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DIREITO CONSTITUCIONAL

PROF. MANOEL ERHARDT


APOSTILA DE APOIO DIDÁTICO

ÍNDICE:

I. CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO....................................................................................................2
II. CLASSIFICAÇÕES DAS CONSTITUIÇÕES.............................................................................2
III. PODER CONSTITUINTE............................................................................................................3
IV. A NOVA CONSTITUIÇÃO E AS NORMAS DO ORDENAMENTO ANTERIOR..................3
V. CLASSIFICAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS QUANTO À EFICÁCIA:.............3
VI. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS............................................................................................4
VII. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS.......................................................................6
A) Direitos e garantias individuais:.................................................................................................6
B) Direitos Sociais:............................................................................................................................8
C) Da nacionalidade:........................................................................................................................9
D) Direitos Políticos:.......................................................................................................................10
IX. A ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA:...........................................................13
A) Repartição De Competências Na Federação:..........................................................................15
B) Intervenção:................................................................................................................................16
X. A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA:...............................................................................................17
A) O Servidor Público:...................................................................................................................19
XI.PODERES DO ESTADO ............................................................................................................ 23
A) PODER LEGISLATIVO:..........................................................................................................23
B) PODER EXECUTIVO..............................................................................................................28
C) PODER JUDICIÁRIO..............................................................................................................29
XII. FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA.....................................................................................35
XIII. DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS................................39
XIV. ORDEM ECONÔMICA E SOCIAL........................................................................................40

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I. CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO

A Constituição pode ser conceituada, com base em diferentes critérios. É comum apontar-se os
conceitos sociológico, político e jurídico. O conceito sociológico foi desenvolvido por Ferdinand
Lassalle e enfatiza os fatores reais de poder na sociedade. O conceito político está relacionado a Carl
Shimitt, para quem a constituição se refere à decisão política fundamental. O conceito jurídico está
ligado a Hans Kelsen e entende a Constituição como uma norma jurídica fundamental. Kelsen também
elaborou um, conceito lógico de constituição ao desenvolver a norma fundamental hipotética que não
é norma jurídica, mas um fundamento lógico para o sistema de normas.

II. CLASSIFICAÇÕES DAS CONSTITUIÇÕES

1- Critério formal: escritas e não escritas; As constituições escritas são reduzidas a um


documento. As não escritas abrangem textos esparsos, precedentes judiciais e costumes
constitucionais.

2- Critério da origem: outorgadas, promulgadas e cesaristas; As constituições outorgadas


resultam de uma vontade autoritária, a exemplo das brasileiras de 1824, 1937 e 1967. As
promulgadas são elaboradas por representantes do povo. As cesaristas resultam de uma
elaboração autoritária, mas são submetidas ao referendo popular.

3- Critério da estabilidade (processo de alteração): rígidas flexíveis e semi-rígidas. As


constituições rígidas são alteráveis por procedimentos complexos, diferentes dos estabelecidos
para alteração das leis comuns. As constituições flexíveis são modificáveis pelos mesmos
procedimentos previstos para alteração das leis comuns. As semi-rígidas ou semi-flexíveis
distinguem uma parte, considerada mais importante e alterável de forma rígida e outra
modificável pelos procedimentos comuns. A constituição brasileira de 1824 foi semi-rígida.
As demais são classificadas como rígidas.

4- Critério da formação: históricas e dogmáticas. As constituições históricas são formadas


lentamente ao longo da história: as dogmáticas surgem em determinado momento, refletindo
os ideais ali dominantes.

5- Critério do conteúdo: materiais e formais. A constituição material trata dos aspectos


essenciais ao Estado (forma de Estado, forma de governo, regimes políticos, poderes do
Estado e direitos fundamentais) e podem até existir fora da constituição formal. A constituição
formal corresponde às normas que passaram pelo procedimento de elaboração das normas
constitucionais, seja qual for o conteúdo.

6- Critério da extensão: analíticas e sintéticas. As constituições analíticas são extensas, tratando


de muitos assuntos com o propósito de atribuir-lhes status constitucional, já as constituições
sintéticas têm poucos artigos e tratam dos aspectos essenciais ao Estado.

Podem ainda ser mencionadas outras classificações:

Constituição-garantia: é a que se destina a garantir as condições existentes para o desenvolvimento


da liberdade, limitando o poder. É típica do Estado-Liberal.

Constituição-dirigente: é a que pretende transformar a realidade sócio-econômica. Caracteriza-se


pela existência de um grande número de normas programáticas. É típica do Estado intervencionista, do
Estado Social.

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Segundo Loewenstein, as constituições podem ser normativas quando efetivamente
conseguem disciplinar a realidade política e social; nominalistas quando pretendem disciplinar a
realidade, mas não encontram ressonância; semânticas quando não passam de um instrumento de
legitimação do poder, vez que não há sequer a pretensão de ser aplicada à realidade.

III. PODER CONSTITUINTE

Sempre houve diferença entre o poder de elaborar as normas fundamentais e o de criar as


normas comuns. No entanto, a teoria do Poder constituinte somente se desenvolveu no século XVIII, a
partir do abade Sieyès com o panfleto denominado “O que é o terceiro estado? ”, indicando como
titular de tal poder a nação. Depois, prevaleceu o reconhecimento do povo como titular do poder
constituinte.
Podemos distinguir o poder constituinte originário e o derivado. O originário é o verdadeiro
poder constituinte e tem as seguintes características: inicial, autônomo, ilimitado juridicamente,
incondicionado. Os adeptos do direito natural preconizavam a existência de normas que não poderiam
ser desconsideradas pelo poder constituinte, o que não coincide com a visão juspositivista.
O poder constituinte derivado é na realidade um poder constituído, já que está disciplinado
pela constituição. Trata-se de poder secundário, limitado, condicionado. Abrange o poder de alterar a
constituição, através de reforma ou de revisão e também o poder de elaborar as constituições
estaduais, o que se chama de poder decorrente.
Deve-se distinguir a titularidade e os agentes do poder constituinte. A titularidade pertence ao
povo. Agentes são os que em nome do povo exercem o poder constituinte.

IV. A NOVA CONSTITUIÇÃO E AS NORMAS DO ORDENAMENTO ANTERIOR

O surgimento de uma nova constituição acarreta a total revogação da constituição anterior, vez
que são normas da mesma hierarquia. Não é aceita no Brasil a tese da desconstitucionalização pela
qual as normas da constituição anterior poderiam continuar em vigor com o status de lei ordinária no
que fosse materialmente compatível com a nova constituição.

As normas do ordenamento infraconstitucional anterior podem ser recepcionadas ou não. A


recepção ocorrerá se houver compatibilidade material com a nova constituição. Ainda que não haja
compatibilidade formal, é possível a recepção. Por exemplo, lei ordinária anterior editada para regular
matéria para a qual a nova constituição exigiu lei complementar poderá ser recepcionada, havendo
compatibilidade material, passando a ter o nível de lei complementar. As normas incompatíveis
materialmente serão consideradas não recepcionadas ou revogadas, não prevalecendo na
jurisprudência do STF a tese da inconstitucionalidade superveniente.

V. CLASSIFICAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS QUANTO À EFICÁCIA:

Segundo a conhecida classificação de José Afonso da Silva, as normas constitucionais podem


ser de eficácia plena, contida e limitada. Todas as normas constitucionais possuem algum grau de
eficácia. As de eficácia plena e as de eficácia contida têm aplicabilidade imediata. A diferença é que as
de eficácia contida podem ter o seu alcance restringido por outras normas (p.ex. o art.5º, XIII, da CF
assegura a liberdade do exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, mas permite que a lei
estabeleça qualificações profissionais o que representa a possibilidade de limitação do alcance da
liberdade concedida). As de eficácia plena, além de serrem aplicadas imediatamente, não podem
receber limitações como, por exemplo, as normas que organizam os Poderes do Estado. As de eficácia
limitada possuem eficácia mínima, dependendo da lei para a plena produção dos seus efeitos como,
por exemplo, algumas normas que consagram direitos sociais. As normas programáticas são espécie de
eficácia limitada e caracterizam as constituições-dirigentes, estabelecendo princípios de transformação

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da realidade sócio-econômica para concretizar os valores de justiça social. Vinculam o legislador e o
administrador público porque o desenvolvimento do programa traçado pela norma programática deve
ser realizado, embora, muitas vezes, fique condicionado à existência dos meios materiais para tanto.

VI. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

As constituições modernas têm consagrado a supremacia dos princípios. Trata-se de


mandamentos nucleares do sistema constitucional, que dão consistência a um conjunto de normas. Os
princípios são, na verdade, as normas mais importantes, consagrando os valores de maior relevância
para o sistema normativo estabelecido pela Constituição.

Os princípios jurídicos apresentam grau de generalidade maior do que as regras, por isso se
amoldam com mais facilidade às novas exigências normativas. Segundo Canotilho, os princípios
constitucionais são basicamente de duas categorias: os princípios político – constitucionais e os
princípios jurídico-constitucionais. Os primeiros correspondem às decisões políticas fundamentais, a
exemplo da forma de Estado, da forma e do sistema de Governo, do regime político. Os princípios
jurídico-constitucionais informam de modo geral a ordem jurídica nacional, podendo representar
desdobramentos dos princípios fundamentais, a exemplo do princípio da supremacia da constituição,
da legalidade, da isonomia, da autonomia individual, bem como dos princípios - garantias, de que são
exemplos a legalidade e a anterioridade no Direito Penal, o devido processo legal, o juiz natural, o
contraditório.

Os princípios jurídicos refletem, sobretudo, valores. Por isso, é possível a convivência de


princípios contrários cuja colisão pode ser solucionada pela aplicação da técnica de ponderação de
interesses que consiste em identificar no caso concreto qual o princípio que deverá prevalecer. A
ponderação terá como parâmetro os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.

O título I da Constituição de 1988 estabelece os princípios fundamentais do Estado brasileiro.


Inicialmente, determina a forma de governo: República. A forma de Estado também vem indicada:
Federação. O sistema de governo não foi incluído entre os princípios fundamentais. A Constituição
adotou o sistema presidencialista.

Foram mencionados os seguintes fundamentos da República Federativa do Brasil: Soberania


(poder político supremo e independente), cidadania, dignidade da pessoa humana (valores
fundamentais da pessoa humana que assumem sentido normativo-constitucional), os valores sociais
do trabalho e da livre iniciativa (respeito à liberdade e à dignidade do trabalhador – fundamentos da
ordem econômica), pluralismo político (liberdade de convicção filosófica, política e possibilidade de
organização e participação em partidos políticos).

Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: construir uma


sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a
marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

São princípios das relações internacionais: independência nacional; prevalência dos direitos
humanos; autodeterminação dos povos; não-intervenção; igualdade entre os Estados; defesa da paz;
solução pacífica dos conflitos; repúdio ao terrorismo e ao racismo; cooperação entre os povos para o
progresso da humanidade e concessão de asilo político.

Estado democrático de direito:

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O Estado de direito corresponde a pressupostos que se apresentam da seguinte forma:
juridicidade, constitucionalidade e direitos fundamentais.

Juridicidade – significa organizar as estruturas do poder político e da sociedade, conforme o Direito.

Constitucionalidade – o Estado de direito pressupõe a existência de uma Constituição que sirva de


ordem jurídica-normativa fundamental.

Direitos fundamentais – reduto antropológico do Estado de direito.

Subprincípios do Estado de Direito: legalidade da administração, segurança jurídica e proteção da


confiança dos cidadãos, proibição do excesso.

O Princípio democrático: não se limita a uma compreensão estática da democracia. É um processo


em direção a uma sociedade livre, justa e solidária.

Soberania popular: fundamento do Estado democrático.

Representação democrática formal: autorização dada pelo povo a um órgão previsto


constitucionalmente para agir em seu nome.

Princípio participativo: A forma representativa não tem sido considerada suficiente para o exercício
da soberania popular. Deve-se assegurar também a participação direta do povo, através dos institutos
da democracia semidireta (referendo, iniciativa popular, plebiscito) ou mediante reivindicações
diretamente apresentadas. É competência exclusiva do Congresso Nacional autorizar plebiscito e
convocar referendo.

Referendo – consulta feita aos eleitores sobre uma questão ou sobre um texto. Trata-se de
consulta posterior para ratificar ou não uma decisão.

Iniciativa popular – consiste em facultar ao povo a iniciativa das leis. No plano federal,pode
haver iniciativa popular para os projetos de leis complementares e ordinárias, mediante a
reunião de eleitores no percentual de 1% do eleitorado nacional, distribuídos em pelo menos
cinco estados com não menos de 0,3%, do eleitorado de cada um deles.Os estados deverão
dispor, através de lei, sobre a iniciativa popular no processo legislativo estadual.A Lei Orgânica
dos Municípios deverá prever a iniciativa popular para as leis municipais, exigindo a
manifestação de cinco por cento do eleitorado municipal. Não cabe à iniciativa popular a
apresentação de propostas de emendas constitucionais.

Plebiscito – pronunciamento popular sobre escolhas ou decisões políticas. Trata-se de consulta


prévia.

VII. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

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As declarações de direitos, no sentido moderno, surgiram no século XVIII com as Revoluções
Americana e Francesa.

As constituições escritas tiveram o seu surgimento relacionado às declarações de direitos.

Atualmente, a doutrina classifica os direitos fundamentais em de primeira, segunda e terceira


gerações, conforme a seqüência histórica em que apareceram: direitos individuais, direito sociais e
direitos difusos. Os direitos de primeira geração correspondem primordialmente à liberdade e à
propriedade. Os de segunda geração dizem respeito à igualdade e os de terceira geração procuram
realizar a fraternidade como, por exemplo, o direito ao meio ambiente, à paz e ao desenvolvimento.

A Constituição de 1988 distribuiu os direitos e garantias fundamentais da seguinte forma: direitos


individuais e coletivos, direitos sociais, direitos de nacionalidade, direitos políticos, partidos políticos.
Estabeleceu a aplicabilidade imediata das normas definidoras dos direitos fundamentais democráticos
e individuais

Existe distinção doutrinária entre direitos e garantias fundamentais. A Constituição declara os


direitos fundamentais e assegura os meios destinados a tutelá-los.

A Constituição não menciona, de modo taxativo, os direitos e garantias fundamentais. É possível o


reconhecimento de outros decorrentes dos princípios adotados e dos Tratados e Convenções
Internacionais firmados pelo Brasil. Nos termos do art. 5 o, §3o da CF, com a redação da EC nº 45/04,
os Tratados e Convenções Internacionais sobre Direitos Humanos, que forem aprovados, em cada
Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por 3/5 dos votos dos respectivos membros, serão
equivalentes às Emendas Constitucionais. A referida EC nº 45/04 previu como direito fundamental a
razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. Estabeleceu
também que o Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional, a cuja criação tenha
manifestado adesão. A competência para processos de grave violação dos direitos humanos poderá ser
deslocada para a Justiça Federal, mediante decisão do STJ, atendendo à solicitação do Procurador
Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de tratados internacionais de
direitos humanos de que o Brasil seja parte.

A) Direitos e garantias individuais:

Aplicam-se aos brasileiros, bem como aos estrangeiros, no território nacional. A Constituição
estabelece o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.

PRINCÍPIO DA IGUALDADE: todos são iguais perante a lei. A Constituição proíbe as distinções que
não se destinem a atender a uma finalidade juridicamente protegida. É possível, por exemplo, exigir
idade máxima para provimento de um cargo público, se as respectivas atribuições assim exigirem.

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE: Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa
senão em virtude de lei. Nenhuma obrigação pode ser imposta às pessoas sem previsão em lei no
sentido formal.

INVIOLABILIDADE DE DOMICÍLIO: a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo


penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar
socorro, ou durante o dia, por determinação judicial. O conceito de domicílio é amplo. Também inclui
o lugar em que alguém exerce, de modo particular, uma profissão, a exemplo de escritório de
advocacia.

