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Maia Banks
Série: No Amor e na Guerra: Livro 1
Tinha um herdeiro!
Marley Jameson, a antiga amante do magnata hoteleiro Chrysander Anetakis, estava
grávida e tinha amnésia. Isso significava que não recordava têlo traído vendendo
segredos da companhia. Nem que ele a tivesse jogado de sua vida sem contemplações.
De modo que Chrysander lhe contou uma pequena mentira: estavam comprometidos. O
objetivo era levála a uma ilha grega para esperar o nascimento de seu filho e desfrutar de
sua repentina devoção… antes de jogála de sua casa. Mas não contava
com que Marley recuperasse a memória antes do esperado…
REVISÃO EM ESPANHOL
O original não continha créditos
Envio do arquivo: Gisa
Revisão Inicial e Formatação: Lucilene
Revisão Final: Elaine P
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Traições Passadas
TWKliek Maya Banks
Série No Amor e na Guerra 1
Comentário da revisora Lucilene: Quem gosta de um grego arrogante e mandão,
mas apaixonado, clica para baixar o livro!!! O livro é bom, recomendo a leitura.
Capítulo 1
Grávida.
Apesar do calor daquele dia do verão, Marley Jameson sentiu um calafrio nas
costas enquanto se deixava cair sobre o banco do parque, a umas quadras do
apartamento de cobertura que compartilhava com Chrysander Anetakis.
Embora os raios do sol esquentassem suas mãos, estava tremendo. Stavros não
acharia engraçado o seu repentino desaparecimento, pensou. Nem Chrysander quando o
guardacostas contasse que o tinha esquivado. Mas se tivesse ido com ele à consulta do
ginecologista, Chrysander teria sabido de sua gravidez antes de chegar em casa.
Como reagiria ante a notícia? Apesar de ter tomado sempre precauções, estava
grávida de oito semanas. Devia ter ocorrido quando voltou de uma viagem pela Europa…
Chrysander se mostrou insaciável então. E também ela.
Marley sentiu que lhe ardiam as bochechas ao recordar a noite em questão.
Haviam feito amor incontáveis vezes, murmurando palavras em grego, palavras cálidas,
carinhosas, que lhe encolhiam o coração.
Logo fez uma careta ao olhar o relógio. Chrysander chegaria em casa em algumas
horas, mas ali continuava ela, como uma covarde, evitando o confronto. E tinha que tirar
os gastos jeans e a camiseta, roupa que só usava quando ele estava fora.
A contra gosto, levantouse do banco e começou a caminhar para o luxuoso
edifício onde vivia com Chrysander.
—Está se comportando como uma boba. —murmurou quando chegava ao portão.
Se o zelador se surpreendeu ao vêla chegar a pé não disse nada, mas se apressou a lhe
abrir a porta.
Marley entrou no elevador e passou uma mão por seu estômago, ainda plano.
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Série No Amor e na Guerra 1
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carícia enquanto chegavam ao orgasmo os dois. Marley apoiou a cabeça em seu ombro,
saciada e contente.
Devia ter adormecido depois porque, quando abriu os olhos, Chrysander estava
deitado ao seu lado, com um possessivo braço sobre sua cintura. Olhavaa com prazer,
seus olhos dourados ardendo de satisfeito desejo.
Agora era o momento. Tinha que contar a ele, nunca haveria melhor ocasião. Mas
por que a ideia de lhe perguntar sobre sua relação a enchia de temor?
—Chrysander…
—Fale, querida.
—Tenho que falar com você.
Ele se estirou, afastandose um pouco para vêla melhor.
—Do que quer que falemos? —murmurou, estendendo uma mão para acariciar
seus seios.
—De nós.
O rosto de Chrysander se converteu em uma máscara de indiferença, tanto que a
assustou. Inclusive podia sentir que se separava dela.
Então soou o intercomunicador e ele estendeu a mão para apertar o botão.
—Quem é? —perguntou bruscamente.
—É Roslyn. Posso subir?
Marley ficou tensa ao ouvir a voz da ajudante de Chrysander. Era quase de noite,
mas ali estava, ligando para o apartamento que, ela sabia muito bem, seu chefe
compartilhava com Marley.
—Estou ocupado neste momento, Roslyn. Suponho que o que seja pode esperar
até amanhã.
—Sinto muito, mas não posso esperar. Preciso da sua assinatura em um contrato
que deve chegar a seu destino antes da sete da manhã.
—Suba então.
Chrysander se levantou da cama e se aproximou do armário para tirar uma calça e
uma camisa.
—Por que vem aqui tão frequentemente? —perguntoulhe Marley.
—É minha ajudante, é seu trabalho.
—Vir a sua casa?
Chrysander sacudiu a cabeça enquanto abotoava a camisa.
—Voltarei em seguida e logo poderemos conversar.
Marley sentia a tentação de deixar a conversa para outro dia, mas tinha que lhe
dizer que estava grávida e não podia contar a ele até que soubesse o que sentia por ela.
De modo que devia ser essa noite.
Como estando nua se sentia em desvantagem, levantouse da cama para voltar a
vestir o jeans e a camisa descartados no chão.
Pouco depois Chrysander voltou a entrar no dormitório, mas parecia distraído.
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—Eu a prefiro nua, pedhaki mou.
—Vai tudo bem?
Ele fez um gesto com a mão.
—Não era nada, só uma assinatura —sorriu, enquanto começava a desabotoar sua
camisa de novo.
—Temos que conversar.
Chrysander deixou escapar um suspiro de resignação enquanto se sentava na
cama.
—O que tem que me contar que é tão urgente?
—Quero saber o que sente por mim… e o que pensa de nossa relação —começou
a dizer ela, nervosa— E se há um futuro para nós.
Ele apertou os lábios, em um gesto de contrariedade.
—Ah, é isso —disse, levantandose.
—Só preciso saber o que sente por mim, se há um futuro para nós. Você nunca
fala de nossa relação mais que em tempo presente.
Chrysander a tomou pelo queixo.
—Não temos uma relação, Marley. Eu não tenho relações e você sabe. É minha
amante.
—Sua amante? —repetiu ela, perplexa.
Sua namorada, a garota com a que estava saindo, sua companheira… todos eram
termos que poderia ter usado. Mas amante? Uma mulher comprada? De repente, Marley
sentiu náuseas.
—Isso é o que sou para você?
Chrysander deixou escapar um suspiro.
—Sentese um momento e deixe que te prepare um drinque. Eu tive uma semana
muito longa e, evidentemente, você está desgostosa. Não é bom para nenhum dos dois
ter esta discussão agora.
Depois de uma longa semana preparando armadilhas à pessoa que estava traindo
a sua empresa, quão último desejava era uma discussão com sua amante.
De modo que foi à cozinha e, depois de servir o suco favorito de Marley em um
copo, serviu a si mesmo uma taça de brandy para ver se podia controlar a iminente dor de
cabeça.
Logo sorriu ao ver seus sapatos em meio do salão e a bolsa atirada no sofá.
Marley era uma garota encantadora, divertida, que nunca protestava por nada, de modo
que aquela explosão emocional o tinha surpreendido muito. Ela não era assim. Não era
das que se apegavam a ele e, por isso, sua relação tinha durado tanto tempo…
Relação? Acabava de lhe negar que tivessem uma. Marley era sua amante.
Mas deveria ter sido mais prudente, pensou logo. Certamente não se sentia bem e
queria um pouco de ternura. A ideia lhe parecia estranha, mas Marley sempre tinha
estado a seu lado para cuidar dele depois de semanas de viagens e exaustivas reuniões.
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Era justo que lhe oferecesse algo mais que sexo. Embora o sexo com ela fosse sua
prioridade.
Ia virarse para entrar no dormitório e fazer as pazes quando um pedaço de papel
que aparecia pela bolsa chamou sua atenção. Deixando os copos sobre a mesa,
Chrysander puxou o papel…
E ao ver o que era ficou perplexo.
Mas não podia ser. Marley, sua Marley, era a traidora da companhia?
Não podia acreditar nisso, mas estava ali, diante de seus olhos. A falsa informação
que ele mesmo tinha deixado em seu escritório aquela manhã, com a esperança de
encontrar a pessoa que estava vendendo segredos da companhia à concorrência.
De repente, tudo ficou claro. Os planos tinham começado a desaparecer quando
Marley se mudou ao apartamento de cobertura com ele. Já não trabalhava em sua
empresa, mas inclusive quando a convenceu para que deixasse seu posto com o objetivo
de têla só para ele, tinha livre acesso ao seu escritório…
Que idiota tinha sido.
Então recordou a chamada de Stavros umas horas antes. No momento só lhe tinha
parecido um assunto irritante do que pensava falar com Marley quando a visse. Ia ter uma
conversa com ela sobre a importância da segurança e sobre não sair à rua sem um
guardacostas quando em realidade era ele quem não estava a salvo com ela. Segundo
Stavros, Marley tinha ido a seu escritório e logo tinha desaparecido durante horas…
E agora esses documentos do escritório apareciam em sua bolsa.
Com os papéis na mão, Chrysander voltou para o dormitório e a encontrou sentada
na cama. Nem sequer seus olhos cheios de lágrimas o comoveram; só podia pensar em
como o tinha manipulado.
—Eu a quero fora daqui em trinta minutos.
Marley o olhou, perplexa. Tinha ouvido bem?
—Não o entendo…
—Tem meia hora para recolher suas coisas e partir daqui, antes que chame a
segurança.
Ela se levantou, tremendo. Mas se ainda não lhe havia dito que estava grávida…
—Chrysander, o que aconteceu? Por que está zangado comigo? É porque me
incomodou que dissesse que sou sua amante? Foi uma surpresa para mim, eu pensei
que era algo mais…
—Agora tem vinte e oito minutos —insistiu ele, com total frieza— Acreditava que ia
me enganar? —perguntoulhe logo, mostrando os papéis que levava na mão— De
verdade acreditava que ia tolerar que me traísse?
Marley ficou lívida.
—Não sei do que está falando. O que são esses papéis?
—Você esteve me roubando. —disse Chrysander, com um desdenhoso sorriso—
Tem sorte de que não chame à polícia, mas o farei se voltar a vêla. Embora seu tiro
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Capítulo 2
TRÊS MESES DEPOIS
Chrysander estava em seu apartamento, pensativo. Deveria estar tranquilo agora
que não havia nenhum problema em sua companhia, mas saber por que não era muito
consolador. Suspirando, olhou a quantidade de documentos que tinha frente a ele, as
notícias da televisão como ruído de fundo.
Sua parada em Nova Iorque ia ser curta. Ao dia seguinte iria para Londres com seu
irmão Theron para inaugurar um novo hotel de luxo… um hotel que não teria sido
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construído se Marley tivesse se dado bem.
Chrysander sorriu, irônico. O presidente do Anetakis Internacional, manipulado e
roubado por uma mulher.
Por sua culpa, seus irmãos e ele tinham perdido dois projetos, que tinham sido
levados pela concorrência, antes de descobrir sua traição.
Deveria têla denunciado às autoridades, mas estava muito surpreso, muito fraco
para fazer tal coisa.
Não tinha jogado seus pertences, pensando que algum dia iria buscálos… e
possivelmente uma parte dele esperava que assim fosse para lhe perguntar por que o
tinha feito. Ou possivelmente deveria jogálos no lixo. Sim, era hora de tirála da cabeça
por completo.
Quando ouviu seu nome nas notícias pensou que era coisa de sua imaginação
porque estava pensando nela, mas ao escutar Marley Jameson de novo se voltou para a
televisão.
Um repórter estava na porta de um hospital dizendo algo sobre ela e nas imagens
aparecia uma mulher que era tirada por maca de um apartamento bagunçado…
Chrysander subiu o volume e cravou os olhos na tela, incrédulo.
Era Marley.
Não tinha entendido os detalhes do que ou por que, mas aparentemente tinha sido
sequestrada, suportando um longo período de cativeiro naquele desordenado edifício.
Chrysander esperou, nervoso, se por acaso mencionavam seu nome, mas por que
iam fazer isso? Sua relação tinha sido um segredo para todos, algo necessário em seu
mundo. E depois de descobrir sua traição se alegrou de ser tão reservado quanto a suas
relações.
Marley tinha rido dele, mas, felizmente, ninguém mais que seus irmãos e ele
sabiam.
Quando a câmara tomou um primeiro plano de seu pálido e assustado rosto,
Chrysander sentiu que algo dentro dele se encolhia. Tinha o mesmo aspecto que a noite
que a jogou dali: pálida, aturdida e vulnerável.
Mas o que estava dizendo o jornalista o deixou gelado. Segundo ele, mãe e filho
estavam bem. O sequestro não tinha afetado a jovem, grávida de cinco meses.
Chrysander também ouviu, sem prestar muita atenção, que seus captores tinham
escapado da polícia.
—Theos mou. —murmurou, tirando o celular do bolso enquanto saía do
apartamento. Quando chegou à entrada do luxuoso arranhacéu, seu condutor já estava
esperandoo na porta.
E, uma vez dentro do veículo, ligou para a polícia para perguntar aonde tinham
levado Marley.
***
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—Fisicamente se encontra bem —disselhe o médico— O que me preocupa é seu
estado emocional.
Chrysander tentava dissimular sua impaciência enquanto esperava que o médico
lhe desse um relatório completo, mas para que o deixassem falar com ele tinha tido que
mentir. E o único que lhe ocorreu foi dizer que era o noivo de Marley.
—Mas não a machucaram.
—A senhorita Jameson sofreu um trauma, mas não posso lhe dizer até que ponto
porque não recorda absolutamente nada.
—O que?
—Sofre amnésia, de modo que não recorda o que aconteceu. E tampouco recorda
nada do que ocorreu antes. Recorda seu nome, mas pouco mais. Inclusive a gravidez foi
uma surpresa para ela.
Chrysander passou uma mão pelo cabelo, nervoso.
—Não recorda nada? Nada absolutamente?
O médico negou com a cabeça.
—Agora mesmo é muito vulnerável, senhor Anetakis, muito frágil. E por isso é tão
importante que não a aborreça. Ainda tem que levar seu filho durante quatro meses, além
de recuperarse do que passou.
Chrysander emitiu um grunhido de impaciência.
—Eu não tenho a menor intenção de aborrecêla… mas me parece difícil acreditar
que não recorde nada.
—A experiência foi muito traumática para ela e suspeito que sua mente está
protegendoa até que possa lutar com o que lhe passou.
—Os sequestradores a maltrataram?
—Não encontrei provas de que foi maltratada fisicamente, mas não saberemos
pelo que teve que passar, até ela mesma nos contar isso. Como disse, sua situação
emocional é muito delicada e, se a pressionarmos para que recorde, o resultado poderia
ser desastroso.
—Sim, claro, entendoo. Posso vêla?
O médico vacilou durante um segundo.
—Pode vêla, mas não deve lhe contar nada sobre o sequestro… ou algo que
possa incomodála.
—Quer que minta para ela?
—Só digo que não deve incomodála. Pode lhe dar detalhes de sua vida, as coisas
que estavam acostumados a fazer, como se conheceram… mas não tente obrigála a
recordar nada.
Chrysander olhou seu relógio. Ainda tinha que falar com a polícia, mas antes de
tudo queria ver Marley.
—Direi à enfermeira que o acompanhe.
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Marley lutava por romper a capa de névoa que envolvia seu cérebro, mas
murmurou um protesto ao abrir os olhos porque não queria saber nada da realidade. O
que queria era continuar sob aquela manta de escuridão que a protegia.
Não havia nada para ela uma vez acordada… sua vida era um buraco negro. Seu
nome era a única coisa que recordava: Marley.
Tentou recordar algo mais, procurar alguma resposta… mas seu passado era
como uma paisagem erma.
De repente, uma mão apertou a sua, provocando uma nova onda de pânico… até
que recordou que estava em um hospital.
—Não durma, pedhaki mou. Ainda não.
A voz do homem era como o veludo. Em silêncio, Marley se voltou para o
estranho… ou não o era? Era alguém a quem conhecia? Que a conhecia? Poderia ser o
pai do filho que ia ter?
Era uma presença dominante: alto, musculoso, de olhos dourados. Por seu
sotaque, não devia ser norteamericano. Esteve a ponto de rir ao pensar no absurdo
desse pensamento. Deveria lhe perguntar quem era e que fazia ali e, entretanto, só lhe
ocorria pensar que não era norteamericano…
—Nosso filho está bem. —disse ele, ao ver que levava uma mão protetora ao
abdômen.
Era o pai de seu filho? Marley procurou algo… algum detalhe reconhecível, mas o
único que encontrou foi vazio e medo.
—Quem é?
—Sou Chrysander Anetakis, seu noivo.
—Sinto muito, não recordo nada…
—Sei, falei com o médico. Mas isso não importa agora. O importante é que
descanse e se recupere para que possa levála para casa.
—Para casa? —repetiu ela.
—Sim, para casa.
—Onde está minha casa?
Odiava ter que perguntar. Odiava estar falando com um estranho… mas não o era.
Era seu noivo, o pai de seu filho. Não deveria seu rosto despertar alguma lembrança?
—Não pense, pedhaki mou, não deve se apressar. O médico disse que pouco a
pouco irá recuperando a memória.
—E se não for assim? —exclamou ela então, agarrando a dobra do lençol.
Chrysander estendeu uma mão para tocar seu rosto.
—Acalmese, Marley. Que se angustie não é bom para a criança.
A forma em que pronunciava seu nome lhe pareceu estranha.
—Pode me contar algo sobre mim… qualquer coisa?
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—Já haverá tempo para que falemos mais adiante. —disse ele, acariciando sua
testa— No momento, descansa. Estou preparando tudo para levála para casa.
Era a segunda vez que mencionava sua casa, mas ainda não havia dito onde
estava.
—Onde está minha casa?
—No momento, em Nova Iorque. Embora meu trabalho me obrigue a viajar
frequentemente, temos um apartamento aqui. Mas o plano é te levar a Grécia assim que
esteja o bastante bem para viajar.
Tudo soava tão… impessoal. Não havia nenhuma emoção, nenhuma alegria. Era
como se estivesse recitando uma lição que aprendeu de cor.
Como intuindo que estava a ponto de fazer mais perguntas, ele se inclinou para
diante e lhe deu um beijo na testa.
—Descansa, pedhaki mou, eu tenho que preparar a viagem. O médico me disse
que, se tudo for bem, você receberá alta em dois dias.
Quando a porta do quarto se fechou, Marley sentiu que uma lágrima rodava por
seu rosto.
Deveria sentirse aliviada porque não estava sozinha. Mas a presença de
Chrysander Anetakis não a tinha consolado absolutamente. Ao contrário, sentiase mais
apreensiva que antes, embora não poderia dizer por que.
Fechou os olhos, esgotada, e deve ter adormecido porque uma enfermeira a
despertou para medir a pressão.
—Ah, está acordada. —sorriu— Trouxelhe o jantar. Gostaria de comer algo?
Ela negou com a cabeça. Pensar em comida a fazia sentir náuseas.
—Deixe a bandeja. Eu me encarregarei de que coma algo.
Marley levantou o olhar, surpreendida, ao ouvir a voz de Chrysander.
—Você é muito afortunada por ter um noivo tão atento —sorriu a enfermeira antes
de sair do quarto.
Chrysander se sentou em uma cadeira, ao lado da cama.
—Deveria comer algo.
—Não tenho vontade de comer.
—Você se incomoda com minha presença?
—Pois… —Marley não pôde terminar a frase. Como ia dizer que sim? Aquele
homem era seu noivo, de modo que devia estar apaixonada por ele. E, evidentemente,
fazia amor com ele.
Pensar nisso fez que ficasse vermelha.
—O que acontece?
—Nada.
—Está assustada e é compreensível.
—Não o incomoda que me dê medo? Francamente, estou aterrorizada.
—Entendo.
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—Não recordo nada de minha vida. Estou grávida e não sei como ocorreu…
—Deixa de se angustiar, Marley. Não lembra de mim, de modo que sou um
estranho para você. Terei que ganhar seu afeto e sua confiança… pouco a pouco. —disse
ele.
—Chrysander… —Marley pronunciou seu nome para ver se despertava alguma
lembrança. Não lhe resultava estranho completamente, mas tampouco recordava nada.
Frustrada, deixou escapar um suspiro.
—Sim, pedhaki mou?
—O que me aconteceu? Como cheguei aqui? Como perdi a memória?
Chrysander apertou sua mão.
—Não se preocupe com isso, não deve fazer esforços ainda. O médico insistiu
muito nisso. No momento, o mais importante é que o bebê e você descansem todo o
possível. Já irá recordando tudo.
—Mas…
—Dorme um momento —insistiu ele, lhe dando um beijo na testa— Logo iremos
embora daqui.
Marley desejava que essas palavras a fizessem sentir melhor, mas não era assim.
Ao contrário, cada vez estava mais agitada.
Enrugando o cenho, Chrysander apertou a campainha da enfermeira, que chegou
uns segundos depois.
—Não deve ter medo, senhorita Jameson —lhe disse, pondo uma mão em sua
testa— Agora está a salvo.
Mas suas palavras tampouco conseguiram consolála. Como ia sentirse bem se
logo sairia a um mundo que não conhecia, com um homem que era um estranho para
ela?
—Dorme, pedhaki mou. Eu cuidarei de você.
Curiosamente, Marley sim encontrou certo consolo nessas palavras.
***
Chrysander, no escuro quarto, olhava Marley dormir. Seu peito subia e descia
ritmicamente, mas inclusive em sonhos tinha o cenho franzido.
Era tão linda como sempre, pensou, com os cachos escuros estendidos pelo
travesseiro. Agora usava o cabelo mais longo, em lugar do corte curto que se movia ao
redor de seu rosto.
Sua pele tinha perdido o brilho, mas sabia que assim que recuperasse a saúde
voltaria a ter essa tez luminosa que tanto ele tinha gostado sempre. E seus olhos…
recordava quão brilhantes eram, quão encantadora resultava quando sorria.
Chrysander se separou da cama, resmungando um palavrão. Tudo tinha sido um
engano. Marley nunca tinha sido feliz com ele. Feliz de verdade. Pelo visto, ele era
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incapaz de fazêla feliz. Durante o tempo em que estiveram juntos o tinha traído e
enganado… a ele e aos seus irmãos.
Embora a considerasse sua amante, nunca a tinha colocado na mesma categoria
que as outras. O que compartilhava com ela não era mercenário… ou isso tinha
acreditado. Porque, ao final, não era mais que dinheiro e traição. Algo ao que estava
acostumado com as mulheres.
Mas mesmo assim a desejava. Marley continuava fazendo ferver seu sangue,
como um vício contra o qual não podia lutar.
Estava grávida de seu filho e isso era a única coisa importante, disse a si mesmo.
A partir daquele momento se veriam obrigados a estar juntos pela criança, seu futuro
irrevogavelmente unido.
Tinha que oferecer proteção para ela e para a criança, mas nunca confiaria nela.
Marley esquentaria sua cama e, se fosse sincero consigo mesmo, devia reconhecer que a
ideia lhe parecia muito atraente.
Mas não lhe daria nada mais.
