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AS FUNÇÕES DA REMISSÃO AO DISCURSO DO OUTRO NA

ESCRITA DO GÊNERO ACADÊMICO


MEDEIROS, Luana Danielle do Nascimento Silva 1
FABIANO, Sulemi 2

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivos mapear os conceitos de heterogeneidade


discursiva através de citações e analisar as funções da remissão ao discurso do outro na
escrita acadêmica. O corpus investigado são textos produzidos na disciplina de Leitura e
Produção de Textos I e relatórios de final de curso produzidos na disciplina Estágio
Supervisionado de Formação de Professores IV do semestre 2009.2. A pesquisa
fundamentou-se nos conceitos de gêneros discursivos de Bakhtin (2000) e de
heterogeneidade discursiva marcada e não marcada de Authier-Revuz (1990; 2004). Os
resultados parciais apontam que os alunos iniciantes utilizam citações de vários autores no
mesmo texto, mas não conseguem estabelecer uma conexão entre os conceitos citados. Os
textos, em sua maioria, ancoram-se no recurso do tipo “recorta e cola”.

PALAVRAS-CHAVE: gênero acadêmico; heterogeneidade discursiva; citações.

INTRODUÇÃO

Este trabalho é recorte de um projeto de pesquisa de Iniciação Científica (CNPq -


REUNI), de onde extraímos dois dados de análise, visando responder à seguinte pergunta
de pesquisa e reflexão: “Quais as funções da remissão ao discurso do outro na escrita do
gênero acadêmico?” Para responder a tal questionamento, buscamos primeiramente
recorrer aos conceitos de: 1) gênero discursivo, em especial, o gênero acadêmico, segundo
a teoria de Bakhtin (2000); e 2) heterogeneidade discursiva, segundo Authier-Revuz (1990;
2004). Com base na teoria estudada, fizemos um levantamento de dados a partir de uma
análise comparativa dos textos produzidos pelos alunos recém-chegados a universidade
com os textos de alunos que já estão no término da graduação. Os textos sistematizados
para a pesquisa receberam as categorias (AI) para o texto produzido por alunos iniciantes
na graduação em Letras; e (AC), para texto produzido por alunos concluintes. A análise
buscava diagnosticar em que medida os alunos vão se apropriando da escrita do gênero
acadêmico no que se refere à apropriação dos conceitos de área. A finalidade era rastrear
os mecanismos com os quais os alunos faziam referência ao discurso de renomados
teóricos da área, apontar os motivos para os quais eles faziam ou não essa remissão, e
comparar as características da escrita acadêmica no início e fim da graduação.

1
Graduanda do curso de Letras - Língua Portuguesa e Literaturas – Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Aluna de Iniciação Científica na área da Análise Textual. UFRN/REUNI/GETED.
luazinnnha@hotmail.com
2
Orientadora Professora Doutora do Departamento de Letras e do Programa de Pós-Graduação em Estudos
da Linguagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Líder do Grupo de Pesquisa em Estudos do
Texto e do Discurso/GETED e integrante do e Grupo de Estudos e Pesquisa Produção Escrita e Psicanálise –
GEPPEP/USP. sulemifabiano@yahoo.com.br
BAKHTIN E O ESTUDO DOS GÊNEROS DISCURSIVOS

Para entendermos o conceito de gênero discursivo, recorremos à teoria de Bakhtin


(2000). Segundo esse autor, todos os textos, escritos ou orais, possuem uma determinada
categoria. Essa categoria é selecionada de acordo com o meio em que foi produzido o
enunciado – seja na escola, na universidade, em situações cotidianas etc. –, devendo se
adequar ao contexto e à finalidade para os quais esse enunciado foi produzido.
Isso significa que todo o texto possui uma determinada categoria de produção, que
funciona como um “modelo”, obedecendo à estrutura proposta pelo “padrão” em que está
inserido. Sendo assim, o texto é elaborado baseando-se no “modelo de texto” mais
adequado à esfera textual para a qual será produzido. Observe o que Bakhtin (2000)
escreve sobre gênero:

A utilização da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e


escritos), concretos e únicos, que emanam dos integrantes duma ou
doutra esfera da atividade humana. O enunciado reflete as
condições específicas e as finalidades de cada uma dessas esferas
[...]. Qualquer enunciado considerado isoladamente é, claro
individual, mas cada esfera de utilização da língua elabora seus
tipos relativamente estáveis de enunciados, sendo isso que
denominamos gêneros do discurso. (Bakhtin, 2000, p. 279)

O gênero discursivo é então um “suporte” de estruturação de textos para as mais


diversas situações, sendo então relativamente estável para a mesma esfera enunciativa.
Assim, os textos que pertencem a um mesmo gênero vão seguir praticamente um mesmo
padrão de estrutura. O que vai diferenciá-los são exatamente os conteúdos temáticos, as
singularidades do autor e os componentes lexicais que serão utilizados na produção do
enunciado da língua.
No nosso trabalho, temos mais especificamente um estudo que norteia a utilização
do gênero acadêmico, ou seja, aquele produzido dentro dos meios científicos e das
academias. Segundo Fabiano (2004), assim como nos gêneros em geral, os textos do
gênero acadêmico possuem relativamente o mesmo padrão formal de produção e estrutura.

A HETEROGENEIDADE DISCURSIVA E A ESCRITA ACADÊMICA

Trabalhando os conceitos de heterogeneidade discursiva, recorreremos à teoria


fundamentada por Authier-Revuz (1990). A heterogeneidade discursiva indica a relação de
um discurso com outro(s).
Segundo ela, todo texto é heterogêneo, ou seja, explícita ou implicitamente,
sempre haverá o dizer do outro na construção de um enunciado. Isso acontece pelo fato de
que tudo o que falamos ou escrevemos ser fruto do que aprendemos com outros. Esse outro
a que nos referimos não precisa ser especificamente uma pessoa, mas pode ser uma teoria
de um livro, uma revista, internet, ou até mesmo os próprios conhecimentos que trazemos
pela nossa cultura.
Nesse sentido, e com base no que se observa também na produção do gênero
acadêmico, com o qual estamos trabalhando, tudo o que produzimos já foi inicialmente
dito ou escrito por alguém. Afinal, se estamos produzindo é porque de fato aprendemos; e
se aprendemos é porque alguém nos ensinou. É a esse pensamento que Authier-Revuz
(2004) atenta. Para ela, essa heterogeneidade se apresenta basicamente por meio de duas
formas: 1) a heterogeneidade mostrada (ou marcada); e 2) a heterogeneidade constitutiva:
Inicialmente, examinaremos a heterogeneidade mostrada e, a
seguir, a heterogeneidade constitutiva; a primeira incide sobre as
manifestações explícitas, recuperáveis a partir de uma diversidade
de fontes de enunciação, enquanto a segunda aborda uma
heterogeneidade que não é marcada em superfície, mas que a AD
pode definir, formulando hipóteses, através do interdiscurso, a
propósito da constituição de uma formação discursiva. (Authier-
Revuz, 2004, p. 75)

