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A cabala judaica na obra de servantes

Cervantes começa El Quijote com um prólogo famoso que foi amplamente comentado:

“Desocupado leitor: sem juramento poderás acreditar que eu queria que esse livro, como filho
do entendimento, fosse o mais formoso, o mais galhardo e mais discreto que se possa
imaginar”.

Quando se dirige ao leitor “desocupado”, não está se referindo à quem carece de ocupação,
senão àquele que está ocioso. “Desocupado” é um termo que qualquer judeu da época podia
identificar em seguida. Cervantes está nos lembrando aqui um dos Prakim - ‫( פְּ ָר ִקים‬capítulos)
mais conhecidos do tratado de Avoth (Pais) (II-5): “estudarei quando me achar desocupado”.
Atualmente consideramos que alguém está ocioso quando não trabalha, mas o sentido
primitivo da palavra “ócio”, otium em latim, era sinônimo de schola, “escola”, embora
signifique também “repouso”, tinha de algum modo o sentido de atividade. A atividade sagra-
da por excelência, ou, se preferir, a escola do sagrado, era o sacerdócio (sacer-otium). Assim o
“desocupado leitor” não é mais do que aquele que pertence à escola, no caso que nos ocupa, a
da Cabala.

Por esta razão, Cervantes conhece e cita com extraordinária cautela um dos assuntos mais
secretos da Cabala, as sefiroth (emanações), aludindo prudentemente a Binah
(entendimento), Gueburah (“poder”, “força”), Hessed (bondade), Tifereth ( beleza) e Daat
(conhecimento). O seu livro é um “filho do entendimento”, no qual “Entendimento” é a
tradução literal de Binah, uma das sefiroth que conhece o apelativo de “A Mãe”,
concretamente a mãe da sefirah Daat, na qual aprofundarei quando falar da “discrição”. Esta
sefirah é a mais discreta pois está na árvore cabalística, mas não aparece explicitamente nela.
Se oculta no centro da árvore sefirótica acima de Gueburah, Hessed e Tifereth, que
poderíamos traduzir como “galhardia”, “graça” e “formosura”, justo embaixo de Binah, “a
Mãe” ou “o entendimento”.

“Desocupado” é um termo talmúdico: Badán, que se aplica aos que se dedicam apenas ao
estudo da Torah e a oração.

Para Cervantes seu livro é como um filho. Para um judeu é muito importante ter um filho. No
Talmude (Nedarim 65 a) se diz que aquele que morre sem ter um filho pode se considerar
como se já estivesse morto. Como também diz um provérbio, na passagem por esta vida temos
de “plantar uma árvore, escrever um livro ou ter um filho”1. No fundo trata-se da mesma
coisa, de deixar a nossa semente, de imortalizar-nos na continuidade. Assim o Midrash
haGaddol (grande compilação de ensinos - cap. XX) nos diz que “quem deixa um filho para
tomar seu lugar não é considerado morto”.
Quando Cervantes escreve: “sem juramento me poderás crer”, alude sem dúvida a um
costume tipicamente hebraico: abster-se de jurar. Nosso autor não jura aqui, cumprindo o
mandamento bíblico de não jurar em vão, indicado em Deuteronômio (V-ll).

O homem sábio anda a cavalo e o tolo de mula

A dicotomia entre Don Quijote e Sancho, entre o Cavaleiro (ou o cabalista) e o Escudeiro (o
homem vulgar), paralelo ao esoterismo ou Sody Pshat estará presente ao longo de todo o
livro. No lugar onde Don Quijote vê gigantes, Sancho irá ver moinhos, onde Don Quijote vê
damas, Sancho, rústicas campesinas, tudo isso porque não pode penetrar até o Sod, (segredo)
o sentido que está além das aparências. Don Quijote vai a cavalo e Sancho vai de asno. Existe
uma grande diferença entre o cavalo e a mula ou entre o cavalo e o asno. Os cabalistas
brincam com a palavra Pardes ( pomar, ‫)סדרפ‬. Se tirarmos a letra Samej (‫)ס‬, a inicial de Sod (‫)ס‬
fica Perd (‫)דרפ‬, que significa “mulo”. A letra Samej (‫ )ס‬que corresponde ao Sod, o Segredo, se
relaciona com o cavalo, Sus (‫)סוס‬, a palavra que aparece duas vezes.

