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Artigos Relatos da Práxis Trabalhos

PREFEITURA MUNICIPAL DE GETÚLIO VARGAS - RS


SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO, CULTURA E DESPORTO
VOL. 11 - N.1 - ABRIL 2012
A Revista Saberes e Fazeres Educativos é uma publicação anual da
Prefeitura Municipal de Getúlio Vargas – Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Desporto

Av. Eng° Fermino Girardello, 85 - Getúlio Vargas - RS


CEP: 99900-000 – Fone/Fax: (54) 3341-1600 • E-mail: pmgvsmec@itake.com.br

COMISSÃO ORGANIZADORA Luís Carlos Cardoso da Rosa


Amanda Renata König da Silva Marcia Maria Vicensi
Ana Paula Pauletti Jobim Maria de Lurdes dos Santos
Gladir Fagundes Wolffenbuttel Mariza Dassi
Mariele Zawierucka Bressan Marlene Mazurkevicz Stempczynski
Mariza Fátima Dassi Neiva T. Pozzer
Marlene M. Stempczynski Pâmela Mara Rodriguês
Vaneli Tochetto Zimmermann Paul Maria Zanotelli
Vanessa Vitali Kunert Rafael de Oliveira
Sirlei Basso
REVISÃO DE LINGUAGEM Tarciana Lanfredi Peruzzolo
Honorino Angelo de Marchi Teolides Kurek
Mariele Zawierucka Bressan Vera Lúcia Piovesan Bernardon
Vanessa Vitali Kunert Vitor Boscheto da Silva

COLABORADORES OBS.:
Adriana Cazzonato Os trabalhos dos alunos foram transcritos dos originais.
Adriana Sobis As informações e opiniões expressas nos artigos são de
Alexandra Ferronato Beatrici responsabilidade dos autores.
Ana Paula Pauletti Jobim
Andreina Sander Pinheiro FOTOS
Andriela Antoniolli Arquivos da SMECD e dos autores
Arnaldo Nogaro
Bernardo Bernardes Galina PROJETO GRÁFICO • DIAGRAMAÇÃO
Bianca Siqueira Cardoso Tiaraju de Almeida
Carina Gallina
Cheila Daniane Marianof Milczarek IMPRESSÃO
Cidiane Troczinski Gráfica Battistel - Passo Fundo - RS
Claus Dieter Stobäus Fone: (54) 3311-1446
Cleicimara Teresinha Betiato Vitali
Daltro Lanner Monteiro
Davi Henrique Kalinoski
Eliane L. Noskoski Dassi
Elizamara Ulrich Grigoleto
Emily Rogelin
Eric Kauã W. Freitas
Felipe Matheus Vieira
Felipe Rosa
Geni Ana Bonalume
Gilvan Veiga Dockhorn
Hamilton Werneck Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Helena Pokoieski
Heloise Cadore Saberes & Fazeres Educativos / Prefeitura Municipal de
Heloisa Mânica Raiher Getúlio Vargas, Secretaria Municipal de Educação, Cultura
Ivete Terezinha Mistura Banaszeski e Desporto. - Vol 11 (2012) - Getúlio Vargas: Secretaria
Janete Jevinski Municipal de Educação, Cultura e Desporto, 2012.
Jeremias Tomelero
João Victor Pereira Linhar Anual.
Jonara Karpinski
ISSN: 1679-687X
Juan José Mourino Mosquera
Judite L. C. Bordin
Laura Pessoa da Silva 1. Educação - Periódico. I. Prefeitura Municipal de Getúlio
Leonardo Germhardt Vargas. Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Desporto.
Lucas Padilha
Luciomar Vargas Jobim CDU: 37

Bibliotecária responsável Jucelei Rodrigues Domingues - CRB 10/1569


EDUCATIVOS
SABERES & FAZERES

Saberes & Fazeres Educativos


PREFEITURA MUNICIPAL DE GETÚLIO VARGAS – RS - ISSN: 1679-687X

SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO, CULTURA E DESPORTO

VOL. 11 - N.1 - ABRIL 2012

SABERES & FAZERES EDUCATIVOS


Saberes & Fazeres Educativos

ARTIGOS RELATOS DA PRÁXIS TRABALHOS


4 APRESENTAÇÃO RELATOS DA PRÁXIS
Estela Mara Warnava, Mariele
Zawierucka Bressan, Sandra Betiatto e O uso das fotografias em sala de
Vanessa Vitali Kunert 47 aula
Helena Pokoieski
FÓRUM DE EDUCAÇÃO Exigir nota fiscal é mais que um
50 direito: é exercer a cidadania
As novas estratégias de sucesso
5 Mariza Dassi
dos educadores dos novos tempos
Daltro Lanner Monteiro
Hábitos saudáveis começam na
53 infância
8 Prática pedagógica de produção
Elizamara Ulrich Grigoleto
textual com estudantes
do segundo ano do ensino
Alfabetização x identidade
fundamental 56
Ivete Terezinha Mistura Banaszeski
Alexandra Ferronato Beatrici; Cheila
Daniane Marianof Milczarek e Paula
Semana farroupilha: cultivando
Maria Zanotelli 59 nossas tradições
Janete Jevinski
O despertar de um novo tempo
12 Gilvan Veiga Dockhorn
63 O grande desafio do professora
Judite L. C. Bordin
Neurociência, formação
16 de professores e práticas
Vivenciando a educação ambiental
pedagógicas 66 na educação infantil
Arnaldo Nogaro
Marlene Mazurkevicz Stempczynski e
Maria de Lurdes dos Santos
A educação no terceiro milênio
22 Juan José Mourino Mosquera e Claus
Dieter Stobäus TRABALHOS
Autoestima, reflexo de nossa Escola Municipal de Educação
31 singularidade 70 Infantil Cônego Stanislau Olejnik

Saberes & Fazeres Educativos


Hamilton Werneck
71 Escola Municipal de Ensino
Fundamental Antonio Zambrzycki
ARTIGOS Escola Municipal de Ensino
76
Fundamental Cônego Stanislau
Educação ambiental: muito mais Olejnik
33 que uma aula de ecologia...
Cidiane Troczinski 80 Escola Municipal de Ensino
Fundamental Pedro Herrerias
A aprendizagem matemática com Escola Municipal de Ensino
38 o auxílio tecnológico 83 Fundamental 15 de Novembro
Luciomar Vargas Jobim
Núcleo Integrado de Atendimento
86 ao Educando - NIAE
A importância da estimulação na
44 educação infantil
Teolides kurek 88 PONTO DE VISTA
90 carta do leitor
APRESENTAÇÃO

A
Revista Saberes & Fazeres Educativos, em sua décima primeira edição, ofere-
ce aos leitores escritos que traduzem um processo educativo vivenciado na
Rede Municipal de Ensino de Getúlio Vargas, evidenciando diversos pensares,
cada qual ao seu modo, mas que, juntos, refletem o compromisso com uma Educação
de qualidade: planejada e efetivada, coletivamente.

Em todos os textos, os autores se propõem a ampliar os modos de pensar, viver,


olhar e sentir os processos de ensinar e aprender, bem como a (re)pensar e (re)
elaborar conceitos teóricos e práticos, que configuram o nosso ofício como “Educa-
dores”.

A elaboração da Revista é o reconhecimento dos princípios que norteiam o pro-


cesso educativo da Rede: o coletivo, a democracia, a dialogicidade, a construção do
conhecimento, a participação, a cientificidade, a contextualização e a transformação,
configurando-se como a materialização da práxis daqueles que construíram e cons-
troem, constantemente, a história do município.

A Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Desporto vem registrando, através


das páginas da Revista, uma Educação idealizada por todos os sujeitos (professores,
alunos e gestores), que possuem a ousadia do querer aprender a fazer, e que es-
tão em constante aprimoramento. O reconhecimento disso denota significados que
aproximam os saberes e fazeres que constituem o corpus do material da Revista.
Saberes & Fazeres Educativos

Com esta publicação, esperamos que, aos “olhos” do leitor, fique o registro do
despertar de uma consciência, que possibilite uma nova visão, um fazer pedagógico
baseado em ideias, dúvidas, avanços, hipóteses, análises e reflexões, contribuindo
assim, para a efetivação da “Educação que mora em mim”, alicerçada em uma política
de ensino que se mostre viavél e desejável a todos.
4

Estela Mara Warnava, Mariele Zawierucka Bressan, Sandra Betiatto e Vanessa Vitali Kunert
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO, CULTURA E DESPORTO – SETOR PEDAGÓGICO
As novas estratégias de sucesso dos
educadores dos novos tempos
Daltro Lanner Monteiro1

Os educadores não sabem como lidar com tratava de: descentralização do ensino, sa-
o estresse da e na sala de aula. Suas causas e lário dos professores, as matérias básicas

Saberes & Fazeres Educativos


consequências não são desconhecidas nem que todos os alunos deveriam aprender e até
das autoridades educacionais, nem dos pro- como os professores deveriam ser contrata-
fessores. O fato é que os professores convi- dos. A ideia, inovadora e revolucionária, teria
vem com essa situação que os desmotiva no sido ótima - caso tivesse sido implementada.
exercício da profissão. É possível, no entanto, Mas, foi somente em 1947, 120 anos após
reverter esse quadro? o referido Decreto, que ocorreu a primeira
No dia 15 de outubro de 1827 (dia consa- comemoração de um dia dedicado ao Profes-
grado à educadora Santa Tereza D’Ávila), D. sor. Inclusive na grande maioria das escolas
Pedro I baixou um Decreto Imperial criando não houve aula, devido à celebração da data.
o Ensino Elementar no Brasil. Pelo Decreto, Acredito que Dom Pedro I, ao baixar o Decre-
“todas as cidades, vilas e lugarejos tivessem to Imperial que criou o Ensino Elementar no
5

suas escolas de primeiras letras”. O mesmo Brasil, em 1827, já deslumbrava a importân-

1
Graduado em Educação Física, pós-graduado em Gestão Escolar, e especialista em Biopsicologia.
Formado em Consultoria Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), e em Teatro na Escola Tem Gente
Teatrando.
cia desses “personagens” no contexto social não é do professor
A sensação que se tem
do nosso País, já prevendo bons salários, que assume com é que muitos pais terceiri-
condições de trabalho, etc. Só que Dom Pe- muita competên- zam a educação dos filhos
dro nunca poderia imaginar que essa profis- cia e dedicação. à escola, agregando ainda
são fosse tão desgastante. No início, há mais uma tarefa que não
Os problemas relacionados à Educação são 17 anos, tinha-se é do professor que assume
com muita competência e
complexos e numerosos. O professor está uma abordagem dedicação.
sob constante pressão, o que o leva, muitas totalmente dife-
vezes, a apresentar uma série de comprome- rente nas pales-
timentos biopsicossociais que resultam em tras e consultorias, as quais não repercutiam
baixo nível de motivação, de autoestima e, efeitos e mudanças nas atitudes dos “educa-
até mesmo, a sensação de insegurança. dores problemas”. Confesso que não sabia
Hoje, ser professor talvez seja ser muito como focar o estresse a favor do professor,
mais uma postura idealista do que apenas objetivo essencial de minha missão como
carreira profissional. No atual contexto, o ex-professor, desmotivado pelo sistema pú-
educador deve aprender a lidar com o es- blico educacional brasileiro que está falido.
tresse ocupacional, de modo eficaz, e ainda Quando em 1999 iniciei pesquisas dentro
reverter esse problema a seu favor. A Organi- das escolas, sempre focando o estresse do
zação Mundial de Saúde (OMS), assim como educador, descobri maneiras mais efetivas
diversos trabalhos científicos na literatura de chegar aos corações desses profissionais
mundial mostram que ser professor é uma tão esquecidos pelos seus gestores. Ao longo
das profissões mais estressantes na atuali- de mais de sete anos, foram documentados
dade. Isso porque, para ser professor, hoje, é mais de 60.000 vivências de professores na
preciso assumir proposta denominada de SPA (Sistema Prá-
Hoje, ser professor tal- outros papéis, tico de Auto-Gestão). Tais estudos vivenciais,
vez seja ser muito mais tais como: assis- sempre direcionados ao sistema público de
uma postura idealista do
tente social, po- vários municípios brasileiros, na sua maioria
que apenas carreira profis-
sional. licial, educador, no Estado do Rio Grande do Sul, visitando
psicólogo, mági- “in loco”, em torno de 377 Secretarias Mu-
co, pai, mãe. nicipais de Educação, agregando e funda-
O excesso e a rotina de trabalho, os confli- mentando uma farta coletânea de trabalhos
tos interpessoais, problemas financeiros, do- científicos, identificaram-se os altos índices
enças, problemas na família, pessoas sempre de estresse dos docentes que não estão es-
Saberes & Fazeres Educativos

reclamando, a violência, as pequenas tensões tressados somente devido ao trabalho em si,


diárias, aborrecimentos, líderes mal prepa- mas estressados, sim, com a sobrecarga que
rados, políticas públicas corruptas e/ou in- o contexto social lhes impõe. Atualmente,
competentes são alguns dos problemas que atendem-se os estados de São Paulo, Curiti-
nossos educadores vivem no seu dia a dia. ba, Salvador, Fortaleza, Maceió, Belém, Rio
Para piorar, a sensação que se tem é que mui- de Janeiro e Santa Catarina.
tos pais terceirizam a educação dos filhos à
escola, agregando ainda mais uma tarefa que
6
Como colocar o estresse a favor do dades, a apresen- Professor é uma profis-
professor? tação é composta são, que merece respeito
de teatro, Standy e consideração pela nobre
Primeiramente, os professores não sabem Up Comedy, mui- missão.

o que é estresse educacional. O que sabem, to humor (humor


sim, são as consequências desse problema. não é contar piadas), participação do públi-
É importante conhecer como eu, profissio- co, atividades motivacionais, de integração
nal da Educação, chego ao estresse e de que e práticas, música, interatividade, conforme
forma posso reverter algo que me faz mal a realidade local, e fundamentação científi-
a meu favor. Para tal, é preciso mudanças ca com base em pesquisas, com soluções de
de hábitos e atitudes. Mas muitos educa- fácil aplicabilidade no cotidiano dos profes-
dores são resistentes a mudanças. E o que sores.
se aprendeu nesses anos é que os formatos Professor é uma profissão, que merece
tradicionais de lecionar, educar e de proferir respeito e consideração pela nobre missão.
palestras, por exemplo, são pouco eficazes Infelizmente, ocorreu uma deterioração das
para provocar tais alterações. É necessário condições da formação e da prática profis-
compreender que o mundo mudou, e o ensi- sional do professorado no Brasil, hoje tão
no (sua forma) também. desvalorizado no próprio universo acadêmi-
O grande diferencial da nossa proposta de co, na mídia e na sociedade em geral. Com
trabalho são a estrutura e o formato de apre- tudo isso, descobri o que motiva e ameniza
sentação desse tema que se denomina de os altos níveis de estresse do professor: é o
aula-palestra-show, ou seja, em nossas ativi- RECONHECIMENTO.

Saberes & Fazeres Educativos


7
Prática pedagógica de produção textual
com estudantes do segundo ano do
Ensino Fundamental
Alexandra Ferronato Beatrici1
Cheila Daniane Marianof Milczarek2
Paula Maria Zanotelli3

Nosso olhar parte de onde nossos pés pi- cabular das crian- A linguagem das crian-
sam... ças, sua lingua- ças ocorre através da leitu-
Refletindo acerca de nossa experiência gem, significação, ra subjetiva que elas pos-
como educadoras, resolvemos socializar, de pois a alfabetiza- suem, intermediada pelo
mundo da literatura, retor-
maneira abreviada, o trabalho referente ao ção é a criação e
nando a elas, inseridas no
Projeto de Leitura e Produção Textual, de- recriação da ex- que chamamos de codifica-
senvolvido com os estudantes do segundo pressão escrita a ções que são as represen-
ano do Ensino Fundamental, na Escola Esta- partir da expres- tações e problematizações
dual de Ensino Fundamental e Médio Érico são oral. Dessa referentes à realidade, re-
forçando a concepção de
Veríssimo, no município de Erechim/RS. maneira, a lingua-
que o ato de ler implica a
A importância da leitura de mundo, tão gem das crianças percepção crítica, a inter-
discutida pelo educador Paulo Freire, apare- ocorre através da pretação e a “re-escrita”
ce caracterizada neste Projeto pela atividade leitura subjetiva do lido, transformando-se
de descobrir histórias, seus significados e que elas possuem, na leitura de mundo.
recriá-las através da produção textual, valo- intermediada pelo
rizando o contexto da realidade cultural e so- mundo da literatura, retornando a elas, inse-
cial das crianças, com a qual desenvolvemos ridas no que chamamos de codificações que
a aprendizagem oral e escrita. Essa apropria- são as representações e problematizações
ção e compreensão do ato de ler, de escrever, referentes à realidade, reforçando a concep-
de reescrevê-lo e transformá-lo, através de ção de que o ato de ler implica a percepção
uma prática pedagógica envolvente, concre- crítica, a interpretação e a “re-escrita” do
tiza a ideia de que “[...] aprender é uma aven- lido, transformando-se na leitura de mundo.
Saberes & Fazeres Educativos

tura criadora, algo, por isso mesmo, muito Assim, quando falamos do processo de lei-
mais rica do que meramente repetir a lição tura e produção textual, especialmente no
dada” (FREIRE, 2001). que se refere às crianças do Ensino Funda-
Esse movimento dinâmico do aprender, mental, no ciclo sequencial da alfabetização,
como aventura criadora, é um dos aspectos a percepção crítica, que envolve a leitura de
centrais do processo de alfabetização. Daí a mundo (linguagem) e que interfere na sua
necessidade de compreender o universo vo- interpretação e re-escrita, acontece através

1
Mestre em Educação (UPF/RS); especialista em Psicopedagogia Institucional; graduada em Pedagogia.
Possui experiência na Coordenação Pedagógica em Projeto de Alfabetização de Jovens e Adultos atuando nos
8

estados da Bahia, Maranhão, Minas Gerais e Goiás. Professora do Ensino Fundamental e Ensino Superior.
2
Especialista em Pedagogia das Organizações Empresariais e Sociais; graduada em Pedagogia. Professora
do Ensino Fundamental e Coordenadora Pedagógica. Experiência na coordenação de Projetos Pedagógicos,
atuando na área de gestão e planejamento estratégico educacional.
3
Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional, e em Pedagogia das Organizações Empresariais e
Sociais; graduada em Pedagogia. Professora do Ensino Fundamental, com experiência na gestão pedagógica
e administrativa.
do contar e do ouvir histórias, pois são ati- ...os passos da caminhada
vidades de suma importância na constru- O Projeto iniciou com as crianças tendo a
ção do conhecimento e do desenvolvimento tarefa de, coletivamente, escolher livros que
cognitivo dessas crianças. A interação so- iriam acompanhar a turma durante todo o
ciocultural que a atividade proporciona, o semestre, sendo utilizado um livro por mês.
fortalecimento dos laços sociais e familiares, O passo subsequente foi escolher a história
o gosto pela leitura auxiliam no desenvolvi- que iniciaria o Projeto. Escolhida, a contação
mento comunicativo, devido à provocação desta foi feita. Coordenamos o grupo, com a
da oralidade, levando-as a dialogar com seus postura de quem ensina e também de quem
pares e familiares. aprende. O círculo da leitura foi o espaço
Entendendo que a aprendizagem deve vis- para o diálogo: constituiu-se como um espa-
lumbrar a sua constituição como espaço/ ço/tempo pedagógico em que nos afirmamos
tempo em que diferentes sujeitos desenvol- como sujeitos historicamente construídos,
vem relações de reciprocidade, articulados sujeitos capazes de entender e intervir. Com-
por diversos contextos subjetivos, sociais e preendemos que esse conhecer o mundo, es-
culturais, o agir pedagógico da prática, de- pecialmente com as crianças do segundo ano
senvolvida com os estudantes do segundo do Ensino Fundamental, aconteceu através
ano, foi pensado e concretizado como um das histórias contadas e das relações que es-
agir criativo, curioso e flexível, pois o espa- tas estabeleceram com aquilo que escutaram
ço de aprendizagem e de estímulo à leitura e com o seu conhecimento subjetivo. Com
e produção textual foi reinventado, oportu- isso, reafirmamos o que Freire (1998, p.25)
nizando vivências, já havia destacado que despertar a curiosi-
A aprendizagem deve situações de trocas, dade, em relação ao contexto do que foi lido,
vislumbrar a sua constitui- tomadas de deci- é possibilitar a construção do conhecimento,
ção como espaço/tempo
em que diferentes sujeitos
sões, autonomia e é incentivar a curiosidade que, a princípio, é
desenvolvem relações de cooperação, valo- ingênua, mas, se for trabalhada e bem orien-
reciprocidade, articulados rizando, nas crian- tada, poderá tornar-se uma curiosidade epis-
por diversos contextos ças, a construção da temológica. E é essa curiosidade que moverá
subjetivos, sociais e cultu- identidade pessoal e as crianças em direção à descoberta de algo
rais...
da sociabilidade, en- novo, de pesquisar, de criar; enfim, de apre-
volvendo um apren- ender saberes úteis em diversas situações.
dizado de direitos, deveres e de requisitos A curiosidade foi instigada através da pin-
necessários à adequada inserção da criança tura em tecido da personagem ou do cenário
no mundo atual como: sensibilidade (estéti- da história que estava sendo trabalhado. A

Saberes & Fazeres Educativos


ca e interpessoal), solidariedade (intelectual possibilidade de concretizar a história atra-
e comportamental) e senso crítico (autono- vés da pintura envolveu as crianças de tal
mia, pensamento divergente). maneira, que todas estavam concentradas e
O projeto “O tapete da história” foi pensa- entusiasmadas; o fato de pintarem em pano
do com os objetivos de envolver as crianças e e não no papel, como de costume, também
suas famílias no fascinante mundo da leitura, foi algo novo e envolvente. A atividade peda-
oportunizando-lhes um momento diferente, gógica de fazer a produção do desenho em
agradável, que as cativasse e instigasse a de- tecido possibilitou a observação e a apro-
senvolver, através da exploração da ativida- ximação das crianças para com o objeto de
de, a produção textual, estimulando a imagi- conhecimento desenhado, pois a prática da
9

nação através da construção de imagens, de pintura, em um material nunca antes utili-


cenários, personagens e ações que são apre- zado, exercitou a curiosidade, convocando
sentadas em cada história. a imaginação, a intuição e a importância da
razão de concretizar o objeto através da pin-
tura.
As pinturas transformaram-se no “Tape- dos aspectos centrais do processo de alfabe-
te da História”, a história foi recontada, e os tização que expressa a linguagem, carregada
estudantes foram problematizando e rela- da significação da experiência das crianças.
cionando as situações narradas com as situ- Nossa função, como mediadoras do pro-
ações vividas por eles nos diferentes espaços cesso de aprendizagem, foi a de realizar a
sociais que ocupam. Os desenhos pintados leitura prévia das produções dos estudantes,
no Tapete auxiliaram na problematização e inserindo nas mesmas problematizações que
reflexão das falas que foram surgindo. A ativi- facilitaram a reorganização das histórias e as
dade possibilitou que as crianças pudessem correções dos eventuais deslizes na escrita.
reinventar a história e, assim, como objeto Os estudantes (em grupo) foram desafiados
cultural, a contação de história proporcio- a lerem seus textos novamente e, a partir dos
nou a apropriação do conteúdo da mesma. apontamentos realizados, fizeram a reescri-
Cada criança, durante as semanas que se ta dos mesmos, com base no processo de au-
seguiram, levou o Tapete com a história para tocorreção.
casa, onde a tarefa familiar era dedicar al- Nesse sentido, com a autocorreção, os es-
guns minutos para lerem, ouvirem, recria- tudantes foram chamados a perceberem a
rem a história, através e com este. Também importância de retornarem às produções es-
uma das tarefas da família era a de pensar critas, a fim melhorá-las cada vez mais. Esse
em um objeto que tivesse relação com a his- processo reforçou a aprendizagem como ato
tória e enviá-lo para a escola. Os objetos reflexivo, evidenciando o “erro” como ele-
eram inseridos no círculo da leitura e pos- mento importante na construção do proces-
sibilitavam novas problematizações e novas so de alfabetização. Concluídas as correções
histórias. A utilização do relato oral da ativi- e reescritas, houve a troca entre os estudan-
dade, desenvolvida na família, elucidou a lei- tes das produções, possibilitando a todos o
tura do mundo da família (FREIRE,1988), ca- contato e a interação com as histórias cons-
racterizada, aqui, pela atividade de descobrir truídas.
uma história, seu significado e de perceber A conclusão do processo, exposto nas
que a criança está apropriando-se de todo o etapas acima, aconteceu com o que pode-
significado e importância da leitura e, conse- mos chamar de culminância das atividades;
quentemente, da escrita. O ato de ler ocorreu porém, não o momento mais importante,
na sua experiência existencial: a leitura rea- pois, durante a caminhada do projeto, cada
lizada em casa, ao redor ou sobre o Tapete, momento caracterizou-se como sendo de
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em um momento diferente, refletiu todo um fundamental importância, uma vez que a es-
contexto de vivências e experiências que vão pecificidade de cada etapa proporcionou o
muito além do ato de contar a história. desenvolvimento dos envolvidos. Contudo, o
Após a passagem do “Tapete da História” momento de edição, impressão e lançamen-
pela casa dos estudantes, chegou o momento to das histórias criadas pelos estudantes,
da sua utilização como instrumento de re- transformadas em livros, explicita outro as-
criação de novas histórias, como instrumen- pecto essencial do processo de alfabetização:
to da escrita, ou seja, da produção textual. que lemos e escrevemos com objetivos bem
Em grupos, os estudantes escreveram his- definidos. Através da efetivação das tarefas
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tórias coletivas, envolvendo os objetos que mencionadas, os estudantes puderam com-


trouxeram. Dessa maneira, utilizaram-se dos provar que a leitura e a escrita são atividades
significados atribuídos à história, contada e sociais, com as quais temos a oportunidade
discutida, no âmbito escolar e familiar. Esse de nos fazer ouvir, concretizando a alfabeti-
movimento dinâmico destaca, também, um zação como processo sólido e significativo.
O caminho trilhado Leitura e Produção Textual e, dentro deste,
A possibilidade de conferir ao processo se- de uma atividade didática diferente, contri-
quencial de alfabetização, do segundo ano do buiu para o exercício da intervenção crítica
Ensino Fundamental, uma dimensão lúdica e e criativa das crianças sobre as situações-
problematizadora, significou o afastamento -problema, apresentadas pelas histórias, e
do mero assistencialismo que, geralmente, também possibilitou a relação com situações
serve à dominação, inibe a criatividade, to- reais vivenciadas, seja na família ou na co-
lhe a intencionalidade da consciência crítica munidade.
e nega aos educandos a sua vocação onto- O Projeto permitiu-nos trabalhar com os
lógica e histórica de serem mais. Contrário estudantes em suas condições concretas de
a isso, uma educação libertadora (FREIRE, existência social e cultural, ou seja, a criança
2001) pode proporcionar um trabalho edu- entendida enquanto sujeito historicamente
cativo com crianças, fundamentado na curio- construído, mas não concluído, em processo
sidade e criatividade, que estimula a reflexão permanente de busca, e que, estando cons-
e a ação verdadeira dos educandos sobre sua ciente da sua inconclusão, pode vir a ser pro-
realidade. A experiência de um Projeto de tagonista da sua humanização.

