σ1dA = σ1 × 2t∆x
pdA = p × 2r∆x
45
Castorina Silva Vieira
∑ Fz = 0 σ1 × 2t∆x − p × 2r∆x = 0
onde, a pressão “p” representa a diferença entre a pressão interna e a pressão atmosférica
externa a que está submetido o reservatório (pressão manométrica), r é o raio interno do
reservatório e t é a espessura da parede.
Para determinar a tensão tangencial σ2, vamos seccionar o reservatório por um plano
perpendicular ao eixo x e considerar o corpo livre constituído pela parte do reservatório
localizada à esquerda da secção e pelo seu conteúdo (Figura 50).
As forças que actuam neste corpo livre são as forças elementares internas σ2dA, que actuam
na secção da parede do reservatório, e as forças elementares de pressão pdA, que actuam na
parte do fluído incluída no corpo livre. Tendo em consideração que a área da secção do fluído
é πr 2 e que a área da secção da parede do reservatório é aproximadamente 2π rt , podemos
escrever a equação de equilíbrio de forças segundo a direcção x como:
∑ Fx = 0 σ 2 × 2πrt − p × πr 2 = 0
Analisando as equações obtidas para σ1 e σ2, conclui-se que a tensão circunferencial σ1 é igual
ao dobro da tensão longitudinal, σ2:
σ1 = 2σ 2
47
Castorina Silva Vieira
pr
A tensão de corte máxima τ max = corresponde à tensão de corte num elemento obtido pela
4t
rotação do elemento considerado inicialmente (Figura 48) de 45º dentro do plano tangente à
superfície do reservatório. No entanto, a tensão de corte é maior na parede do reservatório.
A tensão de corte máxima é igual ao raio do círculo OA (Figura 51) e corresponde a uma
rotação de 45º em torno do eixo longitudinal (fora do plano de tensões), sendo obtida por:
pr
τ max = σ 2 =
2t
Não havendo qualquer pressão exterior, a terceira tensão principal é nula na superfície externa
do reservatório. Porém, na superfície interna do reservatório, a terceira tensão principal é igual
a “–p”. Assim, a tensão de corte máxima será igual a:
σ1 − ( − p ) 1 pr ⎛ t⎞
τ max = = (σ1 + p ) = ⎜1 + ⎟
2 2 2t ⎝ r ⎠
No entanto, em reservatórios de paredes finas, o termo t r é pequeno, podendo desprezar-se a
variação de τmax ao longo da secção da parede.
48
Castorina Silva Vieira
Reservatórios esféricos
Considere-se um reservatório esférico de raio r e parede de espessura t, contendo um fluído
sob uma pressão manométrica “p”. Por razões de simetria, as tensões normais que actuam em
quatro facetas ortogonais da parede do reservatório devem ser iguais (Figura 52).
Para determinar o valor dessas tensões normais, seccione-se o reservatório por um plano
vertical que contém o seu centro C e considere-se o corpo livre constituído pela parte do
reservatório localizada à esquerda da secção e pelo seu conteúdo (Figura 53). A equação de
equilíbrio de forças segundo a direcção x é igual à escrita anteriormente para o reservatório
cilíndrico:
∑ Fx = 0 σ 2 × 2πrt − p × πr 2 = 0
Assim, num reservatório esférico:
pr
σ1 = σ 2 =
2t
49
Castorina Silva Vieira
Conclui-se assim que, a tensão normal no plano tangente à superfície é constante e que a
tensão de corte máxima no plano é zero.
No entanto, as tensões de corte na parede do reservatório não são nulas. A tensão de corte
máxima é igual ao raio do círculo OA (Figura 54), corresponde a uma rotação de 45º fora do
plano das tensões, sendo obtida por:
1 pr
τ max = σ1 =
2 4t
50
Castorina Silva Vieira
EXEMPLO DE APLICAÇÃO
Considere um tanque de ar comprimido constituído por um troço cilíndrico de diâmetro exterior
igual a 800 mm e por calotes de extremidade esféricas, com espessura de 8 mm. Admita que
os apoios foram concebidos de forma a não exercer qualquer força longitudinal sobre o tanque.