O Cavaleiro é pela sua atividade redentora, uma imagem do Tsadik, (‫ )קידצ‬o Justo, o homem
bendito. A Cabala nos explica que a letra Tsade, (‫ )צ‬, inicial de Tsadik, pode se ver como um
homem, representado pela letra Iod( ‫ )י‬montando um cavalo, representado neste caso por
uma letra Nun (‫ )נ‬inclinada. Por outra parte, no caso que tratamos, não esqueçamos que a
genial novela de Cervantes começa por “Em um lugar de la Mancha”. Normalmente se traduz
“lugar” por Makom (palavra que é aliás um dos nomes de Deus), mas outra tradução de lugar,
mais exata ainda, é Tsad, (‫)דצ‬

Partindo de que Tsade, está formada pela Nun (‫)נ‬, cujo valor numérico é 50 e a Iod (‫ )י‬que vale
10, e somando o valor destas duas letras obtemos 60, o valor numérico (ou guematria) de
Samej (‫)ס‬, a inicial de Sod (‫)דוס‬.

Uma passagem do Midrash nos explica que Rabí Akiva andava descalço por Roma quando o
encontrou um eunuco. Este lhe disse: “Um nobre anda a cavalo, um homem livre em um asno,
um plebeu nos seus próprios sapatos; mas um homem descalço é como se estivesse morto”.

O simbolismo do asno dentro do judaísmo mereceria por si só um exaustivo estudo. Limitemo-


nos a dizer que Jamor (asno) corresponde e simboliza a matéria (Jomer) e o material. Se o
cavalo representa o homem espiritual, o asno equivale ao homem material. A distância entre o
homem e o asno é semelhante à que existe entre o justo e o homem mundano, como nos
explica o Talmude de Babilônia (Shabat 122): “Se nossos mestres são comparados com os
anjos, nós somos somente seres humanos. Mas se hipoteticamente eles eram homens, nós
somos como simples asnos”. Sancho, o homem material, é um asno e fala como tal. Não possui
a Palavra de Vida e não a entende; talvez por isso “em terminando eu de falar, aplaudiam
todos os burros do povo...”.

Um provérbio sefardita nos diz a mesma coisa:


“Ao homem, verbos, e ao asno, lenha”.

O homem pode aceder ao Verbo, à Palavra, mas o asno só pode receber lenha. Provavelmente
por isso tem Sancho tanto medo aos batanes como vemos no capítulo 21 da Primeira Parte.

Sancho se chama Sancho Pança. A relação entre “Sancho” e o sangue ou o “porco”, é evidente.
Sancho é o que a Cabala chama “homem de carne e de sangue”. Porém o fato de que se
chame “Pança” não é unicamente por sua grande barriga que contrastava com a complexão de
seu amo, “seco de carnes, enxuto de rosto”, senão porque Cervantes faz um jogo de palavras
relacionando-o com a palha. Existe, em efeito, um provérbio sefardita que diz que: “Asno foste
e asno serás, e toda tua vida palha comerás”.

É o destino do homem carnal.

O homem espiritual, o que reza e estuda a Torah, poderá, no entanto, comer pão, o pão da
Torah.

O sentido de segredo, Sod (‫)דוס‬, esotérico, se refere ao mais secreto e interior, assim como ao
outro mundo, o mundo porvir, mas precisa de um “continente” exterior, normalmente de una
forma tradicional ou de uma religião, para poder se expressar. Por esta razão, Sod (‫ )דוס‬e Pshat
(‫)טשפ‬, com o don Quijote e Sancho, seu escudeiro, são inseparáveis.

