Вы находитесь на странице: 1из 17

O Governo Lula

I. Política: Primeiro Mandato

1. Eleição e Base de Apoio


A eleição de 2002 foi marcada pela divisão na base de sustentação política do governo
FHC, que perdeu o apoio de parte dos aliados históricos, como o PMDB e o PFL (atual DEM).
Já o Partido dos Trabalhadores faz a opção por ampliar as alianças com setores
conservadores, recebendo o apoio de políticos como Antônio Carlos Magalhães e José Sarney
(além de muitos outros) e entregando o cargo de vice-presidente para José Alencar, senador
do PL (hoje PRB), selando assim a coligação vitoriosa no 2º turno.
Pela primeira vez na história contemporânea brasileira a transição do poder se dá de
forma tranquila e com ampla colaboração do governo FHC. Essa transição será marcada
também pela posse mais popular de nossa história contemporânea.
No primeiro ano o governo e seus aliados de esquerda ocuparam a grande maioria dos
ministérios, além da composição do 1º e 2º escalão. Do segundo ano em diante o governo
muda a estratégia na relação com o Congresso Nacional, logo após o início do ano com o
surgimento do primeiro escândalo político da administração Lula, o caso dos Bingos, que
veremos a seguir.
A partir daí, para garantir a maioria no congresso nacional, o governo iniciou um
processo de aproximação com os setores conservadores e mais oportunistas do parlamento
brasileiro, medida exta explicita nos acordos feitos com o PMDB, o PP, o PL (atuais PR e PRB)
e o PTB, tanto para a aprovação das reformas propostas quanto para a chamada
governabilidade, cedendo-os vários ministérios que, com o passar dos anos, se tornaram a
maioria dos ministérios ao fim de seu segundo mandato, reduzindo a participação do Partido
dos Trabalhadores e seus aliados de forma drástica.
Outro fato importante foi a manutenção de todos os acordos firmados pelo governo
anterior, inclusive com o FMI. Esses fatos serviram para levantar uma oposição interna no PT,
os chamados “radicais livres”, que geraram muita polêmica em torno do que eles acusavam de
ser “um desvio programático” do partido. Esse grupo foi liderado pela senadora Eloísa Helena
(SE) e pelos deputados Babá (PA) e Luciana Genro (RS), que acabaram sendo expulsos do
partido em dezembro de 2003, após votarem contra a reforma da previdência que implantou a
cobrança de impostos aos aposentados.Os dissidentes formaram um novo partido, o PSOL.
Quanto a estrutura político partidária brasileira e o sistema eleitoral, o governo chegou
ao poder com a proposta de uma reforma nesse sistema. O financiamento privado de
campanha, o relacionamento estreito entre políticos e empresários, a maioria de políticos
empresários em todos os níveis de poder, as relações mal definidas entre os poderes, entre
outras,transformam o modelo atual em um sistema extremamente propicio às mais variadas
formas de corrupção, tanto ativa quanto passiva.
E este é um dos pontos cruciais a serem resolvidos para que o país possa ter a
chance, tão esperada, de se tornar um país desenvolvido. Surge uma necessidade, imposta
tanto pela essência do capitalismo, a eficiência, quanto pelo mundo globalizado, a
modernização das estruturas arcaicas da política brasileira.
Dentre as propostas da base governista, podemos destacar:
1. Financiamento público de campanha;
2. Lista fechada de candidatos com o voto no partido;
3. Fim das coligações nas eleições proporcionais;
4. Fim do voto secreto nas sessões do Congresso Nacional;
5. Eleição de suplente de senador;
6. Voto distrital ou distrital misto;
7. Voto facultativo;
8. Cláusula de barreira, determinando que o partido só terá representação
no parlamento, direito a horário eleitoral gratuito e mais verbas do fundo
partidário, se obtiver no mínimo 5% dos votos para deputado federal em todo
país e 2% dos votos em 9 unidades da federação.
Estas medidas procuram, entre outras, o reforço da organização político partidária e a
redução dos gastos de campanha, numa tentativa de deter o poder econômico para que ele
não interferisse nos resultados das eleições. Porém sabemos que a única maneira de se fazer
uma eleição mais limpa é o aumento do conhecimento e do padrão ético de toda a sociedade
As propostas apresentadas pelo governo ao Congresso Nacional infelizmente não
andaram, algumas não completaram os tramites legais enquanto outras foram rejeitadas pelos
parlamentares. Faltou vontade política ao governo para organizar a sociedade, visto que o
Partido dos Trabalhadores teve seu berço nos movimentos populares, para que ela exercesse
a pressão necessária sobre os congressistas, pois o reconhecimento da urgência no
aperfeiçoamento de nossa legislação política significa a perda dos privilégios de nossos
políticos.