Admitindo uma pressão interna de 1,2 MPa, determine o valor máximo da tensão normal e da
tensão de corte nas calotes esféricas.
51
Castorina Silva Vieira
2) ESTADO DE DEFORMAÇÃO
É desejável (para que se respeitem os Estados Limites de Utilização) que as estruturas sejam
dimensionadas para sofrerem deformações relativamente pequenas. Nessas circunstâncias, o
estado de tensão-deformação correspondente encontra-se na parte inicial (linear) das curvas
apresentadas como exemplo na Figura 55.
Para essa parte do diagrama, a tensão normal σ é directamente proporcional à extensão (ou
deformação específica) ε:
σ = Eε
52
Castorina Silva Vieira
Quando uma barra é carregada axialmente, a tensão e a extensão resultantes satisfazem a lei
de Hooke, desde que o limite de proporcionalidade do material não seja excedido. Se a
direcção da força P for a do eixo x (Figura 56a), então:
P σx
σx = e pela Lei de Hooke: εx =
A E
a) b)
Figura 56 (adaptado de [1])
As tensões normais nas faces perpendiculares aos eixos y e z são nulas: σy = σz = 0 (Figura
56b). Poderíamos ser tentados a concluir que as extensões εy e εz também seriam nulas. No
entanto, isso não é verdadeiro. Em todos os materiais utilizados correntemente em engenharia,
a deformação produzida por uma força axial de tracção na direcção da força é acompanhada
por uma contracção em qualquer direcção transversal (Figura 57).
53
Castorina Silva Vieira
ou,
εy εz
ν=− =−
εx εx
para o carregamento e sistema de eixos representados na Figura 56.
Note-se a existência do sinal menos nas equações anteriores. Significa que um aumento de
comprimento na direcção de carregamento é acompanhada por uma contracção nas direcções
transversais e, inversamente, uma redução de comprimento na direcção de carregamento é
acompanhada por uma expansão nas direcções transversais.
σx νσ x
εx = εy = εz = −
E E
Notas:
1) É errado supor que o volume da barra permanece inalterado em resultado do efeito
combinado da deformação longitudinal e das deformações transversais. Ver 3)
2) A cortiça é um exemplo de material que tem um coeficiente de Poisson próximo de 0,
enquanto na borracha este coeficiente é próximo de 0.5.
54
Castorina Silva Vieira
55
Castorina Silva Vieira
Para expressar as extensões εx, εy e εz em função das componentes de tensão σx, σy e σz,
vamos considerar separadamente o efeito de cada uma das tensões e combinar o resultado
obtido, aplicando o Principio da Sobreposição dos Efeitos (o efeito de um determinado
carregamento pode ser obtido determinando-se separadamente os efeitos das várias forças e
somando os resultados obtidos, desde que: - cada efeito esteja linearmente relacionado com a
força que o produz; - a deformação provocada por cada uma das forças seja pequena e não
afecte as condições de aplicação das restantes).
Somando as extensões provocadas por cada uma das componentes de tensão isoladamente
(ie, aplicando o Principio da Sobreposição de Efeitos), obtêm-se as extensões correspondentes
a um carregamento multiaxial:
σ x νσ y νσ z
εx = + − −
E E E
νσ x σ y νσ z
εy = − + −
E E E
νσ x νσ y σ z
εz = − − +
E E E
Estas relações são conhecida como Lei de Hooke generalizada para carregamento multiaxial
de um material homogéneo e isotrópico. Relembre-se que para que esta lei seja válida:
56
Castorina Silva Vieira
57
Castorina Silva Vieira
a) b)
Figura 61 (adaptado de [1])
Quando a deformação envolve uma redução do ângulo formado pelas duas faces orientadas
na direcção positiva dos eixos x e y, a distorção é positiva (Figura 61b).
Embora existam autores que o consideram de forma diferente, vamos assumir que a
deformação real do elemento provocada pelas tensões de corte é acompanhada por uma
rotação do corpo rígido tal que as faces horizontais giram 1 2 γ xy no sentido anti-horário
62.