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INVIOLABILIDADE DO SIGILIO DA CORRESPONDÊNCIA E DAS COMUNICAÇÕES
TELEGRÁFICAS, DE DADOS E DAS COMUNICAÇÕES TELEFÔNICAS: a correspondência, as
comunicações telegráficas, de dados e as comunicações telefônicas, em regra não podem ser
interceptadas. A Constituição permitiu as interceptações telefônicas por ordem judicial. Prevaleceu o
entendimento de que era imprescindível a existência de lei regulamentando a possibilidade de
interceptações telefônicas. Para tal finalidade, foi editada a lei n 9296 de 24/07/96. As interceptações
somente são cabíveis para prova em investigação criminal e em instrução processual penal.

LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO: a Constituição estabelece a plena liberdade de associação para fins


lícitos, vedada a de caráter paramilitar. A criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas
independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento. As
associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão
judicial, exigindo-se para a dissolução o trânsito em julgado. As entidades associativas, quando
expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou
extrajudicialmente. Existe o entendimento de que o direito de representação se distingue da
legitimidade para impetrar mandado de segurança coletivo. Logo, no caso de representação, a
autorização dos representados é imprescindível, enquanto, no caso de mandado de segurança coletivo
não é exigida.

PROTEÇÃO DA SEGURANÇA JURÍDICA: a Constituição assegura a estabilidade das relações


jurídicas, por isso veda a aplicação retroativa da lei para atingir o direito adquirido, o ato jurídico
perfeito e a coisa julgada. A proteção ao direito adquirido deve ser reconhecida inclusive diante das
chamadas leis de ordem pública, a exemplo das que prevêem planos econômicos.

COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI PARA O JULGAMENTO DOS CRIMES DOLOSOS


CONTRA A VIDA: a Constituição reconheceu a instituição do júri e definiu os seguintes princípios: a
plenitude de defesa, o sigilo das votações, a soberania dos veredictos, a competência para o
julgamento dos crimes dolosos contra a vida. Não fica excluído o recurso contra as decisões, no
entanto o Tribunal ao julgar a apelação determinará, se for o caso, que novo julgamento seja realizado
pelo júri. Prevalece o entendimento de que se o réu possuir prerrogativa de foro concedida pela
Constituição federal, não será submetido a julgamento pelo júri, predominando o foro especial.

DIREITO DE PETIÇÃO E DE OBTER CERTIDÕES: são a todos assegurados, independentemente


do pagamento de taxas o direito de petição aos poderes públicos em defesa de direito ou contra
ilegalidade ou abuso de poder, bem como a obtenção de certidões em repartições públicas para defesa
de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal. Se for negado o direito de certidão, é
cabível mandado de segurança.

PLENITUDE DA TUTELA JURISDICIONAL: a lei não excluirá da apreciação do poder judiciário


lesão ou ameaça a direito. O ingresso em juízo não está condicionado à exaustão de esferas
administrativas. Apenas em relação aos litígios decorrentes de competições esportivas, a Constituição
estabelece que o Poder Judiciário somente admitirá ações após esgotarem-se as instâncias da justiça
Desportiva regulada em lei. No entanto, existe o prazo máximo de 60 dias para que a justiça
Desportiva profira decisão final.

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE E DA ANTERIORIDADE DA LEI PENAL: não há crime sem lei


anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal. Trata-se de garantia constitucional da
liberdade.

PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL: ninguém será privado da liberdade ou dos seus bens
sem o devido processo legal. Tem a sua origem na Magna Carta Inglesa. É também previsto na
Declaração Universal dos Direitos do Homem. Implica a ampla defesa e o contraditório, que deverão
ser assegurados aos litigantes em processo judicial ou administrativo e aos acusados em geral. Por

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outro lado, também é possível apreciar o devido processo legal do ponto de vista substantivo ou
material, identificando-o com a proporcionalidade e a razoabilidade.

PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DA INOCÊNCIA: ninguém será considerado culpado até o trânsito


em julgado da sentença penal condenatória. Entende a jurisprudência que a presunção de inocência
não impede a prisão do réu condenado antes do trânsito em julgado da sentença. Não é possível lançar
o nome do réu no rol dos culpados, enquanto não transitar em julgado a condenação.

MANDADO DE SEGURANÇA, HABEAS CORPUS, HABEAS DATA, MANDADO DE


INJUNÇÃO E AÇÃO POPULAR: o Mandado de Segurança se destina a proteger direito líquido e
certo não amparado por habeas corpus ou habeas data contra ilegalidade ou abuso de poder, praticado
por autoridade pública ou agente de pessoa jurídica, no exercício de atribuições do Poder Público.
Direito líquido e certo é o que pode ser demonstrado mediante prova documental. Os particulares,
como por exemplo, concessionários de serviços públicos e dirigentes de estabelecimentos de ensino
superior, podem responder a mandados de segurança, em relação aos atos praticados no exercício de
atribuições delegadas do Poder Público. A Constituição de 1988 previu o mandado de segurança
coletivo que pode ser impetrado por partido político, com representação no Congresso Nacional,
entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano,
em defesa dos interesses dos seus membros ou associados. O mandado de injunção é cabível sempre
que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades
constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. Entende o
Supremo Tribunal Federal que, se o legislador, notificado sobre a omissão não a suprir, deve-se
assegurar, de logo, ao interessado por ela prejudicado, a possibilidade de exercitar o seu pretenso
direito por meio de ação comum. O habeas corpus é cabível sempre que alguém sofrer ou se achar
ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção por ilegalidade ou abuso de
poder. Conceder-se-á habeas data para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do
impetrante constante do registro ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter
público, e também, para a retificação de dados quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso,
judicial ou administrativo. A lei 9507/97 estabeleceu o procedimento do habeas data. É necessário
prévio requerimento administrativo das informações ou retificações pleiteadas.

AS CPIS E OS DIREITOS FUNDAMENTAIS: podem quebrar diretamente, os sigilos bancário, fiscal


e telefônico. Não podem, no entanto, realizar as restrições a direitos fundamentais que estejam sob
reserva de jurisdição, tais como interceptação das comunicações telefônicas, decretar a prisão, quebrar
a inviolabilidade de domicílio. Essas decisões dependem de ordem judicial.

B) Direitos Sociais:

No início do século, surgiu a proteção dos direitos sociais no âmbito constitucional. A Constituição
de Weimar de 1919 e a mexicana de 1917 serviram de paradigma para o tratamento da matéria.

No Brasil, a Constituição de 1934 foi a primeira a prever os direitos sociais.

A Constituição de 1988 estabeleceu como princípio fundamental os valores sociais do trabalho. No


artigo 6o, define como direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança,
a previdência social, a proteção à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados. Deve-se
ressaltar que a moradia foi incluída entre os direitos sociais por força da emenda constitucional
nº26/00.

Classificam-se os direitos sociais em direitos individuais dos trabalhadores e direitos coletivos. Os


direitos individuais dos trabalhadores estão previstos no artigo 7 o, enquanto os direitos coletivos estão
estabelecidos nos artigos 8o ao 11º.

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A enumeração constitucional não tem caráter taxativo. A maior parte dos direitos sociais está
disciplinada em normas de eficácia limitada.

Entre os direitos coletivos, incluem-se a sindicalização e o direito de greve. Foi prevista a


autonomia sindical. Não é necessária a autorização para a criação de sindicatos. A personalidade
jurídica dos sindicatos é adquirida na forma da lei. São registrados perante o Ministério do Trabalho
para controle do princípio da unidade sindical.

Foi adotado o princípio da unicidade sindical, não podendo haver mais de um sindicato da mesma
categoria profissional em idêntica base territorial. Compete aos trabalhadores a definição da base
territorial, que não pode ser inferior ao território de um município.

O direito de greve é assegurado pela Constituição competindo à lei definir serviços ou atividades
essenciais e dispor sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. A lei 7783 de
28/07/89 disciplina a matéria.

C) Da nacionalidade:

A nacionalidade é um vínculo jurídico-político entre o indivíduo e o Estado. A nacionalidade


primária ou originária resulta do nascimento. É atribuída com base em dois critérios fundamentais: ius
soli e ius sanguinis. O primeiro confere a nacionalidade em função do lugar de nascimento, o segundo
considera a ascendência, os laços de família.

Na maioria das vezes temos a preponderância de um desses requisitos, fazendo-se, no entanto,


concessão ao outro. A nacionalidade originária brasileira é adquirida nos termos do artigo 12, inciso I
da Constituição. Prevalece o critério do ius soli no nosso Direito, mas existem hipóteses de adoção do
ius sanguinis.É possível afirmar que a nossa constituição consagrou um sistema misto de atribuição da
nacionalidade originária.

A nacionalidade secundária resulta de um ato de vontade, em regra, a naturalização. Os casos de


nacionalidade secundária brasileira estão previstos no artigo 12 inciso II da Constituição. A concessão
da naturalização é ato político, é ato discricionário. A única hipótese em que se reconhece a
naturalização como um direito subjetivo é a do art. 12, II, “b” da CF.

São brasileiros natos os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros.
No entanto, nem todos nascidos no Brasil são considerados brasileiros natos, porque se os pais forem
estrangeiros e aqui estiverem a serviço público dos seus países, os filhos não adquirirão a
nacionalidade originária brasileira. Existem duas hipóteses de atribuição de nacionalidade originária
brasileira pelo critério do jus sanguinis. A primeira está prevista no art. 12, I, “b” e exige que o pai
brasileiro ou a mãe brasileira esteja a serviço público da República Federativa do Brasil. Trata-se de
nacionalidade originária incondicionada. A segunda hipótese de aplicação do jus sanguinis está
prevista no art. 12, I, “c” da CF e não exige que o pai brasileiro ou a mãe brasileira esteja no
estrangeiro a serviço público do Brasil. No entanto, são estabelecidas duas condições, quais sejam, vir
a residir na República Federativa do Brasil e optar, a qualquer tempo, pela nacionalidade brasileira.
Com a Emenda Constitucional de Revisão nº3/94, deixou de existir a exigência de residência no Brasil
antes de atingir a maioridade e de opção no prazo de 4 anos após a maioridade. O artigo 12, I, “c”
contempla a atribuição condicionada da nacionalidade brasileira.

A lei não pode fazer distinção entre brasileiros natos e naturalizados. A única distinção é feita pela
própria Constituição Federal que reserva os seguintes cargos para os brasileiros natos: Presidente e
Vice-Presidente da República, Presidente da Câmara dos Deputados, Presidente do Senado Federal,
Ministro do Supremo Tribunal Federal, cargos da carreira diplomática, Oficial das Forças Armadas e

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Ministro da Defesa. Esses cargos estão situados na linha de substituição do Presidente da República ou
se relacionam com a defesa nacional.

A propriedade de empresas jornalísticas e de radiodifusão sonora e de sons e imagens é privativa de


brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos. Nos termos da Emenda Constitucional nº36, de
28 de maio de 2002, a propriedade das referidas empresas também pode pertencer a pessoas jurídicas
constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no país. Em qualquer caso, pelo menos setenta
por cento do capital total e do capital votante das empresas jornalísticas e de radiodifusão sonora e de
sons e imagens deverá pertencer, direta ou indiretamente, a brasileiros natos ou naturalizados há mais
de dez anos que exercerão obrigatoriamente a gestão das atividades e estabelecerão o conteúdo da
programação..

As hipóteses de perda da nacionalidade brasileira estão previstas no parágrafo 4 o do artigo 12 da


Constituição que ora apresenta a redação determinada pela Emenda Constitucional de Revisão n 3 de
7/06/94 com o seguinte teor: “ será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:

I- tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial,


em virtude de atividade nociva ao interesse nacional;
II- adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela
lei estrangeira;
b) de imposição de naturalização, pela norma
estrangeira, ao brasileiro residente em Estado
estrangeiro, como condição para permanência em
seu território ou para o exercício de direitos civis.

Deve-se ressaltar que a aquisição de outra nacionalidade não implicará a perda da nacionalidade
brasileira, nos casos de: 1) reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira. 2)
imposição de naturalização pela norma estrangeira ao brasileiro residente em Estado estrangeiro como
condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis.

D) Direitos Políticos:

O regime democrático está fundamentado na soberania popular. A capacidade eleitoral ativa é o


direito ao sufrágio. Doutrinariamente, sufrágio é o direito de votar, voto é o exercício do direito e
escrutínio é a forma de exercer o direito. O sufrágio pode ser universal ou restrito. Sufrágio universal é
concedido a todos. Sufrágio restrito é reservado aos que têm capacidade econômica (sufrágio
censitário) ou capacidade intelectual (sufrágio capacitário).

No nosso país, o sufrágio é universal e obrigatório, para os maiores de dezoito anos, sendo
facultativo para os analfabetos, os maiores de setenta anos, os maiores de dezesseis e menores de
dezoito anos. A aquisição do direito ao sufrágio pressupõe o alistamento eleitoral. São inalistáveis os
estrangeiros e os conscritos, durante o período do serviço militar obrigatório. A capacidade eleitoral
passiva é a possibilidade de ser eleito. Nos termos do artigo 14, parágrafo 3 da Constituição, são
condições de elegibilidade:

I – a nacionalidade brasileira;
II – o pleno exercício dos direitos políticos;
III – o alistamento eleitoral;
IV – o domicílio eleitoral na circunscrição;
V – a filiação partidária;
VI – a idade mínima de:

10
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador;
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-
Prefeito e juiz de paz;
d) dezoito anos para vereador.

Os inalistáveis e os analfabetos não possuem a capacidade eleitoral passiva. Existem situações de


inelegibilidade absoluta, afastando a capacidade eleitoral passiva, em qualquer situação. São os casos
dos inalistáveis e dos analfabetos. As inelegibilidades relativas são estabelecidas em função dos cargos
exercidos e das relações de parentesco.

A partir da Emenda Constitucional n16, de 04-06-97, foi admitida a reeleição do Presidente da


República, dos Governadores de Estado e do Distrito Federal e dos Prefeitos ou de quem os houver
sucedido ou substituído no curso dos mandatos.

A reeleição poderá ocorrer para um único período subseqüente. Os chefes de executivo não
precisarão afastar-se dos seus cargos para se candidatarem à reeleição. A Constituição estabelece casos
de inelegibilidade em razão do parentesco: são inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o
cônjuge e os parentes consangüíneos ou afins (ex: cunhada de Governador quando concorre a cargo
eletivo de Município situado no mesmo Estado), até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da
República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja
substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato
à reeleição. Outros casos de inelegibilidade são estabelecidos em Lei Complementar (Lei
Complementar n 64/90 e n 81/94). O Tribunal Superior Eleitoral entende que o cônjuge do Prefeito
somente poderá candidatar-se à chefia do executivo municipal para o período subseqüente, caso o
próprio titular ainda possa postular a reeleição.

A perda dos direitos políticos ocorre no caso de cancelamento da naturalização, por sentença
transitada em julgado. A suspensão dos direitos políticos ocorre nos casos de incapacidade civil
absoluta, condenação criminal com trânsito em julgado, enquanto durarem seus efeitos e improbidade
administrativa. A recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa é considerada,
por parte da doutrina, como hipótese de suspensão e, por outra parte, como hipótese de perda dos
direitos políticos.

A Constituição previu a liberdade de criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos,


resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos
fundamentais da pessoa humana e observados os preceitos de caráter nacional, proibição de
recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiro ou de subordinação a estes,
prestação de contas à Justiça Eleitoral e funcionamento parlamentar de acordo com a Lei. Os partidos
políticos são pessoas jurídicas de direito privado. Adquirem a personalidade jurídica, através do
registro no cartório civil. Necessitam de registrar-se perante o TSE para que possam funcionar
regularmente.

Em 08 de março de 2006, as Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal


promulgaram a EC nº 52, dando nova redação ao §1º do art. 17 da CF. A promulgação da referida
Emenda Constitucional relacionou-se com uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral, que determinou
a verticalização das coligações partidárias. Segundo o entendimento do TSE, as coligações locais não
poderiam contrariar as coligações realizadas no âmbito nacional pelo partido. A EC nº 52/06
consagrou a liberdade dos partidos políticos para realizarem as suas coligações, não se encontrando
obrigados a reproduzirem no âmbito local, a coligação realizada na esfera federal. O art. 2º da referida
Emenda determinou a sua aplicação às eleições realizadas no ano de 2002. Tal referência causou
perplexidade no meio jurídico, pois evidentemente não poderia haver aplicação de novas regras
eleitorais a uma eleição já passada. No entanto, ao que parece, a previsão dessa aplicação retroativa
teve o objetivo de contornar o princípio da anterioridade eleitoral, previsto no art. 16 da Constituição.
Tal dispositivo tem o seguinte teor:
11
“Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se
aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência.”