O Sod (‫ )דוס‬corresponde a don Quijote e o Pshat (‫ )טשפ‬a Sancho, “o homem de carne e de


sangue “3”. Pshat (‫ )טשפ‬é um anagrama de Tipesh (‫( )שפיט‬que significa “bobo, estúpido,
imbecil, idiota, tolo, torpe”), e procede do verbo Tapash, “se coagular”.

Dorme o criado, mas vela o senhor.

O Cavaleiro (como o “coração” do “Cantar dos Cantares”) vela, enquanto que o Escudeiro está
dormido. São o corpo, chamado “criado” (o Rebe de Lubavitch escreveu que o corpo não é
somente um servente do espírito), e o espírito chamado “vela” (Provérbios XX-27):

“Dorme o criado, e está velando o senhor”... (1-20)

Ou, mais na frente:

“Eu velo quando tu dormes; eu choro quando cantas”. (11-68)

E também:

“Dorme tu, que nascestes para dormir, ou faça o que quiseres, que eu farei o que veja que
mais venha com a minha pretensão”. (1-20)

Don Quijote diz para Sancho algo que o homem carnal não entende nem pode entender:
A estas reclamações Sancho replicará:

“Senhor, respondeu Sancho, não sou eu religioso para que desde a metade de meu sonho me
levante e me discipline”. (11-68)

Sabendo que os cabalistas e os rabinos em geral se levantam precisamente “na metade” da


noite para rezar e estudar a Torah. No Zohar (77 a) podemos ler: “Ai daqueles que dormem e
cujos olhos sonham”, e nos Pirké de Rabí Eliézer (cap. XXXIV): Rabbí Zacarías falava: o sonho
da noite se compara a este mundo e o despertar da manhã se compara ao mundo futuro.

No Zohar também se nos diz que o sonho não é outra coisa além do exílio5. Sair dele é a
Guehula 5-A, palavra suspeitosamente próxima foneticamente a Gaula, a pátria de Amadis, o
cavaleiro que Don Quijote emula.

Sancho representa ao homem material, preguiçoso, que não “se levanta”, e que sempre está
caído no barro, como os porcos, os suínos. Não quer se disciplinar, ou seja, que não quer
aprender, não quer ser discípulo. Acontece que o homem carnal não é “religioso”, está
incapacitado para aprender, para rezar e para receber os mistérios. Como diz um refrão
sefardí6, “sua voz não chega ao céu”, sua oração não pode “ascender”:

Voz de puerco no sube al cielo.

Diferente disso, referindo-se ao bacharel Sansão Carrasco, Sancho diz que:

“Tem a alma como um cântaro: não sabe fazer mal a ninguém senão bem a todos, nem tem
malícia alguma: uma criança o fará entender que é de noite na metade do dia; e por esta
simplicidade o amo como aos tecidos do meu coração”. (11-13)

Entende-se que “é de noite em metade do dia” ou, que “é de dia na metade da noite”, um
modo de descrever a experiência da visão, e se Sancho menciona aqui “os tecidos do meu
coração” é porque brincando com a semelhança fonética entre “ tecido /tela” e “talith”, está
nos falando do talith, o manto da pregaria dos judeus, e aludindo ao mistério do orvalho que
no hebraico se diz: Tal (‫)לט‬.

Quando em sua primeira saída (Primeira Parte, cap. 2) diz a Don Quijote que:

“As camas de vossa mercê serão duras rochas, e seu dormir, sempre velar”... Cervantes nos
está falando de uma experiência muito concreta que os cabalistas conhecem como “o sonho
de Jacob”. No texto do Genesis XXVIII-10 e 11 podemos ler:

“Jacó saiu de Beersheba e se dirigiu rumo a Harã”. Chegou ao lugar e ali passou a noite, pois o
sol tinha se posto; tomou pedras do lugar e as dispôs ao redor de sua cabeça, e se recostou
naquele lugar.
Diz o Midrasb que enquanto Jacob viveu na casa de Labão, não dormiu nem uma noite apenas:
sempre velou.
Quando se fala de velar não se está aludindo unicamente ao fato de estar acordado, de “estar
em vela”, do latim vigilia-ae. O coração vela porque simbólica e cabalisticamente é como uma
vela, um receptáculo da luz. A vela, como bem indica Covarrubias, “nos dá luz de noite para
velar e não dormir”. No último testamento de Iehudá Hanasí, considerado o redator do
Talmude, aos seus filhos, encontramos as seguintes estranhas instruções: “A vela (ner) deve
estar acesa no seu lugar; a mesa (shulján) deve permanecer no seu lugar; a cama (mitah) deve
ser arrumada como de costume”. Isto se interpretou como que este sábio queria que depois
da sua morte o seu costume de estudar a Torah devia se manter, sua mesa estar sempre
aberta aos pobres e os famintos, e a sua cama, ou seja, o lugar no qual recuperava forças para
poder continuar com sua obra, devia continuar como de costume. Assim relaciona-se a vela
com a mesa de estudo e a cama.

A pátria e o nome de Don Quijote, hipóteses diversas

No livro El Quijote não recebemos muitas informações com respeito a Don Quijote. No
referente à sua idade, temos que nos conformar com um impreciso “frisava a idade de nosso
fidalgo com os cinquenta anos”. De entrada, por que nos diz Cervantes que “frisava”? - Não
podia utilizar outro verbo como “se aproximava” ou “rondava”? “Frisar”, nos informa o
dicionário da RAE (Real Academia Espanhola), é “levantar e cachear os pelinhos de algum
tecido”. ¿De quem, com cabelo encaracolado fala, Cervantes? Todo mundo sabe que os judeus
se distinguem por levar uns cabelos encaracolados à altura da costeleta. Mas os cachos têm
também outro sentido, e Cervantes tinha por força, ao menos simbolicamente, o que é ter
cachos. Para Rabí Najman o cabelo encaracolado corresponde a Eva e á sefirah Binah, o
“entendimento”. Recordemos que El Quijote é “filho do entendimento”.

Sancho diz refrões e Don Quijote dá conselhos. Existe uma grande diferença entre um refrão e
um conselho. Em definitiva um refrão, de re-fero, “volto a trazer”, é una repetição. Um
conselho pode ser algo novo.

Nos Pirké Avoth (v-24) está explicado que um homem pode dar conselhos quando já
completou os 50 anos de idade. Nosso fidalgo frisava, pois, a idade na qual podem se dar
conselhos.
Apesar da infância de Cervantes ter sido marcada pelas múltiplas migrações e traslados, Don
Quijote se declara oriundo de La Mancha. É chamativo que Cervantes escolha esta pátria,
sendo que conhecia melhor, como era o caso, outras regiões, como, Andaluzia. Mas é que o
nome de “La Mancha” resultava ideal para alguém que “está manchado”, ou seja, alguém cujo
sangue “não está limpo”, ou melhor, que não é um “cristão velho”. No seu Discurso a favor do
Santo e louvável estatuto da limpeza do sangue, Bartolomé Jiménez Patón escreve que: “são
os limpos Cristãos velhos, sem raça, mácula**, nem descendência, nem fama, nem rumor...” 7.
Os restantes, convertidos, marranos, judaizantes, estão “manchados”. Talvez Alonso Quijano
se converte em Don Quijote para nos dar a entender que é precisamente isso: um convertido.

No hebraico “mancha” se diz Quetem (ouro), palavra que significa também “manchado de
sangue”, porém Quetem (ouro) tem outro sentido, aparentemente oposto: “ouro puro”. É
precisamente a palavra que aparece na expressão “Ouro de Ofir”, Quatam Ofir. Para uns, os
que não sabem ler, Don Quijote é o Cavaleiro de La Mancha, mas para outros, os que sabem, é
o cabalista do ouro puro ou, utilizando a feliz expressão de Sánchez Ferré, o Cavaleiro do Ouro
puro. La “mancha” “oculta” ao “ouro”, poderíamos dizer fazendo um jogo de palavras
utilizando as três letras que compõem Quetem (ouro), “mancha” e “ouro” e Quemet (‫)מתכ‬,
“ocultar”.