2. Avanços Políticos
As únicas reformas no âmbito político foram realizadas ou por iniciativa de uma
interpretação do judiciário e por um projeto de lei de iniciativa popular. O judiciário foi
questionado sobre a quem pertencia o mandato dos políticos, se a eles próprios ou se a seus
partidos. O TSE se posicionou a favor da tese de que o mandato pertence ao partido, e essa
tese foi posteriormente confirmada pelo STF. Essa medida tinha como objetivo fortalecer os
partidos políticos e na prática não se mostrou eficiente.
A lei que mais avanço promoveu foi a Lei da Ficha Limpa, como ficou conhecida a
proposta de lei de iniciativa popular e coordenada pelo movimento de Combate a Corrupção
Eleitoral (MCCE). A manifestação de apoio de diversos setores organizados da sociedade
gerou um clima de apoio popular que arrecadou 1,6 milhões de assinaturas (necessitavam de
1,3 milhões). A lei dispunha sobre os motivos pelos quais uma pessoa se tornaria inelegível em
uma clara medida de combate as ações de corrupções na esfera política.
Lei da Ficha Limpa
"Lei Complementarnº 135, de 4 de junho de 2010”
Altera a Lei Complementar no 64, de 18 de maio de 1990, que estabelece, de acordo com o §
9o do art. 14 da Constituição Federal, casos de inelegibilidade, prazos de cessação e
determina outras providências, para incluir hipóteses de inelegibilidade que visam a proteger a
probidade administrativa e a moralidade no exercício do mandato.
O Presidenteda República faz saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a
seguinte Lei Complementar:
Art. 1o Esta Lei Complementar altera a Lei Complementar no 64, de 18 de maio de 1990, que
estabelece, de acordo com o § 9o do art. 14 da Constituição Federal, casos de inelegibilidade,
prazos de cessação e determina outras providências.
Art. 2o A Lei Complementar no 64, de 1990, passa a vigorar com as seguintes alterações:
“Art. 1o
I
c) o Governador e o Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal e o Prefeito e o Vice-
Prefeito que perderem seus cargos eletivos por infringência a dispositivo da Constituição
Estadual, da Lei Orgânica do Distrito Federal ou da Lei Orgânica do Município, para as eleições
que se realizarem durante o período remanescente e nos 8 (oito) anos subsequentes ao
término do mandato para o qual tenham sido eleitos;
d) os que tenham contra sua pessoa representação julgada procedente pela Justiça Eleitoral,
em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado, em processo de apuração
de abuso do poder econômico ou político, para a eleição na qual concorrem ou tenham sido
diplomados, bem como para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes;
e) os que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial
colegiado, desde a condenação até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o cumprimento
da pena, pelos crimes:
1. contra a economia popular, a fé pública, a administração pública e o patrimônio público;
2. contra o patrimônio privado, o sistema financeiro, o mercado de capitais e os previstos na lei
que regula a falência;
3. contra o meio ambiente e a saúde pública;
4. eleitorais, para os quais a lei comine pena privativa de liberdade;
5. de abuso de autoridade, nos casos em que houver condenação à perda do cargo ou à
inabilitação para o exercício de função pública;
6. de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores;
7. de tráfico de entorpecentes e drogas afins, racismo, tortura, terrorismo e hediondos;
8. de redução à condição análoga à de escravo;
9. contra a vida e a dignidade sexual; e
10. praticados por organização criminosa, quadrilha ou bando;
f) os que forem declarados indignos do oficialato, ou com ele incompatíveis, pelo prazo de 8
(oito) anos”.
A diferença, neste governo, está em uma maior isenção das apurações da Polícia
Federal e da Justiça Federal, que, em conjunto com o Ministério Público da União (MPU) e a
Controladoria Geral da União (CGU), tem se destacado como nunca na luta contra a
corrupção, que é uma constante em nossa história política desde os tempos coloniais. Outro
aspecto relevante para a eficiência dos órgãos de controle foi a infraestrutura montada durante
o governo petista nessas instituições, como equipamentos, viaturas e aumento do número de
pessoal. Devemos destacar a importância do governo FHC na estruturação do MPU e do
governo Lula na estruturação da CGU.
Além disso, há de se destacar a escolha dos nomes para os cargos do judiciário
obedecendo a lista tríplice e nomeando para o cargo sempre o primeiro colocado em eleição
direta feita pelos órgãos da justiça, sempre coordenada pela associação da instância jurídica
responsável. Essa medida, segundo o governo, visa assegurar a autonomia e independência
do poder judiciário.
Nesse processo de ampliação e autonomia do poder judiciário a Justiça Federal, que,
em 2003, tinha cerca de 100 Varas em todo o País, chegou a 513 Varas, em 2010, todas com
um juiz titular e um substituto.

3. Manutenção da Estrutura Corrompida


Campanhas eleitorais
Dentre os problemas citados do viciado sistema eleitoral brasileiro o maior deles
seguramente é o financiamento privado de campanha. Esse mecanismo estimula a corrupção,
pois direciona as políticas públicas para atender o interesse das elites, que possuem o
dinheiro, indispensável para uma bem sucedida campanha e a consequente vitória. Se as
doações estão sempre vinculadas a grupos econômicos, existe então uma expectativa de
retorno financeiro, pois isso faz parte da lógica dos negócios no sistema capitalista.
Novamente, para exemplificar, utilizaremos os dados do TSE sobre as eleições de
2002 para o parlamento envolveu mais de R$ 730 milhões de reais em doações legais para
2.641 candidatos a Deputado Federal. A média de doações foi de R$ 71 mil reais para cada
candidato, porém se considerarmos somente os eleitos, a média sobe para 224 mil reais. Os
cinco maiores financiadores são: a construtora Odebrecht10,9 milhões, o grupo Votorantim
com 9,7 milhões, a construtora OAS com 8 milhões, o Bradesco com 7,2 milhões e o Itaú com
7 milhões.
O efeito desse poder econômico aplicado às campanhas eleitorais se manifesta, só
para citar um exemplo entre dezenas, na presença de 20 deputados, financiados por
empreiteiras, na comissão dos 24 deputados que examinou o projeto de Parcerias Público-
Privadas.
Esse patrocínio privado é determinante para se entender a força que a elite financeira
tem no parlamento para, por exemplo, impedir uma reforma tributária mais justa que retire
privilégios de poucos para assegurar melhorias para a maioria. As propostas de taxação sobre
grandes fortunas, a cobrança de IPVAs de jatinhos e iates, além da substituição da cobrança
de imposto sobre renda pela cobrança de impostos no consumo, e de forma escalonada, são
exemplos de medidas que não conseguem ser aprovadas no Congresso Nacional.
Outros exemplos de força que daremos é do setor financeiro, percebido na rejeição do
projeto de lei que elevava a tributação sobre os estratosféricos lucros bancários, além da
aprovação do projeto de lei que faculta ao trabalhador a escolha do banco em que se quer
receber seu salário abrindo a possibilidade do funcionalismo público migrar dos bancos
públicos para os privados, diminuindo a disponibilidade de recursos públicos para os
programas sociais destas instituições estatais.
A tese de que o dinheiro vence as eleições tem nas próprias campanhas eleitorais do
Partido dos Trabalhadores um argumento de forte indício. Vejamos:
Em 1994, Lula gastou o equivalente a 4,2 milhões de reais oriundos do fundo partidário
e da colaboração voluntária da militância do partido que, àquela época fazia doações
organizava bingos, festas e jantares, além de comprarem botons, crachás, camisetas e
bandeiras do partido. Enquanto isso, com financiamento do grande capital nacional e
multinacional FHC gastou 47,4 milhões, vencendo a eleição no primeiro turno.
Em 1998 o partido contou em sua campanha com doações na ordem de R$ 3,9
milhões de reais, porém oriundo das mesmas fontes já citadas no pleito passado. Lula foi
novamente derrotado por FHC no primeiro turno, o candidato vitorioso gastou 45,9 milhões. O
gasto de campanha menor do que na eleição anterior, foi um efeito do processo de crise
econômica que o Brasil vivenciava entre os anos de 1997 e 1998. *
* (Folha de São Paulo 03/11/1998)