A heterogeneidade mostrada, em especial no gênero acadêmico, acontece


inicialmente por meio das citações diretas e indiretas de autores da área e do discurso
direto. Como o próprio nome diz, as marcas do outro são explícitas no enunciado. Em
textos acadêmicos, essa prática é bem comum. Os mecanismos que são utilizados para
mostrar essa heterogeneidade, segundo Authier-Revuz (2004) são vários: o uso de aspas
para marcar a fala literal de alguém; o recuo das citações diretas, seguido do nome do autor
e data; os conectivos “conforme diz fulano”, “segundo sicrano...”; os diversos tipos de
paráfrases; etc.
Já a heterogeneidade constitutiva, para Authier-Revuz (2004) acontece de maneira
imprevisível e não intencional. Em textos acadêmicos, o discurso do outro, na realidade,
não aparece diretamente, mas está implícito, nas entrelinhas. O que ocorre é que nem o
próprio autor do texto percebe que está dizendo o que o outro já disse. O autor absorveu
tão profundamente o conteúdo que já não sabe ao certo diferenciar o que é produção dele, e
o que é próprio do outro, e por isso, as marcas lingüísticas do dizer do outro, não são
explícitas. A voz do outro não consegue mais se separar da voz do autor, e, por isso, ela se
funde a do autor, produzindo um novo enunciado.

ANÁLISE DOS DADOS

Nesse item, primeiramente faremos a análise linguística de um excerto de texto


produzido por alunos iniciantes da graduação em Letras (AI), rastreando os conceitos de
heterogeneidade discursiva e observando a estrutura do gênero acadêmico. Posteriormente,
será feita a mesma análise em outro excerto de texto, desta vez produzido por alunos
concluintes da graduação em Letras (AC). A finalidade é de comparar os mecanismos com
os quais os alunos iniciantes e concluintes fazem a remissão ao discurso do outro, observar
as características do gênero acadêmico e, por fim, refletir a respeito da questão da
apropriação de conceitos de área na escrita acadêmica.

I - ANÁLISE DE TEXTO PRODUZIDO POR ALUNOS INICIANTES DA


GRADUAÇÃO EM LETRAS (AI)

Nesse ponto, iremos analisar um excerto de texto produzido por alunos iniciantes
da graduação em Letras (AI) na finalidade de mapear os conceitos de heterogeneidade
discursiva, encontrados na escrita do gênero acadêmico.
Aluno Iniciante (AI)

01.A fala contribui na formação cultural e na preservação de tradições


02.não escritas que perduram em culturas onde a
03.escrita já se solidificou. Esse estudo esclarece e minimiza os
04.preconceitos e a discriminação linguística. “Também é
05.importante para analisar como a língua pode ser um mecanismo de
06.controle social e do poder dos indivíduos.” (Marcuschi, 2005, p. 2)

07.Baseando-se nisso, este texto tem por objetivo mostrar o conceito e


08.explanação dos gêneros orais, analisando o contexto de como eles
09.são apresentados nos livros didáticos. Assim, podendo afirmar a
10.superficialidade com que o conteúdo é abordado nos livros – tendo
11.em vista, na construção desse trabalho, fizemos uma pesquisa em
12.seis livros didáticos; em apenas um deles encontramos dados para
13.a análise.

Nas linhas de 01 a 06 desse texto, podemos perceber uma citação direta de um


conceito do autor:

Aluno Iniciante (AI)

01.A fala contribui na formação cultural e na preservação de tradições


02.não escritas que perduram em culturas onde a
03.escrita já se solidificou. Esse estudo esclarece e minimiza os
04.preconceitos e a discriminação linguística. “Também é
05.importante para analisar como a língua pode ser um mecanismo de
06.controle social e do poder dos indivíduos.” (Marcuschi, 2005, p. 2)

Segundo Authier-Revuz (1990), esse tipo de remissão ao discurso do outro


demarca a heterogeneidade discursiva presente nos textos. Nessa citação direta, temos um
exemplo do que a teórica chama de heterogeneidade marcada (ou mostrada), visto que,
nesse caso, o AI fez questão de esclarecer que aquele conceito não é seu, é do outro. Na
escrita do gênero acadêmico, as citações são características bem marcantes. De um modo
geral, nos textos acadêmicos, que possuem relativamente o mesmo padrão formal, a
utilização desse recurso se dá por um motivo especial: demarcar o discurso do outro.
Quanto à função da remissão ao discurso do outro, nesse primeiro parágrafo do
texto do AI, podemos afirmar que aluno tem a preocupação de primeiramente demarcar a
autoria do teórico, além de, principalmente, fundamentar e fortalecer o seu discurso com o
conceito do autor.
Observe agora o que ocorre no parágrafo seguinte do texto do aluno iniciante:

Aluno Iniciante (AI)

07.Baseando-se nisso, este texto tem por objetivo mostrar o conceito e


08.explanação dos gêneros orais, analisando o contexto de como eles
09.são apresentados nos livros didáticos. Assim, podendo afirmar a
10.superficialidade com que o conteúdo é abordado nos livros – tendo
11.em vista, na construção desse trabalho, fizemos uma pesquisa em
12.seis livros didáticos; em apenas um deles encontramos dados para
13.a análise.
Nesse fragmento de texto, o aluno iniciante tenta fazer a relação entre os seus
posicionamentos com os apontamentos da teoria citada. Para isso, ele utiliza o elemento
conector “Baseando-se nisso”, iniciando o novo parágrafo. O conector em questão é um
mecanismo linguístico de fazer a conexão entre um conceito anteriormente dito com a
nova idéia expressa e relacionada.
A utilização dos conectores desse tipo demarca novamente a noção da
heterogeneidade discursiva. No nosso caso, temos notoriamente a tentativa de
fundamentação dos apontamentos do AI com o conceito citado, na finalidade o AI
fortalecer o seu discurso com o nome do autor, demarcado através do conector.
A problemática, todavia, encontrada nesse trecho está na questão de que o AI faz
o uso do conector, ligando a teoria citada com o novo parágrafo, mas essa conexão deixa
de atingir um nível lógico entre os sentidos expressos pelos conceitos ligados. Ou seja,
observamos semanticamente que no primeiro parágrafo o AI traz uma citação teórica sobre
a “fala”; após isso, ele utiliza o conector “Baseando-se nisso”, seguido de uma abordagem
sobre “gêneros orais” e “livros didáticos”. Necessariamente, não se observa uma relação de
lógica e sentido entre as idéias ora interligadas pelo conector.
A esse problema determinamos a marca de uma falta de conexão lógico-
semântica entre os conceitos interligados. Visto que o conector deveria ser útil para fazer
uma relação lógica e de sentido entre a teoria e o discurso do AI, mas, o que ocorre na
verdade é que o AI não consegue estabelecer uma operação de ligação de base, que
asseguraria o agrupamento dos dois parágrafos. Devido esse fato, o conector acaba
funcionando unicamente como um “iniciador de parágrafos”.
Ainda nesse contexto, podemos perceber que a citação teórica inicialmente
deveria ter sido feita na intenção de fortalecer o discurso do AI, todavia, no momento de se
fazer a relação da teoria com o discurso, através do elemento conector, AI não consegue
fazer a conexão, fazendo o uso do conector como um recurso para o método do “recorta e
cola”, onde o aluno “recorta” um conceito teórico e posteriormente, através de um
conector, o “cola” em seu texto.
Durante as análises da nossa pesquisa, observamos que essa prática é bem comum
na escrita do gênero acadêmico. O fortalecimento da idéia do aluno iniciante com a teoria
do teórico, através das citações demarcadoras da heterogeneidade discursiva e dos
elementos conectores, funciona como se o aluno iniciante estivesse responsabilizando o
teórico pelo desenvolvimento do seu discurso. Nos textos do gênero acadêmico, de um
modo geral, essa característica é bem comum, provando aquilo que Bakhtin (2000) fala a
respeito do padrão formal a que os textos de mesmo gênero obedecem.