Capítulo 3
Dois dias depois, Marley, sentada em uma cadeira de rodas, segurava a manta que
a enfermeira tinha colocado sobre suas pernas. Chrysander estava a seu lado, escutando
atentamente as instruções do médico.
Marley passou os dedos pelo vestido prénatal que uma das enfermeiras lhe tinha
dado e estirou o tecido sobre o volumoso abdômen. Todos tinham sido muito amáveis
com ela e temia deixar para trás essa amabilidade para aventurarse em um mundo que
desconhecia.
Depois de se despedir do médico e das enfermeiras, Chrysander empurrou a
cadeira de rodas para a entrada do hospital e, quando saíram à rua, Marley piscou,
cegada pelo sol. Havia uma limusine estacionada na porta e Chrysander a ajudou a subir.
Uns minutos depois, o luxuoso carro se deslizava pelas ruas de Nova Iorque.
A cidade lhe parecia familiar. Podia recordar algumas lojas, alguns edifícios, mas o
que faltava era a ideia de que aquele era seu lar, seu lugar. Não havia dito Chrysander
que viviam ali?
Sentiase como um artista frente a um tecido em branco, mas sem a habilidade de
pintar retrato algum.
Dez minutos depois, a limusine se deteve frente a um moderno e luxuoso arranha
céu que não despertou nela nenhuma lembrança. Mas quando se abriram as portas do
elevador, durante um momento muito breve foi como se estivesse a ponto de recordar, a
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ponto de rasgar o véu escuro que a separava de seu passado…
—O que ocorre?
—Fiz isto antes.
—Lembrase?
Marley negou com a cabeça.
—Não, mas me parece familiar. Sei que estive aqui.
—Aqui é onde vivemos… durante muitos meses. É natural que o recorde.
Marley enrugou o cenho. Haviao dito de uma forma estranha… ou isso lhe
parecia. Não viviam ali quando teve o acidente que a fez perder a memória?
—Entre, já chegamos.
Para sua surpresa, foram recebidos por uma mulher; uma jovem e atraente loira
que pôs uma mão no braço de Chrysander em um gesto que a Marley resultou muito
familiar.
—Bemvindo em casa, senhor Anetakis. Deixei todos os contratos que necessitam
sua assinatura sobre a escrivaninha do escritório. E também tomei a liberdade de pedir o
jantar.
Depois de dizer isso olhou para Marley de cima a baixo, um olhar que a fez se
sentir pequena e insignificante.
—Obrigado, mas não deveria terse incomodado. Marley, apresentolhe Roslyn
Chambers, minha ajudante pessoal.
—Encantada de voltar a vêla, senhorita Jameson. Faz meses que não nos
víamos…
—Roslyn —a interrompeu Chrysander, com um tom que lhe pareceu de
advertência.
Marley olhou de um a outro, sem entender. A mulher se movia pelo apartamento
como se fosse ali todos os dias e, entretanto, não a tinha visto em vários meses?
—Imagino que terão muitas coisas para contar um ao outro, assim vou indo. —
disse Roslyn, com um sorriso— Ligueme se precisar de algo e virei em seguida.
—Obrigado.
A loira se afastou, seus elegantes saltos repicando sobre o chão de mármore
italiano.
Marley se dava conta de que ali acontecia algo estranho, mas não queria
perguntar. Fariao em outro momento, quando se sentisse mais segura. Embora não
sabia se algum dia se sentiria mais segura.
—Deveria ir à cama.
—Não, estou farta de estar na cama.
—Então deveria deitarse no sofá. Levarei para você uma bandeja com algo de
comer.
Comer, descansar, comer. Esse parecia ser o único objetivo de Chrysander.
Suspirando, Marley deixou que a levasse ao sofá e a cobrisse com uma manta.
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Chrysander jogou uma olhada à lista de mensagens e em seguida afastou uma de
seu irmão Theron. Também havia outra de seu outro irmão caçula, Piers.
Não podia esperar muito tempo para responder por que já teriam recebido sua
mensagem e deviam estar perplexos. Como ia explicarlhes aquilo? Como ia explicar que
levava para a Grécia a mulher que tinha tentado arruinálos?
Fazendo uma careta, levantou o telefone para falar com Theron.
—Chrysander, por fim! Estava a ponto de tomar um avião para que me contasse o
que está passando.
—Sim, bom…
—Espera um momento, vou ligar para Piers, assim não terá que explicar duas
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vezes. Sei que Piers está tão interessado na explicação como eu.
—Desde quando tenho que dar explicações a meu irmão caçula?
Theron riu enquanto escutavam o sinal de chamada.
—Podese saber o que está passando? —foi à saudação de seu irmão— Recebi
sua mensagem e não entendo nada.
—Parece que tanto Theron como você serão tios. —disse Chrysander.
Nenhum dos dois disse nada durante uns segundos.
—Tem certeza de que é seu? —perguntou Theron por fim.
Chrysander fez uma careta.
—Está grávida de cinco meses e faz três meses eu era o único homem com o qual
se deitava. Sei disso com toda segurança.
—Como sabia que estava nos roubando? —replicou seu irmão caçula.
—Calese, Piers —o repreendeu Theron— O importante agora é o que vai fazer.
Evidentemente, não pode confiar nela.
—Há uma complicação. —suspirou Chrysander— Marley não recorda nada.
—Muito conveniente, não te parece? —interveio Piers.
—Você foi pego pelo pescoço —disse Theron.
—Também me parecia incrível ao princípio —admitiu ele— Mas a vi. Está aqui,
em… nosso apartamento. A amnésia é real, assegurolhes isso.
Era impossível que fingisse essa vulnerabilidade, esse medo, essa confusão. E
saber que estava sofrendo lhe doía… embora não deveria ser assim. Também ela o havia
feito sofrer.
—O que pensa fazer? —perguntou Theron.
—Iremos à ilha assim que se encontre um pouco melhor. Ali poderá recuperarse e
os jornalistas não nos incomodarão.
—Não pode levála a algum lugar até que nasça a criança e logo se livrar dela? —
exclamou Piers— Perdemos milhões de dólares por sua culpa e agora nossos hotéis
estão sendo construídos pela concorrência.
O que não disse, mas Chrysander sabia, era que tinham perdido os contratos
porque ele tinha estado cego pela mulher com quem se deitava. Era tanto culpa dele
quanto de Marley. Tinha decepcionado seus irmãos da pior maneira possível, arriscando
aquilo pelo que levavam anos trabalhando.
Capítulo 4
À manhã seguinte, Marley comeu a omelete que Chrysander lhe tinha feito e logo,
seguindo seus conselhos, tomou um suco de laranja.
Apesar da ansiedade e as inseguranças, era agradável que aquele homem
cuidasse dela. Embora não estivesse segura de qual era seu lugar no mundo de
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Chrysander Anetakis.
Mostravase solícito com ela, mas ao mesmo tempo distante. Não sabia se por
deferência a sua falta de memória, para não assustála, ou se assim era sua relação
normalmente.
A ideia de que sua relação com o pai de seu filho fora assim tão fria a assustou.
Ela não podia ter decidido casarse com alguém que a tratava com simples amabilidade,
como se fosse um estranho.
E, entretanto, eram estranhos. Ao menos, Chrysander o era para ela. Que horrível
devia ser que sua noiva não o recordasse, pensou então. Como se nunca tivesse existido.
—O que te preocupa, Marley?
—Estava pensando quão terrível deve ser esta situação para você.
—O que quer dizer?
Ela baixou o olhar, tímida de repente, mas Chrysander levantou seu queixo com
um dedo.
—Digame por que acredita que esta situação é horrível para mim.
—Estava tentando me pôr em seu lugar e deve ser horrível que alguém a quem
ama se esqueça de você. Eu acredito que me sentiria… rechaçada.
—A preocupa que me sinta rechaçado? —sorriu ele.
—Não é assim?
Marley odiava sua falta de confiança. Não só tinham roubado sua memória,
também a fé em si mesma. Sentiase como uma criança… perdida, incerta.
—Você não pôde evitar o que aconteceu, Marley. Se me sentisse rechaçado ou
magoado… seria um mesquinho.
Não imaginava mesquinho. Perigoso, imponente, sim, mas não mesquinho. Tinha
lhe medo?, perguntouse. Não, não era ele quem lhe dava medo, mas sim a ideia de ter
tido relações íntimas com um homem como ele e não recordálo.
—O que aconteceu comigo, Chrysander? —perguntoulhe então.
—Teve… um acidente, pedhaki mou. Mas o médico me assegurou que a amnésia
é temporária e que é importante que não se canse nem se angustie tentando recordar. Já
voltará quando tiver que fazêlo.
—Tive um acidente de carro? —perguntou Marley então.
Mas não podia ser. Examinou a si mesma atentamente e não tinha hematomas
nem feridas.
—Sim.
—E foi algo sério?
—Não, nada sério. Como pode ver, está bem.
—Sofri uma comoção cerebral? É por isso que perdi a memória?
—Não, o médico me explicou que é uma maneira de lutar com o trauma do
acidente. É um instinto protetor, algo desenhado pela natureza para evitar sofrimentos.
—E, entretanto, não tenho nem um só hematoma.
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—Do qual me alegro —sorriu Chrysander— Mas deve ter sido aterrador para você.
—Havia mais pessoas no carro? Alguém acabou ferido?
—Não, não se preocupe.
Marley deixou escapar um longo suspiro.
—Tomara que me lembre de algo. Acredito que se tentar, poderia recordar, mas
então a minha cabeça começa a doer…
—E isso é precisamente o que o médico disse que não deve fazer. Tem que se
esquecer de tudo e se concentrar em recuperar as forças —Chrysander pôs uma mão
protetora sobre seu abdômen— Que se aborreça assim não pode ser bom para nosso
filho.
Marley pôs as duas mãos sobre a sua… mas então a criança se moveu e ele
afastou a mão, como assustado.
—É assombroso.
Parecia tão perplexo que Marley teve que sorrir. Mas… alguma vez antes tinha
posto a mão em seu abdômen?
—Não o tinha notado até agora?
—Não, eu viajo muito… —Chrysander limpou a garganta— Acabava de voltar para
Nova Iorque quando soube do acidente. Tinha passado… algum tempo da última vez que
nos vimos.
—E suponho que você não encontrou o que esperava —suspirou ela— Deixou
aqui uma mulher que o amava e com quem ia casar, e encontrou alguém que o trata
como se fosse um estranho.
—Não se preocupe por mim. O único que me importa é que a criança e você
estejam bem. —murmurou ele, sem deixar de olhar seu abdômen, como fascinado.
Então soou uma campainha e Chrysander saiu ao corredor para falar pelo
intercomunicador. Marley aguçou o ouvido, mas só pôde escutar que dizia a alguém que
subisse.
—É a enfermeira que contratei para que cuide de você. —a informou logo,
entrando na cozinha— Tenho uma reunião urgente dentro de uma hora e não posso
perdêla.
—Mas eu não necessito uma enfermeira. Sou perfeitamente capaz de estar
sozinha enquanto você sai para trabalhar.
—Faça isso por mim, pedhaki mou. Sintome melhor ao saber que alguém está
cuidando de você.
—Quanto tempo estará fora?
A porta do elevador que dava diretamente ao salão do apartamento de cobertura
se abriu nesse momento.
—Espera um momento, volto em seguida.
Um minuto depois, Chrysander voltou com uma sorridente mulher de meia idade.
—Você deve ser Marley.
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—Sim.
—Prazer em conhecêla. Eu sou a senhora Cahill… mas, por favor, chameme de
Patrice.
—Muito bem, Patrice.
—O senhor Anetakis me pediu que cuidasse de você e a asseguro que tenho
intenção de fazêlo.
—Bom, eu tenho que ir. —disse Chrysander, olhando seu relógio— Mas voltarei na
hora do almoço.
—Eu gostaria disso. —tentou sorrir Marley.
Ele se inclinou para lhe dar um beijo na testa antes de partir e, fazendo um esforço
para afastar o olhar de suas costas, Marley olhou Patrice.
—A verdade é que me encontro bem. Chrysander parece acreditar que sou uma
inválida, mas…
—É um homem —sorriu a enfermeira— Além disso, não há nada errado em
descansar um pouco, não? Eu a acompanharei à cama e logo, quando despertar, farei um
chá para as duas.
Antes que Marley se desse conta do que estava acontecendo, Patrice a tinha
levado ao dormitório e a deitado na cama.
—Vejo que se dá bem em lidar com os pacientes.
—Conseguir que meus pacientes façam o que têm que fazer é parte de meu
trabalho —riu a enfermeira— Bom, agora descansa um pouco.
Marley olhou a chaminé acesa. Em realidade não precisa porque havia calefação
por piso radiante elétrico, de modo que o chão estava quente. E se alegrava porque não
gostava de usar sapatos em casa…
Não gostava de usar sapatos em casa.
Tinha recordado algo sobre si mesma, pensou, emocionada. Tentou puxar o fio
para recordar algo mais, mas o esforço lhe provocou uma nova enxaqueca.
Apesar de sua falta de memória, pensou, levando uma mão ao abdômen, onde a
criança não deixava de moverse, tinha um futuro por diante. Casarse com Chrysander,
cuidar de seu filho…
Embora gostaria de recordar como tinha chegado até ali.
Adormeceu pouco depois e, quando despertou, o relógio que havia sobre a
mesinha indicava que tinha passado uma hora. Sentindose mais descansada, afastou os
lençóis e saltou da cama para passear um pouco. O descanso constante começava a
deixála nervosa.
Embora ainda vestisse o pijama, vestiu o robe de seda que havia ao pé da cama e
entrou no salão, onde Patrice estava lendo.
Depois de lhe assegurar que se encontrava perfeitamente bem a Patrice, como
intuindo que queria estar sozinha, desapareceu na cozinha.
Marley aproveitou a oportunidade para explorar o apartamento. Foi cômodo por
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cômodo, tentando reconhecer algo de sua casa. Mas não lhe parecia sua casa. Podia ver
Chrysander no estilo da decoração, mas nada que a fizesse sentir que havia algo seu ali.
Por alguma razão, isso a incomodou. Sentiase como uma convidada espiando na casa
de seu anfitrião.
Quando entrou no dormitório principal, a sensação de inquietação aumentou e,
sem saber por que, teve que sair em seguida. Ao lado do dormitório principal havia um
escritório, evidentemente o lugar onde Chrysander trabalhava. Os móveis eram grandes e
masculinos, com estantes cheias de livros e uma grande escrivaninha de mogno. Sobre a
escrivaninha havia um computador e Marley se sentou na poltrona de pele para entrar na
Internet. Ao tocar o teclado, a tela se iluminou. Ao menos, recordava o mais básico, disse
a si mesma. Por mais frustrante que fosse sua amnésia, alegravase de que estivesse
limitada a sua vida e não ao mundo que a rodeava.
Durante uma hora esteve procurando informação sobre a amnésia, mas as
conflitivas opiniões de vários médicos só conseguiram aumentar sua enxaqueca. De
modo que decidiu procurar algo sobre Chrysander.
Era um pouco aterrador ver o rico e poderoso que era seu noivo. Seus irmãos e ele
possuíam uma das cadeias hoteleiras mais importantes do mundo, mas não havia muita
informação pessoal.
Marley suspirou, irritada por sua covardia. O que devia fazer era perguntar a ele
diretamente. Ao fim e ao cabo era sua noiva, iam ter um filho, iam se casar. Se pudesse
recordar algo disso…
—O que faz?
A voz de Chrysander a sobressaltou e, quando levantou o olhar, viuo no batente
da porta.
—Que susto me deu.
—Perguntei a você o que está fazendo. —repetiu ele, com expressão furiosa.
—Estava procurando algo sobre a amnésia na Internet —respondeu ela— Pensei
que não se importaria que usasse seu computador.
Chrysander a olhava com tal expressão de ira…
—Sinto muito. —conseguiu dizer, levantando da poltrona— Só estava tentando
descobrir algo sobre meu problema… mas não voltarei a tocar suas coisas, não se
preocupe.
Logo deu a volta e saiu do escritório para que ele não a visse chorar.
Chrysander resmungou um palavrão, furioso consigo mesmo. Logo se aproximou
do computador e comprovou que, efetivamente, só tinha estado procurando coisas sobre
esse assunto e alguns artigos sobre sua companhia.
Tinha reagido como um estúpido, mas vêla usando seu computador o tinha posto
em guarda imediatamente. Apoiando os cotovelos na escrivaninha, enterrou a cara entre
as mãos. Sua reunião com o detetive encarregado da investigação do caso tinha sido
frustrante. Mal tinham informação sobre o que tinha acontecido e a única pessoa que
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podia darlhe não recordava nada.
Marley não tinha sido resgatada, como haviam dito nas notícias. Em realidade,
seus captores a tinham abandonado e uma chamada anônima alertou a polícia. Quando
chegaram ao desvencilhado edifício, encontraramse com uma mulher grávida, assustada
e em estado de choque que não recordava nada absolutamente. A vida de Marley, em
resumo, tinha começado aquele dia.
Mas o que o detetive lhe tinha deixado bem claro, certamente, era que devia cuidar
dela. Ninguém sabia por que tinha sido sequestrada, mas seus captores seguiam livres. E
Chrysander não pensava deixar que ninguém se aproximasse dela ou do seu filho de
novo.
O detetive não pôs objeção alguma quando lhe disse que ia tirála do país; ao
contrário, opinou que era o melhor para ela. Mas queria ser notificado assim que
recuperasse a memória para poder interrogála.
Havia muitas coisas a preparar antes da viagem, pensou. Tinha alertado a sua
equipe de segurança em Nova Iorque e na ilha, mas ainda tinha que fazer muitas
chamadas…
Sim, deveria encarregarse de organizar a viagem, que era o mais importante
nesse momento. E, entretanto, enquanto pensava nisso estava levantandose para pedir
desculpas a Marley.
Marley estava em frente ao guardaroupa do dormitório, olhando a roupa que tinha
pendurada nos cabides. Nenhum daqueles elegantes vestidos lhe parecia familiar. Nas
prateleiras de madeira, entretanto, havia jeans e camisetas dobradas… sim, sabia por
intuição que com isso se sentiria mais cômoda. Mas quando desdobrou um par de jeans
viu que não eram para gestantes.
Nenhuma dessas calças tinha sido comprada para uma mulher grávida de cinco
meses.
—Sinto muito, de verdade.
Surpreendida, Marley se voltou.
—Evidentemente, você e eu vivemos vidas separadas. Terá que me perdoar
enquanto tento me acostumar.
—Não, não é isso. —suspirou Chrysander.
—Ah, não? Colocoume em um quarto que não é o seu, você se aborrece que use
seu computador, nossa roupa está separada… o que não entendo é como fiquei grávida
—disse ela, irônica— Por que vai se casar comigo, Chrysander? A gravidez foi um
acidente?
—Venha aqui —disse ele então. E, antes que Marley pudesse protestar, sentoua a
seu lado na cama.
—Onde está Patrice?
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—Eu disse que se fosse assim que cheguei. Só estará aqui quando eu tiver que
sair. E te fará companhia na ilha quando eu não puder estar a seu lado.
—Pensei que estaríamos sozinhos na ilha.
—Você pode achar que não precisa dela, mas eu prefiro não me arriscar. Sua
saúde é muito importante para mim —suspirou Chrysander— E quero te pedir perdão
pelo que aconteceu antes. Fui um grosseiro e não tenho nenhum direito a sêlo.
—Não acredito que o termo “grosseiro” seja o bastante forte —disse Marley—Você
se comportou mais como um imbecil.
—Sim, é verdade —assentiu ele, surpreso por essa réplica, tão incomum nela — E
por isso te peço perdão. Não tenho nenhuma desculpa. Estive muito ocupado entre o
trabalho e solucionar a viagem… e paguei minhas frustrações com você. É imperdoável,
mas te peço que me perdoe de todas as formas.
—Aceito suas desculpas.
—E quanto ao resto —Chrysander começou a acariciar seu cabelo—, não vivemos
vidas separadas, Marley. A coloquei neste quarto por deferência a seu estado. Não me
parecia justo esperar que dormisse com um homem que é um estranho para você. Não
queria pressionála.
—Eu pensei…
—O que pensou, pedhaki moui?
—Que não me queria.
Chrysander tomou seu rosto entre as mãos para olhála nos olhos. E logo inclinou um
pouco a cabeça. Marley ficou sem fôlego, esperando sem saber bem o que… mas
sentindo um desejo desconhecido. Quando seus lábios se encontraram por fim, foi como
uma descarga elétrica, um comichão que se estendia por todo seu corpo como um
incêndio.
Instintivamente se arqueou para ele para estar mais perto e, ao sentir o toque do
duro torso masculino sobre seus seios, deixou escapar um gemido de surpresa.
Enquanto a beijava experimentou uma sensação de paz, de bemestar que não
tinha experimentado desde que despertou no hospital sem saber quem era.
—Seu corpo lembra de mim, pedhaki mou. —disse ele. Soava satisfeito, quase
arrogante, mas isso lhe deu confiança. Parecia contente com a ideia de que o recordasse.
—Mas não tenho nada para vestir. —disse então.
E logo ficou rubra por ter escolhido precisamente um assunto tão absurdo depois
de um momento tão… intenso.
—Não tem nada para vestir?
—Por que não há roupa de grávida no armário, Chrysander? É que não quis
comprála?
—Sinto muito, não tinha pensado nisso —murmurou ele, tentando encontrar
alguma explicação— Em seu estado não pode usar jeans ajustados, por muito que eu
goste.
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—Estava acostumado a me vestir de jeans, verdade?
—Não, em realidade você gostava de ficar bonita para mim… claro que você
estaria bonita até com um saco de batatas. Mas deveria ter pensado que necessitava
outro tipo de roupa…
—Você está se saindo muito bem —o interrompeu ela— Isto não pode ser fácil
para você e, entretanto, está sendo incrivelmente paciente… bom, salvo faz um momento.
—Deixa de preocuparse por mim. É você quem está sofrendo —suspirou
Chrysander— E é verdade que necessita roupa adequada, assim vou fazer algumas
chamadas.
—Não podemos ir às compras?
—Agora mesmo não está para ir às compras, Marley. Quero que descanse. Iremos
amanhã à ilha, assim que o médico disser que pode viajar.
—Amanhã? Tão cedo?
—Agora entenderá por que temos que encomendar a roupa a toda pressa. E
agora…
—Se voltar a me dizer que descanse um momento começo a gritar.
—Mas…
—Por favor, Chrysander, estou bem. Além disso, tirei um cochilo enquanto você
estava fora. Mas tenho fome, podemos comer algo?
—Sim, claro —suspirou ele— Aparentemente, não penso nunca no que é
realmente importante. Perdoeme outra vez, Marley. Venha, vamos à cozinha. Vou fazer
algo para comer.
Capítulo 5
À manhã seguinte, Marley vestiu um dos lindos vestidos que uma boutique
especializada em roupa de maternidade tinha levado para ela ao apartamento.
Chrysander tinha insistido em que visse o ginecologista antes de ir à ilha, de modo
que, acompanhada por ele, e por vários membros de sua equipe de segurança, entraram
no consultório do médico.
