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Uma fracção duma fracção

O modelo de avaliação de professores que proponho na mensagem anterior não


é perfeito e não vai ser posto em prática. Eu próprio, ao relê-lo, encontro nele
ingenuidades e incoerências. Não tenciono corrigi-las - quod scripsi scripsi -
porque não afectam o documento nos seu propósitos essenciais, que são criar,
por um lado, uma base de discussão do modelo actual e das alternativas
possíveis e, por outro, um ponto de partida para outro debate que transcenda a
questão do modelo de avaliação e do ECD.

Pela mesma razão não tenciono responder às críticas que me foram feitas,
apesar da consideração que me merecem os seus autores e do mérito que
reconheço a muitas delas.

Suponhamos, então, que o meu modelo era perfeito e que era aplicado. Ou que
se descobria e aplicava um outro que fosse perfeito. Resultaria daqui uma
melhoria evidente e imediata na qualidade dos professores?

Nem por sombras. Um bom modelo de avaliação é condição necessária para que
tenhamos melhores professores, mas está longe, muito longe, de ser condição
suficiente. Uma melhoria significativa da qualidade dos professores implicaria,
logo na fase de recrutamento, que se fosse buscar às universidades os melhores
graduados - competindo as escolas, para tal, com outras carreiras e com outras
opções de vida, incluindo a emigração que nos está a privar, dia a dia, dos
nossos jovens mais qualificados. A carreira docente precisaria, para atrair estes
jovens, de ser muito mais atraente do que é hoje - quer em termos de
remuneração, quer de estabilidade, quer de probabilidades de progressão, quer
em prerrogativas - e destaco, de entre estas, a que mais afronta a tradicional
inveja e o tradicional anti-intelectualismo dos portugueses: tempo livre para
reflectir, estudar e adquirir o ascendente cultural que, mais do que qualquer
outra coisa, confere autoridade aos professores. É esta, de resto, a moeda
utilizada em todo o mundo, à falta de dinheiro, para pagar aos professores.

Se a carreira docente não for suficientemente aliciante para atrair os jovens


mais qualificados, então qualquer modelo de avaliação, mesmo que perfeito,
acabará por escolher apenas os melhores de entre os piores.

Mas a melhoria da qualidade dos professores não depende só da conjugação de


um bom sistema de avaliação com um bom sistema de recrutamento. Há outros
factores, tais como a qualidade da formação (quer inicial, quer contínua), a
satisfação no trabalho (que implica a noção, tantas vezes ausente do trabalho
dos professores, de que o que se está a fazer é útil e produtivo),
o empowerment, o reconhecimento social, etc. Uma melhoria significativa da
qualidade dos professores não é fácil de conseguir e não será já para amanhã.

Admitamos, porém, como hipótese, que conseguimos dotar o sistema de ensino


de professores significativamente melhores que os actuais. Resultará isto numa
melhoria correspondente nas aprendizagens?

Para responder a esta pergunta basta fazer o thought experiment proposto,


salvo erro, pelo Ramiro Marques (se ele me estiver a ler, peço-lhe que me
forneça o link para incluir aqui): trocar os alunos da melhor escola
do ranking pelos da pior e ver os resultados ao fim de um ano lectivo.
Concluiremos imediatamente que para a boa aprendizagem concorrem
decisivamente a atitude que os alunos trazem para a escola, a acção ou inacção
dos pais, as condicionantes socioculturais, etc. Uma política que vise melhores
aprendizagens terá que actuar sobre todos estes factores e não apenas sobre a
qualidade dos docentes.

Temos então que a avaliação dos professores, mesmo que perfeita, só


parcialmente contribui para a sua qualidade; e que a qualidade dos professores,
mesmo que excelente, só parcialmente contribui para a melhoria das
aprendizagens. Mesmo que perfeita, a avaliação será sempre uma fracção duma
fracção. Sendo imperfeita, é uma fracção menor.

Anuncia-se para breve um novo modelo de avaliação dos professores. Não


espero dele que seja perfeito, até porque resultará inevitavelmente de um
compromisso entre ideologias e agendas políticas diversas; mas espero que seja
ao menos adequado, isto é: que contribua, ainda que imperfeitamente, para a
melhoria dos professores enquanto profissionais (a sua melhoria enquanto
funcionários interessa-me pouco); que distinga realmente, mesmo que apenas
com a exactidão possível, os melhores professores dos piores; que, ao contrário
do actual, premeie os melhores; que não dê azo a demasiadas injustiças, e que
aquelas a que der azo não sejam gritantes. Para que um modelo de avaliação
seja adequado exige-se, no mínimo, que não seja contraproducente.

Anuncia-se, também, um novo Estatuto da Carreira Docente. Também não


espero dele que seja muito mais do que adequado; mas para ser adequado terá
que premiar, em vez de punir como o actual, a opção dos jovens mais
qualificados pela condição de professor.

O debate não terminará aqui, porque o modelo de avaliação e o estatuto, não


sendo perfeitos mas apenas adequados, continuarão naturalmente a despertar
contestações legítimas e exigências de aperfeiçoamento. Mas se modelo e
estatuto forem suficientemente bons, deixarão o centro do debate e passarão
para as suas margens, de onde nunca deviam ter saído.

E nesta altura não teremos chegado ao fim: teremos chegado ao princípio dum
debate, este, sim, urgente: como melhorar o ensino (repito, o ensino) em
Portugal? E aquando deste debate, não nos contentaremos com o meramente
adequado: exigiremos o melhor. Não seremos modestos no pedir. Não
queremos um ensino ao nível da média europeia: exigiremos um ensino ao nível
dos melhores do Mundo.
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por JOSÉ LUIZ FERREIRA

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