Dessa forma, segundo a Constituição, o princípio da anterioridade eleitoral significa que as


alterações na legislação eleitoral somente serão aplicáveis às eleições que se realizem após 1 ano da
data de vigência da respectiva lei.

O Supremo Tribunal Federal apreciou uma Ação Direita de Inconstitucionalidade contra a EC


nº 52/06. A Excelsa Corte decidiu, por maioria de votos, que as novas disposições introduzidas pela
referida Emenda não serão aplicáveis às eleições de 2006. Assim entendeu, levando em consideração o
princípio da anterioridade da legislação eleitoral, previsto no citado art. 16 da CF que, por se encontrar
incluído entre os direitos fundamentais, não poderia ser atingido por uma Emenda Constitucional.
Segue a transcrição do informativo do STF que noticiou a comentada decisão:

“O Tribunal, por maioria, julgou procedente pedido formulado em ação direta ajuizada pelo
Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil para declarar a inconstitucionalidade do art.
2º da Emenda Constitucional 52/2006, que alterou a redação do art. 17, § 1º, da CF, para inserir em
seu texto, no que se refere à disciplina relativa às coligações partidárias eleitorais, a regra da não-
obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou
municipal, e determinou a aplicação dos efeitos da referida Emenda “às eleições que ocorrerão no
ano de 2002”. Inicialmente, tendo em conta que a requerente demonstrara de forma suficiente como a
inovação impugnada teria infringido a CF, afastou-se a preliminar da Advocacia-Geral da União
quanto à ausência de fundamentação da pretensão exposta na inicial. Rejeitou-se, da mesma maneira,
a alegação de que a regra inscrita no art. 2º da EC teria por objeto as eleições realizadas no ano de
2002, uma vez que, se essa fosse a finalidade da norma, certamente dela constaria a forma verbal
pretérita. Também não se acolheu o argumento de que a aludida referência às eleições já consumadas
em 2002 serviria para contornar a imposição disposta no art. 16 da CF, visto que, se a alteração
tivesse valido nas eleições passadas, não haveria razão para se analisar a ocorrência do lapso de um
ano entre a data da vigência dessa inovação normativa e as próximas eleições (CF: “Art. 16. A lei
que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à
eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência.”).
Quanto ao mérito, afirmou-se, de início, que o princípio da anterioridade eleitoral, extraído
da norma inscrita no art. 16 da CF, consubstancia garantia individual do cidadão-eleitor — detentor
originário do poder exercido por seus representantes eleitos (CF, art. 1º, parágrafo único) — e
protege o processo eleitoral. Asseverou-se que esse princípio contém elementos que o caracterizam
como uma garantia fundamental oponível inclusive à atividade do legislador constituinte derivado
(CF, artigos 5º, § 2º, e 60, § 4º, IV), e que sua transgressão viola os direitos individuais da segurança
jurídica (CF, art. 5º, caput) e do devido processo legal (CF, art. 5º, LIV). Com base nisso, salientando-
se que a temática das coligações está ligada ao processo eleitoral e que a alteração a ela concernente
interfere na correlação das forças políticas e no equilíbrio das posições de partidos e candidatos e,
portanto, da própria competição, entendeu-se que a norma impugnada afronta o art. 60, § 4º, IV, c/c
art. 5º, LIV e § 2º, todos da CF. Por essa razão, deu-se interpretação conforme à Constituição, no
sentido de que o § 1º do art. 17 da CF, com a redação dada pela EC 52/2006, não se aplica às
eleições de 2006, remanescendo aplicável a estas a redação original do mesmo artigo. Vencidos,
nessa parte, os Ministros Marco Aurélio e Sepúlveda Pertence que julgavam o pedido improcedente,
sendo que o Min. Marco Aurélio entendeu prejudicada a ação, no que diz respeito à segunda parte do
art. 2º, da referida Emenda, quanto à expressão “aplicando-se às eleições que ocorrerão no ano de
2002”. ADI 3685/DF, rel. Min. Ellen Gracie, 22.3.2006. (ADI-3685)ADI 3685/DF, rel. Min. Ellen
Gracie, 22.3.2006. (ADI-3685)”

Portanto, para as eleições do ano de 2006, restou mantida a verticalização. Todavia, para as
eleições posteriores ao ano de 2006, será aplicável a alteração promovida pela EC nº 52/06, que
conferiu nova redação ao § 1º do art. 17:

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“Art. 17.

§ 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna, organização e
funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações eleitorais, sem
obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou
municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária.”

VIII. A ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA:

A organização do Estado pode adotar a forma unitária e federativa. A confederação de estados


correspondeu a uma forma de união entre Estados soberanos que não tem mais exemplos práticos na
atualidade.Significava a união de Estados soberanos por meio de um tratado internacional dissolúvel.
Portanto, possuía como característica o direito de secessão.

O Estado unitário caracteriza-se pela centralização político-administrativa. Segundo Canotilho,


significa que existe uma organização política e jurídica – o Estado – à qual se imputa em termos
exclusivos a totalidade das competências tipicamente estatais. O Estado Federal caracteriza-se pela
repartição do poder no espaço territorial, existindo entes, no seu interior, dotados de autonomia
política.

O federalismo surgiu com a Constituição norte-americana de1787. Pressupõe o convívio


harmonioso entre o ordenamento federal e os ordenamentos estaduais. Se houver o fortalecimento do
poder federal teremos o federalismo centrípeto. Havendo a prevalência do poder estadual, teremos o
federalismo centrífugo ou por segregação. Caracterizando-se o equilíbrio entre os poderes central e
locais, teremos o federalismo de cooperação.

A Constituição brasileira de 1891 adotou a Federação, acolhendo o princípio da indissolubilidade. A


forma federativa de Estado está prevista como cláusula pétrea na Constituição de 1988. No Brasil,
integram o Estado Federal a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios. Os territórios não
são entidades do Estado Federal vez que podem possuir tão-somente autonomia administrativa, sendo
caracterizados como autarquias territoriais vinculadas à União.

O Estado Federal é o todo, com personalidade jurídica de direito público internacional. A União é
pessoa jurídica de direito público interno, com autonomia em relação aos Estados-membros e aos
municípios, cabendo-lhe exercer as prerrogativas de soberania do Estado brasileiro. A União não é
soberana. A soberania é do Estado Federal.

A criação de Estados, bem como incorporações e fusões entre Estados está disciplinada no artigo 18,
p.3º da Constituição que estabelece os seguintes requisitos: aprovação da população diretamente
interessada através de plebiscito e edição de uma Lei Complementar. A Constituição também exige a
manifestação das Assembléias Legislativas envolvidas cujos pronunciamentos, no entanto, não terão
caráter vinculante. A criação de territórios também requer Lei Complementar e prévia aprovação da
população através de plebiscito.

A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de municípios devem atender aos seguintes


requisitos: existência de LC federal que estabeleça os períodos em que essas operações poderão
ocorrer, aprovação prévia das populações dos municípios envolvidos mediante plebiscito, não podendo
a consulta limitar-se à população da área a ser alcançada, existência de lei federal que estabeleça os
critérios para a apresentação e publicação dos estudos de viabilidade municipal e divulgação dos
referidos estudos.

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Existem vedações que a Constituição estabelece para todos os entes do Estado Federal conforme o
artigo 19 que tem o seguinte teor: “é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios”:

I- Estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los,


embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus
representantes relações de dependência ou aliança,
ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse
público;
II- Recusar fé aos documentos públicos;
III- Criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si.

A autonomia dos Estados-membros está caracterizada por três aspectos: capacidade de auto-
organização e normatização própria, autogoverno e auto-administração. A auto-organização
corresponde à existência das constituições estaduais representando o exercício do poder constituinte
decorrente. A normatização própria significa a existência de competências legislativas
constitucionalmente reservadas aos Estados. O auto-governo é a escolha dos titulares dos poderes
executivo e legislativo pelo próprio povo do Estado e a existência do Poder Judiciário Estadual. Os
Estados-membros possuem autonomia administrativa, instituindo e mantendo os seus próprios órgãos
administrativos.

O Distrito Federal é também ente federativo, acumulando as competências dos Estados-membros e


dos municípios. No entanto, a organização e manutenção do Poder Judiciário, do Ministério Público,
da Polícia Civil e Militar, do Corpo de Bombeiros Militar e da Defensoria Pública do Distrito Federal
competem à União.

A Federação brasileira, de maneira singular, inclui o município como ente federativo,


reconhecendo-lhe capacidade de auto-organização e normatização própria, autogoverno e auto-
administração.

Os Estados elaboram suas constituições no exercício do Poder Constituinte decorrente. Devem


obedecer aos princípios estabelecidos, sensíveis e extensíveis da Constituição Federal. Alguns
exemplos: os casos de iniciativa privativa do processo legislativo devem guardar simetria com o
modelo federal. Se um projeto de lei, no plano federal, é de iniciativa privativa do Presidente da
República, no plano estadual será de iniciativa privativa do Governador. A organização do Tribunal de
Contas Estadual deverá seguir o modelo federal. Por isso, as funções de membros do ministério
público perante o Tribunal de Contas não poderão ser exercidas por membros do ministério público
estadual comum. Três Conselheiros do Tribunal de Contas Estadual são escolhidos pelo Governador
do Estado, sendo um dentre os auditores, um dentre os membros do Ministério Público especial e um
de livre escolha. Quatro Conselheiros são escolhidos pelo Poder Legislativo.

Não se estende aos Governadores de Estado a imunidade temporária à persecução penal que protege
o Presidente da República. No entanto, a instauração de processo por crime comum contra o
Governador pode estar condicionada à licença da Assembléia Legislativa.

As constituições estaduais podem prever a expedição de medidas provisórias pelos Estados. É


possível também a edição de medida provisória municipal, se houver previsão na lei orgânica do
Município.

Os deputados estaduais gozam da imunidade formal e material, nos mesmos termos em que a
proteção é concedida aos parlamentares federais.

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A constituição federal determina o critério de fixação do número de deputados à Assembléia
Legislativa: deve-se observar o número de deputados federais estabelecido para o Estado, o qual será
multiplicado por três, até doze federais e daí em diante se acrescentará um estadual para cada deputado
federal.

O subsídio do Governado do Estado será fixado por lei de iniciativa da Assembléia Legislativa., o
mesmo acontecendo com o subsídio dos deputados estaduais.

A constituição federal elencou os bens da União no artigo 20 e os bens dos Estados no artigo 26. As
ilhas oceânicas e costeiras são bens da União, mas é possível que ali existam áreas de propriedade
estadual. A Emenda Constitucional nº46/2005 estabeleceu que não se incluem no domínio da União as
ilhas que contenham a sede de município, com exceção das áreas afetadas ao serviço público e
unidade ambiental federal.

A) Repartição de Competências Na Federação:

A repartição de competências entre as entidades federativas é o ponto básico do Estado Federal.


Existem dois modelos principais para distribuir as competências: o modelo clássico, inspirado na
Constituição americana de 1787 e o modelo moderno, desenvolvido a partir do constitucionalismo
posterior à Primeira Guerra Mundial. O primeiro modelo atribui à União os poderes enumerados e
reserva para os Estados-membros os poderes remanescentes. O segundo corresponde a composições
mais complexas em que, ao lado de competências exclusivas, prevêem-se áreas comuns.

A Constituição de 1988 estabeleceu campos específicos de competências administrativas e


legislativas, da seguinte forma: poderes enumerados para a União, poderes remanescentes para os
Estados-membros , poderes indicados para os municípios, atribuição ao Distrito Federal dos poderes
previstos para os Estados e municípios.

A Constituição previu a possibilidade de delegação aos Estados de pontos específicos da


competência legislativa privativa da União, realizada por Lei Complementar. Foram previstas
competências comuns e competências concorrentes.

As competências administrativas da União estão enumeradas no artigo 21 da Constituição Federal.


Os Estados-membros possuem competências remanescentes, cabendo-lhes todas as competências que
não forem da União e dos municípios. O artigo 30 prevê as competências dos municípios. A
competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios está prevista no
artigo 23 da Constituição Federal. A competência comum é uma classificação da competência
material.Os Estados possuem competência expressa na Constituição para explorarem o serviço local
de gás canalizado.

A competência legislativa foi distribuída da seguinte forma: competência privativa da União (art.
22, CF), competência remanescentes dos Estados-membros, competência concorrente da União, dos
Estados e do Distrito Federal (art. 24 CF).

Em relação à competência concorrente, a União editará as normas gerais. Os Estados exercerão a


competência suplementar. Se não houver Lei Federal de normas gerais, os Estados exercerão a
competência legislativa plena sobre a matéria.

Sobrevindo a Lei Federal sobre normas gerais, ficará suspensa a eficácia da Lei estadual no que lhe
for contraditório. Observamos que não se trata de revogação da lei estadual pela lei federal.

A competência exclusiva do município está prevista no art. 30 da CF. o município pode suplementar
a legislação federal e estadual no que couber.

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O Distrito Federal tem as competências reservadas aos Estados e municípios (art. 32 parágrafo 1 o da
CF).

Em matéria de competência tributária, a Constituição enumerou os impostos que podem ser


instituídos no âmbito de cada uma das pessoas políticas. A competência residual para a instituição de
impostos foi atribuída à União, que para exercê-la deverá editar Lei Complementar, somente podendo
instituir outros impostos que não tenham fato gerador e base de cálculo idênticos aos já previstos na
Constituição, e que também não sejam cumulativos. A competência comum, em matéria tributária,
abrange a instituição de taxas e de contribuição de melhoria. Os empréstimos compulsórios somente
podem ser instituídos pela União.

B) Intervenção:

A supressão temporária da autonomia de Estados e municípios é admitida em situações


excepcionais para a preservação da soberania e da integridade nacional, a manutenção da ordem
pública, a garantia do livre funcionamento dos poderes e a reorganização das finanças públicas. Os
casos de intervenção encontram-se taxativamente previstos na Constituição, não podendo ser
ampliados.

A União pode intervir nos Estados e nos municípios situados em territórios federais. Os Estados
podem intervir nos municípios. A intervenção é decretada pelo Poder Executivo. Existem casos em
que o Chefe do Executivo age de ofício e em outras hipóteses necessita de ser provocado.

A intervenção pode ser decretada de ofício para manter a integridade nacional, repelir invasão
estrangeira ou de uma unidade da federação em outra, por termo a grave comprometimento da ordem
pública e reorganizar as finanças públicas. Nos casos de garantir o livre exercício de qualquer dos
poderes nas unidades da federação, prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial e de
assegurar a observância dos princípios constitucionais sensíveis, o Chefe do Poder Executivo age
mediante provocação.

Existindo coação contra o Poder Executivo ou o Poder Legislativo dos Estados, o Presidente da
República poderá decretar a intervenção por solicitação do Poder coagido. Apreciará, no entanto,
discricionariamente a necessidade da intervenção. Se a coação for exercida contra o Poder Judiciário, é
imprescindível requisição do Supremo Tribunal Federal. Nas hipóteses de intervenção para assegurar a
execução de lei federal, ordem ou decisão judicial e a observância dos princípios constitucionais
sensíveis também é imprescindível a requisição do Poder Judiciário.

Tratando-se de ordem ou decisão do Superior Tribunal de Justiça ou do Tribunal Superior Eleitoral


a requisição deve partir desses Tribunais. Havendo desobediência a ordem ou decisão de outro órgão
judicante, a competência para a requisição é do Supremo Tribunal Federal.Entende a jurisprudência
que a competência para requisitar a intervenção em tal caso deve observar a matéria tratada.Em se
tratando de ordem ou decisão da Justiça do Trabalho ou da Justiça Militar, a competência será do STF,
tendo em vista que o TST e o STM não são competentes para requisitarem intervenção federal. Em se
tratando de ordem ou de decisão da Justiça comum, federal ou estadual, a competência será do STF, se
a matéria tratada for constitucional ou do STJ, se a matéria for infra-constitucional.