II. ANÁLISE DE TEXTO PRODUZIDO POR ALUNOS CONCLUINTES DA


GRADUAÇÃO EM LETRAS (AC)

Nesse item, analisaremos um excerto de texto produzido por alunos concluintes da


graduação em Letras, rastreando os conceitos de heterogeneidade discursiva, observando
as características do gênero acadêmico, e comparando esse excerto a trechos dos alunos
iniciantes (AI), analisados no item anterior.
Aluno Concluinte (AC)

01.[...] Sobre o ato da leitura, Mary Neiva Surdi da Luz, em seu artigo
02.Como se ensina português no Ensino Médio, faz crítica colocando
03.que:

04.Pode-se considerar a leitura como um ato dialógico


05.entre leitor e texto, porém o que se percebe é que a
06.leitura também é trabalhada com o objetivo de
07.buscar informações, interpretar textos e introduzir
08.tópicos gramaticais.

09.Sendo assim, reconhecemos ser de extrema importância entender o


10.objetivo daquela leitura, a que lugar estamos tentando chegar,
11.senão a decodificação por si só reinará e terminaremos num
12.„ensino‟ sem sentido.

Observe que no primeiro parágrafo, a partir da linha 01, semelhantemente ao que


ocorreu com o aluno iniciante (AI), também a partir da linha 01, o aluno concluinte (AC)
introduz o seu discurso com uma citação teórica:

Aluno Concluinte (AC)

01.Sobre o ato da leitura, Mary Neiva Surdi da Luz, em seu artigo


02.Como se ensina português no Ensino Médio, faz crítica colocando
03.que:

04.Pode-se considerar a leitura como um ato dialógico


05.entre leitor e texto, porém o que se percebe é que a
06.leitura também é trabalhada com o objetivo de
07.buscar informações, interpretar textos e introduzir
08.tópicos gramaticais.

Aluno Iniciante (AI)

01.A fala contribui na formação cultural e na preservação de tradições


02.não escritas que perduram em culturas onde a
03.escrita já se solidificou. Esse estudo esclarece e minimiza os
04.preconceitos e a discriminação linguística. “Também é
05.importante para analisar como a língua pode ser um mecanismo de
06.controle social e do poder dos indivíduos.” (Marcuschi, 2005, p. 2)

Esses fatos determinam o conceito de Authier-Revuz (1990) a respeito da


heterogeneidade discursiva que aparece nos textos acadêmicos de forma mostrada. O AC
demarca a heterogeneidade discursiva inicialmente através de uma estrutura de citação
indireta, no primeiro parágrafo, responsabilizando a autora “Mary Neiva Surdi da Luz”,
pelos posicionamentos que ele prevê expor no seu discurso.
Ao fazer essa demarcação do discurso do outro, o AC mostra que seu texto foi
escrito baseando-se em um conceito teórico, na tentativa de – assim como no caso do aluno
iniciante – aparentemente se obter um fortalecimento discursivo e propor suas afirmações
como “indiscutíveis”, por intermédio do nome forte do autor.
Com relação ao estudo dos gêneros de Bakhtin (2000), percebe-se através dessa
comparação dos excertos que os textos acadêmicos, segundo Fabiano (2004), de um modo
geral – sejam eles produzidos pelos alunos iniciantes ou por alunos concluintes –,
obedecem a um mesmo padrão formal, ou seja, têm entre si a mesma estrutura de
produção.
Observe outro fator que visualizamos nesse contexto:

Aluno Concluinte (AC)

04.Pode-se considerar a leitura como um ato dialógico


05.entre leitor e texto, porém o que se percebe é que a
06.leitura também é trabalhada com o objetivo de
07.buscar informações, interpretar textos e introduzir
08.tópicos gramaticais.