Sentiase incômoda e um pouco envergonhada por levar tanta gente ao redor, mas
também contente pela aparente preocupação que Chrysander mostrava por sua saúde.
A enfermeira lhes indicou que esperassem um momento e Chrysander começou a
passar as mãos por seus braços, para tranquilizála. E quando o médico entrou na
consulta, a tomou pela cintura. Não parecia ter pressa por soltála.
Depois de certos preliminares sobre sua condição, o ginecologista olhou seu
relatório.
—Eu gostaria de faz uma ecografia para comprovar que tudo está bem.
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—Há alguma causa de preocupação? —perguntou Chrysander.
—Não, é só uma precaução. Como partem do país e a senhorita Jameson sofreu
recentemente um trauma, quero comprovar se o feto se encontra em bom estado.
Chrysander tomou a mão de Marley.
—Eu estarei com você, pedhaki mou. Não se preocupe.
Ela sorriu.
—Não estou preocupada. Nem sequer resultei ferida no acidente e estou segura de
que a criança se encontra bem.
O ginecologista lhe pediu que se deitasse na maca para pôr uma espécie de gel
sobre o abdômen. Um segundo depois, uma imagem imprecisa aparecia na tela do
computador. Marley, nervosa, apertou a mão de Chrysander.
—Querem saber se é menino ou menina?
—Sim, eu sim —sussurrou ela— Você quer saber?
Chrysander sorriu.
—Sim, também eu gostaria de saber.
Os dois ficaram observando o borrão da tela até que, pouco a pouco, começou a
ser mais claro.
—É um menino. —anunciou o ginecologista.
—Essa mancha imprecisa é meu filho? —perguntou Marley, com um nó na
garganta.
—Certamente que sim. Essas são as pernas… e aí estão as nádegas. Um menino
muito bonito. —brincou o médico.
—É lindo —disse Chrysander, inclinandose para beijar Marley— Obrigado,
querida.
—Por que me agradece?
—Por nosso filho —seus olhos estavam cravados na tela do computador, como
fascinado pela imagem.
—Bom, já terminamos. —anunciou o médico, lhe oferecendo um lenço de papel.
Chrysander a ajudou a levantarse na maca, um pouco nervoso.
—Está tudo bem?
—Perfeitamente. Mas devem entrar em contato com um ginecologista quando
chegarem à Grécia. O menino parece estar muito sadio, mas deve visitar regularmente a
um médico.
—Enquanto estivermos na ilha haverá sempre um médico e uma enfermeira
conosco.
—Maravilhoso. Cuidese, jovenzinha. —sorriu o homem.
Marley lhe devolveu o sorriso enquanto descia da maca com ajuda de Chrysander.
Uns minutos depois estavam na limusine.
—Encontrase bem? O jato está esperando no aeroporto, mas se está cansada…
—Estou perfeitamente bem —sorriu ela— E você, está contente pelo menino,
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Chrysander?
Ele pôs uma mão sobre seu abdômen.
—Dei a você alguma razão para que pense que não o estou?
—Não, ao contrário. Mas, ao saber que é um menino, agora tudo me parece tão…
não sei, tão real.
—Teria gostado de uma menina também, é verdade. Enquanto nasça sadio, não
importa o que seja.
—Se pudesse recordar, tudo seria perfeito…
—Não se lamente por coisas que não pode controlar —sorriu Chrysander— Logo
se lembrará.
—Sim, é verdade. Mas eu gostaria…
—O que você gostaria, pedhaki mou?
—Eu gostaria de recordar que o amo. —confessou ela.
Nos olhos de seu noivo viu muitas emoções conflitivas. Emoções que não podia
entender.
—Talvez possa aprender a me amar outra vez.
—Está deixando isso muito fácil para mim. —sorriu Marley, apoiando a cabeça em
seu ombro.
Mas então um pensamento a assaltou: Chrysander não havia dito que a amava.
Nenhuma só vez… nem quando estava no hospital, nem em casa. Não seria normal
dizerlhe depois de um trauma assim? Não seria lógico que Chrysander lhe recordasse
seu amor já que ela não podia recordálo?
Estava a ponto de perguntar a ele, mas a pergunta morreu em seus lábios ao vêlo
concentrado na tela de televisão que havia no respaldo do assento e, pouco depois,
chegaram ao aeroporto.
O interior do jato era tão luxuoso como o apartamento onde viviam ou a limusine
em que se moviam por Nova Iorque. Mas era algo que, sem saber por que, não a
surpreendia muito.
—Há uma cama. Assim que tivermos decolado, pode deitarse.
—Muito bem —murmurou ela, vendo como parte da equipe de segurança subia
atrás deles— Chrysander, por que anda com tantos guardacostas?
Ele pigarreou, nervoso.
—Sou um homem rico, Marley, e há gente que quer me machucar. A mim… ou às
pessoas próximas a mim.
—De verdade estamos em perigo?
—O trabalho desses senhores é precisamente que não haja nenhum perigo. Não
se preocupe, Marley. Eu me encarregarei de que a criança e você estejam a salvo.
—É que não entendo muito bem seu mundo…
—Nosso mundo. Um mundo do qual você faz parte.
—Sim, claro. Mas não é fácil acostumarse.
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Uns minutos depois o avião decolou e Marley tentou relaxar. Aterrissaram em
Corinto várias horas depois e Chrysander a ajudou a descer do jato para levála a um
helicóptero que os esperava na pista.
Marley ia olhando pela janela do helicóptero enquanto se afastavam de Corinto
para cruzar o Mediterrâneo. Na distância viu umas minas, mas quando ia perguntar a
Chrysander, este assinalou uns auriculares que havia sobre o assento.
—É o templo do Apolo —lhe explicou quando os colocou — Se quiser, podemos ir
vêlo quando tiver se recuperado da viagem.
—Sim, eu gostaria muito. Essa é a ilha? —perguntou Marley, assinalando um
pedaço de terra que se via na distância.
—Sim.
—Como se chama?
—Anetakis.
—Ah, claro. Deveria ter imaginado.
Quando se aproximavam da ilha, Marley começou a sentirse angustiada e
Chrysander devia ter percebido, porque tomou sua mão.
—Não deve preocuparse, pedhaki mou. Você gostará da ilha, já o verá. E será
bom para você poder se concentrar exclusivamente em descansar e recuperar as forças.
Marley não discutiu, mas não tinha a menor intenção de passar seu tempo na ilha
“descansando”.
Aterrissaram em um heliporto situado às costas de uma mansão palaciana, frente
ao mar. Chrysander a tomou pela cintura e logo lhe fez um gesto para que esperasse
enquanto ele falava com o piloto.
Enquanto isso, Marley olhou a casa, esperando recordar algo. Nada. Seguia sem
recordar nada, como se nunca tivesse estado ali.
—Vamos —disse Chrysander depois— Aqui faz frio.
—Eu estive aqui alguma vez?
—Não, é sua primeira visita à ilha.
—Não o entendo. Estamos noivos e nenhuma vez estive em sua casa?
Chrysander apertou os lábios.
—Nossa casa esteve até agora em Nova Iorque.
Uma nuvem de confusão pareceu envolvêla. Por que não tinha ido à ilha nem
sequer uma vez? Não era a casa de seu noivo?
Ele tomou sua mão para levála para a grade de entrada. Depois da grade, em
meio de um pátio, Marley viu uma piscina de brilhantes águas azuis. Mas, para sua
surpresa, a piscina entrava na casa sob um elaborado arco de ferro e cristal.
—É uma piscina climatizada —lhe explicou Chrysander— Nesta época do ano faz
muito frio para banharse fora, mas pode se banhar na parte de dentro se o médico te der
permissão.
O primeiro piso da casa era estilo loft, dividido em três áreas, com um salão
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enorme, uma ampla cozinha e uma sala de jantar. Uma das paredes era inteiramente de
vidro, de modo que podia ver o mar de todos os ângulos.
O mar, o jardim, e uma piscina olímpica.
Mas, de repente, uma mulher em biquíni entrou na casa e Marley a reconheceu
como a ajudante pessoal de Chrysander.
Que fazia ali?, perguntouse. Além disso, fazia muito frio para estar banhandose
na piscina. E com um biquíni, além disso!
Roslyn fingiu mostrarse surpreendida. Marley estava segura de que a surpresa era
fingida porque, embora tivesse uma saída de praia na mão, nem sequer tentou cobrirse
com ele.
—Senhor Anetakis, não esperava vêlo até amanhã. —sorriu, sacudindo a sedutora
juba loira— Espero que não se importe que eu tenha tomado um banho.
—Não, claro que não. Preparou meu escritório, como pedi?
—Sim, é óbvio. Espero que não se importe se eu ficar para passar a noite. Não
pedi o helicóptero até amanhã.
O olhar aparentemente inocente de Roslyn não enganava Marley e, como sua
cabeça começava a doer, afastouse um pouco para não continuar ouvindo os miados da
ajudante.
—Pode ficar, é óbvio. E espero que jante conosco esta noite.
Marley começou a subir a escada. Não sabia aonde ia, mas imaginou que os
quartos estariam no andar de cima.
—Por que não me esperou? Não deve subir sozinha a escada —a repreendeu
Chrysander— E se você escorregar?
—Por que iria escorregar?
—A partir de agora, terá que chamar alguém cada vez que quiser subir ou descer a
escada.
—O que? Não fala sério!
—Tomo muito a sério seu bemestar e o de nosso filho. —respondeu ele.
Marley deixou escapar um suspiro de frustração enquanto a levava a um espaçoso
quarto que, evidentemente, era o dormitório principal.
—É meu quarto?
—É nosso quarto.
Marley ficou vermelha ao pensar em compartilhar a cama com ele.
—Não te parece bem?
—Sim, sim, claro.
Chrysander sorriu.
—Alegrame que estejamos de acordo.
—Sim, bom… não estamos de acordo em tudo.
—O que quer dizer?
—Olhe, eu não necessito uma escolta para subir e descer a escada. Não sou uma
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inválida e eu não gosto que me tratem como se fosse uma.
—Eu prefiro que alguém vá com você…
—Mas eu não —o interrompeu ela— Não quero me sentir como uma prisioneira.
Se você está preocupado por seu filho e por mim, também eu estou. —acrescentou,
cruzando os braços.
Para sua surpresa, Chrysander baixou os ombros, vencido, e soltou uma
gargalhada.
—Do que você ri agora?
—Não mudou nada… sempre discutindo comigo. Sempre me acusava de querer
me dar bem a todo custo.
—Bom, pois já que estamos discutindo, o que faz essa mulher aqui outra vez… e
de biquíni?
Não tinha querido dizêlo assim, como se estivesse ciumenta, mas fracassou
miseravelmente.
A expressão de Chrysander se endureceu.
—Você nunca gostou de Roslyn, mas te agradeceria que não fosse grosseira com
ela.
—Eu costumo ser grosseira com ela?
—Não, não queria dizer isso…
—Você estranha que me pergunte o que faz aqui com esse traje? —Marley se
aproximou da janela, da qual se via a piscina—. Por que está ela aqui, como em sua
própria casa, e eu não vim nenhuma vez?
Chrysander pôs as mãos sobre seus ombros.
—Roslyn é minha ajudante pessoal e está acostumada a viajar comigo. Eu lhe pedi
que viesse um dia antes para preparar tudo, mas não deve preocuparse com sua
presença. Quanto ao fato de você nunca ter vindo, só posso dizer que não tivemos
ocasião. Quando voltava para Nova Iorque depois de várias semanas viajando por todo
mundo gostava mais de estar com você que voltar a tomar um avião.
Marley deu a volta e, sem pensar, jogou os braços ao redor do seu pescoço.
—É que isto é tão frustrante. Mas não penso me desculpar por pensar que a
ajudante pessoal de meu noivo usa muito pouca roupa e isso não me parece nada
profissional.
—Se assim se sentir melhor, a verdade é que nem sequer tinha percebido isso. —
riu Chrysander.
Marley apoiou a cabeça em seu ombro. OH, sim, seu corpo o recordava bem.
Recordava o calor de suas mãos, o comichão que o fazia sentir o brilho de seus olhos…
Quando Chrysander inclinou a cabeça foi como se alguém tivesse acendido um
fósforo. De repente estavam beijandose, ele exigindo em silêncio que abrisse a boca
para brincar com sua língua…
Seus mamilos se endureceram quando colocou as mãos sob a camisa, as
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passando por seu abdômen, por cima do sutiã. Antes que Marley pudesse saber quais
eram suas intenções, o broche do sutiã se abriu e o toque de suas mãos lhe provocou
uma inexplicável sacudida de desejo.
—Chrysander… —murmurou, deixandose cair sobre seu peito.
—Theos mou! —exclamou ele então— Eu a teria tomado aqui mesmo, no chão. —
disse logo, aborrecido consigo mesmo— Por favor, não me olhe assim.
—Como eu o olho?
—Como se quisesse que a tomasse nos braços e a levasse a cama para fazer
amor durante toda a noite. Não sei se vou poder me controlar…
Marley riu, uma risada rouca, nervosa.
—E se isso fosse o que quero?
—O médico chegará dentro de uns minutos —disse Chrysander, tomando seu
rosto entre as mãos— Quero que a examine para comprovar que a viagem não te deixou
esgotada. Sua saúde é o mais importante para mim.
—Ah, vejo que não está interessado. —tentou brincar ela.
—Não se engane. Não ache que é desinteresse. —replicou ele, apertando seus
braços com força— Eu a asseguro que assim que o médico tenha dado sua aprovação,
estará em minha cama… ah, acredito que ouço o helicóptero. É o médico e a senhora
Cahill. Por que não se acomoda enquanto eu desço para recebêlos?
Assim que Chrysander desapareceu, Marley se deixou cair sobre a cama. Como
podia reagir dessa maneira ante um homem que era um estranho para ela? Mas era
verdade, seu corpo o reconhecia. Deveria encontrar consolo nisso, mas a intensidade de
sua atração por ele a assustava.
Recordando que o médico subiria em uns minutos, e sem querer lhe dar uma
desculpa para enviála a cama, entrou no banheiro para lavar o rosto. Mas, ao olharse ao
espelho, franziu o cenho. Seu cabelo…
Uma imagem apareceu em sua cabeça. Era ela, rindo, mas com o cabelo mais
curto, os cachos roçando seu rosto. Ela preferia o cabelo curto, estava segura. Então, por
que o usava comprido?
Suspirando, decidiu cortálo assim que fosse possível.
Um golpezinho soou na porta pouco depois e Chrysander entrou com Patrice e um
homem mais velho.
—Marley, apresentolhe ao doutor Karounis. Tem uma clínica de ginecologia e
obstetrícia em Atenas e aceitou amavelmente cuidar de você enquanto estivermos na ilha
—sorriu, tomandoa pela cintura.
—É um prazer conhecêla, senhorita Jameson. —disse o homem, com toda
formalidade.
—Encantada —sorriu Marley— Mas Chrysander se preocupa muito. Não tinha que
vir até aqui.
—Só quer o melhor para você e para seu filho —sorriu o médico— É natural.
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Série No Amor e na Guerra 1
—Sim, claro, suponho que sim. Bom, faça o que tenha que fazer para convencêlo
de que estou bem. E de que sou perfeitamente capaz de subir e descer escadas sozinha.
Chrysander sorriu.
—Quando o doutor Karounis tiver terminado de examinála, por que não toma um
banho e descansa um momento? Virei buscála na hora do jantar.
Marley assentiu com a cabeça e lhe jogou um beijo antes de sair do quarto.
Capítulo 6
Entre a visita do ginecologista e o longo banho relaxante, Marley quase tinha
conseguido esquecer a presença de Roslyn na casa. E quando Chrysander entrou no
dormitório para acompanhála ao salão sorriu para ele, contente.
—Está muito bonito. Tem melhor aspecto e parece relaxada.
—O médico disse que estou perfeitamente bem, assim não há nenhuma razão
para preocuparse.
—Alegrome, pedhaki mou. Sua saúde é importante para mim. —sorriu
Chrysander, tomandoa pelo braço.
Mas quando estavam descendo a escada, Marley viu Roslyn sob o arco que dava
ao salão.
E ficou gelada.
A ajudante de Chrysander tinha trocado o biquíni por um vestido de grife que
moldava cada uma de suas curvas e se sentiu envergonhada pela simples calça e a blusa
de gestante. Quase lhe dava vontade de voltar para seu quarto para trocar de roupa.
Mas como não queria que Roslyn se desse conta de que estava com ciúmes,
agarrouse ao braço de Chrysander e tentou sorrir.
—Se eu soubesse que não íamos nos vestir para jantar, teria escolhido algo
diferente —disse Roslyn, toda falsa inocência— Como normalmente gosta de arrumarse
para a noite… —acrescentou, olhando para Chrysander.
—O mais importante é que Marley esteja cômoda. E como viemos aqui
precisamente para estar sozinhos, não tem sentido vestirse de maneira formal.
Marley sentiu vontade de jogar os braços ao redor do seu pescoço.
—Vamos, pedhaki mou, a senhora Cahill e o doutor Karounis estão nos esperando
para jantar.
O jantar, imaginou, devia ser delicioso. Mas ela não registrou sabor algum,
concentrada como estava na conversa que mantinham Chrysander e sua ajudante.
Quando Patrice levou a sobremesa e seu noivo continuava concentrado em
Roslyn, Marley se levantou e atirou o guardanapo sobre a mesa.
—Ocorre algo? —perguntou Chrysander.
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—Não, estou bem. Vou ao quarto.
Quando chegou ao pé da escada, Patrice a pegou pelo braço.
—Quer que a ajude?
—Não precisa, obrigada.
—Mas o senhor Anetakis…
—O senhor Anetakis sabe que estou bem, não se preocupe.
Certamente não se incomodou em acompanhála, pensou quando chegou ao
dormitório. Evidentemente, sua conversa com Roslyn era mais importante.
Suspirando, aproximouse da janela para olhar o jardim, iluminado pela luz da lua.
Tinha uma qualidade mágica que a intrigava e possivelmente um passeio lhe faria bem,
pensou.
Vestindo um pulôver sobre os ombros, Marley desceu a escada agarrandose ao
corrimão… zangada com Chrysander por havêla deixado paranoica com sua
preocupação.
Podia ouvir vozes na sala de jantar, mas saiu ao jardim pela porta de trás e
respirou a brisa do mar que acariciava seu rosto. Estava fresco, mas era uma noite linda,
cheia de estrelas.
Na distância podia ouvir o som do mar e isso a tranquilizou um pouco. Suspirando,
tomou um caminho que parecia levar a praia, mas se deteve frente a uma fonte de pedra
iluminada por focos situados no chão.
—Não deveria estar aqui.
A voz de Chrysander a sobressaltou.
—Como me encontrou tão rápido?
—Sabia onde estava assim que saiu de casa. —disse ele.
—Como?
—Os homens da segurança me disseram que tinha saído ao pátio.
—Mas bom…
—Não quero que suba e desça sozinha as escadas, Marley. E não deveria sair ao
jardim de noite se eu não estiver com você.
—Você não pode me acompanhar a todas as partes. Além disso, como ia fazer
isso se estava grudado à sua ajudante? —replicou ela.
Tinha querido parecer despreocupada, mas a nota de raiva em sua voz era
evidente e apertou as mãos, zangada consigo mesma.
—Não dei atenção a você durante o jantar, sinto muito. Tinha que solucionar várias
coisas com Roslyn antes que parta pela manhã —lhe explicou Chrysander— Vou estar
afastado do escritório durante estas férias e, embora possa trabalhar daqui, prefiro
dedicar a você meu tempo.
Marley assentiu com a cabeça. Sempre se sentia tão insegura com seu noivo?
Esperava que não, porque ser assim seria uma existência insuportável.
—Prometame que não voltará a sair ao jardim de noite sem me avisar —disse
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Chrysander, levantando seu queixo com um dedo— Não posso protegêla nem ao nosso
filho se desobedece meus conselhos.
—O que poderia me acontecer no jardim?
—Não sei, mas deve tomar cuidado. Embora tenha falado com o doutor Karounis e
que me disse que não há nenhum problema em que façamos amor.
—Perguntoulhe isso?
—Não quero machucála, nem a você nem ao bebê, assim tinha que me assegurar
de que podíamos fazêlo. —sorriu ele, tomandoa nos braços como se não pesasse nada.
—Há gente de segurança vigiando!
—São homens, pedhaki mou. Entenderão perfeitamente. — riu Chrysander.
Marley enterrou o rosto em seu pescoço. Mas, enquanto subia a escada, seu
nervosismo aumentou. Desejava o que estava a ponto de acontecer, mas também o
temia. Como ia manter um ápice de controle quando ele o destroçava com uma só
carícia?
Essa reação a fazia vulnerável, como se não pudesse lhe esconder nada. Nem
sequer estava segura de querer fazêlo, mas até que recuperasse a memória deveria
proteger suas emoções.
Chrysander a deixou sobre a cama, olhandoa com os olhos brilhantes enquanto
levantava sua camisa e inclinava a cabeça para depositar um beijo sobre seu abdômen.
Havia muita ternura nesse gesto, pensou Marley.
—Isto é o que quer? —murmurou, colocandose em cima, mas apoiandose nas
duas mãos para não sobrecarregála com seu peso.
—Sim… —murmurou ela, desejando que cumprisse a promessa que havia em
seus olhos.
—Em muitos sentidos, esta é nossa primeira vez juntos. E não quero assustála.
—Desejo você. —disse Marley.
Chrysander se levantou e, enquanto começava a desabotoar sua camisa, ela o
olhava com o pulso acelerado. Viuo atirar a camisa ao chão e começar a tirar as calças…
era como se tivesse visto antes essa cena, pensou.
—Fez isso antes. —murmurou.
—Você gosta, disseme muitas vezes —sorriu ele— E eu gosto de agradar a uma
mulher.
Por fim, baixou a cueca de seda escura e Marley engoliu saliva ao ver sua ereção.
Era simplesmente muito bonito, poderoso, masculino.
—E agora tenho que tirar sua roupa, pedhaki mou.
Em um momento de pânico, Marley pôs as mãos sobre seu torso. A acharia
bonita? Reagiria como tinha reagido ela? Tentou recordar algo, mas sua mente seguia em
branco.
Chrysander afastou suas mãos e a pôs sobre o travesseiro.
—Não se esconda de mim. É linda e quero vêla toda.
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Marley passou a língua pelos lábios, seus mamilos endurecendose sob o sutiã. De
repente, queria estar com ele, pele com pele, sem o impedimento da roupa.
Chrysander começou a puxar sua camisa enquanto a beijava no pescoço, na
garganta… assombrosamente, tinhalhe tirado a roupa sem que se desse conta e sorria
de maneira arrogante enquanto atirava ao chão a última peça.
Quando deslizou uma mão meigamente por seu corpo e a deixou entre suas
pernas, um gemido escapou da garganta de Marley.
—Eu a desejo tanto. Senti muito a sua falta. Entreguese a mim, Marley. Dême
seu prazer.
Estava em cima dela, segurandose com as mãos, separando suas pernas com um
joelho… e Marley jogou os braços ao redor do seu pescoço enquanto se afundava nela.
Enquanto a possuía a abraçava meigamente, com cuidado para não apoiar o peso de seu
corpo sobre seu abdômen.