Em dois casos, é necessário o ajuizamento de ação cuja legitimidade é reservada exclusivamente ao


Procurador Geral da República. Trata-se da ação de execução de lei federal e da ação direta de
inconstitucionalidade interventiva. Ambas são de competência do Supremo Tribunal Federal,
conforme alteração efetuada pela EC nº 45/04. A primeira, é cabível quando o Estado nega
cumprimento à Lei Federal e a segunda se destina à observância dos princípios constitucionais

16
sensíveis. Julgadas procedentes as ações, a intervenção será requisitada ao Presidente da República
que agirá de modo vinculado.

Nos casos de observância dos princípios constitucionais sensíveis e de prover a execução de lei
federal, ordem ou decisão judicial, a intervenção não será decretada se a mera suspensão do ato for
suficiente.

A intervenção será formalizada por decreto, que nomeará o interventor e indicará o prazo e a
amplitude da intervenção. Exceto no caso de requisição do Poder Judiciário, o decreto será submetido
ao controle político do Congresso Nacional no prazo de vinte e quatro horas. Se for rejeitado, a
intervenção deverá cessar imediatamente sob pena de crime de responsabilidade do Presidente da
República. Nem sempre haverá necessidade de nomeação de interventor

Os Estados poderão intervir nos municípios e a União poderá intervir nos municípios localizados
em território federal para restabelecer a normalidade das finanças públicas nos casos de não
pagamento, sem motivo de força maior, da dívida fundada por dois anos consecutivos e de não
prestação de contas. Também enseja a intervenção a não aplicação do mínimo exigido da receita
municipal na manutenção e desenvolvimento do ensino. Nos referidos casos, o Chefe do Executivo
Estadual poderá agir de ofício.

Existe ainda a possibilidade de intervenção decorrente de requisição do Tribunal de Justiça para


assegurar a observância dos princípios sensíveis da Constituição Estadual após o reconhecimento da
procedência de representação oferecida pelo Procurador Geral de Justiça. O decreto do Governador do
Estado será submetido à apreciação da Assembléia Legislativa no prazo de vinte e quatro horas, exceto
quando resultante de requisição do Tribunal de Justiça.

A Constituição Estadual não poderá criar outras hipóteses de intervenção nos municípios, além das
que estão previstas na Constituição Federal.

IX. A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA:

Pode ser apreciada em dois aspectos: o orgânico, que corresponde às estruturas governamentais
instituídas para o desempenho da função administrativa e o material ou funcional, que significa a
atividade destinada a atender de modo concreto e imediato necessidades coletivas.

A Constituição de 1988 trouxe capítulo específico sobre a Administração Pública, que recebeu
modificações significativas com a Emenda Constitucional n19 e também com as Emendas 20, 41 e
47.

São princípios constitucionais da Administração Pública: legalidade, impessoalidade, moralidade,


publicidade e eficiência.

Existem normas constitucionais que devem ser observadas pela Administração pública direta,
indireta e fundacional, em todas as entidades federativas, sendo interessante destacar os seguintes
aspectos:

- Acessibilidade aos cargos, empregos e funções públicas a todos os brasileiros que preencham os
requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei. Não podem ser
estabelecidas exigências para o provimento dos cargos públicos que não resultem da lei.

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- Não são inconstitucionais exigências de idade máxima e altura mínima, quando se revelarem
necessárias ao exercício do cargo, observada a razoabilidade e proporcionalidade. O exame
psicotécnico pode ser exigido, se houver previsão legal e possibilitar apreciação objetiva.

- Exigência de prévia aprovação em concurso público para a investidura em cargo ou emprego


público: estende-se à Administração direta e indireta. Implicou a proibição de provimentos derivados
para carreiras diversas (afastou a ascensão funcional e a transferência). A EC nº 51/06 acrescentou os
§§ 4º, 5º e 6º ao art. 198 da CF, trazendo novas regras acerca da contratação de agentes comunitários
de saúde e agentes de combate às endemias. Conforme o novo texto constitucional, os gestores locais
do sistema único de saúde poderão admitir os referidos agentes através de processo seletivo público,
observando-se a natureza e complexidade de atribuições e os requisitos específicos de atuação.
Infelizmente, o legislador reformador não definiu o que seria esse processo seletivo público, de forma
que, para fins de concurso público, basta apenas se restringir à literalidade do dispositivo entendendo
como correta a alternativa que indique poder a contratação de agentes comunitários de saúde e agentes
de combate às endemias ser feita através de processo seletivo público. A EC nº 51/06 previu ainda que,
além das situações previstas no §1º do art. 41 e no §4º do art. 169, o servidor que exerça funções
equivalentes às de agente comunitário de saúde ou de agente de combate às endemias poderá perder o
cargo em caso de descumprimento dos requisitos específicos, fixados em lei, para o seu exercício.
De acordo com o novo § 5º do art. 198, lei federal regulamentará o regime jurídico e as atividades dos
mencionados agentes. Relativamente aos agentes comunitários de saúde e aos agentes de combate às
endemias contratados antes da promulgação da referida Emenda, na forma da lei, ficam dispensados
de se submeter ao processo seletivo público a que se refere o § 4º do art. 198 da Constituição Federal,
desde que tenham sido contratados a partir de anterior processo de Seleção Pública efetuado por
órgãos ou entes da administração direta ou indireta de Estado, Distrito Federal ou Município ou por
outras instituições com a efetiva supervisão e autorização da administração direta dos entes da
federação.

- Remuneração mediante subsídio do membro de Poder, detentor de mandato eletivo, Ministros de


Estado, Secretários Estaduais e municipais.

- Exigência de Lei para fixar e alterar a remuneração dos servidores públicos e o subsídio e proibição
de que excedam o subsídio mensal dos ministros do Supremo Tribunal Federal. A Emenda
Constitucional 41 alterou a redação do art.37, XI, da Constituição, estabelecendo que a fixação do
subsídio de Ministro do STF não mais necessita de projeto de lei de iniciativa conjunta, sendo apenas
do próprio STF a iniciativa do processo legislativo em tal caso. Foram instituídos pela referida emenda
subtetos no âmbito dos Estados e do Distrito Federal. Em relação ao Poder Executivo Estadual, o teto
é o subsídio do Governado: para o Poder Legislativo, o subsídio dos Deputados Estaduais: para o
Poder Judiciário e membros do MP, Procuradores do Estado e Defensores Públicos, prevalece o
subsídio dos Desembargadores do TJ, que não poderá superar 90,25% do subsídio de Ministro do STF.
A Emenda 47 permitiu que os Estados e o Distrito Federal, através de Emenda às respectivas
constituições e Lei Orgânica estabeleçam um teto único equivalente ao subsídio mensal dos
desembargadores do Tribunal de Justiça. Essa regra, no entanto, não alcançará os deputados estaduais.
O teto remuneratório deve abranger todas as vantagens percebidas pelos agentes públicos, exceto as de
caráter indenizatório.

- Possibilidade de ser adotado o contrato de gestão para ampliar a autonomia gerencial, orçamentária e
financeira dos órgãos e entidades da administração direta e indireta.

- Obrigatoriedade da licitação para a contratação de obras, serviços, compras e alienações. É possível a


lei estabelecer normas diferenciadas de licitação para as empresas públicas, sociedades de economia
mista e suas subsidiárias que explorem atividade de natureza econômica.

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- Exigência de lei específica para criar autarquia e autorizar a criação de empresa pública, de
sociedade de economia mista e de fundação, bem como de suas subsidiárias e também para que
possam participar de empresas privadas..

A) O Servidor Público:

CONCEITO: refere-se a todas as pessoas que mantêm relação de trabalho com a Administração
Pública, direta, autárquica e fundacional.

Os servidores Públicos constituem uma espécie de Agentes Públicos.

A Emenda Constitucional n 19 eliminou a exigência de regime jurídico único para a administração


direta, autárquica e fundacional.

Sabemos que a CF previu a existência de um REGIME JURÍDICO ÚNICO (RJU) para os


servidores da Administração Direta, das Autarquias e das Fundações Públicas – esse Regime Jurídico
Único é de natureza estatutária e no âmbito da União está previsto na Lei 8112/90.

As Leis que instituíram regimes jurídicos no âmbito da União (8.112/90), Estados e Municípios
continuam em vigor. Deixou, no entanto, de existir a exigência de regime único.

A Lei nº 9.962, de 22 de fevereiro de 2000 , disciplinou o regime de emprego público do pessoal da


Administração federal direta, autárquica e fundacional, no âmbito federal. Regulou a aplicação do
regime celetista aos servidores federais. No entanto, o referido regime apresenta peculiaridades,
aplicando-se a legislação trabalhista naquilo que a lei não dispuser em contrário. É imprescindível a
criação dos empregos públicos, por leis específicas. Os atuais cargos do regime estatutário poderão ser
transformados em empregos, também por leis específicas. Não poderão submeter-se ao regime
trabalhista os cargos de provimento em comissão, bem como os que forem servidores estatutários
anteriormente às leis que criarem os empregos públicos. A contratação dos servidores deverá ser
precedida de concurso público de provas ou de provas e títulos. A rescisão do contrato de trabalho por
tempo indeterminado não poderá ser realizada livremente pela Administração. Será imprescindível que
se caracterizem as hipóteses previstas no art. 3º da mencionada lei( falta grave, acumulação ilegal de
cargos, empregos ou funções públicas, necessidade de redução do quadro de pessoal, por excesso de
despesa e insuficiência de desempenho).O servidor celetista é ocupante de emprego público. Não
adquirirá estabilidade. No entanto, a sua dispensa terá de fundamentar-se em um dos motivos legais.

É necessário definir o que seja um regime estatutário.

- é definido por oposição ao regime contratual – os empregados em geral regidos pela CLT
possuem um regime contratual o que significa dizer que em princípio ajustam as condições de
trabalho e assim ajustadas não podem ser modificadas unilateralmente.

Regime Estatutário significa a inexistência de um acordo de vontades no que tange às condições de


prestação do serviço – A Administração não celebra contrato com o Servidor Estatutário – as
condições de prestação do serviço estão traçadas na Lei. O servidor ao tomar posse no cargo público,
coloca-se sob essas condições, não tendo, no entanto, o direito à persistência das mesmas condições de
trabalho existentes no momento em que ele tomou posse. Trata-se de um regime legal.

Consequentemente, pode a Lei alterar as condições de prestação do serviço. Não significa que
inexista a possibilidade de aquisição de direitos no Regime Estatutário.

19
O Funcionário adquirirá os direitos que decorrerem de um trabalho já realizado, que decorrerem de
situações previstas na Lei.

Não tem a possibilidade de se opor à modificação desses direitos para o futuro. Ex.: Adicional por
tempo de serviço: foram previstos os anuênios – no Regime Jurídico Único – no entanto, a partir da
vigência de uma Lei que modificou o sistema dos anuênios para o de qüinqüênio, não pode o servidor
se opor aos efeitos para o futuro – conservou o que já havia adquirido, mas, para o futuro terá que se
submeter às novas regras.

Não tem o servidor o direito à preservação das mesmas normas, das mesmas regras.

Pode a Administração Pública alterar unilateralmente, com base na Lei.

No caso do servidor público não existe contrato, existe um Estatuto ao qual se submete – que é o
Regime Jurídico Estatutário o qual se ajusta ao interesse público. As modificações são unilaterais
porque são ditadas pelo interesse público, daí porque preservam a sua supremacia.

Cada unidade federada tem seu Regime Jurídico – seus estatutos – que é uma decorrência da
autonomia dessas entidades.

Entretanto, existem normas constitucionais disciplinadoras do Funcionalismo Público.

É importante a exigência do Concurso Público, que não se limitou ao ingresso na Administração


Direta, mas também na Indireta, inclusive nas Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista.

A Constituição anterior referia-se ao primeiro provimento em cargo público, primeira investidura,


por isso se permitia a ascensão funcional, mesmo de outra carreira diferente. A CF eliminou a
expressão “primeira investidura”, com isso deu margem a que o Supremo Tribunal Federal entendesse
que a Ascensão Funcional e a Transferência restaram vedadas. Somente pode haver a Promoção, nos
diversos níveis de uma mesma carreira.

A Lei nº 9.527, de 10.12.97, derrogou a Lei nº 8112/90, excluindo a transferência e ascensão como
formas de provimento dos cargos públicos.

Estabilidade

É necessário distinguir efetividade e estabilidade.

Efetividade é uma característica do provimento do cargo, os cargos públicos podem ser providos em
caráter efetivo ou em comissão.

Efetivos: são aqueles cargos em que se exige aprovação em concurso público e pressupõem uma
situação de permanência.

Comissão: são os livremente nomeados, mas em caráter provisório. São de livre nomeação e
exoneração.

A efetividade refere-se ao cargo. É uma característica do provimento do cargo.

Estabilidade é a permanência do Servidor Público que satisfez o estágio probatório e exige avaliação
especial de desempenho por comissão constituída para essa finalidade. É por isso que se diz que
estabilidade se dá no Serviço Público e não no cargo – é o direito de permanência no Serviço
Público, mas não é o direito de permanência no mesmo cargo para o qual o Servidor foi nomeado.

20
É por isso que o Servidor Estável não pode se opor à extinção do cargo. Se este for extinto, ficará em
disponibilidade.

Nos termos da Emenda Constitucional n 19, a estabilidade será adquirida após três anos de
exercício.

O Ato das Disposições Constitucionais Transitórias concedeu estabilidade aos celetistas, desde que
tivessem pelo menos 5 anos de serviço anteriores a 1988.

A Lei n 8112 fez incluir no Regime Jurídico Único esses servidores que adquiriram estabilidade nos
termos do ADCT.

Disponibilidade: é um sistema correlato à estabilidade, extinto o cargo ou declarada a sua


desnecessidade.

- Extinção necessita de uma lei.


- Declaração de sua desnecessidade pode ser feita por um ato do Poder Executivo.

O Servidor Estável que ocupar o cargo extinto ou declarado desnecessário será colocado em
disponibilidade.

O Funcionário colocado em disponibilidade poderá ser aproveitado em um outro cargo de padrões


semelhantes, de vencimentos semelhantes.

O servidor estável poderá perder o cargo nas seguintes hipóteses:

1. Falta grave apurada em processo administrativo disciplinar;


2. Sentença judicial;
3. Insuficiência de desempenho;
4. Necessidade de adequação da despesa com pessoal.

Quais as diferenças entre estabilidade e vitaliciedade?

1. A vitaliciedade somente é aplicável a algumas categorias de agente públicos, quais


sejam, magistrados, membros do Ministério Público e dos Tribunais de Contas;
2. A vitaliciedade é adquirida pelos magistrados de primeira instância e membros do MP
após dois anos de exercício. A estabilidade requer três anos de exercício.
3. O vitalício somente perderá o cargo por sentença judicial transitada em julgado. O
estável também poderá perder o cargo por decisão administrativa.

A Emenda Constitucional n 19 previu que a disponibilidade será com vencimentos proporcionais ao


tempo de serviço.

Acumulação: Hoje a sua vedação é extensiva aos cargos e empregos nas Empresas Públicas.
Autarquias, Sociedade de Economia Mista e Fundações.

Exceções: Dois cargos de profissões regulamentadas na área de saúde (alterada pela EC n 34)
Dois cargos de Professor
01 de professor e outro de natureza técnico-científica.

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REGIME PREVIDENCIÁRIO DO SERVIDOR PÚBLICO

Os servidores públicos estatutários e ocupantes de cargos efetivos têm assegurado pela Constituição
regime previdenciário próprio. Os ocupantes de cargos em comissão, embora regidos pelos estatutos,
estarão sujeitos ao regime geral da previdência social.

O regime previdenciário é de caráter contributivo, sendo vedada a contagem de tempo fictício.

A contribuição alcançará também os aposentados e pensionistas, tendo o STF considerado


constitucional tal incidência.

