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LIBERDADE E DEMOCRACIA
Conceito de liberdade. Um pedinte vive debaixo da ponte, por cima passa
um comboio, durante o dia o pedinte encontra-se na estação a pedir e de
noite vai para debaixo da ponte. Ninguém o incomoda nem faz qualquer
obstrução à sua actividade. O pedinte não pode ir aos restaurantes
porque não tem dinheiro suficiente para comer todos os dias. Não tem
higiene pessoal todos os dias só de tempos a tempos, e a roupa é a
mesma a uma série de anos; não tem acesso aos confortos medianos de
uma pessoa com um nível de vida normal.
O pedinte é livre ou não?
Liberdade negativa - A pessoa é livre desde que não interfiram com a sua
actividade. Desde que a sua actividade não seja coagida, não haja
coacção. O conceito de liberdade negativa define-se assim: é a área na
qual a pessoa pode agir sem ser obstruída pelos outros, uma pessoa é
livre desde que possa tomar as suas decisões/agir sem obstrução, sem
coacção. Por isso a liberdade é a inexistência de coacção sobre nós.
Liberdade positiva - como é que uma pessoa pode ser livre se não poder
viver da forma que quiser, como é que uma pessoa sendo livre não pode
levar a vida que quer ter? Para este conceito de liberdade não basta a
pessoa não ter ninguém a importuna-la é necessário que a pessoa possa
seguir os seus fins.
Se a pessoa não pode tomar a alimentação que quer; não pode vestir as
calças que deseja nem pode satisfazer aquelas necessidades básicas à
condição humana, então a pessoa não é livre. Não exige uma omissão, é
exigida uma acção, têm que ser garantidas algumas coisas as pessoas
para esta ter as condições mínimas.
Segundo esta visão o pedinte não é livre, porque não é livre de comer
quando precisa, nem de habitar num sítio com o mínimo de condições,
logo como homem e como pessoa não é livre.
São estes os dois conceitos de liberdade e ambos estão correctos. O
problema é: ou se dá foco a um ou a outro mas em ambos os casos
existem perigos.
Liberdade positiva - as pessoas tem que ter condições para alimentação,
vestuário e habitação têm que lhe ser dadas condições base para a
pessoa optar, se é pedinte ou se a sociedade lhe dá outras condições.
A Liberdade negativa gera sempre uma quantidade de pessoas que caiem
da rede social (de sociedade) e ficam na pobreza e não há mais nada a
fazer.
A liberdade positiva acaba sempre por implicar a intervenção do estado na
sociedade para garantir as condições a essas pessoas e essa intervenção
do estado traz sempre um elemento de coacção, se o estado resolver dar
um rendimento mínimo para este pobre poder optar, aonde é que o estado
vai buscar o dinheiro? Aos outros, por isso o estado para garantir as
liberdades de uns o conceito positivo do pobre vai coagir o rico, ou seja
para dar liberdade a um vai tirar a liberdade a outros. É exactamente aí
que está o perigo deste conceito positivo de liberdade.
Começa com boas intenções mas acaba muitas vezes por impôr um
sistema totalitário ou autoritário; coage uns para beneficiar outros.
É por isso que nenhum dos dois conceitos pode ser afirmado com toda a
certeza como sendo o verdadeiro, nunca se pode chegar a uma conclusão
absoluta.
Democracia - Demo = povo } Cracia = poder } poder do povo
Na democracia o poder é do povo.
Como é que o povo pode exercer o poder?
Tomando ele (povo) as decisões políticas através do voto.
Existem dois tipos de democracia:
Representativa - O povo vota em determinadas pessoas que depois vão
decidir em nome do povo.
Ex: Eleições legislativas.
Directa - É o povo que de uma forma livre e soberana que toma as
decisões, sem intermediários.
Ex: Referendo.
Se tivermos votos unânimes não há problema porque toda a gente quer a
mesma coisa. Em termos históricos quando temos votos unânimes é
porque houve trapalhada e vigarice pelo meio. Em termos jurídicos quer
dizer que toda a gente está de acordo, mas é raro acontecerem votos
unânimes nas democracias. Temos então o voto por maioria. Quando 51%
ou 60% decide uma coisa, podemos dizer que essa é a decisão do povo?
Na realidade não, o voto maioritário é apenas daquelas pessoas que
votam não é a decisão das outras, é democrático porque é a melhor forma
que o povo tem para eleger ou para tomar decisões, uma vez que a
unanimidade é quase impossível, a melhor forma a seguir é o second best
(haver o máximo número de pessoas de acordo).
Mas em todo o caso o voto da maioria já é diferente da unanimidade.
Existem então duas opiniões:
• A maioria dos autores dizem que a democracia é igual ao voto
maioritário, a democracia é um sistema pelo qual as decisões são
tomadas segundo o voto da maioria das pessoas.
• Mas há outros autores preocupados com as minorias e dizem que a
democracia não é o voto maioritário, a democracia é o resultado do
tratamento igual de todos os cidadãos que de um modo geral assenta
num voto majoritário mas que pode assentar noutro tipo de decisão, para
que possa assegurar um tratamento igual dos cidadãos. Destaca-se o
autor Americano Dworkin ® democracia deve ser levada mesmo à letra,
democracia é tratar toda a gente de igual maneira. Habitualmente a
melhor forma de garantir é dar um voto a cada um e depois aceitarmos a
decisão do voto majoritário, o problema só surge quando os votos
perturbam os direitos e as liberdades.
Ex: Se 60% dos cidadãos decidem matar os bebés louros de olhos azuis
segundo a teoria maioritária isso era um voto democrático pois tinha-se
verificado uma maioria, segundo a teoria de democracia constitucional
(Dworkin) não é porque através de uma maioria estamos a oprimir uma
minoria, quando oprimimos as minorias devem entrar os mecanismos
constitucionais, os quais também são democráticos para controlar os
atropelos às liberdades.
Obviamente que o melhor mecanismo são os tribunais. Quando as
maiorias entram em colisão com os Direitos Fundamentais então têm que
ser travados, habitualmente "quem puxa o travão " são os tribunais.
Temos aqui dois conceitos de democracia
- vota a maioria
- resulta a decisão das maiorias mas tem que se respeitar os Direitos
Fundamentais.
CONSTITUCIONALISMO PORTUGUÊS
- O próprio homem se limitava a si próprio
- Vai responder aos seus anseios
Sistema Politico:
1º - Os textos Constitucionais do sec. XVIII, são textos constitucionais
régios
2º - Princípio da separação de poderes
3º - Não é os súbditos para o Governo, mas o Governo para os súbditos
para os satisfazer
4º - A época da soberania, ou seja não havia poderes externos
5º - Os valores da liberdade e da igualdade
6º - O reconhecimento dos direitos individuais
A Constituição Portuguesa tem o seu inicio nas:
- Constituições Antigas – anteriores ao Sec. XVIII, normas de
funcionamento da monarquia, que determinam o aparelho politico e
formadas por processos lentos
- Constituições Liberais – determinam uma plataforma legal que jamais
será violada, são formados por processos repentinos e rápidos, que têm
um conjunto de normas que regerem a monarquia, regulamentam um
conjunto de direitos e deveres dos cidadãos, visando o bem comum.
Diferenças:
- As Constituições antigas são textos que não tinham normas
fundamentais para o estado, as Constituições Liberais, criam uma
plataforma, de forma a criar normas que jamais o estado fosse
prejudicado.
- Vão reconhecer direitos fundamentais que não podem ser violados, não
só as do estado/reino como as das pessoas.
Principais Constituições Liberais:
- Constituição Americana de 1787
- Pragmatismo, emendas = princípios
- Privilégio do Dto. à vida e à propriedade privada
- Constituição Francesa de 1791
- O Homem deixa a sua liberdade ao Estado e este, dá-lhe os seus direitos
- Constituição Espanhola
- É uma réplica da Constituição Francesa, porque estava desenquadrada
da sua realidade social
- Constituição Portuguesa de 1822
- Influência da Constituição de Cádiz e da Constituição Francesa (Direitos
dos Homens)
- Carta Constitucional de 1826
- Influência da Carta Constitucional Brasileira de 1824
- Constituição Portuguesa de 1838
- Influência da Constituição Belga de 1831 e Constituição Espanhola de
1837
A Constituição Portuguesa baseou-se em duas correntes de pensamento:
- Francesismo – (constituição de 1822) – Absolutistas
- Inglesismo – (Carta Constitucional de 1826) – liberalistas
A Constituição Portuguesa de 1822:
Surge nas cortes régias e tem como missão elaborar o texto da
constituição
Fontes: Constituição Espanhola de Cádiz e Revolução Francesa de 1879
Reconhece 4 poderes: Legislativo, Jurisdicional, Conselho de Estado e
Administrativo.
CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO CONSTITUCIONAL
Constituição Norte Americana:
- A primeira colónia a formar-se foi em 1607
- Cada colónia tinha governos parlamentares e algumas leis
- As colónias norte americanas não tinham representação no parlamento
Inglês, no entanto Inglaterra impunha restrições comerciais, e criava taxas
à produção alimentar, criou o imposto selo cartas e licenças. Todas estas
matérias dificultavam o desenvolvimento económico das colónias Norte
Americanas.
- No entanto apesar das restrições que a Inglaterra impunha ás colónias,
mesmo assim recrutou cerca de 10.000 colónos para a guerra.
- As colónias fizeram no entanto leis com carácter punitivo.
1774 – Reuniu-se pela primeira vez o 1.º Congresso Continental em
Filadélfia, onde participaram 13 estados já existentes. Neste congresso,
condenaram oficialmente a maior parte dos impostos cobrados pela coroa
Inglesa.
1775 – Efectuou-se o 2.ºCongresso Continental, no entanto Inglaterra
tinha declarado guerra ás 13 colónias.
1776 – A 4 de Julho, as mesmas 13 colónias Norte Americanas
proclamaram a sua indepêndencia.
1783 – Deu-se o fim da guerra, com a Inglaterra a reconhecer a
indepêndencia dos Estados Norte Americanos.
A revolução Americana
- Tinha um cariz anti colonial
- Não era baseada numa luta de classes ou ideologias
- Não tinha tradição Munárquica ou Aristocrática
- O excesso de individualismo era incompatível
- Havia demasiada interferência do governo Inglês na vida socio ou
económica dos colónos.
- O modelo Nacionalista foi o que liderou a indepêndencia
- Entre 1781 e 1787, as 13 colónias organizaram-se através de uma
confederação, de estados em que existia uma grande autonomia em cada
uma delas, mas o assunto base de discussão eram as guerras.
- Com o reconhecimento da Independência em 1783 constata-se que há
poucos intresses comuns entre as colónias, onde começaram aparecer as
divergências.
- Assim teve de se encontrar uma solução, ao que levou a transformarem
o estado federal numa constituição e num país, mas sempre com o
modelo da confederação.
1787 – G. Washington defendia a tese do federalismo, tendo sido esta tese
a ganhar mais apoio no maioria dos estados, assim é aprovada a
Constituição Federal e passou-se de Confederação a Estado Federal.
1789 – G. Washington é eleito o 1.º Presidente dos Estados Unidos da
América, onde se forma :
Camera dos representantes ... constituida pela população
Senado .................................. composto por 2 senadores de cada estado
Sistema de Governo Presidêncialista:
- 1.ª ordem jurídica que institui um sistema de garantia judicial na
Constituição das Leis
- Existência de um Supremo Tribunal de Justiça
- Respeito pelo Direito.
Guerra Civil Americana (Norte / Sul)
1860 – Dá-se a eleição de Lincon, o estado sul declarou a sucessão e
criaram uma confederação e acabaram com a federação. É abulida a
escravatura.
1865 – O Norte ganha a guerra e Lincon é assasinado, começou a existir
teses de federalismo, e assim é reforçada a unidade política dos EUA.
I .ª Guerra Mundial
1919 – Os EUA tiveram a maior intervenção económica e participação na
guerra.
Após 2 guerras Roosevelt reafirmou o conceito de autoridade federal, e a
política de bem estar social e meios necessários para a sua concretização.
Federalismo Norte Americano
- Cooesistência da Constituição do estado federal , com uma constituição
de cada estado.
- Participação dos estados federados na formação da vontade política e
legislativa do estado federal, congresso e senado.
- Tudo o que não era da competência do estado federal, pertencia a cada
estado
- Cada estado podia legislar.
Estrutura do poder político do Estado Federal:
- Governadores .......... poder executivo ¬¬¬
- Congresso ............... poder administrativo e legislativo(Cammera dos
representantes e senado )
- Tribunal ...................poder judicial
Nota: O presidente não pode destituir o congresso e o Congresso não
pode destituir o Presidente.
Presidêncialismo:
- Inrresponsabilidade política do órgão politico face ao legislativo
- Ausência de autonomia política do gabinete, só exercem o poder que o
presidente delega (concentração de poderes no presidente este é o
chuefe do governo)
- Igualdade no poder legislativo e executivo
- O Presidente comanda as forças armadas
- O vice –presidente é um representante sem poder
- A eleição é universsal e indirecta, ou seja não se vota directamente no
candidato mas sim numa lista (sistema marioritário por lista).
- O poder eleitoral é subsidiário nenhum candidato apurado para o
congresso elege o presidente.
Sistema de Primárias:
- Candidato a presidente: tem de ter mais de 35 anos, residir no minimo
há 14 anos no país e só pode cumprir 2 mandatos.