Em 2002 Lula vence pela primeira vez a eleição para presidente da república. Neste
ano o Partido dos Trabalhadores gastou 33,7 milhões de reais, recebidos do fundo partidário e
de doações do empresariado brasileiro. Desta eleição em diante o partido não mais contou
com a sua aguerrida militância no processo de microfinanciamento da campanha. Enquanto
isso seu oponente José Serra gastou 34,4 milhões de reais demonstrando que o dinheiro da
elite dos negócios se dividiu nessa eleição.
Por último, nas eleições de 2006 o PT conseguiu arrecadar 103,3 milhões de reais,
enquanto o “suposto” candidato das elites, Geraldo Alckmin recebeu 81,9 milhões. **
** (g1.globo.com – Valor Econômico – 29/11/2006)

A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) foi a maior doadora à campanha da reeleição
do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A mineradora, privatizada em 1997, doou R$ 4,05
milhões ao comitê financeiro do PT, que repassou ao caixa da campanha do candidato. A
prestação de contas da campanha petista foi entregue ontem ao Tribunal Superior Eleitoral
(TSE).
As doações legais foram feitas por meio de duas empresas controladas pela Vale do
Rio Doce. Por lei, a mineradora não pode fazer doações diretas porque ela é dona de
concessões público no setor de ferrovias. Por conta desta limitação, o dinheiro foi entregue
pela Caemi e a Minerações Brasileiras Reunidas (MBR).
A Vale do Rio Doce, presidida por Roger Agnelli, também foi a empresa que mais
financiou candidaturas vitoriosas à Câmara Federal, elegendo 46 deputados, conforme
levantamento realizado pelo Valor no último dia 10. No Legislativo, a Vale havia gasto R$ 5,3
milhões.
Empreiteiras (Camargo Corrêa, OAS e Andrade Gutierrez), bancos (Itaú, Bradesco,
ABN AMRO Real e Unibanco) e siderúrgicas (CSN e Gerdau) voltaram a figurar no topo da lista
dos maiores doadores de campanha do candidato a presidente.Uma das surpresas na lista dos
contribuintes da campanha do PT foi a aparição da Cutrale, segunda maior doadora. A
empresa, maior fabricante de suco de laranja do mundo, doou R$ 4 milhões ao cofre do
candidato do PT.
Outra novidade foi a presença maciça das usinas de açúcar e álcool entre os
financiadores. A Coopersucar, maior cooperativa do setor, destinou R$ 1,28 milhão. Embora os
valores sejam inferiores a R$ 500 mil, pelo menos cinco usinas - Cosan, Caeté, Moema, Dedini
e Cerradinho - destinaram entre R$ 374 mil e R$ 50 mil ao candidato reeleito.
No rol das doações pessoais, os irmãos Pedro e Alexandre Grendene tiraram R$ 1
milhão, cada um, de suas fortunas (...). O empresário Eike Batista, dono da holding EBX,
também tirou R$ 1 milhão do próprio bolso (...), além de executivos da Petrobras que também
ajudaram a financiar a campanha do PT.
g1.globo.com – Valor Econômico – 29/11/2006.

Para alguns analistas esses números demonstram, além da tese de que o dinheiro
vence as eleições, a eficiência das pesquisas eleitorais para orientarem os “investimentos” que
as doações de campanha representam.