Saberes & Fazeres Educativos

Referências
11

FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler: três ____Pedagogia da Esperança (8.ed.). São Paulo:
artigos que se completam. 22 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2001.
Cortez, 1988.
____Pedagogia da Autonomia (42. ed.), São
Paulo: Paz e Terra, 2010.
O despertar de um novo velho tempo
Gilvan Veiga Dockhorn1

Em 1985 não víamos piercings, não fazia godudo goleiro Rafael, conquistar o cam-
tanto calor e nem comprávamos água mine- peonato brasileiro de futebol em uma final
ral em garrafas plásticas. Foi por essa época disputada com o Bangu; choramos derrotas
a definitiva invasão dos meios de comunica- em copas (Espanha com o Valdir Peres e Mé-
ção, informação e do consumo em massa no xico sem o Renato Gaúcho, mas ambas com
universo das cidades do interior gaúcho. o Telê de técnico); chacretes aos sábados;
Assim, as principais lembranças de muitos Fórmula 1 e “Os Trapalhões” aos domingos;
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e muitas são recepções dos conteúdos pro- Viva o Gordo na segunda; mulheres de estra-
duzidos pela grande empresa da imprensa, nha moda inspirada
comunicação e entretenimento (que no final na viúva “Porcina” e As principais lem-
das contas são a mesma coisa). Todos eram fio dental nas praias branças de muitos e
da televisão. Além de ocupar o lugar de des- (que eu ainda não muitas são recepções
dos conteúdos pro-
taque na sala, de ter prioridade e preferência conhecia, nem o fio
duzidos pela grande
na fala, definir os horários de socialização, e nem a praia). empresa da imprensa,
sem sair de casa por ela descobrimos os “me- Definitivamente, comunicação e entre-
taleiros” no Rock in Rio; dançamos o break 1985 foi um ano de tenimento (que no
da novela das oito (“Partido Alto”); cantamos impacto. Ano em final das contas são a
12

mesma coisa).
com os “Menudos”; vimos o Coritiba, do bi- que, logo em janei-

1
Doutor em História das Sociedades Ibero Americanas (PUCRS). Professor da Universidade Federal de
Santa Maria (UFSM). Secretário Geral do Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros (CNC).
ro, a ilusão da Guerra Fria entrava em seu ato Mas incrivelmente, a palavra recorrente
final com o segundo mandato de Ronald Re- nos anos 80 não foi redemocratização, mas
agan; nada mais adequado para uma Guerra sim crise e de tudo que é tipo: social, políti-
que não ocorreu do que um ator como pre- ca, de costumes e principalmente, econômi-
sidente ou um presidente como ator. Ano do ca. Logo, naquela conjuntura tornou-se lugar
início do fim da União Soviética com Gorba- comum a exaltação do passado recente. Não
chaev (que assumiu em março), um falso co- eram vozes isoladas as que observavam a di-
munista para um falso comunismo. Ano em tadura de uma perspectiva que relativizava
que a censura deixou de existir sem acabar seus muitos excessos, que repensava seu pa-
(em julho), ao menos assim anunciou com pel e sua função e, que, por fim, o lembrava
pompa e brilho o ministro Fernando Lyra. com certo ar saudoso.
Ano de uma morte de tímidas lamentações Pelo que se ouvia à boca pequena, na “épo-
(Médici, o general presidente, faleceu em ou- ca dos milicos” trabalho não faltava, havia
tubro). poder de compra com segurança, havia or-
Em 1985 o panteão dos heróis brasileiros dem para os cidadãos de bem e os valores
se completou com aquele que foi sem nun- das camadas médias estavam preservados.
ca ter sido, o “pré-presidente”, Tancredo Ne- Malandro, baderneiro e comunista é que le-
ves. Não à toa, pelos meios de comunicação vava pau.
o hábil político mineiro e habitue do poder A tétrica posse de José Sarney formalizou
central era lembrado como o condutor da o final da ditadura e o caminho para a “re-
“redemocratização” e fiel da balança no mo- democratização” misturando humor e tra-
mento da troca da farda pelo paletó e do co- gédias, risos e lágrimas. É bom recordar que
turno pelos sapatos. Se não temos um marco em 1985 havia um partido político chamado
fundador da “redemocratização”, algo como PTN ou Partido Tancredista Nacional que
a Revolução dos Cravos ou a tomada da Bas- teve Carlos Imperial em seus quadros e can-
tilha, se não temos data a comemorar, nem didato a cargo majoritário. Mas se havia cha-
feriado do dia da democracia, ao menos tive- cota, deboche e regozijo, os ares de mudança
mos um herói nacional midiático. e democracia esbarraram em uma tendência
Midiático porque a partir dos anos 80 não conservadora: em 1985, Jânio Quadros, o da
há evento ou fato que não seja acontecimen- vassoura, o da proibição das minissaias, o
to midiático; o que não aparecia na televisão, da renúncia, venceu as eleições municipais
no jornal ou na revista não existia ou não era da maior cidade do país com um discurso
verdade. E dois megaeventos político-midi- essencialmente retrógrado derrotando o en-
áticos até hoje são referências: a campanha tão sociólogo que flertava com as esquerdas,
das Diretas Já! e a vitória, agonia e morte, es- Fernando Henrique Cardoso, e o ainda não

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sencialmente as últimas, de Tancredo Neves pai do Supla ou ex da sexóloga Martha, Edu-
(o primeiro dos vários funerais-espetáculo). ardo Suplicy.
Hino nacional de fundo interpretado por Mas, a questão fundamental não está em
Fafá de Belém, ufanismo verde e amarelo que como ocorreu a saída da oficialidade militar
lembrava o início dos anos 70 (ou qualquer dos centros visíveis de autoridade. Nem mes-
Copa do Mundo de futebol a partir das trans- mo a troca de Figueiredo por Sarney. Está
missões televisivas de massa) e a trajetória do isso sim, nas circunstâncias que levaram a
presidente eleito sendo repassada insisten- isso ou, em como um Estado em frangalhos
temente em todas as mídias (relacionando-o com uma sociedade cindida pode se recom-
a Tiradentes, até pela coincidência das datas por, estabilizando os conflitos mais drásti-
13

de falecimento). A sensação era de que o país cos, mantendo o mesmo bloco dominante.
perdia mais uma chance de adentrar no ca- Este processo foi tão confuso que a coali-
minho do desenvolvimento com democracia. zão que ocupou o poder por 21 anos deixou o
Porque até aquele momento estes dois ele- governo e ficou no comando. Os banidos, exi-
mentos eram tidos como incompatíveis por e lados e presos voltaram ou saíram e grande
para grande parte da sociedade brasileira. parte reassumiu seus papéis; os que tomba-
ram não foram lembrados e todos, de uma ou uma dinâmica Como o coronel de Már-
outra forma, ostentaram o papel de vítima. “ d o m é s t i c a” quez que espera pela carta
Ao final, prevaleceu a idéia de que as perdas entre os gol- que nunca virá, passamos a
foram coletivas e que, portanto, se culpados pistas a qual esperar tudo de um futuro
houvesse seriam por forças e impulsos exa- respondia pe- que nunca chega. Nos trans-
formamos no país do ama-
geradamente patrióticas. Matou-se, mutilou- las alterações nhã.
-se, torturou-se, calou-se, intimidou-se e nas posições
morreu com e pelas melhores intenções. junto aos cen-
A Anistia, instituto de apaziguamento, de tros decisórios de poder. A coalizão se rede-
clemência e de esquecimento, ratificava em finia conforme a satisfação ou a negação de
lei os termos da conciliação nacional em tro- interesses imediatos.
ca da verdade, da História e da justiça. O país que surgiu após o regime de exce-
No calor dos anos 60 e 70, com a Guerra ção teve seus poucos heróis e seus muitos
Fria, Vietnã, China, os barbudos de Cuba logo vilões. Desconhecia vencedores, até porque
ali à solta e o espectro comunista rondando, a identificação com a violência, com o terror,
tornou-se lugar comum a veemente afirma- com a intolerância e com o passado repou-
ção de que seria necessário romper com a sou sobre poucos: a parcela da oficialidade
democracia para preservar a ordem e a pró- militar, chamada de “duros” e a oposição que
pria democracia! foi às armas e que, por esta razão, passou a
Posteriormente, em um contexto de exal- ser taxada de inconsequente por parte da
tação da liberdade e direitos humanos, os oposição que foi ao plenário e reconstruiu a
regimes draconianos foram maquiados em lógica do Estado que pretensamente preten-
arremedos democráticos sem rupturas, con- dia desconstituir.2
vulsões e, principalmente, sem concessões Dez horas de 15 de março de 1985. A ma-
substanciais. nhã em Brasília, capital símbolo do desenvol-
Como o coronel de Márquez que espera vimento, foi palco do encerramento formal
pela carta que nunca virá, passamos a espe- do regime de exceção brasileiro com a posse
rar tudo de um futuro que nunca chega. Nos do primeiro presidente civil desde 1961.
transformamos no país do amanhã. Senhores A cerimônia teve ares de emoção, apreen-
a serviço de Deus, senhoras a serviço do lar, são e, acima de tudo, incredulidade. Emoção
senhores de terno, senhores de botas, cha- pelas incontáveis pessoas que festejavam o
péu e rebenque, senhores democratas, se- que acreditavam o ponto inicial da reversão
nhores conservadores, senhores das letras, das graves crises que assolavam o país. Apre-
senhores dos lotes, senhores da informação, ensão pela própria fragilidade em que foram
senhores de farda, senhores do espetáculo, lançadas as bases do novo ordenamento po-
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senhoras de rosário em punho, castos, celi- lítico, sem rupturas decisivas na estrutura
batos, devassos e profanos, enfim, o golpe de de poder. A incredulidade verificava-se na
1964 somente foi possível na medida em que medida em que chegavam as notícias da en-
agregou uma série de interesses imediatos. fermidade que acometia o presidente eleito
Grande parte da sociedade desejou, acolheu Tancredo Neves, no exato momento em que
ou se mostrou indiferente à intervenção. se aproximava a posse.
Porém a coalizão que era adequada na Após 20 anos e 11 meses findava a ditadu-
destituição do presidente, cedo encontrou ra, iniciava-se a agonia do presidente eleito
seus limites para estruturar o regime, havia e afirmava-se, mais uma vez, a projeção de
14

2
Mesmo entre aqueles que participaram ativamente da oposição armada, a opção posterior pelo
processo institucional também impôs a remodelação do discurso, da “resistência armada contra a ditadura”
para a “resistência democrática”. Ver o excelente trabalho de: RIDENTI, Marcelo. Resistência e Mistificação
da Resistência Armada Contra a Ditadura: Armadilhas Para Pesquisadores. In. : REIS, Daniel Aarão; RIDENTI,
Marcelo; MOTTA, Rodrigo Patto Sá. O Golpe e a Ditadura Militar 40 Anos Depois (1964 – 2004). Bauru: EDUSC,
2004, pp. 53-65.
um futuro melhor. Mais um caso de meta- Para tal desenlace, uma complexa teia foi
morfose política, o novo regime, prenhe de sendo construída entre concessões e con-
esperanças, surgiu das entranhas do velho quistas, adaptações e inovações, projetos e
regime. processos que, por fim, vieram a garantir a
Atestando os paradoxos da vida pública reformulação do Estado autoritário brasilei-
brasileira, a passagem se deu pela mão de ro.
José Sarney, efetivado como presidente da A consolidação da democracia ainda leva-
República. Figueiredo se recusou a passar ria alguns anos graças também às sucessivas
a faixa àquele que um ano antes defendia e crises que impediram a estabilização tan-
encaminhava as articulações parlamentares to do regime político, quanto da economia.
como líder do governo. Para o grupo que Logo, o contraste entre crise e consolidação
deixava o Palácio, a mudança de lado em um democrática povoou o imaginário coletivo
embate era coisa muito séria. até o final da década de 80, quando a nova
Entre a campanha das “Diretas Já!” e a tra- Constituição e as eleições diretas para presi-
gédia de Tancredo Neves, a “Nova República” dente da República trataram de lançar para
iniciava sob a égide da comoção nacional. A o futuro as esperanças acalentadas desde há
transição ainda esperaria mais alguns anos muito tempo. E aí surge Fernando Collor...
para alcançar a plenitude através de uma
nova Constituição e eleições diretas para
presidente.

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Referências
15

BARREIROS, Edmundo; SÓ, Pedro. 1985 – O Ano REIS, Daniel Aarão; RIDENTI, Marcelo; MOTTA,
Em Que O Brasil Recomeçou. Rio de Janeiro: Rodrigo Patto Sá. O Golpe e a Ditadura Militar
Ediouro, 2005. 40 Anos Depois (1964 – 2004). Bauru: EDUSC,
2004
DOCKHORN, Gilvan Veiga. Quando a Ordem é
Segurança e o Progresso é Desenvolvimento
(1964-1974). Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002.
Neurociência, formação
de professores e práticas pedagógicas
Arnaldo Nogaro1

RESUMO ferenciada, com qualidade e voltada para o


estudante. O objetivo deste texto é demons-
A formação de professores tem se manti- trar como a neurociência contribui para o
do como tema de estudo e de reflexão, isto bom desempenho do trabalho do professor
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demonstra que se trata de uma permanente e como pode ser uma importante aliada para
inquietação de diferentes segmentos: gesto- melhorar processos de ensino e aprendiza-
res, formadores, estudantes, dentre outros. gem. Trata-se de uma abordagem teórica
Por que preocupar-se com a formação do com base em autores contemporâneos que
professor? O professor formado adequada- pesquisam o assunto. Ao longo do corpo do
mente desenvolve a docência de maneira di- texto procura-se explicitar elementos que

1
Professor da URI –Campus de Erechim. Doutor em Educação – UFRGS. Integrante do Grupo de Pesquisa
Ética e Educação. narnaldo@uri.com.br
16

2
Alguns estudiosos falam de uma nova área denominada de neuroeducação, que seria responsável
por agregar conhecimentos de diferentes áreas (neurologia, neuroanatomia, neucrociência, psicologia
cognitiva...) com o objetivo de fazer uso destes conhecimentos para potencializar as capacidades de cada
estudante. Auxiliaria para entender as dificuldades de aprendizagem, como o cérebro funciona, como os
circuitos neurais ocorrem, etc. e sua implicação na aprendizagem. Para estes estudiosos “[...] a próxima
geração de educadores, obrigatoriamente, precisará levar em conta o conhecimento gerado por pesquisas
das Neurociências, ao planejar e desenvolver seus projetos de ensino e aprendizagem.” (TIMM, 2010, p. 2).
deem visibilidade às descobertas científi- rologia, neurociência, etc., mas argumen-
cas da neurociência e como a interface com tar para mostrar que o seu conhecimento,
a área da educação pode auxiliar na prática por parte dos educadores, pode auxiliar na
pedagógica. interação com os estudantes e no processo
de ensino e aprendizagem. Alguns concei-
Palavras-chave: Aprendizagem. Neuroci- tos abordados no texto, talvez, muitos edu-
ência. Formação de professores. cadores, pouco se perguntaram sobre eles,
especialmente sobre sua relação com o que
Sobre a problemática do texto fazem diariamente com seus alunos nas sa-
las de aula, o que não nos autoriza a respon-
A pergunta “como funciona o cérebro?”, sabilizá-los pela pouca importância dada a
que há muitos anos o homem vem se fazen- estes conhecimentos. O fato concreto é que
do começa a ser respondida com o auxílio de os cursos de formação de professores, em
novos equipamentos científicos e da revolu- sua grande maioria, passa à margem desta
ção biológica e hoje agrega conhecimentos questão. Apesar disso pensamos que seja im-
que já se constituem em suportes importan- portante desenvolvermos esta reflexão em
tes para o desenvolvimento do trabalho do torno deles para que os tragamos ao debate
professor2. Sabemos que tudo isso é bastante e assim oportunizaremos, quem sabe, para
recente e novo, gerando insegurança e relati- muitos educadores, uma primeira conversa
va ausência de confiança na área, porém não sobre o assunto.
se pode ignorar estes progressos e agir de
maneira indiferente ao que está acontecendo Algumas provocações
no cenário contemporâneo.
A neurociência cognitiva tem uma história Algumas provocações inicias dão a di-
recente, datando dos primeiros anos da dé- mensão do desafio que o professor tem para
cada de setenta do século passado o apare- manter-se em sintonia com seu tempo: a in-
cimento do termo “neurociência cognitiva”. teligência é hereditária? Qual o papel da me-
Como se trata de uma área bastante nova, cir- mória na aprendizagem? Por que lembramos
cula muitas informações sobre ela. Como al- de algumas coisas e esquecemos de outras?
gumas são de pouca cientificidade provocam Qual dos sentidos interfere mais no apren-
desconfiança, dizado? Podemos aprender muitas coisas ao
Qual o papel da memó-
por não possuí- mesmo tempo? Aprendemos todos do mes-
ria na aprendizagem? Por
que lembramos de algumas rem fundamen- mo jeito ou de jeitos diferentes? Por que al-
coisas e esquecemos de to verdadeiro guns aprendem com facilidade o que outros,

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outras? Qual dos sentidos acabam por se mesmo com muito esforço, não conseguirão?
interfere mais no aprendi- constituir em Qual o preparo (formação) do professor para
zado? Podemos aprender
mitos (neuro- responder, com segurança, a estes questio-
muitas coisas ao mesmo
tempo? Aprendemos todos mitos) e dis- namentos? Poderíamos nos estender e cons-
do mesmo jeito ou de jeitos torcer seu real truir um texto somente de perguntas, mas
diferentes? Por que alguns entendimento e lançamos mão de algumas para contextuali-
aprendem com facilidade contribuição. zar o que vamos dizer a respeito do conheci-
o que outros, mesmo com
Nosso obje- mento da neurociência e sua implicação no
muito esforço, não conse-
guirão? Qual o preparo (for- tivo não é fazer trabalho do professor, na prática pedagógica.
mação) do professor para uma dissecação Cotidianamente na sala de aula nos depa-
17

responder, com segurança, de conceitos3 da ramos com situações de falta de atenção, pou-
a estes questionamentos? biologia, neu- ca assimilação, ausência de compreensão,

3
Neste texto, inclusive, não faremos distinções conceituais entre cérebro, mente, inteligência.
Utilizaremos estas expressões como similares para designar o cognitivo humano.
dificuldades de aprendizagem e nos angus- cer os avanços Com um maior conhe-
tiamos porque não sabemos como encontrar da Neurociência cimento sobre como o cé-
alternativas para tais problemas. Acabamos para utilizá-los rebro funciona e como as
por dividir nossa angústia no diálogo com em suas práticas pessoas aprendem o pro-
fessor vai ter mais clareza e
colegas de profissão ou lamentando e res- não vai represen-
lucidez sobre a forma mais
ponsabilizando a criança e o adolescente por tar uma extraor- adequada para auxiliar os
ter “pouca vontade”, “não esforçar-se o sufi- dinária revolução estudantes.
ciente”, “ser desinteressado”, etc. Somos des- no processo pe-
conhecedores de qual solução apontar, pois, dagógico, mas vai conscientizar o educador
nosso processo de formação não contemplou do quanto estes conhecimentos são úteis
saberes maiores a este respeito. Acabamos para quem educa as gerações do século XXI.
por nos conformar diante da barreira encon- Cosenza (2011, p. 142) alerta a respeito do
trada ou buscar alguma “metodologia”, que, uso destes conhecimentos para que não caia-
quem sabe, vá poder suprir esta lacuna. Mas mos em soluções simplistas. “Embora muitas
o que podemos perceber é que estas atitudes vezes se observe certa euforia em relação às
acabam contribuindo muito pouco. Como re- contribuições das neurociências para a edu-
solver de maneira contundente tal dilema? cação, é importante esclarecer que elas não
Recorrendo às Ciências Cognitivas, à Neu- propõem uma nova pedagogia nem prome-
rociência, pois elas serão a solução definitiva? tem soluções definitivas para as dificuldades
Em parte isto é verdadeiro. Elas podem con- da aprendizagem.” Representam uma reo-
tribuir ao nos estender conhecimentos que rientação de direção e um acréscimo para
permitem uma visão maior e mais profunda romper com os conceitos conservadores
sobre a mente humana, mas a transposição historicamente cultivados sobre o apren-
desses saberes para a prática pedagógica é der e ensinar. Significará uma aproximação
de nossa responsabilidade como educado- maior do educador com os estudantes, inclu-
res. De que maneira? Instrumentalizando- sive maior sintonia entre gerações que ex-
-nos dos conhecimentos que estas ciências perimentaram e experimentam o mundo de
(mais especificamente a Neurociência) nos maneiras diferentes em contextos diferen-
alcançam e associando-os a nossos saberes tes, com implicações de organização mental
pedagógicos para entender melhor como a específica em cada circunstância vivida por
cabeça “funciona”, como o cérebro aprende. cada um.