γxy > 0
Para valores da tensão que não excedam o limite de proporcionalidade para tensões de corte,
as distorções variam linearmente com as tensões, isto é:
τ xy = Gγ xy
58
Castorina Silva Vieira
Esta relação é conhecida como Lei de Hooke para tensão e deformação por corte, sendo G o
módulo de elasticidade transversal do material.
Para o estado de tensão geral representado na Figura 60 e desde que nenhuma das tensões
ultrapasse o limite de proporcionalidade correspondente, pode aplicar-se o Principio da
Sobreposição dos efeitos, resultando o grupo de equações:
σ x νσ y νσ z
εx = + − −
E E E
νσ x σ y νσ z
εy = − + −
E E E
νσ x νσ y σ z
εz = − − +
E E E
τ xy
γ xy =
G
τ yz
γ yz =
G
τ zx
γ zx =
G
que representam a Lei de Hooke generalizada para um material homogéneo e isotrópico
submetido a um estado de tensão geral.
Analisando as equações anteriores, poder-se-ia pensar que seria necessário conhecer o valor
de três grandezas (E, ν e G) para determinar as deformações provocadas por um qualquer
estado de tensão. Na realidade é necessário conhecer apenas duas dessas grandezas.
59
Castorina Silva Vieira
v) Relação entre E, ν e G
Tal como vimos anteriormente, uma barra de reduzida espessura submetida a uma força axial
P aplicada na direcção do eixo x, alongará na direcção x, εx, e contrairá nas direcções
transversais y e z, εy = εz = -νεx. Assim se considerarmos um cubo de dimensões unitárias
orientado conforme se ilustra a traço interrompido na Figura 63a, este deformar-se-á
transformando-se num paralelepípedo rectangular de lados iguais a 1+εx, 1-νεx e 1-νεx.
a) b)
Figura 63 (adaptado de [1])
Se o cubo for orientado a 45º em relação ao eixo x (Figura 63b) observa-se que a face que é
visível na figura se transforma num losango. A força P provoca neste elemento uma
distorção γ’.
Como vimos no ponto 1 (Estado de Tensão), uma carga axial P provoca tensões normais e de
corte de igual intensidade nas quatro faces de um elemento orientado a 45º.
Foi também demonstrado que a tensão de corte máxima ocorre num plano que faz 45º com o
eixo da força. Então pode concluir-se, por aplicação da Lei de Hooke para tensões e
deformações por corte, que a distorção representada na Figura 63b é a distorção máxima:
γ’ = γmax.
60
Castorina Silva Vieira
Considere-se o elemento prismático obtido pelo corte do cubo representado na Figura 63a, por
um plano diagonal (Figura 64a e 2b). Analisando a deformação do elemento (Figura 63a),
conclui-se que o elemento prismático representado na Figura 64b se deformará transformando-
se no elemento representado na Figura 64c, que tem lados horizontal e vertical iguais a 1 + εx e
1-νεx, respectivamente.
a) b) c)
Figura 64 (adaptado de [1])
O ângulo formado pelas faces oblíqua e horizontal do elemento prismático (Figura 64b) é π/4,
isto é, igual a metade do ângulo recto. Logo, o ângulo β que é o ângulo após a deformação do
elemento, deve ser igual a metade de π/2-γmax:
π γ max
β= −
4 2
⎛π⎞ ⎛γ ⎞ ⎛γ ⎞
tg⎜ ⎟ − tg⎜ max ⎟ 1 − tg⎜ max ⎟ 1 − γ max
⎝4⎠ ⎝ 2 ⎠ = ⎝ 2 ⎠≅ 2
tgβ =
⎛π⎞ ⎛γ ⎞ ⎛γ ⎞ γ max
1 + tg⎜ ⎟ × tg⎜ max ⎟ 1 + tg⎜ max ⎟ 1+
⎝4⎠ ⎝ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎠ 2
γ max =
(1 + ν )ε x
1− ν
1+ εx
2
61
Castorina Silva Vieira
Como pretendemos obter uma relação entre E, ν e G, utilizando a lei de Hooke para o
carregamento axial em análise e substituindo na equação anterior obtém-se:
τ max σ E σ
= (1 + ν ) x ⇔ = (1 + ν ) x
G E G τ max
Como para o carregamento em análise, σx = P/A e τmax = P/2A, conclui-se que σx/τmax = 2.