Levoua ao paraíso e, nesse momento, pela primeira vez, sentiuse em casa.
Sentiu que aquele era seu lugar e que não estava vivendo a vida de outra pessoa. Seus
olhos se encheram de lágrimas e só quando encontrou alívio entre seus braços
Chrysander se deixou ir, caindo logo brandamente sobre seu peito.
Quando tentou moverse, Marley murmurou um protesto.
—Peso muito. —disse ele, deitandose de lado e passando uma mão pela curva de
seu quadril.
Durante um longo momento estiveram assim, em silêncio. Mas, pouco a pouco, os
olhos de Marley se fecharam…
—Chrysander?
—Sim?
—Sempre foi assim?
—Não, pedhaki mou. Esta noite foi… muito melhor.
Com um sorriso nos lábios, e sentindose envolta pelo calor e o aroma de
Chrysander, Marley adormeceu.
Capítulo 7
A luz do sol despertou Marley, que estendeu uma mão para tocar o outro lado da
cama… Chrysander não estava a seu lado, mas ao ouvir os sinais da hélice do
helicóptero se levantou para olhar pelo balcão.
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Seu noivo estava despedindose de Roslyn no heliporto e quando, por fim, o
helicóptero decolou, Marley deixou escapar um suspiro de alívio. Alegravase de que a
ajudante tivesse desaparecido. Contente, entrou no banheiro para tomar uma ducha e,
quando saiu, Chrysander estava esperandoa.
—Bom dia.
—Bom dia. Dormiu bem?
—Sim, maravilhosamente.
—Bom, vou deixála para que se vista. A senhora Cahill virá para ajudála a descer
a escada.
E, sem dizer outra palavra, saiu do quarto, deixando Marley boquiaberta.
Comportavase como se estivesse desejando afastarse dela e, depois da noite anterior,
aquilo era a última coisa que esperava.
E enviar Patrice para procurála? Por que não a acompanhava ele se tão
preocupado estava?
Suspirando, Marley entrou no quarto de vestir. Já tinha suficientes preocupações
para acrescentar um homem malhumorado à equação. Fosse qual fosse a razão para o
aborrecimento de Chrysander, não podia ter nada a ver com ela.
A calidez e a ternura da noite anterior pareciam ter evaporado de repente, pensou
enquanto saía do dormitório, uma vez vestida. Não ia ficar esperando que fossem
procurála como se fosse uma menina pequena.
Estava no meio da escada quando viu Chrysander abaixo, olhandoa com
expressão sombria. Devolveulhe um gesto desafiante e, sem dizer nada, seu noivo a
pegou pelo braço para levála à sala de jantar.
Tomaram o café da manhã em completo silêncio. Marley abriu a boca várias vezes
para perguntar o que lhe passava, mas sua grave expressão a manteve em silêncio até
que, por fim, deixou de fingir que estava comendo e afastou o prato.
—Tem que comer. —disse Chrysander.
—Não é fácil comer quando há uma nuvem negra sobre minha cabeça.
Ele estava a ponto de replicar quando ouviram de novo os sinais das hélices do
helicóptero.
—Deve ser o joalheiro. Voltarei em seguida.
O joalheiro? Marley enrugou o cenho. Para que necessitava um joalheiro? Logo se
perguntou onde estariam Patrice e o doutor Karounis. Se estivessem ali, não teria que
suportar o pesado silêncio de Chrysander.
Suspirando, levantouse para sair ao jardim. Fazia um dia lindo e ainda não tinha
visto a ilha à luz do dia. Assim que abriu a porta foi recebida por uma deliciosa brisa e,
encantada, saiu para dar um passeio. Mas quanto mais se afastava da casa, mais
arenoso se tornava o caminho e se deteve um momento para tirar as sandálias.
Ao final do caminho havia uma pequena estrada de terra que levava até a praia e,
quando seus dedos se enterraram na areia, Marley suspirou, agradecida.
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As ondas pareciam chamála, de modo que se aventurou até a borda. O mar era
tão azul que a deixava sem fôlego. Aquilo era o paraíso. E era de Chrysander.
Olhou para a casa, afastando os cachos que o vento enviava sobre seu rosto, mas
ao ver que ninguém a havia seguido continuou caminhando pela praia. Sentiase em paz,
mas sobretudo a salvo.
Esse pensamento a surpreendeu. Naturalmente que se sentia a salvo. Chrysander
tinha uma equipe de segurança que se encarregava disso. E, entretanto, até que
chegaram à ilha havia se sentido assustada; aterrorizada inclusive.
—Está perdendo a cabeça —murmurou para si mesma. — Ou melhor, agora está
recuperando a prudência.
—Vejo que quer manter ocupada à equipe de segurança, pedhaki mou.
Marley virouse ouvir a voz de Chrysander.
—Estou dando um passeio. A praia é linda.
—Se prometo trazêla depois, voltará para a casa comigo? O joalheiro nos está
esperando e tem que voltar logo para Atenas.
—O que faz aqui um joalheiro? O normal não é ir a uma joalheria?
Chrysander a olhou dessa maneira arrogante, como dizendo que as pessoas iam
até ele, não ao contrário. Mas se limitou a estender a mão para ela, sem dizer nada.
—Não é nada divertido. —murmurou Marley.
—Ah, não? Vejo que terei que trocar a opinião que tem de mim.
Pouco depois chegavam ao estúdio, onde um homem os esperava com uma
maleta forrada de veludo negro… cheio de diamantes. Marley, atônita, voltouse para
olhar Chrysander.
—Veio para que escolha um anel.
—Não entendo…
—Seu anel de compromisso, pedhaki mou. Não tínhamos escolhido um quando…
teve o acidente.
—Ah, sei.
Chrysander lhe fez um gesto para que olhasse o conteúdo da maleta, mas Marley
não sabia qual escolher. Todos eram enormes. E muito caros. Não queria nem saber
quanto custavam.
—Você não gosta deste?
Para sua surpresa, Chrysander tinha escolhido precisamente o que mais ela
gostou. Era um solitário com uma safira rodeada de diamantes, um pouco menor que os
outros, mas ficava perfeito. E, de repente, não queria tirálo.
—Você gosta dele. —disse ele.
—Sim, eu adorei. Mas se preferir outro, não me importa.
—Ficamos com este. —disse Chrysander ao joalheiro.
Enquanto o acompanhava de volta ao helicóptero, Marley foi à cozinha comer algo.
Mas, antes que pudesse abrir a geladeira, ouviu a voz de seu noivo:
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—Pedi ao piloto do helicóptero que volte dentro de uma hora. Se estiver bem,
poderíamos ir visitar as ruínas do templo de Apolo.
—Ah, eu adoraria. —disse ela, jogando os braços ao redor do seu pescoço.
—Perdoame por não ser nada divertido?
—Sim, perdoo você. Mas tenho que ir me trocar.
—Pela tarde faz frio, assim deveria vestir um pulôver.
—Muito bem.
—Espera um momento —disse Chrysander, puxando seu braço— Suponho que
mereço uma recompensa.
—Sim, suponho que poderia te dar uma pequena.
Quando ele se apoderou de sua boca, Marley se derreteu. E um gemido escapou
de sua garganta quando o beijo se tornou mais apaixonado.
—Será melhor que subamos para nos trocar ou não iremos a nenhum lugar… mais
que à cama.
Ela sorriu enquanto ele a puxava pelo braço para subir a escada.
Pouco mais de uma hora depois aterrissavam em Corinto. Um carro com chofer
estava esperandoos, o qual não era nenhuma surpresa.
—É que não sabe conduzir?
—Sim, sei conduzir. —riu Chrysander.
—Eu nunca o vi dirigindo. Bom, quero dizer…
—Não quero fazêlo porque sempre estou muito ocupado. Mas tenho carro aqui e
em Nova Iorque.
Passaram grande parte da manhã passeando entre as ruínas do antigo templo.
Chrysander lhe explicou a história, mas ela estava mais concentrada no lindo dia de
outono e em que estavam juntos. Sem ajudantes pessoais, sem médicos, sem
enfermeiras, sem contratos para assinar. Em uma palavra, o dia perfeito.
—Não está me escutando, pedhaki mou.
—Ah, perdoa. É que a vista daqui é tão bonita…
—Quer que voltemos para a ilha? Espero que não esteja cansada.
—Não, estou perfeitamente bem. —sorriu Marley— Bom, conteme algo sobre sua
família. Não me disse nada sobre eles.
—O que quer saber?
—Não sei… tudo, suponho. Seus pais vivem?
Chrysander afastou o olhar.
—Morreram faz uns anos em um acidente de navio.
—Sinto muito.
—Foi há muito tempo, não se preocupe. —disse ele, bruscamente.
Marley estava a ponto de trocar de assunto quando soou o celular de Chrysander
que, suspirando, tirouo do bolso e olhou a tela.
—Alô, Roslyn.
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Série No Amor e na Guerra 1
Marley apertou os lábios. Aquela mulher devia ter um radar, pensou.
—Ligue para Piers para perguntar como vão as coisas no hotel do Rio de Janeiro e
me ligue com o que for… não, não sei quando voltaremos para Nova Iorque —Chrysander
a olhou então e Marley teve a impressão de que estavam falando dela— Não, é óbvio que
não. Agradeço muito sua preocupação, Roslyn. Você será a primeira em saber quando
sairmos da ilha.
Marley afastou o olhar, aborrecida. E quando voltou a guardar o celular no bolso,
Chrysander parecia malhumorado.
—Sinto a interrupção. Do que estávamos falando?
—Faleme dos hotéis da cadeia Anetakis. —disse ela impulsivamente.
A expressão de Chrysander se tornou sombria, aterradora.
—O que quer saber?
—Não sei… o Imperial Park é um deles, não?
—Sim, claro.
—Em que outras cidades têm hotéis? Ouvi você dizer algo sobre Rio de Janeiro.
Chrysander parecia zangado e Marley se perguntou por que. Não queria falar de
trabalho com ela?
—Temos hotéis na maioria das cidades importantes do mundo. Os maiores estão
em Nova Iorque, Tóquio, Londres e Madri, mas temos muitos mais na Europa e estamos
trabalhando na construção de um no Rio de Janeiro.
—Não têm um hotel em Paris? Eu gostaria que tivessem um ali… não sei por que.
Chrysander a olhou com uma expressão gelada. Parecia furioso.
—Não, não temos um hotel em Paris.
Marley não entendia nada. Não entendia sua expressão quando lhe perguntou por
seus pais nem sua ira quando lhe perguntou pelos hotéis… não sabia de que assunto
falar.
—Talvez tenha razão, deveríamos voltar para a ilha. —murmurou, virandose volta.
Mas o movimento foi muito brusco e, de repente, lhe dobraram os joelhos… e tudo se
tornou negro.
Quando Marley voltou a si, a primeira coisa que ouviu foi a alguém muito zangado
falando em grego. E, ao olhar ao redor, deuse conta de que estava em um hospital.
Chrysander estava de costas, interrogando a um homem com jaleco branco
—Chrysander…
Ele virouse imediatamente.
—Como está? —perguntoulhe, apertando sua mão.
—Bem, acredito.
—Beba isto, senhorita Jameson. Teve uma queda de pressão e um pouco de suco
a fará bem.
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Chrysander tomou o copo com uma mão e, com a outra, ajudoua a levantarse da
maca.
—Quando comeu pela última vez, senhorita Jameson?
—A verdade é que mal tomei nada no café da manhã.
—E tampouco jantou muito —lhe recordou Chrysander— Não deveria têla levado
às ruínas. Sabia que não tinha comido nada…
—Não é sua culpa —sorriu Marley— Deveria ter comido algo antes de sair de
casa.
—Minha obrigação é cuidar de você e de nosso filho.
O médico limpou a garganta.
—Sim, enfim, não aconteceu nada. Uma boa comida e estará como nova. Mas
sugiro que permaneça deitada durante o resto do dia, para não arriscarse.
—Eu me encarregarei disso. —disse Chrysander.
Marley suspirou, resignada.
—Podemos ir para casa?
—Sim, sim, claro.
Durante a viagem até o heliporto, Chrysander ia acariciando seu braço e
murmurando palavras em grego que Marley não entendia, mas lhe resultavam
consoladoras.
—Dorme um pouco, pedhaki mou. —lhe disse, uma vez no helicóptero.
Quando os sinais da hélice do helicóptero começaram a dar voltas, Marley fechou
os olhos e apoiou a cabeça em seu ombro, mas não podia dormir.
Quando chegaram em casa, Patrice tinha a comida feita e o doutor Karounis
estava esperando para medir a pressão. E só depois de comprovar que tudo estava bem
os deixaram sozinhos.
—Não pode saltar as refeições. —a repreendeu Chrysander.
—Não pensava saltar nenhuma. É que não me dei conta.
—Eu me encarregarei de que não volte a acontecer.
Marley levantou uma sobrancelha.
—Ah, já vejo que tornamos a ser divertidos.
Chrysander não se incomodou em responder, mas ela não pensava deixar o
assunto.
—Antes, quando estávamos nas ruínas, por que se zangou tanto?
—Por nada. Só estava pensando no trabalho.
Marley sabia que não era verdade, mas decidiu não seguir perguntando. E, quando
terminou de comer, Chrysander a levou nos braços ao dormitório apesar de seus
protestos.
Deixoua sobre a cama e, metodicamente, tiroulhe a roupa, deixandoa com o
sutiã e a calcinha.
—Fica comigo —sugeriu ela— Poderíamos tirar um cochilo juntos.
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Série No Amor e na Guerra 1
Capítulo 8
Marley sentiu o toque de uns lábios sobre seus seios e, quando abriu os olhos, viu
a cabeça escura de Chrysander.
—É uma maneira muito agradável de despertar. —murmurou.
Ele levantou a cabeça, olhandoa com seus olhos dourados.
—Como se encontra, pedhaki mou?
—Muito melhor. Estou satisfeita e tive um bom sono. Que mais poderia desejar
uma mulher grávida?
—Nosso filho não dormiu muito. —disse Chrysander, passando uma mão por seu
abdômen.
—Não, está muito ativo ultimamente. O ginecologista me disse que se moviam
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mais no segundo trimestre.
—No terceiro trimestre não se movem?
—Sim, mas não muito porque não têm tanto lugar.
—Então será mais fácil você descansar.
Marley bocejou, tampando a boca com a mão.
—Espero.
—Continua cansada.
—Estou grávida, assim acredito que continuarei cansada durante os próximos
dezoito anos. Mas me sinto muito melhor. Sério, Chrysander. Venha, vamos levantarnos.
—Por que tem tanta pressa por se levantar? Eu gostaria de ficar na cama até
amanhã. —sorriu ele, acariciando seus seios.
Era como massa entre suas mãos, pensou. Se Chrysander respirava perto dela,
derretiase. De modo que, jogando os braços ao redor do seu pescoço, procurou seus
lábios ansiosamente. Podia sentir sua ereção roçandoa e sabia que a desejava tanto
como o desejava ela…
Mas, de repente, Chrysander saltou da cama e Marley o olhou, desconcertada.
—Hoje você passou muito mal, agape mou. Não quero cansála mais.
Parecia tão surpreso como ela pelo carinhoso termo, mas, sem dizer nada mais,
entrou no quarto de vestir.
Marley não falava grego, mas sabia que agape mou significava “meu amor”. A tinha
chamado “meu amor” e, embora lhe pareceu enternecedor, estava claro que tinha sido
sem darse conta.
Mas o havia dito. Não saber o que sentia por ela e por que se mostrava tão
distante a tinha surpreendido desde o começo. Era por seu problema de memória? Temia
que seus sentimentos por ele não fossem válidos enquanto o considerasse um estranho?
Marley tinha se concentrado em seus problemas, mas era evidente que
Chrysander também estava passando maus momentos.
Se pudesse recordar algo… se pudesse lhe dizer que o amava, recordasse ou não
havêlo amado no passado.
Quão único podia fazer era demonstrarlhe pensou. E rezar para recuperar a
memória o antes possível.
Chrysander estava em seu escritório, olhando o mar da janela. Marley estava na
borda, os pés descalços dentro da água. Ele a vigiava e tinha pedido ao serviço de
segurança que fizesse o mesmo. Não queria arriscarse depois da queda de pressão do
dia anterior.
Alguns minutos antes tinha falado com o detetive encarregado de seu caso, mas
ainda não tinham detido ninguém. Os homens que a sequestraram seguiam livres, de
modo que continuava havendo perigo para ela e para seu filho.
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O detetive tinha prometido manterse em contato e informálo assim que tivessem
alguma pista, mas Chrysander não estava satisfeito. Ele queria resultados, queria que os
homens que haviam machucado Marley pagassem por isso.
De novo, voltou a olhar pela janela. Marley estava rindo enquanto afastava o
cabelo de seu rosto e o impacto de sua risada o golpeou no plexo solar como um murro.
Recordava outros tempos, quando eram felizes juntos. Então não o tinha
apreciado, mas sua relação… agora admitia que tinham uma relação, tinha sido aberta,
carinhosa, nada exigente.
Por que o teria traído Marley? Quase teria preferido que o traísse com outro
homem. Mas não, tinha ido por sua família, por seus irmãos. E isso não podia perdoar.
Ou sim?
Seguia furioso com ela pelo que tinha feito, mas estava disposto a seguir adiante,
esquecer e começar de novo. Talvez Marley nunca recordasse o que aconteceu, se fosse
sincero consigo mesmo, tudo seria mais fácil se fosse assim.
Sabia que estava sendo exageradamente protetor e que isso a incomodava, mas
que seus sequestradores seguissem livres… e, sobretudo, não saber por que ou para que
a tinham sequestrado, significava que o perigo seguia estando ali.
Marley era dele e tinha falhado com ela. Tinha enviado a ela e a seu filho às mãos
desses sequestradores porque deixou que a emoção nublasse seu bom julgamento.
Chrysander se voltou, irritado, quando soou o telefone.
—Senhor Anetakis. —ouviu a voz de Roslyn.
—Diga, Roslyn, falou com Piers sobre o projeto do Rio de Janeiro?
—Sim, claro. E me pediu que lhe dissesse que se você atendesse ao telefone, o
diria pessoalmente.
Chrysander soltou uma gargalhada.
—Sim, bom, era de esperar.
—Querem falar com você manhã as sete, por videoconferência. Theron e Piers
também estarão na linha, mas o senhor Diego quer falar pessoalmente com você.
—De acordo.
—Como vai tudo na ilha?
—Bem —respondeu Chrysander, olhando Marley de novo.
—Recuperou a memória?
—Não.
Ao outro lado da linha houve um silêncio.
—Ocorreulhe pensar que poderia estar fingindo?
—O que?
—Pense nisso, senhor Anetakis. Que melhor maneira de voltar com você que
fingindo não recordar nada? Nem sequer pode estar seguro de que o filho seja seu.
Esteve sequestrada durante meses… quem sabe o que pôde ter acontecido?
—Já chega! —exclamou Chrysander.
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—Mas…
—Já disse mais que suficiente.
—Como quiser. Chamareio por telefone se houver alguma mudança sobre a
conferência de amanhã.
Depois de desligar, Chrysander olhou para a praia, mas Marley tinha desaparecido.
Poderia ter Roslyn razão? A ideia lhe tinha ocorrido mais de uma vez, mas o instinto lhe
dizia que não. Claro que com Marley se equivocou completamente. E sabia que era capaz
de traílo.
Nervoso, passou uma mão pelo rosto. Não importava o que ele pensasse. Ia ter um
filho dele e isso era o mais importante.
Um ruído fez que voltasse a cabeça então. Marley estava no batente da porta, com
um sorriso nos lábios e os olhos brilhantes de felicidade.
—Já se cansou da praia?
—Sim.
—Parece que teve bons momentos. Como se encontra?
—Perfeitamente. —respondeu ela, aproximandose da escrivaninha.
Chrysander esteve a ponto de lhe pedir que se sentasse em seus joelhos, mas não
o fez porque precisava distanciarse.
—Tem certeza que está bem?
—Preocupase muito. Não preciso que cuide de mim como se fosse uma menina
pequena. Qualquer um diria que sou a primeira mulher no mundo que fica grávida.
—É a primeira mulher que vai ter meu filho.
—Também para mim é a primeira vez —riu ela— E te permito muitas coisas
porque este é nosso primeiro filho. Mas quando tivermos outro, espero que aja como um
homem sensato.
Chrysander apertou os lábios. Outro filho. Continuar juntos, uma relação
duradoura…
Sim, tinha intenção de lhe pedir que se casasse com ele, mas não tinha pensado
no que isso significava.
Um lugar permanente para ela em sua vida. Mais filhos.
Teriam razão seus irmãos? Deveria têla instalado em um apartamento, contratar
empregados que a atendessem até que nascesse a criança e logo afastála de sua vida?
—O que acontece, Chrysander?
Marley o olhava com os olhos cheios de preocupação. Uma preocupação
autêntica, não fingida.
—Nada, pedhaki mou, não me acontece nada.
—É que não quer ter mais filhos?
Ele inclinou a um lado a cabeça.
—A verdade é que não tinha pensado nisso.
—Não o falamos alguma vez? Eu não estou segura de tudo, mas acredito que eu
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gostaria de ter mais de um.
Chrysander se levantou para lhe dar um beijo na testa.
—É melhor que não nos preocupemos disso agora. Temos muito tempo. Além
disso, primeiro tem que se casar comigo. Vamos esperar que nasça a criança antes de ter
uma família numerosa.
Um lindo e cativante sorriso iluminou o rosto de Marley, deixandoo sem fôlego.
—Isso soa muito bem.
—O que?
—Ter uma família numerosa. Saber que você e eu vamos formar uma família
significa muito para mim. Às vezes me sinto tão só… como se sempre tivesse estado
sozinha.
—Não está sozinha —disse ele, acariciando seu cabelo—Tem a mim, tem a nosso
filho.
Era uma promessa. E uma promessa que não lamentou fazer. Uma parte dele se
perguntava por que se comprometia com uma mulher que lhe havia feito tanto dano…
mas uma mulher a que não podia arrancar de seus braços.
—Deveria descansar —suspirou, apertando uma campainha— Vou chamar a
senhora Cahill para que a acompanhe ao quarto…
—Estou mais que descansada. O passeio pela praia foi muito refrescante.
—Mas poderia se deitar um momento. Não seria pouco razoável, não te parece?
Eu tenho que terminar algumas coisas aqui e logo jantaremos juntos.
Marley assentiu com a cabeça enquanto saía do estúdio. E no corredor se
encontrou com Patrice.
—Quer subir ao quarto?
—Se Chrysander voltar a me dizer que descanse vou asfixiálo com um
travesseiro!
—Entendo você. Quer tomar uma xícara de chá no terraço? —riu a enfermeira.
—Ah, sim, isso soa muito melhor.
—Espero que não se importe que o doutor Karounis tome o chá conosco —disse
Patrice então, ficando um pouco vermelha.
—Não, claro que não. —sorriu Marley, deixandose cair sobre uma das cadeiras do
jardim.
Enquanto a enfermeira ia à cozinha, ela ficou pensativa. Cada vez que Chrysander
dava um passo adiante e se mostrava carinhoso com ela, logo dava um passo atrás.
