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Cadernos PDE
VOLUME I
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS
DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009
1
Resumo
1 Introdução
sociedade, pode, sim, diminuir ou, por que não dizer, acabar com o preconceito e a
discriminação linguísticos.
Uma de nossas preocupações é que na escola, e consequentemente em
toda extensão de suas relações sociais, os estudantes e os professores estão se
desrespeitando enquanto sujeitos formadores das mais diferentes linguagens que
circundam a comunicação. Como justificativa para tal comportamento, não podemos
ignorar as histórias de vida que cada um traz consigo, incorporando - as ao dia a dia
com os familiares, à rotina com os colegas de trabalho, os momentos com os amigos
e muito mais.
Estabeleceu-se através do tempo que a gramática normativista é a única
forma de se falar “certo” e que os envolvidos com a língua, teoricamente estão
dentro das escolas, sejam professores e estudantes. Os conceitos que se tem de
linguagem limitam-se a reluzi-la a um número de regras e normas tradicionais, que
perduram por séculos, como se pudéssemos dissociá-la dos falantes, recusando,
assim, as relações sociais e vivência histórico-cultural que cada um acumula durante
a vida. Com este discurso, é comum ouvirmos pessoas de todas as classes sociais
dizerem que “não sabem falar português”, limitando a linguagem ao aprendizado
didático que acontece no âmbito escolar.
Enquanto não reconhecermos que no Brasil falamos e ouvimos o português
brasileiro, e não o português de Portugal, seremos forçados a conviver com a
discriminação e o preconceito linguísticos, na recusa de que sabemos, sim, falar a
nossa língua.
Em sala de aula são muitas as situações em que a multiplicidade da fala é
alvo de chacota entre os estudantes e, até, destes mesmos estudantes com relação
aos seus professores e, infelizmente destes últimos para com aqueles. É de extrema
necessidade que levemos para dentro do contexto escolar este debate, pois que não
se tem a noção de “erro”. Aqui nos valemos da “colaboração” da imprensa, seja ela
falada e/ou escrita, das milhares de publicações de manuais, de encartes, para se
“ensinar” a língua portuguesa, propagando o “certo” e, o que é mais degradante,
vendendo muito.
Com esta reflexão é possível adentrar a uma desconstrução que atua na
cooperação do relacionamento linguístico entre falante e interlocutor e destruir este
estigma estendendo outro comportamento para todos os segmentos sociais. Ou,
deixar bem claro que todos nós precisamos (re) conhecer que “[...] as palavras não
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têm realidade fora da produção linguística; as palavras existem nas situações nas
quais são usadas” (GNERRE, 1991, p.19).
A variação linguística, como forma de manifestação da língua, ainda causa
estranheza à sociedade brasileira em pleno século XXI, embora muitas discussões
permeiem este campo. No entanto, pergunta-se: o que falta para a Educação
garantir o respeito dos sujeitos à diversidade linguística e reconhecê-los no
diferente?
Concentremos agora nossas concepções baseadas em dois estudiosos e
pesquisadores, sendo Saussure e Labov:
de acordo com a rubrica linguística temos como um dos significados: “[...] sistema de
representação constituído por palavras e por regras que as combinam em frases que
os indivíduos de uma comunidade linguística usam como principal meio de
comunicação e de expressão, falado ou escrito.”
Atendendo às reflexões nesta área, salientamos que a corrente que se
forma entre língua e sociedade as apresenta como “[...] grandezas de ordem distinta,
ou melhor, têm organizações estruturais diversas.” (BENVENISTE, 1968, apud
BENTES; MUSSALIM, 2005, p.27). Sob esta ótica, deparamo-nos com a língua que
é um instrumento de comunicação e, bem por isso vale considerar que sofre as
influências do meio, ilimitadamente, adequando-se às necessidades dos falantes,
proporcionando aos detentores da fala, nós seres humanos, um campo sem igual de
desenvolvimento e de possibilidades, sem que sequer possamos imaginar a
extensão na transmissão de mensagens. Porém, esses mesmos sujeitos, na sua
grande maioria, partem para defender o discurso do senso comum, sem noção do
que é “erro”, ou ainda equivocados quanto ao conceito de “erro”, uma vez que fazem
valer o que está inserido há séculos no seu comportamento e amparado pela
gramática normativista ou pela imposição de suas regras estagnadas em manuais
que tratam de “ensinar” a escrever / falar.