Os historiadores não concordaram sobre onde se encontrava o misterioso país de Ofir de onde
Hiram, o grande arquiteto do templo, trouxe tanto ouro. Falou-se de Arábia (Cervantes alude
em várias ocasiões ao “ouro na felice Arábia”) e de Etiópia, mas para ir a estes países não era
necessário se embarcar como fez Hiram. Sem dúvida a viagem a Ofir, como as saídas de Don
Quijote, alude a uma viagem espiritual. Na palavra Ofir (‫ ) אפיר‬nos encontramos com a raiz
Afar= ‫ אפר‬que significa “cinza”. Existem numerosos comentários cabalísticos sobre a expressão
“pó e cinza”, Afar vê Avak*, que Cervantes sem dúvida conhecia. De fato esta expressão
aparece ao final da Primeira Parte no epitáfio de Dulcineia que diz:

“Repousa aqui Dulcinea, e, embora de carnes roliças, a transformou em pó e cinza, a morte


espantosa e feia. Foi de castiça ralé, teve assomos de dama, do grande Quijote foi chama e foi
glória de sua aldeia”.

Don Quijote se chama a si mesmo “Alonso Quijano o bom”8. Este nome nos lembra ao autor
do Zohar, Moisés ShemTov, oriundo de León (ou de Carrión). A relação entre Alonso e Moisés
não é difícil de ver se pensarmos que “Alonso” é um dos nomes do trigo. De algum modo
Moisés e o trigo são simbolicamente a mesma coisa uma vez que Moisés nos dá a Torah como
o trigo nos dá o pão. O “pão” é a palavra de Deus. Por esta razão a Torah nos diz que “não
apenas de pão vive o homem, mas de quanto procede da boca de IHWH ‫(” הוהי‬Deuteronômio
VIII-3), ou seja, de Sua palavra.

Quijano nos leva a “quijar”, “molar” ou “dente molar”. Mas não se trata de um molar vulgar se
trata de um “bom” molar, aquele que vem “moer o trigo” para nos dar o pão da Torah. “Bom”,
em hebraico se diz Tov.

Por outra parte o mesmo Don Quijote evoca a Moisés quando luta contra os moinhos, que
para ele são gigantes, se pensarmos que Moisés também lutou contra os gigantes Sihor e Og.

São muitos os textos nos que os cabalistas falam do pão. No Zohar (252 b), por exemplo, se
nos diz que no pão da Torah tem farinha pura e limpa que o Rei dá àqueles de quem se diz:
“todos os membros de Israel são filhos de reis”.

Aventuraram-se inúmeras hipóteses acerca da origem da palavra “Quijote”, “hipótese que não
vou repassar nem discutir ”.

Sánchez Ferré sustenta que “Quijote transcrito em hebraico é Quechot, que significa verdade,
virtude, retidão e justiça”. Isto só bastaria, senão para demonstrar, pelo menos para apoiar a
inspiração judaica de El Quijote. Com tudo, Quechot (‫ )תושק‬tal como o transcreve Sánchez
Ferré não é hebraico, mas aramaico, o qual relaciona ainda mais estreitamente o El Quijote
com o Zohar, a obra cume da Cabala hispano judia.

O que, sim, seria hebraico, é Keshet (‫)תשק‬, palavra que significa “arco, arco-íris”, e que, pelo
tanto, simboliza a Aliança, o Brit (‫)ברתי‬. “Encontrámo-nos, então perante uma alusão velada à
circuncisão, e ante outro eufemismo do sexo”. Don Quijote seria, neste caso, o circunciso. O
“arco” como arma, paródia à lança que podemos encontrar no nome de Lancelote, que
Cervantes imita.

O assunto da circuncisão, representado na castração do castor, o encontramos também na


Primeira Parte de El Quijote (1-21).

O pagão que havia andado discreto e que havia imitado o castor, o qual, se vendo acossado
pelos caçadores, “se taraza y arpa com os dentes” (arranha e morde) aquilo pelo que ele, por
distinto natural, sabe que é perseguido.