Estava convencida de que Patrice e o doutor Karounis estavam ali mais como uma
barreira entre os dois que para cuidar dela.
Nada em sua suposta relação com aquele homem tinha sentido. Se pudesse
recordar… se pudesse perguntar a alguém. De verdade tinha estado tão presa naquela
relação que não tinha nem um só amigo? Era loucura.
—Parece como se levasse o peso do mundo sobre os ombros. —ouviu a voz de
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Patrice a seu lado.
—Não, não me acontece nada. Estava pensando.
O doutor Karounis apareceu um segundo depois e, apesar de suas preocupações,
Marley não pôde evitar um sorriso ao olhar o casal. Evidentemente estavam se cortejando
e era agradável ver alguém tão feliz. Ela daria o que fosse por desfrutar de um momento
de paz.
Suspirando, tomou sua xícara e a levou aos lábios enquanto olhava o jardim.
Talvez esperasse muito em tão pouco tempo, disse a si mesma. Mas tantas coisas se
resolveriam se recordasse algo…
Em qualquer caso, não ia ocorrer um milagre de repente. E devia haver alguma
maneira de romper as defesas de Chrysander. Só tinha que encontrála.
Capítulo 9
Os dias e as noites se converteram em uma agradável rotina. Uma vez seguro de
que se encontrava bem, Chrysander fazia amor com ela todas as noites, possuindoa com
uma paixão que a deixava sem fôlego. Mas, pelas manhãs, sempre tinha ido antes que
ela despertasse.
Frequentemente o encontrava no estúdio, falando por telefone, trabalhando no
computador ou assinando contratos que lhe chegavam por fax. Chrysander levantava o
olhar ao ouvila entrar e, durante uns segundos, via um brilho ardente em seus olhos…
mas em seguida se controlava e, depois de murmurar um amável “bom dia”, voltava a
trabalhar.
De modo que Marley passava as manhãs só ou em companhia de Patrice e o
doutor Karounis. Na hora de comer, Chrysander saía de seu estúdio por fim. E,
felizmente, dedicava as tardes a ela.
Marley estava acostumada a convencêlo para que fossem dar um passeio pela
praia e, embora ele estivesse acostumado a protestar porque fazia frio e porque ia
cansarse, ao final aceitava. Ela esperava ansiosamente aquele momento do dia porque,
durante essas horas, Chrysander parecia perder sua reserva.
Foi durante um desses passeios quando Chrysander disse algo que a
surpreendeu:
—Deveríamos nos casar o quanto antes possível.
Marley começou a brincar com seu anel, perguntandose por que não parecia
absolutamente feliz.
—Por que tem tanta pressa?
—Queria que se recuperasse e o médico diz que agora está muito bem.
—E quando quer que nos casemos?
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Quando faziam amor se conectavam por completo. Não havia mais barreiras, nem
momentos incômodos, nem frieza alguma. Vivia para esses momentos, quando a fazia
dele, quando lhe demonstrava com gestos o que não parecia capaz de lhe demonstrar
com palavras.
—Beijeme. —sussurrou.
Deixando escapar um gemido rouco, Chrysander a tomou nos braços e capturou
seus lábios. Seus movimentos eram impacientes essa noite, como se não pudesse
esperar para possuíla.
Levoua a cama e, sem deixar de beijála, tiroulhe a roupa a puxões com mãos
trêmulas.
—Faça amor comigo, Chrysander. —murmurou ela.
Os lábios de Chrysander foram de sua boca a seu pescoço e logo a seus seios
para puxar um mamilo com os lábios, o toque de sua língua na ponta enviando ondas de
prazer por todo seu corpo.
Marley via sua escura cabeça movendose para baixo e então, de repente, tomou
seu monte de Vênus entre as mãos com uma reverência que a emocionou. E pôs a boca
em seu estômago, depositando nele um beijo suave como o roce de uma cortina de
seda…
Se pudessem estar sempre assim… sem palavras, sem defesas, sentindose
amada. Sem barreiras, sem segredos.
Marley deixou escapar um gemido quando ele separou suas pernas com um joelho
e inclinou a cabeça para acariciála com a boca.
—Chrysander… —murmurou, enquanto ele lambia o casulo escondido.
—Seu sabor é tão doce, agape mou.
Logo se colocou em cima e, pouco a pouco, deslizouse dentro dela. Fechando os
olhos, Marley moveu a mão para acariciar suas costas, engolindo um gemido quando se
enterrou mais profundamente que nunca.
—Dême seu prazer —murmurou sobre sua boca— Só a mim.
Ela se arqueou, ficando tensa ante as primeiras convulsões do orgasmo. Quando
chegou ao final, Chrysander a apertou contra seu peito com força, deslizando uma mão
por seus flancos.
—Não me canso de você. —admitiu, com um tom que soava estranhamente
vulnerável.
Mas a olhava com uma expressão feroz, sombria. E logo começou a moverse
mais depressa, com mais urgência, levandoa a um precipício onde ela flutuava, feliz.
Assim começou a noite. Mal tinha descido do céu quando Chrysander começou a
lhe fazer amor de novo. Amavaa sem descanso, de maneira insaciável, como um homem
possuído até que, pouco antes de amanhecer, os dois ficaram adormecidos.
E embora Marley estivesse eufórica depois dessa noite, seu sonho não era
tranquilo. Havia certa familiaridade nessa maneira de fazer amor, nessa urgência, como
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se pela primeira vez lhe tivesse mostrado parte de sua vida passada com ele.
Em seus sonhos, tentava abrir uma porta, sabendo que ao outro lado estava sua
vida passada, suas lembranças, tudo o que lhe tinha ocorrido. Puxava a porta,
empurravaa, arranhavaa, golpeavaa com os punhos até que, por fim, conseguiu abrila
um pouco. Saía um raio de luz pela fresta, mas então, de repente, Marley experimentava
uma sensação de angústia, de medo e desespero.
Sabia sem a menor dúvida que não queria ver o que havia ao outro lado.
Aturdida, soltava a porta, que se fechava sozinha de repente. Não! Tinha que
saber. Quem era ela e o que lhe tinha passado?
—Marley, Marley! —a voz de Chrysander interrompeu seu sonho— Acorda,
pedhaki mou. É só um pesadelo, não acontece nada. Está comigo.
Ela abriu os olhos, aturdida. Chrysander tinha acendido um dos abajures e a
olhava com cara de preocupação. Mas se sentia terrivelmente angustiada e, ao notar algo
úmido rodando por seu rosto, deuse conta de que estava chorando. Não era capaz de
dissipar a sensação de pânico que a embargava…
Tentou falar, lhe dizer que estava bem, mas um soluço escapou de sua garganta e
Chrysander a abraçou, apertandoa contra seu coração.
—Vai ficar doente, querida. Deixa de chorar.
Marley se agarrou a ele como se temesse soltálo e, quando por fim conseguiu
recuperar o controle, Chrysander se afastou um pouco para olhála nos olhos.
—O que te deu tanto medo, agape mou?
As imagens do sonho voltaram de repente, mas desta vez Marley tentou lhes dar
sentido. Felizmente, o pânico começava a desaparecer.
—Estava em frente a uma porta e sabia que ao outro lado… estavam minhas
lembranças. Mas não podia abrila por muito que o tentasse. Por fim consegui abrila um
pouco, mas…
—Mas o que?
—Davame medo. Pânico —suspirou ela— Então soltava a porta e se fechava de
repente.
—Só foi um sonho, pedhaki mou —murmurou ele, acariciando seu cabelo— Não
passa nada. Tinha medo ao desconhecido, é natural.
Pouco a pouco, Marley começou a relaxar entre seus braços.
—Está bem? Quer que chame o doutor Karounis?
—Não, estou bem. Agora me sinto como uma boba.
—Não é uma boba. Venha, tenta dormir um pouco. Foi minha culpa por têla
deixado acordada até tão tarde.
Marley apoiou a cabeça sobre seu peito e se deixou cair no que, desta vez, foi um
sonho sem sobressaltos.
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Chrysander se levantou ao amanhecer. Não tinha dormido nada desde que Marley
teve o pesadelo. Depois de acalmála tinha estado acordado olhando o teto, pensando na
impossibilidade de sua situação.
Com cuidado para não despertála, entrou no banheiro para tomar banho e, depois
de comprovar que seguia adormecida, desceu ao primeiro piso. Mas não entrou no
estúdio como estava acostumado a fazer cada manhã.
Algo o empurrava para a praia. Fazia frio, mas não se dava conta enquanto olhava
as ondas golpeando a areia.
O passado de Marley, o passado dos dois, tinha ameaçado seu sono. O que
aconteceria quando recordasse tudo o que tinha ocorrido?
Esse terrível conflito estava deixandoo esgotado. Mas seria tão fácil esquecer. Ali,
na ilha, longe do resto do mundo, seria fácil acreditar que eram só Marley, seu filho e ele.
Sem passado, sem traições, sem mentiras.
Colocando as mãos nos bolsos da calça, Chrysander inclinou a cabeça, resignado.
Nunca em sua vida pessoal ou profissional havia parecido tão… desconcertado. Poderia
perdoála por tentar destruílo, a ele e a seus irmãos? Essa era a pergunta para a qual
devia encontrar resposta. Porque se não encontrava a resposta não haveria futuro para
eles. Quando Marley recordasse, tudo mudaria de maneira irrevogável. Ele poderia
agarrarse a seu amargo engano… ou lhe oferecer seu perdão.
Theos mou, pensou, não tinha respostas. Não sabia se poderia ser tão generoso.
Desejavaa, certamente, sentiase atraído por ela até conhecendo seu engano. E estava
grávida de seu filho. Mas de verdade podia dizer que se não estivesse grávida seria
capaz de afastarse de seu lado?
De repente, Marley o abraçou por trás e, sem pensar, Chrysander cobriu suas
mãos com as suas. Sentia sua bochecha apertada contra suas costas e a sensação era
tão prazerosa…
Mas quando deu a volta ela o olhava com cara de preocupação.
—Passei pelo estúdio, mas não estava e me preocupei.
—Por quê?
—Porque sempre está em seu estúdio pela manhã. E ao não encontralo na casa
pensei… que tinha ido embora.
—Não penso ir a nenhuma parte sem lhe dizer isso pedhaki mou.
Mostrouse tão distante, tão frio, que isso era o que Marley pensava dele? Embora
era lógico. Entre a senhora Cahill e o doutor Karounis tinha levantado um verdadeiro
arsenal de gente entre os dois.
—Quer que demos um passeio? —perguntoulhe Marley— Eu gosto de passear
pelas manhãs.
—Não deveria estar descansando?
Marley deu um passo atrás.
—Se não gosta de estar comigo só tem que dizêlo.
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—Eu não…
—Deixa de me dizer que preciso descansar porque não é verdade —lhe espetou
ela, antes de virarse.
—Marley, espera! —Chrysander a puxou pelo braço.
—Vá, faz o que tenha que fazer. Eu esperarei meu encontro com você pela tarde.
—Você não é um compromisso.
—Ah, não? Tentei ser paciente, entender… embora seja incapaz de entender esta
nossa relação e estou cansada de tentálo. Estou morta de medo, Chrysander. Não sei
quem sou. Um dia me acordei e estou grávida de um homem ao qual não conheço. Meu
noivo deveria me amar, desejar estar comigo em todas as horas, mas nada em seu
comportamento me faz pensar isso. Um momento está alegre, ao momento seguinte me
separa de seu lado… e não posso continuar assim.
Algo dentro de Chrysander se encolheu, apertandoo de tal modo que o impedia de
respirar.
—O que está dizendo?
—Por que vai se casar comigo? É pelo bebê?
—Olhe, vamos deixar isso. Está cansada…
—Não estou cansada! —exclamou Marley— E quero que deixe de se comportar
como se fosse meu pai porque não é. Nem sequer acredito que esteja tão preocupado por
mim… só é uma barreira por trás da qual pode se esconder cada vez que começo a fazer
perguntas.
Chrysander abriu a boca para protestar, mas não o fez. Não podia negar o que era
verdade. Mesmo assim, não queria que se aborrecesse porque isso não podia ser bom
para a criança.
—O que há em meu passado que me dá tanto medo? O sonho de ontem à noite
me aterrorizou e despertei esta manhã assustada outra vez. Mas não porque não recorde
nada mas sim porque me dá medo recordar. Digame isso Chrysander. Tenho que sabê
lo. O que havia entre nós antes que perdesse a memória? Estávamos apaixonados?
Ele se voltou para olhar as ondas, colocando as mãos nos bolsos da calça.
—Trabalhava para mim.
—Eu trabalhava para você… em algum dos hotéis?
—Não, nos escritórios. Foi minha ajudante.
Marley o olhou, surpreendida.
—Mas Roslyn é sua ajudante e parece muito cômoda fazendo esse papel. Como
se levasse anos fazendoo.
—Não foi minha ajudante durante muito tempo —sorriu Chrysander— Eu estava
desejando têla em minha cama e a convenci para que deixasse seu posto… porque me
distraía.
Marley não pareceu muito contente com tal afirmação.
—De modo que tem por costume me pôr no lugar que mais o convém. E eu permiti
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isso? Eu deixei meu trabalho para me deitar com você?
Chrysander deu de ombros.
—Parecia tão contente de estar comigo como eu de estar com você.
Marley levou uma mão protetora ao abdômen.
—A criança foi algo planejado?
Ele respirou profundamente. Não havia uma maneira fácil de dizer aquilo:
—Eu não diria que foi planejado, mas certamente sim foi bemvindo.
Essa resposta fez que parecesse ainda mais angustiada.
—Por que está tão triste esta manhã, pedhaki mou? O que posso fazer para que se
sinta melhor?
—Pode deixar de usar a desculpa de minha saúde e a da criança para me tratar
como se fosse uma inválida. E pode deixar de tratar meu passado como se fosse algo
que não tenho direito de conhecer.
Chrysander apertou os lábios.
—Muito bem. Tentarei me preocupar menos por sua saúde, se isso for o que quer.
—Isso é o que quero. Mas o que de verdade desejo é que sejamos felizes,
Chrysander. Quero estar segura de qual é meu lugar em sua vida. Quero recordar, mas
também… quero que me dê algo mais que um pouquinho de seu tempo.
Ele a olhou, pensativo. Nunca tinha sido tão direta antes de perder a memória. Mas
teria sentido o mesmo sem dizêlo? Teriamlhe doído suas prolongadas ausências?
—Eu também quero que sejamos felizes. E embora não posso te convencer com
palavras de qual é seu lugar em minha vida, espero obtêlo com o tempo.
O sorriso de Marley o esquentou da cabeça aos pés. Era como ver sair o sol sobre
o horizonte.
—Venha, vamos dar um passeio. —disse ela então, tomando sua mão.
Incapaz de lhe negar nada nesse momento, Chrysander a segurou pela cintura e
começaram a passear pela praia.
Capítulo 10
Marley se ajoelhou para arrancar as ervas daninhas do jardim. Como Chrysander
seguia com seu ritual trabalhista pelas manhãs, ela tinha encontrado outras maneiras de
passar o tempo… para desgosto do jardineiro, que ia à ilha duas vezes por semana.
Desde sua discussão na praia, Chrysander tinha deixado de insistir sobre que
alguém a acompanhasse para subir as escadas ou que descansasse todas as horas.
Embora continuasse trabalhando todas as manhãs, tomava o café da manhã com
ela e logo, quando voltava para o escritório, começava a diversão para Marley. Cada dia
encontrava alguma nova maneira de tirálo do sério.
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Aquele dia, quando a encontrou de joelhos no jardim, a tomou nos braços e, sem
dizer nada, levoua ao quarto e começou a encher a banheira.
Marley riu ao vêlo tão zangado e o escutou com fingida solenidade enquanto lhe
dizia que não voltasse a pôr em perigo sua saúde. E, é óbvio, decidiu continuar fazendo o
que estava fazendo assim que Chrysander voltasse a trabalhar.
Assim começou um jogo divertido entre os dois, embora a única que se divertia era
Marley porque ele não achava engraçado.
—Prometi não insistir em que devia descansar, mas você faria um santo perder a
paciência.
Como havia feito outras vezes, tiroulhe a roupa e a meteu na banheira cheia de
água com espuma. Sabendo que estava olhandoa, Marley desfrutou fazendoo sofrer
enquanto passava a esponja por cada centímetro de seu corpo. E, quando terminou,
olhouo nos olhos, toda inocência.
—Que seja tão desejável não te vai servir de nada, pedhaki mou.
—Bom, pelo menos sou desejável.
—Por que insiste em me provocar? Está me deixando de cabelo branco dos sustos
que me dá.
Marley olhou seu cabelo escuro, sem um só fio grisalho.
—Pobrezinho. —disse, irônica— É muito velho para suportar os caprichos de uma
mulher grávida?
—Eu te demonstrarei quão velho sou —grunhiu Chrysander, tirandoa da banheira
para secála a toda pressa com uma toalha.
—Evidentemente, necessito que me banhe mais frequentemente. —riu Marley.
—É malvada —murmurou ele, deitandoa na cama e tirando a roupa a toda
velocidade.
Sempre mantinha o controle quando faziam amor e Marley sabia, ou intuía, que
sempre tinha sido assim. Mas agora tinha um repentino desejo de virar a situação.
—Quero tocálo. —sussurrou, pondo as mãos sobre suas poderosas coxas.
—Então me toque, agape mou.
Um pouco nervosa, começou a tocálo e notou que ele se estremecia. Mas,
sentindose mais audaz, rodeou o membro masculino com os dedos e o acariciou
brandamente.
Embora tentasse dissimular, um gemido rouco tinha escapado da garganta de
Chrysander e podia ver que estava suando. Era magnífico, duro, masculino.
Inclinandose para diante, Marley depositou um beijo em seu tenso estômago e
logo seguiu para cima, até chegar aos diminutos e escuros mamilos, deslizando a mão
pela linha de pelo escuro que se perdia entre suas pernas.
Sabia o que queria fazer, mas não estava segura de como fazêlo. E ele deve ter
notado sua incerteza porque a agarrou pelos quadris para levantála.
—Está me matando, pedhaki mou —sussurrou— É tão doce.
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Animada por sua aprovação, Marley fez amor com ele, beijando seu torso
enquanto ele guiava seus quadris com as mãos.
Estava tremendo e sabia que logo ia chegar ao final, mas não ia sucumbir se
Chrysander não sucumbia com ela. Mas Chrysander ficou tenso de repente e apertou
seus quadris com força. Marley se arqueou e, deixando escapar um grito, o mundo
explodiu a seu redor.
Caiu para diante, mas ele a segurou contra seu peito, acariciando seu cabelo.
—Você gostou? —perguntoulhe quando pôde recuperar a voz.
—Se continuarmos assim, de verdade me converterá em um velho em pouco
tempo —riu Chrysander— Eu gostei tanto que vou deixála brincar no jardim amanhã.
—Oh, que bom é. —Marley tentou dissimular um bocejo.
—Dorme um momento. Despertarei na hora do jantar.
—Não preciso dormir. —protestou ela, mas já estava fechando os olhos.
Como não queria ser tão previsível, Marley se esqueceu do jardim no dia seguinte
e optou por banharse na piscina climatizada. Enquanto vestia o biquíni que Chrysander
lhe tinha comprado em Nova Iorque, com calcinha tanga, deuse conta de que queria
seduzilo. Bom, em realidade já o tinha seduzido. O que queria era que se apaixonasse
por ela.
Marley enrugou o cenho enquanto se olhava ao espelho. Não deveria ser ao
contrário? Era ela quem tinha perdido a memória. Não deveria ser Chrysander que
tentasse que ela voltasse a se apaixonar?
Marley o amava, mas não o havia dito em voz alta. Algo a tinha impedido e se
perguntava o que era.
Havia certa vacilação nele, como se quisesse manter as distâncias. Além disso,
Chrysander não havia dito que a amava. Nenhuma só vez.
Marley suspirou. Se pudesse recordar algo…
Vestindo um robe de seda em cima do biquíni, desceu ao primeiro piso sem ver
ninguém e, uma vez na piscina, colocou a mão para provar a água… deliciosa, pensou,
enquanto descia pela escadinha de metal. Sentia a tentação de mergulhar para chegar ao
outro lado, mas certamente a brisa seria muito fresca.
De modo que flutuou prazerosamente de costas, deu várias voltas de lado a lado e
mergulhou até ficar sem ar. Quando por fim tirou a cabeça da água, viu um par de
mocassins de ante a beira da piscina.
—Está se sentindo bem, pedhaki mou?
—Muito bem, obrigada.
—E pensar que eu estava desejando ir buscála no jardim…
—Ajudame a sair?
O pobre inocente lhe ofereceu sua mão, a que Marley se agarrou com as duas
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delas e, apoiando os pés na parede da piscina, puxou com todas suas forças. Chrysander
acabou caindo na água e quando tirou a cabeça estava rindo a gargalhadas.
Mas antes que pudesse vingarse, Marley tomou a escadinha para sair da água.
—OH, não, nada disso, trapaceira…
Ela piscou ao ver o rápido que tinha saído da piscina.
—Pobrezinho, está molhado. —riu.
—Agora se dá conta? —disse ele, deitandoa em uma rede— Vai me pagar por
isso, acredite.
—Ah, sim?
Chrysander tomou uma toalha e começou a lhe baixar o biquíni.
—Está molhada, assim tenho que te secar…
O som de uma porta surpreendeu aos dois. E Marley ficou atônita ao ver Roslyn
entrando no recinto da piscina um segundo depois.
Mas a surpresa se converteu em aborrecimento. A mulher tinha entrado em sua
casa sem avisar. Nem sequer tinham ouvido o helicóptero… claro que estavam ocupados
fazendo outras coisas.
—O que faz aqui? —perguntou Chrysander.
—Sinto interromper, senhor Anetakis —se desculpou a ajudante, embora sua
expressão dissesse justamente o contrário— Há várias coisas que necessitam sua
atenção urgente e decidi vir em pessoa em lugar de comunicálo por telefone ou por
correio eletrônico.
—Que eu saiba, nem o telefone nem o correio eletrônico foram um problema até
agora. Se não se importar, espere em meu escritório.
—Sim, é óbvio. De novo, peçolhes desculpas por ter interrompido.
Marley sentiu um calafrio. Certamente, aquela mulher sabia quando devia aparecer
para estragar tudo.
—Sinto muito. —se desculpou Chrysander— Mas não se preocupe, não demorarei
nada.
Ela assentiu, mas o momento… aquele precioso momento de cumplicidade, foise
para sempre.
Subiram juntos ao quarto para trocar de roupa e quando saiu da ducha Chrysander
já tinha ido. Deixando escapar um suspiro, Marley se deixou cair sobre a cama.
Chrysander entrou em seu estúdio e olhou para Roslyn, irritado.
—Não gosto nenhum pouco dessa intrusão —a advertiu— Não houve chamada de
telefone nem advertência alguma de que ia vir à ilha.
Roslyn ficou pálida.
—Sinto muito, eu…
—Esta é minha casa e você não pode entrar aqui quando quiser. Fica claro?
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—Sim, é óbvio.