Câmera dos Representantes:
- Têm 435 membros
- Mandatos de 2 anos
- Têr mais de 25 anos
- Ter a nacionalidade há mais de 7 anos
- E residir no estado onde se candidata
Senado:
- Têm 100 representantes
- Cada estado têm 2 representantes
- Os mandadatos são de 6 anos
- Os mesmos mandatos renovam-se 1/3 de 2 em 2 anos
- Os senadores tinham de ter nacionalidade e residir há mais de 9 anos
Supremo Tribunal:
- Fiscaliza as leis constitucionais
- Os Juizes são nomeados vitaliciamente
- As decisões são tomadas por maioria (Quorum) de 6 membros
Outros Tribunais
- Fiscalizam o estado
o processo de impeachmente, é o poder que o Senado tem para julgar o
Presidente, o Vice - Presidente, e todos os funcionários civis dos Estados
Unidos, por responsabilidade criminal, em caso de acusação e
condenação por traição, suborno e outros crimes graves delitos, podendo
ser destituídos por 2/3 dos membros do senado
EXPERIÊNCIA CONSTITUCIONAL PORTUGUESA
Podemos dizer que a história constitucional Portuguesa, se aproxima
muito do exemplo Francês, sendo que no caso Português se verifica uma
maior estabilidade do que em Espanha ou nos países da América latina.
Podemos em Portugal distinguir três períodos da história constitucional, o
primeiro entre 1820 e 1926, a que chamamos Constitucionalismo Liberal,
o segundo entre 1926 e 1973 a que chamamos de constitucionalismo
autoritário e o terceiro, após o 25 de Abril de 1974, a que chamamos de
constitucionalismo democrático.
Caracterização das Constituições
Constituição de 1822:
É a primeira constituição Portuguesa formal e decorre da ideologia
revolucionária francesa.
Podemos dizer que no que diz respeito à forma e sistema de governo tem
sistema Para – Republicano.
Do ponto de vista de poder atribuído aos órgãos, o poder Monárquico
está bastante reduzido.
Existe uma ideia de Patriotismo e Nacionalismo liberal.
A Constituição é elaborada pelas cortes, que são a assembleia
representativa dos cidadãos, e tem carácter democrático.
Estão consagradas nesta Constituição, 3 liberdades: a liberdade, a
segurança e a propriedade.
Nesta Constituição, estava consagrado no art. 261, que a soberania
residia na Nação e previa que a Nação era a união Portuguesa em ambos
os hemisférios.
Esta constituição previa 3 poderes: O executivo, o legislativo e o Judicial.
No executivo, manteve-se o principio Monárquico, o poder legislativo
pertencia a uma única assembleia (as cortes) e o poder judicial era
exercido pelos Juízes.
Outra manifestação clara de que o Rei via os seus poderes reduzidos, era
que o Rei tinha poder de veto nas relações entre os poderes, mas este
podia ser designado de suspensivo pois poderia ser superado por nova
deliberação das cortes.
Existia uma outra figura prevista na Constituição que era o Conselho de
Estado, que tinha como missão aconselhar o Rei e era composto por 13
cidadão de reconhecida distinção.
Carta Constitucional de 1826:
Tem este nome porque foi outorgada pelo Monarca, D. Pedro.
A ideia chave desta Constituição era criar uma estrutura Constitucional a
partir de cima, ou seja, atentava num princípio Monárquico pois era por
livre vontade do monarca que este outorgava a constituição e defendia os
verdadeiros representantes da Nação, o rei e as Cortes.
Assim, os poderes Políticos dividiam-se em moderadores, executivos,
legislativo e judicial.
Verifica-se que a carta constitucional de 1826, acrescentou o poder
moderador que era abrangente, atendendo que incluía as funções
específicas de um chefe de estado e amplas competências, e participação
no poder legislativo através do veto e da sanção.
O poder moderador, conferiu ao Rei o poder de nomear as cortes,
convocar as cortes, sancionar os decretos aprovados pelas cortes e
nomear e demitir ministros.
O poder executivo pertencia às câmaras, sendo elas duas: A câmara dos
pares, que era composta por deputados com lugares vitalícios e que após
serem nomeados tinham carácter hereditário, e a câmara dos deputados
cujos mandatos eram temporários e eram eleitos.
No entanto o direito de sufrágio para a câmara dos deputados, era
dependente da propriedade e dos rendimentos do indivíduo.
No poder judicial, consagrava-se a sua independência, mas não de forma
tão clara como no texto de 1822. Foi instituído o sistema de jurados que
se pronunciavam sobre questões de facto.
Constituição de 1838:
Quanto ao modo de elaboração podemos dizer que esta é uma
constituição pacticia, pois existia um pacto entre a Rainha e as cortes.
Enquanto que nas duas constituições anteriores, a primeira pressupunha
que a constituição fosse a Lei da Nação e na segunda estava ligada ao
príncipe, esta Constituição prevê um pacto entre o soberano e o
representante nacional.
Nesta Constituição, verifica-se que o catálogo dos direitos fundamentais
é novamente deslocado para a primeira parte da constituição.
Na organização do poder político, desaparece o poder moderador e desta
forma o monarca perde poderes (em matéria de nomeação de
magistrados).
A câmara alta passa a ser temporal e eleita, no entanto o Rei mantém o
poder de veto e continua a ser o chefe executivo.
A duração desta constituição é curta pois entrou em vigor em 4-4-1938 e
findou em 27-01-1842, altura em que foi deposta pelo General Costa
Cabral quando este repôs a carta Constitucional que irá vigorar até 1910.
Constituição de 1911:
Esta constituição surge na sequência da revolução de 1910.
Assim, a soberania Nacional residia na Nação, existia um regime
representativo, ou seja, os representantes eram eleitos e independentes
do eleitores.
No que respeita à separação de poderes, a constituição contempla um a
fórmula tradicional (poderes: legislativo, executivo e judicial).
O sufrágio passou a ser universal ou seja deixou de existir o quesito de
rendimento e propriedade no entanto era ainda vedado o direito de voto
Às mulheres, analfabetos e militares.
Em 1918, foi alargado o direito de voto a todos os indivíduos do sexo
masculino.
Existia ainda o bicamarismo (câmara dos deputados e câmara do senado)
O sistema era Parlamentarista ou seja o Parlamento tinha amplos poderes
sobre o governo e o Presidente.
Esta Constituição defendia um Republica laica, reforçou os municípios e
legitimou o referendo local.
Ainda em relação à sua estrutura podemos dizer que esta Constituição foi
o coroamento do liberalismo democrático Português.
O catáçogo dos Direito fundamentais é claramente individualista tendo
sido abolida a pena de morte e previsto o Habeas Corpus, consagrando-
se também a liberdade de Religião e culto.
Em relação à separação de poderes, o princípio fundamental é a divisão
tripartida de poderes.
O órgão legislativo era o congresso, existindo a câmara de deputados e o
senado.
O presidente da Republica representava a Nação em termos internos e
externos. Não tinha poderes de veto nem podia dissolver o Parlamento,
tinha o título mas não o poder. O mandato era de 4 anos sem
possibilidade de reeleição.
A fiscalização da Constitucionalidade das Leis cabia ao congresso e ao
poder Judicial.
Existia uma descentralização administrativa pois a Constituição de 1911
consagrou o principio da autonomia financeira, e o referendo local.
Em súmula, esta Constituição estabelece uma nova forma de Governo,
recuperando a forma estrutural da constituição de 1822.
O poder executivo era distribuído pelo Presidente da Republica e pelos
Ministros.
Esta Constituição apesar de formalmente ter vigorado até 1933, ela deixou
de ser aplicada muito devido ao golpe militar de 1926.
Constituição de 1933:
Com esta Constituição foi institucionalizado em Portugal o regime político
constitucional autoritário.
Nesta Constituição o poder executivo era forte e independente do poder
legislativo, que por sua vez não podia estar dividido pois não havia
partidos.
O chefe de estado, era directamente eleito pela Nação e podia livremente
nomear e demitir o Presidente do Conselho de Ministros.
A evolução deste sistema foi para um presidencialismo do primeiro-
ministro.
Estrutura da Constituição:
- Poder constituinte: Esta Constituição foi a única que adoptou o sistema
plebiscitário (referendo) como forma de exercício do poder constituinte. (a
partir do projecto de Salazar, foi elaborado um texto que foi
posteriormente submetido a plebiscito)
- Direitos Fundamentais: A declaração dos direitos fundamentais
encontravam-se num único artigo (81) e alguns direitos ficavam
submetidos ao regime que viesse a ser decretado em decreto ou decreto-
lei, ou seja o cidadão ficava sujeito À discricionariedade do legislador.
- A constituição formaliza pela primeira vez, a constituição económica
- Estrutura Politico organizativa: Os órgãos de soberania eram: O chefe de
estado; a Assembleia Nacional, o Governo e os Tribunais.
> O chefe de estado não era o chefe do executivo, o governo responde
perante o Presidente da Republica. O Governo não era de gabinete como
era característica do sistema Parlamentar.
> Câmara corporativa era uma estrutura que representava as autarquias
locais e os interesses sociais. A sua principal função era dar pareceres.
> Conselho de Estado funcionava junto do Presidente da Republica
- Estrutura Partidária: O regime desconhecia partidos políticos ao nível da
constituição.
Esta Constituição vigorou durante o chamado Estado Novo, que tinha
como características:
- Assumidamente Anti-liberal, anti-parlamaentar e até antidemocrático
- Na prática era um regime autoritário pois formalmente existia um
princípio de livre nomeação dos titulares de cargos políticos.
Esta Constituição é a primeira a consagrar como autónomo o Governo.
A figura do presidente do conselho de ministros é a figura mais
preponderante do regime, apesar de constitucionalmente ser o Presidente
da Republica porque: uma razão politica que tem a ver com a ideologia do
regime e um razão jurídica pois a Presidente do Conselho de Ministros
referenda todos os actos do Presidente da Republica
Os órgãos do poder politico são: o Presidente da Republica que é eleito
por sufrágio universal, o que a partir de 1959,passa a ser por sufrágio
indirecto; O Governo que pela primeira vez é um órgão autónomo e a
Assembleia Nacional.
Constituição de 1976:
Esta Constituição surgiu na sequência de um processo revolucionário.
Pode chamar-se de constituição compromissória pois resulta de um
compromisso, de um pacto.
Teve influência de vários partidos, foi uma plataforma de acordo com os
partidos.
Teve início com o processo revolucionário em curso ou também
designado de processo revolucionário constituinte.
Caso a Constituição tivesse sido aprovada até 25 de Novembro de 1976,
ela seria completamente diferente da que acabou por ser adoptada,
nomeadamente no que diz respeito ao modelo de sistema político.
O Órgão que vem a assumir a herança do PREC é o Conselho da
Revolução.
Nessa altura, atendendo à tradição história, a Assembleia constituinte
tinha dois sistemas à escolha: O parlamentarista, vigente durante a
constituição de 1911; e o Unipessoal, vigente durante a constituição de
1933.
Para evitar os riscos que esses sistemas traziam, foi então instituído um
sistema e Governo semi presidencialista.
Assim, os órgãos de soberania da versão originária da Constituição de
1976 são:
O Presidenta da Republica e a Assembleia da Republica que têm a mesma
legitimidade politico-eleitoral pois são eleitos por sufrágio universal,
O Governo, que é um órgão autónomo e o Conselho da Revolução que
tem competência consultiva e competências para a dissolução da
Assembleia da Republica e declarar o estado de sitio e de emergência.
A assembleia constituinte, discutiu qual a ordem de previsão
constitucional, entre a ordem económica e os direitos fundamentais, já
que algumas correntes defendiam que apenas com uma verdadeira
organização económica se conseguem garantir os direitos fundamentais
acabando por vencer a corrente que dava primazia aos direitos
fundamentais.
Esta Constituição sofreu já, várias revisões constitucionais:
A primeira, em 1982, eliminou fórmulas da revolução para a transição
socialista. Dessas expressões podem citar-se “sociedades sem classes,
poder da classe dos trabalhadores, processos revolucionários, etc…”
Esta revisão retira então a ideia socialista da revolução.
Outra alteração desta revisão, foi a substituição do conselho da revolução
pelo tribunal constitucional.
A segunda revisão, em 1989, a organização económica é alterada,
passando a prever-se uma economia de mercado controlada. Passou
também a existir a figura do referendo.
Na revisão de 1992, adapta a constituição existente a implicações
decorrentes do tratado de Masstricht
Na revisão de 1997, é alterado o sistema de actos legislativos, e é alargada
a participação dos cidadãos no processo politico (podem apresentar
propostas de lei à assembleia da Republica, propostas dereferendo)
CAPÍTULO 1 – AS CONSTITUIÇÕES PORTUGUESAS
A história da constitucionalidade portuguesa escreve-se, desde logo, com
seis textos, os primeiros três no período monárquico e os posteriores já
em regime republicano. Antes, porém, de avançarmos para a
caracterização dos referidos textos constitucionais, refira-se que este
objecto de estudo é definido pelo conjunto de normas que se encontra
acima de todas as demais de âmbito nacional e que estas devem sempre
observar e respeitar de forma incondicional. Agora, as Constituições
Portuguesas:
Constituição Portuguesa (1822)
Carta Constitucional (1826)
Constituição (1838)
Constituição (1911)
Constituição (1933)
Constituição (1976)
No âmbito das constituições monárquicas já é possivel observar a
influência do elemento democrático em virtude do periodo de plena
revolução liberal que atravessava toda a Europa. Para além deste
registem-se, ainda, os elementos aristocrático e, obviamente,
monárquico. Assinale-se também o facto do seu período de vigência não
ser, por regra, contínuo, em virtude das convulsões internas da sociedade
política nacional da época. Apenas a Constituição de 1838 vigorou num
único espaço temporal: 1838-1842. Nesse ano é recuperada a Carta
Constitucional de 1926, que se mantém até à revolução republicana.