A expressão “se taraza e arpa com os dentes” delata um conhecimento evidente do rito da
circuncisão praticado pelos judeus. Esta consta de três operações e, na terceira, a boca adquire
um papel muito importante. Nos dias de hoje, os israelenses aceitam que esta seja substituída
por um pequeno aparato mecânico embora este, como escreve Dominique Aubier, “não pode
substituir a boca no complexo de um símbolo sagrado que se refere à Aliança”. “A boca
representa completamente bem a função essencial da fala quando é necessário colocar
novamente em ação ao Verbo que decide o Absoluto”9.

O que resulta interessante é a aparente errata que aparece no texto quando diz “por distinto
natural sabe que é perseguido”. As versões modernas de El Quijote a corrigem e falam de
“instinto natural”, mas neste caso Cervantes utiliza a propósito a palavra “distinto/diferente” e
com a imagem do Castor se está referindo ao povo judeu, um povo distinto, perseguido pela
Inquisição. Não se está falando do instinto natural de um animal, mas de uma natureza
distinta.

Em vez de “cortar”, como por sua parte fazem algumas versões modernas de El Quijote,
Cervantes utiliza o verbo “arpar”, que procede do grego arpe, que significava “foice” e
“aguieta”. Podemos associá-lo foneticamente com a palavra hebraica Orpah (‫)הפרוא‬, que
significa “nuca”. A nuca, símbolo do Faraó, corresponde ao que os cabalistas denominam o
Ietser haRa, “a inclinação má”, e a circuncisão é, simbolicamente, algo que nos libera dessa má
inclinação.

Rebbd’*, que foneticamente podemos associar com Rabba, como o Midrash Rabba, uma das
principais fontes de inspiração da exegese hebraica.

Pela sua parte, a palavra “Quixote”, escrita com X, lembra bastante, como indica Sanchez
Ferré, a Kechoth, que se traduz por “verdade”. Esta palavra aparece três vezes seguidas na
famosa oração Brik Shemeh:
Dehou elaha kechoth e (é um Deus de verdade) veoraita kechoth e (seu ensinamento é de
verdade)

ounviohi kechoth e (seus profetas são de verdade).

É de destacar que no capítulo 30 da Primeira Parte, nos encontremos com outras possíveis
etimologias quando a princesa Micomicadela explicara que fugindo o gigante vesgo,
Pandafilando, da Fosca Vista, “em caminho das Espanhas, onde encontraria o remédio de
meus males, encontrando a um cavaleiro andante, cuja fama neste tempo se estenderia por
todo este reino, o qual se havia de chamar, se mal não me lembro, Don Azote ou Don Gigote”.

Quijote ou Gigote encontramo-nos perante duas alusões ao mesmo mistério.


Covarrubias, no seu “Tesoro de la Lengua Castellana o Española” escreve que “gigote” vem do
francês “gigot”, que vale perna, se refere “à que é coxa no homem”. Quando no prólogo do
livro Cervantes diz as enigmáticas palavras “sem juramento me poderás crer”, está nos
enviando a duas conhecidas cenas do Antigo Testamento. Na primeira, Abraão faz com que o
seu criado preste juramento com as seguintes palavras:

“Coloca agora a tua mão sob minha coxa. E te farei jurar peLo Eterno, Deus do céu e Deus da
terra, que não tomarás mulher para meu filho das filhas dos cananeus”. (Gênesis XXIV-2 e 3)

Na segunda cena se trata de Jacó, que está se aproximando ao momento de sua morte e pede
para o seu filho José:

Aproximou-se o momento de morrer de Israel, e chamou ao seu filho, a Josef (José), e lhe
disse: “Por favor, se encontrei graça nos teus olhos, por favor, coloca tua mão embaixo da
minha coxa, e faça comigo benevolência e verdade: por favor, não me enterres no Egito. Pois
tenho que jazer junto com meus pais e deverás me transportar fora do Egito e me enterrar no
seu túmulo”.

Este disse: “Eu pessoalmente farei tal como disseste”. Ele respondeu: “Me jure”, e lhe jurou;
então Israel se prostrou olhando para a cabeceira da cama. (Gênesis XLVII-24 a 31)

Em ambas as passagens estão se referindo àqueles que simbolizam Don Quijote.