Ainda nos valendo da falsa noção do que seria “erro”, no entendimento da
grande maioria das pessoas, e que os estrangeirismos estariam descaracterizando a
nossa língua, as leituras nos levam, a saber, que “[...] Há pouco mais de um século,
o médico Castro Lopes faria grande barulho pela imprensa, defendendo a
substituição de palavras francesas, usadas em abundância entre os letrados no Rio
de Janeiro de então, [...]” (FARACO, 2004, p.9). Isto mereceu a movimentação e a
crítica de estudiosos da época que já não acreditavam na “pureza” da língua
portuguesa, ou nem mesmo de língua alguma, pois que qualquer uma recebe a
interferência de palavras / expressões estrangeiras.
Há poucos anos, para sermos mais exatos no final do século XX, o então
deputado Aldo Rebelo enviou à Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 1676 / 99
propondo, em síntese, que as expressões estrangeiras fossem substituídas dentro
do prazo de 90 (noventa) dias da publicação da mesma. Ainda em FARACO, (2004)
na apresentação da obra que organizou temos afirmações pontuais de instituições e
escritores, as quais citamos a seguir, a título de enriquecimento da informação: a
Academia Brasileira de Letras (ABL), através de seu presidente em questão,
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Ora, essas [...] línguas podem ser submetidas, todas, sem exceção, a
um denominador comum: estruturam-se isonomicamente, isto é, são
entre si comparáveis sem que nenhuma seja ‘melhor’ do que outra,
ainda que possam ser variamente classificadas por sua tipologia, sua
fonação, sua morfologia, sua sintaxe, etc. (HOUAISS, apud FARACO,
2005, p. 137).
pois que este é o papel, cobrado pela sociedade, de que a escola deve dar conta e
desenvolver. Tendemos ao tradicionalismo, sem nos esquecer que tal imposição vai
muito além da ideia simples que se tem dos significados das palavras estagnadas no
dicionário ou manuais gramaticais.
Não temos o direito de limitar o saber de nossos estudantes, obedecendo a
regras impositivas de um poder discriminatório. A escola não pode ignorar tal direito
aos alunos: saber que existem várias maneiras de se falar a mesma coisa e, apesar
disso, efetivar a comunicação e estabelecer, democraticamente, o conhecimento.
Assim, abre-se o leque da justiça social, das possibilidades em se conquistar uma
posição melhor, por exemplo, no mundo do trabalho, com mais dignidade na
formação intelectual destes cidadãos e, consequentemente, no seu padrão de vida.
E por falar em respeito, validamos a importância da língua como bem cultural, se
não o mais importante.
É preciso que seja repassado à comunidade que o preconceito linguístico é
fato e que a discriminação ocorre escancaradamente nos mais diferentes meios
sociais. Mas, também se faz necessário descobrir caminhos para que tal injustiça se
desfaça. Até porque estaremos ganhando em muito, histórica e culturalmente, em se
tratando da riqueza que há para um povo com a miscigenação encontrada em nosso
país. Porém, não seria demais esclarecer que, tanto as variedades linguísticas,
quanto o preconceito e a discriminação, não são frutos especificamente da mistura
de raças no Brasil, mas que ocorrem em qualquer país, nas mais distantes
comunidades do mundo e que tais falantes são influenciados por fatores como o de
localização geográfica, o gênero, a condição econômica, o grau de escolaridade, a
faixa etária e outros tantos.
Muitos países, por questões óbvias ligadas à diversidade, precisam lidar
com essas diferenças que se despontam em índices que medem o rendimento
escolar dos estudantes, em especial os de baixa renda, desconsiderando totalmente
os fatores citados anteriormente. Quando estes estudantes chegam à escola são
colocados diante de uma língua não usual para a realidade na qual estão inseridos.
Uma língua carregada de normas, de regras, que não faz parte de seu cotidiano e,
por isso mesmo, tão difícil de assimilar e, ainda, na visão dos mesmos (apesar de
imposta e já incorporada – e, pasmem, também aceita!) desnecessária. Mal sabem
eles que esta “ferida” coloca-os de frente com uma variedade denominada de
“inculta”, que os distancia da classe de maior prestígio social, dilacerando as
14
Estudantes Professores
Respostas Quantidade Respostas Quantidade
17
01
É um tipo de código
para interagir
QUADRO 1- O que é linguagem?
Fonte: Pesquisa realizada, 2010 - CEDV
Estudantes Professores
Resposta Quantidade Resposta Quantidade
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Estudantes Professores
Respostas Quantidade Respostas Quantidade
É a forma como as 21 Forma de como as 06
informações são pessoas se
transmitidas relacionam,
expressam ou
É algo importante comunicam
para a humanidade 01 01
É o pensamento
exteriorizado através
de várias formas
01
É a linguagem
utilizada entre
sujeitos ou objetos
na troca de
informação
QUADRO 3 - O que é comunicação?