Da linha 04 a 08 vê-se que temos a marca explícita do dizer do outro, o que,


segundo Authier-Revuz (1990), demarca a heterogeneidade do discurso. Trata-se de uma
citação direta, recuada, conforme os padrões da ABNT, que o AC aponta na finalidade de
responsabilizar o teórico pelo que ele abordou em seu discurso.
Ainda sobre essa citação, podemos perceber que o AC, ao contrário do AI, não
toma os devidos cuidados com as referências bibliográficas da teoria, deixando em oculto o
nome do autor, o ano de publicação da obra e a página onde se encontra o trecho citado.
Essa ocultação das referências, que não ocorreu no caso dos alunos iniciantes, dificulta a
verificação da teoria original utilizada pelo AC, caso se tenha o interesse de se comparar o
trecho citado direta ou indiretamente com a obra original de onde foi extraída a citação.
Aparentemente, esse seria apenas um erro metodológico, mas, se avaliarmos a
partir da ótica do fortalecimento e fundamentação do discurso do outro, segundo Fabiano
(2007), podemos arriscar em afirmar que esse é um exemplo daquilo que chamamos de
disfarce para o “recorta e cola” na escrita acadêmica. Nesse caso, ao longo da graduação, a
fim de forçar uma possível produção de conhecimento, o aluno aprende que esse seria um
artifício para ocultar a voz do teórico, tomando para si o discurso do outro.
Analisando agora a relação entre os parágrafos:

Aluno Concluinte (AC)

04.Pode-se considerar a leitura como um ato dialógico


05.entre leitor e texto, porém o que se percebe é que a
06.leitura também é trabalhada com o objetivo de
07.buscar informações, interpretar textos e introduzir
08.tópicos gramaticais.

09.Sendo assim, reconhecemos ser de extrema importância entender o


10.objetivo daquela leitura, a que lugar estamos tentando chegar,
11.senão a decodificação por si só reinará e terminaremos num
12.„ensino‟ sem sentido.
Veja que o AC, a partir da linha 04 faz o uso de uma citação direta, conforme já
discutimos anteriormente. Após essa citação, o AC inicia um novo parágrafo com o
elemento conector “Sendo assim”, na tentativa de se fazer a relação entre a teoria citada no
parágrafo anterior com os apontamentos que ele posiciona em seu discurso.
O uso do elemento conector, nesse caso, teria a mesma função do caso dos alunos
iniciantes:

Aluno Iniciante (AI)

01.A fala contribui na formação cultural e na preservação de tradições


02.não escritas que perduram em culturas onde a
03.escrita já se solidificou. Esse estudo esclarece e minimiza os
04.preconceitos e a discriminação linguística. “Também é
05.importante para analisar como a língua pode ser um mecanismo de
06.controle social e do poder dos indivíduos.” (Marcuschi, 2005, p. 2)

07.Baseando-se nisso, este texto tem por objetivo mostrar o conceito e


08.explanação dos gêneros orais, analisando o contexto de como eles
09.são apresentados nos livros didáticos. Assim, podendo afirmar a
10.superficialidade com que o conteúdo é abordado nos livros – tendo
11.em vista, na construção desse trabalho, fizemos uma pesquisa em
12.seis livros didáticos; em apenas um deles encontramos dados para
13.a análise.