Por outro lado, fiel à regra de ouro da Imitatio, El Quijote é uma “imitação” do Amadis de
Gaula, sem dúvida a novela de Cavalaria mais famosa de sua época. Cervantes nos propõe um
soneto de Amadis de Gaula a Don Quijote que começa precisamente por “Tu, que imitaste a
chorosa vida que tive...”. Lendo “Gaula”, mais do que pensar em Francia, preferimos fazê-lo
em Guehulah (‫)הלואג‬, “redenção”.

Retornando à citação do capítulo 30 da Primeira Parte, que se referia a Don Quijote como
“um cavaleiro andante, cuja fama neste tempo se estenderia por todo este reino, o qual se
havia de chamar, se bem lembro, Don Azote ou Don Gigote”, complementarmente à
interpretação de Sanchez Ferré, que falava que “azote” se referia à zoth hebraica, que
corresponde à Bênção, quiséramos apontar que também se refere à Torah. Desta maneira El
Quijote seria ele mesmo uma espécie de parábola da Torah. Comentando o Deuteronômio IV-
44, “e esta é a Tora” e Gênesis XVIII-10 “esta é minha aliança”, “esta” Zoth (‫)תאז‬, o Midrash
Rabbah sobre o Levítico (cap. 21) nos explica que se trata do mesmo. Em El Quijote deduzimos
esta ideia de Keshet (niop) e de Azote, Hazoth (‫) תאזה‬.

Os cabalistas relacionam a Torah com Moisés, que foi quem a receberia do monte Sinai (e não
no monte Sinai, como traduzem mal a maioria das versões). Na árvore sefirática, Moisés
corresponde à sefirah Daat, considerada “filha” de Binah, o entendimento. Como vimos,
também El Quijote é “filho do entendimento”. E mais ainda, no prólogo Cervantes faz um
repasso velado às sefiroth no qual, creio, nenhum de seus comentadores reparou.

O Cavaleiro dos leões.

Exceto na aventura dos leões que aparece no capítulo 17 da Segunda Parte, Cervantes não se
refere explicitamente em nenhum lugar ao “leão”, mas sim nos faz alguns pisques alusivos a
ele. Nela nos encontramos com um Don Quijote que não se amedronta e encara um
gigantesco leão. Depois de “vencê-lo” não hesita em chamar a si mesmo “cavaleiro dos leões”.
Antes de iniciar tão surpreendente aventura Sancho avisa do perigo ao seu amo dizendo:

“...Que aqui não existe encanto nem coisa que o valha; que eu vi por entre as grades e
resquícios da jaula uma unha de leão verdadeiro, e suponho por ela que o tal leão, de quem
deve de ser a tal unha, é maior que uma montanha”. Aqui Cervantes está fazendo um jogo de
palavras entre Arieh (‫)הירא‬, “leão” e Ar (‫)רה‬, “montanha”, que resulta incompreensível se
acudir ao idioma hebreu. Don Quijote enfrentar um leão é como uma paródia do que fez
Sansão, mas recordemos que se este estava “invadido pelo espírito de YHWH”, Don Quijote se
entregou “a Deus de todo coração, e depois à sua senhora Dulcineia”. A equiparação Don
Quijote / Sansão também pode ser encontrada no fato de que o herói bíblico venceu mais de
mil inimigos armados graças a uma quijada de asno.
O espírito de YHWH lhe invadiu, e sem ter nada na mão, Sansão despedaçou o leão como se
despedaça um cabrito (Juízes XIV-6).

O verbo que se costuma traduzir por “despedaçar” também se traduziu como “desquijar” ou,
no castelhano da época, “desquixarar”. Encontramo-nos aqui com uma clara alusão à voz
“quixote”. Covarrubias10 define “desqueixar” como “abrir pelas queixadas. Desquixarar leões,
se diz pela braveza de algum valentão. Sansão e David foram tão valentes, que escreve a Santa
Escritura que desquixaravam os leões”.