—Bom, me diga o que é isso tão importante que não podia me contar por telefone.
—Descobri que desapareceram outros planos.
—O que? —exclamou Chrysander— Que planos?
—São uns planos antigos, um desenho que você tinha descartado para o hotel de
Rio de Janeiro. Mas suponho que ela os vendeu ao Marcelli, junto com os outros, porque
o hotel que está construindo em Roma se parece muito.
Chrysander teve que fazer um esforço para conterse.
—Meus irmãos sabem algo disto?
Roslyn negou com a cabeça.
—Pensei que quereria contarlhes você mesmo.
Cada vez que pensava que tinha esquecido a traição de Marley, o passado voltava
para castigálo. Por muito que queria esquecer e seguir adiante, o passado sempre
voltava como um fantasma.
Embora no escritório fosse tremendamente escrupuloso, com Marley sempre se
mostrou relaxado, sem pensar em proteger seus interesses.
Como iam forjar um futuro se não podia confiar nela? Estava sendo um ingênuo
por tentar estabelecer uma relação quando tudo podia virse abaixo assim que
recuperasse a memória?
Entretanto, havia algo que não podia esquecer: a expressão de Marley na última
noite, quando a jogou de sua casa. O horror, a perplexidade em seu rosto. Alguém podia
fingir tão bem?
—Não vai deixar que o faça outra vez, verdade, Chrysander?
Surpreendeulhe que o chamasse por seu nome de batismo, mas a voz de Roslyn
parecia chegar desde muito longe.
—Não, não voltará a acontecer. —replicou ele, mas não zangado com Marley, mas
sim com sua ajudante, por prevenilo contra ela.
—Só espero que não arruíne os planos para o Rio de Janeiro.
—Não acredito que deva preocuparse com isso, Roslyn.
Ela fez uma careta.
—Esta companhia, este trabalho, são muito importantes para mim. Trabalhei muito,
senhor Anetakis. Você sabe que trabalhei muitíssimo no projeto de Paris.
Chrysander deixou escapar um suspiro.
—Sim, tem razão. Mas mesmo assim, rogo que não interfira em minha vida
privada. Se não tiver nada mais a me dizer, vou chamar o helicóptero para que a leve de
volta.
Roslyn parecia a ponto de protestar, mas não o fez.
Meia hora depois, Chrysander a escoltava até o heliporto e, assim que o
helicóptero decolou, voltou para a casa.
Sua raiva e sua incerteza se evaporaram quando entrou no dormitório e encontrou
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Marley sentada na cama, envolta em uma toalha.
—Ainda não se vestiu?
Ela sorriu, embora o sorriso não iluminasse seus olhos. Seus preciosos olhos azuis
que tinham brilhado de alegria uns minutos antes, na piscina, agora pareciam opacos.
—A minha é uma situação impossível. —lhe confessou.
—O que quer dizer?
—Eu não gosto que essa garota entre e saia de sua casa quando lhe convém. Esta
é nossa casa, deveríamos poder fazer amor… ou o que quisermos sem que Roslyn entre
de repente.
—Sim, tem razão…
—Sempre que ela aparece, você se torna distante. As últimas semanas tinham
sido maravilhosas e agora, de repente, aparece sua ajudante de novo e já posso notar
como se separa de mim. E não posso suportálo!
Chrysander ficou em silêncio porque o que havia dito era absolutamente verdade.
A presença de Roslyn sempre lhe recordava o passado.
—Sinto muito, agape mou. Sinto que sua presença a incomode e que eu não me
tenha dado conta —se desculpou— Mas não voltará a acontecer, assegurolhe isso.
Disse a ela que não pode entrar em minha casa sem avisar.
—Sem lembranças às quais me agarrar, esta situação faz que me sinta… insegura.
Não posso dizer a mim mesma: “não acontece nada, Marley, são tolices. Claro que
Chrysander não tem uma aventura com sua ajudante”.
—Acredita que tenho uma aventura com Roslyn? —exclamou ele.
—Não sei.
Chrysander a tomou entre seus braços, mas não sabia o que dizer. Assegurála
que não havia nada entre Roslyn e ele não ia convencêla. Além disso, não devia
esquecer que Marley tinha roubado os planos de seus hotéis para vender a Marcelli.
Era uma situação impossível. Mas o que mais o surpreendia era a raiva que tinha
provocado nele a atitude de Roslyn. Sua primeira reação tinha sido defender Marley…
mas como ia fazer isso se Roslyn tinha razão?
Quão único sabia era que não queria magoar Marley. Embora soasse estúpido
depois do que lhe tinha feito, queria apagar a tristeza de seus olhos. Não podia apagar o
passado, mas sim podia evitar que Roslyn fosse o detonante das brigas entre os dois, de
modo que Roslyn não voltaria para a ilha.
Capítulo 11
Chrysander desligou o telefone e se apoiou no respaldo da poltrona, olhando o
teto.
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Tinha que voltar para Nova Iorque. Piers tinha ligado para lhe dar a notícia um
minuto antes e ele a recebeu com um desgosto que lhe resultava novo. Além disso, tinha
tido que contar a seus irmãos que faltava outro plano e estavam compreensivelmente
furiosos. Com Marley. Como reagiriam ao saber que ia casarse com ela?
Chrysander se debatia entre levar Marley com ele ou deixála na ilha, longe da
oportunidade de recordar algo. Longe da animosidade de seus irmãos.
Se fizesse isso seria um egoísta, mas sabia que quando recuperasse a memória, e
os médicos lhe haviam dito que seria assim cedo ou tarde, tudo mudaria entre eles de
forma irrevogável.
Deveria estar furioso com ela e manter a distância, mas Marley tinha conseguido
romper essa distância durante aqueles dias na ilha. Embora o envergonhava admitilo,
não se importava que tivesse mentido para ele, que o tivesse roubado. Queria que as
coisas seguissem como até aquele momento e, se Marley recordava, veriamse obrigados
a enfrentar o passado.
E a perderia.
Isso o incomodava muito mais do que era sensato, pensou. Mas Marley estava
grávida de seu filho e essa deveria ser razão suficiente para não querer que as coisas se
esfriassem entre eles.
Aqueles dias com Marley na ilha o haviam devolvido a um passado agradável,
antes da noite em que descobriu a verdade. Em realidade, nunca tinha apreciado o
suficiente sua relação com ela, mas agora sabia quanto gostava de têla a seu lado.
Marley era divertida, alegre, doce, carinhosa. Tudo o que desejava para a mãe de
seu filho.
Mas o tinha traído. Sempre tinha que voltar para isso, por muito que tentasse
esquecer.
—Chrysander?
Ele levantou a cabeça ao ouvir sua voz na porta do estúdio.
—O que quer, pedhaki mou?
—Você está bem? —perguntoulhe Marley, aproximandose da escrivaninha.
—Sim, claro. Venha aqui —Chrysander tomou sua mão para sentála em seus
joelhos— Tenho que voltar para Nova Iorque.
—Quando?
—Pela manhã. Um dignitário estrangeiro com o qual estamos negociando para um
projeto no Brasil vai a uma recepção no Imperial Park. Piers e Theron poderiam
encarregarse de tudo, mas o senhor Diego quer me ver pessoalmente. Assim temo que
devo ir.
Marley parecia tão decepcionada que, inclusive sem saber se devia levála ou não,
Chrysander se encontrou dizendo:
—Poderia vir comigo.
—Sério? —os olhos azuis se iluminaram.
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—Claro que sim, agape mou. Assim poderíamos anunciar nossos planos de
casamento… inclusive poderíamos nos casar em Nova Iorque.
—Isso eu gostaria muito.
—Direi ao doutor Karounis que pode voltar para Atenas. Acredito que já não o
necessitamos.
—E Patrice? Não é que não me dê bem com ela, mas o doutor Karounis e ela se
deram às maravilhas… ao melhor gostaria de conhecer Atenas.
—Muito bem, estenderei a oferta.
—Então sim, irei com você. —Marley jogou os braços ao redor do seu pescoço
para beijálo… mas antes que as coisas se esquentassem muito se levantou de um salto
— Tenho que fazer a mala!
—Espera, tem muito tempo.
Mesmo assim, Marley saiu correndo do estúdio e Chrysander ficou olhando a porta
muito depois que tivesse desaparecido. Deveria sentirse aliviado porque logo ia casarse
e Marley presa atada a ele, mas não podia livrarse daquele estranho desassossego…
O jato aterrissou em Nova Iorque pela tarde e uma limusine estava esperandoos
na pista, como de costume. Um homem alto e de aspecto formidável esperava frente ao
carro e, quando se aproximavam, Marley viu que tinha grande semelhança com
Chrysander.
—Theron, não esperava vêlo aqui. Que surpresa.
—Não posso receber meu irmão?
Chrysander tomou Marley pela cintura.
—Apresentolhe Marley. Marley, este é meu irmão Theron.
—Encantada. —sorriu ela.
Theron Anetakis não lhe devolveu o sorriso; ao contrário, olhavaa com gesto sério,
quase zangado. E, por instinto, Marley se apoiou em Chrysander.
Quando Theron baixou o olhar e viu o anel de compromisso em seu dedo olhou a
seu irmão como esperando uma explicação.
—Importariase de se mostrar minimamente civilizado? —pediulhe Chrysander em
voz baixa.
—Prazer em conhecêla. —disse Theron por fim, embora sua linguagem corporal
dissesse justamente o contrário.
Marley olhou Chrysander quando seu irmão se afastou para subir em outro carro
estacionado a certa distância.
—Por que se comporta assim comigo? O que fiz para ele?
—Nada, não lhe fez nada, pedhaki mou. Sinto que meu irmão tenha sido tão
grosseiro, mas não voltará a acontecer.
—Mas por que foi grosseiro comigo? —insistiu ela— Nos vimos alguma vez? Bom,
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suponho que nos vimos antes, não? Fiz algo que o ofendesse no passado?
Chrysander lhe fez um gesto para que entrasse no carro.
—Não se conheciam. E não se preocupe, você não fez nada. É que Theron é
assim…
Nesse momento soou seu celular e Chrysander se apressou a responder, como
desejando terminar com aquela conversação. Mas Marley apertou os lábios, aborrecida.
Ali ocorria algo muito estranho. Por que o irmão de seu noivo se mostrava tão antipático
com ela? E por que não se conheciam?
Não era normal que não conhecesse a família de seu noivo, o pai de seu filho.
Deixandose cair sobre o assento da limusine, Marley suspirou, frustrada. Estava
decidida a encontrar respostas a todas essas perguntas e, com um pouco de sorte,
afastar a rocha que parecia cravada em seu cérebro e a impedia de recordar. Tinha que
haver alguma maneira de liberar suas lembranças e se havia estava disposta a encontrá
la. Preferivelmente, antes de casarse com Chrysander.
Entretanto, havia mais surpresas quando chegaram ao apartamento de cobertura.
Roslyn, naturalmente. Estaria condenada a ver essa mulher cada vez que entrasse em
sua casa?
Roslyn sorriu, embora a Marley não passasse desapercebido que o sorriso era só
para Chrysander. Mas ficou a seu lado enquanto a ajudante recitava uma série de
reuniões, chamadas urgentes e contratos que requeriam sua atenção. Desta vez não
partiria, não lhe daria outra vitória.
Por que não gostava da ajudante de seu prometido?, perguntouse. Por que
parecia que todo mundo não gostava dela?
Por fim, Roslyn se despediu e Marley deixou escapar um suspiro de alívio. Mas as
portas do elevador se abriram de novo e outro homem, também de grande semelhança
com Chrysander, entrou no apartamento de cobertura.
Marley esteve a ponto de perguntar a Chrysander quantas pessoas tinham acesso
a sua casa, mas mordeu a língua.
—Isto parece um hotel. —brincou ele, como se tivesse lido seus pensamentos.
Enquanto a desaprovação de Theron tinha sido mais ou menos sutil, não havia
nada sutil no gesto brusco do homem que Chrysander apresentou como seu irmão Piers.
—Posso falar com você um momento… a sós?
—Não se preocupe comigo —disse Marley, enquanto se dirigia ao dormitório— Eu
tenho coisas a fazer.
Enquanto fechava a porta ouviu a voz de Chrysander, zangado, e vacilou um
momento, perguntandose se deveria escutar a conversa… mas decidiu não fazêlo.
Suspirando, voltouse para olhar o quarto em que Chrysander a tinha instalado quando
saiu do hospital.
Sem saber o que fazer, tirou os sapatos e se deitou na cama. A viagem não tinha
sido exaustiva precisamente, mas gostaria de deitar um momento. Começava a lhe doer
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a cabeça pela tensão e só queria fechar os olhos durante uns minutos. Talvez quando
despertasse, com um pouco de sorte, não haveria mais visita no apartamento.
Quando despertou estava em uma cama diferente. Marley piscou ao ver que
estava no dormitório principal, mas não sabia como tinha chegado ali.
Quando se sentou na cama viu Chrysander ao outro lado do quarto, olhandoa
fixamente e, por alguma razão, sentiuse insegura.
—Devia estar mais cansada do que acreditava. Nem sequer me despertei quando
me trouxe aqui.
—A partir de agora dormirá em nosso quarto, em nossa cama.
—Sim, muito bem. Entrei no outro quarto sem me dar conta…
—Seu lugar está aqui, comigo.
Marley inclinou a um lado a cabeça. Tinha a impressão de que Chrysander não
estava falando só de que se deitou na outra cama. Era quase como se quisesse
convencer a si mesmo, e a outros, de que aquele era, efetivamente, seu lugar.
—Seus irmãos não gostam de mim, isso está claro.
—Meus irmãos não têm nada que dizer sobre nossa relação. Além disso,
anunciarei nosso matrimônio na recepção, depois de amanhã, e nos casaremos dentro de
uma semana.
E não havia nada que dizer por que era uma ordem, evidentemente.
—Por que não se veste? Vamos sair para jantar.
—Lagosta? —sorriu Marley. E então se deu conta do que havia dito— Eu gosto de
lagosta!
—Sim, é verdade, pedhaki mou. Você adora. Eu estava acostumado a pedila por
telefone e a comíamos na cama.
Marley devia admitir que a ideia era muito atraente, mas Chrysander a ajudou a
levantarse para ir ao banheiro. Meia hora depois, seu noivo a escoltava até o vestíbulo
do edifício. Na porta, como sempre, esperavaos uma limusine com chofer.
Levouos a um restaurante lindo, onde lhes deram uma mesa ligeiramente
separada das demais. O local estava iluminado quase como se fosse Natal e Marley
suspirou, pensando o quanto gostava das festas.
Outra lembrança, deuse conta. Gostava das festas natalinas.
Em um mês, todas as lojas e restaurantes de Nova Iorque estariam iluminados e,
sem saber por que, sorriu ao imaginar os natais com Chrysander.
—Está perdida em seus pensamentos, agape mou. E tem um sorriso tão doce que
espero ser em mim em quem está pensando.
—Estava imaginando os natais com você. E recordei que eu gosto muito do Natal.
—Parece que está recuperando a memória. —disse ele, embora não parecesse
excessivamente contente.
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Série No Amor e na Guerra 1
Capítulo 12
À manhã seguinte Chrysander se levantou cedo, como era seu costume, e depois
de lhe dar um beijo na testa lhe disse que voltaria a procurála para almoçarem. Marley
continuou dormindo, mas quando despertou de novo e olhou o despertador comprovou
que ainda era cedo. Ficavam muitas horas antes que Chrysander fosse procurála e não
tinha a menor intenção das passar o tempo sentada no apartamento.
Com tantos guardacostas, algum deles poderia levála a dar uma volta, pensou.
Embora não sabia aonde ir.
Então lhe ocorreu algo: sendo Chrysander um obcecado por segurança, algum
deles recordaria onde estava acostumado a levála e as coisas que estava acostumada a
fazer.
Animada, Marley se meteu na ducha e, meia hora depois, descia no elevador. No
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portão havia um homem alto e forte ao que reconheceu… Stavros, chamavase.
—Senhorita Jameson.
—Suponho que Chrysander lhe disse que… enfim, que perdi a memória depois do
acidente.
O homem assentiu com a cabeça.
—Imagino que eu tinha segurança antes do acidente.
—Eu me encarregava pessoalmente de sua proteção, senhorita Jameson.
—Ah, maravilha, então talvez pode me ajudar. Eu gostaria de ir a algum lugar, mas
a verdade é que não recordo onde estava acostumada a ir.
Stavros tirou o celular do bolso e, depois de falar rapidamente em grego, assentiu
algumas vezes com a cabeça e lhe passou o telefone.
—O senhor Anetakis quer falar com você.
—Pelo amor de Deus… não perdeu tempo dedurandome, não foi?
Chrysander soltou uma gargalhada.
—Em que confusões está se colocando agora, agape mou?
—Nenhuma confusão. Só queria sair um momento, mas voltarei na hora do
almoço, prometolhe isso.
—Desfruta da manhã, mas tome cuidado e não se canse. Se for chegar tarde diga
ao Stavros que me ligue. Assim poderemos nos ver para comer sem que tenha que voltar
para o apartamento.
—Muito bem, um beijo. —se despediu Marley, antes de devolver o telefone a
Stavros— Você e eu temos que falar sobre isso de dedurar o que faço.
—Assegurolhe, senhorita Jameson, que já tivemos mais de uma conversa sobre
esse assunto no passado.
—Ah, sim?
Stavros levou uma mão ao fone de ouvido que levava na orelha para dizer algo em
grego e, uns segundos depois, um carro se detinha frente ao portão. O guardacostas lhe
abriu amavelmente a porta e subiu no assento do passageiro.
—Aonde quer ir, senhorita Jameson?
—Não sei. Pode me levar a todos os lugares aos que estava acostumada a ir
antes?
—Muito bem.
A primeira parada foi uma cafeteria a umas quadras do apartamento. Stavros e
outro homem da segurança a escoltaram ao interior.
Era um lugar alegre, cheio de gente, e Marley imaginou a si mesma em um local
assim. Mas não despertava lembrança algum. Suspirando, voltouse para dizer ao
Stavros que queria seguir com sua excursão.
A seguinte parada foi em um mercado e isso sim a deixou realmente surpreendida.
—Gosta de cozinhar, senhorita Jameson. Particularmente quando o senhor
Anetakis esteve fora de Nova Iorque durante muito tempo. Estávamos acostumados a vir
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aqui para que comprasse os ingredientes que necessitava… e logo me fazia levar as
bolsas.
—Era muito antipática? —riu Marley.
—Não, ao contrário. Era um prazer acompanhála.
—Ah, por fim alguém que não me odeia. —suspirou ela— Aonde vamos agora?
Visitaram uma biblioteca e uma lojinha de arte e, embora imaginasse a si mesma
nesses lugares, não despertavam nenhuma lembrança. Entretanto, quando o carro se
deteve na entrada de um parque, de repente sentiu uma onda de pânico.
—Encontrase bem?
—Sim, sim…
—Talvez devêssemos voltar para o apartamento. É quase a hora do almoço.
—Não —disse Marley, saindo do carro. Queria estar ali. Precisava estar ali. Algo
naquele lugar provocava uma espécie de tambor em sua mente, embora fosse
desagradável.
Enquanto percorria um caminho de terra se envolveu no casaco. Fazia sol, mas
tinha frio, um frio que lhe chegava até a alma.
Atrás dela, Stavros e o outro homem de segurança a seguiam. Marley olhou um
banco de pedra ao lado de uma estátua e se aproximou dele, sem saber muito bem por
que.
Depois de sentar colocou as mãos sobre a fria pedra e, ao olhar para diante, foi
embargada por uma onda de tristeza. Não tinha sentido, mas sabia que tinha estado ali
antes, naquele mesmo lugar. E sabia que tinha sentido medo, insegurança.
A lembrança estava tão perto que podia sentir o peso dessa tristeza, dessa
indecisão.
—Encontrase bem? Quer que chame o senhor Anetakis?
—Não, estou bem. Mas noto que estive aqui antes.
Stavros assentiu, preocupado.
—Estava acostumada a sentarse aqui frequentemente… neste mesmo banco,
para pensar.
—Por que, Stavros? Tinha muito no que pensar?
O homem olhou seu relógio.
—Deixe que ligue para o senhor Anetakis para lhe dizer que iremos diretamente ao
restaurante.
Marley não pôs objeção alguma quando o homem a ajudou a levantarse e, em
lugar de caminhar atrás dela, seguroua pelo braço para levála ao carro.
—Não precisa preocupar Chrysander. Se lhe disser que estou triste me obrigará a
me colocar na cama, é sua solução para tudo. Além disso, não quero. Vamos às compras.
Tenho que comprar um vestido de noiva e não posso fazêlo da cama.
Sorrindo, Stavros fechou a porta e voltou para seu assento.
—Se o senhor Anetakis perguntar, direilhe que passamos o dia dando voltas por
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Nova Iorque.
—Já sabia que havia uma razão para que eu gostasse de você. —suspirou Marley.
Chrysander os recebeu na porta do restaurante e, durante o almoço, perguntoulhe
como tinha sido a manhã. Marley lhe contou os lugares nos quais tinha estado, mas
quando lhe perguntou como tinha sido no escritório, ele se mostrou vago, reticente, como
se não quisesse falar de seu trabalho.
—Bom, me conte, como é a recepção a que temos que ir? É muito elegante?
—Isso depende do que você chama de elegante.
—Posso ir de jeans?
Chrysander soltou uma gargalhada.
—Eu não poria nenhuma objeção, mas temo que a barrariam na porta. Além disso,
não quero que outros a vejam com algo que se ajusta tanto a esse seu lindo traseiro.
—Então devo vestir um vestido longo?
—Não se preocupe por isso, pedhaki mou. Eu escolherei um vestido para você.
—Prefiro escolhêlo eu —sorriu Marley— E não penso calçar sapatos de salto.
—Não, claro que não. E se você cair?
—Talvez vá descalça —brincou ela.
—E o melhor que eu deveria fazer era deixála presa em casa.
Marley tomou a última porção de massa e deixou o garfo sobre o prato.
—Acredito que comi muito, mas estava uma delícia.
—Deveria engordar um pouco. Eu acredito que está muito magra.
—O que? Está louco? Se engordar um pouco mais não me caberá nenhum vestido
—Marley tocou o volumoso abdômen— Fazem vestidos elegantes para mulheres
grávidas?
—Encontraremos algo maravilhoso, já o verá.
—Como é que conhece tantas boutiques?
—Não espera que eu responda a essa pergunta, verdade? —riu Chrysander.
Ao final, resultou que Chrysander Anetakis era um perito escolhendo vestidos de
noite. Marley provou uma túnica de seda branca muito simples, presa por duas alcinhas, e
ficou perplexa como bem lhe sentava.
—Fazme parecer muito grávida, não?
—Está linda —murmurou ele— Eu acredito que todas as mulheres grávidas
deveriam parecerse com você.
A admiração que via em seus olhos lhe vendeu o vestido, que foi enviado ao
apartamento junto com umas sandálias combinando, mas de salto baixo.
—Digame, agape mou, quer um vestido de noiva tradicional?
Marley negou com a cabeça.
—Não, acredito que prefiro algo mais simples.