Para Metring (2011, p. 13) os neurocien- Os conhecimentos da Neurociência


tistas
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Não temos a pretensão e nem somos in-


[...] não estão preocupados em formular receitas, seja gênuos para acreditar em soluções mágicas
para a área educacional, organizacional, médica ou qual-
quer outra. Estão sim preocupados em descobrir, dia após e definitivas, no entanto os conhecimentos
dia, coisas maravilhosas sobre a organização neuronal do advindos na neurociência cognitiva auxiliam
ser humano e as disponibilizar para quem queira utilizar na construção e na definição de propostas
seus achados, mas o trabalho de articulação (no nosso caso, de intervenção pedagógica mais eficazes,
os processos de ensino e aprendizagem) precisam ocorrer especialmente para pessoas que possuem
a partir das necessidades dessas áreas e por profissionais
dessas áreas. doenças no cérebro ou distúrbios de com-
portamento e aprendizagem. É um passo
A proposição de fazer com que os profis- gigantesco na direção da inclusão, não só
18

sionais da educação possam estudar e conhe- por possibilitar atendimento específico e es-
pecializado, como também melhorara qua-

4
Hoje falamos de geração como um intervalo de tempo bastante curto se comparado com outros
períodos da história da humanidade. Alguns estudiosos da área consideram geração o intervalo de tempo
menor de uma década, o que era impensável no século XIX, por exemplo.
lidade de vida das pessoas. Não somente Para os profissionais do ensino, isso é de fundamental
quem apresenta alguma doença ou distúrbio importa, pois a existência do cérebro é um acontecimento
maravilhoso, que tem por função aprender a mudar o meio
pode se beneficiar ao ser auxiliado por um ou adaptar-se a ele em tempo curto, e, para tanto, só é pre-
professor que detenha tais conhecimentos, ciso que ocorra alguma aprendizagem. Não é fantástico? O
os estudantes considerados “normais” tam- aprendizado é uma arma poderosa na luta pela sobrevivên-
bém serão beneficiados pelas estratégias cia e é uma característica inata do cérebro. Então, porque
didáticas, formas diferenciadas de abordar algumas crianças não aprendem, se é uma característica
inata do cérebro aprender? Pensemos nisso (METRING,
o conhecimento e visão de singularidade 2011, p. 56).
de um mestre conhecedor do assunto. Com
um maior conhecimento sobre como o cére- Assim como a natureza foi dotando o
bro funciona e como as pessoas aprendem o cérebro de maior tamanho e potencialida-
professor vai ter mais clareza e lucidez so- des, conforme os ambientes humanos e so-
bre a forma mais adequada para auxiliar os ciais foram se complexificando provocaram
estudantes. Isto permite a ele desenvolver a expansão da rede neural (novas conexões)
um [...] ensino bem sucedido provocando que gerou novas aprendizagens, novos en-
alteração na taxa de conexão sináptica que tendimentos numa cadeia em espiral irre-
afeta a função cerebral. Por certo, isto tam- versível. É assim que a mente humana foi se
bém depende da natureza do currículo, da constituindo e não há como entender como
capacidade do professor, do método de en- ela se organiza com uma visão tradicional de
sino, do contexto da sala de aula e da família inteligência. O educador precisa conhecer e
e comunidade.”(BARTOSZECK, 2011, p. 3). reposicionar-se frente aos novos estudos e
Cosenza (2011) corrobora com o autor ci- descobertas a respeito da mente e da inte-
tado ao afirmar que o saber como o cérebro ligência humana. Só assim ele vai conseguir
aprende não é suficiente para a realização desenvolver seu trabalho na perspectiva de
da mágica do ensinar e do aprender”, assim atender às individualidades e atingir o maior
como os conhecimentos dos princípios bio- número possível de educandos.
lógicos básicos não é suficiente para que o
médico exerça uma boa medicina. Quando
tratamos da aprendizagem existem alguns
O professor e a prática pedagógica
princípios e padrões comuns que podem
Para entender o quanto é importante re-
ser adequados para todos (universais), mas
orientarmos nosso entendimento sobre a
existem também situações que são específi-
mente humana devemos olhar para a com-
cas (individuais, resultantes da experiência
plexidade do mundo presente e comparar-
vivida por cada um) e que, portanto, o pro-
mos com o que tínhamos há cinquenta anos
fessor precisa conhecer para poder relativi-

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passados. Que tipo de mente era necessária
zar ou tratar de maneira diferenciada.
naquele período para interagir com o meio,
A possibilidade que o cérebro humano
enfrentar problemas cotidiano, relacionar-
tem de se recompor e revitalizar (neuroplas-
-se com as pessoas, adquirir informações
ticidade) abre outras oportunidades na edu-
para sobreviver, e de qual precisamos hoje
cação: a criança e o adolescente ainda não
para realizar as mesmas atividades? É possí-
aprenderam, mas poderão aprender. Há sem-
vel situarmo-nos no mundo e viver hoje com
pre novas portas e possibilidades se abrindo.
os conceitos de quatro ou cinco séculos pas-
Esta concepção dinâmica do cérebro repo-
sados, concebendo ainda a mente humana
siciona a postura e o trabalho do professor
como única estrutura e com uma visão tradi-
porque nada é definitivo, podendo-se chegar
19

cional da inteligência (“paleolítico digital”)?


a resultados cada vez melhores a partir de
Cada momento que passa aprendemos mais
ambientes, “metodologias” e “didáticas” di-
sobre a evolução humana e o funcionamen-
ferentes.
to do cérebro, fruto da revolução científica
de diferentes área da biologia, da fisiologia,
neurologia ...
Muitas das descobertas científicas recen- que mais sujeitos É possível situarmo-nos
tes sobre a mente humana chocam-se com consigam aprender. no mundo e viver hoje com
muitas as práticas pedagógicas tradicionais Quantos mais con- os conceitos de quatro ou
que vêm sendo desenvolvidas há anos e seguirem aprender cinco séculos passados,
concebendo ainda a men-
que não levam em consideração como o cé- maiores serão as
te humana como única
rebro evoluiu e como está organizado nos possibilidades de estrutura e com uma visão
seres humanos. Não há duas pessoas com o converterem isso tradicional da inteligência
mesmo perfil, para tanto se deve procurar para outras lingua- (“paleolítico digital”)?
conhecer o estilo de aprendizagem de cada gens e para o meio
sujeito para criar modelos pedagógicos que onde vivem, reestruturando outras redes
permitam que cada um aprenda mais e me- neurais (oportunizando novas sinapses5) e
lhor do seu jeito. Não conseguiremos, de um quanto maior for a ativação de novas redes
momento para outro, romper com uma lon- neurais maior será seu entendimento sobre
ga tradição centrada em ensinar e avaliar de a vida e as coisas.
uma única maneira, de forma padronizada. Como ignorar o que ocorreu com o cérebro
O que alimenta nossa esperança é que pela humano quando nosso trabalho envolve esta
primeira vez em toda história da humanida- evolução e seus progressos, quando ele é
de temos conhecimentos que nos permitem afetado diretamente por eles? Por exemplo:
entender e demonstrar que isso é possível e crianças que não aprendem, que apresen-
produz resultados mais palpáveis e melhores tam dislexia6, de posse das imagens de seu
na aprendizagem. Não se trata de um conhe- cérebro torna-se possível tratá-las e também
cimento que sirva somente para compreen- orientar educadores sobre como agir para
dermos e estudarmos as crianças com perfis explorar o potencial intelectual não compro-
irregulares (como num primeiro momento metido do cérebro ou como obter resultados
se pensou em função dos casos analisados e por meio da intervenção adequada a partir
estudados), mas para todas. do conhecimento das características desta
Com o avanço da Neurociência determina- criança ou adolescente.
dos procedimentos e acontecimentos peda- Outro exemplo e campo onde a neuroci-
gógicos não mais serão vistos da forma: “eu ência pode auxiliar é o que diz respeito às
acho que meu aluno aprender melhor seu eu transformações provocadas pela revolução
fizer desse jeito do que daquele”. Passa-se a digital na mente humana que tem impacto
ter dados objetivos para afirmar que x fun- profundo na educação, pois as redes neurais
ciona melhor que y no que se refere aos mé- formadas como resultado do uso das novas
todos de ensino, portanto surge a demons- tecnologias possibilitam mensagens instan-
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tração de quais estratégias de ensino podem tâneas e multitarefas, o que dificulta a aten-
ser usadas com melhores resultados. ção ao foco e ao que deve ser aprendido. O
Passa a ser possível ensinarmos o que é digital passa a ser um “competidor” com as
importante de ser aprendido de maneiras di- atividades de estudo da escola. Como criar
ferentes, utilizando linguagens diferentes, a mecanismos para resgatar a atenção e con-
arte, o humor, a imagem, o desenho, contan- centração no que deve ser aprendido? É nes-
do histórias para criarmos as condições para te momento que deverá aparecer a criativi-

Localização nos neurônios onde entram em contato com outros neurônios para transmitir informações.
20

(GAZAANICAGA, 2006). É um espaço entre dois neurônios, por onde se comunicam, ou seja, por onde ocorre
a transmissão de informações por meio de elementos químicos chamados neurotransmissores (METRING,
2011). Locais que regulam a passagem de informações no sistema nervoso. (COSENZA, 2011).
6
“A dislexia é um distúrbio neurobiológico caracterizado pela dificuldade no reconhecimento preciso ou
fluente das palavras, com dificuldade de soletrar e recodificar os sinais gráficos em sons. O problema resulta
de uma deficiência do componente fonológico da linguagem, que geralmente contrasta com as demais
habilidades cognitivas do indivíduo que tem inteligência normal.” (COSENZA, 2011, p. 105).
dade e a arte do professor. Ao conhecer o funcionamento do sistema nervoso, os
O aprendizado contínuo durante uma vida profissionais da educação podem desenvolver melhor seu
trabalho, fundamentar e melhorar sua prática diária, com
inteira e com instrumentos cada vez mais reflexos no desempenho e na evolução dos alunos. Podem
sofisticados diferencia as novas gerações de intervir de maneira mais efetiva nos processos de ensinar
outras anteriores, das quais, algumas nem e aprender, sabendo que esse conhecimento precisa ser
sequer tinham educação institucionalizada. criticamente avaliado antes de ser aplicado de forma efi-
O cérebro humano aprendeu rapidamente ciente no cotidiano escolar. Os conhecimentos agregados
pelas neurociências podem contribuir para um avanço na
isso desenvolvendo a capacidade de adqui- educação, em busca de melhor qualidade e resultados mais
rir permanentemente novas informações eficientes para a qualidade de vida do indivíduo e da socie-
que geram uma dinâmica interna de ciclo dade. (COSENZA, 2011, p. 145).
contínuo de expansão e ativação de novas si-
napses, deixando-o cada vez mais ativo num Há muito por vir no que diz respeito ao
processo de permanente retroalimentação, o conhecimento sobre o cérebro humano, há
que alguns estudiosos denominam de neuro- muitos questionamentos em aberto ainda,
plasticidade do cérebro. quem sabe o que virá no futuro poderá até
desconstruir muitas das “verdades” de hoje,
isto não nos autoriza a ignorar sua impor-
tância para quem quer trabalhar como pro-
O aprendizado contí- fessor. Sem este conhecimento nossa prática
nuo durante uma vida in-
poderá se tornar ainda mais pobre e enclau-
teira e com instrumentos
cada vez mais sofisticados surada. Como as possibilidades da genética
diferencia as novas gera- e da biologia ainda são limitadas (apesar do
ções de outras anteriores, uso de substâncias e medicamentos), quem
das quais, algumas nem sabe a grande alternativa seja mudar as con-
sequer tinham educação
dições e o ambiente da aprendizagem.
institucionalizada.

Referências

Saberes & Fazeres Educativos


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educação. Disponível em: www.sitedaescola. aprendizagem: fundamentos necessários para
com Acessado em 15/02/2012. planejamento do ensino. Rio de Janeiro: Wak,
COSENZA, Ramon e GUERRA, Leonor. 2011.
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aprende. Porto Alegre: Artmed, 2011. RELVAS, Marta Pires. Neurociência e transtornos
FIORI, Nicole. As neurociências cognitivas. de aprendizagem: as múltiplas eficiências
Petrópolis/RJ: Vozes, 2008. para uma educação inclusiva. Rio de Janeiro:
Wak, 2007.
GAZZANIGA, Michael (Org.). Neurociência
cognitiva: a biologia da mente. Porto Alegre: TIMM, Maria Isabel; et al. Emergência
21

Artmed, 2006. da Neuroeducação: a hora e a vez da


neurociência para agregar valor à pesquisa
MAIA, Heber (Org.) Neuroeducação e ações educacional. Ciências & Cognição, 2010, Vol
pedagógicas. Rio de Janeiro: Wak, 2011, vol. 15 (1), p. 199-210. Disponível em: http://
4. www.cienciasecognicao.org. Acessado em
14/02/2012.
A educação no terceiro milênio
Juan José Mourino Mosquera1
Claus Dieter Stobäus2

Resumo - Tratamos, neste texto, da edu-


cação para o século 21 a partir de dimensões
socioeconômicas e políticas. Fazemos refe-
rência a autores que se tratam da problemá-
tica, especialmente ao Relatório de Delors
que propõe uma visão prospectiva utópica
para a educação.

Descritores – Educação; terceiro milênio;


visão utópica

ABSTRACT – We treat, in this text, on


education for the 21 century, discussing this
subject since socioeconomics and politics di-
mensions. We make reference to autothors
who deal with the problematic, especially ro
Delors Report, which considers an utopian
vision for the education.

Descriptors – Education; utopian vi-


sion

Considerações iniciais

Segundo Roberto Carneiro (2001), vi- em por isto, consideramos que a Educação
vemos um tempo especial: a vertigem tec- está presa entre dois fogos, dois estilos de so-
Saberes & Fazeres Educativos

nológica se apossou do cotidiano viver. A ciedade. Podemos afirmar que a Educação se


velocidade como se processa a mudança é movimenta entre a conservação e a inovação
ascendente, dificulta a interiorização das cri- e, consequen-
O futuro se apresenta cada
ses. O futuro se apresenta cada vez menos temente, es-
vez menos como a projeção
como a projeção do passado, e sem dúvida, tamos numa do passado, e sem dúvida,
vivemos uma etapa de incertezas. época de enor- vivemos uma etapa de incer-
Concordamos em que estamos na Era da mes tensões e tezas.
Descontinuidade e do turbilhão, do conflito conflitos.
22

1
Graduado em Pedagogia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Mestre em Educação pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Doutorado em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul, com pós-doutorado em Psicologia pela Universidad Autónoma de Madrid.
2
Graduado em Medicina pela Fundação Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.
Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Doutor em Educação pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, com pós-doutorado em Psicologia pela Universidad Autónioma de Madrid-
Espanha.
Se, por um lado, a Educação se apresenta mações, colocando a pessoa como o verda-
complexa e com enormes dificuldades, tam- deiro agente da mudança. Podemos dizer
bém representa as esperanças de melhoria que, neste sentido, todo o esforço de se cons-
de toda uma sociedade futura, e a maioria truir a si mesmo passa pela compreensão do
dos utopistas consideram que a Educação é tipo de sociedade e de cultura que temos e
a que tem possibilidades de modificar o fu- ela influencia diretamente sobre a nossa pes-
turo. soa e a construção de si próprio.
Carneiro (2001) também nos alerta que a Estamos rodeados de brinquedos anima-
sociedade anterior era mais estável, simples dos, realidade virtuais, criaturas artificiais
e repetitiva, a memória dominava o projeto e e um mundo digitalizado, no qual as crian-
os princípios socioculturais se transmitiam, ças do século XXI aprendem a relacionar-se
de certa maneira, como modelos exemplares. rapidamente com objetos pensantes. Já os
Era, no dizer do autor, o primado da estrutu- adultos mergulhados em transformações
ra sobre a gênese. operadas desde os locais de trabalho, têm
Já na nova sociedade instável, inovadora fortes dúvidas para se atualizar e se colocar
e, principalmente, inventiva, o projeto se so- em dia no universo tecnológico e científico.
brepõe à memória e o futuro domina o pas- Isto nos leva a entender que a cisão geracio-
sado, os modelos são constantemente colo- nal se estabelece de maneira muito profunda
cados em questionamento, por isso podemos e aparece como desafio fundamental o co-
afirmar que realmente é o primado da gêne- nhecimento, na base de diferentes espaços
se sobre a estrutura. psicológicos temporais, nos diferentes mo-
Acrescente-se a isto que, no ambiente tur- mentos da vida.
bulento em que vivemos, longe do equilíbrio O que apresentamos até agora nos leva a
e perpassado de incertezas, o importante pa- entender que vivemos numa sociedade plu-
recer ser adquirir competências de fluidez ralista, que cada vez mais será diversificada e
para poder gerir nossa vida e, especialmen- que isto se reflete nas incertezas das institui-
te, enfrentarmos o futuro. ções, na pressão das tendências e dos fatos
Por outro lado, governos, empresas, fa- sociais, o que não é nada fácil de entender e,
mílias, organizações políticas e instituições muito especialmente, de manejar com sabe-
da sociedade civil se defrontam ao desafio doria. É um espaço altamente tecnológico,
premente para se reorganizarem, em função no qual precisamos construir e considerar
de ambientes cada vez mais inteligentes e, um novo tipo de sociedade, que seja levada
consequentemente, de artefatos e redes que a efeito por um nova cultura que está a ca-
criam a sua própria autonomia. minho.

Saberes & Fazeres Educativos


É interessante chamar a atenção que, para Nos parece muito importante a ideia ex-
uma geração como a nossa, em transição, re- pressada pelo professor Manuel Antunes,
cém entrada no século XXI, estamos presos citado por Carneiro (2001), quando diz que
à ideologia da novidade e isto leva a que a “sem educação o homem é apenas uma pos-
memória do passado perca seu valor para sibilidade; destituído deste benefício, ele
uma narrativa do futuro. Assim, a Educação apresenta-se como um dos seres mais des-
propõe-se a mudar de horizonte e, por isto, providos da escala zoológica”.
de retrospectiva passa para prospectiva. A transposição deste alerta para as rápidas
O sujeito da condições atuais leva-nos a dizer que, sem a
Todo o esforço de se
Educação e a vi- Educação durante toda a vida, será apenas
construir a si mesmo pas-
23

sa pela compreensão do vência da sua o homem uma possibilidade, uma memória


tipo de sociedade e de subjetividade, vaga e um potencial sem realização.
cultura que temos e ela na concepção Estamos rodeados de um mercado globa-
influencia diretamente de González Rey lizado, marcado por uma espiral de ofertas
sobre a nossa pessoa e a
(2003), passa por de produtos e serviços, temos uma grande
construção de si próprio.
fortes transfor- quantidade de opções, vivemos na vertigino-
sa encruzilhada de hipertextos, pertencendo alicerçado naquilo que de mais simples o ser
ao reino da multimídia. Mas isto nos alerta humano possui, que é a inteligência direta-
que a abundância das escolhas ou as melho- mente unida à sua afetividade e, como conse-
res condições de via não tornam os seres hu- quência, o seu desempenho social.
manos melhores nem mais sábios. As teorias educacionais são guias para as
Assim, poderíamos pensar que viver é aprendizagens humanas e, especialmente,
uma escolha que requer sabedoria e, espe- espaços nos quais se podem elaborar sínte-
cialmente, discernimento. Construir um ca- ses pedagógicas, que sirvam para Educação
minho é da máxima importância para poder do Futuro, em culturas em desenvolvimento
elaborar novos valores, que sejam alicerces e, mais ainda, em visões de futuro que trans-
para uma nova concepção de vida. formem a realidade em utopia e a utopia em
Como muito bem sabemos, nenhum siste- realidade.
ma educativo pode ou deve-se suportar só Bertrand, Valois e Jutras (1998) têm cha-
o vazio. Assim, a Educação foi e é uma ação mados a atenção de que a espiritualidade,
promotora e iniciadora de valores, uma bus- bem como a revalorização da ecologia peda-
ca de discernimento. gógica têm forte influência para o desenvol-
O horizonte do novo milênio nos leva à re- vimento de aprendizagens significativas, que
flexão sobre a Educação, como reflexo e pro- levam a uma melhor estruturação da perso-
jeto prospectivo de uma cultura, procurando nalidade humana. Neste sentido, parece que
alcançar o devir com inteligência e abertura uma Educação do Futuro se volte para com-
de pensamento, e de coração. D eve m o s , preender a sinergia ambiental em harmonia
pois, reinventar uma nova Paidéia, isto é, com a sinergia pessoal e apareça uma reva-
procurar uma síntese entre a visão cultural lorização do mundo da espiritualidade que,
e a inovação educativa, isto pressupõe um durante séculos, tem instigado ao apareci-
compromisso para tornar os seres humanos mento do significado mais profundo do que
cada vez mais pessoas e menos indivíduos. é ser humano.
Fundamentalmente, o compromisso nos Novamente citamos Carneiro (2001, p.13),
leva a entender que o desenho mais impor- quando diz que há seis tipos de aprendiza-
tante é o cidadão de corpo inteiro, na reali- gens fundamentais, que se penetram mutu-
zação de direitos e deveres de participação, amente e se complementam sinergicamente:
que são necessários a uma consciência cívica - Aprender sobre a condição humana na
bem educada. sua infinita dignidade e riqueza, mas tam-
Cabe, então, aprimorar as aprendizagens bém a sua misteriosa contingência e vulne-
fundamentais que são alcançadas no trans- rabilidade.
Saberes & Fazeres Educativos

correr de uma vida significativa, não neces- - Aprender a viver a cidadania, celebran-
sariamente numa escola estruturada de ma- do a diversidade e apreciando a democracia,
neira simplesmente acadêmica. como membros ativos da comunidade, tendo
Por isto, cabe à Educação fazer com que se direitos e deveres inalienáveis.
tente modificar os sistemas sociais e cultu- - A primeira cultura matricial na plenitu-
rais, através da inovação e, especialmente, de de seus matizes integradores: memória,
de uma aprendizagem, que seja capaz de su- língua, civilização, história, filosofia, diálogo
perar não apenas os currículos tradicionais com o mundo.
ou simplesmente os movimentos postos em - Aprender a processar informação e a or-
moda pelas terias diversificadas no campo ganizar conhecimento, isto é, a lidar com a
24

educativo. sociedade de informação, num contexto ao


Bertrand (2001), salienta que, nos últimos, longo de toda a vida.
tempos tem havido grande abundância de - Aprender a gerir uma identidade voca-
Teorias da Educação, mas que é fundamental cional, nas diversas frentes que cobrem a
encontrar, não só um corpo teórico coeren- intervenção pessoal no sistema produtivo,
te, mas um sentido para a vida das pessoas, desde a aquisição continuada de competên-
No futuro da Educação cias até a em- práticas, mas vem acompanhado de um ideal
no Terceiro Milênio, o mais pregabilidade de vida e de um projeto de sociedade”.
importante será aprender. sustentável. Por isto, poderíamos acrescentar, seguin-
Aprender com qualidade, so- - Aprender a do Savater, que a tarefa de Educação é uma
bre o que ensinar de manei-
construir sabe- tarefa de sujeitos e sua meta é formar, sujei-
ra corriqueira e banal. Neste
sentido, educar passa a ter doria mediante tos, não objetos, nem organismos de preci-
uma visão muito mais de pro- a síntese equili- são. A Educação, então, está marcada por um
pósito de aprendizagem do brada de conhe- componente histórico-subjetivo, tanto em
que propriamente uma visão cimentos codifi- quem a transmite, como em quem a recebe.
de repetição de memorização,
cados e tácitos, Essas ideias têm aparecido como forças
calcada num ensino cartorial.
tendo em vista fundamentais na própria Educação do Futu-
a construção de ro, cada vez que caminhamos mais para um
uma evolução consciente e a interiorização universo aperfeiçoado, mais é necessária a
do sentido final contido no dom à vida e na compreensão da subjetividade e das diferen-
dimensão cósmica da existência. ças que as pessoas podem fazer em um mun-
Estas considerações iniciais nos levam a do novo.
entender que no futuro da Educação no Ter- Desse modo, além da Educação Formal,
ceiro Milênio, o mais importante será apren- caminhamos para formas alternativas que
der. Aprender com qualidade, sobre o que se encontram em O avanço científico e
ensinar de maneira corriqueira e banal. Nes- conceitos e enfo- tecnológico parece ser
te sentido, educar passa a ter uma visão mui- ques da Educação o principal condicionan-
to mais de propósito de aprendizagem do em valores, da Edu- te para definir o que vai
ser necessário ensinar
que propriamente uma visão de repetição de cação para a Paz e a e aprender no futuro,
memorização, calcada num ensino cartorial. Não Violência, para como o tipo de institui-
Isto nos leva a entender que o potencial a Educação dos Di- ções, trabalho pedagógi-
de aprendizagem é o tesouro a ser descober- reitos Humanos, a co e tecnologias que se-
to e posto em prática no transcorrer do novo Educação no Res- rão encarregados de pôr
em andamento os novos
milênio. peito e na Solidarie- conhecimentos.
É possível uma educação para o terceiro dade, enfim, para a
milênio? convivência mun-
As considerações iniciais nos levaram a dial e cotidiana, e muito especialmente, uma
compreender que estamos no processo de Educação para a Saúde, em um universo de
transformação mais acelerado e mais vio- Educação Inclusiva. Este pensamento se en-
lento dos últimos tempos. Nesse sentido, contra também expresso em autores como