Substituindo na última equação obtém-se:
E
= 1+ ν
2G
E
G=
2(1 + ν )
62
Castorina Silva Vieira
Note-se que, o estado plano de deformação e o estado plano de tensão não ocorrem
simultaneamente, excepto para os materiais com coeficiente de Poisson nulo. As restrições
colocadas nos elementos representados na Figura 65, conduzem a que σz seja diferente de
zero.
Admita-se que existe um estado plano de deformação no ponto Q (Figura 66a), com
εz = γzx = γzy = 0, definido pelas componentes de deformação εx, εy e γxy associadas aos eixos x
e y. Como vimos anteriormente, isso significa que um elemento quadrangular centrado em Q,
com lados de comprimento ∆s deformar-se-á transformando-se num paralelogramo com lados
de comprimento ∆s(1+εx) e ∆s(1+εy), formando ângulos π/2- γxy e π/2+ γxy entre si (Figura 66b).
63
Castorina Silva Vieira
Nota – devido à deformação de outros elementos, o elemento em análise pode também sofrer
um movimento de corpo rígido, mas esse movimento é irrelevante para a determinação das
deformações em Q e portanto não é considerado na análise.
Comecemos por determinar a extensão ε(θ) ao longo de uma direcção AB que forma um
ângulo θ com o eixo x (≡ como eixo x’ na Figura 67).
Considere-se o triângulo ABC, representado na Figura 68a, que tem o lado AB como
hipotenusa, lado este com a direcção θ. O triângulo ABC deformado transforma-se no triângulo
oblíquo A’B’C’ apresentado na Figura 68b. Se ∆s for o comprimento de AB, o comprimento de
A’B’ é dado por ∆s[1+ε(θ)]. Analogamente, os comprimentos dos lados A’C’ e C’B’ podem ser
expressos como ∆x(1+εx) e ∆y(1+εx), respectivamente. O ângulo recto em C transforma-se em
π/2+ γxy.
a) b)
(A' B')2 = (A ' C')2 + (C' B')2 − 2(A ' C')(C' B')cos⎛⎜ π + γ xy ⎞⎟
⎝2 ⎠
e, substituindo pelas dimensões correspondentes, obtemos:
∆x = (∆s)cos θ ∆y = (∆s)senθ
64
Castorina Silva Vieira
que nos permite determinar a extensão para qualquer direcção θ (ângulo que a direcção faz
com o eixo x), conhecendo εx, εy e γxy.
Como se viu anteriormente a direcção θ é coincidente com o eixo x’ logo, ε(θ) = εx’. Assim,
usando as relações trigonométricas:
1 + cos 2θ 1 − cos 2θ
cos 2 θ = sen 2 θ = sen2θ = 2senθ cos θ
2 2
A equação de ε x' pode ser escrita como:
1 + cos 2θ 1 − cos 2θ γ xy
ε x' = ε x + εy + sen 2θ
2 2 2
Como:
cos 2θ = cos2 θ − sen2 θ e cos 2 θ + sen 2 θ = 1
resulta:
εx + εy εx − εy γ xy
ε x' = + cos 2θ + sen 2θ
2 2 2
Substituindo na equação anterior o ângulo θ pelo ângulo (θ+90º), que é o ângulo que o eixo y’
faz com o eixo x, e sabendo que:
cos (2θ + 180º ) = − cos 2θ sen (2θ + 180º ) = −sen 2θ
obteremos:
εx + εy εx − εy γ xy
ε y' = − cos 2θ − sen 2θ
2 2 2
65
Castorina Silva Vieira
εx + εy εx − εy γ xy
Substituindo na equação ε x' = + cos 2θ + sen 2θ o ângulo θ pelo ângulo
2 2 2
(θ+45º), obteremos a extensão ao longo da bissectriz do ângulo formado por x’ e y’ (Figura 69).