Corrupção no Governo Federal


Já com relação aos casos de corrupção que surgiram no governo Lula, verifica-se uma
postura contraditória. Ao mesmo tempo em que o governo lança mão de estratégias
tradicionais de politicagem, por outro lado, dá mais autonomia do que qualquer outro
precedente seu, tanto para a justiça, quanto para os mecanismos de controle do estado e a
Polícia Federal.
Essa estratégias tradicionais de politicagem a que nos referimos, se explicitam nas
tentativas de impedir a apuração das denúncias que foram surgindo por intermédio da criação
de CPIs fadadas a não chegar a lugar algum, nasliberações de verbas orçamentárias para
deputados e senadores em troca de seus votos, nas “compras” de parlamentares para
migrarem para os partidos da base de apoio (mensalão), além da troca de cargos públicos do
primeiro, segundo e terceiro escalões por votos no parlamento, manobras idênticas e comunsà
triste história política da república brasileira. Essa postura, como já vimos, foi muito eficiente
durante os oito anos dos governos tanto de FHC quanto de Lula.
O primeiro escândalo creditado ao governo Lula foi o caso Waldomiro, assessor do
ministro da Casa Civil, José Dirceu,à épocao mais importante integrante do governo.
Waldomiro Diniz foi flagrado no aeroporto de Brasília em 2002, quando era presidente da
Loteria do Estado do Rio de Janeiro (Loterj), durante o governo de Antony Garotinho
(PMDB-RJ), oferecendo influência na Caixa Econômica Federal para Carlinhos Cachoeira,
bicheiro de Goiás.
Após a divulgação das imagens em fevereiro de 2004, Waldomiro foi exonerado e,
enquanto isso, criou-se então uma comissão de inquérito interno que não apurou nenhuma
irregularidade de Waldomirono gabinete da Casa Civil. O governo também acionou a Polícia
Federal e o Ministério Público que também opinaram pela inexistência de delito durante o
governo Lula. Waldomiro foi condenado a 12 anos de prisão por corrupção passiva e crimes
contra a Lei de Licitação.A mídia, por sua vez, deu ampla cobertura ao fato e o popularizou
como o primeiro escândalo de corrupção do governo do PT.
Outra história nebulosa foi a injeção de capital feito no final do ano de 2003 pelo
BNDES para Globopar (NET) sob a forma de ampliação de capital na empresa por parte do
parceiro estatal. A empresa recebeu esse aporte de recursos, pois a maior parte da dívida de
implantação fora contraída em moeda norte-americana, e a maxidesvalorização do real
ocorrida em 1999, que elevou o real de 1 dólar para 1,80, impactou significativamente a
estrutura de capital das Organizações Globo. Ainda em 2003 a Globo e a Bandeirantes
defenderam uma linha de crédito do BNDES para o saneamento das dívidas de suas
emissoras, o que foi negado pelo Banco.
A suspeita é que essas negociações tenham ocorrido ainda no processo eleitoral em
2002, o que nos levaria a entender porque essas emissoras fizeram uma oposição tão branda
há época da campanha eleitoral e porque, principalmente a rede Globo, passou a fazer uma
oposição sistemática ao governo logo após o início de 2004, com o caso Waldomiro.
Porém, o mais grave caso de corrupção que abalou o governo foi o chamado Mensalão
que explodiu em maio de 2005. O escândalo começa com a divulgação das imagens pela
revista Veja, de um funcionário de carreira dos Correios recebendo propina para facilitar a vida
de fornecedores em licitações públicas tanto na empresa quanto no IRB (Instituto de
Resseguros do Brasil), citando como chefe do esquema o deputado Roberto Jefferson (PTB).
No Conselho de Ética da Câmara, Roberto Jefferson acusa o governo nas figuras do
ministro José Dirceu, do presidente do PT José Genuíno, do secretário do partido Silvio Pereira
e do tesoureiro do partido Delúbio Soares, que forneceriam mesadas de 30 mil reais por mês
para deputados que se tornassem aliados e votassem com o governo, garantindo assim a base
necessária de apoio político no Congresso. A denúncia deu início a três CPIs.: dos Correios, da
Compra de Votos e dos Bingos (que se encontrava engavetada desde o escândalo Waldomiro
Diniz).
Nas apurações descobriu-se que não existia o Mensalão da forma com que Roberto
Jefferson havia denunciado, e que o PT havia repassado dinheiro ilegalmente para três
partidos da base aliada, que eram o PL (atual PR/PRB), o PPB (atual PP), e o PTB, além de
envolver 6 deputados do partido que pegaram recursos do empresário Marco Valério, que
operava o esquema por intermédio de suas agências de publicidade, a SMP&B e a DNA
Propaganda, que, também, trabalha para o governo por intermédio de vitórias em licitações
públicas fraudulentas.
A grande questão não respondida pelas CPIs é de onde veio o dinheiro de Marcos
Valério, pois sua versão de empréstimos no banco BMG e Rural (também envolvido no
esquema PC Farias durante o governo Collor) não se sustentou. O curioso desse caso é que o
Congresso não conseguiu descobrir o verdadeiro, ou os verdadeiros donos da propina, assim
como os grandes meios de comunicação de massa também não.
Uma das fontes que irrigaram o esquema de corrupção, conhecido por Mensalão, é um
velho conhecido de nossa história, a forma de compor o governo, ou “a hora de partir o bolo”.
Os partidos políticos brasileiros que são, em sua grande maioria fisiológicos, só apoiam o
governo em troca de cargos públicos. É a partir destes cargos públicos de decisão, que esses
políticos promovem licitações fraudulentas, gerando contratos superfaturados entre o governo
e os prestadores de serviço. Estes pagamentos a mais serão distribuídos entre o político, que
ocupa o cargo, a prestadora do serviço e o partido do político, que utilizará o recurso na
composição do caixa 2 para os processos eleitorais.
As revistas Carta Capital (semanário) e a Caros Amigos (mensal) levantam a tese de
que a outra parte do dinheiro pertenceria ao banqueiro Daniel Dantas do Banco Oportunity, que
travava uma grandiosa briga judicial pelo controle do grupo Brasil Telecom (do qual foi afastado
por decisão da justiça, em outubro de 2005). A Brasil Telecom havia sido arrematada em leilão
pelo Citibank e os fundos de pensão liderados pelo PREVI (dos funcionários do Banco do
Brasil), e isso só pode ocorrer porque Daniel Dantas teria tido informações privilegiadas no
processo de privatizações devido à grande influência que este detinha dentro do ninho tucano
(escândalo da pasta cor de rosa).
Daniel Dantas surge na vida pública brasileira pelas mãos do ex-governador Antônio
Carlos Magalhães da Bahia. Ele era assessor do Partido da Frente Liberal (PFL), hoje
Democratas, em Salvador quando fundou o Banco Oportunity. Na briga pelo controle da Brasil
Telecom, o banqueiro lançou mão de uma empresa internacional de espionagem, a Kroll, que
fez inúmeras escutas telefônicas ilegais, aumentando os escândalos envolvendo seu nome.
Outra figura de importância capital no esquema foi o publicitário Marcos Valério. Sua
necessidade de se aproximar do governo para continuar exercendo influência o levou a se
oferecer o esquema realizado em Minas Gerais ecooptar, com recursos ilegais, o apoio de
parte da cúpula petista. As apurações esclareceram que este procedimento já havia funcionado
antes, em Minas Gerais para as eleições de 1998.
Em junho de 2005 José Dirceu, em meio ao escândalo do mensalão, renúncia ao cargo
de ministro da Casa Civil, sendo substituído pela ministra das Minas e Energia Dilma Rousseff.
O resultado da apuração na Câmara foi, a cassação de Roberto Jefferson (PTB), José Dirceu
(PT), João Paulo Cunha (PT),Valdemar Costa Neto (PR)e Pedro Henry (PP). Outras
consequências do “mensalão”foram: a renúncia de 4 deputados e a absolvição de outros 7
deputados denunciados no esquema. Os acontecimentos que tiraram José Dirceu do governo
representou um duro golpe no núcleo do governo.
Um dos problemas encontrados pelas CPIs que investigavam o mensalão e seus
desdobramentos. Foi a proibição do acesso ao parlamento brasileiro das informações da
justiça norte-americana sobre a CPI do Banestado (2002/2003), devido ao vazamento de
informações durante o funcionamento da CPI. Esses documentos só foram disponibilizados
para as investigações da Polícia Federal e da Justiça Federal.
Ainda em 2005 o presidente do Banco Central Henrique Meireles foi envolvido em um
escândalo de evasão de divisas. Ele é acusado de crime contra o sistema financeiro e crime
eleitoral. Segundo a denúncia Meirelles abriu empresas em paraísos fiscais ainda quando era
presidente do Banco de Boston, além disso, ele não teria apresentado a declaração de renda
de 2001 a Receita Federal, quando morava no exterior.
O problema político ocorreu também em 2001 quando ele informou que morava em
Anápolis para poder concorrer ao cargo de deputado federal do qual foi eleito e renunciou em
seguida para ser o presidente do Banco Central de Lula. Pior do que o escândalo foi a reação
do governo Lula que aprovou uma medida provisória dando ao presidente do Banco Central o
status de ministro de estado, o que garantiu o foro privilegiado no Supremo Tribunal, onde a
denúncia não foi investigada.
O Supremo Tribunal Federal, em agosto de 2007, aceitou o indiciamento de todos os
40 denunciados de envolvidos no mensalão acusando-os de 7 crimes, quais sejam: formação
de quadrilha, corrupção ativa, peculato, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, gestão
fraudulenta e desvio de dinheiro público. Dentre os acusados do PT estão: o presidente José
Genoíno, o secretário geral, Silvio Pereira, o tesoureiro, Delúbio Soares, o ministro e mentor,
José Dirceu, o operador Marcos Valério e Roberto Jefferson, o membro dedo-duro do
esquema.
Essa situação é fruto da maneira de governar o Estado brasileiro por parte dos partidos
políticos. A tradição, que infelizmente foi mantida, é a de uma relação de clientelismo, isto é, de
troca de favores entre o executivo e o judiciário para a criação de uma base de sustentação
parlamentar. O problema é que o governo se torna refém das chantagens dos agentes políticos
que só apoiam em troca de cargos para que se proceda o saque ao dinheiro público para a
criação de caixa 2 de campanha e para o enriquecimento ilícito.