Por seu lado, as constituições republicanas tiveram sempre períodos de
vigência contínuos, ou seja mantiveram-se em vigor até à sua
substituição.
CAPÍTULO 2 – A CONSTITUIÇÃO DE 1976, ENQUADRAMENTO
HISTÓRICO
Já com um historial de cinco revisões, a Constituição de 1976, resultado
da revolução de Abril de 74, é a que continua a vigorar no Estado
Português.
Na sua génese está o programa do MFA (Movimento das Forças Armadas)
que, logo após a revolução, publica leis de carácter constitucional de
modo a assegurar a gestão transitória do país, mas também a sua
influência na configuração do novo Governo.
Eis os órgãos que geriram o país no periodo pós-revolução de 74:
• Junta de Salvação Nacional – Composta exclusivamente por
militares, sendo mais tarde substituida pelo Conselho da Revolução.
• Conselho de Revolução – Composto por vários dos elementos que já
incorporavam a Junta de Salvação Nacional. Acentua-se, na sua criação, a
viragem à esquerda, constituindo-se como o braço político do MFA e
tendo em vista, entre outras atribuições políticas, a fiscalização da
produção do novo texto constitucional. Em virtude da radicalização à
esquerda por parte deste órgão, tem lugar a 25 de Novembro de 75 um
mini golpe de estado, liderado por Ramalho Eanes, que obriga à
renovação de pessoas e à moderação da actuação do mesmo.
• Assembleia Constituinte, hoje conhecida como Assembleia da
República – Criada em 1975 por sufrágio directo e universal, esta
assembleia tem como prioridade a produção do novo texto constitucional.
Assinale-se que, numa altura em que o MFA, alicerçado no Conselho de
Revolução, tenta obrigar o País ao comunismo de leste, o povo vota
maioritariamente ao centro e à direita nas primeiras eleições livres após o
estado novo. O PCP tem o expressivo resultado de 15% dos votos.
A elaboração do novo texto constitucional
Já se disse que a primeira grande preocupação da Assembleia
Constituinte residia na elaboração do novo texto constitucional. Refira-se
porém que até à sua aprovação continuou a vigorar a Constituição de
1933, em tudo o que não fosse contrário aos designios do MFA.
Mas essa tarefa esteve longe de ser facilitada, muito por causa dos
conflitos existentes entre Assembleia e Conselho da Revolução, o qual
tinha a competência de fiscalizar a produção do novo texto. De tal modo
que a primeira plataforma de entendimento entre ambos os órgãos
compreendia a existência de nada mais nada menos do que seis órgãos
de soberania, a saber: Presidente da República, Conselho de Revolução,
Assembleia do MFA, Assembleia Legislativa, Governo e Tribunais.
Só após a diminuição da intervenção e poderes do Conselho de
Revolução, com o golpe de 25 de Novembro, é estabelecida a plataforma
que permitirá o desenvolvimento do texto constitucional.
Nesta fase há uma drástica redução da intervenção dos militares nos
órgãos de soberania, desaparecendo mesmo a Assembleia do MFA. O
Conselho de Revolução continuaria a existir, com o objectivo de fiscalizar
a elaboração do texto constitucional, mas teria um prazo de validade até
1982, altura em que foi extinto.
Estabelecida a plataforma de entendimento entre o Conselho de
Revolução e a Assembleia Constituinte, coube a esta última a elaboração
do texto final. Entre os diversos projectos apresentados salientam-se
alguns:
• CDS – Defendia a primazia dos direitos inalianáveis do homem.
Estabelece o pluralismo político, bem como as liberdades democráticas.
Valoriza a iniciativa privada, colocando capital e trabalho em igualdade
institucional.
• PPD – Defendia a a dignidade da pessoa humana e o fim do
autoritarismo do Governo.
• PCP – Defendia a aliança com o MFA e o movimento popular de
massas, numa sociedade socialista com a apropriação dos meios de
produção.
• PS – Defendia a criação de uma sociedade socialista, embora
divergindo quanto aos meios em relação à proposta do PCP.
• MDP/CDE – Defendia o povo, o MFA e a força revolucionária.
Na votação final, o CDS é o único partido a votar contra, declarando na
Assembleia que o texto aprovado representa uma pesada amarra ao
socialismo.
O primeiro texto constitucional em liberdade
A constituição de 76 (ainda em vigor, embora tendo atravessado cinco
processos de revisão) caracteriza-se pela tendência de tentar evitar os
excessos da sociedade da época. Todavia, define-se como sendo muito
extensa, abordando demasiadas matérias para o que é exigido a um texto
constitucional e abre com um preâmbulo sobre o MFA, discutível mas que
ainda se mantém nos dias de hoje.
Ainda assim, alcança os objectivos de consolidar a democracia pluralista,
baseando-se na dignidade, liberdades e garantias da pessoa humana,
embora sejam também significativas as referências ao socialismo
colectivista que as posteriores revisões constitucionais se encarregariam
de eliminar.
Desde logo se firmou também um período temporal de 4 anos (76-80) no
qual não seria possível qualquer revisão constitucional. Esta medida
visava a estabilidade nacional no arranque da democracia então instituída.
As cinco revisões constitucionais do texto de 76
A primeira revisão constitucional, em 1982, é essencialmente política
visando retirar do texto aprovado em 76 diversas expressões de carácter
ideológico referentes ao socialismo, o que seria mais tarde reforçado na
revisão de 89.
Com a adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia, em 1986,
tornou-se necessária uma revisão de carácter económico (1989),
eliminando-se, nomeadamente, o espírito de nacionalização da economia
que ainda presidia ao texto constitucional. Seguiram-se as revisões de
1992, aliada às reestruturações impostas pelo Tratado de Maastricht, bem
como, igualmente breves, as revisões de 1997 e 2001.
CAPÍTULO 3 – A CONSTITUIÇÃO DE 1976, O TEXTO ACTUAL
A organização do poder político
A organização do poder político da república portuguesa vem descrita na
parte 3 da Constituição, compreendendo os artigos 108 a 181.
Desde logo fica definido que o poder político pertence ao povo, sendo
exercido nos termos da Constituição. No artigo 110 são também definidos
os órgãos de soberania da nação, a saber: Presidente da República,
Assembleia da República, Governo e Tribunais. De imediato, no artigo 111,
surgem os princípios de separação e interdependência. Ou seja, os
órgãos de soberania, nomeadamente ao nível do poder político (onde não
incluímos os tribunais), são separados mas interdependentes, na medida
em que existem sempre pontos de contacto. Digam-se como exemplo as
audiências que o Presidente da República estabelece com o Governo ou
partidos com assento parlamentar, ou mesmo o facto da Assembleia ter a
capacidade de votar moções de confiança ou censura ao Governo.
No âmbito das competências do poder político surgem as originárias ou
directas, que resultam da Constituição; e as exclusivas ou reservadas, em
que a Constituição reserva ou afecta a um determinado cargo diversas
competências exclusivas. Contudo, é ainda possível estabelecer uma
distinção entre competências absolutas, que se reportam às matérias
adstritas a um determinado órgão; e competências relativas, quando mais
do que um órgão têm jurisdição sobre a mesma matéria. Refira-se que as
competências absolutas não podem ser transmitidas a qualquer outro
órgão de soberania.
Actos legislativos
São actos legislativos a lei, o decreto-lei e os decretos legislativos
regionais, conforme dispõe o nº 112 da Constituição. A lei emana da
Assembleia da República, os decretos-leis do Governo e os decretos
legislativos regionais das Assembleias Legislativas Regionais dos Açores e
Madeira.
Refira-se, contudo, que as últimas, previstas nos art. 225 e seguintes da
CRP, quase não têm competência legislativa. Refira-se igualmente que
toda a actividade legislativa está subordinada à Constituição e que cada
órgão só pode legislar sobre as matérias em que é competente.
CAPÍTULO 4 – O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
O Presidente da República é o órgão supremo do Estado, na medida em
que é a cúpula da organização política portuguesa. Entre as suas funções,
definidas a partir do art. 120 da CRP, encontramos, desde logo, a garantia
da independencia nacional, da unidade do Estado e do regular
funcionamento das instituições democráticas. Por inerencia de funções é,
igualmente, o comandante supremo das forças armadas. Este aspecto
assume particular importância, na medida em que é um órgão político que
encabeça toda a estrutura militar da nação.
No exercício das suas funções, o Presidente da República dispõe de
poderes próprios, poderes partilhados e poderes de controlo.
São poderes próprios aqueles que se assumem como poderes exclusivos
do Presidente da República, os quais se definem do art. 133 da CRP. São
poderes partilhados aqueles que necessitam da intervenção de outros
órgãos de soberania, nomeadamente os previstos no art. 140 da CRP
quanto às relações com o Governo. Finalmente, são poderes de controlo
aqueles em que o Presidente da República exerce uma função de
fiscalização dos demais órgãos de soberania, nomeadamente o poder de
promulgação e veto, previsto no art. 136 da CRP; ou mesmo o poder de
requerer ao Tribunal Constitucional a fiscalização de inconstitucionalidade
de normas constantes de leis, decretos-leis e convenções internacionais,
como dispõe a alínea g) do art. 134 da CRP.
CAPÍTULO 5 – ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA
A Assembleia da República, como se dispõe a partir do art. 147 da CRP, é
o órgão de soberania representativo de todos os cidadãos portugueses,
sendo o expoente máximo da democracia representativa.
Trata-se de um órgão permanente que se organiza em sessões
legislativas anuais, as quais formam mandatos de quatro anos, ou seja
uma legislatura (174 CRP). Neste âmbito, refira-se que todas as propostas
e projectos-lei renovam-se automaticamente de sessão para sessão, a
não ser quando se verifica o final de uma legislatura, que implica a
eliminação de todos os diplomas não votados.
São órgãos da Assembleia da República: o Presidente; a Mesa (constituída
pelo Presidente e pelos Vice-Presidentes); as Comissões Eventuais de
Inquérito; e as Comissões Permanentes.
No âmbito das suas competências, para além da legislativa – a
competência por excelência, veja-se a electiva que refere que a AR elege,
designadamente, o Provedor da República bem como 10 dos 13 juízes que
compõem o Tribunal Constitucional (163 CRP). Já a competência
fiscalizadora constitui-se como uma fiscalização de carácter político que
incide nomeadamente sobre os actos legislativos do Governo (169 CRP).
Por seu lado, a competência autorizante permite autorizar o Governo e as
Assembleias Legislativas Regionais a legislar sobre matérias pré-
determinadas (161 CRP). Finalmente, indique-se ainda a competência de
representação do Estado Português, embora de forma indirecta, na
medida em que essa competência está adstrita ao Presidente da
República e ao Governo.
Funcionamento
A Assembleia da República só pode funcionar com um mínimo de 46
deputados (dos 230 que a compõem). Contudo este reduzido quórum não
permite ir além do mero funcionamento, pois o quórum deliberativo, para
a grande maioria das matérias, fixa-se em 50% das presenças mais um
deputado, ou seja a Assembleia só tem capacidade para deliberar com o
número mínimo de 116 deputados presentes.
Quanto à aprovação dos actos legislativos, esta carece, na grande maioria
dos casos, de uma maioria simples ou relativa dos deputados presentes.
Ou seja, 50% de votos expressos a favor mais um, não contando para o
efeito as abstenções.
Primado da competência legislativa da Assembleia da República
A Assembleia da República detém o primado da lei, na medida em que a
sua competência é universal, só não estando habilitada a legislar sobre
reduzidas matérias exclusivas do Governo e das Assembleias Legislativas
Regionais. Em tudo o resto pode legislar.
Veja-se a sua vasta reserva absoluta (164 CRP) e relativa (165 CRP) de
produção de actos legislativos. A extensão de competências é
incomparavelmente maior à do Governo, o outro órgão legislativo na
organização política nacional.
Por outro lado, veja-se igualmente o valor reforçado dos actos legislativos
da Assembleia da república, nomeadamente ao nível das leis
constitucionais, das leis orgânicas, das leis de base e mesmo das leis de
autorização legislativa, onde a Assembleia tem a capacidade de conceder
ao Governo (e em alguns casos às Assembleias Legislativas Regionais)
autorizações específicas para legislar no âmbito das suas matérias de
reserva relativa, como o dispõe a alínea d) do art. 161 da CRP.
Mas esta noção do primado da Assembleia revela-se também na
possibilidade que este órgão detém ao nível da fiscalização dos actos
legislativos do Governo. É o que dispõe o art. 169 da CRP, quando diz que
os decretos-leis, salvo os aprovados no exercício da competência
legislativa exclusiva do Governo, podem ser submetidos á apreciação da
Assembleia da República.
No mesmo sentido, mas agora face, tanto ao Presidente como a Tribunal
Constitucional, vai a possibilidade da Assembleia confirmar as leis vetadas
politica ou juridicamente pelo Presidente da República. Observe-se que já
o Governo não tem competência para confirmar um decreto-lei vetado
pelo Presidente da República, restando-lhe nesse caso modificar ou fazer
cair o diploma.
CAPÍTULO 6 – GOVERNO
O Governo é o órgão colegial incumbido do poder governativo. Dispõe de
competências de carácter administrativo, mas também político e
legislativo.