A aposentadoria será concedida nas seguintes situações: por invalidez, compulsoriamente por idade
(70 anos) ou voluntariamente.

A aposentadoria por invalidez será com proventos integrais se resultar de acidente em serviço ou de
doença específica em lei. Será com proventos proporcionais ao tempo de contribuição quando decorrer
de outras causas.

A aposentadoria compulsória por idade (70 anos) será concedida com proventos proporcionais ao
tempo de contribuição.

A aposentadoria voluntária exige sempre o mínimo de dez anos de serviço público e de cinco anos
no cargo efetivo em que se dará a aposentadoria.

Será concedida com proventos proporcionais, quando o servidor preencher cumulativamente os


seguintes requisitos: 60 anos de idade e 35 anos de contribuição, para homens e 55 anos de idade e 30
anos de contribuição, para as mulheres.

Será concedida com proventos proporcionais ao tempo de contribuição ao homem com a idade de
65 anos e à mulher com a idade de 60 anos.

Os proventos de aposentadoria não são mais calculados com base na última remuneração do
servidor e sim de acordo com um critério legal, sendo atualizados monetariamente todos os salários de
contribuição considerados para o cálculo. O valor dos proventos não poderá superar o que o servidor
percebia em atividade.

As pensões também não correspondem ao total da remuneração ou dos proventos do servidor. São
calculados em duas parcelas: até o limite do valor dos benefícios do regime geral será considerado o
valor integral. Sobre o que ultrapassar tal limite será aplicado o percentual de 70%.

Está previsto um abono de permanência para os servidores que satisfizerem os requisitos para a
aposentadoria voluntária integral e continuarem em atividade, no valor equivalente ao da contribuição
previdenciária.

Poderá ser instituído o regime de previdência complementar por lei de iniciativa do respectivo
Poder Executivo, possibilitando que o valor dos benefícios no regime previdenciário do servidor
público também passe a observar o teto fixado para os benefícios do regime geral da Previdência
Social.

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X. PODERES DO ESTADO

Os Estados democráticos organizam-se com base na divisão e separação de poderes. É evidente que
não se pretende questionar a unidade do Poder do Estado, mas tão somente estabelecer a atribuição de
competências dos órgãos de soberania. Cada um dos poderes recebe uma função típica, que, no
entanto, não é a única a ser desempenhada. Existem funções típicas e atípicas no âmbito dos Poderes
do Estado.

A) PODER LEGISLATIVO

O Poder Legislativo tem a função primordial de legislar e fiscalizar. No âmbito da União, foi
adotado o bicameralismo, compondo-se, o Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal.

Cada legislatura terá a duração de 4 anos, tanto para o Senado como para a Câmara, não obstante o
mandato de 8 anos que têm os senadores. O período anual corresponde à sessão legislativa, que se
divide em 2 períodos legislativos. A EC nº 50/06 alterou os referidos períodos, fixando-os da seguinte
forma: 2 de fevereiro a 17 de julho e de 1º de agosto a 22 de dezembro. Nas ocasiões de posse de
seus membros (1º ano da legislatura) e de eleição das respectivas Mesas (nesse último caso, para um
mandato de 2 anos, vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição subseqüente), cada uma das
Casas do Congresso Nacional reunir-se-á em sessões preparatórias a partir de 01 de fevereiro.

Poderá haver a convocação extraordinária do Congresso Nacional, nos casos previstos no art. 57,
§6º da CF (alterado pela EC nº 50/06):
“§ 6º A convocação extraordinária do Congresso Nacional far-se-á:
I - pelo Presidente do Senado Federal, em caso de decretação de estado de defesa ou de
intervenção federal, de pedido de autorização para a decretação de estado de sítio e para o
compromisso e a posse do Presidente e do Vice-Presidente- Presidente da República;
II - pelo Presidente da República, pelos Presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado
Federal ou a requerimento da maioria dos membros de ambas as Casas, em caso de urgência ou
interesse público relevante, em todas as hipóteses deste inciso com a aprovação da maioria absoluta
de cada uma das Casas do Congresso Nacional.“

Na sessão legislativa extraordinária, o Congresso deliberará sobre a matéria objeto da convocação,


sendo automaticamente incluída na pauta a apreciação das medidas provisórias pendentes. Importante
observar que, a partir da EC nº 50/06, é terminantemente vedado o pagamento de parcela
indenizatória aos parlamentares, em razão da convocação extraordinária.

A Câmara dos Deputados constitui-se de representantes do Povo eleitos em cada Estado, no Distrito
Federal e nos Territórios pelo sistema proporcional.

O referido sistema possibilita a representação dos partidos proporcionalmente às votações obtidas


pelas respectivas legendas, ensejando que também sejam eleitos candidatos de partidos minoritários.

A Constituição no artigo 45, parágrafo 1 o estabelece que o número de Deputados será determinado
por Lei Complementar (Lei Complementar n 78, de 30.12.93), proporcionalmente à população de
cada Estado e do Distrito Federal, observado o mínimo de oito e o máximo de setenta Deputados.
Cada território (se for criado) elegerá quatro Deputados.

O Senado Federal compõe-se de representantes dos Estados e do Distrito Federal, eleitos segundo o
princípio majoritário. Cada Estado e o Distrito Federal elegerão três senadores com mandato de oito
anos. Os territórios não elegem senadores.

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As Casas do Congresso Nacional são dirigidas pelas respectivas Mesas. Existem as Mesas do
Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. A Mesa do Congresso será
composta pelo Presidente do Senado, 1 o Vice-Presidente da Câmara, 2o Vice-Presidente do Senado, 1o
Secretário da Câmara, 2o Secretário do Senado, 3o Secretário da Câmara e 4o Secretário do Senado.

Não há predominância de uma Casa sobre a outra. No entanto, os projetos de lei, de iniciativa do
Presidente da República, do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça e dos cidadãos
começam a tramitar pela Câmara dos Deputados.

A competência do Congresso está prevista nos artigos 48 e 49 da Constituição. Os casos de


competência exclusiva do Congresso Nacional (art. 49) serão tratados tão somente no âmbito do Poder
Legislativo, disciplinados por Decretos-Legislativos e não permitem delegação de competência.

A competência privativa da Câmara dos Deputados está prevista no art. 51 e a do Senado no art. 52.
Funcionam no Congresso as Comissões Parlamentares, que têm participação no processo
legislativo, exercem papel fiscalizador e outras atribuições. Podem ser permanentes, mantendo-se nas
diversas legislaturas ou temporárias, constituídas para apreciação de determinada matéria ou se
extinguindo com o término da legislatura. As Comissões Mistas são formadas de Deputados e
Senadores.

Podem ser constituídas Comissões Parlamentares de Inquérito, para a apuração de fato determinado
e por prazo certo, com poderes de investigação próprios das autoridades judiciárias, sendo as suas
conclusões encaminhadas ao Ministério Público para que promova a responsabilidade civil ou criminal
dos infratores. A constituição de Comissões Parlamentares de inquérito exige o apoio de 1/3 da
Câmara ou 1/3 do Senado. As referidas comissões não exercem a jurisdição, por isso, não podem
restringir direitos individuais quando as restrições estão sob reserva de jurisdição. Por exemplo, não
pode a CPI decretar prisão ( a não ser realizar a prisão em flagrante), determinar a interceptação das
comunicações telefônicas ou determinar a busca e apreensão domiciliar, sem ordem judicial. A
Jurisprudência do STF reconhece a possibilidade de a CPI quebrar o sigilo bancário, fiscal e
telefônico, independentemente de ordem judicial, através de decisão devidamente fundamentada. A
quebra do sigilo telefônico enseja o acesso aos dados sobre as ligações realizadas, mas não se
confunde com a interceptação telefônica, ou seja, a escuta da conversa.

Os Deputados e Senadores têm a imunidade parlamentar, que sofreu modificações com a EC n 35.
Foi preservada a imunidade material, também chamada de inviolabilidade pela qual os Deputados e
Senadores não respondem civil e penalmente por quaisquer das suas opiniões, palavras ou votos. Foi
sensivelmente modificada a imunidade formal que tornava imprescindível a licença da Casa respectiva
para processo criminal contra os parlamentares. A partir da vigência da referida Emenda, os processos
podem ser instaurados sem necessidade de licença, devendo o Supremo Tribunal Federal, foro
competente para o processo, comunicar o recebimento da denúncia à Casa respectiva que, tratando-se
de crime cometido após a diplomação, por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto
da maioria de seus membros poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação, caso em que
ficará suspensa a prescrição. Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, não poderão
ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável, hipótese na qual os autos serão remetidos dentro
de 24 horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão.
As imunidades dos Deputados e Senadores subsistirão durante o Estado de Sítio, só podendo ser
suspensas mediante o voto de 2/3 dos membros da Casa respectiva, nos casos de atos praticados fora
do recinto do Congresso Nacional que sejam incompatíveis com a execução da medida.
Os Deputados Estaduais podem ter imunidade material e formal, nos mesmos moldes previstos para
os parlamentares federais. Os vereadores terão apenas a inviolabilidade (imunidade material) pelas
opiniões, palavras e votos que emitirem no exercício do mandato, no âmbito do Município.

Os parlamentares têm, ainda, a prerrogativa de foro. Os Deputados Federais e Senadores são


processados e julgados perante o Supremo Tribunal Federal. A suprema corte cancelou uma súmula

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que entendia persistir a prerrogativa de foro, mesmo após o encerramento do exercício do cargo para
os fatos praticados durante o exercício. A Lei 10.628/2002 alterou o artigo 84 do Código de Processo
Penal, pretendendo restabelecer a súmula. No entanto, a referida lei foi considerada inconstitucional
pelo STF. Logo, a competência por prerrogativa não se mantém após a cessação do exercício.

PROCESSO LEGISLATIVO:

É o conjunto de atos realizados pelos órgãos legislativos visando à formação das leis
constitucionais, complementares e ordinárias, resoluções e decretos-legislativos (José Afonso da
Silva).

Segundo Alexandre de Moraes, dependendo da forma de organização política, podemos distinguir


quatro espécies de processo legislativo: o autocrático, o direto, o indireto ou representativo e o
semidireto.

Os regimes ditatoriais em que o próprio governante faz as leis caracterizam o processo autocrático.
A formação das leis em assembléias populares corresponde ao processo direto. A escolha de
representantes do povo que elaborarão as leis é o processo legislativo indireto. No processo legislativo
semidireto, as decisões do órgão representativo são submetidos ao referendo popular..

As fases do processo legislativo podem ser apresentadas da seguinte forma: iniciativa legislativa,
emendas, votação, sanção e veto, promulgação e publicação.

Iniciativa é a faculdade que se atribui a alguém ou a algum órgão para apresentar projetos de lei ao
Legislativo. Em regra, a iniciativa do processo legislativo é atribuída concorrentemente ao Presidente
da República, Deputados, Senadores e aos cidadãos. O Supremo Tribunal Federal tem a iniciativa da
Lei Complementar dispondo sobre o estatuto da magistratura, das leis de criação e extinção de cargos
e fixação de vencimentos de seus membros e de seus serviços auxiliares.

Os Tribunais Superiores têm a iniciativa das leis de alteração do número dos membros dos Tribunais
inferiores, de criação e extinção de cargos e fixação de vencimentos de seus membros, dos juízes,
inclusive dos Tribunais inferiores, onde houver, dos serviços auxiliares e os dos juízes que lhes forem
vinculados.

O Procurador Geral da República tem a iniciativa das leis de organização do Ministério Público da
União concorrentemente com o Presidente da República.

A iniciativa de Emendas à Constituição cabe concorrentemente a um terço dos membros do Senado,


ao Presidente da República e a mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da
federação.

As matérias previstas no art. 61, parágrafo 1 o da Constituição Federal somente podem ser tratadas
por leis de iniciativa privativa do Presidente da República.

A discussão e a votação dos projetos de Lei, de iniciativa do Presidente da República, do Supremo


Tribunal Federal, dos Tribunais Superiores e dos cidadãos terão início na Câmara dos Deputados.

A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei
subscrito, por no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco
Estados com não menos de três décimos por cento dos eleitores em cada um deles.

Emendas:

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Correspondem à atribuição que têm os parlamentares de poderem alterar os projetos que lhes são
submetidos. Não se admitem Emendas que aumentem despesas em projetos de lei de iniciativa
exclusiva do Presidente da República, nem nos projetos sobre organização dos serviços
administrativos da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, dos Tribunais Federais e do Ministério
Público.

Votação:

É a decisão sobre os projetos, no âmbito das Casas Legislativas. Exige-se a maioria dos membros
presentes (maioria simples), para a aprovação dos projetos de lei ordinária, maioria absoluta dos
membros das Casas Legislativas, para aprovação dos projetos de lei complementar e maioria de três
quintos dos membros das Casas do Congresso para aprovação de Emendas Constitucionais.

Sanção:

É a concordância do Presidente da República ao projeto de lei aprovado pelo Poder Legislativo.


Pode ser expressa, quando o Presidente emite o ato de sanção, no prazo de 15 dias úteis ou tácita,
quando o Presidente silencia no referido prazo.

Veto:

É a manifestação de discordância do Presidente da República com o projeto aprovado pelo


Legislativo. Fundamentando-se em inconstitucionalidade, teremos o chamado veto jurídico, enquanto
se o fundamento invocado for a contrariedade ao interesse público, teremos o chamado veto político.
O veto poderá ser derrubado pela maioria absoluta dos Deputados e Senadores em escrutínio secreto,
em reunião conjunta do Congresso Nacional.

Promulgação:

O projeto de lei torna-se lei com a sanção presidencial ou a derrubada do veto pelo Congresso
Nacional. A promulgação apenas constata a existência da lei. Existem autores, no entanto, entendendo
que a promulgação transforma o projeto em lei.Se houver rejeição do veto ou sanção tácita, a
promulgação, em princípio, deverá ser realizada pelo Presidente da República. No entanto, se este não
promulgar dentro de 48 horas, o Presidente do Senado promulgará a lei e se este não fizer em igual
prazo, caberá ao vice-presidente do Senado fazê-lo.

Publicação:

É condição para a lei entrar em vigor. É realizada pela inserção do texto promulgado no Diário
Oficial.

Espécies Normativas:

O artigo 59 da Constituição Federal menciona as espécies normativas primárias, ou seja, aquelas


que retiram seu fundamento de validade diretamente da Constituição Federal. O processo legislativo
compreende a elaboração de Emendas à Constituição, Leis Complementares, Leis Ordinárias, Leis
Delegadas, Medidas Provisórias, Decretos-Legislativos e Resoluções.

Emendas à Constituição – Correspondem ao exercício do Poder Constituinte Derivado. Estão


sujeitas a limites circunstanciais, materiais e formais. Os limites circunstanciais estão previstos no art.
60, parágrafo 1o (a Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de
estado de defesa ou de estado de sítio). Os limites materiais são as chamadas cláusulas pétreas,
previstas no artigo 60, parágrafo 4 o (não será objeto de deliberação a proposta de Emenda tendente a
abolir a forma federativa de Estado, o voto direto, secreto, universal e periódico, a separação dos

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poderes, os direitos e garantias individuais). O Supremo Tribunal Federal entendeu que o princípio da
anterioridade é garantia individual do contribuinte. Logo, os direitos e garantias individuais protegidos
como cláusula pétrea não são apenas os indicados no art. 5º da CF, pois existem outros ao longo do
texto constitucional. Os limites formais correspondem ao procedimento estabelecido para as propostas
de Emendas Constitucionais (iniciativa do Presidente da República, de um terço dos membros da
Câmara dos Deputados ou do Senado, de mais da metade das Assembléias Legislativas, necessidade
de aprovação em cada Casa do Congresso em dois turnos de votação, mediante “quorum” de três
quintos dos respectivos membros. A promulgação será realizada conjuntamente pelas Mesas do
Senado Federal e da Câmara dos Deputados).Não existem limites temporais para a reforma da
constituição no Brasil

É possível distinguir reforma e revisão constitucional, em razão do procedimento formal estabelecido


para a alteração da constituição. A revisão foi prevista no ADCT para ser realizada cinco anos após a
promulgação da constituição pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional em
sessão unicameral. No entanto, a revisão teve de observar as cláusulas pétreas.