Denúncias de corrupção em outras esferas do poder público


Outra questão de corrupção que deve ser destacada foi a criação da CPI do Banestado
que investigou a remessa ilegal de dólares para o exterior por intermédio das contas CC5,
surgindo a denúncia e, inclusive, evidências de que o presidente do Banco Central, Henrique
Meirelles, licenciado do PSDB e membro do governo petista, também haveria se aproveitado
do esquema e feito remessas ilegais de dólares para paraísos fiscais.
Essa CPI, encerrada de forma medíocre e com dois relatórios, um do presidente (PT) e
outro do relator (PSDB), foi utilizada como um palanque de denuncismo político entre governo
e oposição, com vazamentos de informações sigilosas e sem apurar o maior esquema de
remessa ilegal de dólares ao exterior de nossa história. Nos documentos apareceram muitas
denúncias não apuradas como o envolvimento do Banco Oportunity, de Daniel Dantas, a
existência de uma suposta conta tucano, que teria sido irrigada por propina referente ao
processo de privatizações da era FHC, e o envolvimento de um doleiro chamado Alberto
Youssef, do Paraná, que havia sido o operador desse escândalo que desviou 124 milhões de
reais.
Desde o início das investigações havia a presunção de que mais de 130 políticos
estavam envolvidos no esquema, além de empresários e pessoas ligadas ao tráfico de drogas,
de armas e de mulheres. Além disso várias empresas usaram o recurso ilegal de enviar dólares
para o exterior e entre elas estavam a Rede Globo, Editora Abril, RBS e Correio Braziliense.
Esse escândalo ocorreu durante a década de 90 durante a gestão FHC e sua apuração poderia
ter desmontado o esquema pernicioso existente entre políticos e empresários na política
nacional.
Outro caso de corrupção que assustou o país aconteceu em Rondônia, quando o
governador Ivo Cassol (PSDB) foi acusado de fraude no orçamento, passando a ser
chantageado pelos deputados estaduais. O assustador é que o governador foi absolvido pela
Assembléia Legislativa, que ampliou a “pizza” ao também absolver todos os deputados
envolvidos. Mais tarde, em 2006, na reeleição, Ivo Cassol foi denunciado pelo Ministério
Público, desta vez por compra de votos e em 2010 o TSE absolveu o governador do pedido de
cassação.
O TSE já cassou por unanimidade o governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima
(PSDB) em fevereiro de 2009 e em março foi a vez do governador do Maranhão Jackson Lago
(PDT), ambos por compra de voto e abuso do poder econômico.
Um dos escândalos que pode ter dado origem ao mensalão do PT foi o chamado
mensalão tucano, descoberto pela CPI dos Bingos, que visava beneficiar o ex-governador e
presidente do PSDB, Eduardo Azeredo. O esquema funcionava tendo como intermediárias as
empresas de publicidade de Marcos Valério que, segundo ele, havia desviado e entregue 33
milhões de reais ***para a campanha de Azeredo à reeleição ao governo de Minas em 1998.
O esquema desviava dinheiro de estatais como a Centrais Elétricas de Minas Gerais
(Cemig), Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), Companhia Mineradora de
Minas Gerais (Comig), Banco do Estado de Minas Gerais (BEMGE), Furnas, Eletrobrás,
Petrobras, Correios e Banco do Brasil ***. Esse fato levanta a tese de o esquema existir desde
o período da reeleição ou até mesmo para a aprovação da emenda da reeleição e das
privatizações durante o governo FHC.
*** Folha de São Paulo – 27/07/2017.