A sua actividade legislativa processa-se através de decretos-leis ou de
propostas de lei, sendo a competência (198 CRP) referente às matérias de
reserva absoluta (198 CRP); à matéria concorrencial, ou seja a que não
está sob reserva da Assembleia da Republica; e à matéria de reserva
relativa da Assembleia, desde que aprovada a respectiva lei de
autorização legislativa.
CAPÍTULO 7 – A LEI
Genericamente, a lei, o elemento mais importante da estrutura normativa,
entende-se não como uma deliberação tomada em relação a um caso
concreto, mas sim em abstracto, tendo em vista regular todos os casos da
mesma natureza que por ela possam ser abrangidos. De igual modo trata-
se de uma deliberação que se destina não a um ou vários indivíduos
determinados, mas sim a todos os que possam ser abrangidos pelas
condições previstas no texto.
Veja-se que a lei pode ser entendida em sentido lato, ou seja enquanto
acto normativo – designadamente, lei da Assembleia da República,
decreto-lei e decreto legislativo regional; ou, então, em sentido restrito,
designando apenas a lei da Assembleia da República. No âmbito da lei em
sentido restrito é possível enunciar duas categorias – as leis de valor
reforçado e as leis ordinárias.
CAPÍTULO 8 – A PIRÂMIDE JURÍDICA
No âmbito da hierarquização da produção legislativa veja-se, desde logo,
a Constituição como norma primária. É ela que identifica as fontes de
direito do ordenamento jurídico nacional; que estabelece os critérios de
validade e eficácia de cada uma das fontes; e que determina a
competência das entidades que revelam as normas de direito.
É, pois, a Constituição que determina quais as fontes de direito do sistema
jurídico nacional: o direito internacional e o direito comunitário (8 CRP); as
convenções colectivas de trabalho (56 CRP); os actos normativos (112
CRP); referendo (115 CRP); as leis da assembleia da república (161, 164 e
165 CRP), os decretos leis do governo (198 CRP); os estatutos das
regiões autónomas (226 CRP); os actos normativos das regiões
autónomas (227 CRP) e os regulamentos das autarquias locais (241 CRP).
É, igualmente, a Constituição que determina os critérios de validade,
eficácia e hierarquia das normas produzidas. Veja-se a este propósito o
art. 112 que refere que lei e decreto-lei têm o mesmo valor podendo
revogar-se mutuamente.
Assumem, todavia, a categoria de leis de valor reforçado as autorizações
legislativas, destinadas ao governo ou às Assembleias Legislativas
Regionais em relação a matérias de reserva relativa da Assembleia da
República; e as leis de bases, as quais se destinam a enquadrar as
grandes linhas programáticas em relação a matérias específicas,
necessitando de posteriores diplomas de desenvolvimento e
operacionalização. Todas as demais caiem sob a alçada de lei ordinária.
É, justamente, no âmbito das leis ordinárias que grande parte da doutrina
enquadra as leis orgânicas, as quais são leis de valor reforçado sobre
matérias de reserva absoluta da Assembleia da República, consideradas
como princípios estruturantes de um Estado de direito democrático. Ao
contrário da lei de bases, a lei orgânica não pressupõe actos legislativos
subsequentes, esgotando-se em si mesma.
Em síntese, as leis não têm todas igual valor, são hierarquizadas, pela
Constituição, num plano vertical, projectando uma pirâmide jurídica
encabeçada pela própria Constituição, que vai ordenando os actos
normativos infra-constitucionais de acordo com os seguintes princípios
básicos: principio da superioridade dos actos legislativos (leis, decretos-
leis e actos legislativos regionais) face aos actos normativos
regulamentares ou estatutários; principio da tendencial paridade,
significando que leis e decretos-leis podem, em princípio, interpretar-se,
suspender-se ou revogar-se reciprocamente; o principio da superioridade
das normas de enquadramento ou paramétricas, nomeadamente as leis
de bases ou de autorização legislativa; e, finalmente, o principio da
inderrogabilidade de norma de grau superior por norma de categoria
inferior.
Veja-se, todavia, que a função ordenadora dos actos normativos não
assenta exclusivamente na categorização vertical dos actos. A outro nível,
a Constituição estabelece, ainda, o princípio da competência, o qual
pressupõe uma delimitação positiva às competências das entidades com
pode de legislar. Veja-se a este propósito as matérias de reserva absoluta
ou relativa da Assembleia da República ou do Gorverno.
CAPÍTULO 9 – PROCESSOS LEGISLATIVOS ESPECIAIS
Os processos legislativos especiais diferem, como é óbvio, dos processos
legislativos comuns, vindo previstos quer na Constituição da República
Portuguesa, quer no Regulamento da Assembleia da República.
Contemplam, designadamente, as leis constitucionais (no âmbito da
revisão constitucional), bem como as declarações do estado de sítio, do
estado de emergência, ou mesmo da guerra e paz.
Revisão constitucional
A aprovação de uma lei constitucional assume-se, desde logo, como um
processo legislativo especial que apresenta limites temporais, formais e
materiais.
Veja-se o limite temporal que adianta que o exercício de competência em
matéria constitucional, como adianta o art. 284 da CRP, presume sempre
um lapso temporal não inferior a cinco anos. Contudo, como refere o nº 2
deste artigo, a Assembleia pode ultrapassar este limite deliberando por
uma maioria de 4/5 dos deputados em efectividade de funções (neste
caso, 184 dos 230 deputados do plenário).
Já o limite de natureza formal (285 CRP) diz respeito à iniciativa, a qual
cabe exclusivamente aos deputados. Ou seja, o Governo não pode
apresentar propostas de lei constitucional.
Os limites materiais vêm consagrados no art. 288 da CRP que estipula as
matérias que não podem ser objecto de revisão constitucional. Este limite
só poderá ser ultrapassado através do instituto da dupla revisão
constitucional. Ou seja, há que retirar da constituição o limite material e só
depois legislar sobre a matéria em particular.
Por seu lado, o limite circunstancial (289 CRP) estipula que não se pode
promover qualquer acto de revisão constitucional perante estados de sítio
ou de emergência.
Refira-se igualmente, neste âmbito, que são três as classificações
possíveis em matéria de revisão constitucional. As constituições flexíveis
permitem a sua alteração através de uma simples lei ordinária, ficando
obviamente à mercê do poder político; as constituições rígidas, por seu
lado, estabelecem no próprio texto constitucional os apertados
mecanismos normativos que permitem a sua revisão; finalmente, as
constituições semi-rígidas estabelecem igualmente os mecanismos para a
sua revisão, embora estes sejam limites mais facilmente ultrapassáveis.
A constituição portuguesa enquadrava-se, já em 76, neste último grupo.
Os limites então impostos à revisão constitucional mantêm-se em vigor
até aos dias de hoje, denominando-se de temporal (cinco anos), formal,
material e circunstancial.
A declaração de guerra e paz
A declaração de guerra e a feitura da paz vêm previstas na CRP (135) e no
RAR (193-198). São declarações que pertencem ao Presidente da
República, muito embora envolvam uma união de vontades da Assembleia
e do Governo.
Ou seja, o Presidente da Republica declara a guerra ou a paz, sob
proposta do Governo (é este O órgão competente para iniciar o processo),
a qual deverá ter obtido, antecipadamente, a respectiva autorização da
Assembleia da Republica.
Autorização e ratificação do estado de sítio ou de emergência
Previstos nos art. 19, 134 e 138 da CRP os estados de sítio e de
emergência apenas podem ser declarados pelo Presidente da República,
o qual terá de ouvir o Governo e de estar munido de uma autorização da
Assembleia da república.
Quando a declaração for autorizada pela comissão permanente, esta terá
de ser confirmada pelo plenário, logo que seja possível reuni-lo.
Leis de autorização legislativa
As leis de autorização legislativa surgem na sequência das matérias de
reserva relativa da Assembleia da República. O Governo, à partida melhor
preparado tecnicamente, poderá legislar sobre estas matérias, desde que
devidamente autorizado, através de uma lei de autorização legislativa.
Reafirme-se, todavia, que esta autorização só poderá decorrer das
matérias constantes no art. 165, o qual se reporta às matérias de reserva
relativa.
Este processo legislativo especial apresenta diversos limites. Desde logo
o limite substantivo o qual é definido logo na autorização legislativa, onde
se apresenta o objecto, o sentido e a extensão da autorização concedida.
Ou seja, o limite substantivo reporta-se à norma de autorização. Por esta
razão, o decreto legislativo autorizado deve enunciar a lei que o autorizou
a legislar (198 3) CRP).
Refira-se que, depois de aprovado o decreto-lei autorizado, a autorização
extingue-se, mesmo para o caso de se pretenderem introduzir alterações.
Haverá, então, necessidade de recorrer a nova autorização.
Já no âmbito da fiscalização da constitucionalidade, diga-se que se a lei
de autorização legislativa for inconstitucional, o decreto-lei subsequente
também o será. Por outro lado, se a lei de autorização for de acordo com a
constituição e o decreto-lei autorizado violar o disposto na lei estaremos,
segundo o que afirma a maioria da doutrina, perante uma situação de
ilegalidade por vício directo, na medida em que a lei de autorização
legislativa está acima do decreto-lei autorizado, devendo-lhe este
obediência. A este propósito é bom recordar que designa-se por
ilegalidade a violação do disposto na lei; sendo a inconstitucionalidade a
violação do disposto na constituição.
Finalmente, refira-se também que, conforme disposto no art. 200 do RAR,
a Assembleia da República não pode conferir autorizações legislativas
sem que estas sejam solicitadas.
CAPÍTULO 10 – INCONSTITUCIONALIDADE
A inconstitucionalidade de uma lei pode ser definida como material, formal
ou orgânica. A material assume-se como a mãe de todas as
inconstitucionalidades, na medida em que as demais são derivadas desta.
A inconstitucionalidade material configura a existência de uma
desconformidade dos actos legislativos com a constituição,
caracterizando-se pela violação de princípios e normas estabelecidas na
constituição.
Já a inconstitucionalidade orgânica reflecte a existência de uma
desconformidade respeitante à competência dos órgãos; enquanto que a
inconstitucionalidade formal ou processual diz respeito à violação de
formalidades estabelecidas na constituição.
Fiscalização da inconstitucionalidade e ilegalidade
A fiscalização da inconstitucionalidade pode ser preventiva, sucessiva ou
por omissão, destinando-se sempre a avaliar da conformidade da norma
(ou diploma) com a Constiuição.
A fiscalização preventiva é necessariamente abstracta, na medida em que
apenas se pode verificar antes da publicação do acto normativo. A sua
análise cabe, exclusivamente, ao Tribunal Constitucional.
A fiscalização sucessiva, verificando-se após a publicação da lei, pode ser
abstracta, analisada exclusivamente pelo Tribunal Constitucional; ou
concreta, também designada processo incidental de constitucionalidade,
podendo ser analisada por todos os tribunais, sendo o Tribunal
Constitucional a última instância. Veja-se, todavia, que o incidente de
constitucionalidade, destina-se, exclusivamente, a avaliar a
constitucionalidade de uma norma aplicada a um caso concreto, só
podendo ser arguido na sequência de um processo a decorrer em
Tribunal. Este processo traduz igualmente o direito de fiscalização dos
juízes relativamente as normas a aplicar ao caso concreto, podendo,
dessa forma, afastar a sua aplicação por inconstitucionalidade. Esta
medida, porém, reporta-se apenas ao caso concreto, não detendo força
obrigatória geral.
Finalmente, a fiscalização por omissão verifica-se quando não existe
legislação subsequente sobre determinada matéria prevista
constitucionalmente, sendo da exclusiva competência do Tribunal
Constitucional.
Em qualquer dos casos, os tribunais assumem invariavelmente uma
postura passiva, na medida em que a inconstitucionalidade só é apreciada
a pedido de um órgão externo, ou seja existe a necessidade de um
impulso exterior para desencadear o processo.
São actos fiscalizáveis as normas de direito internacional público, os actos
legislativos, as normas regimentais, as normas regulamentares, os
decretos normativos do Presidente da República e mesmo as omissões
legislativas.
CAPÍTULO 10 – SISTEMAS DE GOVERNO
Os sistemas de Governo revelam a organização do Estado, fundamentada
nas suas relações inter-orgânicas e nas relações que estabelece com o
poder político. Os mais importantes são: sistema parlamentar, sistema
presidencialista e sistema misto.
Sistema parlamentar
O parlamentarismo caracteriza-se, desde logo, pelo reconhecimento do
parlamento como a fonte de todos os poderes; responsabilidade do
governo perante o parlamento; e pela não eleição directa do chefe de
estado, que em alguns casos é o monarca.
Este é um sistema que estrutura uma forte relação entre parlamento e
Governo, assentando o equilíbrio dos poderes na ideia de colaboração
entre estes dois órgãos.
O poder executivo encontra-se dividido entre o chefe de estado, que
desempenha apenas funções formais, na medida em que não lhe são
atribuídas responsabilidades políticas; e o Governo, que dirige a acção
executiva, sob a orientação directa do primeiro-ministro, chanceler, ou
mesmo presidente do conselho de ministros, consoante os casos. Refira-
se que o governo só pode executar as suas funções se contar com a
confiança parlamentar. Ou seja necessita de uma expressão parlamentar
que suporte as suas políticas.
Por outro lado, o parlamento dispõe de meios de controlo da acção
governativa. O parlamento tem a competência para aprovar actos
legislativos, sem os quais o governo não pode executar as suas funções.
Os deputados podem exigir ao governo as explicações que entenderem
necessárias, podendo votar moções de confiança ou censura à actividade
governativa.