.
y
θ+45º
y’
θ = 45º
x’
45º
θ
O x
Figura 69
Como:
cos (2θ + 90º ) = −sen 2θ sen (2θ + 90º ) = cos 2θ
obteremos:
εx + εy εx − εy γ xy
ε(θ + 45º ) = − sen 2θ + cos 2θ
2 2 2
69), obtemos a extensão segundo a bissectriz do ângulo formado por x e y (Figura 69):
ε(θ = 45º ) =
1
2
(
ε x + ε y + γ xy )
Resolvendo esta equação em relação a γxy:
(
γ xy = 2ε(θ = 45 º ) − ε x + ε y )
(
γ x ' y ' = 2ε(θ + 45 º ) − ε x ' + ε y ' )
66
Castorina Silva Vieira
Substituindo as equações:
εx + εy εx − εy γ xy
ε x' + ε y' = ε x + ε y ε(θ + 45º ) = − sen 2θ + cos 2θ
2 2 2
na equação:
⎛ εx + εy εx − εy γ xy ⎞
( )
γ x 'y ' = 2ε(θ + 45º ) − ε x ' + ε y ' = 2 × ⎜⎜ − sen 2θ + cos 2θ ⎟⎟ − ε x + ε y( )
⎝ 2 2 2 ⎠
( )
γ x ' y ' = − ε x − ε y sen 2θ + γ xy cos 2θ
Traçando o diâmetro XY, definimos o centro C do Círculo de Mohr para o estado plano de
deformação (Figura 70). A abcissa do ponto C, coincidente com o valor médio da
extensão, εmed, e o raio do Círculo de Mohr, R, são iguais a:
2 2
εx + εy ⎛ εx − εy ⎞ ⎛ γ xy ⎞
ε med = R = ⎜⎜ ⎟ +⎜
⎟ ⎜ 2 ⎟
⎟
2 ⎝ 2 ⎠ ⎝ ⎠
67
Castorina Silva Vieira
2 2
εx + εy ⎛ εx − εy ⎞ ⎛ γ xy ⎞
ε max = ε med + R = + ⎜⎜ ⎟ +⎜
⎟ ⎜ 2 ⎟
⎟
2 ⎝ 2 ⎠ ⎝ ⎠
2 2
εx + εy ⎛ ε x − ε y ⎞ ⎛ γ xy ⎞
εmin = εmed − R = − ⎜⎜ ⎟ +⎜
⎟ ⎜ 2 ⎟
⎟
2 ⎝ 2 ⎠ ⎝ ⎠
Note-se que em ambos os pontos a distorção γxy é nula. Assim, os valores do ângulo θ que
correspondem aos pontos A e B (ângulos θp) podem ser obtidos impondo que γxy = 0.
( )
0 = − ε x − ε y sen 2θ + γ xy cos 2θ
γ xy
tg2θ p =
εx − εy
Tal como vimos para o estado plano de tensão, a equação anterior define dois valores de θp
que estão desfasados de 90º. Um deles corresponde à orientação referente ao valor máximo
68
Castorina Silva Vieira
b a
a) b)
Figura 71 (adaptado de [1])
para qualquer par de eixos ortogonais. Assim, γxy = 0 quando τxy = 0, o que significa que os
eixos principais de deformação coincidem com os eixos principais de tensão.
A distorção máxima no plano da deformação, definida pelos pontos D e E na Figura 70, é igual
ao diâmetro do Círculo de Mohr, ou seja:
γ max = 2R = (ε x − ε y )2 + (γ xy )2
69
Castorina Silva Vieira
a)
b)
Figura 72 (adaptado de [1])
Para o traçado do Círculo de Mohr, quando o lado do elemento com uma determinada direcção
gira no sentido horário, o ponto do círculo correspondente a essa direcção tem distorção
positiva (Figura 73).