Em outubro o STF também acatou a denúncia do mensalão mineiro, indiciando o ex-


governador e senador tucano Eduardo Azeredo por prática de caixa 2 na campanha a reeleição
em 1998 para o governo de Minas Gerais.
Uma prisão muito alardeada pela mídia foi a de Paulo Maluf (PP) e seu filho Flávio
Maluf em 2005 sob a acusação de remessa ilegal de dólares via conta CC5 (esquema do
Banestado). Esses recursos eram oriundos do superfaturamento de obras públicas durante sua
gestão de 1993 a 1996 na prefeitura de São Paulo, principalmente da obra de abertura da
avenida Agua Espraiada, atual Roberto Marinho, realizada pelas empreiteiras OAS e Mendes
Junior. Do valor da obra orçado em 800 milhões foram desviados o montante de 550 milhões.
A apuração deste crime nos EUA, França e Suíça, levaram a Interpol a colocar o nome dos
dois em sua lista de foragidos internacionais no ano de 2010.
Outra renúncia, que abalou o poder legislativo em 2005, foi a do polêmico presidente
do congresso Severino Cavalcante (PP). Ele se tornou presidente do congresso em um levante
do chamado baixo clero, os deputados de pouca expressão no parlamento, com o apoio da
oposição liderado pelo PSDB e o DEM (antigo PFL). Severino cobrava propina do empresário e
dono do restaurante do Congresso, o ato ilícito era parte de um acordo que garantia a
concessão do uso do espaço.
Essa ilegalidade havia começado quando ele ainda era secretário da mesa durante a
gestão anterior, permanecendo ativa durante o início de sua gestão como presidente da casa.
Para fugir da cassação o deputado também renúncia e este escândalo passa a ser conhecido
por “mensalinho”.
Como a corrupção, conforme já vimos, é um problema relacionado à falta de postura
ética de nossa sociedade, ela se espalha por todos os campos e chegando, inclusive, ao
futebol, como no caso da venda de resultados por árbitros de futebol no campeonato brasileiro
de 2005. Esse ato de corrupção fez com que a CBF remarcasse 10 jogos. Essa medida para
alguns também foi tendenciosa e “acabou” privilegiando o time que foi campeão.
Mais duas importantes ações da PF, uma contra a corrupção no estado e a outra
contra o narcotráfico. A primeira, antes da reeleição, em 2006, foi à prisão dos componentes de
uma quadrilha que manipulava o orçamento, liberando verbas para a compra de ambulâncias e
equipamentos hospitalares superfaturados com o envolvimento de mais de 80 pessoas, a
maioria deputados federais.
As emendas para a compra eram apresentadas por parlamentares do esquema que
recebiam de 2% a 3% de propina ao aprovarem a emenda e o restante após a liberação do
dinheiro para a compra. O total das propinas era de 10% pagos em espécie ou por intermédio
de presentes dados pela família Vedoin, donos da empresa Planan que atuava nos estados do
Mato Grosso, Paraná, Minas Gerais, Rondônia e Pará. Esse escândalo determinou inclusive a
criação de uma nova CPI para apurar o esquema, que ficou conhecido como a máfia dos
sanguessugas. Esse fato deixa claro a finalidade corrupta do sistema das emendas
parlamentares ao orçamento da república.
Já a segunda operação foi a que deu origem a prisão de um dos maiores traficantes
colombianos erradicado no Brasil, Juan Carlo Abadia, demonstrando o vínculo entre o crime
organizado e policiais corruptos, que cobravam propinas para evitar a prisão e repassar
informações sobre operações policiais, e no judiciário, para dar ganho em causas para o
narcotráfico.
Em 2006 cai o segundo ministro mais importante do governo Lula. As denúncias contra
Palocci se avolumaram tanto na CPI dos Correios quanto na dos Bingos.Essas denúncias
levantaram a possibilidade de Palocci ter frequentado uma mansão alugada, em um bairro
nobre de Brasília, para fazer esquemas ilegais dentro do governo, além de orgias com
correligionários políticos e o empresariado. A oposição apresentou na CPI dos Bingos o caseiro
da tal mansão que afirmou ter visto Palocci várias vezes na casa.
A reação ilegal do ministro lhe valeu o cargo.Juntamente com o presidente da Caixa
Econômica Federal, Palocci quebrou o sigilo bancário do caseiro e o entregou à imprensa. A
repercussão foi péssima e a renúncia dos dois envolvidos, se deu a seguir.
Como se já não bastassem todos esses escândalos de corrupção, os assassinatos dos
dois prefeitos do PT no estado de São Paulo ganharam notoriedade e perturbaram tanto o
governo Lula quanto o governo do estado de São Paulo. As mortes de Toninho do PT, de
Campinas e de Celso Daniel, de Santo André, podem estar ligadas aos esquemas de fraudes
em licitações, principalmente quanto a coleta e processamento de lixo urbano, e de contratos
superfaturados que alimentariam o caixa 2 do partido no estado.
Existe uma tese de que esses prefeitos morreram por terem descoberto o esquema e
ameaçado entregar os corruptos para a justiça. Este fato pode estar relacionado à história do
ex-ministro da fazenda Antônio Palocci, suspeito de participar do mesmo esquema na
prefeitura de Ribeirão Preto. Porém, a polícia do estado de São Paulo já deu os dois casos
como solucionados e relacionados à própria violência urbana e, por sua vez, encarados como
meras fatalidades.
No caso da morte deAntônio da Costa Santos, o Toninho do PT, prefeito de Campinas,
em 2001, a polícia afirma que ele foi morto num assalto. O assassinato de Toninho do PT tem
detalhes até hoje não explicados, como a não apuração da possibilidade de crime político,
além da sequência das mortes de quatro suspeitos em uma operação frustrada para prender
os supostos matadores.
No caso Celso Daniel de 2002 a Polícia Civil concluiu que o prefeito foi confundido por
criminosos que pretendiam sequestrar um comerciante. Já o Ministério Público avalia que o
caso teve motivação política e denunciou o empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, que
estava no carro com o prefeito, como mandante do crime.