Sistema presidencialista
O sistema presidencialista baseia-se na ideia de separação dos poderes e
da eleição directa do chefe de estado.
Neste sistema pontifica a independência do governo face ao parlamento,
atribuindo-se ao presidente ou chefe de estado as funções de chefe do
executivo. Uma das consequências directas desta noção de
independência entre governo e parlamento está na impossibilidade do
governo provocar a demissão do parlamento.
Sistema misto ou semi-presidencialista
O sistema misto ou semi-presidencialista resulta de uma mistura entre os
sistemas parlamentar e presidencialista, motivando um sistema de
interdependência entre os órgãos de soberania. A organização politica
portuguesa é um dos exemplos a apontar.
Neste sistema existe um chefe de estado, um chefe de governo e um
parlamento. O governo terá de governar mediante a confiança
parlamentar. Já o chefe de estado não exerce apenas funções
representativas, na medida em que executa um papel fundamental na
ligação entre o governo e o parlamento.
O governo responde politicamente perante o parlamento, o qual dispõe de
mecanismo de controlo da acção governativa. Parlamento e governo
respondem igualmente perante o chefe de estado.
FINS DO ESTADO [ARTº. 9º da CRP]
FINS E FUNÇÕES DO ESTADO
ESTADO – É a forma pela qual um grupo se unifica, submetendo-se ao
Direito. O estado á necessário á duração da vida colectiva como obstáculo
à dispersão das actividades individuais, assentando numa consciência do
homem que o concebe como um conjunto de valores.
Nação – A ideia de Nação traduz-se sobretudo na conjugação de factores
históricos e culturais e habitualmente também na partilha de uma língua
comum.
Elementos do Estado:
POVO - conjunto de pessoas que ao Estado se encontram ligadas por
especiais vínculos jurídicos, os vínculos da nacionalidade ou da cidadania,
no qual se incluem os estrangeiros e os apátridas que se encontram no
território do Estado.
População – Designa o conjunto de residentes em dado território,
independentemente de serem nacionais, estrangeiros ou apátridas.
Nacionalidade – Revela a pertença a Nação e não ao Estado, pode
também ser um atributo de pessoas colectivas ou mesmo coisas.
Cidadania – É específico das pessoas singulares, os cidadãos e um
Estado.
PODER POLITICO – é a faculdade de traçar as estruturas e os rumos da
vida em comum, e de impor o acatamento das directivas e das normas
estabelecidas
TERRITÓRIO – É o espaço jurídico próprio do Estado. Significa que só
existe poder do Estado quando ele exerce autoridade em nome próprio
sobre determinado território; este define o âmbito da soberania de um
Estado em relação aos outros; no seu território cada estado tem o direito
de excluir poderes concorrentes de outros Estados; os cidadãos só
podem beneficiar da plenitude de protecção dos seus direitos pelo seu
estado no território deste
Segurança - Visa a estabilidade da comunidade, pois a paz é um elemento
determinante. Poderá ser determinada como a defesa contra o inimigo
externo, a ordem e tranquilidade públicas, a protecção contra as
calamidades naturais e protecção da liberdade das pessoas e de seus
bens.
Bem Estar – Não é só o bem estar dos indivíduos, mas também o bem
estar cultural e espiritual, este pressupõe a satisfação primária do
Homem, nomeadamente a alimentação, vestuário, habitação, protecção
social, e direito ao trabalho.
FUNÇÕES E PODERES DO ESTADO – (separação de poderes)
Legislativa – Assembleia da Republica [Artº. 147º e ss. CRP]
Executiva ou Administrativa – Governo [Artº. 182º e ss. CRP]
Judicial – Tribunais [Artº. 202º e ss. CRP]
Politica – Presidente da Republica [Artº. 120º e ss. CRP]
Limites ao poder do Estado: dentro dos limites territoriais de um Estado
não se exerce qualquer outro poder de natureza semelhante ou análoga
àquele que é exercido pelos órgãos estaduais. O poder do Estado é um
poder unitário. Dentro do respectivo território o poder soberano é do
Estado e não existem quaisquer outras competências autoritárias que não
provenham dos órgãos do Estado que detém o poder político, ou que não
derivem desse poder estadual.
ÓRGÃOS DO ESTADO
PRESIDENTE DA REPUBLICA
O Presidente da República é o órgão supremo do Estado, na medida em
que é a cúpula da organização política portuguesa. Entre as suas funções
[Artº. 120º CRP], encontramos, desde logo, a garantir a independência
nacional, a unidade do Estado e o regular funcionamento das instituições
democráticas e é por inerência de funções é, igualmente, o comandante
supremo das forças armadas. Este aspecto assume particular
importância, na medida em que é um órgão político que encabeça toda a
estrutura militar da nação. - Exerce predominantemente a função politica,
mas tem um freio legislativo [Artº. 134º CRP]
No exercício das suas funções, o Presidente da República dispõe de
poderes próprios, poderes partilhados e poderes de controlo.
Relativamente aos poderes do P.R., não se fala em separação de poderes
mas sim em equilíbrio de poderes, nomeadamente o poder de Indultar
(perdoar penas) e de Comutar (mudar a pena).
Poderes próprios [Artº. 133º CRP], aqueles que se assumem como
poderes exclusivos do Presidente da República.
Poderes partilhados [Artº. 140º CRP], aqueles que necessitam da
intervenção de outros órgãos de soberania, quanto às relações com o
Governo.
Poderes de controlo são aqueles em que o P. R. exerce uma função de
fiscalização dos demais órgãos de soberania, nomeadamente o poder de
promulgação e veto [Artº. 136º CRP]; ou mesmo o poder de requerer ao
Tribunal Constitucional a fiscalização de inconstitucionalidade de normas
constantes de leis, decretos-leis e convenções internacionais [Artº. 134º
alínea g) CRP].
ASSEMBLEIA DA REPUBLICA
A AR é o órgão de soberania representativo de todos os cidadãos
portugueses [Artº. 147º CRP], sendo o expoente máximo da democracia
representativa.
Os deputados não representam quem os elegeu mas representam todos
os eleitores. São propostos pelos partidos políticos uma vez que são
eleitos pelos votos dos partidos político e a partir da data em que são
eleitos dependem politicamente dos partidos políticos.
A AR, goza ainda de poderes constitucionais, uma vez que pode fazer
Leis.
Trata-se de um órgão permanente que se organiza em sessões
legislativas anuais, as quais formam mandatos de quatro anos, ou seja
uma legislatura [Artº. 174º CRP]. Neste âmbito, refira-se que todas as
propostas e projectos-lei renovam-se automaticamente de sessão para
sessão, a não ser quando se verifica o final de uma legislatura, que implica
a eliminação de todos os diplomas não votados.
São órgãos da Assembleia da República: o Presidente; a Mesa (constituída
pelo Presidente e pelos Vice-Presidentes); Deputados individualmente
considerados [Artº. 156º CRP]; Comissões Permanentes; Comissões
Parlamentares; Grupos Parlamentares [Artº. 180º CRP]; Comissões
Eventuais de Inquérito [Artº. 178º CRP]. Os deputados podem renunciar
sem perda de mandato [Artº 160, nº 2 CRP]; O Plenário ratifica as Leis
aprovadas pelas Comissões; As Comissões [Artº. 178º CRP] são
constituídas por Grupos Parlamentares]; A Lei é aprovada na
especialidade pelas Comissões; O presidente do Grupo Parlamentar faz a
ligação entre os deputados e o partido; o mínimo de deputados que um
Grupo parlamentar pode ter é de 4 deputados.
No âmbito das suas competências [Artº. 161º, 164º, 165º CRP], para além
da Função Legislativa – a competência por excelência, tem a Função
Electiva [Artº. 163º alínea h) CRP] ou seja competência para a eleição de
determinados órgãos constitucionais ou de alguns membros destes,
designadamente, o Provedor da República bem como 10 juízes que
compõem o Tribunal Constitucional, o Provedor de Justiça, o Presidente
do Conselho Económico e Social, 7 vogais do Conselho Superior de
Magistratura e membros da Alta Autoridade para a Comunicação Social.
Já a Função de Controlo ou de Fiscalização [Artº. 162º CRP], constitui-se
como uma fiscalização de carácter político que incide nomeadamente
sobre os actos legislativos do Governo e da Administração. A Função
Autorizante permite autorizar o Governo e as Assembleias Legislativas
Regionais a legislar sobre matérias pré-determinadas, nomeadamente
autorizar o Governo a contrair ou conceder empréstimos, declaração ou
confirmação do estado de sítio e estado de emergência, autorização da
declaração de guerra ou feitura da paz, autorizações legislativas [Artº.
161º, alíneas h), l), m) e d) CRP] Ainda a Função de Representação do
Estado Português, embora de forma indirecta, na medida em que essa
competência está adstrita ao Presidente da República e ao Governo, no
entanto pode fazê-lo através da aprovação de tratados de amizade de
paz, de defesa, de rectificação de fronteiras e respeitantes a assuntos
militares. Por ultimo a Função Europeia, que se traduz num conjunto de de
competências constitucionalmente atribuídas à AR, com a finalidade de
acompanhar e participar na construção da União Europeia [Artºs. 7º, nº 6,
161º alínea n) e 163º alínea f) CRP]
Funcionamento
A Assembleia da República só pode funcionar com um mínimo de 46
deputados (dos 230 que a compõem). Contudo este reduzido quórum não
permite ir além do mero funcionamento, pois o quórum deliberativo, para
a grande maioria das matérias, fixa-se em 50% das presenças mais um
deputado, ou seja a Assembleia só tem capacidade para deliberar com o
número mínimo de 116 deputados presentes.
Quanto à aprovação dos actos legislativos, esta carece, na grande maioria
dos casos, de uma maioria simples ou relativa dos deputados presentes.
Ou seja, 50% de votos expressos a favor mais um, não contando para o
efeito as abstenções.
Primado da competência legislativa da Assembleia da República
A Assembleia da República detém o primado da lei, na medida em que a
sua competência é universal, só não estando habilitada a legislar sobre
reduzidas matérias exclusivas do Governo e das Assembleias Legislativas
Regionais. Em tudo o resto pode legislar.
Veja-se a sua vasta Reserva Absoluta [Artº. 164º CRP] e Reserva Relativa
[Artº. 165º CRP] de produção de actos legislativos. A extensão de
competências é incomparavelmente maior à do Governo, o outro órgão
legislativo na organização política nacional.
Por outro lado, veja-se igualmente o valor reforçado dos actos legislativos
da Assembleia da república, nomeadamente ao nível das leis
constitucionais, das leis orgânicas, das leis de base e mesmo das leis de
autorização legislativa, onde a Assembleia tem a capacidade de conceder
ao Governo (e em alguns casos às Assembleias Legislativas Regionais)
autorizações específicas para legislar no âmbito das suas matérias de
reserva relativa [Artº. 161º, alínea d) CRP].
Mas esta noção do primado da Assembleia revela-se também na
possibilidade que este órgão detém ao nível da fiscalização dos actos
legislativos do Governo. É o que dispõe o [Artº. 169º da CRP], quando diz
que os decretos-leis, salvo os aprovados no exercício da competência
legislativa exclusiva do Governo, podem ser submetidos á apreciação da
Assembleia da República.
No mesmo sentido, mas agora face, tanto ao Presidente como a Tribunal
Constitucional, vai a possibilidade da Assembleia confirmar as leis vetadas
politica ou juridicamente pelo Presidente da República. Observe-se que já
o Governo não tem competência para confirmar um decreto-lei vetado
pelo Presidente da República, restando-lhe nesse caso modificar ou fazer
cair o diploma.
GOVERNO
O Governo é incumbido do poder governativo, ou seja é um órgão
constitucional de soberania com competência para a condução da politica
geral do país e que superintende a administração publica [Artº. 182º
CRP]. Dispõe de competências de carácter administrativo, mas também
político e legislativo.
Trata-se de um órgão colegial (pois é formado por várias pessoas) e órgão
complexo (constituído por vários órgãos), pois é institucionalmente
constituído por três órgão necessários, distintos e conexionados [Artº.
183º. CRP] (Primeiro Ministro, Conselho de Ministros e Ministros
individualmente considerados), pelo que a CRP lhe atribui determinadas
competências [Artº. 197º, 198º, 199º CRP].
O Governo, embora seja responsável perante o PR e a AR [Artº. 190 CRP],
não é uma comissão do parlamento nem um executivo submetido ao PR, é
pois um órgão de competência autónomo com competência politica,
legislativa e administrativa, especificas.
Princípio da Solidariedade [Artº. 189º CRP], um ministro é individualmente
responsável pelos seus actos, mas também o é enquanto membro do
Governo. O Governo é um órgão colegial hierarquicamente estruturado,
ou seja os membros do Governo não têm todos a mesma hierarquia.
O Governo dispõe do poder de auto-organização, ou seja a tomada de
medidas destinadas à formação do Governo, à sua organização interna e
ao seu funcionamento, esta organização é considerada competência
legislativa reservada do Governo [Artº. 198º, nº 2 CRP].