Tal como se foi discutido na análise do excerto de texto produzido por alunos
iniciantes, o que ocorre no texto dos alunos concluintes, com relação ao uso dos conectores
é exatamente a mesma problemática: o conector cumpre somente o requisito de organizar
estruturalmente o texto, funciona como um mero “iniciador de parágrafos”, utilizado na
finalidade “encaixar” no discurso do AC a teoria citada, deixando de atingir o nível lógico-
semântico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer das análises, pudemos perceber que tanto os alunos iniciantes quanto
os concluintes marcam a heterogeneidade discursiva por meio de várias citações diretas,
indiretas. Isso significa que boa parte da preocupação que os alunos, tanto iniciantes
quanto concluintes, têm é de mostrar afinidade com a teoria que, possivelmente, foi-lhes
instruída a estudar. O problema é que esses alunos demonstram em seus textos um
congelamento das teorias, ou seja, eles se preocupam na fixação da teoria através dos
enunciados. Essa fixação da teoria faz com que os alunos não consigam produzir outra
coisa em seu texto, que não seja voltada a demarcação do discurso do outro, através das
citações.
Na tentativa de produzir algo que não seja exclusivamente do outro, ambos, tanto
os iniciantes quanto os concluintes, se utilizam dos elementos conectores tais como:
“baseando-se nisso, com isso, a partir disso” com a finalidade de estabelecer relação entre
essas tantas citações com alguma conclusão escrita por eles. Muitas vezes, porém, o que
ocorre é a frustração dessas tentativas de conexão, onde, em muitos casos, um parágrafo
semanticamente não tem relação nenhuma com o outro, mas o conector está lá.
O que ocorre nesse tipo de escrita é considerado aceitável no caso dos iniciantes,
que possivelmente estão tendo um primeiro contato com esses teóricos, e têm o interesse
de fundamentar o seu discurso com a teoria deles. Por isso, citam. E citam, na maioria dos
casos, honestamente. Pois deixam bem claro qual a função das remissões, além de não
omitir as referências bibliográficas. Eles são iniciantes, estão estudando a teoria e querem
mostrar isso. Não há produção de conhecimento, mas há preocupação com o discurso do
outro.
Por outro lado, observando a escrita dos alunos concluintes, não podemos dizer
que o que ocorre nesses textos é considerado aceitável. A graduação em Letras dura no
mínimo de quatro a cinco anos. Esses alunos chegaram ao fim da graduação; estudaram
essas teorias por anos. O mínimo que esperaríamos seriam paráfrases, ou boas relações
entre um parágrafo e outro, e não basicamente inúmeras citações sem relação lógico-
semântica entre elas. Os alunos concluintes, nesse caso, não estão produzindo
conhecimento, estão repetindo teorias. Após terem estudado por toda a graduação,
esperava-se que eles fossem capazes de escrever algo próprio, constitutivo.
Percebemos ainda, voltando ao estudo do gênero, que os textos em geral, de
iniciantes e concluintes possuem características similares, obedecendo a um mesmo padrão
formal de estrutura, que tipifica o gênero acadêmico. Isso significa que a grande maioria
respeita fielmente o tipo “relativamente estável” de texto, que Bakhtin (2000) chama de
gênero. Em contrapartida, chegamos à conclusão de que seguir atentamente o padrão
estabelecido pelo gênero não significa produzir conhecimento, visto que os alunos
iniciantes e concluintes se mantiveram alicerçados a uma escrita congelada pelo gênero e
fundamentada por inúmeras citações, ou seja, pela marcada voz do outro.
Com bases nesses resultados, podemos concluir que a escrita na universidade
precisa ser reavaliada, de modo que o aluno, ao sair da graduação, seja capaz de ler,
interpretar, incorporar as teorias ao seu texto e, finalmente, conseguir se apropriar daquela
idéia, tornar aquilo constitutivo e, enfim, produzir conhecimento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AUTHIER-REVUZ, J. Heterogeneidade(s) Enunciativa(s). Tradução de Celene M. Cruz e


João Wanderley Geraldi. Cadernos de estudos linguísticos, Campinas: Editora DA
UNICAMP, n.19, p. 25-42, jul./dez. 1990.
AUTHIER-REVUZ, J. Entre a transparência e a opacidade: um estudo enunciativo do
sentido. Tradução de Leci Borges Barbisan e Valdir do Nascimento Flores Porto Alegre:
EDIPUCRS, 2004. (p. 11-80)
BAKHTIN, M. Estética da Criação Verbal. Tradução de Maria Ermantina Galvão G.
Pereira. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
FABIANO, S. Pesquisa na Graduação: a escrita do gênero acadêmico. Cáceres-MT:
Editora da UNEMAT, 2004.
FABIANO, S. A prática da pesquisa como sustentação da apropriação do conhecimento
na graduação em Letras. Tese (Doutorado). Universidade Estadual Paulista: Araraquara,
2007.

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