Saberes & Fazeres Educativos


o questionamento sobre se é possível uma Cid, Dapiá, Heras e Payá (2001).
Educação para o século XXI é extremamente Um dos mais interessantes autores argen-
importante e, sem dúvida, oportuno. tinos tem sido Daniel Filmus (1996) que, em
O autor espanhol Fernando Savater (2000, um texto pioneiro, falou sobre a Educação no
p.171) tem chamado a atenção de que a Edu- Terceiro Milênio. Chegou a conclusões signi-
cação é um fenômeno tão antigo quanto a hu- ficativas, que nos permitimos comentar.
manidade. Afirma que: “Os primeiros grupos Diz o autor que imaginar o futuro da socie-
humanos de caçadores/coletores educavam dade na moldura das profundas transforma-
seus filhos, assim como os gregos da época ções entre o século XX e o século XXI exige re-
clássica, os Astecas, as Sociedades Medievais, alizar um exercício próximo à ciência-ficção.
25

o Século das Luzes ou as nações ultra-tecno- Como Carneiro (2001) salientou, ele também
logizadas contemporâneas, [...], esse processo nos chama a atenção de que as vertiginosas
de ensino não é uma mudanças sociopolíticas e científico-tecno-
É possível uma edu- simples transmissão lógicos que estamos vivendo nos propõem
cação para o terceiro de conhecimentos ob- em enorme desafio, desafio sem precedentes
milênio?
jetivos ou de destrezas a qualquer tentativa prospectiva.
Para Filmus (1996), a razão mais funda- pedagógico, que Quando pensamos
mental está nas futuras formas de produzir e passam pelos ide- na educação nas próxi-
distribuir conhecimento. Segundo ele, é uma ais que foram tra- mas décadas, estamos
das maiores criações da humanidade, que se zidos pelas teorias imaginando um sistema
educativo de qualidade
encontra imersa no processo de mudança da modernidade
homogênea para toda a
mais acelerado dos últimos tempos. e pós-modernida- sociedade ou em múlti-
Temos, neste momento, três interessantes de. Se encontram plos sistemas educativos,
dimensões: a primeira – o reconhecimento também no estudo cada um dirigido a outro
do sujeito humano como base e processo de científico do cé- segmento da população?
toda a educação; a segunda – aprendizagem rebro humano e,
com possibilidade de crescimento e, muito muito especialmente, na Teoria do Caos.
especialmente, de significação individual e Consequentemente, a educação do Novo
social e, por último, a terceira – o valor do Milênio está intimamente ligada aos condi-
conhecimento. cionantes sociopolíticos, já que o futuro não
Estas dimensões se unem àquilo que Fil- depende unicamente do avanço da Tecnolo-
mus denomina os três processos de predição gia e da Ciência, senão da forma como a so-
do futuro: o primeiro é o científico-tecnoló- ciedade decide estes conhecimentos se de-
gico; o segundo sociopolítico; o terceiro é o vam criar e distribuir. Afirma Filmus (1996,
conhecimento, propiciado através do fenô- p.3) que “O monopólio do conhecimento em
meno da Educação. nível planetário e no interior de cada uma das
Seria interessante comentar que o avanço sociedades passa a ser um elemento impres-
científico e tecnológico parece ser o principal cindível para concentrar ainda mais o poder
condicionante para definir o que vai ser ne- econômico e político”. E pergunta: Prevale-
cessário ensinar e aprender no futuro, como cerão as perspectivas democratizadoras ou
o tipo de instituições, trabalho pedagógico e contrariamente se verificaram as atuais ten-
tecnologias que serão encarregados de pôr dências para a diferenciação e marginaliza-
em andamento os novos conhecimentos. ção de amplos setores da sociedade? Quando
Isto traz perguntas muito importantes, pensamos na educação nas próximas déca-
como por exemplo: que novos tipos de ca- das, estamos imaginando um sistema edu-
pacidades, competências e conhecimento cativo de qualidade homogênea para toda a
exigirá o trabalho nas próximas décadas? sociedade ou em múltiplos sistemas educa-
Quais serão as profissões que desaparece- tivos, cada um dirigido a outro segmento da
rão e quais as que se criarão? Surgirão novos população?
paradigmas científicos tecnológicos que re- Estes questionamentos são muito impor-
Saberes & Fazeres Educativos

volucionarão a vida do homem? Os conheci- tantes porque mostram que os ideais de uma
mentos que atualmente possuímos serão no Educação do Futuro também repousa em
futuro curiosidade a serem estudadas? condicionantes que podem trazer abertura
Estes questionamentos estão muito liga- ou fechamento ao ideal de ser humano, mais
dos aos avanços das tecnologias que, cada voltados para o futuro e para sua interiori-
vez mais, penetram na nossa vida e fazem dade-exterioridade, cada vez mais humani-
com que sejamos admiradores perpétuos do zados.
nosso desconhecimento e ignorância. Se contemplarmos o panorama da Edu-
É, sem dúvida, necessário entender que a cação atual, podemos ver que se encontra
Educação do século XXI estará intimamente entremeado de muitas tendências e práti-
26

ligada às decisões políticas e econômicas, cas que conservam formas de agir mantidas
que são determinadas pelos grupos de poder pelas cultura em um ambiente de profunda
e pelas pressões populares. transformação e mudança. Queremos cha-
Os autores atuais, entre eles Antoni Colom mar a atenção de que o aspecto da conserva-
(2002), têm chamado a atenção sobre a cons- ção não é, de maneira nenhuma, desprezível,
trução e a desconstrução do conhecimento pois muitos dos aspectos educacionais se ali-
cerçam em uma tradição de valores que tem Educação ativo, capaz de decidir as suas
sentido em si próprios, mas que nem sem- possibilidades e seu destino e, sobretudo, a
pre se mostram flexíveis para as alterações possibilidade do pensamento teórico e abs-
e mudanças. trato ser mais valorizando, a capacidade de
O próprio Filmus (1996) nos alerta, neste pensar estrategicamente, planejar e respon-
momento de transição, é importante que a der criatividade a situações novas, com a
Educação se aperceba de que é necessária a possibilidade de compreender a totalidade
mudança, valorizando seu sujeito e a neces- e o inacabamento do conhecimento e des-
sária aprendizagem que ele deve fazer. pertando, cada vez mais, a curiosidade, a
O conhecimento, portanto, é o fator mais imaginação e a fantasia.
significativo para o mundo do futuro e este Este novo sujeito da Educação estava, des-
conhecimento terá que ser cada vez mais de há tempo, em gestação nas últimas déca-
democratizado e valorizado, como forma de das do século XX, herdeiras das utopias do
convivência na qualidade de vida das pesso- século XIX e herdeiras dos movimento do
as. século anterior.
Existe uma certeza cada vez mais afirma- A possibilidade de uma Educação para o
da, em quase todos os utopistas, que o co- Terceiro Milênio decorre da firme crença
nhecimento ocupará um lugar cada vez mais de que todos os seres humanos são capazes
importante no desenvolvimento das nações de poder aprender melhor a respeito de si
e nas condições de vida planetária, para to- mesmos e dos outros e, muito especialmen-
dos os seres humanos. Por isso, distintos te, levando em conta as novas descobertas
processos convergem para colocar a Educa- sobre o cérebro humano, de ativar as poten-
ção no centro da definição de um futuro não cialidades que possuímos e tratar de desen-
muito distante. volver as múltiplas habilidades, através de
Isto nos traz uma grande preocupação: concepções mais audaciosas e desafiadoras
que tipo de conhecimento será necessário do campo educacional.
nas próximas décadas? Este questionamen- Colom e Mèlich (1994) têm chamado aten-
to não é fácil de responder e, provavelmen- ção as novas Filosofias da Educação que en-
te, as respostas sejam todas tentativas. trariam no Terceiro Milênio e, muito acerta-
É interessante, entretanto, chamar a atenção damente, colocam a parábola do astronauta
de que o conhecimento atomizado, memorísti- e do náufrago. Para eles, o astronauta se fun-
co e enciclopédico está com os seus dias con- damenta nas tecnologias mais sofisticadas,
tados. O mais importante parece ser o conheci- olha o futuro e tenta abrir fronteiras não
mento em totalidade, atendendo os diferentes desbravadas pela humanidade, é autossu-

Saberes & Fazeres Educativos


tipos de inteligências e saberes, acreditando ficiente e deve tomar decisões inteligentes,
que o potencial humano de conhecimento é ex- fundamento nas qualidades de assimilação
traordinário e que de conhecimentos muitos especializados e
Todos os seres huma-
nos são capazes de poder
todas as pessoas no manejo de artefatos tecnológicos muito
aprender melhor a respeito têm o poder de complexos.
de si mesmos e dos outros ampliar a sua ma- Já o náufrago se encontra desorientado,
e, muito especialmente, le- neira de perceber acredita que deve chegar a algum lugar e
vando em conta as novas e sentir o mundo gostaria de estar em companhia e pisar solo
descobertas sobre o cére-
bro humano, de ativar as
que as rodeia. firme, é carente de instrumentos e apare-
potencialidades que possuí- Esta possibi- lhos técnicos que o ajudem e espera que os
27

mos e tratar de desenvolver lidade encontra outros o encontrem e o salvem.


as múltiplas habilidades, sua razão de ser Esta parábola proposta por estes dois au-
através de concepções mais na medida que tores espanhóis é muito ilustrativa do que
audaciosas e desafiadoras
do campo educacional.
acreditamos pode ser entendido por este novo sujeito
num sujeito da da Educação. Por isto cabe perguntar: como
ajudar anda mais o astronauta e como salvar A esta pergunta Carneiro (2001, p.36) res-
náufrago? ponde, comparando o saber e o conhecer:
Obviamente que isto nos traz situações ex-
tremamente desafiadoras ao tentar entender Saber Conhecer
que, neste princípio de Milênio, nós todos O Cânone Ocidental O Cânone Global
temos um pouco de astronautas e muito de
Funcionalismo O cérebro Gestalt
náufragos. Talvez tenhamos que questionar Cognitivo
seriamente o processo educacional, como
Conhecimento Correlação espaço-
porta aberta da cultura. Fragmentado temporal
Perguntamos então: a quem serve a Edu-
Padronização Autonomia
cação atual? Por qual caminho ela se dirige?
Que tipo de ideais ela persegue? Imposição de Liberação de diversidade
uniformidade e e Geração de criatividade
Estas são perguntas extremamente opor-
conformidade
tunas, em um exercícios de futurologia rea-
Linearidade Complexidade
lista. Temos repetido incessantemente que
as utopias, tanto criadas no mundo clássico,
quanto no mundo contemporâneo, são exer- Estas ideias mostram muito bem a transi-
cícios desejáveis, para poder chegar a um ser ção de um século para outro, de um milênio
humano mais completo e a uma sociedade de para outro. Se intensifica a ideia de uma nova
melhor qualidade. cultura, uma nova sociedade e um novo su-
Para finalizar sobre o questionamento ini- jeito para a Educação. Já estamos a caminho,
cial, diremos que é necessário compreender porém a estrada é árdua e precisamos apren-
o conhecimento como um fator de renova- der a caminhar caminhando. Este caminhar
ção e aperfeiçoamento na sociedade na qual não é apenas uma tentativa, mas uma inten-
nós vivemos e como uma antecipação de um ção de elaborar novas vias que levem a uma
futuro mais próximo. Por isso, acreditamos humanidade renovada.
na necessidade de maior participação entre
a Educação formal, o mundo do trabalho, a Considerações finais
capacitação de trabalhadores e a preparação Durante todo este texto a intenção de re-
de alternativas para as grandes minorias ex- fletir sobre a Educação no Terceiro Milênio.
cluídas. Este foi um exercício extremamente estimu-
Vemos uma Educação para o século XXI lante e que nos deixa a ideia já consagrada
como não somente viável, mas necessária dos quatro pilares da Educação, propostos
para as transformações que de avizinham. pelo relatório da UNESCO, destacados por
Saberes & Fazeres Educativos

Estes exercícios já foram realizados por di- Delors et al (1996), que são:
versos autores, inclusive por visionários da Aprender a Ser, como uma prioridade in-
Educação. Como será possível entender o temporal de construção constante do ser
processo educacional? humano; Aprender a Conhecer, estar ple-
namente inserido no processo científico
e no avanço tecnológico. Além disso, este
princípio apela à necessidade urgente de
novas fontes de informações, à diversidade
nos conteúdos, a novos modos de apren-
der numa sociedade em rede e à crescente
28

A quem serve a Educação importância dos trabalhadores do conheci-


atual? Por qual caminho ela mento; Aprender a Fazer, cria o terreno para
se dirige? Que tipo de ideais estabelecer um elo entre conhecimento e
ela persegue?
aptidões, aprendizagem e competências, co-
nhecimento codificado e tácito e o valor da
aprendizagem; e Aprender a Viver Juntos, • Ação e medidas destinadas não só à
em sociedades pluralistas. prevenção, mas também à diminuição
Eles resumem um desafio extraordinário da desigual distribuição de inteligên-
da nossa época. Segundo Carneiro (2001, cias nas nossas sociedades.
p.48): “[...]. Este pilar focaliza a edificação
Estas ideias apelam para uma Educação
dos lineares da coesão, em cuja a ausência
do Futuro que tenha como base o desenvol-
as comunidades não são viáveis, nem o seu vimento pessoal e cultural, em segundo lu-
desenvolvimento se realiza. Versa os valores gar, o desenvolvimento profissional e a pos-
nucleares da cidadania e da construção da sibilidade de empregabilidade sustentável.
identidade, graças aos processos de múlti- E, finalmente, ênfase no desenvolvimento de
pla participação. Em última análise, propor- uma Educação Social e Comunitária.
ciona a pré-condição para uma cultura da Portanto, como Escámez e Gil (2003), ape-
paz”. lamos a uma educação para Cidadania res-
Uma outra consideração a ser feita é que ponsável. Esta cidadania é o reconhecimen-
to de que todos os seres humanos tenham a
estes pilares nos levam à necessidade de
capacidade de desenvolver a sua ação e sua
aprender ao longo da vida que muito mais
atividade, em um protagonismo cada vez
importante que um sentido de alfabetiza- mais necessário e significativo.
ção ou uma educação continuada. Por isto Citando Mosquera e Stobäus (2002, p.92),
aprender ao longo da vida é tanto uma for- gostaríamos de dizer que uma das mais for-
ma de organizar a educação, como uma filo- tes tendências da Educação para o Terceiro
sofia da educação, não é só um preparo para Milênio pode vir a ser a Educação Social:
vida, mas a própria vida. “[...] que a Educação Social não é uma pana-
céia mas é uma possibilidade de melhorar
No entender de Carneiro (2001, p. 49), a vida de milhares de pessoas, atualmen-
te sem boas condições de vida, na grande
deve oferecer:
maioria, em nosso extraordinário planeta. O
• Diversidade de itinerários no tempo, ser humano não pode ser considerado como
no conteúdo e nos estilos de aprendiza- um objeto descartável, mas um ser que tem
gem; a potencialidade de conhecer-se e transfor-
mar-se e, ao realizar esta transformação,

Saberes & Fazeres Educativos


• Oportunidades contínuas para apren-
der; pode modificar sua sociedade e prever um
mundo melhor para as futuras gerações. A
• Participação da comunidade, descen- Educação Social, além de ser uma realidade,
tralização, diversificação de fontes de é uma utopia que foi pensada por inúmeros
financiamento e de oferta, consultas filósofos e pensadores sociais e podem aju-
democráticas sobre os fins e práticas da dar a dignidade humana penhorada no des-
educação; perdício”.
• Antídotos para desaprendizagens e Nossa última consideração é de que a
Educação no Terceiro Milênio deve ter a for-
para a perda de aptidões em vastos se-
29

ça para possibilitar o desenvolvimento do


tores das nossas sociedades;
talento e do gênio humano, ao mesmo tem-
• Novas dimensões sociais para a produ- po que acredita nos sentimentos e nos cora-
ção de conhecimentos e para aquisição ções de homens e mulheres que desejam o
de competências; melhor para a humanidade, no futuro.
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Hamilton Werneck1

As reações contra a globalização represen- maiores invasões sobre e-mails, telefonia,


tam a força da singularidade contra a intro- correspondência e tudo o que poderia, ao
missão, via meios de comunicação, nas vidas lado de uma vida saudável e simples, ser um
pessoais, naquilo que é mais íntimo. complicador para estados e nações às voltas
As informações aumentam a cada dia e, com o terrorismo.

Saberes & Fazeres Educativos


governos e empresas, acabam sabendo de O terror, pelos seus métodos e processos
quase tudo acerca de seus cidadãos e empre- usados, faz cair a autoestima das pessoas e,
gados. por incrível que pareça, seu combate pode
Se, de um lado, percebemos que a globali- ser levado pelas estradas cheias de comple-
zação é uma espécie de força da gravidade, xidades.
inevitável, portanto, de outro lado, as nossas Mas, como a autoestima de um professor
fronteiras individuais estão abertas a toda pode ser abalada, no decorrer de seu traba-
e qualquer invasão, sobretudo cultural. Isso lho, nas escolas? Se um professor desenvol-
nos choca e faz debilitar nossa autoestima ve um estilo de pensamento linear, dentro
por vermos nosso mundo mais íntimo devas- de uma visão segmentada e reducionista,
31

sado, sem pedido de permissão. em pouco tempo sentir-se-á defasado de


Fatos recentes, como dos ataques às torres seu tempo, enquanto os alunos não sabem o
gêmeas em Nova York, passaram a permitir porquê de aulas tão enfadonhas. Ao contrá-

1
Graduado em Pedagogia e Geografia; Orientador Educacional e Administrador Escolar. Pós-graduado
em Educação.
rio, se esse mesmo professor buscar a com- ao que fazemos e desenvolvemos procuran-
preensão do mundo através do pensamento do uma visão holística do mundo, onde va-
complexo, dentro de uma visão sistêmica e riáveis múltiplas e intervenientes devem ser
interdisciplinar, mostrará aos seus alunos consideradas no equacionamento dos pro-
um mundo diverso daquele concebido pelos blemas. Sem o pensamento complexo, a in-
livros de texto de décadas passadas. Em con- terdisciplinaridade e a colocação em prática
sequência, a vida desse professor, seu traba- de estudos dos temas transversais, será uma
lho e a visão de seus alunos acerca do mundo tarefa muito difícil.
serão, certamente, muito mais estimulantes Em seu livro da Artmed, Temas Trans-
para se continuar a buscar o novo dentro das versais, Rafael Yus nos indica uma série de
escolas. características positivas desse processo, ci-
Não se pode, ainda, falar em autoestima se tando Celório (1992), quando os analisa cul-
aquilo que se ensina não tem significado. turalmente:
O que mais pode tirar a autoestima de uma • a impugnação de um modelo global que
pessoa levando-a, possivelmente, à loucura é não seja solidário e que permita as desi-
a falta de significação para aquilo que se faz. gualdades sociais;
Se nós determinamos às pessoas que, pela
• todos os temas são educações de valores
manhã, transportem tijolos de um lado para
em que a apresentação de problemas fa-
outro, invertendo o trabalho, na parte da tar-
cilita o reconhecimento dos conflitos e
de, depois de alguns meses, pela total falta
educa através deles;
de significação desse ato, as pessoas estarão
estressadas, podendo algumas chegar à neu- • o rompimento de visões dominantes,
rose. tais como o androcentrismo, o etnocen-
Imaginemos, agora, aulas sem significa- trismo e várias formas de injustiça;
do, tarefas sem sentido aplicadas dentro de • reconhecimento da importância de fa-
salas para alunos sedentos de novidades e zer conexões com a realidade e provocar
convivendo com realidades virtuais e de in- a empatia;
formação com extrema rapidez. Nesse caso, Vê-se, claramente, como uma pessoa des-
certamente, professor e aluno estarão envol- comprometida acaba colocando-se contra os
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vidos pelo fantasma da perda da autoestima. temas transversais. Geralmente são pessoas
O doutor Roberto Shiniashiki chama a muito integradas aos sistemas dominantes e
atenção para a questão do desenvolvimento que não se interessam pelas transformações
das virtudes da alma. Seriam elas: o apren- da sociedade.
der a aprender, o pensamento estratégico, o O resultado disso será, sem dúvida, a con-
envolvimento com as equipes de trabalho, o vivência, dentro do magistério, com auto-
saber tocar mentes e corações, o comprome- -estima baixa e sem estímulo para trabalhar
timento com resultados e o amor ao próxi- e buscar a sua formação continuada. Serão
32

mo. pessoas que, infelizmente, poderão trazer


Se algum de nós, professores, desejarmos em seu peito a data de validade vencida.
manter nossa autoestima precisamos redi- Assim, a escola e os alunos não suportarão
recionar nosso trabalho em conjunto com muito tempo. O profissional do magistério,
nossos colegas e alunos, dando significado também.
Educação Ambiental: muito
mais que uma aula de ecologia...
Cidiane Troczinski1

No fundo, o que a Educação Ambiental persegue é o es-


tabelecimento de um novo estilo de vida, que reconheça
os nossos limites como espécie eucultural2.

A Conferência Nacional de Educação – CO-


NAE/2010, é precedida por conferências
municipais e estaduais, e tem como tema
central: Construindo o Sistema Nacional Ar-
ticulado de Educação: O Plano Nacional de
Educação, Diretrizes e Estratégias de Ação.
Além do Tema Central, a CONAE tem seis Ei-
xos Temáticos em que, para cada eixo, serão
organizados vários colóquios, com o propó-
sito de garantir aprofundamentos teóricos
necessários à análise das propostas, bem
como para subsidiar as deliberações da CO-
NAE.
O sexto eixo traz como tema Justiça Social,
Educação e Trabalho: Inclusão, Diversidade
e Igualdade. Uma das questões que esse eixo
aborda, é a Educação Ambiental e traz, na ín-
tegra, o seguinte texto:

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Quanto à Educação Ambiental:
a) Possibilitar, por meio de recursos
públicos, a implementação e acompanha-
mento da Lei da Política Nacional de Edu-
cação Ambiental (Lei n. 9795/1999).
b) Introduzir a discussão sobre Educa-
ção Ambiental na política de valorização d) Estimular a participação da comu-
e formação dos profissionais da Educa- nidade escolar nos Projetos Pedagógicos
ção. e nos planos de desenvolvimento insti-
c) Garantir programas de Educação tucionais, contemplando as diretrizes da
33

Ambiental nas instituições de Educação Educação Ambiental.


Básica e nas de Ensino Superior. e) Garantir a oferta do Ensino Médio,

1
Graduada em Ciências Biológicas, especialista em Interdisciplinaridade na Educação, em Mídias na
Educação, e mestranda em Políticas y Administración en la Educación.
2
Ph.D. Genebaldo Freire Dias, 2004.
articulado ou integrado à Formação Téc- o intuito de preser-
Os Parâmetros Cur-
nica profissional nas áreas agroflorestal, var-se o meio am-
riculares Nacionais su-
ecológica, de sociedade sustentável, para biente uma vez que, gerem que o assunto
elaboração e gestão de projetos de forta- sem ele estar em sobre Meio Ambiente
lecimento comunitário nas reservas ex- condições adequa- seja trabalhado como
trativistas. das, não será possí- um tema transversal, ou
seja, abordado, refletido,
f) Assegurar a inserção de conteúdos e vel a Vida na Terra.
dominado por todas as
saberes da Educação Ambiental, nos cur- Basta atentar aos áreas do conhecimento,
sos de Licenciatura e Bacharelado das meios de comunica- de forma interdisciplinar.
instituições de Ensino Superior, como ati- ção, sejam escritos
vidade curricular obrigatória. ou falados, e cons-
g) Promover, nos estabelecimentos tatar a enorme degradação.Tal constatação é
públicos e privados de Educação Básica, possível também quando se percorre o cami-
uma Educação Ambiental de caráter críti- nho até o trabalho ou escola. É só observar a
co e emancipatório, que tenha por função quantidade de agressões ao meio ambiente.
esclarecer a comunidade sobre os impac- Os Parâmetros Curriculares Nacionais su-
tos provocados pelo uso de agrotóxicos, gerem que o assunto sobre Meio Ambiente
de organismos geneticamente modifica- seja trabalhado como um tema transversal,
dos, e a presença do latifúndio no campo ou seja, abordado, refletido, dominado por
brasileiro. todas as áreas do conhecimento, de forma
h) Articular ações, projetos e progra- interdisciplinar, dada a importância e a com-
mas de Educação Ambiental nas esferas plexidade de que a questão se reveste, não
federal, estadual e municipal, em sinto- sendo possível o seu real entendimento a
nia com as Diretrizes do Programa Nacio- partir de uma visão fragmentada, ou seja, a
nal de Educação Ambiental (Pronea) e a partir de, apenas, uma disciplina. Nos Parâ-
Política Nacional de Educação Ambiental metros, a crise ambiental é redimensionada
(Pnea), de acordo com a Lei Nacional de como uma crise civilizatória, afinal, se o am-
Educação Ambiental. biente que nos circunda está em degrada-
i) Inserir uma concepção de desenvol- ção, isso ocorre pela ação do ser humano. O
vimento sustentável, articulado com a homem ainda continua acreditando que é o
política e a orientação nacionais que vêm centro do Universo; ele não se sente parte, e
sendo apontadas pelo Conselho Nacional sim, dono do meio em que vive.
de Desenvolvimento Rural Sustentável, e O ser humano é, apenas, mais uma espécie
suas Diretrizes e, no caso específico dos nessa biodiversidade. Sendo assim, os pro-
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povos do campo, pela Política Nacional blemas sociais, existentes hoje, tais como a
de Desenvolvimento Sustentável dos Po- pobreza, discriminação por raça e por credo,
vos e Comunidades Tradicionais (Decreto marginalização da infância e da mulher, en-
6.040/07). tre tantos outros, devem fazer parte de uma
j) Assegurar a compra direta da meren- Política de Educação Ambiental. Devem fazer
da das escolas públicas com o agricultor parte do currículo escolar de todos os níveis
familiar e as organizações familiares, pro- de Ensino.
dutoras de alimentos orgânicos e agroe- Por isso é que falar, hoje, sobre Meio Am-
cológicos, utilizando recursos federais, biente e Educação Ambiental, é muito mais
estaduais e municipais, como uma ação que deter-se ao
34

de implementação da Educação Ambien- meio físico ou bio- O homem ainda conti-


tal. lógico que nos ro- nua acreditando que é o
deia: é incluir as centro do Universo; ele
não se sente parte, e sim,
Vive-se em uma época em que não se pre- relações sociais, dono do meio em que
cisa muito para argumentar a favor da ne- econômicas, po- vive.
cessidade de uma mudança de hábitos, com líticas e culturais,
de forma transdisciplinar em que nenhuma do Interior, e tinha o objetivo de esclarecer e
área se sobressaia a outra. Uma mudança de orientar a respeito do uso adequado aos re-
valores seria importante, pela qual se resga- cursos naturais. Em 1981, a Política Nacional
tasse a sacralidade da natureza, celebrada de Meio Ambiente estabeleceu a necessida-
em algumas culturas nas quais impera o res- de de inclusão de Educação Ambiental em
peito por toda e qualquer espécie. todos os níveis de ensino. No início da dé-
As questões em pauta devem partir da con- cada de 90, época da Eco-92, foram criadas
textualização dentro de um espaço e de um duas instâncias no Poder Executivo: o Grupo
tempo, considerando-se as esferas micro e de Trabalho de Educação Ambiental do MEC
macro. Devem-se considerar as articulações e a Divisão de Educação Ambiental do IBA-
dinâmicas que existem nas relações entre os MA. Em 1992, foi criado o Ministério do Meio
envolvidos e, principalmente, as intenções Ambiente.
subjacentes. Finalmente, em 1999, foi criada a Diretoria
Não é novidade para ninguém, que vive- do Programa Nacional de Educação Ambien-
mos num mundo movido pelo poder do con- tal – ProNEA, e, em abril de 1999, foi aprova-
sumo e da acumulação de riquezas. E, nesse da a Lei n° 9.795/99, em disposição à criação
panorama, imperam as ideologias capitalis- da Política de Educação Ambiental.
tas. Quanto ao desenvolvimento sustentável, E foi nesse contexto que iniciaram deba-
precisa-se perguntar: Desenvolvimento que tes, ao nível internacional, no intuito de de-
se sustente para quem? Em quais áreas se finir metas e ações coletivas para reduzir
almeja desenvolvimento? Desenvolvimento os impactos ambientais desastrosos. Foram
a preço? Que concepção se tem de desenvol- inúmeras conferências; porém, destaca-se,
vimento? aqui, a de 1992, realizada no Brasil (a Rio-
Um Desenvolvimento Sustentável signi- 92) também conhecida como a ECO-92, ou
fica desenvolvimento social, econômico e Conferência das Nações Unidas sobre Meio
ambiental, de forma congregada. “O binômio Ambiente e Desenvolvimento, que reuniu
produção-consumo termina gerando uma um número bem expressivo de países. Des-
maior pressão sobre os recursos naturais sa conferência surgiu, entre outros, a Agenda
(consumo de matéria-prima, água, energia 21 Global, para servir de base na criação das
elétrica, combustíveis fósseis, desfloresta- Agendas Nacionais.
mentos, etc.), causando mais degradação A Agenda 21 brasileira tem seis eixos que
ambiental. Essa degradação reflete-se na servem como base para as discussões:
perda da qualidade de vida, por condições 1) Gestões dos Recursos Naturais.
inadequadas de moradia, poluição em to- 2) Agricultura Sustentável.