Combate a corrupção
Com relação ao combate à corrupção, a Polícia Federal, que, no início do governo
Lula, embora tenha feito uma greve que trouxe inúmeros transtornos, principalmente nos
aeroportos (no setor de embarque internacional), tem realizado operações importantíssimas
com a prisão de corruptos e bandidos. Estas operações dizem respeito ao combate dos crimes:
cibernéticos, praticados através da Internet, tais como, o desvio de saldo bancário, a pedofilia,
as compras em cartão de crédito, as brigas de gangue, o racismo e o neonazismo; formação
de quadrilha e lavagem de dinheiro; tráfico nacional e internacional de drogas e armas; grupos
de extermínio; evasão fiscal; ambiental; crime organizado; corrupção ativa e passiva na
administração pública, entre outros.
Porém a atuação da Polícia Federal tem sido questionada por políticos e magistrados.
A cobertura cinematográfica da mídia expondo os acusados, o vazamento de informações
sobre os inquéritos, a “truculência” dos agentes, entre outros, são argumentos contra a
instituição. Foi a operação Hurricane (2007) que deflagrou a crítica contundente, talvez pelas
revelações estarrecedoras, vinculando membros do judiciário a uma quadrilha de venda de
sentenças. Foram denunciados chefes de grupos ligados a jogos ilegais, empresários,
advogados, policiais civis e federais, magistrados e um membro do Ministério Público Federal.
Outro fato que merece destaque foi a melhoria na infraestrutura da polícia federal e sua
maior autonomia em relação ao executivo. Prova disso tem sido a evolução, a cada ano, do
número de operações realizadas pela instituição. Durante os oito anos do governo FHC foram
48 operações, já durante o governo Lula foram 16 em 2003; 42 em 2004; 67 em 2005; 167 em
2006; 189 em 2007 e 218 em 2008.
A Controladoria Geral da União, instituída pela Constituição de 1988, também atua na
apuração de fraudes em verbas públicas fazendo auditoria nos repasses federais para estados
e municípios. Outra forma de fiscalização promovida pela Controladoria é a chamada devassa
fiscal em 50 prefeituras por mês, mediante sorteio, e com isto tem, felizmente, exposto as
feridas da corrupção endêmica que assola as instituições do Estado brasileiro.
Quanto ao ministério público, embora ele seja acusado de gerar privilégios par seus
membros e cometer excessos em sua missão de investigar, o saldo é positivo. Suas ações
foram fundamentais para a apuração de crimes contra o patrimônio público.

II. Política: Segundo Mandato

1. Eleição e Base de Apoio


Quanto a eleição de 2006, a tônica da campanha foi o denuncismo. Uma clara
campanha de desestabilização do governo foi promovida pelas elites locais por intermédio da
grande mídia brasileira. As denúncias de corrupção e as reportagens dos insucessos do
governo ocuparam a maioria das páginas e do tempo dos periódicos e telejornais.
O fato mais explorado foi a tentativa da compra de um dossiê, (fajuto, segundo a
grande mídia) por parte de membros do PT muito próximos do próprio presidente, mais uma
vez. Este dossiê seria revendido para a revista Isto É e sua publicação criaria problemas para o
candidato Geraldo Alkimim, do PSDB e para o então candidato tucano ao governo de São
Paulo, José Serra.
A aquisição do suposto dossiê foi envolvida de um grande mistério até hoje sem
explicação: de onde veio o dinheiro para a compra desse dossiê? Essa questão produziu, com
razão, críticas a independência da Polícia Federal. Esse dinheiro foi fotografado e frequentou
as primeiras páginas dos jornais às vésperas da eleição, sem conseguir influenciar no
resultado previsto nas pesquisas eleitorais.
A vitória de Lula se deu no segundo turno, depois de um gasto estratosférico na
campanha para um candidato “do povo”, R$ 115 milhões * enquanto o candidato Geraldo
Alkmin, das elites, só conseguiu arrecadar R$ 95 milhões. A campanha dos mais de 18 mil
candidatos no pleito desse ano custou mais de 19 bilhões de reais, a conta é simples mas
chegamos a uma conta estarrecedora, algo em torno de 1 bilhão de reais gasto por
candidatura, lembrando que foram eleitos governadores, deputados estaduais e distritais,
deputados federais e um terço do senado, além do presidente da república. **

* Folha de São Paulo 26/10/2006.

** eleicoes.uol.com.br 20/07/2006.

Das últimas eleições, principalmente para presidente, conseguimos retirar alguns


aprendizados, tais como: o povo brasileiro, assim como a maioria planetária, vota com o bolso.
Se a situação econômica estiver boa ela tem força para garantir a continuidade do governo,
enquanto a crise econômica enfraquece ou derruba os governos; tanto o povo quanto a classe
média não se preocupam com a questão ética no processo de escolha de seus representantes
e dá mais valor ao favor recebido e a melhora nos ganhos individuais, do que na reflexão em
prol das necessidades e do bem coletivos.
Os brasileiros precisam encarar a política como algo muito sério e não mais como um
carnaval temporão. O povo brasileiro precisa passar a acompanhar, estudar e a entender sobre
o tema para, a partir daí, mantendo viva a sua memória, fazer melhores escolhas sobre em
relação as questões políticas. O eleitor precisa diferenciar o público do privado e compreender
que o voto é um instrumento para a solução de problemas coletivos e não individuais.
No início de 2007, os partidos políticos passaram por uma onda de fusões e mudanças
de nome que produziram a criação de novas siglas. O PFL, agora é o Democratas (DEM), o PL
se uniu ao PRONA e aos PHS e se tornou o Partido Republicano (PR), parte do PL funda o
Partido Republicano Brasileiro (PRB), do vice-presidente José de Alencar, e o PPB (antigo
PDS do Maluf) se torna o Partido Progressista (PP).
O início do segundo mandato de Lula, além das fusões e mudanças de nomes dos
partidos, o governo anuncia a reforma ministerial e a “dança das cadeiras” nos partidos
políticos. A reforma ministerial, contemplou a ampliação da base de apoio com a diminuição
dos ministérios para o PT e o aumento da participação do PMDB de 3 para 5 ministérios, além
da abertura de espaço para o PP, PR, PDT e PTB, sem se esquecer dos aliados da base,
como o PCdoB e o PSB.
Quanto ao troca-troca de partidos, a dança das cadeiras, o óbvio acontece novamente.
Em um país de partidos regionais, sem projeto nacional (a não ser o poder pelo poder), e com
predominância do fisiologismo político, os deputados abandonam os partidos de oposição para
aderir aos partidos da situação, em busca de mais vantagens e privilégios. Até o início desta
legislatura (2007/2010), para se ter exemplo, o PFL perdeu 8 deputados federais (tem 37), o
PPS perdeu 8 (tem 14) e o PSDB perdeu 7 (tem 58).
Dessa forma, o governo petista mostra uma nítida guinada à direita entregando a maior
parte de seu governo para aliados oportunistas de última hora. Na visão de alguns analistas a
partir desse momento é que o Partido dos Trabalhadores enterra a possibilidade de promover
as reformas política, tributária, previdenciária, trabalhista, educacional, universitária, urbana e
agrária visando a capacitação e qualificação do Brasil para dar o salto qualitativo rumo ao
mundo de fato desenvolvido.
Porém, ao estabelecer um governo de coalisão com as forças políticas que sempre
estiveram no poder e que nunca se posicionaram a favor dessas reformas e que também
nunca demonstraram de forma prática a preocupação com um desenvolvimento econômico
acompanhado de um desenvolvimento humano.