εy
γxy >0
εx
Figura 73
τxy
A faceta associada ao A faceta associada ao τxy
ponto Y tem τxy > 0 τxy ponto Y tem τxy < 0
τxy
Figura 74
70
Castorina Silva Vieira
EXEMPLO DE APLICAÇÃO
71
Castorina Silva Vieira
No entanto, há métodos mais precisos para a medição de extensões. A medição das extensões
numa dada direcção à superfície (ou no interior da peça), é realizada por aparelhos designados
por extensómetros. Os extensómetros medem a variação de comprimento, ∆l , de um
segmento de recta de comprimento inicial l 0 , definido entre dois pontos. A extensão ε = ∆l / l 0
[2] Bastos, Ana Maria Sarmento T. (2010). Apontamentos da Disciplina Instrumentação e Observação de Obras, 5º
Ano MIEC – Opção de Materiais e Processos de Construção.
72
Castorina Silva Vieira
Na realidade, as componentes de deformação εx, εy e γxy poderão ser obtidas a partir das
extensões registadas ao longo de quaisquer três linhas traçadas através do ponto. Chamando
θ1, θ2 e θ3 aos ângulos que cada uma dessas direcções forma com o eixo dos x e por ε1, ε2 e ε3
as medidas correspondentes das extensões (Figura 76), obtém-se substituindo na equação:
ε(θ) = ε x cos 2 θ + ε y sen 2 θ + γ xy senθ cos θ ,
73
Castorina Silva Vieira
O arranjo dos extensómetros usados para medir as três deformações ε1, ε2 e ε3 é conhecido
como roseta de extensómetros. A roseta usada para medir as extensões ao longo dos eixos x
e y e da bissectriz do ângulo formado entre eles (Figura 75) é conhecida como roseta de 45º.
Uma outra roseta usada frequentemente é a roseta de 60º.
Para caracterizar um estado plano de deformação são necessários apenas três extensómetros.
Porém, muitas vezes emprega-se um quarto extensómetro que servirá de aferidor das leituras
realizadas.
Nota – Foi utilizada a designação ε1, ε2 e ε3 para as extensões registadas nos extensómetros.
Esta numeração diz respeito aos extensómetro 1, 2 e 3, não estando relacionada com as
extensões principais, para as quais também se usam habitualmente designações similares.
74
Castorina Silva Vieira
EXEMPLO DE APLICAÇÃO
Considere o pilar de secção rectangular solicitado pelas forças P e Q aplicadas no ponto C, tal
como representado na figura. Colocou-se uma roseta de extensómetros a 45º no ponto A
tendo-se obtido a seguinte medição:
75
Castorina Silva Vieira
a) b)
Figura 77(adaptado de [1])
A distorção máxima no ponto Q é igual ao maior diâmetro dos três círculos representados na
Figura 78, sendo igual a:
γ max = ε max − ε min
onde εmax e εmin representam os valores algébricos das extensões máxima e mínima no
ponto Q.
Considerando um estado plano de deformação em que εz = γzx = γzy = 0, significa que o eixo z
é um dos três eixos principais de deformação em Q. Se as extensões correspondentes aos
pontos A e B, que definem os eixos principais no plano de deformação, tiverem sinais
contrários (Figura 79a), as extensões principais no plano representam as extensões máxima e
mínima no ponto Q e a distorção máxima é igual à distorção máxima no plano de deformação
(pontos D e E na Figura 79a).
a)
b)
Figura 79 (adaptado de [1])
77
Castorina Silva Vieira
Se a e b forem os eixos principais no plano de tensão e o eixo c (≡ eixo z), o eixo perpendicular
àquele plano: σc = σz = 0, escrevendo a Lei de Hooke generalizada obtém-se:
σ a νσ b
εa = −
E E
νσ a σ b
εb = − +
E E
νσ a νσ b ν
εc = − − = − (σ a + σ b )
E E E
Esta equação define a terceira extensão principal em estado plano de tensão (Figura 80). Se o
ponto B estiver localizado entre os pontos A e C, tal como representado na Figura 80, a
distorção máxima é igual ao diâmetro CA do círculo correspondente a rotações em torno do
eixo b (fora do plano das tensões).
78