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das as suas expressões, destruição de habi- 3) Cidades Sustentáveis.
tats naturais e intervenções desastrosas nos 4) Infraestrutura e Integração Regional.
mecanismos que sustentam a vida na Terra” 5) Redução das Desigualdades Sociais.
(DIAS, 2004, p. 96). 6) Ciência e Tecnologia para o Desenvolvi-
Nos fins do século XIX, o Brasil tinha um mento Sustentável.
pensamento conser- Percebe-se a forte presença do termo De-
Quanto ao desenvol- vacionista. No sé- senvolvimento Sustentável, utilizado pela
vimento sustentável, culo XX, sobretudo primeira vez no documento Nosso Futuro
precisa-se perguntar: na década de 70, o Comum, elaborado pela Comissão Mundial
Desenvolvimento que
pensamento passou sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,
se sustente para quem?
35

Em quais áreas se al- a ser ambientalista. iniciado em 1980 e concluído terminado em


meja desenvolvimen- Em 1973, o Poder 1987. Nesse documento, afirma-se que só
to? Desenvolvimento a Executivo criou a Se- poderá haver Desenvolvimento Sustentável
preço? Que concepção cretaria Especial do se houver sustentabilidade ambiental, sus-
se tem de desenvolvi-
Meio Ambiente, in- tentabilidade econômica e sustentabilidade
mento?
serida no Ministério sociopolítica.
A Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, que professores, independentemente da área de
dispõe sobre a Educação Ambiental e institui atuação. Há muitos professores “analfabe-
a Política Nacional de Educação Ambiental, tos socioambientais”. Prova disso é a falta de
encarece sobre a importância de a Educação discernimento da maioria dos professores
Ambiental não se restringir a uma discipli- em como identificar um problema socioam-
na e muito menos a se limitar aos aspectos biental e, a partir dele, criar uma teia de re-
de ecologia. Frisa a responsabilidade de to- lações objetivando as possíveis soluções. Ou,
das as esferas governamentais de incentivar por outro lado, é a falta de discernimento
ações de prevenção, identificação e solução em detectar-se um causador de um proble-
de problemas ambientais. ma socioambiental. De poder ver a realidade
Fica claro, nessa Lei, que os Estados, os sem alienação, sem ideologias políticas ou de
Municípios e o Distrito Federal, na esfera de sistemas econômicos.
sua competência, definirão diretrizes, nor- Há uma preocupação em desvendar os me-
mas e critérios para a Educação Ambiental, canismos de como a criança aprende e quais
respeitando os princípios e objetivos da Polí- são os obstáculos que impedem ou dificul-
tica Nacional de Educação Ambiental. tam o processo de aprendizagem e, talvez,
Diante do exposto, podem-se fazer algu- se esteja esquecendo o que a criança está
mas considerações acerca das Políticas Pú- aprendendo... Quem sabe, se resolveriam
blicas voltadas à Educação Ambiental. “No problemas com indisciplina e bulling nas es-
entanto, não é mais possível, atualmente, colas, na medida em que as crianças e ado-
uma política simplista. Sob a pressão de lescentes se envolvessem mais na compre-
uma população humana que está crescendo ensão e participação naquilo que as rodeia.
ininterruptamente, e de uma tecnologia em Na medida em que os professores tomassem
perpétua evolução, as “reservas” estão sen- consciência de que a Vida é o conteúdo prin-
do atacadas, uma após outra: suas barreiras cipal a ser trabalhado em sala de aula; que
são violadas e os limites corroídos a tal pon- ensinar, aprender e vivenciar são processos
to que as medidas de proteção se tornaram indissociáveis, e que, por isso, não se pode
rapidamente inoperantes” (DORST, 1973, p. ensinar algo que não se aprendeu e, se não se
333). aprende, é porque não vivencia... Paulo Frei-
Multiplicam-se os discursos em prol da re já atentava para o fato de que a leitura do
conservação e preservação do Meio Ambien- mundo deveria preceder a leitura da palavra.
te, assim como também criam-se cada vez Faz-se necessário superar a concepção de
mais planos, projetos, programas, leis que, ambiente como mera externalidade onde
normalmente, não se efetivam, ou que cau- comparecem apenas florestas, rios, solo, di-
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sam um impacto quase imperceptível. versidade biológica, e venha a se conceber


Não se pode negar que há uma sintonia ambiente como espaço que é igualmente
nas proposições do CONAE/2010 com os Pa- processo e no qual atuam relações de po-
râmetros Curriculares Nacionais, Agenda 21, der, ou seja, onde tudo isso tem implicações
e a Lei que dispõe sobre a Educação Ambien- sociais, econômicas, culturais, simbólicas e
tal; no entanto, a im- ecológicas. Em outras palavras, ambiente as-
A Vida é o conteúdo plementação de uma sim concebido não é redutível ao mero nível
principal a ser traba-
EA significativa ain- ecológico, embora este último seja um aspec-
lhado em sala de aula;
que ensinar, aprender e da parece distante. to importante do primeiro. Outro aspecto de
vivenciar são processos Defende-se tanto grande importância, na prática da Educação
36

indissociáveis, e que, uma Educação Am- Ambiental, e que requer sérias mudanças de
por isso, não se pode biental interdisci- posturas e atitudes:
ensinar algo que não se
plinar, mas pouco Educação Ambiental não é somente desen-
aprendeu e, se não se
aprende, é porque não se oferece de For- volver um projeto sobre Água, Lixo, Plantas,
vivencia... mação Acadêmica e Animais. Não se acaba numa Feira de Ciên-
Continuada para os cias. Educação Ambiental só acontece quan-
do hábitos na es- Ambiental Urbana e a do Campo do municí-
Educação Ambiental
não é somente desen- cola, na família, no pio? Conhece-se as ONGs que trabalham em
volver um projeto so- professor, no aluno prol de questões ambientais no município?
bre Água, Lixo, Plantas, – são modificados A escola atende alunos oriundos do campo?
Animais. Não se acaba permanentemen- Como aborda os conteúdos dessa realidade?
numa Feira de Ciências. te, qualificando as São conhecidos in loco os problemas socio-
Educação Ambiental só
acontece quando hábitos relações entre os ambientais do campo? O que se sabe sobre
na escola, na família, no seres, e estes com Educação do Campo?
professor, no aluno – são o meio em que vi- Como se pode constatar se uma Política
modificados permanen- vem. Pública Ambiental, ou se uma Educação Am-
temente, qualificando as Ainda: existe biental está sendo implementada, se nem se
relações entre os seres, e
estes com o meio em que uma práxis coe- sabe do que tratam essas questões?
vivem. rente, de Desen- Ainda, uma nova postura frente às ques-
volvimento Sus- tões ambientais só é possível se houver uma
tentável em nossas nova postura de produção e consumo: e isso
escolas? E em nosso município? Ou seja, os faz parte de uma cultura. Então, Educação
problemas ambientais, considerando-se as Ambiental também é uma questão cultural.
articulações dinâmicas das esferas micro e E, tão importante quanto oportunizar a re-
macro, são contextualizados no Currículo flexão sobre os princípios de Educação Am-
de nossas escolas? De que forma? Quais são biental, é constatar se a práxis é coerente, ou
os principais problemas socioambientais da seja, o que se defende teoricamente se exer-
Escola, do Município, do estado, do País...? E cita no cotidiano escolar e fora dele. Afinal, a
como são trabalhados (de forma processual, escola deve transcender os muros. Esta é a
projeto, disciplinar...)? sua principal função: construir conhecimen-
Conhece-se a Proposta Política Pedagógica tos para a Vida, e não para serem memori-
da escola e sabe-se, ou não, se ela contempla zados, devolvidos na forma de provas, trans-
uma Educação Ambiental? formados em notas para se poder passar de
Conhece-se o Conselho Municipal de Meio série.
Ambiente? E o mais importante: conhece-se Aí está o grande desfio para os educado-
o seu trabalho? Tem-se interesse em partici- res: apreender e aprender o que ensinam e
par? Conhece-se a Política Agrícola, a Política ensinar pelo exemplo dentro e fora da escola!

Referências
AGENDA 21. Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.
BRASIL: Secretaria de Educação Fundamental.
Parâmetros Curriculares Nacionais: meio
Saberes & Fazeres Educativos
Organização das Nações Unidas, Rio de Janeiro, ambiente e saúde. Brasília: DF
1992. BRASIL: Ministério da Educação e do Desporto.
AYRES, F. G. S. & FILHO, J. B. B. (2007). O exercício (1998). A implantação da Educação Ambiental
das liberdades, o combate à pleonexia no Brasil. Brasília: DF
e a educação ambiental no processo do DIAS, Genebaldo F. (2004). Educação Ambiental:
desenvolvimento. Revista Brasileira de princípios e práticas. 9ª Ed. São Paulo: Gaia
Ciências Ambientais. Nº 7, Agosto. DORST, Jean (1973). Antes que a natureza morra:
BRASIL: Comissão Nacional Organizadora. por uma ecologia política. (R. Buongermino,
37

Conferência Nacional da Educação Básica, trad.). São Paulo: Edgard Blucher.


2010. Brasília: DF
BRASIL. Lei nº. 9.795 de 27 de abril de 1999.
Dispõe sobre a educação ambiental, institui a
Política Nacional de Educação Ambiental e dá
outras providências.
A aprendizagem matemática
com o auxílio tecnológico
Luciomar Vargas Jobim1

O interesse em buscar novos métodos de o ensino de Matemática, que, na maioria das


dinamização, requer dedicação e amor à pro- vezes, são escassas e muito tradicionais e não
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fissão, este é o grande desafio do professor apresentam bons resultados na construção


educador. do conhecimento. O emprego de softwares
Os avanços tecnológicos atuais levam a matemáticos, aliado a um bom planejamento
refletir sobre o papel das tecnologias no en- pelo professor, oferece ao aluno um novo am-
sino de Matemáticas. Os softwares educacio- biente para a construção do conhecimento,
nais surgem como uma nova linguagem no proporcionando a visualização de algumas
processo de ensino-aprendizagem; por isso, aplicações matemáticas, o que possibilita
é fundamental que o professor procure se uma melhor compreensão conceitual, dando
aliar e se adaptar ao uso dessas ferramentas maior significação aos conteúdos estudados
informatizadas, pois essa utilização remete e uma concretização efetiva do conhecimen-
38

os educadores ao desenvolvimento de novos to prévio construído pelo aluno.


métodos pedagógicos, com ênfase na visua- A aprendizagem é um processo construtivo
lização, suprindo a falta de atividades para no qual o sujeito constrói seu conhecimento


1
Graduado e pós-graduado em Matemática e Física pela Universidade Regional Integrada de Erechim –
URI. Professor da Rede de Ensino Municipal e Estadual.
através de interações, e tais interações de- conceitos. Muitas vezes, o aluno consegue
pendem de suas ações e reflexões. “Todo co- aprender através dos conhecimentos já exis-
nhecimento é ligado à ação de conhecer um tentes; por outro lado, em outras vezes, esse
objeto ou evento á assimilá-lo a um esquema conhecimento não consegue auxiliar o alu-
de ação... Isto é verdade do mais elementar no na compreensão de conceitos e teoremas
nível sensório motor ao mais elevado nível matemáticos, pela falta de relações matemá-
de operações lógico-matemáticas” (PIAGET, ticas mediante visualização, que lhe permite
1967, apud GRAVINA e SANTAROSA, 1988). uma nova estratégia para a construção do
O conhecimen- conhecimento.
A aprendizagem é um to matemático é A utilização do computador, como ferra-
processo construtivo no construído, ini- menta de aprendizagem, permite que a abs-
qual o sujeito constrói cialmente, através tração se torne, de certa forma, concreta e,
seu conhecimento atra-
vés de interações, e tais
de objetos concre- segundo Papert (1988), é a possibilidade de
interações dependem de tos e, na sequên- “mudar os limites entre o concreto e o for-
suas ações e reflexões. cia, vão se elabo- mal”, ou seja, o objeto estudado, através de
rando conceitos e um software matemático, torna-se concreto-
teoremas através -abstrato. Segundo Hebenstreit (1987), apud
de objetos abstratos. Isso se dá em um pro- Gravina e Santarosa (1988), “o computador
cesso evolutivo em que o sujeito identifica permite criar um novo tipo de objeto, os ob-
alguns casos particulares que vão se genera- jetos concreto-abstratos”. Concretos, porque
lizando para outros casos semelhantes e se existem na tela do computador e podem ser
confirmam após inúmeras tentativas de de- manipulados; abstratos, por se tratar de rea-
monstração e através de erros e acertos. lizações feitas a partir de construções men-
No processo de ensino-aprendizagem, o tais. Devido à manipulação desses objetos,
aluno começa a construir o conhecimento o aluno pode construir o conhecimento, fa-
através dos objetos concretos que, em nosso zendo relações de hipóteses a partir de suas
meio, aparecem em todos os lugares. Porém, reflexões mentais.
no decorrer da construção desse conheci- O uso do computador auxilia, também, na
mento, tais objetos já não mais auxiliam o aprendizagem dos conteúdos que oferecem
entendimento de alguns conceitos matemá- possibilidades de interação com objetos físi-
ticos. É então que o aluno precisa usar sua cos, permitindo a transposição destes para o
capacidade mental de raciocínio, construin- meio virtual, no qual podem ser investigados
do hipóteses e abstraindo informações para e explorados de maneira mais rápida, exata e
concretizar, mentalmente, esses conheci- significativa.

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mentos. Historicamente, o ensino de Matemática
A construção do conhecimento se dá atra- aborda os conteúdos trabalhados, na grande
vés de dois processos: o conhecimento ma- maioria das vezes, de maneira tradicional,
temático socialmente aceito – “conceito/ pela qual o professor repassa ao aluno co-
definição” – e o conhecimento construído nhecimentos a partir de símbolos e cálculos
através de processos cognitivos individuais mecânicos, apoia-
...“o computador per-
– “conceito/ima- dos em livros didá-
A construção do co- mite criar um novo tipo
gem”. Segundo Vin- ticos, de forma que de objeto, os objetos
nhecimento se dá atra-
vés de dois processos: o
ner (1991), apud o estudante tende a concreto-abstratos”.
conhecimento matemá- Gravina e Santaro- apresentar dificul- Concretos, porque exis-
39

tico socialmente aceito – sa (1988), em rela- dades em transpor tem na tela do compu-
“conceito/definição” – e tador e podem ser mani-
ção aos conceitos, tais conhecimen-
o conhecimento constru- pulados; abstratos, por
a aprendizagem tos, adquiridos para se tratar de realizações
ído através de processos
cognitivos individuais –
se concretiza pelo aplicações reais, feitas a partir de cons-
“conceito/imagem”. equilíbrio dos dois pois ele não tem ne- truções mentais.
permitem a visualização de representações
geométricas de diferentes formas, “a transi-
ção continua entre estados intermediários
é um recurso importante dos programas de
representação dinâmicos, sob o ponto de vis-
ta cognitivo” (KAPUT, 1992, apud SCHEFFER,
2002).
No processo interativo do aluno com o am-
biente informatizado, a reação do Sistema
funciona como um “sensor”, de acordo com
Gravina e Santarosa (1998) e, frente às ma-
nipulações feitas pelo aluno, essas reações
nhuma experiência prática e concreta para são simplesmente de certo ou errado. Por-
construção de hipóteses e relações matemá- tanto, é preciso um raciocínio mental muito
ticas. grande para buscar caminhos e encontrar
A utilização das tecnologias favorece nesse as devidas soluções. Dessa maneira, o aluno
sentido a aprendizagem do educando frente passa a construir hipóteses, criando relações
a conceitos e teoremas não compreendidos conceituais através de suas próprias ações e
através do ensino tradicional, já que oferece reflexões, chegando ao que se chama de con-
um ambiente informatizado em que o aluno cretização mental.
interage, de forma Segundo Gravina e Santarosa (1988), os
A utilização das tec- dinâmica, com o softwares matemáticos, principalmente os
nologias favorece nesse conteúdo, passan- de Geometria, possuem um recurso de “cap-
sentido a aprendizagem do a manipular os
do educando frente a turação de procedimentos”, que possibilita
objetos, antes es- ao aluno uma retomada das construções ge-
conceitos e teoremas não
compreendidos através táticos, vendo suas ométricas, feitas por ele no ambiente infor-
do ensino tradicional... formas de vários matizado, de maneira que possa identificar
ângulos, podendo e refletir sobre os conflitos cognitivos exis-
abstrair melhor as tentes.
informações e construir o conhecimento de A utilização das tecnologias para o ensino
maneira mais efetiva e eficaz. de Matemática, em particular para o ensino
O meio pelo qual se desenvolve a apren- de Geometria, sugere algumas possibilida-
dizagem influencia, de modo substancial, a des para o melhor aprendizado dos alunos e,
construção de conceitos e teoremas matemá-
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de acordo com Azinian (1998), existem qua-


ticos, e a representação dinâmica, proposta tro possibilidades.
pela utilização das tecnologias, tem reflexos
nos processos cognitivos, principalmente na
concretização mental dos conhecimentos
construídos pelo aluno.
Um aspecto importante na Matemática é a
abstração dos conceitos que se apresentam
de forma invariável e que podem apresentar
uma forma variável, ou seja, tradicionalmen-
te os conteúdos de Geometria, por exemplo,
40

são vistos e estudados sob um único ponto


de vista; porém, sabe-se que estes podem
ser estudados de diversos ângulos. As re-
presentações dinâmicas, proporcionadas
pela utilização dos softwares matemáticos,
A primeira delas são a interatividade e a informatizado, no
Hoje a Informática
imediatez com que o aluno consegue mani- qual o aluno tem abrange uma grande uti-
pular os objetos em estudo, tendo um con- a possibilidade de lização de ferramentas
trole sobre suas ações, obtendo respostas explorar, investi- que auxiliam o ensino da
imediatas e agindo em busca de caminhos gar, interagir e fa- Matemática; entre elas,
para a construção de hipótese e relações, zer suas próprias os sensores e os softwa-
res educacionais que au-
chegando ao conhecimento. conclusões, com a xiliam na construção do
A segunda trata da capacidade de arma- devida orientação conhecimento.
zenamento e recuperação de informações, do professor.
possibilitando a revisão de todos os proce- É necessário
dimentos realizados por ele; possibilitando, que o professor faça uma análise e uma esco-
também, uma compreensão melhor, através lha criteriosa do software a ser utilizado com
da visualização das transformações ocorri- o auxílio pedagógico, pois a utilização dessa
das que formam uma série de imagens acu- ferramenta tecnológica para a aprendizagem
muladas no decorrer do processo de cons- matemática deve contribuir para uma cons-
trução geométrica. trução adequada do conhecimento, estando
A terceira se refere às múltiplas formas de de acordo com os conceitos teóricos e aplica-
representação: textual, gráfica, tabular, audi- ções matemáticas. Esse software deve ser de
tiva, icônica e espacial em um mesmo softwa- fácil utilização, de acordo com a série e ida-
re, que permitem ao aluno uma construção de dos alunos, apresentando uma linguagem
mais significativa, levando-se em conta, tam- coerente e clara, com uma interface propícia
bém, a sua maneira de captar as informações à investigação, com comandos de fácil mane-
no processo de sua aprendizagem cognitiva. jo e entendimento, para favorecer a sua ex-
A quarta possibilidade é a de polivalência ploração.
e versatilidade, pois o mesmo software pode É importante destacar que as tecnologias,
ser utilizado inúmeras vezes para diferentes como calculadoras gráficas e computadores,
enfoques no estudo da geometria. são recursos que promovem a reflexão so-
Os Parâmetros Curriculares Nacionais bre os significados matemáticos a partir de
(PCNs) apontam os Recursos Tecnológicos resoluções de problemas, em situações de
de Informação e Comunicação (TIC’s) como interação entre professor e aluno. Hoje a In-
uma das possibilidades de ensinar Mate- formática abrange uma grande utilização de
mática em sala de aula, porque auxiliam no ferramentas que auxiliam o ensino da Mate-
processo de construção do conhecimento e mática; entre elas, os sensores e os softwares

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promovem a autonomia do estudante. educacionais que auxiliam na construção do
A utilização de softwares, para a aprendiza- conhecimento.
gem matemática, vem sendo muito defendi- Segundo Miskulin (2003), a utilização de
da atualmente, por proporcionar um suporte tecnologias no Ensino possibilita uma maior
pedagógico que pode aproximar mais o pro- reflexão, elaboração, construção, reconstru-
fessor da realidade ção e interpretação de problemas, estabe-
Os Recursos Tecnológi- do aluno de hoje, lecendo-se uma nova cultura profissional e
cos de Informação e Co- sendo, essa ferra- novas maneiras para atuar no meio educa-
municação (TIC’s) como
menta tecnológica, cional. De acordo com Scheffer et al. (2004),
uma das possibilidades
de ensinar Matemática uma grande aliada o uso das tecnologias é fundamental porque
41

em sala de aula, porque em sala de aula e, inverte a ordem de exposição da Teoria, per-
auxiliam no processo de também, por pro- mitindo, primeiro, a experimentação e, de-
construção do conheci- piciar a construção pois, a construção de conceitos, tornando a
mento e promovem a au-
do conhecimento aula investigativa, crítica e cooperativa.
tonomia do estudante.
em um ambiente A escola que oferece um ambiente infor-
matizado, possibilita ao aluno uma formação xílio das tecnolo-
O uso das tecnologias
com o perfil exigido pelo mercado de traba- gias, possibilita é fundamental porque
lho atual, que busca um indivíduo em conta- uma maior inte- inverte a ordem de ex-
to com as tecnologias, pois, segundo Cláudio ração entre pro- posição da Teoria, permi-
e Cunha (2001), essas tecnologias deixaram fessor e aluno, o tindo, primeiro, a expe-
rimentação e, depois, a
de ser um modismo para fazerem parte das que é propício a
construção de conceitos,
necessidades de um profissional qualificado. uma aprendiza- tornando a aula investi-
Os softwares educativos são considera- gem mais dinâmi- gativa, crítica e coopera-
dos, atualmente, uma grande ferramenta ca, passando o co- tiva.
para promover a compreensão e a constru- nhecimento a ter
ção do conhecimento matemático e, segun- mais significado.
do Scheffer e Pedroso (2006), apud Scheffer O uso dessas tecnologias possibilita ao
et al.(2006), podem ser definidos como um professor um planejamento pedagógico com
conjunto de recursos informatizados cujo maior desenvolvimento crítico, com consci-
objetivo é facilitar a aprendizagem, ao pro- ência de sua utilização, de sua importância
moverem o desenvolvimento de habilidades e dos benefícios para a aquisição do conhe-
essenciais para a formação do aluno, como cimento e atribuição de significado. O plane-
resolução de problemas, leitura, imaginação, jamento pedagógico, realizado com o auxí-
criatividade e raciocínio lógico, podendo, o lio das tecnologias, promove uma interação
mesmo, participar de todas as fases da cons- maior do aluno com a Matemática, possibi-
trução do conhecimento, desde a formulação litando-lhe diferentes formas de raciocínio,
de um problema até sua conclusão. ampliando as manifestações comunicativas,
A utilização de softwares educacionais in- sendo que as investigações e as explorações,
centiva o aluno a interagir com os conteúdos realizadas através do software, facilitam a
matemáticos, através da investigação e ex- compreensão dos conteúdos propostos.
ploração, auxiliando no entendimento dos O desenvolvimento de atividades, apoia-
conteúdos de difícil compreensão, aplicação das na utilização das Tecnologias de infor-
prática e demonstração, pois a aprendiza- mação e comunicação (TICs), auxilia, de
gem depende do nível de interação e explo- forma dinâmica, a aprendizagem do aluno,
ração dos softwares. principalmente porque proporciona uma
A prática pedagógica, realizada com o au- construção de conhecimentos por meio de
Saberes & Fazeres Educativos
42
hipóteses e relações feitas por ele mesmo, o A qualidade da
que é essencial para o raciocínio cognitivo, Educação pres- A qualidade da Educa-
ou seja, para as construções mentais. A uti- supõe a busca de ção pressupõe a busca de
novos métodos de ensino
lização de softwares educacionais no ensino novos métodos de
através da pesquisa, da
de Matemática torna o processo de ensino- ensino através da utilização de ferramentas
-aprendizagem do aluno mais eficaz, porque pesquisa, da utili- tecnológicas, proporcio-
lhe possibilita a construção de seu próprio zação de ferramen- nando ao ensino de Ma-
conhecimento, por meio da manipulação de tas tecnológicas, temática a elaboração de
atividades exploratórias e
objetos no meio virtual. proporcionando ao
construtivas.
Todavia, para que as Tecnologias de Infor- ensino de Matemá-
mação e Comunicação ganhem sentido no tica a elaboração
ensino de Matemática, é necessário que o de atividades exploratórias e construtivas,
professor se planeje de forma coerente com tornando as aulas mais dinâmicas e atraen-
o que se propõe, com organização e compe- tes, permitindo um estudo mais abrangente
tência. Estruturando seu planejamento, em de conceitos e teorias, possibilitando uma
função de um software escolhido de maneira aprendizagem com maior significado, contri-
criteriosa e responsável, o professor auxi- buindo para a construção do conhecimento
lia o aluno a alcançar o seu objetivo que é a científico e tecnológico do aluno.
construção do conhecimento.

Referências

AZINIAN, Herminia. Capacitación docente para MISKULIN, R G. S. As possibilidades didático-


La aplicación de tecnologias de La información pedagógicas de Ambientes Computacionais
en El aula de Geometría. 1988. na Formação Colaborativa de Professores
de Matemática. In: FIORENTINI, D. (Org).