Corrupção
A corrupção também se verifica nas loterias da Caixa Econômica Federal que são
utilizadas para a lavagem de dinheiro, contando, inclusive, com a conivência de funcionários.
Em 2007 o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), tornou público a existência
da fraude que vigorou de 2002 a 2006 e envolveu 75 pessoas tendo superado a quantia de 32
milhões de reais. O criminoso era avisado por um funcionário da Caixa sobre o vencedor do
sorteio que, em seguida, era procurado pelo estelionatário a fim de comprar-lhe o bilhete e dar
origem lícita ao dinheiro. Esse tipo de lavagem de dinheiro atende a todo tipo de crimes como,
por exemplo, o de colarinho branco, o tráfico de armas e o de drogas, entre outros.
Este fato já havia ocorrido antes no período do governo Itamar Franco em 1993, e foi
descoberto pela CPI do Orçamento que esclareceu a forma com que então o deputado João
Alves lavava o dinheiro desviado do orçamento. Por intermédio da compra de bilhetes
premiados, legalizava-se a entrada desses recursos em sua contabilidade, foram 221 prêmios
conquistados pelo deputado do PP da Bahia.
Em 2007 mais duas quedas importantes no senado. Os escândalos derrubaram os
influentes senadores, Joaquim Roriz e Renan Calheiros, este último presidente do Senado.
Roriz foi pego em escuta telefônica tratando de divisão de propina com dinheiro desviado do
Banco de Brasília (estatal) num montante superior a 2 milhões de reais, havendo renunciado
logo no início do escândalo para não perder os direitos políticos.
Renan Calheiros foi acusado de cinco crimes, quais sejam: pagar pensão ao filho
bastardo com dinheiro de empreiteiro (absolvido em plenário com o apoio da base governista);
lavagem de dinheiro em negócios de pecuária, sonegação fiscal, compra de emissoras de rádio
e jornais por intermédio de laranjas e espionagem de políticos do PSDB e do DEM. Depois de
resistir quase cinco meses de crise renunciou a presidência do Senado para manter o
mandato.
Até a multinacional brasileira de petróleo, a estatal Petrobras, não escapou dos
escândalos de corrupção. Duas grandes compras anunciadas pela Petrobras, a Ipiranga e a
Suzano petroquímica em 2007, são investigadas pela Polícia Federal por vazamento de
informações privilegiadas, sendo afastado um de seus diretores. O esquema ficou nítido com a
compra de ações da Ipiranga na Bolsa de Valores de São Paulo um dia antes da aquisição
dando a grupos de investidores, de um dia para o outro, uma rentabilidade recorde.
Foram abertos dois inquéritos para investigar o vazamento de informações tanto na
Bolsa de Valores quanto no CADE (Conselho Administrativo de Desenvolvimento Econômico).
Outro fato curioso foi o roubo de Laptops da empresa que estavam dentro de um contêiner no
porto de Macaé, no Rio de Janeiro e que continham informações preciosas sobre as
descobertas do pré-sal, inclusive o poço de gás natural de Júpiter, também no pré-sal. A
Polícia Federal após o termino das investigações afirmou, para quem quiser acreditar, que o
roubo foi um crime comum, afastando a possibilidade de espionagem empresarial.
Em junho de 2008 a Polícia Federal, baseada na operação Satyagraha (do hindu:
firmeza na verdade) conduzida pelo delegado Protógenes Queiroz desde 2004 e que efetuou a
prisão de empresários, doleiros, investidores, políticos e de uma figura já conhecida nos
escândalos de corrupção já vistos até agora, o banqueiro Daniel Dantas do Banco Oportunity.
Ele foi acusado de formação de quadrilha e evasão de divisas juntamente com o doleiro Naji
Nahas, porém sua prisão foi cancelada pelo presidente do STF, Gilmar Mendes que lhe
concedeu também um Habeas Corpus preventivo. Já as investigações nas ilhas Cayman sobre
a lavagem de dinheiro do grupo Oportunity determinaram a prisão de Daniel Dantas assim que
ele voltar ao paraíso fiscal.
A ação foi anulada pelo STJ em 2011 e arquivada definitivamente pelo STF em 2015,
alegando ilegalidades no processo inquisitório. Quanto ao delegado Protógenes, ele foi eleito
deputado federal pelo PCdoB de São Paulo por duas legislaturas e em 2014 foi expulso da
Polícia Federal e condenado pelo STF a dois anos e meio de prisão que foi revertido para pena
de prestação de serviços a comunidade.
Os escândalos de corrupção e uso de influência política não param de acontecer no
poder legislativo. Após a eleição para a presidência do Senado no início de 2009 o presidente
eleito, José Sarney, teve que extinguir 181 diretorias da casa por causa da falta de
necessidade de muitas delas aliadas a criação de cargos em excesso para correligionários e
parentes. O curioso e que 70% dessas diretorias foram criadas pelo próprio Senador José
Sarney, quando presidente do Senado em outra legislatura.
Em seguida é descoberto o escândalo dos atos secretos que nomeavam parentes de
parlamentares, inclusive do próprio Sarney. O ex-presidente também teve sua fundação
investigada por estar envolvida em repasses de verbas da Petrobrás para programas culturais
que não foram realizados.
Já o empresário Fernando Sarney, o filho, foi investigado na operação Faktor da
Polícia Federal que o indiciou em 2009 acusando-o de tráfico de influência no Governo
Federal, formação de quadrilha. Porém, O senador Sarney conseguiu na justiça impor o
silêncio ao jornal O Estadão para que ele não mais acompanhasse nem publicasse notícia
sobre o fato (censura).
Em 2011 o STJ anula a investigação sob a alegação de que as escutas telefônicas
devem ser o último instrumento de uma investigação e não podem acontecer antes de depois
de esgotados todos os demais tipos de investigação. A anulação foi confirmada definitivamente
em 2015 pelo STF.

Вам также может понравиться