Fonte: Pesquisa realizada, 2010 - CEDV
Neste quadro podemos ler as respostas como corretas, já que houve
situações que foram expostas de forma subjetiva e não direta como pedia a questão.
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Estudantes Professores
Respostas Quantidade Resposta Quantidade
Todos os tipos de 22 Por meio da fala 01
mídia
Escrita, oral, 06
Elencaram: rádio, gestual, artística,
TV, internet, religiosa, cultural
revistas, jornais,
etc. Comunicação visual 02
e através de rádios,
televisão e jornal
escrito
QUADRO 4 - Quais as formas de comunicação que você conhece?
Fonte: Pesquisa realizada, 2010 – CEDV
Estudantes Professores
Respostas Quantidade Respostas Quantidade
É o ato de não 01 É julgar sem 04
aceitar as conhecer.
diferenças.
Discriminar as 01
É algo muito ruim. 01 formas de
comunicação e
É tudo o que 05 expressão.
fazemos para o
outro só por causa É algo (conceitos) 01
de suas diferenças. arraigado no
indivíduo de forma
É ter um pré- 06 distorcida conforme
conceito. tabus.
Considerações Finais
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Para finalizar este artigo, precisamos enfatizar que para nós, estudiosos da
língua, o assunto não pode e não deve ser concluído. É necessário admitir que não
temos a pretensão de atribuir nenhuma “receita” de como se trabalhar com o
fenômeno da variação linguística, mas, sim, contribuir com uma constante reflexão
que se faz inadiável e clamar por uma postura diferenciada diante da reeducação
sociolinguística. Não devemos menosprezar a continuidade dos estudos e
aplicações diante deste tema para que, quem sabe, e nós acreditamos que sim,
possamos colaborar com a promoção e renovação dos sujeitos envolvidos, que, na
verdade, somos todos nós. Tudo por um pouco mais de respeito e justiça
Não nos causa surpresa alguma que a sociedade brasileira se espante com
as constantes veiculações na imprensa sobre a variedade linguística, como vem
sendo tratada. Entendemos que não se deve ignorar a língua normatizada, ou a
chamada língua padrão e que a escola, tem sim, obrigação de repassá-la ou, se
preferirem, ensiná-la.
A nossa língua portuguesa identifica-nos historicamente e, também nos
ditames da história, vimos o país acolher pessoas das mais diversas nacionalidades,
cada qual com sua cultura, com fatores enraizados que justificam tamanha
diversidade linguística. É oportuno adentrar os espaços educacionais, em todos os
níveis de escolaridade, para despertar a importância de se discutir a variação
linguística como algo indissociável ao ser humano, diante da heterogeneidade das
línguas.
Esta reflexão permitirá, efetivamente, ampliar o papel da escola e propiciar
aos seus sujeitos, enquanto educadores e educandos, a condição de repensar seu
comportamento e a sua mudança de atitude diante da discriminação e do
preconceito linguísticos. Não podemos admitir que os nossos jovens percam os
valores voltados para o respeito às diversidades que, no caso da língua,
principalmente na oralidade, são evidentes quando da convivência com seus
colegas e professores. Dispomos de uma gama considerável de publicações neste
segmento, atendendo às especificidades do momento, adequando a linguagem às
necessidades dos falantes. Não nos cabe admitir que pretendam estagnar algo que
está em constante movimento: a língua.
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REFERÊNCIAS:
BAGNO, Marcos. Preconceito Lingüístico – o que é, como se faz. 7. ed.. São Paulo:
Edições Loyola, 2001.
BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação lin-
guística. 2. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.
GNERRE. Maurizzio. Linguagem, escrita e poder. 3. ed. Martins Fontes: São Pau-
lo. 1991.
SÁ, Edmilson José de. Língua e sociedade: as condições sociais influem no modo de falar dos
indivíduos, gerando certas variações na maneira de empregar uma mesma linguagem. In Re-
vista Língua Portuguesa: conhecimento prático. São Paulo / SP: Escala Educacional.
16. ed. p. 54 – 61. [2009].
SEIFFERT, Ana Paula. Um patrimônio brasileiro: a diversidade das línguas de imigração bra-
sileiras entra um ponto de referência na cidade de São Bento do Sul, que abriga cinco idiomas
provenientes de imigrantes. In: Revista Língua Portuguesa: conhecimento prático.
São Paulo/SP: Escala Educacional. 17. ed. p. 42 – 45. [2009].18