Saberes & Fazeres Educativos


Formação de Professores de Matemática.
CLÁUDIO E CUNHA, D. M.; CUNHA, M. L. As novas Campinas, SP: Mercado de Letras, 2003.
tecnologias na formação de professores de
matemática. In: CURY, H. N (Org.). Formação Papert, S. Logo: computadores e educação.
de Professores de Matemática – uma visão Editora Brasiliense, 1988.
multifacetada. Porto Alegre, RS: EdilPucRS,
2001. p. 167-190.
Parâmetros Curriculares Nacionais, Matemática:
Ensino de Quinta a Oitava Séries. Ministério
de Educação e Cultura/Secretaria de Educação
43

GRAVINA, Maria Alice e SANTAROSA, Lucila


Fundamental. Brasília: 1998, p.148.
Maria. A aprendizagem em ambientes
informatizados. 1988.
SCHEFFER, Nilce F. et al. Matemática e
Tecnologias: Modelagem Matemática.
Erechim/ RS: EDIFAPES, 2006. Série Didáticos.
A importância da estimulação
na Educação Infantil
Teolides Kurek1

A estimulação, nos primeiros anos de vida, tem uma relação muito próxima com o entu-
é uma forma de organizar os ideais das crian- siasmo de quem a realiza. Só assim a criança
ças, abrir espaço para autonomia e motivar a forma conceitos, seleciona ideias, estabelece
imaginação e a criatividade. São momentos relações lógicas, vai se socializando.
pedagógicos que levam o ser humano ao en- “Brincar significa aprender, se desenvol-
contro de seu potencial. Quando se cria uma ver, é uma forma de relacionarmos com o
situação que desafia o educando, abre-se um mundo” (DELIBERADOR apud PETIT e LO-
leque para a interação do seu próprio mundo PES, 2003 p. 74).
com o mundo real, em que o papel do educa- É brincando que a criança desenvolve a
dor é proporcionar o momento mais impor- imaginação, fundamenta afetos, explora as
tante ao fazer da criança. O brincar compre- habilidades, elabora conflitos e ansiedades,
ende o verdadeiro sentido da estimulação, demonstrando angústias e sofrimento que
e a afetividade é a chave para se chegar ao ela não sabe como explicitar. A brincadeira
alcance dos objetivos. bem conduzida estimula a memória, exal-
Quanto mais lúdica for a atividade, melhor ta sensações emocionais, desenvolve a lin-
será a forma de a criança aprender, relacio- guagem, a criatividade, pois compreende-se
nada a brinquedos, jogos e, brincadeiras aprendizagem como construção de significa-
em que a criança mostra o seu jeito de ser, dos, quando esta transforma sensações em
aprender regras, desenvolvendo o social, a percepções, junto com os elementos do brin-
inteligência, a coordenação , a autoconfiança, car que são: memória, emoção, linguagem,
pelo simples prazer e satisfação de brincar. atenção, criatividade, motivação e, sobretu-
As brincadeiras ofe- do, a ação.
O brincar compreen- recidas devem estar O brinquedo é a oportunidade de desen-
de o verdadeiro sentido
da estimulação, e a afe-
de acordo com a fai- volvimento, quando este momento é esti-
xa etária em que ela mulado. Brincando, a criança experimenta,
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tividade é a chave para


se chegar ao alcance se encontra, a fim de descobre, inventa, aprende e confere habili-
dos objetivos. estimulá-la para o dades. É uma forma de divertimento típico
desenvolvimento. da infância. Isto é uma atividade natural, que
Entende-se que a ludicidade é importan- não implica compromissos, planejamento e
te para a saúde mental do ser humano: é o seriedade e que envolve comportamentos
espaço e o direito de toda a criança para o espontâneos e geradores de prazer. Para
exercício da relação afetiva com o mundo, (KISHIMOTO, 1994), o brinquedo supõe uma
com as pessoas e com os objetos. As ativi- relação íntima com a criança e uma indeter-
dades lúdicas, quando prazerosas, criam um minação quanto ao uso, ou seja, à ausência
clima de entusiasmo que é motivador para o de um sistema de regras que organizam sua
44

desenvolvimento emocional, e a estimulação utilização.

1
Graduada em Pedagogia – Habilitação : Docência na Educação Infantil – Formação Pedagógica do
profissional docente – Gestão Educacional. Pós-graduada em Educação Interdisciplinar com ênfase em
Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental. Professora da Rede Municipal de Ensino de Getúlio
Vargas.
Além dos brinquedos da ludicidade, os aprender e desenvolver-se. Por isso, são im-
livros infantis também oferecem a estimu- prescindíveis as interações ao longo de sua
lação, através de uma viagem pelas mara- formação. O convívio em grupo na escola,
vilhas da linguagem, da imaginação, que para as crianças na primeira infância, é alta-
alfabetizam, educam, transmitem valores mente positivo, pois, além de estimular o so-
morais e divertem, tudo ao mesmo tempo. cial e o intelectual, reflete também no emo-
Rste é um dois estímulos mais importantes cional.
que a Escola de Educação Infantil pode ofe- Segundo Piaget, “a capacidade cognitiva
recer. “A construção de uma auto-imagem humana se desenvolve, não nasce pronta”. A
positiva requer que, na escola as crianças ideia do autor é de que o conhecimento não
tenham experiências em situações que lhes nasce pronto no sujeito, nem no objeto, mas
permitam ganhar confiança em suas capaci- origina-se da interação sujeito/objeto.
dades e que sejam vistas como crianças com Uma Escola de
O educador é como
possibilidades”(BASSEDAS; HUGUET; SOLÉ, Educação Infantil,
espelho: reflete as vi-
1999). preocupada com a vências, as emoções,
Ensinar sempre é um desafio como o edu- estimulação, tanto as percepções e as
cador se compromete mediante uma práti- para portadores de representações das
ca pedagógica centrada nos estímulos e no necessidades espe- crianças.
vínculo afetivo com a criança, tornando os ciais ou não, precisa
momentos das atividades prazerosos e signi- cada vez mais: respeitar as diferenças; acei-
ficativos, sempre considerando a história de tar os “erros” como instrumento para cons-
vida, o desenvolvimento, individualidades e trução do conhecimento; valorizar situações
dificuldades de cada criança. de questionamento e de reflexão para se te-
A oportunidade de a criança ser estimu- rem novos caminhos à aprendizagem; olhar
lada tem uma fase específica ( de zero a seis para a criança como um todo nas diferentes
anos) enquanto seu cérebro está cheio de ja- situações, ter um olhar diferente para cada
nelas abertas, prontas para o conhecimento uma; valorizar os conhecimentos respeitan-
e a informação. Não se pode perder a oportu- do a história de vida individual. O educador
nidade, pois, quando estimulada, a criança é é como espelho: reflete as vivências, as emo-
mais ativa, dinâmica, realiza melhor as ativi- ções, as percepções e as representações das
dades propostas, é mais segura, tem boa so- crianças.
cialização, é autônoma e tem personalidade. Segundo a concepção de Celéstin Freinet,
O papel do professor é de suma importância: “a criança é da mesma natureza do adulto.
é ele quem cria os espaços, disponibilizando Ela é como uma árvore, que ainda não termi-

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materiais, participando das brincadeiras ou nou o crescimento, mas que se defende como
seja, faz a mediação da construção do conhe- uma árvore adulta” (FREINET apud SANTOS,
cimento. 2005).
À medida que as crianças vão crescendo, Educa-se na verdade, pelo que se é: os me-
elas passam por diversos estágios de de- lhores jogos de estimulação são as ações ,
senvolvimento. Cada um deles dá a elas os atitudes e ideias do educador. Estar sempre
fundamentos da in- atento, pois estimular não é somente o ler,
O papel do profes- teligência, da moral, o escrever, mas é toda a caminhada que a
sor é de suma impor- da saúde e das com- criança faz na sua trajetória para chegar até
tância: é ele quem cria
os espaços, disponi- petências escolares. a leitura e o escrito. Esse é, pois, o verdadeiro
45

bilizando materiais, Para cada estágio papel da estimulação.


participando das brin- são necessários de- Enfim, cabe ao educador planejar, ob-
cadeiras ou seja, faz a terminados requisi- servar, registrar as atividades realizadas e
mediação da constru- tos e experiências. acompanhar de que maneira as crianças in-
ção do conhecimento.
Isso para que as vestigam o mundo. É assim que as crianças
crianças consigam do Berçário III da Escola Municipal de Edu-
cação Infantil Cônego Stanislau Olejnik pro- nesse espaço que constroem seus territó-
curam descobrir o significado das coisas. rios e suas identidades; vivem a vida dentro
O papel do educador desse Berçário é o de de uma cultura, considerando sempre que a
receber e conviver com as crianças peque- escola infantil é um lugar onde as crianças
nas, auxiliando-as a construir a si e ao seu aprendem regras de convívio social, a inte-
dia a dia num ambiente aconchegante, tran- grar-se; a trabalhar em grupos e a dividir a
quilo e pleno de materiais que agucem a sua professora, os brinquedos e os materiais; a
curiosidade. cuidar das suas coisas, como organizar, em-
A brincadeira surge a partir das relações prestar e guardar. Nessa idade, nem sempre
interpessoais e do conhecimento da reali- é fácil, mas, dentro de uma determinada ro-
dade, associadas às ações e ficções: agem, tina, busca-se o alcance dos objetivos pro-
socializam-se, e os brinquedos orientam. É postos.
Saberes & Fazeres Educativos

Referências
KISHIMOTO, T.M. Jogo, Brinquedo, Brincadeira e SCHIAVO, Adriana Noronha; RIBÓ, Cristi ane
Educação. 6. Ed. São Paulo: Cortez, 1994. Escamilhas. Esti mulando todos os senti dos de
BASSEDAS, Eulália; HUGUET, Teresa; SOLÉ, Isabel. 0 a 6 anos. Campinas, 2007. Disponível em :
46

Aprender e ensinar na educação infanti l. Porto <http://alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_


Alegre: Aritmed: 1999. anteriores/anais16/sem13pdf/sm13ss17_01.
pdf> . Acesso em : 7 nov. 2011.
MONTOYA, Adrian Oscar Dongo. Teoria da
aprendizagem de Jean Piaget. São Paulo:
Unesp, 2009.
O uso das fotografias em sala de aula
Helena Pokoieski1

A invenção da fotografia passou a ser con- balho de reconstituição da história do Bair-


siderada uma verdadeira revolução tecnoló- ro Nossa Senhora Consoladora e como foi
gica, pois com ela pensava-se que o homem usada para compreender a história e as mo-
teria a mais fiel reprodução do mundo que o dificações que o tempo e a ação do homem
cercava. Antigamente, “tirar uma fotografia” provocaram nesse lugar.
era um ato raro e, por isso, motivo de festa, O trabalho foi desenvolvido, no ano de
de se preparar física e emocionalmente, pois 2011, com a turma de 2ª série da EMEF An-
tal imagem seria “eternizada”. tonio Zambrzycki.
Atualmente, com a rapidez dos avanços na O uso da fotografia na reconstituição e
tecnologia, encontram-se inúmeros aparatos compreensão da história do Bairro
tecnológicos que permitem registrar as mais Durante o ano letivo, um dos grandes obje-
variadas situações do cotidiano. E esse novo tivos da turma da 2ª série foi estudar o Bair-
contexto sociocultural permite, também, re- ro, o seu entorno, as relações que são esta-
pensar a Escola e as práticas pedagógicas. belecidas entre Escola e Bairro, conhecer a
Muitos alunos encontram dificuldades na história desse lugar através das narrativas
leitura, na compreensão, interpretação e re- dos sujeitos que fazem parte dele e de sua
flexão das temáticas em estudo. O trabalho história. Para tanto, a turma realizou pas-
com fotografias é uma estratégia lúdica e sig- seios de estudos, mapeamento de pessoas
nificativa de ler o mundo, de provocar o alu- que moram há mais de trinta anos no local,
no para a compreensão, interpretação e re- fez entrevistas, gravadas em áudio e vídeo, e,
flexão dos fatos, através do uso das imagens. com os dados obtidos, iniciou a construção
È uma forma de explorar a imaginação, a da linha do tempo do Bairro, entre outras ati-
oralidade, o debate coletivo e fazer conexões vidades.
entre a arte e o cotidiano do aluno, entre o No trabalho de reconstituir a história do
contexto social e as histórias de vida. Bairro Nossa Senhora Consoladora, foi fun-
Oliveira afirma que “[...]explorar a fotogra- damental o uso da fotografia concomitante-

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fia em sala de aula seria permitir a troca de mente com as demais atividades que foram
experiências, a interação, a construção do sendo desenvolvidas. Foi necessário utilizar
conhecimento a partir de algo que os alunos e explorar elementos multimídias e ter aten-
conhecem e dominam que é a tecnologia, se- ção para aspectos visuais na exploração da
ria a promoção da compreensão da realida- reconstituição da história e na produção de
de em que está inserido e discutir com eles materiais educacionais que priorizassem a
o seu papel como participante dessa socie- aprendizagem dos alunos.
dade” (p.06). O ato de resgatar fotografias antigas re-
Considerando-se que a linguagem foto- montou memórias individuais e grupais,
gráfica faz parte da história das pessoas e do pessoais e familiares, de convivências, de
47

cotidiano dos alunos, o objetivo das ativida- momentos de lazer ou de trabalho, o que re-
des que serão apresentadas é reconhecer e avivou os sentimentos dos moradores mais
analisar como a fotografia contribuiu no tra- antigos dessa comunidade. Muitos se emo-

1
Graduada em Pedagogia. Especialista em Planejamento e Gestão da Educação, e em Mídias na Educação.
Professora da Rede Municipal de Ensino de Getúlio Vargas.
cionaram ao falarem do passado, do que fa- Assim, pode-se dizer que fotografar é um
ziam, com quem conviviam, de rememorar ato de autoria. Trabalhar com fotos feitas pe-
fatos e histórias ocorridos.. los próprios alunos, auxiliou a aguçar o olhar,
O uso da máquina fotográfica contribuiu compreendendo melhor o universo que se
para realizar o registro das características está pesquisando, já que o ato de fotografar
atuais desse espaço geográfico, possibilitan- mostra que a realidade pode ter inúmeros
do que alunos e moradores do Bairro reco- ângulos, múltiplas faces e interpretações.
nhecessem e analisassem as modificações O uso das fotografias constituiu-se em
geográficas e ambientais que ocorreram, uma experiência instigante e motivadora
ao longo dos anos, em decorrência da ação para fazer a leitura de mundo, a leitura e a
do homem no meio ambiente, dos avanços compreensão da realidade, no caso, o Bairro.
tecnológicos, dos investimentos que foram Ao explorar o meio, através das fotos anti-
sendo realizados pelo Poder Público para a gas procurou-se explorar todos os aspectos
melhoria de vida de sua população como: a possíveis, sempre identificando o local, o
abertura de ruas, calçamento, iluminação, ano e as pessoas do contexto. Dessa manei-
arborização, investimento no comércio, etc. ra, os alunos puderam realizar um trabalho
Trabalhar com tais recursos auxiliou na de interpretação, de observação e também
compreensão de conceitos de espaço e de de escuta, pois as imagens colocam-se como
localização. Através da comparação de fotos forma de compreensão das experiências e
antigas com fotos atuais, pôde-se constatar a memórias vividas no passado, para que se
atual situação do Bairro. Para a realização de compreenda o presente.
tal trabalho, foi necessária a ajuda dos pró- As fotografias também serviram de mate-
prios moradores, para que o registro feito, rial ilustrativo nas produções realizadas so-
antigamente, de determinados lugares do bre o Bairro, sobre as entrevistas realizadas
bairro, pudesse hoje ser identificado. as que foram sendo publicadas no blog da
Através das fotografias, pode-se consta- escola, no jornal da Escola. As imagens re-
tar que o cenário do Bairro mudou muito. cuperadas entre os moradores mais antigos
As mudanças físicas são visíveis. Pode-se do Bairro e as que foram sendo feitas pelos
verificar, por exemplo, nos locais onde an- alunos tornam-se, além de uma forma de co-
teriormente havia poucas casas, hoje há um nhecer o mundo, uma fonte documental de
povoamento muito maior. A arquitetura das registrar o mundo, registrar a realidade e os
casas modificou-se, as ruas não são as mes- acontecimentos históricos ocorridos.
mas. Anteriormente, eram pequenas trilhas Outras atividades interessantes a serem
pelo potreiro, de chão batido, passando para destacadas, em relação ao trabalho com as
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as ruas cascalhadas e, hoje, em sua maioria, fotos, é a montagem da galeria dos presiden-
estão pavimentadas. tes da Associação Amigos do Bairro Nossa
As fotos também vieram confirmar o que Senhora Consoladora, através da busca de
muitos moradores afirmaram quanto a uma fotos dos presidentes que já não mais mo-
das principais atividades de subsistência das ravam na cidade com seus familiares, e o ato
famílias, antigamente: a criação de gado lei- de fotografá-los no momento da entrega de
teiro, aliada à atividade agrícola. questionários e da entrevista, realizada na
Outro aspecto interessante, observado no Escola, com dois dos presidentes da Associa-
trabalho, é como as pessoas buscaram reto- ção.
mar o tempo, as datas em que as fotos foram Também foi montado, com o auxílio do
48

“tiradas”. Na maioria delas não havia ano- software em PowerPoint, um material do-
tações de quanto tempo eram os registros. cumental sobre as mudanças ocorridas no
Então foi observado o tamanho das crian- Bairro em termos geográficos, com o uso das
ças, quem eram as pessoas na foto, as fraldas fotos antigas e as que foram sendo feitas du-
estendidas que significavam a existência de rante o ano letivo.
criança na casa, as casas dos vizinhos, etc.
O papel dos recursos das
mídias destacou-se como
ferramenta para a recons-
trução de memórias histó-
ricas e do entrelaçamento
conflituoso entre o antigo e
o novo, e favoreceu, de for-
ma significativa, a aprendi-
zagem e o emprego de novas
formas de se trabalhar com
a área de Estudos Sociais.

Saberes & Fazeres Educativos

Referências

MORAN, José Manuel. Ensino e aprendizagem OLIVEIRA, Suely Marcolino Peres. A fotografi a
inovadores com tecnologias. Disponível em no ensino de Língua Portuguesa. Disponível
49

<http://www.eca.usp.br/prof/moran/inov. em: htt p://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/


htm>. Acessado em: 24/ jun./2011. portals/pde/arquivos/119-2.pdf. Acessado
MORAN, José Manuel. O vídeo na sala de em 10/10/2011.
aula. Revista Comunicação e Educação. São TEDESCO, Jaó Carlos. Nas cercanias da memória:
Paulo: ECA-ED. Moderna, [2]p. 27 a 35, jan./ temporalidade, experiência e narração. Passo
abr./1995. Fundo:UPF, 2004.
Exigir Nota Fiscal é mais que um direito:
é exercer a Cidadania
Mariza Dassi1
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A Educação é uma prioridade no mundo cação Fiscal, do qual necessitamos obter in-
inteiro para o preparo de cidadãos capazes formações e conhecer, de fato, quais são seus
de estarem não só na expectativa de serem fins, no intuito de despertar para a consciên-
favorecidos, mas atuando como sujeitos de cia fiscal.
transformação, cumprindo com seus deve- A Escola, como um dos espaços educativos
res, contribuindo, assim, na realização de de construção de conhecimento e reflexão
50

mudanças sociais. crítica da situação vigente da comunidade,


Entrelaçado com a Educação, nas mais di- desenvolve o Projeto Nota Fiscal que possi-
versas instituições, está o Programa de Edu- bilita a forma de refletirmos sobre os direi-

1
Graduada em Pedagogia – Anos Iniciais – UPF. Professora da Rede Municipal de Ensino de Getúlio
Vargas.
tos e deveres como cidadãos, a função social tivos, jogos , construção de mascote e cam-
dos tributos e dos benefícios públicos como panha de Nota Fiscal (recolhimento e troca
a aplicação de seus recursos. por cupons) concorrendo, assim, a prêmios
Diante disso, sensibilizar a comunidade oferecidos pelo Poder Público Municipal.
escolar para a Função Social do Tributo, com De acordo com a série, foram trabalhados:
vista à formação do estudante ao exercício os impostos, a Nota Fiscal, o sistema mone-
da cidadania, orientando-o as habilidades tário brasileiro, a cidadania, o uso racional
que devem ser construídas na efetivação da do dinheiro, a democracia, vídeos, histórias,
autonomia e pleno exercício da cidadania, quebra-cabeças, construções textuais, fra-
ressaltando para a importância de se exigir ses, músicas , desenho do mascote da Nota
a Nota Fiscal, independentemente da idade Fiscal. Além disso, realizou-se a arrecada-
dos envolvidos, é o objetivo do trabalho que ção de notas fiscais, pelos alunos, que foram
vem sendo desenvolvido na Escola Munici- por cupons para concorrer a prêmios. Como
pal de Ensino Fundamental 15 de Novembro. mais um ponto positivo parte informar e
A Educação Fiscal, apesar de parecer um conscientizar sobre a importância de se exi-
assunto difícil de ser compreendido pe- gir a Nota Fiscal nas compras, a turma da 1ª
los alunos de séries iniciais, permite, desde série Nível II, arrecadou um montante de
cedo, colocar em prática uma metodologia 304 cupons e, no dia 20 de julho de 2011, foi
dinâmica e concreta para se trabalharem o contemplada através de sorteio com o valor
conceito e a prática global da cidadania com de R$2.000,00. Valor, este, que foi revertido
as crianças. A transversalidade permite co- na compra de mercadorias de 1ª necessida-
nhecer mais sobre os impostos que se pa- de (sugeridas com muita alegria pelos pró-
gam, além de ensinar a cobrar o retorno em prios alunos) com a finalidade de incentivar

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melhores políticas públicas, com base pri- e aprimorar, ainda mais, a educação dos mes-
meiramente na pesquisa, para que os profes- mos. Eles receberam um kit escolar conten-
sores obtenham o conhecimento necessário do mochila, estojo, guarda-chuva, galocha,
para, então, poderem estar interagindo com meias, lápis de cor, canetinhas, e brinquedos
a comunidade escolar, através de atividades de boa qualidade, entre outros.
lúdicas, recreativas, esportivas, visitas ao “Educação Fiscal é também aprender a ge-
comércio, questionários, análises, reflexão, renciar suas próprias economias, participar
51

investigação, construção de textos, paródias, das ações dos governos e buscar uma qua-
leitura, campanhas, filmes, dramatizações de lidade de vida melhor através de ações res-
histórias em quadrinhos, softwares educa- ponsáveis”.
Saberes & Fazeres Educativos

Referências
52

FONTANELA, Francisco Ricieri. Finanças NOGUEIRA,Margarete Iara França. Fundamentos


Públicas:Lições introdutoras desti nadas aos de educação Fiscal. Mato Grosso do Sul: SEBC,
docentes do Programa de Educação Fiscal. 2002.
Versão 69.Florianópolis,2000.
Hábitos saudáveis começam na infância
Elizamara Ulrich Grigoleto1

Quem é que não gosta de comer? Comer a quantidade e qualidade dos alimentos que
é bom demais, mas em época de consumo se costuma ingerir, e fazer com que os alu-
de produtos industrializados e de fast food nos procurem se adequar a uma alimentação
em excesso, o grau de obesidade da popula- mais equilibrada.
ção brasileira vem aumentando bastante. O Compreende-se que o hábito de uma ali-
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís- mentação adequada e saudável e, com a in-

Saberes & Fazeres Educativos


tica (IBGE), em 2011, apresentou resulta- gestão de alimentos variados, seguros, que
dos de pesquisa sobre hábitos alimentares respeitem a cultura, tradições e hábitos ali-
da população brasileira, afirmando que a mentares saudáveis, favorece o desenvolvi-
obesidade está aumentando não apenas na mento sustentável. Com incentivos para a
população adulta, como também em crian- aquisição de gêneros alimentícios diversifi-
ças e adolescentes. Por isso, o cuidado com cados, produzidos em âmbito local e, prefe-
a alimentação, aliado à prática regular de rencialmente, pela agricultura familiar e pe-
atividade física, é fundamental para a manu- los empreendedores familiares, objetiva-se
tenção da saúde. Nesse sentido, a proposta possibilitar uma melhor qualidade de vida
da SMECD, através do Departamento de Ali- para os alunos e familiares, implantando-se
53

mentação Escolar, na Semana de Alimenta- políticas de qualidade alimentar e nutricio-


ção/2011, foi de propor uma reflexão sobre nal, buscando-se a participação da socie-