Leis Complementares – são elaboradas para disciplinarem as matérias previstas na Constituição


Federal. Exigem o “quorum” de maioria absoluta dos membros das Casas Legislativas. Existe
entendimento de que podem ser alteradas por leis ordinárias, nos pontos em que tratam de matéria
estranha ao âmbito que lhes foi reservado pela Constituição. Segundo tal entendimento, acolhido pela
jurisprudência do STF, não existe propriamente hierarquia entre lei complementar e lei ordinária.

Medidas Provisórias – a Constituição previu a competência do Presidente da República para editá-las


em caso de relevância e urgência. O Supremo Tribunal Federal somente em situações excepcionais
tem admitido o controle jurisdicional da existência desses pressupostos. São submetidas à apreciação
do Congresso Nacional. A Emenda Constitucional n 32, de 11/09/2001, deu nova redação ao art. 62
da CF, estabelecendo novas regras constitucionais sobre a expedição de Medidas Provisórias. Ficou
estabelecido o controle em cada casa do Congresso Nacional acerca da presença dos pressupostos
constitucionais para a edição de MP mediante a emissão de um juízo prévio antes da apreciação do
mérito. Tal espécie normativa não poderá dispor sobre:
I - matéria relativa à nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e Direito Eleitoral;
II - Direito Penal, Processo Penal e Processual Civil;
III - organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros;
IV - planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e suplementares,
salvo a abertura de crédito extraordinário;
V - detenção ou sequestro de bens de poupança popular ou qualquer outro ativo financeiro;
VI – matéria reservada à Lei Complementar;
VII – matéria já disciplinada em projeto de lei, aprovado pelo Congresso Nacional e pendente de
sanção ou veto do Presidente da República.

É possível a edição de Medida Provisória para a instituição ou majoração de impostos. No


entanto, o Princípio da Anterioridade deverá ser observado, de modo que a criação ou elevação dos
impostos somente produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se a Medida Provisória houver
sido convertida em Lei até o último dia daquele exercício em que foi editada. As Medidas Provisórias
perderão eficácia desde a edição, se não forem convertidas em Lei, no prazo de 60 dias, o qual se
prorrogará uma única vez por igual período, caso a Medida não tenha sido votada nas duas Casas do
Congresso Nacional, dentro do prazo inicial da sua vigência. Se não houver a conversão em Lei, deve
o Congresso Nacional editar Decreto-Legislativo disciplinando as relações jurídicas decorrentes da
Medida Provisória. No entanto, não editado o Decreto-Legislativo até 60 dias após a rejeição ou perda
de eficácia da Medida Provisória, as relações jurídicas constituídas e decorrentes de atos praticados
durante sua vigência conservar-se-ão por ela regidas. Logo, a perda de eficácia da MP rejeitada ou não
aprovada no prazo constitucional, em princípio, ocorrerá ex tunc, mas poderá produzir-se ex nunc se o
Congresso Nacional não regular as relações jurídicas dela decorrentes, mediante Decreto- Legislativo.
A não apreciação da MP em até 45 dias contados de sua publicação ensejará a aplicação do regime de

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urgência subseqüentemente em cada uma das casas do Congresso Nacional, ficando sobrestadas, até
que se ultime a votação, todas as demais deliberações legislativas da Casa em que estiver tramitando.
A Constituição também prevê o prévio exame da MP por uma comissão mista de Deputados e
Senadores antes da apreciação pelo plenário de cada uma das casas do Congresso Nacional em sessão
separada.

Leis Delegadas – são elaboradas pelo Presidente da República, mediante delegação do


Congresso Nacional que especificará seu conteúdo e os termos de seu exercício. A delegação será
expressa em uma Resolução do Congresso Nacional. Não serão objeto de delegação os atos de
competência exclusiva do Congresso Nacional, os de competência privativa da Câmara dos Deputados
ou do Senado Federal, a matéria reservada à Lei Complementar, nem a legislação sobre a organização
do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros, a nacionalidade,
cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais, planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e
orçamentos.

Decretos-legislativos – destinam-se a regular as matérias de competência exclusiva do Congresso


Nacional. Os tratados e atos internacionais têm a sua aprovação formalizada pelo Congresso, mediante
decreto-legislativo. No entanto, para que sejam executados internamente, os tratados necessitam de um
decreto do Presidente da República que determine tal execução.

Resoluções – destinam-se a disciplinar matérias de competência do Congresso Nacional e de cada


uma das suas casas em regra, com efeitos internos. Algumas vezes produzem efeitos externos, como é
o caso da resolução que delega competência legislativa ao Presidente da República.

B) PODER EXECUTIVO

O poder executivo corresponde a duas funções básicas: governar e administrar. Governo


corresponde à atividade política e administração à atividade técnica. A chefia do Poder
Executivo abrange dois aspectos: a chefia de estado, que significa a representação
internacional do país e a chefia de governo que é a representação interna, no âmbito político e
administrativo. No sistema presidencialista, as duas funções estão reunidas no presidente da
República. No sistema parlamentarista, a função de chefe de Estado é exercida pelo Presidente
ou Monarca, e a de chefe de governo, pelo Primeiro Ministro.

A Constituição de 1988 previu a eleição do Presidente e do Vice-Presidente da República, em dois


turnos, sendo eleito, no primeiro turno, o candidato que obtiver a maioria absoluta dos votos,
não computados os em branco e os nulos.

A eleição do Presidente da República implica, automaticamente, a do Vice-Presidente com ele


registrado. Compete ao Vice-Presidente substituir o Presidente, nos casos de impedimento (licença,
doença, férias) e suceder-lhe, no caso de vaga. Ocorrendo impedimento do Presidente e do Vice-
Presidente ou vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente chamados ao exercício da
Presidência o Presidente da Câmara dos Deputados, o do Senado Federal e o do Supremo Tribunal
Federal. Somente o Vice-presidente pode suceder o Presidente. Ocorrendo a vacância dos cargos de
Presidente e de Vice-Presidente, na primeira metade do mandato presidencial serão realizadas eleições
diretas, no prazo de 90 dias, após a abertura da última vaga. Se a vacância ocorrer na segunda metade
do mandato presidencial serão realizada eleições indiretas pelo Congresso Nacional, 30 dias após
aberta a última vaga. Os eleitos completarão o mandato.

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Os Ministros de Estado, no Brasil, são meros auxiliares do Presidente, que pode, livremente,
nomeá-los e demiti-los. Entre as atribuições dos Ministros de Estado encontra-se a de
referendar os atos praticados pelo Presidente da República, sendo predominante o
entendimento de que o referendo é requisito de validade dos atos.

O Presidente da República poderá cometer crimes de responsabilidade e crimes comuns. Em ambos


os casos, somente poderá ser processado, após o juízo de admissibilidade da Câmara dos
Deputados, autorizando o processo com o voto de dois terços de seus membros. Não poderá
ser preso por infrações penais comuns enquanto não houver sentença condenatória. O
Presidente da República , na vigência do mandato, não poderá ser processado civil e
criminalmente, por atos estranhos ao exercício de suas funções, prerrogativa que não pode ser
estendida aos governadores de Estado.

Os crimes de responsabilidade do Presidente da República são infrações político-administrativas,


definidas na legislação federal, cometidas no desempenho da função, que atentam contra a
existência da União, o livre exercício dos poderes do Estado, a segurança interna do país, a
probidade da administração, a lei orçamentária, o exercício dos direitos políticos, individuais e
sociais, o cumprimento das leis e das decisões judiciais. A lei nº 1079/50 regula os crimes de
responsabilidade do Presidente da República, de Ministros do Estado, dos Ministros do
Supremo Tribunal Federal, do Procurador Geral da República e outros.

Tratando-se de crimes comuns, o processo, após a autorização da Câmara, será instaurado perante o
Supremo Tribunal Federal, com o recebimento da denúncia ou queixa-crime, ficando o
Presidente suspenso imediatamente de suas funções. Nos casos de crime de responsabilidade,
recebida a autorização da Câmara, o Senado prosseguirá com o processo e realizará o
julgamento sob a presidência do Presidente do Supremo Tribunal Federal. Instaurado o
processo no Senado, o Presidente também ficará suspenso das suas funções. Em ambos os
casos, a suspensão das funções perdurará por 180 dias após o que se o julgamento não tiver
sido realizado, o Presidente retomará o exercício das suas funções. O julgamento
condenatório por crime de responsabilidade exige dois terços dos votos do Senado, limitando-
se a decisão à perda do cargo, com inabilitação por oito anos para o exercício de função
pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis. Apenas o cidadão está legitimado
a oferecer a acusação por crime de responsabilidade à Câmara dos Deputados A renúncia do
Presidente, após a instauração do processo, não impede a sua continuidade, vez que ainda é
cabível a aplicação da pena de inabilitação para o exercício de cargo ou função pública por
oito anos.
As contas do Presidente da República serão inicialmente apreciadas pelo Tribunal de Contas da
União que emitirá um parecer sem caráter vinculante. O julgamento das contas é ato de competência
exclusiva do Congresso Nacional. No âmbito do congresso caberá a uma comissão mista examinar e
emitir parecer sobre as referidas contas. Se o Presidente, após 60 dias do início da sessão legislativa,
não houver prestado as suas contas, caberá à Câmara dos Deputados proceder à tomada de contas, mas
o julgamento será realizado sempre pelo Congresso Nacional.

C) PODER JUDICIÁRIO

A Constituição brasileira adota o princípio da plenitude da tutela jurisdicional, não podendo


nenhuma lesão ou ameaça a direito ser subtraída do controle do Poder Judiciário. A única exceção é a
das ações relativas à disciplina e às competições esportivas, que somente serão admitidas , após
esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, reguladas em lei. A justiça desportiva terá o prazo
máximo de sessenta dias, contados da instauração do processo para proferir decisão final.

29
A função típica do Poder Judiciário é resolver em definitivo os conflitos de interesses. Exerce,
ainda, funções administrativas, organizando e mantendo seus serviços auxiliares e tem a iniciativa das
leis de sua organização, criação de cargos e fixação de vencimentos.

A Constituição assegura ao Poder Judiciário garantias institucionais e garantias de seus membros.


As garantias institucionais correspondem à autonomia funcional, administrativa e financeira. As
garantias da magistratura são os clássicos predicamentos de vitaliciedade, inamovibilidade e
irredutibilidade de vencimentos.

A autonomia administrativa e financeira está assegurada no art. 96 da Constituição, que prevê a


competência dos Tribunais para eleger os seus órgãos diretivos, organizar suas secretarias e serviços
auxiliares, prover os cargos de juiz entre outras competências.

A vitaliciedade é adquirida na primeira instância, após dois anos de exercício e nos Tribunais, a
partir da posse. Somente por decisão judicial poderá o juiz perder o cargo.

A inamovibilidade é a permanência do juiz no cargo para o qual foi nomeado, podendo ser
removido por interesse público em decisão tomado pelo voto da maioria absoluta do Tribunal a que
estiver vinculado ou do Conselho Nacional de Justiça (EC nº 45/04).

Irredutibilidade de vencimentos é entendida pelo Supremo Tribunal Federal no sentido nominal, ou


seja, a remuneração não pode ter o seu valor nominal reduzido, mas não existe direito à atualização
monetária, irredutibilidade real.

A Constituição estabelece as seguintes vedações aos juizes no artigo 95, p. único:

I – exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério;

II – receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo;

III – dedicar-se à atividade político-partidária.

IV – receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades


públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em Lei. (EC nº 45/04)

V – exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do
afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração. (EC nº 45/04)

Em regra, as vedações estabelecidas para a magistratura coincidem com as que são fixadas para
os membros do MP, no entanto, podemos observar algumas diferenças, como por exemplo: o exercício
da advocacia e de atividade comercial é vedação expressa para os membros do MP e implícita para os
magistrados. Em relação ao exercício de atividade político-partidária, conforme alteração promovida
pela EC nº 45/04 que já era absoluta para os magistrados passou a ter o mesmo caráter para os
membros do MP.

30
E s t r u t u r a d o P o d e r J u d i c i á r io

STF CN J
C o n s e lh o N a c i o n a l d e J u s t iç a

- STJ TSE STM TST

C o l é g i o s R e c u r s a is T J 'S T R F 'S T R E 'S - T R T 'S

J u i z a d o s E s p e c i a is J u í z e s d e D ir e ito J u í z e s F e d e r a is J u n t a s e J u í z e s E l e i t o r a is A u d it o r ia s M ilit a r e s J u í z e s d o T r a b a lh o

Supremo Tribunal Federal – tem a função precípua de apreciar questões constitucionais. Não é
uma Corte, exclusivamente, constitucional, haja vista que possui outras competências, como por
exemplo, processar e julgar determinadas autoridades originariamente. Os seus membros são
magistrados vitalícios, que vão apreciar as questões constitucionais com o critério técnico-jurídico,
exercendo o controle de constitucionalidade não apenas através das ações diretas, mas também nos
casos concretos, como por exemplo, mediante o recurso extraordinário.

O STF se compõe de 11 ministros, nomeados pelo Presidente da República após a aprovação da


maioria absoluta do Senado dentre brasileiros natos de notório saber jurídico e reputação ilibada com
mais de 35 e menos de 65 anos de idade.

A competência do STF está prevista no art. 102 da Constituição. Entre as hipóteses de Competência
Originária podemos destacar: todas as ações de controle concentrado de constitucionalidade em face
da Constituição Federal, o litígio entre Estado estrangeiro ou Organismo Internacional e a União, o
Estado, O DF ou Território (é importante lembrar que se a causa envolver de um lado o estado
Estrangeiro ou Organismo Internacional e do outro lado Município ou pessoa domiciliada ou residente
no Brasil, a competência será da Justiça Federal de 1ª instância com recurso ordinário para o STJ), as
causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o DF, ou entre uns e outros, inclusive as
respectivas entidades da Administração Indireta ( a Jurisprudência do Supremo entende que em tal
caso só haverá competência originária daquela corte se houver uma questão de repercussão federal
para ser decidida). As ações em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente
interessados e aquela em que mais da metade dos membros do Tribunal de origem estejam impedidos
ou sejam direta ou indiretamente interessados. Conforme a EC nº 45/04 não mais compete ao Supremo
a homologação das sentenças estrangeiras nem a concessão do exequatur às cartas rogatórias, vez que
tais competências foram transferidas para o STJ.

A Constituição prevê a possibilidade de reclamação ao Supremo para a preservação da sua


competência e a garantia da autoridade das suas decisões. Recentemente, o Supremo reviu a sua
Jurisprudência e passou a admitir que as Constituições Estaduais também estabeleçam a possibilidade
de reclamação para preservar a competência e a autoridade das decisões dos Tribunais de Justiça.

O STF apreciará originariamente Habeas Corpus quando o coator ou paciente for pessoa que esteja
diretamente submetida a sua Jurisdição, no entanto, se o coator for Ministro de Estado ou Comandante
da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, a competência para julgar o HC será originariamente do
STJ devendo-se registrar que os habeas-corpus contra atos de Tribunais serão de competência
originária do STF quando o coator for Tribunal Superior. A Jurisprudência entende que o habeas
corpus contra decisões das Turmas recursais dos juizados especiais é de competência originária do
STF. O HC contra decisões de tribunais de segundo grau é de competência originária do STJ.

O Mandado de Segurança e o Habeas Data serão de competência originária do STF quando


impetrados contra atos do presidente da República, das Mesas da câmara dos Deputados e do Senado
31
Federal, do TCU, do PGR e do próprio STF. O Mandado de Segurança contra ato de Ministro de
Estado ou do Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica será de competência originária
do STJ. O Mandado de Injunção será de competência originária do STF quando a elaboração da norma
regulamentadora for atribuição do Presidente da República, do Congresso Nacional, da Câmara dos
Deputados, do Senado Federal, das mesas de uma dessas casas legislativas, do TCU, de um dos
tribunais superiores ou do próprio STF.