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A vendedora lhe mostrou vários desenhos, mas se apaixonou por um vestido de
cor pêssego que caía brandamente na cintura. Acentuava sua gravidez de tal forma que
se sentia bonita e feminina. E, pela expressão de Chrysander, ele estava de acordo.
Para sua surpresa, em lugar de voltarem para o carro, entraram em uma joalheria
próxima para comprar uns brincos e um colar de diamantes para o vestido de noiva.
Marley ficou boquiaberta quando Chrysander escolheu logo outros brincos e outro
colar, estes de safiras, que sugeriu ficar bem com o vestido branco para a recepção.
—Ficam lindos com a cor de seus olhos, agape mou —lhe disse ao ouvido— E de
noite, eu gostaria de vêla com esse colar… e nada mais.
Marley se ruborizou e olhou ao redor para verificar se alguém o tinha ouvido.
—A verdade é que eu gosto que me mime tanto. —lhe disse quando saíram da
joalheria.
—Alegrome. Seria uma pena que você não gostasse de algo que tenho intenção
de continuar fazendo.
Impulsivamente, Marley se apertou contra ele no assento do carro e lhe deu um
beijo nos lábios.
—Passei por bons momentos.
—Alegrome.
—Sou uma boa cozinheira?
—Perdão?
—Stavros me disse que cozinhava para você quando voltava de alguma viagem.
Eu sou boa cozinheira?
—Fazia tempo que não pensava nisso, mas é verdade, estava acostumado a
cozinhar para mim quando voltava de alguma viagem —respondeu ele, com uma
expressão que lhe pareceu peculiar.
—E viajava muito?
—Temo que sim. Às vezes ficávamos semanas sem nos ver.
—Que horror —murmurou Marley— Eu senti sua falta durante as horas que
estivemos separados esta manhã.
Chrysander voltou a beijála.
—E eu senti sua falta, pedhaki mou.
Marley apoiou a cabeça em seu ombro. Estava um pouco cansada, mas não
pensava dizerlhe porque ainda tinham toda a tarde e toda a noite por diante.
Capítulo 13
Marley puxava seu vestido, nervosa, enquanto se olhava ao espelho, movendo a
cabeça de um lado a outro para que as safiras que levava nas orelhas e no pescoço
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refletissem a luz.
—Está linda, agape mou.
Ao virarse ficou assombrada. Com o smoking chamando a atenção sobre seus
largos ombros, a camisa branca contrastando com sua pele bronzeada e o cabelo escuro,
francamente estava de dar água na boca.
—Você também.
—Estou bonito? —riu Chrysander.
—Muito bonito, tremendo, de dar água na boca. —riu Marley— Dáme vontade de
tirar esse traje e…
—Ah, eu gosto de sua maneira de pensar.
—Era uma brincadeira, tolo.
—Está preparada? O carro está esperando.
Respirando profundamente, Marley assentiu com a cabeça.
—Sim, estou preparada.
—Não se preocupe, eu estarei com você todo o tempo. —disse Chrysander,
tomando sua mão.
Quando chegaram à entrada do hotel, lotada por limusines e carros de luxo,
engoliu saliva ao ver tanta gente elegante. Sentia mariposas no estômago quando
entraram no salão de baile. Uma banda de jazz tocava no palco e os garçons circulavam
com bandejas de champanha enquanto outros ofereciam uma seleção de canapés.
Marley fez uma careta ao ver Theron e Piers… e logo Roslyn. Embora soubesse
que eles estariam presentes, tinha esperado evitálos no possível. Mas isso não ia
acontecer, pensou ao ver que Theron se aproximava.
Sua primeira reação foi dizer que tinha que ir ao lavabo, mas Chrysander apertou
sua mão como se soubesse que pensava sair correndo.
—Olá —disse Theron, saudando Marley com a cabeça.
Bom, ao menos não se mostrou tão antipático como no aeroporto, pensou.
O irmão de Chrysander assinalou Piers, que se aproximava com um homem alto
de aspecto distinto e uma mulher que, Marley pensou, devia ser sua esposa.
—Senhor e senhora Vasquez, apresento a minha noiva, a senhorita Marley
Jameson. O senhor e a senhora Vasquez estão em Nova Iorque em viagem de negócios.
Sorrindo, ela saudou o casal.
—Marley e eu vamos nos casar enquanto estamos em Nova Iorque e seria uma
honra para nós que fossem ao casamento.
Detrás de Marley soou um gemido afogado e, ao voltarse, viu Roslyn a um metro
deles, com uma expressão de total incredulidade no rosto. Recuperouse em seguida,
mas não tão rápido para que não se desse conta.
Por que parecia tão surpreendida de que Chrysander anunciasse o compromisso?,
perguntouse. Mas quando se voltou para olhar aos outros, só os Vasquez estavam lhe
dando os parabéns.
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A expressão de Piers e Theron era a mesma que a de Roslyn. Marley não entendia
nada. Como era possível que seu casamento fosse uma notícia tão inesperada para
todos? E tão mal recebida?
Estavam comprometidos antes do acidente e, entretanto, todo mundo agia como se
fosse algo inesperado.
Depois dos obrigatórios bons desejos dos Vasquez, a conversação começou a
girar sobre a construção do hotel no Rio de Janeiro e Marley permaneceu em silêncio,
pensativa.
Uns minutos depois, Chrysander pareceu darse conta de que se sentia incômoda
e a levou a pista de dança, onde a banda de jazz estava tocando uma suave melodia.
—Ah, obrigada. Gostei de me afastar um pouco dos outros.
—Embora eu gostaria que pudéssemos ir para casa, temo que devemos ficar um
momento mais. Mas se a cansa, posso pedir ao Stavros que a leve de volta ao
apartamento.
Como se fosse deixálo com Roslyn, a eficiente ajudante pessoal.
Embora os irmãos de Chrysander, e sua ajudante, parecessem empenhados em
tratála como se fosse uma pária, muita gente se aproximou para saudar seu noivo e se
mostrou terrivelmente amável com ela. Ao final, Marley se encontrou desfrutando da noite
apesar de pouco favorável começo.
Estava fazendose tarde quando Chrysander se inclinou para lhe falar ao ouvido:
—Tenho que falar com meus irmãos. Importase de ficar sozinha um momento?
—Não, claro que não. Não se preocupe por mim. Além disso, tenho que ir ao
lavabo.
Alegrandose de poder se afastar um momento das pessoas, e sobretudo dos
escuros sombrios dos Anetakis, Marley entrou no lavabo de senhoras para retocarse um
pouco.
—Mas não pode ficar aqui escondida para sempre. —tentou animarse antes de
sair.
Quando ia para o salão de baile ouviu a voz de Chrysander em um dos reservados
e vacilou um momento, sem saber se continuava ou ficava esperandoo.
As seguintes palavras tomaram a decisão por ela:
—Maldição, Chrysander, não tem necessidade de se casar com Marley. Compra
um apartamento até que nasça a criança. Não se case com ela, dando assim acesso a
tudo o que possui.
Marley ficou boquiaberta ao ouvir as palavras de Piers.
—Vamos ter um filho —replicou Chrysander— Que me case com ela ou não, é da
minha conta.
—Não pode casarse com ela! —exclamou Roslyn— Esquece que o roubou e o
traiu? Se necessitar algum aviso, olhe os hotéis que estão sendo construídos em Paris e
em Roma. Seus hotéis. Mas agora quem os está construindo é a concorrência.
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Traições Passadas
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Marley teve que agarrarse à parede para não cair ao chão. Como um enxame de
abelhas furiosas, retalhos de informação começaram a aparecer em seu cérebro. E, de
repente, foi como se um dique se rompesse. A porta que não tinha podido abrir em
sonhos se abriu e o passado apareceu rodando a velocidade de uma corrente.
Chrysander acusandoa de têlo enganado… jogandoa do apartamento, de sua
vida. Seu sequestro e os meses que tinha passado aterrada, esperando que Chrysander
respondesse às exigências dos sequestradores. Exigências que ele tinha ignorado.
Meu Deus, ia vomitar.
Tinhaa deixado. Tinhaa descartado inclusive quando a sequestraram. Meio
milhão de dólares, trocados para um homem como ele… mas um dinheiro que não tinha
querido pagar para que a libertassem.
Tudo tinha sido uma mentira. Chrysander tinha mentido sem parar desde que
despertou no hospital. Não a queria, não estavam comprometidos.
Nem sequer valia meio milhão de dólares para ele.
Seu coração se rompeu em mil pedaços ao ver que tudo o que tinha acreditado se
convertia em uma mentira.
Não tinha tentado salvála.
O gemido torturado que escapou de sua garganta ecoou no corredor. Marley levou
uma mão aos lábios, mas era muito tarde. Chrysander saiu ao corredor e, atrás dele, os
outros. E quando olhou nos olhos de “seu noivo” soube que ele sabia que ela se lembrava
de tudo.
Marley correu para o vestíbulo. Chrysander a chamou, mas ela não se deteve.
Corria sem saber aonde ia, sem o destino. Estava a ponto de sair do hotel quando se
encontrou com uma montanha: Stavros.
Furiosa, empurrouo, tentando afastálo de seu caminho. Seu único pensamento
era sair dali, afastarse, partir tão longe como pudesse.
Tentou rodear ao guardacostas, mas tropeçou e caiu no chão. Stavros correu a
seu lado para ver se estava bem e, um segundo depois, Chrysander o separou de um
tapa.
—Marley…
Ela não podia dizer nada. Soluçava de tal modo que mal podia respirar.
Chrysander a tomou em braços, ladrando ordens para que chamassem um médico
e, pouco depois, entravam em um quarto.
Assim que a deixou sobre a cama, Marley se fez uma bola e virouse para não ter
que olhálo.
—Tem que deixar de chorar, agape mou. Vai ficar doente.
Já estava doente, pensou ela. Doente do coração. Fechou os olhos, mas as
lágrimas não deixavam de rodar por seu rosto.
—Não chore, Marley…
Ela queria escapar, partir a qualquer lugar, afastarse dele tanto o quanto fosse
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Traições Passadas
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possível. Através da névoa que se instalou em seu cérebro ouviu Chrysander falando com
um médico e, um momento depois, sentiu uma espetada no braço. E então começou a
flutuar no vazio, em um lugar onde não havia mágoas nem angústia. Marley se abraçou a
esse vazio, àquele lugar onde não havia dor nem traições.
Chrysander passeava de um lado a outro no quarto enquanto o médico do hotel
administrava um sedativo em Marley. Estava aborrecido, enojado com seus irmãos e com
Roslyn… e consigo mesmo.
—Encontrase bem?
O médico o levou à parte.
—Suas lesões não são físicas, senhor Anetakis. Se, como diz, recuperou a
memória de repente, isso é o que lhe causa dor.
Chrysander se moveu, impaciente.
—O que eu posso fazer? Não posso deixála assim… não suporto vêla sofrer.
—Deve voltar para casa, a um lugar que lhe resulte mais familiar. Necessita um
médico, mas não de medicina geral, mas sim de um psicólogo. Um trauma como esse…
tem que lhe dar tempo. Agora mesmo é extremamente frágil e recordar eventos
traumáticos poderia provocar um ataque de nervos ou algo pior.
—Meu Deus…
O médico apertou seu ombro.
—É bom que tenha recuperado a memória, embora agora esteja passando mal.
Chrysander não estava tão seguro. De fato, sabia que não ia ser assim. Ao
recuperar a memória, Marley saberia que a tinha jogado de sua casa… basicamente
pondoa nas mãos de seus sequestradores. E recordaria também quão cruel tinha sido
com ela. E também recordaria seu próprio papel em toda aquela confusão.
Nervoso, passou uma mão pelo cabelo. Uma parte dele desejava que não tivesse
recuperado a memória. Tinham começado outra vez, sem enganos nem traições…
Mas Marley não tinha parecido envergonhada pelo que fez. Não, parecia quebrada
de dor, uma dor tão profunda como o som de seu pranto, que era como uma faca no
coração para ele.
Chrysander engoliu saliva, inquieto. Não podia deixar de pensar que havia coisas
enterradas na memória de Marley que ele não ia gostar em nada.
Capítulo 14
Marley mal se dava conta do que ocorria a seu redor. Ouvia a voz de Chrysander,
que parecia preocupado, mas não queria saber nada dele e apertou os olhos para não
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sair daquela espécie de sonho reparador.
Quando despertou de novo reconheceu o quarto do apartamento de cobertura e a
angústia e a dor a deixaram sem fôlego.
Mas nem sequer Chrysander podia ser tão cruel. Nem sequer ele a levaria de volta
ao lugar que tinham compartilhado e do qual a tinha expulsado.
Estendeu uma mão para secar suas lágrimas, mas curiosamente não estava
chorando. E sentia uma estranha distância, um vazio, unido ao desejo de partir dali.
Em seguida viu Chrysander dormindo em uma poltrona, ao lado da janela. Estava
inclinado para um lado, com a roupa enrugada e sombra de barba.
Esperou sentir uma onda de raiva, de ódio contra ele. Mas não sentia nada mais
que o desejo de escapar.
De modo que se levantou da cama sem fazer ruído. Ocorreulhe que poderia
trocarse, mas não queria despertar Chrysander. Não, tinha que sair dali. Não podia olhá
lo nos olhos sabendo que a tinha acusado de coisas tão horríveis para deixála logo a
mercê de uns sequestradores.
Depois de deixar o anel de compromisso sobre a mesinha saiu do quarto sem fazer
ruído. Descalça, apertou o botão do elevador… e recordou então a noite que Chrysander
a tinha expulsado dali, quando o mundo se derrubou a seu redor. Como podia havêla
acusado de tais coisas?
Quando chegou em baixo se deu conta de que sua equipe de segurança estaria na
porta e, embora não poderiam evitar que se fosse, com toda certeza chamariam
Chrysander para avisálo. De modo que saiu pela porta de trás. Infelizmente, outro dos
guardacostas estava ali, apoiado em um carro. Marley procurou a saída de serviço, entre
a lavanderia e a sala de manutenção do edifício. E, dali, saiu à rua.
Chrysander despertou com uma monstruosa dor de pescoço. Tinha querido passar
a noite com Marley entre seus braços, mas cada vez que tentava tocála ela se alterava
de tal modo que tinha que soltála.
Seguindo o conselho do médico havia tornado a levála ao apartamento e, assim
que chegaram ali, chamou uma psicóloga que lhe recomendaram. Esperava que Marley
quisesse falar com ela.
Então olhou para a cama… e ao ver que estava vazia se levantou de um salto. Ia
sair do dormitório quando um brilho na mesinha chamou sua atenção.
O anel de compromisso.
Chrysander correu de quarto em quarto e, ao não encontrála, começou a sentir
pânico. Não estava em nenhuma parte.
Enquanto descia no elevador tirou o celular do bolso e assim que as portas se
abriram se chocou com Stavros.
—Onde está?
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—Não a vi, senhor Anetakis. Acreditei que estava com você.
—Foi embora! Chame seus homens. Quero que a encontrem imediatamente.
O zelador tampouco a tinha visto e parecia tão surpreso como seu chefe de
segurança.
Onde podia ter ido? Em seu estado, não deveria sair à rua. E os canalhas que a
tinham sequestrado seguiam livres…
Angustiado, ia sair à rua quando seu irmão Theron entrou no edifício.
—Chrysander, vim vêlo. Como está Marley?
—Foi embora.
—O que? Mas como…?
—Não tenho nem ideia —respondeu ele, sem saber o que fazer— Desapareceu e
tenho que encontrála.
—Nós a encontraremos, não se preocupe.
—Há algo estranho nesta situação… algo que não entendo. Recuperou a memória,
mas não parecia sentirse culpada pelo que aconteceu… quão único vi em seu rosto foi
desolação, como se fosse ela a traída. Estava tão alterada que o médico teve que lhe
injetar um sedativo… e não me deixava tocála.
—Acalmese, Chrysander.
—Não é ela mesma, Theron… e não sei onde pode ter ido.
—Eu o ajudarei —lhe prometeu seu irmão— Não se preocupe, a encontraremos.
Marley estava tremendo enquanto se deixava cair sobre o banco de pedra. Agora
sabia por que se sentiu atraída por aquele lugar. Horas antes dessa última noite se sentou
ali, perguntandose o que diria Chrysander de sua gravidez, de sua relação. E era lógico
que tivesse medo. Chrysander não a queria, não confiava nela. E a tinha deixado a mercê
de uns sequestradores.
Mas se negava a continuar pensando porque as lembranças doíam muito. Ao
menos agora entendia por que tinha escolhido esquecer. Todas essas semanas de terror
com os sequestradores empalideciam ao lado da traição de Chrysander.
Como podia ser tão frio? Como tinha sido capaz de não pagar essa quantidade…
embora tivesse sido por uma estranha? Ele, que se gastava alegremente milhões em
diamantes… Marley não sabia que fosse tão cruel, mas a idiota tinha sido ela por
apaixonarse… não uma, mas duas vezes.
Um gemido escapou de sua garganta e teve que fechar os olhos. Nunca havia se
sentido tão ferida, tão sozinha.
E por que Chrysander tinha passado semanas fingindo que a queria? Era uma
forma de castigála? Não, não podia ser. Haviao feito pelo filho… ah, claro, seu filho. Era
por isso. Não lhe importava nada.
Ficou ali, abraçando a si mesma para evitar o frio, com os olhos fechados, sem
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saber o que fazer.
—Marley?
Ela levantou o olhar, assustada, mas não era Chrysander, e sim Theron quem
estava a seu lado.
—Vá embora daqui!
—Tenho que levála ao apartamento —disse ele, ficando em cócoras frente ao
banco— Não se encontra bem… não deveria estar na rua. Deixa que a leve para casa.
—Não! —exclamou Marley— Não penso voltar nunca.
—Pensa em seu filho. Deixa que a leve… está gelada.
—Já disse que não! Vá agora mesmo!
—Se prometer não levála ao apartamento, virá comigo? Não posso te deixar aqui
com este frio…
Marley tentou levantarse, mas seus joelhos se dobraram e Theron aproveitou para
tomála nos braços.
—Deixeme em paz… solteme.
—Não posso fazer isso, cunhada.
Marley fechou os olhos, esgotada. Queria sair correndo, afastarse, mas não tinha
forças para fazêlo. Não tinha forças para nada. E amaldiçoou ter recuperado a memória
porque recuperála a tinha destruído para sempre.
Capítulo 15
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Estendendo uma mão tocou seu rosto, afastando um cacho de sua testa. Ela não
se moveu. Estava pálida e tinha as pálpebras avermelhadas de tanto chorar. E lhe
encolheu o coração ao vêla assim.
Enquanto voltava para o salão, tirou o celular do bolso para pedir à psicóloga que
fosse ao hotel. Quando terminou, fechou o telefone e olhou a seu irmão.
—Onde a encontrou?
—Sentada em um banco do parque. Ia descalça e estava gelada.
—Theos mou… não sei o que fazer.
—Continua pensando que é culpada?
—Não sei —admitiu Chrysander— Às vezes penso que isso já não importa.
—Quando a vi no banco, tampouco me importou.
A psicóloga chegou uns minutos depois e Chrysander lhe explicou a situação.
Apesar de que lhe resultava muito desagradável lhe contar detalhes tão íntimos de sua
vida a uma estranha, queria que soubesse tudo para que pudesse ajudar Marley.
Felizmente, a psicóloga não fez nenhum comentário. Simplesmente, aceitou a
informação e pediu para ver a paciente.
—Agora está descansando, mas pode esperar no quarto até que desperte. Não
quero que volte a partir.
—Muito bem.
Chrysander a acompanhou ao quarto e, ao abrir a porta, Marley se moveu, mas
quando ia dar um passo adiante, a psicóloga o impediu.
—Deixe que eu fale com ela.
—De acordo.
Ficou no corredor, com o coração encolhido. Houve um longo período de silêncio e
logo ouviu um murmúrio de vozes. Era a psicóloga quem falava sobre tudo, mas depois
ouviu a tremente voz de Marley e aguçou o ouvido para tentar entender algo.
—Fui ao ginecologista no dia que Chrysander voltava de viagem e quando descobri
que estava grávida fiquei surpreendida. Preocupavame a reação de Chrysander. Queria
que falássemos de nossa relação, do que sentia por mim…
—Continue. —a animou a psicóloga.
As perguntas de Marley aquela noite de repente tinham sentido para ele…
—Disseme que não tínhamos uma relação. Que eu era sua amante, uma mulher
que pagava para deitarse com ele.
Chrysander quis protestar, entrar no quarto e dizer que jamais a tinha considerado
isso.
—E logo me acusou. — Marley baixou a voz e não pôde ouvir o que dizia.
—Calma, calma.
—Disseme que o tinha roubado, que eu tinha levado uns planos de seu escritório.
E logo me disse que me fosse.
—Você tinha roubado os planos?
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—Você é a primeira pessoa que se incomoda em me perguntar.
Chrysander fez uma careta. Era verdade, não tinha se incomodado em lhe
perguntar, nem sequer a tinha deixado falar.
—Fiquei tão surpreendida que sai do apartamento sem dizer nada mais. Pensava
voltar no dia seguinte para falar com ele, quando estivesse mais calmo.
—E o que aconteceu?
—Um homem me agarrou pela rua e pôs algo na minha cabeça. Logo me meteram
em um carro e me levaram a algum lugar, não sei onde. Disseramme que tinham me
sequestrado para pedir um resgate… e eu estava tão assustada por meu filho.
Chrysander apertou os punhos.
—Enviaram dois pedidos de resgate — continuou Marley—, mas Chrysander se
negou a pagar. Deixoume com esses homens… nem sequer valia meio milhão de
dólares para ele.
Quando começou a chorar, Chrysander ficou olhando para frente, perplexo. Ele
não tinha recebido nenhum pedido de resgate… Marley tinha acreditado que não queria
salvála, que a tinha deixado de propósito nas mãos desses canalhas? Atônito, sentiu que
uma lágrima rodava por seu rosto.
Uns minutos depois, a psicóloga saía do quarto e fechava a porta.
—Injeteilhe um sedativo porque está muito nervosa. Precisa descansar,
sobretudo. Sua realidade é muito dolorosa, assim prefere esconderse, é natural. Esse
mesmo instinto de sobrevivência é o que provocou a amnésia. Agora que a falta de
lembranças já não pode protegêla, está tentando lutar contra isto como pode —a mulher
o olhou e em seus olhos Chrysander pôde ver muitas perguntas— Ligueme se precisar
de mim outra vez. Virei em seguida.
—Obrigado —disse ele.
Quando partiu, Chrysander se deixou cair no sofá.
—Meu Deus…
—Ouvi algo. —murmurou seu irmão.
—Ela não roubou nada… e eu nunca recebi uma petição de resgate. Marley
acredita… acredita que a deixei a mercê desses canalhas, que não me importava o
suficiente para pagar esse dinheiro…
Theron pôs uma mão em seu ombro.
—Temos que investigar o que aconteceu.
Chrysander assentiu com a cabeça.
—Roslyn.
—O que?
—Roslyn esteve no apartamento naquela noite. Ela deve ter colocado os papéis na
bolsa de Marley.