O Primeiro-ministro é o “primus inter pares”, a sua posição dirigente é
preeminente e resulta de vários factores, é responsável perante o PR
[Artº. 191º, nº 1 CRP]; os vice-primeiros-ministros e os restantes
ministros, são nomeados pelo PR, sobre proposta do Primeiro-ministro e
responsáveis perante este [Artº. 187, nº 2 e 191º, nº 2 CRP]; Compete-lhe
dirigir a politica geral do Governo [Artº. 201, nº 1, alínea a) e b) CRP]; a sua
demissão implica a demissão de todo o Governo [Artº. 195, alínea b) CRP]
No Governo é ao Conselho de Ministros a quem competem as funções
politicas mais importantes [Artº. 200º CRP], nomeadamente a definir as
linhas gerais da política governamental e da sua execução; aprovação de
propostas de Lei e de resolução; aprovação de Decretos-lei de execução
de politicas governamentais; actos originadores do aumento ou
diminuição de receitas de despesas publicas.
Privipio da Repartição de Competências [Artº. 189º CRP] Cada ministro
possui um domínio material, ou seja dirige a organização administrativa do
seu departamento, é politicamente responsável perante o Primeiro-
ministro e no âmbito da responsabilidade politica do Governo é
responsável perante a AR.
A sua actividade legislativa processa-se através de decretos-leis ou de
propostas de lei, sendo a competência referente às matérias de reserva
absoluta [Artº. 198º CRP]; à matéria concorrencial, ou seja a que não está
sob reserva da Assembleia da Republica; e à matéria de reserva relativa
da Assembleia, desde que aprovada a respectiva lei de autorização
legislativa.
A Teoria da Separação dos Poderes ou da Tripartição dos Poderes do
Estado é a teoria de ciência política desenvolvida por Montesquieu, no
livro O Espírito das Leis (1748), que visou moderar o Poder do Estado
dividindo-o em funções, e dando competências a órgãos diferentes do
Estado. As ideias de Montesquieu partiram principalmente das teses
lançadas por John Locke, ainda que implicitamente, cerca de cem anos
antes. A ideia da existência de três poderes, outrossim, não é nova,
remontando a Aristóteles, na obra Política.No Espírito das Leis,
Montesquieu, analisa as relações que as leis têm com a natureza e os
princípios de cada governo, desenvolvendo a teoria de governo que
alimenta as ideias do constitucionalismo. Neste, busca-se distribuir a
autoridade por meios legais, de modo a evitar o arbítrio e a violência. Tais
ideias se encaminham para a melhor definição da separação dos poderes,
ainda hoje uma das pedras angulares do exercício do poder democrático.
Montesquieu admirava a Constituição inglesa, mesmo sem compreendê-
la completamente, e descreveu cuidadosamente a separação dos poderes
em Executivo, Judiciário e Legislativo, trabalho que influenciou os
elaboradores da Constituição dos Estados Unidos. O Executivo seria
exercido por um rei, com direito de veto sobre as decisões do parlamento.
O poder legislativo, convocado pelo executivo, deveria ser separado em
duas casas: o corpo dos comuns, composto pelos representantes do
povo, e o corpo dos nobres, formado por nobres, hereditário e com a
faculdade de impedir (vetar) as decisões do corpo dos comuns. Essas
duas casas teriam assembleias e deliberações separadas, assim como
interesses e opiniões independentes. Reflectindo sobre o abuso do poder
real, Montesquieu conclui que "só o poder freia o poder", no chamado
"Sistema de Freios e Contrapesos" (Checks and balances), daí a
necessidade de cada poder manter-se autónomo e constituído por
pessoas e grupos diferentes
O PODER EXECUTIVO é um dos poderes governamentais, segundo a
teoria da separação dos poderes, cuja responsabilidade é de implementar,
ou executar, as leis e a agenda diária do governo ou do estado. De facto, o
poder executivo de uma nação é regularmente relacionado ao próprio
governo. O poder executivo pode ser representado, em nível nacional, por
apenas um órgão (presidência da república, no caso de um
presidencialismo), ou pode ser dividido (parlamento e coroa real, no caso
de monarquia constitucional)
O poder executivo varia de país a país. Nos países presidencialistas, o
poder executivo é representado pelo seu presidente, que acumula as
funções de chefe de governo e chefe de estado. Nos países
parlamentaristas, o poder executivo fica dividido entre o primeiro-
ministro, que é o chefe de governo, e o monarca (geralmente rei), que
assume o cargo de chefe de estado. Em regimes totalmente monárquicos,
o monarca assume, assim como o presidente, as funções de chefe do
governo e do estado.
O executivo, porém, nem sempre se resume somente aos chefes. Em
regimes democráticos, o presidente ou o primeiro-ministro conta com seu
conselho de ministros, assessores, entre outros.
O poder executivo é o poder de judiciar, criar leis.
No sistema de três poderes proposto por Montesquieu, o poder executivo
é representado pelos judiciários, homens que devem elaborar as leis que
regulam o Estado. O poder legislativo na maioria das repúblicas e
monarquias é constituído por um congresso, parlamento, assembleias ou
câmaras.
O objectivo do poder executivo é elaborar normas de direito de
abrangência geral (ou, raramente, de abrangência individual) que é
estabelecida aos cidadãos ou às instituições públicas nas suas relações
recíprocas.
Em regimes ditatoriais o poder executivo é exercido pelo próprio ditador
ou por câmara judiciária nomeada por ele.
Entre as funções elementares do poder executivo está a de fiscalizar o
poder executivo, votar leis orçamentárias, e, em situações específicas,
julgar determinadas pessoas, como o Presidente da República ou os
próprios membros da assembleia
O PODER LEGISLATIVO é o poder de legislar, criar leis.
No sistema de três poderes proposto por Montesquieu, o poder legislativo
é representado pelos legisladores, homens que devem elaborar as leis
que regulam o Estado. O poder legislativo na maioria das repúblicas e
monarquias é constituído por um congresso, parlamento, assembleias ou
câmaras.
O objectivo do poder legislativo é elaborar normas de direito de
abrangência geral (ou, raramente, de abrangência individual) que são
estabelecidas aos cidadãos ou às instituições públicas nas suas relações
recíprocas.Em regimes ditatoriais o poder legislativo é exercido pelo
próprio ditador ou por câmara legislativa nomeada por ele.Entre as
funções elementares do poder legislativo está a de fiscalizar o poder
executivo, votar leis orçamentárias, e, em situações específicas, julgar
determinadas pessoas, como o Presidente da República ou os próprios
membros da assembleia.
O PODER JUDICIAL ou Poder judiciário é um dos três poderes do Estado
moderno na divisão preconizada por Montesquieu em sua teoria da
separação dos poderes.Ele possui a capacidade de julgar, de acordo com
as leis criadas pelo poder legislativo e de acordo com as regras
constitucionais em determinado país.
O SISTEMA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
Estrutura e Tipos de Direitos e Deveres Fundamentais
Direitos do Homem e Direitos Fundamentais
As expressões direitos do homem e direitos fundamentais são
frequentemente utilizadas como sinónimas. Direitos do homem são
direitos válidos para todos os povos e em todos os tempos, Direitos
Fundamentais são os direitos do homem juridico-institucionalmente
garantidos e limitados espacio-temporalmente.
Direitos do Homem e Direitos do Cidadão
Os primeiros pertencem ao homem enquanto tal, os segundos pertencem
ao homem enquanto ser social.
Direitos Naturais e Direitos Civis
Os direitos naturais como o nome indica eram inerentes ao individuo e
anteriores a qualquer contrato social, os direitos civis são os chamados
civil rights ou seja os direitos pertencem ao individuo como cidadão.
Direitos Civis e Liberdades ou Direitos Políticos
Os direitos civis são reconhecidos pelo direito positivo, a todos os homens
que vivam em sociedade, os direitos políticos só são atribuídos aos
cidadãos activos.
Direitos Civis e Direitos ou Liberdades Individuais
Aqui não há qualquer contraposição: os direitos civis depois de
esvaziados dos direitos políticos, passam a ser considerados como
direitos individuais ou liberdades individuais.
Direitos e Liberdades Públicas
Visa defender a esfera dos cidadãos perante a intervenção do estado, daí
o nome de direitos de liberdade.
Direitos e Garantia
As garantias traduziam-se quer no direito dos cidadãos a exigir dos
poderes públicos a protecção dos seus direitos, quer no reconhecimento
de meios processuais adequados a essa finalidade.
Direitos Fundamentais e Direitos de Personalidade
Os direitos de personalidade abarcam certamente os direitos do estado,
Ex. O direito de cidadania, os direitos sobre a própria pessoa, (direito à
vida, à integridade moral e física e direito à privacidade)
Direitos Liberdades e Garantias e Direitos Económicos, Sociais e Culturais
È uma distinção particularmente importante no plano do direito
constitucional positivo e no plano do direito internacional. Quanto ao
direito constitucional vigente basta dizer que assenta na distinção entre
direitos liberdades e garantias. Direitos sociais económicos e culturais,
são direitos constantes dos dois pactos internacionais das nações unidas.
Direitos Liberdades e Garantias e Direitos Sociais
Os Direitos Liberdades e garantias
Uma das classificações mais importantes sob o ponto de vista jurídico-
constitucional, é a que se refere aos direitos liberdades e garantias.
Não obstante de se tratar de uma classificação a vários titulos relevante,
nem por isso se torna fácil desvendar os traços especificos dos direitos,
liberdades e garantias relativamente aos outros direitos. Como critérios
tendenciais apontan-se os seguintes:
- O critério do radical subjectivo.
Trata-se de um critério não constitucionalmente adequado, pois é a
própria constituição que inclui na categoria de direitos, liberdades e
garantias, direitos das pessoas colectivas, designadamente direitos de
organizações politicas e sociais.
- O critério da natureza defensiva e negativa
Em termos sintéticos, a ideia central deste critério seria a seguinte:
direitos, liberdades e garantias são os direitos de liberdade, cujo o
destinatário e o estado que tem como objectivo a obrigação de abstenção
do mesmo relativamente á esfera juridica-subjectiva, por eles definida e
protegida.
- O critério da determinação ou determinabilidade constitucional do
coteúdo.
São direitos liberdades e garantias aqueles cujo o contéudo é
essencialmente determinado ao nivel das opções constitucionais, não são
direitos liberdades e garantias aqueles que só se tornam liquidos e certos
no plano da legislação ordinária, isto é aqueles cujocontéudo é
essencialmente determinado por opções do legislador ordinário.
Direitos Económicos e Sociais e Culturais
São apenas direitos diferentes destes, sujeitos ao regime geral dos
direitos fundamentais, mas não benefeciando do regime especial dos
direitos, liberdades e garantias ( a não ser que constituam direitos de
natureza análoga aos direitos liberdades e garantias.
Muitos destes direitos consistem em direitos e prestações ou actividades
do estado.
Regime Geral dos Direitos Fundamentais
É um regime aplicável a todos os direitos fundamentais, querem sejam
consagrados como direitos, liberdades e garantias ou como direitos
económicos, sociais e culturais, e quer se encontrem no catálogo dos
direitos fundamentais ou fora desse catálogo dispersos pela Constituição.
O Principio da Universalidade
O princípio geral, está consagrado no Art.º12, os direitos fundamentais
são direitos de todos, são direitos humanos e não apenas direitos dos
cidadãos portugueses, a não ser quando a constituirão ou a lei (com
autorização constitucional), estabeleça uma reserva dos direitos para os
nacionais.
- Direitos dos cidadãos portugueses, direitos de cidadãos de países de
lingua portuguesa, direitos de cidadãos da união euroupeia e direitos de
estrangeiros e apátridas.
- Direitos fundamentais de cidadãos portugueses residentes no
estrangeiro
- Direitos fundamentais das pessoas colectivas
- Direitos fundamentais colectivos
- Titularidade e capacidade de direitos
O Principio da Igualdade
- Igualdade na aplicação do direito e igualdade na criação do direito
- Principio da igualdade e igualdade de oportunidade
- A igualdade perante os encargos públicos
- Principio da igualdade e principio da igualdade (ou direitos de igualdade)
- A dimensão objectiva do principio da igualdade
O Principio de Acesso ao Direito e da Garantia da Tutela Jurisdicional
Efectiva
O terceiro princípio do regime geral dos direitos fundamentais é o
princípio do acesso ao direito e aos tribunais.
Casos Especiais de Restrição de Direitos Fundamentais
- Perda de Direitos
O sistema de protecção constitucional dos direitos fundamentais não
tolera ideias avançadas noutros quadrantes jurídicos como a da perda de
direitos fundamentais pela sua utilização abusiva. Este instituto está
previsto na Constituição de Bona.
- Renuncia de Direitos
Esta concepção esta particularmente radicada nos casos referidos na
exposição subsequente e nela se coloca a questão da protecção de
direitos fundamentais contra o próprio titular.
- Relações Juridicas Especiais
Nos casos de relação juridica especiais ou de relações especiais de poder,
a renúncia deduzir-se-ia do princípio. Os cidadãos submeteriam-se
voluntáriamente á diminuição dos seus direitos fundamentais.
- Renuncia contratual
O princípio da autonomia contratual justificava à semelhança do princípio,
uma redução do alcance do princípio da reserva de lei restritiva, de
qualquer modo a renúncia a direitos fundamentais.
Meios de Defesa Jurisdicional
- A garantia de acesso aos tribunais
É considerada como uma concretização do princípio estruturante do
estado de direito. Neste momento trata-se apenas de estabelecer o
conteúdo desta garantia jurídico – constitucional sob o ponto de vista da
defesa dos direitos fundamentais.