O STF processará e julgará originariamente o Presidente da República, o Vice-Presidente, os


membros do Congresso Nacional, os próprios Ministros do STF e o Procurador Geral da República
apenas nos crimes comuns, vez que a competência para processá-los e julga-los nos crimes de
responsabilidade é do Senado Federal. Processará e julgará também, nos crimes comuns e de
responsabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica,
os membros dos tribunais superiores, os do Tribunal de Contas da União e os Chefes de Missão
diplomática de caráter permanente. Deve-se ressaltar que os Ministros de Estado e os Comandantes da
Marinha, do Exército e da Aeronáutica, nos crimes de responsabilidade conexos com os do Presidente
da República também serão processados e julgados perante o Senado.

O conflito de competência será dirimido pelo STF quando envolver Tribunal Superior. Caso o
conflito ocorra entre outros tribunais ou entre juizes vinculados a tribunais diversos a competência
originária para solucioná-los será do STJ.

Nos termos da EC nº 45/04, são de competência originária do STF, as ações contra o Conselho
Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do Ministério Público.

A competência recursal do STF abrange o recurso extraordinário quando a questão envolver matéria
constitucional devidamente preqüestionada, sendo também cabível contra as decisões das turmas
recursais dos juizados especiais, vez que a CF não estabeleceu que tal recurso somente caberia contra
decisões de tribunais. A EC nº 45/04, ao acrescentar o §3º ao art. 102 da CF, estabeleceu que: “no
recurso extraordinário, o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das questões
constitucionais discutidas no caso, nos termos da Lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do
recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de 2/3 dos seus membros”.

A partir da vigência da EC nº 45/04, passou também a ser hipótese de recurso extraordinário, a


decisão que julgar válida lei local contestada em face da lei federal. Anteriormente, tratava-se de
hipótese de recurso especial. Manteve-se, no entanto, a competência do STJ no que se refere a ato do
governo local contestado em face da lei federal.

No que diz respeito, ainda à competência recursal do STF, está previsto o recurso ordinário em duas
hipóteses: habeas corpus, mandado de segurança, habeas data e o mandado de injunção decididos em
única instância pelos tribunais superiores se denegatória a decisão e o crime político, que é julgado em
primeira instância pelo Juiz Federal.

A EC nº 45/04 acrescentou o art. 103, a, estabelecendo que o STF poderá, de ofício ou por
provocação, mediante decisão de 2/3 dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria
constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito
vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e a Administração Pública Direta e
Indireta, nas esferas Federal, Estadual e Municipal, bem como proceder à revisão ou cancelamento da
súmula, na forma estabelecida em Lei. Trata-se da Súmula Vinculante. Deve-se esclarecer que
somente o STF poderá instituir súmula vinculante. As atuais súmulas do STF somente terão efeito
vinculante se forem confirmadas por 2/3 dos integrantes daquela Corte e após publicação na imprensa
oficial. A súmula vinculante terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas
determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a
Administração Pública, que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos
sobre questão idêntica. Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em Lei, a aprovação, revisão ou

32
cancelamento de súmula poderá ser provocada por aqueles que podem propor a Ação Direta de
Inconstitucionalidade. Se o ato administrativo ou a decisão judicial contrariar a súmula ou aplicá-la
indevidamente será cabível reclamação ao STF, que poderá anular o ato ou cassar a decisão judicial
reclamada.

Superior Tribunal de Justiça – é constituído, no mínimo, de 33 ministros nomeados pelo


presidente da República após a aprovação pelo Senado Federal por maioria absoluta (EC nº 45/04),
sendo prevista pela CF a seguinte origem: 1/3 entre desembargadores dos Tribunais de Justiça, 1/3
entre juizes dos Tribunais Regionais Federais, 1/3 entre membros do Ministério Público Federal, dos
Estados e do DF e territórios e advogados. Observa-se, portanto, que não é correto falar em existência
de quinto constitucional no STJ, vez que a escolha de membros oriundos do MP e da Advocacia está
prevista na proporção de 1/3.

A competência que caracteriza a função peculiar do STJ é a de julgar em recurso especial as causas
decididas em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios quando a decisão recorrida contrariar tratado ou lei
federal ou negar-lhe vigência, julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal, der
a lei interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro Tribunal. Não cabe recurso especial para
o STJ contra decisões das turmas recursais dos juizados especiais, vez que a CF admite tal recurso,
apenas contra decisões de tribunais. Outras competências são atribuídas ao STJ pelo art. 105 da
Constituição. Podemos destacar a competência para processar e julgar os governadores de estado nos
crimes comuns. Ressalte-se que nos crimes de responsabilidade os governadores são processados e
julgados por tribunais especiais constituídos por deputados estaduais e membros dos tribunais de
justiça ou pelas Assembléias Legislativas. Nos crimes comuns e de responsabilidade, o STJ processa e
julga os desembargadores dos Tribunais de Justiça, os juízes dos Tribunais Regionais Federais e dos
Tribunais Regionais do Trabalho, os membros dos Tribunais de contas Estaduais e Municipais e os
membros do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais. Os membros do MPU que
oficiem perante a primeira instância serão processados e julgados pelos Tribunais Regionais Federais.

Deve-se lembrar que a EC nº 45/04 conferiu ao STJ a competência para a homologação de


sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas rogatórias.

A Justiça Federal, em primeira instância, é constituída pelos juizes federais e na segunda


instância, pelos Tribunais Regionais Federais. Tem a sua competência estabelecida no art.107 da
Constituição. Trata-se de competência constitucional não podendo ser modificada por lei ordinária.
Em regra, tal competência é fixada em razão da pessoa ( União, autarquia federal, empresa pública
federal, na condição de autoras, rés, assistentes ou opoentes, Estado estrangeiro ou organismo
internacional e município ou pessoa domiciliada ou residente no país ). Ressalte-se que as questões
que envolvem Sociedades de economia Mista são de competência da Justiça Estadual.
A Justiça Federal não terá competência para questões de falência e concordata, nem de acidentes de
trabalho. As questões que envolvam relação de trabalho são de competência da Justiça do Trabalho.

Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar as ações oriundas da relação de trabalho,


abrangidos os entes de direito público externo e da Administração Pública Direta e Indireta da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. A EC nº 45/04 utilizou uma expressão ampla para
indicar a competência da Justiça do Trabalho, que não mais está limitada às questões estritamente
decorrentes do contrato de trabalho celetista. Também a referida Emenda atribui à Justiça Trabalhista a
competência para as ações que envolvam exercício do direito de greve e sobre representação sindical
entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores e entre sindicatos e empregadores. Ficou prevista
também a competência da Justiça do Trabalho para os Mandados de Segurança, Habeas Corpus e
Habeas Data quando o ato questionado envolver matéria sujeita à jurisdição trabalhista. É ainda
competente para as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de
trabalho, bem como para as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores
pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho. Caberá ainda a Justiça Laboral promover de

33
ofício a execução das contribuições sociais incidentes sobre os valores reconhecidos nas sentenças que
proferir. Poderá, ainda, a Lei atribuir à Justiça do Trabalho a resolução de outras controvérsias
decorrentes da relação de trabalho.

São órgãos da Justiça do Trabalho, o Tribunal Superior do Trabalho, os Tribunais Regionais do


Trabalho e os Juízes do Trabalho. A EC nº 45/04 ampliou o número de Ministros do TST, que passa a
ser de 27, sendo 1/5 dentre advogados com mais de 10 anos de efetiva atividade profissional e
membros do Ministério Público do Trabalho com mais de 10 anos de efetivo exercício e os demais
dentre os juízes dos Tribunais Regionais de Trabalho oriundos da magistratura da carreira. A Emenda
Constitucional em comento eliminou ainda a exigência de existir obrigatoriamente em cada Estado um
Tribunal Regional do Trabalho.

A Justiça Militar é competente para processar e julgar os crimes militares definidos em lei. O art.9
do Código Penal Militar prevê as situações que caracterizam crime militar.

A Constituição oferece um esquema básico da Justiça Eleitoral, prevendo o Tribunal Superior


Eleitoral, os Tribunais Regionais Eleitorais, os juízes eleitorais e as juntas eleitorais.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA – CNJ

A EC nº 45/04 instituiu o Conselho Nacional de Justiça incluindo-o entre os órgãos do Poder


Judiciário. O art. 103, b, estabelece que o referido Conselho compõe-se de 15 membros com mais de
35 e menos de 66 anos de idade, com mandato de 2 anos, admitida uma recondução.

A sua composição é a seguinte:

I. um Ministro do Supremo Tribunal Federal, indicado pelo respectivo tribunal;

II. um Ministro do Superior Tribunal de Justiça, indicado pelo respectivo tribunal;

III. um Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, indicado pelo respectivo tribunal;

IV. um desembargador de Tribunal de Justiça, indicado pelo Supremo Tribunal Federal;

V. um juiz estadual, indicado pelo Supremo Tribunal Federal;

VI. um juiz de Tribunal Regional Federal, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça;

VII. um juiz federal, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça;

VIII. um juiz de Tribunal Regional do Trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho;

IX. um juiz do trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho;

X. um membro do Ministério Público da União, indicado pelo Procurador-Geral da República;

XI. um membro do Ministério Público estadual, escolhido pelo Procurador-Geral da República dentre
os nomes indicados pelo órgão competente de cada instituição estadual;

XII. dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;

XIII. dois cidadãos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, indicados um pela Câmara dos
Deputados e outro pelo Senado Federal.

34
O Conselho será presidido pelo Ministro do Supremo Tribunal Federal, que votará em caso de
empate, ficando excluído da distribuição de processos naquele tribunal.

Os membros do Conselho serão nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a


escolha pela maioria absoluta do Senado Federal.

Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do


cumprimento dos deveres funcionais dos juízes. Não poderá determinar a perda do cargo do
magistrado vitalício, mas poderá aplicar outras sanções, entre as quais a remoção, a disponibilidade ou
a aposentadoria com subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço.

XV. FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA

A Constituição previu as seguintes funções como essenciais a Justiça: o Ministério Público, a


Advocacia Pública, Defensoria Pública e a Advocacia.

- O MINISTÉRIO PÚBLICO

O Ministério Público na Constituição de 1967 estava incluído no âmbito do Poder Judiciário. A


atual Constituição não previu expressamente o posicionamento do MP em nenhum dos poderes do
Estado, tratando-o como instituição essencial à Justiça.

A destinação do MP está prevista constitucionalmente para realizar a defesa da ordem jurídica, do


regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. No regime constitucional
anterior, o MP poderia exercer atividades de representação judicial de Pessoas Jurídicas de Direito
Público. A representação da União em juízo era realizada pelos Procuradores da República. No
entanto, a constituição de 1988 proibiu que se atribua ao MP funções de representação ou de
consultoria de pessoas estatais. A Constituição também vedou que o exercício das funções do MP seja
desempenhado por pessoas estranhas à instituição.

O Ministério Público tem assegurada constitucionalmente autonomia funcional e administrativa,


possuindo a iniciativa de leis destinadas à criação e extinção de seus cargos e organização dos seus
serviços auxiliares, cabendo-lhe realizar os respectivos concursos públicos para o provimento dos
cargos.

O MP tem como princípios institucionais a Unidade, a Indivisibilidade e a Independência funcional.


A Unidade significa que cada ramo do MP está sob uma única direção atuando como um todo; a
indivisibilidade significa que não se aplica o princípio da identidade física ao promotor, podendo os
membros da Instituição se substituírem. Não são, no entanto, admissíveis substituições arbitrárias, pois
se entende que existe o Princípio do Promotor Natural, ou seja, aquele que está legalmente investido
de atribuições para atuar em determinado processo; a Independência Funcional significa que a chefia
existente no MP é de natureza administrativa, não podendo atingir a liberdade dos membros da
Instituição para emitirem os seus pronunciamentos. Existem casos em que alguns atos do membro do
MP podem ser submetidos ao controle de órgãos superiores da Instituição como por exemplo na
hipótese de o juiz não concordar com o pedido de arquivamento de inquérito formulado pelo membro
do MP, caso em que remeterá os autos ao Procurador-Geral que poderá determinar o oferecimento de
denúncia, designando outro membro da Instituição para apresenta-la. Em tal hipótese, o membro do
MP designado estará exercendo função delegada pela chefia da Instituição, não podendo recusar-se a
oferecer a denúncia sob a alegação de independência Funcional.

35
O Ministério Público é dividido pela Constituição Federal da seguinte forma:

I - Ministério Público da União – que compreende: o Ministério Público Federal, o Ministério Público
do Trabalho, o Ministério Público Militar e o Ministério Público do DF e territórios;

II - os Ministérios Públicos dos Estados.

A chefia do MPU cabe ao Procurador-geral da República nomeado pelo Presidente da República


dentre integrantes da carreira, maiores de 35 anos, após a aprovação de seu nome pela maioria
absoluta do Senado Federal para mandato de dois anos permitidas sucessivas reconduções. Durante o
seu mandato o PGR só poderá ser destituído por iniciativa do Presidente da República precedida de
autorização da maioria absoluta do Senado Federal. Deve-se observar que não há formação de lista na
classe para a escolha do PGR.

Cada ramo do MPU terá a sua chefia. O MPF terá por chefe o próprio Procurador-Geral da
República. O MPT e o MPM terão as respectivas chefias designadas pelo PGR entre uma lista tríplice
composta por integrantes da Instituição eleitos pelos membros do respectivo ramo.

O MP do DF e Territórios tem o procedimento para a escolha de sua chefia semelhante ao


estabelecido para a escolha dos procuradores-gerais dos Ministérios Públicos dos Estados, não
cabendo ao PGR nomear o PGJ do Ministério Público do DF e territórios.

Os procuradores gerais dos MP’s estaduais e do MP do DF e territórios serão escolhidos a partir


de uma lista tríplice escolhida pela própria classe dentre integrantes da carreira, sendo de competência
do chefe do Poder Executivo proceder à nomeação. No caso dos Ministérios Públicos Estaduais a
escolha cabe ao Governador do Estado. Em relação ao MP do DF e territórios a nomeação é realizada
pelo Presidente da República, pois devemos lembrar que a organização do MP é um dos serviços
prestados no âmbito do DF, mas que são de competência da União. O nome escolhido pelo chefe do
Executivo tanto no caso dos MP’s Estaduais como em relação ao MP do DF, não será submetido à
apreciação do Poder Legislativo, sendo consideradas inconstitucionais normas de constituições
estaduais que porventura assim estabeleçam.

O mandato dos Procuradores Gerais dos MP’s Estaduais e do MP do DF será de dois anos
admitindo-se, apenas uma prorrogação.

Os membros do MP possuem garantias idênticas às que são atribuídas aos magistrados.


Adquirem a vitaliciedade após 2 anos de exercício, não podendo perder o cargo, a não ser por sentença
judicial transitada em julgado. São inamovíveis, podendo, no entanto, ocorrer a remoção ex oficio,
mediante decisão do Colegiado competente do MP, pelo voto da maioria absoluta de seus membros,
assegurada ampla defesa (art. 128, §5o, I, b da CF, com a redação da EC nº 45/04).

As vedações aplicáveis aos membros do MP constam do art. 128, §5 o, II, quais sejam:

a) receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorários, percentagens ou custas processuais;
b) exercer a advocacia;
c) participar de sociedade comercial, na forma da lei;
d) exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública, salvo uma de magistério;
e) exercer atividade político-partidária; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
f) receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades
públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei. (Inlcuída pela Emenda Constitucional
nº 45, de 2004)

36
Os membros do MP que se afastarem do cargo, por aposentadoria ou exoneração não poderão
exercer a advocacia perante o juízo ou tribunal em que atuarem, antes de decorridos três anos do
afastamento.

A EC nº 45/04 passou a exigir três anos de atividade jurídica para o ingresso na carreira do
Ministério Público.

A ação Penal Pública é de titularidade exclusiva do MP. Nas ações cíveis, o MP tem
legitimidade concorrente para a Ação Civil Pública e a Ação de Improbidade Administrativa. O
Inquérito civil é atribuição exclusiva do MP.