Então lhe ocorreu outra coisa, algo que o deixou doente. Qualquer pedido de
resgate teria passado por seu escritório já que ninguém tinha o telefone do apartamento
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de cobertura… e a única pessoa que podia têlos interceptado era Roslyn.
—Fique aqui com Marley —disse, levantandose— Por favor, encarreguese de
que não vá a nenhum lugar. Vou chamar um médico para que venha examinála.
—Aonde vai?
—Vou averiguar se estou certo sobre o que aconteceu.
—Chrysander, espera —disse Theron— Deveria chamar a polícia. Embora a faça
confessar, não servirá de nada, só saberia você.
Chrysander apertou os punhos, frustrado, mas sabia que seu irmão tinha razão.
Ele queria que se fizesse justiça e essa era à única maneira de conseguila.
* * *
Chrysander passeava por seu escritório enquanto esperava a chegada de Roslyn.
Não queria estar ali, queria estar com Marley… embora ela não permitisse que sequer se
aproximasse. Quando despertava mostravase distante, remota, como se não pudesse
concentrarse em nada. Estava ali, mas não estava ali. Era como se tivesse ido a um
lugar onde nada podia machucála.
Fechando os olhos, Chrysander tentou concentrarse na tarefa que o esperava.
Quando ouviu Roslyn entrar no escritório ficou tenso, mas fez um esforço para sorrir, para
agir como se não acontecesse nada, como se não a odiasse até morte.
—Queria me ver, senhor Anetakis?
—Sim, sim —murmurou ele, sorridente— Eu sempre quero vêla, Roslyn.
—Ah, obrigada. —sorriu sua ajudante, coquete.
—Suponho que saberá o que aconteceu ontem à noite e… enfim, estive
pensando… às vezes os homens não percebem nada, verdade?
—Não sei a que se refere.
—Por que não me disse que me desejava, Roslyn? Em lugar de estar com você
mantive uma relação que não me interessava… embora agradeça seus esforços para me
livrar de Marley. Sinto não ter me dado conta antes, claro.
Um frio sorriso iluminou o rosto de sua ajudante. Era estranho, mas Chrysander
não se deu conta até aquele momento de que não era uma mulher bela, mas sim
justamente o contrário.
—Como o fez?
E então escutou, horrorizado, como Roslyn lhe contava o que havia feito para que
Marley parecesse culpada dos roubos. O sequestro não tinha tido nada a ver com ela,
mas quando recebeu os pedidos de resgate no escritório o viu como uma oportunidade de
livrarse de Marley Jameson para sempre.
Tão ansiosa estava por lhe demonstrar sua devoção que não se deu conta de que
estava admitindo ter vendido ela mesma os planos à concorrência.
—De modo que você roubou os planos e os vendeu ao Marcelli —disse
Chrysander com voz gelada.
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Roslyn ficou pálida ao darse conta do que tinha confessado.
—Não, eu…
—Então fez Marley parecer culpada, pensando não só no dinheiro que receberia
pelos planos, mas também com Marley fora de minha vida, você poderia ocupar seu
lugar.
—Eu não disse isso…
—E quando chegaram os pedidos de resgate, você os destruiu sem me dizer nada.
O que esperava, Roslyn, que a matassem?
Quão único Chrysander podia ver era Marley sozinha, assustada. Grávida de seu
filho. Pensando não só que a odiava, mas que também a tinha abandonado à sua sorte.
Davalhe vontade de chorar.
Roslyn pareceu recuperar a compostura então e o olhou com desdém.
—Nunca poderá provar isso.
—Não tenho que fazêlo —disse ele, apertando o botão do intercomunicador—
Podem entrar, detetive.
Sua ajudante esteve a ponto de desmaiar quando três policiais entraram no
escritório.
—Não pode fazer isto comigo! —gritou— Eu o amo, Chrysander. Faria qualquer
coisa por você.
Ele sacudiu a cabeça, sem olhála sequer enquanto os policiais a levavam. Não
tinha a menor intenção de escutála, só queria voltar para Marley.
—Perdoeme, agape mou —murmurou.
Marley se deu conta de que alguém a levava nos braços. Mas não era Chrysander.
—Tranquila, cunhada —disse Theron— Está a salvo.
—Onde me leva?
—A um lugar seguro, tranquila. Chrysander não deixaria que acontecesse nada
com você.
Marley ia protestar que Chrysander não faria nada por ela, mas não tinha energia
para fazêlo. Não tinha energia para respirar sequer.
Quando despertou de novo, havia uma frescura em seu cérebro que tinha estado
ausente desde o dia que recuperou a memória. A confusão tinha desaparecido, mas com
essa nova claridade chegou uma dor insuportável.
Sentiase alerta, como se tivesse dormido durante uma semana. E talvez tivesse
sido assim. Não sabia quanto tempo tinha transcorrido e, embora o passado já não fosse
um mistério, os eventos dos últimos dias estavam como envoltos em névoa para ela.
Suspirando, levantouse na cama… e quando olhou ao redor se deu conta de que
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não sabia onde estava. Era um quarto espaçoso e alegre, com várias janelas que
deixavam entrar a luz do sol.
Mas quando ia entrar no banheiro viu Chrysander na porta e, surpreendida, levou
uma mão ao coração.
—Não era minha intenção assustála, pedhaki mou. Mas me preocupei ao ver que
não estava na cama.
—Só queria tomar um banho.
—Chamarei a senhora Cahill se por acaso precisar de algo…
—Deixa de mentir. Já não tem que fingir que se preocupa com o que acontece
comigo.
—Você me importa muito, agape mou.
Antes que Marley pudesse responder Chrysander tinha desaparecido e, um minuto
depois, Patrice entrava para ajudála a banharse.
—Onde estamos? E o que faz você aqui? Pensei que estava em Atenas com o
doutor Karounis.
—O senhor Anetakis enviou seu avião para me buscar. Estava desesperado… a
ideia de voltar para o apartamento a alterava de tal modo que ele a trouxe aqui.
—E onde estou?
—Em sua casa, à uma hora da cidade. Aqui é mais tranquilo e pensou que você
iria preferir.
Os olhos de Marley se encheram de lágrimas. E ela pensando que não ficavam
mais…
—Está muito preocupado com você. Todos estávamos preocupados.
Marley não se incomodou em lhe contar a verdade: que Chrysander a odiava. Que
não a tinha amado nunca.
—O que vou fazer? —sussurrou.
Tinha sido uma idiota por deixar seu apartamento, seu trabalho, tudo por estar com
ele. Tinha estado cega por seu amor e convencida de que havia um futuro para eles.
Patrice a ajudou a secarse e vestirse depois do banho, mas quando saiu do
quarto Chrysander estava esperando no corredor.
—Quer comer algo? O café da manhã está servido lá embaixo.
Sem dizer nada, Marley desceu a escada. E não deixou que a tocasse.
Sentaramse a uma mesa de onde podia ver um lindo jardim. A luz do sol entrava
pelas portas de vidro, esquentandoa um pouco…
—Temos que conversar, Marley —começou a dizer ele— Temos muitas coisas a
nos dizer. Mas antes deve comer para recuperar as forças. Sua saúde e a de nosso filho
vêem em primeiro.
Ela comeu, sem olhálo, sem dizer uma palavra. Mas quando estava terminando
seu suco de laranja ouviu o ruído de uma porta ao longe e logo uns passos que se
aproximavam. Theron entrou na sala de jantar pouco depois.
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—Seja o que for, com certeza pode esperar até que Marley termine de tomar o café
da manhã.
Theron parecia preocupado, mas assentiu com a cabeça. E a Marley lhe fez um nó
na garganta. Fosse o que fosse do que queriam falar, evidentemente não queriam fazêlo
diante dela.
—Podem falar agora mesmo. Já terminei. —disse, levantandose.
—Espera, não vá…
Mas sem lhe fazer caso, Marley seguiu adiante. Chrysander resmungou um
palavrão. Sentiase angustiado, desfeito. Como ia solucionar aquilo? Como ia convencêla
de que ele não a tinha abandonado? E como ia pedirlhe perdão? Marley o odiava e tinha
todo o direito a fazêlo.
Theron tirou um jornal do bolso.
—Olhe isto.
Na primeira página havia uma fotografia de Theron levando Marley nos braços no
dia que saiu fugindo do apartamento. Debaixo, havia fotografias dele e de Roslyn… que
pelo visto tinha dado uma entrevista falando de sua relação com Marley.
—Suponho que terá pensado que não tem nada a perder e tudo a ganhar contando
sua versão da história —suspirou seu irmão.
Angustiado, Chrysander se deixou cair sobre uma poltrona.
—Amaldiçoo o dia que contratei essa mulher. Marley poderia ter morrido por sua
culpa.
—Você a ama.
Não era uma pergunta, mas sim uma afirmação. Sim, a amava. Mas tinha
conseguido matar o amor de Marley não uma vez, mas sim duas vezes.
—Entenderei perfeitamente se ela não quiser me perdoar. Como vai fazêlo se eu
não posso perdoar a mim mesmo?
—Vá até ela. Tenta arrumar a situação.
Chrysander se levantou. Sim, tinha chegado o momento de falar com Marley. Se
ela estava disposta a conversar.
Capítulo 16
Marley estava em seu quarto, olhando pela janela, mas sem ver o jardim. Nada do
que Chrysander fizesse deveria surpreendêla ou magoála já e, entretanto…
—Marley.
Quando se voltou, ele estava na porta. Parecia cansado, seus olhos cheios de
angústia. E havia algo mais em sua expressão… tristeza, medo?
—Temos que falar.
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Marley assentiu com a cabeça, mas deu a volta para continuar olhando o jardim.
Sim, tinham que falar e terminar com aquilo de uma vez por todas.
—Não afaste o olhar de mim, agape mou. Não quero vêla tão triste.
—Digame o que tenha a dizer e acaba com isso de uma vez.
—Venha, sentese. —disse ele, tomandoa brandamente pelo pulso.
Marley o afastou, mas se sentaram um ao lado do outro sobre a cama, sem tocar
se.
—Mentiu para mim. Tudo o que me disse no hospital, na ilha… tudo era mentira.
Eu não importo nada para você. Quando nos deitávamos juntos mentia para mim… que
tipo de pessoa faria uma coisa assim? —tremendo, Marley se tampou a cara com as
mãos.
—Enganase —começou a explicar ele— Importame muito e quando fazíamos
amor não estava mentindo. Sim, menti sobre os detalhes. Advertiramme que não devia te
contar nada, que recuperaria a memória pouco a pouco. Menti sobre pequenas coisas…
—Como que estávamos comprometidos, por exemplo.
—Tive que fazêlo ou não me teriam deixado cuidar de você —suspirou ele—
Comporteime muito mal com você, mas há coisas que deve saber. Eu nunca recebi os
pedidos de resgate… eu teria movido céu e terra para te resgatar, Marley. Nenhuma
quantidade teria sido muito alta. Eu não sabia sequer que a tinham sequestrado.
—Como não?
—Roslyn destruiu as notas nas quais pediam o resgate. Foi ela quem roubou os
planos… que estava nos vendendo à concorrência.
—Roslyn…
—Queria livrarse de você e por isso decidiu esconder sobre o sequestro. Eu não
soube nada até o dia que a polícia a encontrou, jurolhe isso. E fui um imbecil por acusá
la naquela noite… nem sequer a escutei. Agora não sei como pude acreditar que você
tinha roubado os planos. Não o entendo… comporteime como um canalha. Mas aquela
noite, quando me perguntou por nossa relação… a verdade é que me assustei. Pensei
que não era feliz comigo, que queria mais do que eu podia te dar —Chrysander apertou
sua mão—.Por isso lhe disse que era minha amante, mas não era verdade. Não era isso,
nunca foi.
—O que está dizendo?
—Que a amo, pedhaki mou, S'agapo.
Marley nem sequer podia responder, tão perplexa estava.
—Embora então não soubesse, sim sabia que não queria que se fosse de meu
lado. Mas quando vi esses papéis em sua bolsa fiquei furioso. Não podia acreditar que
você nos tivesse estado roubando.
—Mas acreditou nisso. —recordou ela.
—Meus irmãos e eu trabalhamos muito para conseguir o que temos… e pensei que
tinha me usado, por isso lhe disse que se fosse. E, que Deus me perdoe, foi culpa minha
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que esses canalhas a sequestraram.
Marley fechou os olhos para não recordar o medo e o desespero que tinha sentido
durante esses meses. Embora tivesse recuperado a memória, essa parte, felizmente, era
um borrão. E, com um pouco de sorte, não a recordaria nunca.
—Me ama?
Chrysander a tomou entre seus braços, com a mesma delicadeza como se fosse
um objeto de cristal.
—Não soube demonstrar isso, mas a amo. E quero que se case comigo, Marley.
Por favor.
Ela sacudiu a cabeça, desconcertada.
—Continua querendo se casar comigo?
—Não espero que me responda agora mesmo, mas me dê uma oportunidade. Não
o lamentará, prometolhe isso. Farei que volte a me amar.
Tinha perdido a cabeça, pensou Marley. Chrysander estava abraçandoa, dizendo
que a amava, que queria casarse com ela…
De verdade desta vez, sem mentiras.
—Pense, agape mou. Esperarei o tempo que precisar até que me dê uma
resposta.
Depois se levantou, como se intuísse seu desejo de estar sozinha, e Marley ficou
imóvel, olhando a porta pela qual tinha desaparecido. A amava?
Roslyn era a pessoa que roubou os planos? Roslyn que ocultou que a tinham
sequestrado?
Chrysander havia dito que a amava e que desejava casarse com ela, mas não
podia perdoálo e esquecer tudo sem mais. Nem sequer tinha podido lhe devolver essa
declaração de amor.
Suspirando, deitouse na cama. Estava tão cansada física e emocionalmente.
Passando uma mão pelo volumoso abdômen, sorriu quando seu filho lhe deu um chute.
—O que devo fazer? —sussurrou. Tinha tanto medo de voltar a confiar no amor de
Chrysander.
Marley fechou os olhos um momento. Não podia tomar uma decisão assim em uns
minutos porque havia muito em jogo, sobretudo, o futuro de seu filho.
Durante os dias seguintes, Chrysander a atendeu em todas as horas. Mimavaa,
ficava observandoa e frequentemente lhe dizia que a amava… embora tentasse manter
certa distância entre eles.
Dois dias depois, seus irmãos foram visitálo e Marley se dirigiu para o seu quarto
porque não se sentia cômoda com os Anetakis depois de tudo o que tinha passado. Mas
era com ela com quem queriam falar.
—Nos comportamos de maneira vergonhosa com você —Theron foi o primeiro em
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desculparse.
Piers assentiu.
—Entenderíamos que não nos perdoasse porque não há defesa possível para
nosso comportamento, especialmente estando grávida de nosso sobrinho.
Pareciam sinceros, mas ela não sabia o que dizer. E quando olhou para
Chrysander, pareceulhe que tinha perdido peso, seu rosto mais magro que antes.
Parecia tão infeliz…
Não porque se sentisse culpado, embora houvesse muito disso flutuando no
ambiente, mas sim como se tivesse perdido o que mais queria.
A ela?
Depois de murmurar uma desculpa, Marley saiu da sala, quase correndo em sua
pressa por estar sozinha.
Abriu a porta do jardim e respirou profundamente o ar fresco da noite. Não podia
deixar de dar voltas a tudo o que lhe tinha acontecido durante aqueles dias…
Chrysander parecia tão magoado quanto ela. Se a odiasse de verdade, por que
teria montado essa farsa quando perdeu a memória? Só por seu filho? Sim, era possível,
certamente.
Mas então por que não fez o que Theron tinha sugerido, instalála em um
apartamento e tentar chegar a um acordo econômico com ela? Por que a tinha levado à
ilha, por que havia feito amor com ela, por que tinha agido como se lhe importasse?
Amariaa de verdade? Tal declaração não podia ter sido fácil para ele já que
Chrysander não era um homem dado a compartilhar seus sentimentos. Durante o tempo
que estiveram juntos nunca havia dito o que sentia por ela… embora Marley o tinha
mostrado centenas de vezes quanto lhe importava.
Podia confiar nele outra vez? Essa ideia a assustava e, ao mesmo tempo, oferecia
lhe certa medida de paz. A escolha era dela.
Marley sabia o que queria, embora poderia não ser o melhor para ela. O coração
nem sempre escolhia sabiamente, pensou. Mesmo assim, entrou na casa para procurar
Chrysander, sabendo que tinha tomado à decisão mais acertada.
Seus irmãos já tinham ido e o encontrou sozinho na sala em que o tinha deixado,
olhando pela janela. Tinha a camisa enrugada e sombras ao redor dos olhos… não
parecia ter dormido muito nos últimos dias.
—Chrysander.
Ele se virou, surpreso.
—Está bem, agape mou? Necessita algo? Sinto se meus irmãos a aborreceram…
—Casarei com você. —o interrompeu ela.
—O que?
—Quero uma cerimônia pequena, tão simples quanto for possível.
—O que você disser.
—E quero… —Marley apartou o olhar.
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—O que é que quer, agape mou? Digame isso Não há nada que eu não fizesse
por você. Só tem que me pedir.
—Não quero ficar aqui, quero que voltemos para a ilha.
Chrysander assentiu, apertando sua mão.
—Iremos assim que estivermos casados.
—Fala a sério? Não se importa?
—Sua felicidade é o único importante para mim. E me pede algo tão simples… a
ilha será nossa casa a partir de agora se isso for o que quer.
—Sim, isso é o que quero.
—Então, começarei a organizar tudo agora mesmo.
Chrysander não perdeu tempo organizando o casamento. Ele mesmo fez as
mudanças pertinentes em sua agenda e se encarregou de tudo o que Marley pudesse
necessitar na ilha.
Agora que tinha recuperado a memória, esteve várias horas na delegacia de polícia
dando todos os detalhes que recordava. Os sequestradores não a tinham machucado e
tinham mostrado certa consideração para sua gravidez. Passaram vários dias vigiandoa,
sabendo que vivia com Chrysander Anetakis, e tinham aproveitado a primeira
oportunidade que se apresentou. Tinham pedido uma quantidade discreta como resgate,
mas ao não receber resposta às suas exigências decidiram abandonála e ligar de
maneira anônima à polícia para lhes indicar seu paradeiro.
Acreditar que Chrysander não ia fazer nada por ela foi o que a empurrou ao
abismo. Foi então quando bloqueou seu passado, tão desolada estava por essa traição.
Marley passou mal enquanto estava recordandoo e Chrysander sofreu a agonia de ver
se enfrentado com tudo o que tinha sofrido por sua culpa.
O detetive encarregado do caso lhes disse que entraria em contato com eles se,
com um pouco de sorte, detinham os culpados e Marley se via obrigada a atestar.
Dois dias depois se casaram. Theron e Piers foram às testemunhas e, depois das
bodas, Piers lhe ofereceu um discreto boasvindas à família enquanto a de Theron foi
mais aberta, mais entusiasta.
—Fezme muito feliz, cunhada. —murmurou, abraçandoa.
Marley sorriu, mas sabia que não estava enganandoo com esse sorriso. Ainda
havia muita dor em seu coração.
Enquanto Chrysander queria esperar alguns dias para voltar para a ilha, Marley
insistia em ir imediatamente. Queria voltar para o lugar onde tinha sido feliz… embora só
fosse durante umas semanas. Nova Iorque tinha para ela tantas más lembranças…
Era tarde quando chegaram a Corinto e muito mais tarde quando, por fim, o
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Traições Passadas
TWKliek Maya Banks
Série No Amor e na Guerra 1
helicóptero aterrissou na ilha, mas para Marley foi um alívio estar de novo em casa.
Uma vez na cama, Chrysander a abraçou como se tivesse medo de tocála e
Marley estendeu uma mão para acender a lâmpada da mesinha.
—O que ocorre? Não se encontra bem?
Marley viu as linhas de preocupação ao redor de sua boca, o brilho de incerteza
em seus olhos… e nesse momento o entendeu: tinha medo.
—Faça amor comigo. —lhe disse.
—Tem que estar completamente segura, agape mou. Não quero pressionála para
que faça algo que não quer fazer.
—Estou segura.
Deixando escapar um suspiro torturado, Chrysander se colocou em cima dela.
Cada beijo, cada toque, era extremamente terno. Acariciavaa com infinito cuidado.
—S'agapo, pedhaki mou, S'agapo —murmurava, com uma voz tão rouca, tão
carregada de emoção, que os olhos de Marley se encheram de lágrimas.
—Preciso de você, Chrysander…
Ele a penetrou, devagar, com movimentos solícitos e calculados, mas Marley não
queria que a tratasse com tão mimo, queriao completamente. De modo que se arqueou
para ele, envolvendo as pernas ao redor de sua cintura.
Soluços de prazer e de desejo escapavam de sua garganta e, por uma vez, a dor
se converteu em uma longínqua lembrança. Só tinha aquele momento e aquele homem
que a amava. Subiu por uma íngreme ladeira e logo caiu rapidamente, mas Chrysander
estava ali para segurála enquanto murmurava palavras de amor sobre sua boca.
—Não me solte. —murmurou.
—Nunca, agape mou —lhe prometeu ele, acariciando seu cabelo, suas costas e
seu volumoso abdômen enquanto ela adormecia.
Marley saltou da cama e vestiu o robe para cobrir sua nudez. Chrysander estava
dormindo, com um braço onde um segundo antes tinha estado ela.
Fizeram amor durante toda a noite e, por fim, ficaram adormecidos ao amanhecer.
Já não havia mais dúvida em seu coração e logo, muito em breve, seus medos também
teriam desaparecido, estava segura.
Desceu à cozinha para tomar um suco de laranja e logo saiu ao jardim para olhar o
mar. Foi ali onde a encontrou Chrysander, tomandoa pela cintura enquanto lhe dava um
beijo no pescoço.
—Levantouse muito cedo, agape mou.
—Estava pensando. —murmurou Marley.
Ele a olhou também, cabisbaixo.
—Existe alguma possibilidade de que volte a me amar, Marley? Ou destrocei essa
possibilidade para sempre?
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Traições Passadas
TWKliek Maya Banks
Série No Amor e na Guerra 1
—Já o amo, Chrysander. Sempre o amei. Desde o primeiro dia não houve nenhum
outro homem para mim. E não o haverá nunca.
—Me ama?
—Não podia dizer isso a você em Nova Iorque. Queria que voltássemos aqui, onde
fomos felizes. Queria que nossa vida começasse aqui outra vez.
Chrysander a apertou contra seu peito. Sua voz tremia de emoção enquanto
murmurava palavras em grego e em seu idioma, dizendo quanto a amava e quanto
lamentava a dor que lhe tinha causado.
Depois a tomou nos braços para levála de volta à cama e voltou a fazer amor com
ela, agora com mais ternura que nunca. Depois, com a cabeça de Marley apoiada sobre
seu peito, acariciou seu cabelo brandamente.
—Eu a amo tanto, yineka mou. Não mereço seu amor, mas lhe agradeço com todo
meu coração. Durante o resto de minha vida a agradecerei por isso.
—Eu também o amo, Chrysander. E seremos muito felizes juntos, eu o farei feliz.
E assim foi.
Fim