- Protecção através de um processo justo
- O direito à tutela jurisdicional
- Dimensões jurídico constitucionais do direito ao processo equitativo
. Direito a uma decisão fundada no direito
. Direito a pressupostos constitucionais materialmente adequados
. Protecção jurídica eficaz e temporalmente adequada
. Direito à execução dos tribunais
. Dimensões garantísticas e dimensões prestacionais
A CONSTITUIÇÃO E A DEMOCRACIA PORTUGUESA
1. A história política e constitucional portuguesa
Existe em Portugal – como em qualquer outro país – uma relação
constante entre história política e história constitucional. Por um lado, aqui
como por toda a parte, são os factos decisivos da história política que,
directa ou indirectamente, provocam o aparecimento das Constituições, a
sua modificação ou a sua queda. Por outro lado, contudo, as
Constituições, na medida em que consubstanciam ou condicionam certo
sistema político e na medida em que se repercutem no sistema jurídico e
social vêm a ser elas próprias, igualmente, geradoras de novos factos
políticos.
Daí que, sem se confundirem as perspectivas peculiares de uma e outra,
seja possível e necessário considerar em conjunto a história portuguesa
dos últimos duzentos anos a partir de três grandes períodos: o período
das Constituições liberais, o da Constituição de 1933 e o da Constituição
de 1976. É uma divisão muito mais significativa do que o contraste entre
constitucionalismo monárquico e republicano.
A época liberal vai de 1820 a 1926. Durante ela sucedem-se quatro
Constituições – de 1822, de 1826, de 1838 e de 1911 – que se repartem
por diferentes vigências; há duas efémeras restaurações do antigo
regime; e passa-se da monarquia à república. E, à distância, as principais
diferenças entre essas Constituições (relativas aos poderes recíprocos do
Rei ou Presidente e do Parlamento e à forma de eleição deste) parecem
bem menores do que aquilo que as une (a separação de poderes e os
direitos individuais).
Vem a seguir, entre 1926 e 1974, a quase obnubilação do Estado
constitucional, representativo e de Direito ou, doutro prisma, a pretensão
de se erguer um constitucionalismo diferente, um “Estado Novo”, um
constitucionalismo corporativo e autoritário. Eis o período da Constituição
de 1933 (apesar de tudo, uma Constituição, ao contrário do que se
passou em Itália, Alemanha e Espanha), cujo despontar não surpreende
no paralelo com a situação europeia dos anos 20 e 30, mas cuja longa
duração não se afigura facilmente explicável.
Com a revolução de 1974, entra-se na época actual – muito recente e já
muito rica de acontecimentos, ideologias e contrastes sociais e políticos –
em que o país se encaminha para um regime democrático pluralista (ou de
liberalismo político) com tendências descentralizadoras, por um lado, e
socializantes, por outro lado. A Constituição de 1976, resultante dessa
revolução, significa, em primeiro lugar, o termo daquele interregno e,
depois, a abertura para horizontes e aspirações de Estado social e de
Estado de Direito democrático. E só nesta altura pode falar-se em
constitucionalismo democrático, porque só agora está consignado o
sufrágio universal.
2. A Revolução do 25 de Abril e a Constituição de 1976
Não houve só o 25 de Abril de 1974. Houve também o 25 de Abril de 1975
e o 25 de Abril de 1976 – a eleição da Assembleia Constituinte e a entrada
em vigor da nova Constituição. E pode perguntar-se qual foi mais
importante se o primeiro ou se o segundo 25 de Abril.
Por certo, não teria havido o segundo, se não tivesse havido o primeiro.
Contudo, no contexto, em que se realizou, foi essa eleição que determinou
o rumo do processo revolucionário e que fez interpretação autêntica do
Programa do Movimento das Forças Armadas contra desvios totalitários e
autoritários que então procuravam prevalecer.
Participando a mais de 91%, os Portugueses criaram uma legitimidade
democrática que iria sobrepor-se à legitimidade revolucionária; e,
conferindo mais de 70% de votos aos partidos identificados com a
democracia representativa e pluralista, fizeram uma opção clara e
irreversível por esta forma de governo.
Depois, a Assembleia Constituinte (com 214 Deputados daqueles partidos
em 250) soube estar à altura da sua missão, consagrando um período de
antes da ordem do dia para intervenções sobre a realidade quotidiana do
país; debatendo, muitas vezes com grande qualidade, as questões
políticas e jurídicas da Constituição; e fazendo – por sinal nas semanas em
que as cúpulas político-militares em Lisboa pareciam mais adversas –
opção pela prioridade dos direitos fundamentais sobre a organização
económica, por um regime reforçado e por um catálogo minucioso de
direitos, liberdades e garantias, pela divisão do poder, pelos direitos de
oposição, pela alternância, pelo papel do Parlamento e pela
descentralização.
Fiel ao seu mandato, nunca a Assembleia cedeu perante ameaças ou
tentativas de coacção. Sofreu, como não podia deixar de ser, a influência
do ambiente do país e da época (traduzido em algumas proclamações
ideologicamente marcadas, sem verdadeiro conteúdo preceptivo); e,
tendo em conta a sua composição partidária, aprovou disposições de teor
socialista ou socializante; mas fazer depender a sua concretização da
intervenção do legislador assente no princípio democrático – conforme a
jurisprudência constitucional e sucessivas revisões viriam depois a
confirmar.
A entrada em vigor da Constituição em 25 de Abril e a entrada em
funcionamento do sistema de órgãos de soberania em 14 de Julho de
1976 marcariam o início da democracia institucionalizada.
3. Carácter geral da Constituição
I – A Constituição de 1976 é a mais vasta e a mais complexa de todas as
Constituições portuguesas – por receber os efeitos do denso e
heterogéneo processo político do tempo da sua formação, por aglutinar
contributos de partidos e forças sociais em luta, por beber em diversas
internacionais ideológicas e por reflectir (como não podia deixar de ser) a
anterior experiência constitucional do país.
É uma Constituição-garantia e uma Constituição prospectiva. Tendo em
conta o regime autoritário derrubado em 1974 e o que foram ou poderiam
ter sido os desvios de 1975, é uma Constituição muito preocupada com os
direitos fundamentais dos cidadãos e dos trabalhadores e com a divisão
do poder. Mas, surgida em ambiente de repulsa do passado próximo e em
que tudo parecia possível, procura vivificar e enriquecer o conteúdo da
democracia, multiplicando as manifestações de igualdade efectiva,
participação, intervenção, socialização, numa visão ampla e não sem
alguns ingredientes de utopia.
Mas foi porque uns temiam pelas liberdades, outros pelos direitos dos
trabalhadores, outros pelas nacionalizações e pela reforma agrária, outros
pelo
Parlamento e pela separação dos poderes, outros ainda pela
descentralização regional e local, que a Constituição acabou por ficar
como ficou.
II – Como marcas de originalidade (ou de relativa originalidade) da
Constituição apontem-se:
– O dualismo complexo das liberdades e garantias e de direitos
económicos, sociais e culturais e o enlace entre eles operado,
designadamente pelo art. 17º;
– A constitucionalização de novos direitos e da vinculação das entidades
privadas pelos direitos, liberdades e garantias;
– A recepção formal da Declaração Universal dos Direitos do Homem
enquanto critério de interpretação e integração das normas sobre direitos
fundamentais;
– A perspectiva universalista traduzida no princípio da equiparação de
direitos de portugueses e estrangeiros, nas garantias da extradição e da
expulsão, na previsão do estatuto de refugiado político e, após 1982, na
assunção do respeito dos direitos do homem como princípio geral das
relações internacionais;
– O apelo à participação dos cidadãos, associações e grupos diversos nos
procedimentos legislativos e administrativos;
– O tratamento sistemático prestado às eleições, aos partidos, aos grupos
parlamentares e ao direito de oposição;
– A redobrada preocupação com os mecanismos de controlo recíproco
dos órgãos de poder e a constitucionalização do Ombudsman (o Provedor
de Justiça);
– A coexistência de semipresidencialismo a nível de Estado, sistema de
governo parlamentar a nível de regiões autónomas e sistema directorial a
nível de municípios;
– O sistema abrangente de fiscalização da constitucionalidade – concreta
e abstracta, de acção e de omissão, preventiva e sucessiva – e o carácter
misto de fiscalização concreta, com competência de decisão de todos os
tribunais e recurso, possível ou necessário, para a Comissão
Constitucional, primeiro, e depois para o Tribunal Constitucional.
Os constituintes pretenderam ainda construir uma organização económica
nova, conjugando o princípio da apropriação colectiva dos principais
meios de produção, um socialismo autogestionário e a iniciativa privada. A
realidade do país, as revisões constitucionais e a integração comunitária
viriam mostrar que só poderia subsistir se entendida como economia
mista ou pluralista, algo diferente, mas não oposta ao modelo típico de
Estado social europeu.
4. As revisões constitucionais
I – Se a Constituição trouxe a estabilização política segundo um modelo
institucional idêntico ou análogo ao das democracias ocidentais, a sua
entrada em vigor não significou o apaziguamento ou o consenso
constitucional no país. Pelo contrário, desde o início, o debate à volta da
Constituição de 1976 assumiu um relevo inédito, por vezes excessivo e,
em 1980, quase dramático.
Nem isso surpreende a quem evoque o paralelo com outros momentos
dos séculos XIX e XX e, mais de perto, as vicissitudes e as sucessivas
atitudes políticas que acompanharam a feitura da Constituição. No
entanto, ao invés do
que sucedeu nessas épocas, não houve mais alterações ou rupturas da
ordem constitucional e a Constituição pôde ir-se adaptando à realidade e
a novas circunstâncias e enraizando-se na consciência cívica.
II – Globalmente, assinalaram a revisão de 1982:
a) A redução das marcas ou expressões ideológico-conjunturais vindas de
1975 e, em particular, a supressão das referências ao socialismo em todos
os artigos, salvo no 2º (a ponto de se poder questionar se o socialismo
tinha ou conservava, doravante, qualquer sentido autónomo);
b) O aperfeiçoamento dos direitos fundamentais e a clarificação da
Constituição económica numa linha de economia pluralista;
c) A extinção do Conselho da Revolução e o termo das funções políticas
das Forças Armadas;
d) Em conexão com essa extinção, o repensar das relações entre o
Presidente da República, a Assembleia da República e o Governo, com
reflexos no sistema político, e a criação de um Tribunal Constitucional.
III – Centrada na organização económica, a revisão constitucional de 1989
não se esgotou, porém, aí:
a) Supressão quase completa das menções ideológico-proclamatórias
que ainda restavam após 1982;
b) Aprofundamento de alguns direitos fundamentais, mormente os dos
administrados;
c) Supressão da regra da irreversibilidade das nacionalizações posteriores
a 25 de Abril de 1974, e, em geral, aligeiramento da parte da organização
económica;
d) Reformulação parcial do sistema de actos legislativos;
e) Introdução do referendo político a nível nacional, embora em moldes
muito prudentes;
f) Modificação de três das alíneas do art.º 290º sobre limites materiais da
revisão constitucional.
IV – A revisão de 1992 – provocada pelo Tratado de Maastricht, da União
Europeia – incidiu nas transformações por ele exigidas:
a) No art. 7º da Constituição (sobre relações internacionais), aditou-se um
nº 6, dizendo: “Portugal pode, em condições de reciprocidade, com
respeito pelo princípio da subsidiariedade e tendo em vista a realização do
princípio da coesão económica e social, convencionar o exercício em
comum dos poderes necessários à construção da união europeia”;
b) No art. 15º, consagrou-se a possibilidade de atribuição, em condições
de reciprocidade, de capacidade eleitoral a cidadãos de países membros
da União Europeia residentes em Portugal na eleição de Deputados por
Portugal ao Parlamento Europeu;
c) Alterou-se o art.º 105.º (sobre o Banco de Portugal) para permitir a
adopção da eventual moeda única europeia.
V – Em síntese, a revisão constitucional de 1997 traduziu-se em:
a) Desenvolvimento da matéria dos direitos fundamentais e das
correspondentes incumbências do Estado;
b) Relativa acentuação do papel da iniciativa privada dentro da
organização económica;
c) Desconstitucionalização de vários aspectos do sistema político (colégio
eleitoral do Presidente da República, composição e sistema eleitoral da
Assembleia da República, órgãos executivos locais, regiões
administrativas);
d) Reforço de mecanismos de participação dos cidadãos (participação no
planeamento urbanístico, referendos nacionais, regionais e locais,
iniciativa popular, possibilidade de círculos uninominais, candidaturas
independentes às eleições locais);
e) Desenvolvimento dos poderes das regiões autónomas (no plano
legislativo, tributário, administrativo e europeu), bem como das autarquias
locais;
f) Aumento dos poderes formais da Assembleia da República e aumento
do número de matérias que exigem maioria qualificada de aprovação;
g) Reforço do Tribunal Constitucional (com novas competências relativas
aos partidos e às assembleias políticas e maiores garantias de
independência dos juízes).
VI – À semelhança do que acontecera em 1992, também em 2001 foi
desencadeado um processo de revisão constitucional por causa de um
tratado: o tratado constitutivo do Tribunal Penal Internacional assinado em
Roma em 1998.
Feita para permitir a ratificação desse tratado, a revisão viria a tocar ainda
noutras matérias, tais como:
– Previsão, a propósito da Europa, de um “espaço de liberdade, justiça e
segurança (art. 7º, nº 6) e, desde logo, desconstitucionalização, para esse
efeito, de algumas garantias relativas à expulsão e à extradição (art. 33º,
nº 5);
– Proclamação do português como língua oficial (art. 11º, nº 3);
– Alargamento, em paralelo com o disposto na Constituição brasileira, de
direitos a atribuir aos cidadãos dos Estados de língua portuguesa com
estatuto de igualdade (art. 15º, nº 3);
– Restrições à inviolabilidade do domicílio durante a noite em casos de
criminalidade especialmente violenta ou altamente organizada (art. 34º,
nº 3).