1
Responsável pelo Setor de Merenda da SMECD - Getúlio Vargas.
dade civil como agente corresponsável no to, que devem ser ingeridas diariamente. Na
processo (Conselho de Alimentação Escolar base da pirâmide, localizam-se os alimentos
– CAE) e complementando-se a alimentação energéticos (carboidratos), contando entre 6
dos alunos de modo a contribuir para que e 11 porções a serem consumidas; alimentos
permaneçam na escola, tenham bom desem- reguladores como as frutas, legumes e ver-
penho e bons hábitos alimentares. duras, que fornecem vitaminas, minerais e
Assim, trabalhou-se em 2011, com a temá- fibras, devendo somar entre 5 a 9 porções;
tica: “ Alimentação saudável, qualidade de os alimentos construtores são aqueles ricos
vida com produtos caseiros”, enfatizando, a em proteínas, e as porções diárias devem ser
partir da contação da história “No tempo em 2 de leite e 2 de carne. Os energéticos extras
que a televisão mandava em Carlinhos”, que aparecem no topo da pirâmide: são os açú-
hábitos saudáveis começam na infância; que cares e os doces que devem ser consumidos
crescimento e desenvolvimento saudável com bastante moderação. As gorduras são
significam alimentação saudável. Nesse livro, necessárias em pequena quantidade; por-
Ruth Rocha alerta, com muito humor, sobre a tanto, também é preciso ficar alerta com o
importância da educação para o consumo e consumo excessivo. Outro fator importante é
da conscientização a respeito da propagan- tomar consciência da quantidade de calorias
da enganosa. Nesse sentido, falou-se sobre a diárias que devem ser ingeridas. Por isso, ve-
guerra dos alimentos industriais X naturais, rificar a composição nutricional de alimen-
conversou-se sobre a origem, a energia para tos industrializados, antes de consumi-los, é
brincar e estudar (carboidratos e proteínas) sempre interessante. Dar preferência àque-
e o perigo dos alimentos industrializados les com menor quantidade calórica, menor
(muita gordura, muito sódio, muito açúcar). quantidade de gordura e maior quantidade
Foram repassadas informações sobre os de fibras.
alimentos responsáveis por fornecerem ao
corpo os nutrientes:
1) Carboidratos: são encontrados em ve-
getais, frutas, pães, cereais, arroz, massas e
leite. Entre 50% e 65% da energia necessária
ao corpo é fornecido por eles. Deve-se lem-
brar que esses são fundamentais para um
bom funcionamento das funções cerebrais.
2) Proteínas: são necessárias para o cres-
cimento e para o reparo das células deterio-
Saberes & Fazeres Educativos

radas, além de auxiliarem na digestão e na


produção dos anticorpos. São encontradas
nas carnes, leite, ovos e frutas secas. Forne-
cem entre 10% a 15% da energia necessária
ao corpo;
3) Lipídios: são as gorduras responsáveis
por fornecer ao corpo uma grande concen-
tração de energia alimentar. Neles encontra- Fonte: Google imagens: anutricionista.com.br
mos as vitaminas A, D, E e K, além de auxi-
liarem na reestruturação dos tecidos. Não E como colocar tudo isso em prática? Ela-
54

devem fornecer mais de 30% de energia ao borar um pequeno diário, relacionando os


organismo. alimentos consumidos e analisá-los em con-
O panorama dessa estrutura alimentar fronto com a pirâmide alimentar é um ótimo
pode ser visualizado por meio da pirâmide meio para que se tome consciência do quanto
alimentar. Ela apresenta, de um modo bastan- a alimentação está equilibrada. A identifica-
te visual, as porções de cada tipo de alimen- ção e consciência da dieta diária, em relação
à dieta ideal, dada pela pirâmide, permitem dos. As fibras também são importantes para
a melhoria da alimentação e, consequente- o organismo, principalmente para a função
mente, da qualidade de vida. intestinal.
Incentiva-se o consumo de alimentos de Concluindo, após se compararem os bis-
origem caseira, com a degustação de uma coitos e outros alimentos, recomenda-se o
bolacha caseira de milho, feita pela agroin- consumo do biscoito caseiro por ser mais
dústria de Lucimar Vitalli, fornecedora de saudável do que os biscoitos industrializa-
alguns alimentos para a merenda escolar dos. E isso serve, também, para os outros
do Município. Desafiam-se os alunos a ana- alimentos. Deve-se sempre dar prioridade
lisarem os rótulos nutricionais, fazendo- para alimentos naturais, principalmente fru-
-os perceber que o biscoito caseiro oferece tas e verduras, para que, assim, as crianças
mais carboidratos do que o industrializado, e adolescentes tenham um bom crescimen-
bem como maior quantidade de proteínas to e desenvolvimento. Não só para crianças
e fibras. E que os carboidratos dão energia e adolescentes, mas para toda a população,
para exercer as funções do dia a dia, e que as uma boa alimentação é sinônimo de SAÚDE.
proteínas têm a função de reconstruir teci-

Saberes & Fazeres Educativos


55

Referências

Guia Alimentar para a População Brasileira; Guia Alimentação Saudável; Educação Alimentar em Meio
Escolar Referencial para uma Oferta Alimentar Saudável, outubro de 2006.
Alfabetização x Identidade
Ivete Terezinha Mistura Banaszeski 1

Ler e escrever envolvem um processo con- compreensão da leitura e da escrita, pois são
tínuo de construção e reconstrução, com levados em conta a letra inicial, a letra final, o
normas próprias do código linguístico. Um tamanho do nome, o número e variedade de
dos aspectos mais importantes a ser consi- letras utilizadas, as semelhanças e diferen-
derado, no processo de alfabetização, é que o ças entre os nomes, a organização das letras
aluno como sujeito ativo e pensante constrói em determinado nome; enfim, são muitas as
o seu conhecimento sobre leitura e escrita. relações entre as partes e o todo, que auxi-
A construção desse conhecimento não é liam a criança no processo de aprendizagem.
fácil, tampouco simples. Trata-se de uma A criança cria uma relação com a letra inicial
aprendizagem complexa, individual e subje- do seu nome, que passa a chamá-la e “minha
tiva que exige troca de informações, estímu- letra”.
lo e motivação. Aprendizagem é um proces- Para Russo (2010, p 61) “além do signifi-
so de apropriação do conhecimento que só cado afetivo, histórico, social e familiar, entre
é possível com o pensar e o agir do sujeito outros, o nome do alfabetizando é uma pala-
sobre o objeto que quer conhecer. vra que , ao ser percebida por ele como mo-
Trabalhar com o nome da criança é ajudá- delo estável e imutável de escrita e de leitura,
-la a reconhecer-se como um sujeito impor- colabora qualitativamente com seu processo
tante, que possui um nome que é só seu, que de construção da alfabetização.”
marca sua identidade e sua história de vida. Através do estudo dos nomes, os alfabeti-
Como o nome é algo significativo na vida zandos buscam pistas, formulam hipóteses,
de cada um de nós, e muito valorizado, é im- pois neles se encontram variadas sílabas
portante que se inicie o processo de aqui- (simples e complexas), dificuldades orto-
sição de leitura e escrita com ele, mas que gráficas que precisam ser trabalhadas com
essas atividades possam estar presentes no naturalidade, pois, para as crianças, seus no-
decorrer do ano letivo, logo no início do pro- mes não configuram nenhuma dificuldade, e
Saberes & Fazeres Educativos

cesso. sim, refletem modos diferentes de relacionar


O nome próprio tem uma característica as letras, assim como em qualquer outra pa-
própria, tem uma regularidade (quantidade lavra.
de letras, posição e ordem de cada uma, po- Foi pensando nisso que, neste trabalho,
sição do início que é sempre da direita para desencadeou-se uma série de atividades en-
a esquerda); por isso, muito bom de ser tra- volvendo o nome da criança, seus colegas e
balhado. familiares, muitas já conhecidas pela maio-
O trabalho com o nome gera uma rela- ria dos professores (cruzadinhas, acrósticos,
ção de identidade da criança com a leitura e crachá, bingo, histórias matemáticas, rimas)
escrita. Seu nome e o nome dos colegas da e outras que foram readaptadas e/ou cria-
56

turma se tornam pistas importantes para a das.

1
Graduada em Pedagogia e especialista em Psicopedagogia. Professora do EAP- Espaço de Apoio
Pedagógico da Escola Municipal de Ensino Fundamental Antonio Zambrzycki. Professora da Classe Especial
da Escola Estadual Fundamental Érico Veríssimo, e integrante do Grupo de Estudos em Alfabetização da Rede
Municipal de Ensino.
Vendo a satisfação das crianças, ao perce- em relação à atividade subsequente,com o
berem seus nomes envolvidos nas atividades, nome do ajudante do dia, me senti desafiada
e as expectativas criadas diante da novidade a criar algumas atividades e socializá-las.

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57
Saberes & Fazeres Educativos
58

Referências

RUSSO, Maria de Fáti ma. Alfabeti zação: um processo em construção. São Paulo: Saraiva, 2010.
Semana Farroupilha:
cultivando nossas tradições
Janete Jevinski1

1º ACAMPAMENTO FARROUPILHA Aliado ao nobre escopo de cultuar nossas


tradições, tínha-se um grande desafio que
Com o objetivo de preservar nossos cos- era o de integrar, unir todas as entidades
tumes e tradições transmitidos de geração em prol de uma mesma finalidade, já que,

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a geração, e de atender a uma solicitação até então, cada uma realizava, isoladamen-
da comunidade getuliense para realizar um te, suas atividades na Semana Farroupilha,
evento festivo que contemplasse nossas ori- como jantares e fandangos em suas entida-
gens tradicionalistas gaúchas, a Secretaria des e galpões. Mas a essência cultural, que
Municipal de Educação, Cultura e Desporto, se pretendia com a proposta do evento, era
juntamente com as Secretarias Municipais mais ampla: a proposta era a de vivenciar
de Obras e de Desenvolvimento Econômico, as nossas origens, dando a devida impor-
reuniu-se, em 12 de abril de 2010, no Cen- tância às tradições herdadas de nossos an-
tro Administrativo Municipal, com entidades tepassados, que, por ocasião das festivida-
tradicionalistas e demais representativida- des da Semana Farroupilha, renovam-se na
59

des locais, para compartilhar da ideia, de comunidade. Os pratos típicos da culinária


realizar o 1º Acampamento Farroupilha em gaúcha, as vestimentas (bombacha, bota,
comemoração à Semana Farroupilha. lenço, guaiaca, chinelo campeiro, alpargatas,

1
Diretora de Cultura da Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Desporto de Getúlio Vargas.
chapéu, saias e vestido de prenda), os jogos, de costaneira) reportando-se ao mais próxi-
as danças, o meio de locomoção – o cavalo mo dos Ranchos Gaúchos, citados na história
e a bebida típica do gaúcho ( o chimarrão) do Rio Grande do Sul, como demonstra José
são partes da história da formação do nosso Aguyari ao retratar a morada do gaúcho: o
povo, que, com o Acampamento Farroupilha, rancho, em suas litografias de 1880.(In: El
se queria prestigiar, envolvendo a comunida- Gaucho. Buenos Aires, 1953).
de getuliense, da criança até a melhor idade. Entretanto, no momento em que o primei-
Momentos com ideias divergentes e deba- ro galpão foi construído, pelos integrantes
tes foram ocorrendo; entretanto, aos pou- do Piquete da Severiano, decidiu-se padro-
cos essas ideias passaram a convergir e a nizar as construções, e todos foram construí-
solidificar-se. A ideia de se fazer uma grande dos de madeira, melhorando a sua qualidade
evento foi aceita pela maioria das represen- e a apresentação. Concretizou-se, assim, o 1º
tatividades e, no decorrer das reuniões de Acampamento Farroupilha do município de
organização, todas foram aderindo e, assim, Getúlio Vargas, realizado de 14 a 20 de se-
formou-se uma comissão com as seguintes tembro de 2010, tendo, como patrono, o tra-
representações: Brigada Militar, AERT, MTG, dicionalista Alberto Bastian.
CTGs Getúlio Vargas, Tropilha Crioula e Po- Sentiu-se a necessidade de registrar os
tro Xucro, DTG Laços da Amizade, Piquete da acordos. Para tanto, foi redigido um regula-
Severiano, Cavalgada da Integração, Facul- mento, a fim de oficializar e viabilizar a or-
dade IDEAU, ACCIAS, CDL e Galpão Farrou- ganização do Evento.
pilha. Dessas representatividades, foi criada Os galpões que compuseram o 1º Acampa-
uma Comissão Executiva, a fim de agilizar a mento Farroupilha foram: Galpão do Piquete
organização, composta por representantes da Severiano; Galpão do CTG Getúlio Vargas;
do Executivo Municipal (Secretaria Munici- Galpão do DTG Laços da Amizade; Galpão
pal de Educação, Cultura e Desporto/ Secre- do CTG Tropilha Crioula; Galpão do Piquete
taria Municipal de Obras, Viação e Serviços/ da Segurança; Galpão do CTG Potro Xucro;
Secretaria Municipal de Desenvolvimento Galpão Rincão Gaúcho; Galpão Farroupilha e
Econômico, e Meio Ambiente), Entidades Cavalgada da Integração; Galpão da IDEAU e
Tradicionalistas (Centro de Tradições Gaú- Galpão Gaúcho.
chas), Entidades Organizadas (CDL) e Briga- Uma diversificada programação foi desen-
da Militar. volvida, com a participação de toda a Comis-
Inicialmente, prevalecia a sugestão de são, que contou, também, com o patrocínio
realizar-se o acampamento no Parque das de empresas locais e da Administração Mu-
Saberes & Fazeres Educativos

Águas, devido à estrutura do local (espaço fí- nicipal, abrangendo a culinária gaúcha, pa-
sico, água, sanitários, energia), mas se esbar- lestras contando a história tradicionalista
rava no quesito distância do centro da cida- do Rio Grande do Sul, apresentações artísti-
de. Então, surgiu a ideia de se utilizar o pátio cas musicais e de danças, oficinas culturais,
do Centro Administrativo Municipal, local mateadas, contação de história do folclore
que, com algumas adequações (sanitários/ gaúcho, missa crioula, torneio da vaquinha
lonão/saneamento), se tornaria ideal para a parada e um passeio pelas ruas da cidade,
participação da comunidade. mostrando a grandeza do Movimento Far-
Escolhido, o local, foi feita a divisão do es- roupilha.
paço para acomodar as entidades que mani- Evidenciou-se uma mobilização da comu-
60

festaram interesse em construir seu galpão: nidade de maneira geral, incluindo o comér-
um espaço maior para entidades tradiciona- cio, entidades, escolas e visitantes, pois mais
listas, e um espaço menor para as demais en- de 20.000 pessoas passaram por lá, reviven-
tidades e grupos organizados. do um pouco da história rio-grandense.
A primeira ideia, foi de que cada entidade Ao findar do 1º Acampamento Farroupi-
construísse seu rancho, (de lona, taquara ou lha, registrou-se um ganho cultural signifi-
cativo para toda comunidade getuliense e tas programadas para os Festejos Farroupi-
região. Algumas entidades encaminharam, lhas, e foi realizado de 14 a 20 de setembro
ao Executivo Municipal, solicitações de um de 2011, o 2º Acampamento Farroupilha.
espaço físico para construção de galpões, a As atividades culturais foram ampliadas
fim de integrarem-se ao 2º Acampamento e aprimoradas. Além das acima citadas, que
Farroupilha. No comércio, notou-se a mobili- foram desenvolvidas na programação do ano
zação de algumas casas comerciais em ofere- anterior, os galpões organizaram-se para fi-
cer à comunidade pilchas e acessórios gau- carem abertos durante todo o horário de vi-
chescos. A comunidade e a região ganharam sitação, oferecendo à população informações
mais uma referência cultural. sobre diferentes tipos de nós no lenço, Jogo
do truco, encilha e passeio a cavalo, Minimu-
seu, Indumentária da década de “50”, dife-
2º ACAMPAMENTO FARROUPILHA
rentes maneiras de preparar um chimarrão,
tipos de chás, laço na vaca parada, poesias e
Na segunda quinzena do mês de mar-
histórias gaúchas, danças e brinquedos da
ço/2011, iniciaram-se os primeiros encon-
época.
tros de organização para o 2º Acampamento
Outro avanço foi a realização do desfile te-
Farroupilha. Embora todo o sucesso do 1º
mático, ao qual todos os galpões se fizeram
Acampamento, percebeu-se, mediante uma
representar, e algumas entidades da comuni-
avaliação, que muitas coisas deveriam ser
dade também participaram.
aprimoradas.
O tradicionalista Ramão Pedroso do Prado
Com um pouco mais de experiência em re-
foi o patrono do 2º Acampamento Farroupi-
lação à edição anterior, desenvolveu-se toda
lha. Acompanhado do Prefeito Municipal –
a programação do 2º Acampamento Farrou-
Bel. Pedro Paulo Prezzotto, abriu oficialmen-
pilha, focando o Temário Estadual dos Feste-
te o Evento Farroupilha.
jos Farroupilhas: Nossas Raízes. Esta temáti- Estima-se, que mais de 25.000 pessoas
ca, bastante abrangente, ajudou a entender prestigiaram o Evento. Tem-se a certeza de
um pouco mais da identidade cultural do que se está difundindo a cultura gaúcha, seja

Saberes & Fazeres Educativos


povo gaúcho, dado que a proposta era apro- através da prosa, das danças folclóricas, das
fundar as características locais, explorando declamações ou da culinária.
e mostrando as raízes da formação sociocul- Neste ano, além do aumento do público
tural do gaúcho. ao evento, a comunidade vivenciou mais o
Neste ano, aprimorou-se o regulamento, tradicionalismo gaúcho, seja no costume di-
os sanitários e a maioria dos ranchos foram ário do chimarrão, no apreço da culinária
ampliados, recebendo melhorias, e a lona gauchesca e até mesmo no uso discreto ou
que abriga o público foi duplicada. ostensivo das pilchas campeiras. O respeito
61

Mais duas entidades sociais integraram-se pelos mais velhos,o cavalheirismo o amor às
ao Acampamento: Lar da Menina e Rotary artes regionais (na prosa, poesia, na música,
Clube, restando, agora, apenas um espaço nas artes visuais) a coragem e o civismo são
físico para a construção de um novo rancho. os valores que esse Evento promoveu, cons-
O Acampamento Farroupilha seguiu as da- tituindo-o Festa Oficial do Município.
62 Saberes & Fazeres Educativos
O grande desafio do professor
Judite L. C. Bordin1

A leitura faz notável diferença na aquisição


da riqueza vocabular.
Como educadora e professora de Língua
Portuguesa, sempre me senti an-
gustiada ao ver meu aluno retirar
um livro, deixá-lo dias em sua mo-
chila, não tendo a curiosidade
de abri-lo e saber qual o mis-
tério que há dentro dele.
Partindo desse pressuposto e
de outros questionamentos – Será
que o gosto pela leitura vem natu-
ralmente, ou necessitamos instigar
o aluno a ler? O que fazer se o educando
afirma não gostar de ler? Como posso ajudá-
-lo, em seu “desespero vocabular”, a produzir textos do aluno e a síntese da obra literá-
textos de qualidade? De que forma avaliá-los ria retirada, quinzenalmente, da biblioteca,
diante de disparidade vocabular, sendo que o que permite que seja feito o acompanha-
todos frequentam a mesma série e recebem mento da evolução e a reescritura dos textos
os mesmos incentivos na sala? O que respon- (após a devida correção). Trabalhoso para
der quando afirma em conflito: “estou sem o professor? Talvez! Cabe, aí, a criatividade
ideia, não sei o que escrever”?, percebi que do profissional. Surgem inúmeras divergên-
esse desafio necessitava de tomada de pos- cias, pois alguns afirmam que o aluno copia

Saberes & Fazeres Educativos


tura, pois, sem dúvida, a Leitura é a grande o resumo que há em algumas obras, ou que
norteadora dessas perguntas visto que, sem alguém o ajuda a fazer ou, ainda, que copiou
ela, não há criatividade, riqueza vocabular, da internet. Novamente entram a astúcia e a
tampouco ideias e imaginação. interferência do professor que deve mediar
Sabe-se, também, que a diferença entre as diferentes situações de produção.
uma e outra está no estímulo que a criança Como segunda atividade, oportuniza-se a
recebe, desde o ventre e nos primeiros anos expressão oral das obras lidas, previamente
de vida. Também, muito influencia o meio marcada, quando todos os alunos, em cír-
com o qual o educando convive: Leitura: é ela culo, contam, ouvem as histórias e avaliam
que faz a diferença! a si mesmos e aos outros. Nesse momento,
63

Sendo assim, buscaram-se algumas meto- exigem-se silêncio e concentração, pois se


dologias: observa a postura que se deve ter ao falar em
Primeiramente, adota-se o caderno de público, assim como saber ouvir. Aí também
produção textual, em que são registrados os surgem críticas: “O livro é muito curto!” “O

1
Graduada em Letras. Especialista em Interdisciplinaridade. Professora da Rede Municipal e Estadual de
Ensino.
colega leu apenas algumas partes do livro!” Em seu artigo, na revista Jus Navigandi,
“Foi muito detalhado e cansativo!” “Nossa, Antônio Tadeu de Sousa Gontijo- professor
parece que foi decorado!” – diz que “o segmento adolescente é o mais
Como ninguém é igual a ninguém, eis as resistente à leitura. Preferem as informações
nossas diferenças: Uns leram e memoriza- mais passivas obtidas pela TV. Esse quadro é
ram detalhes; outros queimaram etapas e modificado quando os alunos encontram as-
iniciaram o contato com os livros, apenas suntos específicos de seu interesse. Portanto,
agora; alguns ainda não descobriram a mara- é necessário que se valorize a leitura em sala
vilha que é ler o livro todo; outros não apren- de aula, em todas as disciplinas. É através do
deram a abstrair a essência da obra; há os hábito da leitura, que o homem pode tomar
que acreditam que tudo o que há dentro dela consciência de suas necessidades (auto edu-
é fabuloso, e, ainda, os que conseguem fazer car-se), promovendo a sua transformação e a
relações entre as obras lidas. Há quem este- do mundo. Pode praticar o exercício dialético
ja aprendendo a dar os primeiros passos, e da libertação”.
outros afirmam que a leitura é algo presente Em contrapartida, o que tem surgido são
em seu dia a dia, que está fazendo a diferença resultados positivos, visto que alunos que
em suas vidas. O que ninguém discute, é que não liam livro algum, tampouco resumiam
todos estão lendo. ou apresentavam, veem-se estimulados a
De acordo com Paulo Freire (1991), na se- fazê-lo.
gunda página do Caderno de Alfabetização: Tal metodologia tem dado tão certo, que
“Se é praticando que se aprende a nadar, se comentários afirmam: “Nunca vi, alunos
é praticando que se aprende a trabalhar, é procurarem tantos livros e os lerem em tão
praticando que também se aprende a ler e a pouco tempo, querendo retirar outros”. Com-
escrever. Vamos praticar para aprender me- provando o êxito, há alunos que, ao iniciar a
lhor. Vamos ler: Povo, Saúde, Metabala, Rá- aula, pedem espaço para contar a história
dio.” que leram. Há aqueles que, com empolgação,
Em suas posições na obra “Dinâmica de dizem: “Já li o livro e fiz o resumo”, sem ser
leitura para sala de aula”, Mary Rangel afirma solicitado. Há alunos leitores que, em seus
que ler é uma prática básica, essencial para primeiros desafios, liam o livro e, por não te-
aprender. Nada substitui a leitura, mesmo rem o hábito de realizar tal atividade, prati-
em uma época de proliferação dos recursos camente contavam a história toda. Hoje, seus
audiovisuais e da Informática. A leitura é pais, e eles mesmos, comentam: “Agora os
parte essencial do trabalho, do empenho, de resumos são apenas a essência da obra.” E o
perseverança, da dedicação em aprender. O mais interessante: está se atingindo o propó-
Saberes & Fazeres Educativos

hábito de ler é decorrente do exercício e nem sito. Em sua maioria, os alunos leem, contam
sempre constitui um ato prazeroso, porém as histórias, sugerem a leitura da obra lida
sempre necessário. Por esse motivo, deve-se aos colegas, enriquecem seu vocabulário,
recorrer a estímulos para introduzir o hábito possuem mais imaginação e ideias, permi-
de leitura na escola. tem fazer com que a leitura interfira e faça
Segundo Vera Teixeira de Aguiar (p. 27-28, parte de suas vidas.
dez/2007), em sua obra “Leitura e conheci- A fim de corroborar o sucesso da experi-
mento”, “afirmamos que ler é compreender ência relatada, reproduz-se abaixo o texto
ao assunto lido, isto é, interagir com o texto de Milena Cazzonato, aluna da 6ª série da
e aplicar os conhecimentos adquiridos em E.M.E.F. Antônio Zambrzycki, redigido após a
64

novas situações. A leitura não é um compor- discussão do tema: TELEVISÃO.


tamento natural do ser humano, como comer
ou dormir; ela é cultural e precisa ser adqui-
rida”.
Mudança de hábito TV. No entanto, ela teve que se virar. Lia um
pouco nos intervalos. Desta forma, aos pou-
Joana era uma menina muito inteligente cos, começou a se interessar cada vez mais
e fazia de tudo para tirar notas boas, porém nas histórias. Passados alguns dias, a menina
a TV lhe tirava seu tempo, fazendo com que passou a ficar ansiosa para que viesse o in-
não tivesse tempo para mais nada. tervalo.
Hipnotizada, atraída pela caixa, não tirava Num desses dias, botou a cabeça para
os olhos dela, deixando de fazer as tarefas de pensar e viu que, se lesse ao invés de ver TV,
casa e tendo pouco tempo para fazer os tra- poderia passar mais tempo lendo suas histó-
balhos escolares. Já estava virando um pro- rias de aventura, que certamente eram mais
blema. interessantes do que ver os programas, que
Até que um dia sua professora lhe infor- poucas vezes a beneficiavam.
mou que teria que escolher um livro, de pre- Divertia-se com as histórias engraçadas de
ferência grande, lê-lo e fazer um resumo. “Lilica e seu dragãozinho”, e foi assim que vi-
A garota ficou muito brava, afinal, para que rou uma ótima estudante. Não parava mais
perder tempo com livros se poderia assistir de ler e se livrou do vício de ver televisão.

Saberes & Fazeres Educativos

Referências
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler – em AGUIAR, Vera Teixeira de. Signo. Santa Cruz do
três artigos que se completam. São Paulo: Sul, v.32, n 53, p.26-41, dez. 2007.
65

Cortez Editora & Autores Associados, 1991. http://jus.com.br/revista/texto/7898/a-


(Coleção Polêmicas do Nosso Tempo, v4) – 80 importancia-da-leitura-na-escola-de-ensino-
páginas. medio.