Também criado pela EC nº 45/04, o Conselho Nacional do Ministério Público será composto
de quatorze membros nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela
maioria absoluta do Senado Federal, para um mandato de dois anos, admitida uma recondução, sendo:

I o Procurador-Geral da República, que o preside;


II quatro membros do Ministério Público da União, assegurada a representação de cada uma de suas
carreiras;

III três membros do Ministério Público dos Estados;

IV dois juízes, indicados um pelo Supremo Tribunal Federal e outro pelo Superior Tribunal de Justiça;

V dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;

VI dois cidadãos de notável saber jurídico e reputação ilibada, indicados um pela Câmara dos
Deputados e outro pelo Senado Federal.

Compete ao Conselho Nacional do Ministério Público o controle da atuação administrativa e


financeira do Ministério Público e do cumprimento dos deveres funcionais de seus membros, cabendo-
lhe:

I zelar pela autonomia funcional e administrativa do Ministério Público, podendo expedir atos
regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar providências;

II zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a legalidade dos atos
administrativos praticados por membros ou órgãos do Ministério Público da União e dos Estados,
podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as providências necessárias ao
exato cumprimento da lei, sem prejuízo da competência dos Tribunais de Contas;

III receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Ministério Público da União ou
dos Estados, inclusive contra seus serviços auxiliares, sem prejuízo da competência disciplinar e
correicional da instituição, podendo avocar processos disciplinares em curso, determinar a remoção, a
disponibilidade ou a aposentadoria com subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço e
aplicar outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa;

IV rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de membros do Ministério


Público da União ou dos Estados julgados há menos de um ano;

V elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar necessárias sobre a situação do
Ministério Público no País e as atividades do Conselho, o qual deve integrar a mensagem prevista no
art. 84, XI.

37
O Conselho escolherá, em votação secreta, um Corregedor nacional, dentre os membros do
Ministério Público que o integram, vedada a recondução, competindo-lhe, além das atribuições que lhe
forem conferidas pela lei, as seguintes:
I receber reclamações e denúncias, de qualquer interessado, relativas aos membros do Ministério
Público e dos seus serviços auxiliares;
II exercer funções executivas do Conselho, de inspeção e correição geral;
III requisitar e designar membros do Ministério Público, delegando-lhes atribuições, e requisitar
servidores de órgãos do Ministério Público.

O Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil oficiará junto ao Conselho.

Leis da União e dos Estados criarão ouvidorias do Ministério Público, competentes para receber
reclamações e denúncias de qualquer interessado contra membros ou órgãos do Ministério Público,
inclusive contra seus serviços auxiliares, representando diretamente ao Conselho Nacional do
Ministério Público.

- A ADVOCACIA PÚBLICA

A representação da União em juízo cabe à Advocacia Geral da União que também exerce funções de
consultoria. Nas causas de natureza fiscal, a União será representada pela Procuradoria da Fazenda
Nacional. O Advogado Geral da união é nomeado pelo Presidente da República não sendo a escolha
submetida ao Senado. Nos crimes de responsabilidade, ele será julgado pelo Senado e nos crimes
comuns pelo STF, tendo em vista que tem o status de ministro de Estado.

Os procuradores dos Estados e do DF representam estes entes da Federação em juízo. Os integrantes


da Advocacia Pública são nomeados para cargos de carreira mediante aprovação em concurso de
provas e títulos com a participação da OAB.

- A DEFENSORIA PÚBLICA

Tem a incumbência de exercer a orientação jurídica e a defesa em todos os graus dos necessitados.
Os defensores públicos serão nomeados após aprovação em concurso público de provas e títulos e não
poderão exercer a advocacia privada.

Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e dos Territórios
e prescreverá normas gerais para sua organização nos Estados, em cargos de carreira, providos, na
classe inicial, mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a seus integrantes a garantia
da inamovibilidade e vedado o exercício da advocacia fora das atribuições institucionais.

Às Defensorias Públicas Estaduais são asseguradas autonomia funcional e administrativa e a


iniciativa de sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes
orçamentárias e subordinação ao disposto no art. 99, § 2º.

- A ADVOCACIA

Segundo o artigo 133 da CF, o advogado é indispensável à administração da justiça, sendo


inviolável pelos seus atos e manifestações no exercício da profissão e nos limites da lei.

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XVI. DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS

As constituições incorporam uma disciplina extraordinária para situações de emergência. Trata-se


de regime constitucionalmente previsto e regulado que não implica afronta ao estado de direito.

A constitucionalização dos mecanismos de defesa do Estado se consolidou no séc. XVIII. Os seus


antecedentes históricos podem, no entanto, ser encontrados nos seguintes momentos: na Inglaterra o
Riot Act, que qualificou como crime a participação em tumultos com desobediência a ordens de
dissolução. Na França, a lei Martiale de 21 de outubro de 1789, da Assembléia Nacional francesa que
autorizou a utilização do exército para reprimir tumultos geradores de intranqüilidade pública. Decreto
de 10 de julho de 1791 da Revolução Francesa que distinguia entre estado de paz, estado de guerra e
estado de sítio.

O estado de sítio correspondia a uma instituição militar existente em praças de guerras sujeitas a
ataques ou assédio. Essa instituição evoluiu para caracterizar o estado de sítio político ou fictício. A
Constituição de 13/12/1799 incorporou a “suspensão da Constituição”. No séc. XIX, os institutos de
defesa do Estado encontraram a sua adequada disciplina constitucional consolidando-se o
entendimento de que não poderiam implicar suspensão da Constituição, devendo haver previsão
constitucional das medidas de defesa, que podem exigir suspensão de algumas garantias
constitucionais. Surgiu, portanto, o chamado sistema constitucional de crises.

Os princípios informadores do sistema constitucional de crises são o da necessidade e o da


temporariedade.

No Brasil, tradicionalmente esteve presente o estado de sítio. A Constituição anterior a partir da


Emenda Constitucional n11/78, previu três institutos: medidas de emergência, estado de sítio e estado
de emergência.

A Constituição de 1988 prevê duas medidas de restabelecimento da ordem e de defesa do Estado em


situações de anormalidade: estado de defesa e estado de sítio.

É possível apontar os seguintes aspectos comuns às duas medidas de defesa do Estado: decretação
pelo Presidente da República, após audiência, sem caráter vinculativo dos Conselhos da República e
da Defesa Nacional, possibilidade de controle jurisdicional da legalidade, temporariedade das
medidas, acompanhamento pelo Congresso Nacional, responsabilidade dos executores pelos ilícitos
cometidos, prestação de contas do Presidente da República ao Congresso Nacional, após a execução
das medidas, crime de responsabilidade do Presidente da República.

O Estado de Defesa é cabível nas situações de ordem pública ou paz social ameaçada de
instabilidade institucional e de calamidade natural. Será decretado por no máximo trinta dias,
prorrogáveis uma única vez, abrangerá locais restritos e determinados e admitirá restrições aos
seguintes direitos: sigilo de correspondência e de comunicações telegráficas e telefônicas, direito de
reunião e exigibilidade de prisão somente em flagrante delito ou por ordem escrita da autoridade
judicial competente.

O Estado de Sítio poderá ser decretado em caso de comoção nacional ou de ineficácia do Estado de
Defesa e, ainda, nas hipóteses de declaração de guerra ou de resposta à agressão armada estrangeira. É
imprescindível a prévia autorização do Congresso Nacional, por maioria absoluta, solicitada pelo
Presidente da República, após os pareceres dos Conselhos da República e de Defesa Nacional. A
vigência será de trinta dias, prorrogáveis por trinta dias, de cada vez, nos casos de comoção nacional e
de ineficácia do Estado de Defesa. Nas hipóteses de declaração de guerra e de resposta à agressão
armada estrangeira durará o tempo necessário da guerra ou para repelir a agressão. As medidas
poderão ser aplicadas no âmbito nacional. Poderão ser restringidas as garantias previstas no artigo 5 o ,

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XI, XII, XXV, LXI e art. 220 da Constituição Federal. Nos casos de guerra ou de agressão armada
estrangeira, poderão ser suspensas todas as garantias constitucionais.

XVII. ORDEM ECONÔMICA E SOCIAL

O constitucionalismo clássico entendeu a constituição como instrumento de organização dos


poderes e de declaração dos direitos e garantias individuais.

Os movimentos políticos inspirados no reformismo social tiveram reflexo em constituições do início


deste século. As Constituições do México de 1917 e da Alemanha de 1919 foram as primeiras a
incorporarem a Ordem Econômica. No Brasil, a matéria foi tratada a partir da Constituição de 1934,
conjuntamente com a Ordem Social.

A Constituição de 1988 conferiu autonomia à Ordem Social. Tratou em títulos próprios à Ordem
Econômica e à Ordem Social.

O artigo 170 da Constituição estabeleceu os princípios gerais da atividade econômica. Segundo


Raul Machado Horta, há princípios-valores (soberania nacional, propriedade privada, livre
concorrência). Há princípios-intenções (redução das desigualdades regionais, busca do pleno emprego,
tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que
tenham sua sede e administração no país) , função social da propriedade), há princípios de ação-
política (defesa do consumidor, defesa do meio ambiente).A Emenda Constitucional 42/2003 deu nova
redação ao artigo 170, inciso VI, da CF, estabelecendo que a defesa do meio ambiente poderá ser
realizada, inclusive,mediante tratamento diferenciado,conforme o impacto ambiental dos produtos e
serviços e de seus processos de elaboração e prestação.

A Constituição assegura a liberdade de exercício de atividade econômica, independentemente de


autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.

As atividades econômicas devem ser primordialmente desempenhadas pela iniciativa


privada.Ressalvados os casos previstos na Constituição, a exploração direta de atividade econômica
pelo Estado só será permitida, quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante
interesse coletivo, conforme definidos em lei. Compete ao Estado atuar como agente normativo e
regulador da atividade econômica, exercendo, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e
planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado. As
jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os potenciais de energia hidráulica constituem
propriedade distinta da do solo, para efeito de exploração ou aproveitamento e pertencem à União,
garantida ao concessionário a propriedade do produto da lavra. O art. l77 da Constituição prevê o
monopólio da União em relação ao petróleo e aos minerais nucleares. As atividades referentes ao
petróleo poderão ser contratadas pela União com empresas estatais ou privadas. Relativamente aos
minerais nucleares, a EC nº 49/06 alterou a redação do inciso V do art. 177 da CF, excluindo do
monopólio da União a produção, a comercialização e a utilização de radioisótopos de meia-vida curta,
para usos médicos, agrícolas e industriais. Observe como se encontra a atual redação do mencionado
dispositivo:
"Art. 177. Constituem monopólio da União:
V - a pesquisa, a lavra, o enriquecimento, o reprocessamento, a industrialização e o comércio de
minérios e minerais nucleares e seus derivados, com exceção dos radioisótopos cuja produção,
comercialização e utilização poderão ser autorizadas sob regime de permissão, conforme as alíneas b
e c do inciso XXIII do caput do art. 21 desta Constituição Federal.”

Dessa forma, conforme os novos dispositivos inseridos no art. 21 da CF, a comercialização e a


utilização de radioisótopos para a pesquisa e usos médicos, agrícolas e industriais serão autorizadas
sob o regime de permissão. Todavia, para outras finalidades que não os usos médicos, agrícolas e

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industriais, apenas será autorizada a comercialização e utilização de radioisótopos de meia-vida igual
ou inferior a duas horas. Exige-se, também para esse último caso, o regime de permissão.

Compete ao poder público municipal executar a política de desenvolvimento urbano, sendo


obrigatório o plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, para cidades com mais de vinte mil
habitantes. No art. l82, parágrafo quarto, a Constituição prevê providências que o poder público
municipal pode adotar para o proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado
a aproveitá-lo, adequadamente. Deve-se ressaltar a possibilidade de desapropriação com pagamento
em títulos da dívida pública, medida regulamentada por lei federal denominada estatuto da cidade.
Trata-se de uma das hipóteses de desapropriação – sanção, ao lado da desapropriação para fins de
reforma agrária. O art. l83 da Constituição prevê o usucapião moradia que poderá ser requerido por
quem possuir como sua área urbana de até 250 metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e
sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, desde que não seja proprietário de
outro imóvel urbano ou rural, direito que somente será reconhecido uma vez ao mesmo possuidor. Os
imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.

A desapropriação para fins de reforma agrária é privativa da União. A indenização será prévia e
justa em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de
até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão. As benfeitorias úteis e necessárias serão pagas
em dinheiro. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária a pequena e média
propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra; a propriedade
produtiva.O art. l9l prevê o denominado usucapião pro labore, que será reconhecido em favor de
quem, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos
ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural não superior a cinqüenta hectares, tornando-a
produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia

O sistema financeiro nacional será regulado em leis complementares, conforme previsto no art. l92
da Constituição, com a redação dada pela Emenda Constitucional 40/2003. A referida Emenda retirou
do texto constitucional a previsão de limitação das taxas de juros reais em l2% ao ano, que conforme
entendia o STF caracterizava norma de eficácia limitada. Com a nova redação podem existir diversas
leis complementares regulando o sistema financeiro nacional.

No título da Ordem Social a Constituição de 1988 tratou dos seguintes assuntos: seguridade social
(direito à saúde, à previdência e à assistência social), educação, cultura e desporto, ciência e
tecnologia, comunicação social, meio ambiente, família, criança, adolescente e idoso, índios.

A Seguridade Social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos
e da sociedade destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.
Será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos
provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios e das
contribuições sociais previstas nos incisos do art. 195 da Constituição. Outras contribuições poderão
ser instituídas por Lei Complementar, obedecido ao disposto no art.. 154, I, da Constituição. As
contribuições para a seguridade social estão sujeitas à anterioridade específica de 90 dias.

As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e


constituem um sistema único.

A previdência social compreende o regime geral de caráter contributivo e filiação obrigatória .


Nenhum tempo será computado para a concessão de benefícios sem que corresponda a contribuições
realizadas. Os servidores públicos têm regime especial de previdência, também de caráter
contributivo. O reajustamento dos benefícios previdenciários não se encontra vinculado ao salário-
mínimo. No entanto, devem ser adotados, na forma da Lei, critérios de reajuste que preservem o valor
real dos benefícios. Nenhum benefício que substitua o salário de contribuição ou o rendimento do
trabalho do segurado terá valor mensal inferior ao salário-mínimo.

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A Assistência Social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à
seguridade social, nos termos do art. 203 da Constituição.

A educação é considerada direito de todos e dever do Estado e da família. O ensino será ministrado
com base nos princípios da igualdade de acesso e permanência na escola, liberdade, pluralismo,
coexistência de instituições públicas e privadas, gratuidade do ensino público em estabelecimentos
oficiais, valorização dos profissionais do ensino, gestão democrática do ensino público, na forma da
lei, garantia de padrão de qualidade. É assegurada a autonomia didático-científica e de gestão
financeira e patrimonial das universidades. O Estado deverá garantir ensino fundamental obrigatório e
gratuito. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito por cento e os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos,
compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino.

A EC nº 48/05 acrescentou o § 3º ao art. 215 da Constituição Federal, instituindo o Plano Nacional


de Cultura:
“§ 3º A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração plurianual, visando ao
desenvolvimento cultural do País e à integração das ações do poder público que conduzem à:
I - defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro;
II - produção, promoção e difusão de bens culturais;
III - formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em suas múltiplas dimensões;
IV - democratização do acesso aos bens de cultura;
V - valorização da diversidade étnica e regional."

A Constituição garante a liberdade de divulgação do pensamento, vedando a censura.

A propriedade das empresas jornalísticas e de radiodifusão sonora e de sons e imagens é privativa


de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos. A Emenda Constitucional 36/2002 passou a
permitir que o capital estrangeiro possa ter participação nas empresas jornalísticas e de radiodifusão
em caráter minoritário, reservando-se no mínimo 70% do referido capital para brasileiros natos ou
naturalizados há mais de dez anos.

Compete ao Poder Executivo a outorga e a renovação de concessão, permissão e autorização para o


serviço de radiodifusão sonora e de sons e imagens, mas o ato deverá ser apreciado pelo Congresso
Nacional.

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