VII – Como haviam passado já mais de cinco anos sobre a última revisão
ordinária (apesar dos vícios que tinham inquinado esta), em 16 de Outubro
de 2003 foi apresentado um projecto de revisão constitucional a que
outros se seguiram, acabando por haver projectos de Deputados de todos
os partidos1. Mais uma vez se tomou, erradamente, o art.º 284.º da
Constituição como determinando uma necessidade, e não uma mera
faculdade.
Afastada a ideia de uma revisão mais larga2 que, em alguns aspectos,
comportava uma espécie de Constituição alternativa, os pontos centrais
de revisão viriam a ser a integração europeia (apesar de ainda não se
saber qual vai ser, em definitivo, o próximo Tratado da União...), a
regulação da comunicação social, a limitação de mandatos e a autonomia
das regiões insulares (sendo de notar que, quanto a este último, as
alterações foram quase todas aprovadas por unanimidade, incluindo,
portanto, Deputados do Partido Comunista Português, do Bloco de
Esquerda e do Partido Ecologista “Os Verdes”).
1V. os textos in Diário da Assembleia da República, 9ª legislatura, 2ª
sessão legislativa, 2ª série - A, nºs 8 e 14.
2Cfr. o projecto nº 2-IX dos Deputados do PSD e do CDS-PP.
3Corresponda isso a um fenómeno de desconstitucionalização das
matérias ou, ao invés, a um fenómeno de constitucionalização das normas
estatutárias.
As alterações consistiram em:
– Modificação do nº 6 do art.º 7.º, passando, por um lado, a falar-se
também em “aprofundamento da união europeia” e “definição e execução
de uma política externa, de segurança e de defesa comum”; mas, por
outro lado, a fazer-se depender a “construção” e esse aprofundamento
também de “respeito pelos princípios fundamentais do Estado de Direito
democrático”;
– Aditamento de um nº 4 ao art. 8º dizendo: “As disposições dos tratados
que regem a União Europeia e as normas emanadas das suas instituições,
no exercício das respectivas competências, são aplicáveis na ordem
interna, nos termos definidos pelo direito da União, com respeito pelos
princípios fundamentais do Estado de Direito democrático;
– Criação de uma “entidade administrativa independente”, com membros,
em parte, eleitos por maioria de dois terços dos Deputados presentes
desde que superior à maioria absoluta dos Deputados em efectividade de
funções [art. 163º, alínea h)] e objecto de lei a aprovar por idêntica
maioria (art. 168º, nº 6);
– Prescrição de que a “lei pode determinar limites à renovação sucessiva
de mandatos de titulares de cargos políticos executivos” (art. 118º, nº 2) –
a lei pode, não deve, e lei sujeita também ela à regra de maioria de dois
terços (art. 168º, nº 6, de novo);
– No tocante às regiões autónomas, aumento dos seus poderes
legislativos (arts. 112º e 226º a 228º) – desaparecimento do interesse
específico como critério definidor desses poderes e também da referência
a leis gerais da República; em vez disso, possibilidade de as regiões
legislarem sobre quaisquer matérias não reservadas aos órgãos de
soberania e ainda sobre certas matérias de reserva relativa da Assembleia
da República, precedendo autorização legislativa; em vez de enumeração,
aliás não taxativa, de matérias sujeitas a legislação regional no art. 228º,
devolução para os estatutos3; recuperação da faculdade, perdida em
1997, de transposição de directivas comunitárias; reserva de iniciativa das
leis eleitorais respeitantes às Assembleias Legislativas a elas próprias,
embora caducando se a aprovação das alterações das leis eleitorais não
se fizer em certo prazo e prescrição do reforço do princípio da
proporcionalidade (disposição transitória);
– Ainda no tocante às regiões autónomas, assimilação do regime de
dissolução das Assembleias Legislativas ao da Assembleia da República
(arts. 234º e 232º, nº 4), possibilidade de delegação de competências do
Governo da República aos Governos Regionais (art. 229º, nº 4) e
substituição dos Ministros da República por “Representantes da
República” (art. 230º).
O sentido destas alterações é duplo:
a) Enfraquecimento do Estado perante a União Europeia e perante as
regiões autónomas.
b) Compromisso dilatório a respeito da regulação da comunicação social e
da limitação de mandatos.
Quanto ao texto a que se chegou, ele surge pouco cuidado, mal redigido,
por vezes repetitivo, agravando uma tendência que já vinha das revisões
precedentes.
5. Mudança e continuidade na Constituição
I – A Constituição continua sendo, após seis revisões constitucionais, após
a entrada de Portugal para a Comunidade Europeia e a passagem desta a
União Europeia e após tantas transformações registadas no País e no
mundo, a mesma Constituição que a Assembleia Constituinte aprovou em
1976 – porque uma Constituição consiste, essencialmente num complexo
de princípios e não de preceitos.
Foram modificadas dezenas e dezenas de artigos e houve inflexões,
formais ou reais, de sentido, mas permaneceram os princípios cardeais
que lhes conferem sentido e coerência. A Constituição continua sendo
Constituição de liberdade e Constituição de solidariedade.
II – Em primeiro lugar, como se mostrou, as sensíveis modificações
relativas aos órgãos políticos de soberania não destruíram a identidade da
forma e do sistema de governo; e as restantes alterações sofridas pela
parte III – desde o referendo às regiões autónomas e ao poder local –
destinaram-se (melhor ou pior) à sua viabilização.
Em segundo lugar, as alterações da parte III, conquanto bem mais
profundas, tão-pouco excederam o projecto compromissório e pluralista
da Constituição económica. O estatuto da iniciativa privada não apagou o
favorecimento da iniciativa cooperativa e a garantia institucional de
autogestão (arts. 61 º e 85º, nº 2). Continuam a ser admitidas a
apropriação pública e planificação [arts. 80º, alíneas d) e e), 81 º, alínea
g), 83º e 91 º e segs.]. As reprivatizações devem observar regras formais
e materiais (art. 296º). Subsistem, conquanto muito atenuadas, as normas
de vedação de sectores básicos à iniciativa privada (art. 86º, nº 3) e de
eliminação dos latifúndios (art. 94º, nº 1).
Em terceiro lugar, as modificações introduzidas no art.º 290º (hoje artº.
288º), corroborando a tese da revisibilidade de cláusulas expressas de
limites materiais de revisão, não representam também senão benfeitorias
e actualizações. O princípio da coexistência de sectores é – e já era em
1976 – mais significativo do cerne da Constituição do que a apropriação
colectiva; a modificação respeitante ao planeamento é pouco mais que
verbal; a participação das organizações populares de base no exercício do
poder local, aliás praticamente sem efectividade, terá sido tão-só um
limite de segundo grau, e essas organizações ou associações de
moradores não desapareceram do texto constitucional.
III – Uma Constituição que perdura por um tempo relativamente longo vai-
se realizando através da congregação de interpretação evolutiva, revisão
constitucional e costume secundum, praeter contra legem. Contudo, pode
também acontecer que, noutros casos, o desenvolvimento da
Constituição se efectue em períodos mais ou menos breves, através da
sobreposição dos mecanismos de garantia da constitucionalidade e de
revisão, sob o influxo da realidade constitucional.
O desenvolvimento constitucional não comporta a emergência de uma
Constituição diversa, apenas traz a reorientação do sentido da
Constituição vigente. De certo modo, os resultados a que se chega ou vai
chegando acham-se contidos na versão originária do ordenamento ou nos
princípios fundamentais em que assenta; e ou se trata de um extrair das
suas 4Só depois do Tratado de Maastricht, de 1992, as Constituições
passam a autonomizar o tratamento de integração europeia.
consequências lógicas ou da prevalência de certa interpretação possível
sobre outra interpretação igualmente possível.
Foi um fenómeno de desenvolvimento constitucional, e não de ruptura,
aquele que atravessou a Constituição de 1976 ao longo destas quase três
décadas, por efeito da jurisprudência, das revisões constitucionais
(mesmo, apesar de tudo, a de 1997 e de 2004) e da interacção dialéctica
da aplicação das normas e do crescimento de cultura cívica do País.
IV – Dúvidas de peso podem, no entanto, suscitar-se a propósito da União
Europeia.
Por um lado, em 1976 a Europa tinha sido completamente ignorada no
texto constitucional, o que, aliás, se compreende, tendo em conta o
contexto do País e do próprio estádio de integração4; e agora ela aparece,
em numerosos preceitos [arts. 7º, nºs 5 e 6, 8º, nº 4, 15º, nº 5, 133º,
alínea b), 161º, alínea n), 163º, alínea f), 164º, alínea p), 197º, nº 1, alínea
i), 227º, nº 1, alíneas v) e x)].
Por outro lado, e sobretudo, pode perguntar-se se as alterações ao art.º
7º e o aditamento ao art. 8º, acabadas de introduzir, não ultrapassam os
limites da soberania do Estado e do primado da Constituição e do poder
constituinte nacional. Há quem assim o entenda, embora se possa atalhar
com a invocação aí feita da subordinação sempre aos princípios
fundamentais do Estado de Direito democrático enquanto princípios
constitucionais. De momento, não é possível responder com inteira
segurança.
6. Da Constituição à prática
I – O 25 de Abril de 1975 consagrou, pela primeira vez, em Portugal o
princípio da legitimidade democrática, e as eleições subsequentes
radicaram-no definitivamente. Não foi só sufrágio universal; foi sobretudo
a ideia de que não existe outro fundamento temporal para a autoridade
dos governantes que não seja a vontade do povo expressa pelo voto;
nenhum carisma pessoal, nenhuma vanguarda revolucionária, nenhuma
força oculta o pode substituir.
A partir daí implantaram-se e consolidaram-se instituições
representativas tanto a nível nacional como a nível regional e local; a
liberdade política não tem tido falhas; o pluralismo e o contraditório
tornaram-se naturais e irreversíveis; surgiu um sistema de partidos
moderno e estável, ainda que deficiente; e a alternância tem funcionado.
A Constituição irradiou para toda a ordem jurídica, implicando alterações
profundas em todos os seus sectores. Os tribunais sabem que a devem
conhecer e aplicar. E os cidadãos sabem que a podem invocar como carta
dos seus direitos, quer como limite da autoridade pública, quer como
quadro de exigências de solidariedade.
Finalmente, no plano das relações externas, não foi apenas o reencontro
com a Europa, foi também o reencontro com os povos africanos em
dignidade. Se a descolonização correu mal – para os dois lados – estes
anos têm sido de cooperação económica, cultural e humanitária. Os povos
africanos, assim como o povo de Timor, sentem que Portugal representa
algo para eles, assim como Portugal sente que a África, Timor e o Brasil (o
Brasil, que nunca deve ser esquecido) representam muito para o seu
presente e para a sua própria identidade dentro da Europa.
II – Apesar de tudo isto, a prática tem sido, em muitos – talvez em
demasiados – aspectos decepcionantes e até subvertedora do sentido da
Constituição. Não vale a pena referi-los, tão evidentes eles são neste ano
de 2004, desde a educação à saúde, desde a administração pública à
economia, desde o desemprego à evasão fiscal.
Só vale a pena salientar que, a par dos vícios e defeitos graves da classe
política, também a passividade dos cidadãos, a participação de alguns
nesses mesmos vícios ou nos seus benefícios, a queda no consumismo
são responsáveis pela situação em que o País se encontra. E só vale a
pena acentuar – e agora com mais força – que a solução em caso algum
poderá passar pela quebra ou pela revisão permanente da Constituição.
Passará, sim, pela efectivação das normas constitucionais com
perseverança e equilíbrio.
revisões da Constituição
A Constituição da República Portuguesa actualmente em vigor foi
aprovada em 2 de Abril de 1976, entrando em vigor em 25 de Abril,
exactamente um ano após as eleições para a Assembleia Constituinte, na
sequência do derrube do Estado Novo, em 25 de Abril de 1974.
A Constituição de 1976 reflectia as opções decorrentes do período
revolucionário, consagrando a transição para o socialismo, a
nacionalização dos principais meios de produção e a participação do
Movimento das Forças Armadas no exercício do poder político, através do
Conselho da Revolução.
Desde 1976, a Constituição sofreu várias revisões:
A de 1982 diminuiu a carga ideológica, flexibilizou o sistema económico e
redefiniu as estruturas do poder político, extinguindo o Conselho da
Revolução e criando o Tribunal Constitucional.
A de 1989 deu maior abertura ao sistema económico, nomeadamente
pondo termo ao princípio da irreversibilidade das nacionalizações.
As de 1992 e 1997 adaptaram-na aos Tratados da União Europeia,
Maastricht e Amsterdão, consagrando ainda alterações referentes à
capacidade eleitoral de estrangeiros, à possibilidade de criação de
círculos uninominais, ao direito de iniciativa legislativa aos cidadãos, e
reforçando os poderes legislativos exclusivos da Assembleia da República.
A de 2001 permitiu a ratificação, por Portugal, da Convenção que criou o
Tribunal Penal Internacional, alterando as regras de extradição.
A de 2004 aprofundou a autonomia político-administrativa das regiões
autónomas dos Açores e da Madeira, aumentando os poderes das suas
Assembleias Legislativas e substituindo o Ministro da República pelo
Representante da República, alterou normas como a relativa à vigência na
ordem jurídica interna dos tratados e normas da União Europeia,
aprofundou o princípio da limitação dos mandatos dos cargos políticos
executivos, e reforçou o princípio da não discriminação.