RANGEL, Mary. Dinâmica de Leitura para Sala de


Aula. 4 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1990.
Vivenciando a Educação Ambiental
na Educação Infantil
Marlene Mazurkevicz Stempczynski1
Maria de Lurdes dos Santos2

A turma do Pré Nível A, da Escola Muni- Educação Infantil corresponde à Educação


cipal de Educação Infantil Cônego Stanis- oferecida para a criança, do nascimento até,
lau Olejnik, situada na Rua Eduardo Barre- aproximadamente, os seis anos de idade.
to Vianna, no município de Getúlio Vargas/ Considerada, nos dias atuais como indis-
RS, é composta por vinte e quatro crianças pensável, é a maneira como a Educação vai
de quatro a cinco anos, oriundas dos bairros atuar nessa faixa etária, e é quando vão ser
Centro, XV de Novembro, Santo André, Nave- oferecidos os fundamentos para o desen-
gantes, Consoladora. A maioria das famílias volvimento integral da criança nos seus di-
é de pequeno poder econômico; seus com- versos aspectos, tais como: físico, psíquico,
ponentes têm diferentes profissões, como cognitivo e social. Uma característica mar-
comerciários, industriários, serventes, autô- cante e importante na Educação Infantil é o
nomos, entre outras. vínculo que as crianças têm com seus fami-
As crianças que integram a turma são ávi- liares ou responsáveis. Vínculo, esse, que, na
das em aprender; muito inteligentes, ansio- Educação em período integral, elas procu-
sas, espontâneas e alegres em tudo o que ram firmar fortemente e, também, encontrar
realizam. De seus 24 componentes, 20 fre- no professor educador. Tendo esse pensar,
quentam a escola em turno integral, ou seja, nós, educadoras, trabalhamos com a turma o
chegam à escola pela manhã, permanecendo tema Cuidados com o Lixo, devido à relevân-
até o final da tarde. cia do assunto ao nível da realidade contem-
No Pré Nível A, que é a primeira fase da porânea.
escolaridade, as crianças procuram imensa- Introduzimos o tema, colocando as crian-
mente assimilar o conhecimento de modo ças sentadas em circulo. Conversamos sobre
lúdico, usando brilhantemente o imaginário o assunto e o porquê do cuidado com o lixo.
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infantil; por isso, o brincar é mais importan- Assistimos a um vídeo do You Tube intitula-
te que a ação mental. Nessa fase, devem ser do: As porquinhas em: Lugar de lixo é no lixo.
priorizadas vivências em que a criança pos- Realizamos vários passeios nas redonde-
sa ampliar suas aprendizagens na busca e na zas da Escola, onde observamos o destino
descoberta de uma forma prazerosa, autôno- que as pessoas dão ao seu lixo, às margens
ma e confiante. do Arroio Limmer, e o lixo que é ali jogado.
Quando os professores e educadores se Sempre após cada atividade ou passeio, for-
propõem a traçar estratégias de projetos mamos uma rodinha para relatar o que foi
com Educação Ambiental na Educação In- observado ou realizado. Visando à conscien-
fantil, é de vital importância procurar con- tização das famílias, encaminhamos às casas
66

ceituar bem essa fase. Pode-se dizer que a um material impresso, destacando o tempo

1
Graduada em Ciências Físicas e Biológicas pela URI – Campus de Erechim. Professora da Rede Municipal
de Ensino de Getúlio Vargas.
2
Graduada em Pedagogia Séries Iniciais pela UPF . Curso de Capacitação em Educação Infantil. Monitora
da Rede Municipal de Ensino de Getúlio Vargas.
de decomposição de alguns tipos de lixo na
natureza.
Também participando do Projeto Edu-
cação Fiscal, trabalhamos a história infan-
til “A Cigarra e a Formiga”, confeccionando,
com as crianças, um mascote que recebeu o
nome de Teca. É uma formiga feita de restos
de pano, meias, fibra, retalhos de TNT e EVA
coloridos. Cada aluno produziu a sua pró-
pria Teca, utilizando-se de tubos de papel
higiênico, sobras de papel camurça preto e
EVA, barbantes, sendo que cada aluno levou Outra atividade importante foram os
passeios feitos aos parques centrais e da
seu trabalho para casa.
periferia da cidade, em alguns, finalizando
com brincadeiras nas pracinhas, pois, em
seu imaginário infantil, as crianças sempre
esperam encerrar uma atividade com algo
importante e bom para elas, como o brincar,
pois é através dele que as crianças apren-
dem a conhecer a si próprias e o mundo que
as cerca.

A atividade proposta para a Festa Junina


da Escola foi a de preparar caixas de pape-
lão, fornecidas pelo supermercado próxi-
mo à Escola, transformando-as em lixeiras,
com recados sobre a importância do cuida-

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do com o lixo e com seu descarte adequado.
A atividade foi um sucesso, muito elogiada
pelos pais, na avaliação da festa, além de su- Um dos passeios realizados foi à Praça Ge-
gestões para que essa prática se repita nas neral Flores da Cunha, no centro da cidade,
próximas festas e momentos de integração. onde há um chafariz, um busto em home-
Sugestão, essa, acatada pela Direção da Es- nagem ao ex-presidente Getúlio Vargas, um
monumento ao hábito tradicional do gaúcho
cola, que declarou que, na próxima festa,
(a cuia do chimarrão) espaços com apare-
as caixas serão maiores, pois as atuais não
lhos para ginástica, árvores, flores, um par-
67

comportaram o lixo produzido. Além disso, quinho infantil, um coreto, um palco para
os pais nos relataram que estão sendo poli- apresentações e um calçadão com uma par-
ciados, por seus filhos, sobre como proceder te coberta. Foram realizadas várias observa-
no descarte correto do lixo. ções como: as lixeiras disponíveis, para que
o lixo não fique esparramado; quantas eram,
de que cores; que tipo de lixo havia dentro,
se esse lixo estava dentro ou do lado de fora;
porque as lixeiras estavam presas.
Também fomos à pracinha de brinquedos
municipal, onde a hora do lanche foi apro-
veitada para a realização de um piquenique,
observando-se todos os cuidados devidos ao
lixo produzido e ao tipo de lixo produzido.
Na visita realizada à Sede dos Bombeiros,
foram observados os objetos utilizados por
eles nos atendimentos; experimentaram as
No dia 29 de outubro, data em que, anual-
roupas usadas por eles, bem como a sensa-
mente, a Escola realiza o Dia de Integração
ção de usar a mangueira para apagar o fogo;
foi realizado um passeio na Viatura de Aten- com as famílias, foi proporcionada aos pre-
dimento; assistimos a um vídeo, e as crian- sentes uma oficina sobre o meio ambiente,
ças receberam panfletos com orientações mais propriamente sobre o tema lixo, seus
sobre como se deve prevenir e como se deve tipos e sua destinação correta.
proceder em caso de incêndios. Esse passeio As perguntas dos pais foram muitas, e
foi com o uso do transporte escolar da Pre-
muitas foram as sugestões sobre o que se
feitura Municipal, devido à distancia do ba-
deve fazer. Cada oficina durava quinze mi-
talhão em relação à Escola.
nutos, tempo, esse, em que estimulamos o
tema, projetando com a ajuda do data show,
uma apresentação do PowerPoint sobre os
tipos de lixo, estatísticas da produção e os
tipos de descarte recomendados para cada
tipo de lixo.
Em alguns momentos, não se concluiu a
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apresentação devido ao tempo limitado e ao


constante questionamento dos pais sobre o
assunto apresentado, sugerindo-se aos pre-
No mês de agosto, o mês do folclore, re- sentes em cada oficina que deixassem, junto
alizamos o resgate de velhas brincadeiras, à Direção da Escola seu endereço de email,
em que se utilizavam objetos que sobravam
bem como endereços eletrônicos sobre o
nas famílias. Um pedacinho de barbante e
tema e o telefone para contato com a Secre-
um botão fazem a festa! Isso prova que nem
68

taria do Meio Ambiente, para mais esclare-


tudo o que usamos para brincar está no co-
mércio, e que brinquedo cria-se usando a cimentos sobre esse tema tão presente no
imaginação. cotidiano de nosso município.
“... ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para sua produção ou sua construção” e “ Quem
ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender.” (Paulo Freire)

Esse pensamento de Paulo Freire, no livro Pedagogia da Terra, por Gadotti (2000) vem ao en-
contro do que aqui se fez, ou seja, não transferir conhecimentos, mas possibilitar que as crian-
ças o construam de um jeito lúdico e prazeroso, permitindo a vivência pela criança com o saber,
na prática, ou seja, vivenciando experiências cognitivas no seu ambiente de vida.

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Referências
GARDNER, Howard. A criança como pensa e MORAN, José Manuel. Mudanças na comunicação
como a escola pode ensiná-la. EDIÇÃO. Porto pessoal. 2.ed. São Paulo: Paulinas, 2000.
Alegre: Artes Médicas, 1994.
KRAMER, Sonia et al. Infância e educação infantil.
DEVRIES, Constance Kamii Rheta. Piaget para a EDIÇÃO. São Paulo: Papirus, 1999.
69

educação pré – escolar . EDIÇÃO. Porto Alegre


: Artes Médicas, 1991. FURRIELA, Raquel Bidermann. Democracia,
cidadania e proteção do Meio Ambiente.
GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Terra. EDIÇÃO. EDIÇÃO. São Paulo: Annablume – Fapesp,
São Paulo: Petrópolis, 2000. 2000.
Escola Municipal de Educação Infantil
Cônego Stanislau Olejnik
No início do ano letivo de 2012, as crianças da turma do Pré Escola Nível B iniciaram as
aulas com novas expectativas de aprendizado. Ficaram surpresas com tantas mudanças; encon-
traram o espaço escolar com reformas não concluídas ainda e, observando o mesmo, aumenta-
ram mais as expectativas com relação ao ambiente prazeroso que as reformas proporcionarão
quando finalizadas. Esse vivenciar dos trabalhos de reforma proporcionaram à criança sentir-
-se parte ativa do processo e a percepção de que toda mudança, seja física, estrutural ou pessoal,
demora um tempo e não acontece de um dia para outro. Após visitarem as dependências da
Escola, juntamente com as educadoras, realizaram seus registros.
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70

Nome dos alunos: Rafael de Oliveira,


Heloisa Mânica Raiher, Vitor Boscheto
da Silva e Eric Kauã W. Freitas
Série: Pré Escola Nível B
Professoras: Adriana Cazzonato, Neiva T.
Pozzer e Maria de Lurdes dos Santos
Escola Municipal de Ensino Fundamental
Antonio Zambrzycki

Considerando a Campanha da Fraternidade e o Núcleo Temático da Escola: “Escola: Casa


de Todos”, faz-se necessário considerar a Escola como um local de encontro, onde constrói-se
aprendizagens e desenvolve-se habilidades, facilitando que cada sujeito, na sua individualidade
e nas relações coletivas, possa viver melhor. Partindo dessa compreensão, os alunos tiveram a
oportunidade de refletir e, nesse momento, foram desafiados a registrar individualmente atra-
vés de palavras, frases, gestos, demonstrações, o conhecimento elaborado até o momento, con-
siderando também a gravura apresentada.

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Nome dos alunos: Emily Rogelin, Leonardo Germhardt e Bianca Siqueira Cardoso
Série: 1ª série Nível I
Professor (a): Cleicimara Teresinha Betiato Vitali
Escola Municipal de Ensino Fundamental
Antonio Zambrzycki

O Projeto Educação Fiscal nos desafiou a refletir sobre a importância de habituarmo-nos a


exigir a Nota Fiscal como benefício significante para o nosso município. Também, para cada ser
humano saber diferenciar quando vai às compras, o que realmente é útil e necessário, ou supér-
fluo, tendo em vista sua realidade, idade cronológica. Dessa maneira, coletivamente construiu-
-se esse acróstico contemplando as falas e ideias dos participantes.

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Alunos: Turma da 1ª série Nível I


Série: 1ª série Nível I
Professor (a): Cleicimara Teresinha Betiato Vitali
Escola Municipal de Ensino Fundamental
Antonio Zambrzycki

A Escola participa do Programa de Educação Fiscal, que envolve todos os professores e


alunos, através de palestras, observação e análise de dados, leitura de textos de diversos gêne-
ros sobre o assunto, debate em sala de aula e produção de textos. Na disciplina de Língua Por-
tuguesa, os alunos produziram paródias de músicas a partir do tema: consumidor consciente,
identidade de consumidor, cidadão, Nota Fiscal, entre outros.
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Nome do aluno: Laura Pessoa da Silva


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Série: 8ª
Professor (a): Ana Paula Pauletti Jobim
Escola Municipal de Ensino Fundamental
Cônego Stanislau Olejnik

As produções textuais foram construídas a partir da reescrita das histórias: “Romeu e Julieta”,
Ruth Rocha; “ Filó e Marieta”, Eva Furnari; “Você é Especial”, Max Lucado, e “O que é? O que é?”,
vídeo da Série Cocoricó – TV Cultura). Realizadas nos diversos suportes tecnológicos dispo-
níveis na escola, especialmente o computador, a apresentação das histórias, produção, edição
e ilustração dos textos, buscou contemplar o desenvolvimento das habilidades múltiplas dos
alunos e estimular a aprendizagem participativa e colaborativa. A temática da diversidade per-
meou esta construção, buscando vivenciar os valores que dela fazem parte. Através da explo-
ração das histórias, os alunos e, demais envolvidos, puderam refletir sobre a importância do
respeito às diferenças e de uma relação harmônica entre os sujeitos e destes com o mundo.
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77 Saberes & Fazeres Educativos
78 Saberes & Fazeres Educativos
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Nome dos alunos: Lucas Padilha, João Victor Pereira Linhar, Andreina Sander Pinheiro e
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Luís Carlos Cardoso da Rosa


Série: 3º ano
Professoras: Adriana Sobis e Carina Gallina
Escola Municipal de Ensino Fundamental Pedro Herrerias

Os alunos de 5ª a 6ª séries estudaram sobre a cultura africana e, a partir de pesquisas, ob-


servações de obras de arte, produziram carrancas africanas, autorretratos e bonecas Kalunga,
mostrando como a disciplina de Artes desenvolve a criatividade, a imaginação e o lado artístico
de cada aluno.
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Carrancas africanas feitas pelos alunos das 6ª séries usando telhas de barro, com acabamento em papel
maché, ti nta-guache e detalhes em sucata.
80

Alunos: Turmas de 5ª a 6ª séries


Série: 5ª a 6ª séries
Professor (a): Jonara Karpinski
Autorretrato com luz e sombra feito pelos alunos da 8ª série usando lápis 6B.

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81

Bonecas kalunga africanas confeccionadas pelos alunos das 5ª séries


usando argila, cone de papel e adereços.
Escola Municipal de Ensino Fundamental Pedro Herrerias

SOMOS O QUE COMEMOS


O bom funcionamento do nosso organismo depende de uma alimentação saudável e equili-
brada, contemplando todos os nutrientes: proteínas, carboidratos, lipídios, vitaminas, fibras e
sais minerais. Nesse sentido, para auxiliar nessa tarefa, a fim de compreender a importância
desses nutrientes, os alunos da 5ª série A assistiram ao filme educativo “Peso Pesado”, da Turma
do Nosso Amiguinho, e produziram uma história sobre o assunto alimentação saudável.
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Saberes & Fazeres Educativos
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Nome dos alunos: Heloise Cadore e Andriela Antoniolli


Série: 5ª
Professor (a): Vera Lúcia Piovesan Bernardon
Escola Municipal de Ensino Fundamental 15 de Novembro

A partir do trabalho efetivado em sala de aula sobre drogas e, também, com os ensinamentos
e debates gerados no Proerd (Programa de Resistência às Drogas e à Violência), realizado na
Escola, com a parceria da Brigada Militar, os alunos foram desafiados a fazer uma redação abor-
dando a temática. Para redigir a mesma, foi necessário seguir alguns passos preestabelecidos,
bem como posicionar-se sobre o assunto colocando suas inseguranças e maneiras de resistir às
drogas.
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84

Nome do aluno: Pâmela Mara Rodriguês


Série: 4ª
Professor (a): Eliane L. Noskoski Dassi
Escola Municipal de Ensino Fundamental 15 de Novembro

As rimas são excelentes meios, motivadoras para a criação escrita. As produções foram re-
alizadas a partir de várias poesias rimadas, das quais foram exploradas a forma e o conteúdo.
A poesia “Você troca?”, da autora Eva Furnari, motivou os alunos a produzirem frases/estrofes
rimadas.

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Nome dos alunos: Davi


Henrique Kalinoski e
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Bernardo Bernardes
Galina
Série: 3ª
Professor (a): Geni
Ana Bonalume
NIAE – Núcleo Integrado de Atendimento ao Educando

Apreciar, entregar-se para o momento pre- cultores, jogadores, cantores, expressam isso
sente passa a ser cada vez mais raro. A nós, utilizando-se daquilo que de melhor pos-
profissionais da educação, esse exercício, a suem, seus potenciais.
meu ver torna-se fundamental, uma vez que, Raul Seixas expressa em sua música esse
a cada momento com o nosso estudante é fenômeno humano, com a metáfora da meta-
único, singular e de profunda revelação. Este morfose ambulante. Nossos estudantes, nes-
olhar, investigativo, sinaliza-nos a conhecer- te momento, diante da proposta de registrar
mos nosso estudante em suas características seus sonhos, assim o fizeram. Certo, errado,
(habilidades, potenciais, limitações, senti- melhor ou pior, o futuro dirá. Porém, tenha-
mentos...), e nos permite escolher a interven- mos a certeza que este registro resultou de
ção mais adequada às suas necessidades. uma escolha que envolveu profundo empe-
Somos seres de relações e precisamos ter nho e determinação, e que revela o quanto
isso presente. A cada etapa da nossa vida cada profissional, que por essa vida passou,
deixamos um pouco do eu, pegamos um pou- contribuiu para a superação de limitações
co do outro e construímos, “um nós” - trans- reais no desenvolvimento da aprendizagem.
formamo-nos. Muitos escritores, poetas, es-
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86

Nome do aluno: Felipe Matheus Vieira Escola: Escola Municipal de Ensino


Séries: 5º ano Fundamental Pedro Herrerias
Professor (a): Roseli Lovato
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Nome do aluno: Jeremias Tomelero


Séries: 7ª
Escola: Escola Municipal de Ensino Fundamental Antonio Zambrzycki
Professor (a): Roseli Lovato
87
PONTO DE VISTA
A educação que mora em mim...

“ A formação humana dá-se “ A


pelas experiências vividas nas educação que
ações planejadas, na convivência, ou mora em mim, na maioria
seja, nas relações estabelecidas, tendo das vezes é teórica, porém pre-
como base a teoria de outros humanos
cisamos trabalhar esta teoria aliada
que vivenciaram e registraram suas prá-
ticas. Na docência é assim: toda prática à forma prática, para que o aluno real-
passa a ter sentido quando refletida e mente consiga alcançar uma transforma-
avaliada, com o objetivo de (trans)for- ção significativa na sua aprendizagem. O
mar os sujeitos”. grande desafio da educação é trabalhar a
prática, mas é através dela que o conhe-
(Professor da Escola M. E. F. 15 cimento se forma, se constrói significa-
de Novembro) tivamente”.

(Professor da Escola M. E. F.
Antonio Zambrzycki)

“A educação que mora em “ É


Saberes & Fazeres Educativos

mim me faz perceber minha in-


o desejo incansável,
completude, minha ignorância dian-
te da vida e da escola. Ao longo do quem sabe até ideológico de
tempo me faz perceber as limitações poder transformar as pessoas e,
e as transformações ocorridas no meu
jeito de ser, de agir, enquanto pessoa e consequentemente, o mundo. É estar
profissional. Ajuda-me a compreender, diariamente entrelaçando teoria e práti-
a perdoar e a perceber o que de bom ca, para que a aprendizagem ocorra e de
construi e evolui”.
forma concreta transforme tanto o edu-
(Professor da Escola M. E. F.
88

cador quanto o educando”.


Pedro Herrerias)

(Professor da Escola M. E. F. Cônego


Stanislau Olejnik)
“Ao nascermos já somos
portadores de características “Falar
próprias. Que bom!
Características estas que nos di- em educação exige
ferenciam um do outro. Que maravi- uma reflexão constante entre
lhoso! Com o passar dos dias vamos a prática e a teoria, pois são elas
mergulhando, através da convivência
com nossos pares, transformando-nos e que conduzem o fazer do professor jun-
constituindo-nos como seres humanos to de seus alunos. Só transformamos se
que têm os mesmos direitos e deveres,
te temos uma prática relacionada com a
mas eternamente com as diferenças,
que é o que nos torna sábios”. teoria, caso contrário fica-se somente na
(Professor do Núcleo Integrado ficção”.
de Atendimento ao
Educando - NIAE)
(Professor da Escola M. E. Infantil
Cônego Stanislau Olejnik)

“Somos como pedras preciosas “Educar


que precisam ser lapidadas e trans-
formadas em joias. A educação é ca- é formar o ser e
paz de polir até o mais rústico aprendiz, transformar o cará-
desde que este esteja aberto para ensi-
nar, aprender e a transformar a sua vida ter”.
e a vida dos que o rodeiam em um valor
inestimável”. (Mãe – Marcia Maria
Vicensi)
(Coordenadora Pedagógica da Escola
M. E. F. 15 de Novembro – Mariza
Fátima Dassi)
“ A
educação que mora

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em mim é a educação de
“Pais e cada um particularmente, cada
professores são os pessoa tem uma educação diferencia-
mestres da base de uma da, ninguém é igual ao outro ou aprende
da mesma maneira. Nem sempre a teoria é
educação, tanto na teoria quan-
colocada em prática e nem sempre a prática
to na prática, pois com uma base
é o exercício da teoria. Muitas vezes a práti-
sólida se constrói uma educação su- ca não nos deixa exercer a teoria. Muitas ve-
perior, visando ao desenvolvimento zes as pessoas que passam toda a teoria não
89

pessoal, social profissional. Tudo o nos mostram em prática o que dizem. Cabe
que envolve educação, com cer- a cada um colocar em prática as suas teo-
rias, mesmo que, às vezes, elas não se-
teza, já nos edifica em todos os
jam julgadas como as mais certas”.
sentidos”. ( Mãe – Tarciana Lanfredi Peruzzolo)
(Mãe – Sirlei Basso)
Carta do Leitor
pre-
ve l q u e a te cnologia está
“É inegá umana,
to d a s a s á reas da vida h a
sente em
d o n ív el d e in strução de cad
independente d ade econômica
”. Com
su a ca p a ci
um ou a o professor
a fi rm a çã o , entre outras, tiza
essa
n a b a rr o te ix eira problema
adriano ca nificativa, vári
as situ-
a m u ito si g o-
de form d ia n o em que a tecn
ss o co ti
ações de no e n os faz pensar
sobre
in se ri d a
logia está
la , o p a p el da educação e
o papel da es co ces-
u iç õ es d a s m ídias para o pro
as contrib oncordo
si n o e d e a p rendizagem. C es-
so de en o a fi rma que é nec
o q u a n d
com adrian ostura, tanto
por par-
u d a n ça d e p ,
sário m
r q u a n to p o r parte do aluno
te do professo m a postura de auto
res,
u m in d o u
ambos ass ações que
b le m a ti za d o res das inform s. O
de pro s d e conhecimento
p ro d u to re
circulam e ser o me-
o r m a is d o q ue nunca deve l
profess
cn o lo g ia s u m apoio favoráve
diador e as te
rendizagem”.
na e para a ap
e
Po ko ie sk i – Professora da Red
(Helena Vargas)
sino de Getúlio
Municipal de En
res educa-
“A revista saberes & faze
resumido re-
tivos disponibiliza um
pedagógicas
latório das atividades
túlio vargas.
da rede municipal de ge
abordados
A variedade de temas
Saberes & Fazeres Educativos

nificativa na
contribui de forma sig
e dos demais
formação dos docentes
distribuição
segmentos envolvidos. A
so a muitos
gratuita possibilita aces
das práticas
leitores dos cenários e
ia de que a
educativas. Reforça a ide
ucação está
principal questão em ed
disciplinari-
na qualificação, na inter
da práxis dos
dade e na socialização
90

seus autores.
fessora da
(Geni Ana Bonalume – Pro
o de Getúlio
Rede Municipal de Ensin
Vargas)
PREFEITURA MUNICIPAL DE GETÚLIO VARGAS – RS
GESTÃO 2009-2012

PREFEITO MUNICIPAL
Pedro Paulo Prezzotto

VICE-PREFEITO MUNICIPAL
Natalício Botolli (in memorian)

CHEFE DE GABINETE
Darcy José Peruzzollo

SECRETÁRIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO, CULTURA E DESPORTO


Eliane Maria Granella

COORDENADORA PEDAGÓGICA
Sandra Betiatto

ASSESSORA TÉCNICO-PEDAGÓGICA
Jacqueline R. Bianchi Enricone

ORIENTADORAS PEDAGÓGICAS
Vanessa Vitali kunert
Mariele Zawierucka Bressan
Estela Mara Warnava

RESPONSÁVEIS DO DEPARTAMENTO CULTURAL


Janete Jevinski
Rosangela Bertani Fenske

RESPONSÁVEL DO DESPORTO E LAZER


Déborah Luiza Muller

SETOR ADMINISTRATIVO
Rosana Maria Accorsi Bertella

RESPONSÁVEL DO SETOR DA MERENDA


Elizamara Ulrich Grigoleto

RESPONSÁVEIS DA ESCRITURAÇÃO ESCOLAR


Márcia König
Fabiano Pase

RESPONSÁVEL DA BIBLIOTECA PÚBLICA MUNICIPAL DR. LÉO STUMPF


Izabel Levinski

RESPONSÁVEL DO NIAE
Vera Lucia Rosa
Prefeitura
Municipal de
Getúlio Vargas

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