Resumindo:

Sansão desquixa a um leão.

Don Quixote enfrenta a um leão.


Não é necessário investigar no simbolismo deste animal, “o rei das bestas”, para averiguar o
que é o leão. Na simbologia bíblica o leão tem um simbolismo dual.

Por um lado se pode relacionar com o orgulho e por outro se associa também ao rei Messias:
recordemos que Don Quijote estava investido de uma missão, por assim dizer, messiânica. Por
outra parte, Cervantes sabia muito bem, como qualquer pessoa ilustrada de sua época, que
quando no contexto judeu se alude ao leão, se está falando de Rabi Isaac Luria (1534-1572),
chamado o Ari, ou seja, “o leão”. Cabalista da luz por excelência, o Ari desenvolveu umas
doutrinas cabalísticas algo diferentes das do Zohar, embora realizou um comentário de uma
parte deste denominada Sifra di Tzeniutah ou Livro do Segredo, dedicado a Bereshit.

Na linguagem cabalística, o leão, que representa a Força [Gueburah], deve se relacionar com a
coluna de Rigor. Curiosamente, o que na edição Princeps de El Quijote era “o rigor do leão”, se
“corrigiu” nas seguintes para se converter em “o rugir” do leão. Sem dúvida era um pisque
demasiado atrevido.

Os mistérios da Graça

A palavra “graça” aparece em muitas ocasiões em El Quijote. “Graça”, que procede do latim
gratia, de gratus, “agradável, grato, bem vindo” está relacionada etimologicamente com o
gratuito, com o que nos é dado. Alguns dicionários a definem como “Dom de Deus sem mérito
por parte nossa” mas entre suas diversas acepções se encontra a de “chiste” ou “piada”. Sendo
assim, esta palavra se presta muito a jogos de palavras, pois pode se referir, por um lado, a
algo engraçado, e por outro, a um dom divino. Cervantes, como outros grandes maestros,
utiliza o cômico para falar do transcendente. Porque, como diz um conhecido provérbio
castelhano, “entre riso e brincadeira, se dizem verdades de arroba”. “Verdades de arroba”
significa “verdades enormes”, mas aqui se trata de verdades preciosas, de verdades de ouro. A
palavra “arroba” aparece onze vezes em El Quijote. Sem dúvida Cervantes sabia que a palavra
castelhana “arroba” procede da hebraica Rebbd, que foneticamente podemos associar com
Rabba, como o Midrash Rabba, uma das principais fontes de inspiração da exegese hebraica.

Quando se fala de “arroba” bem se poderia estar falando de “algaroba” (ou alfarrobeira). A
Alfarroba, do hebraico Jarubith (‫)תיברח‬, se chama em grego keration, de onde vem o termo
“quilate” cuja origem se remonta ao uso que faziam os gregos e árabes da semente da
alfarroba como unidade de peso de metais preciosos. A alfarroba não teria nenhum interesse
especial senão fosse pela parábola evangélica do filho pródigo (Lucas XV-11 a 32) que se
arrepende de ter deixado a casa do pai e quer retornar a ela. O filho pródigo “desejava encher
o seu estômago das alfarrobas que comiam os porcos e não lhe era dado”. Existe uma relação
entre a alfarroba e a Teshuvah, a “conversão” ou o “arrependimento” que podemos detectar
em umas enigmáticas palavras do Midrash Rabba, sobre o Levítico:

Quando um judeu tem que comer alfarrobas, se arrepende.

Começava o artigo “Ditados e refrões de Don Quijote e Sancho” que deu origem a este
trabalho com duas citações: uma de El Quijote e outra de La Celestina. A do Quijote diz o
seguinte:

Não pode haver graça onde não tem discrição. (EL Quijote II, cap. 44)

Com o passar dos anos observei que fiquei limitado quando escrevia que “a graça de El Quijote
estava na sua discrição”. O provérbio tem muita mais miga e enxúndia do que a primeira vista
se pode adivinhar. Cervantes, que nos diz muito entre linhas, nos pede “para lhe dar louvores,
não pelo que escreve, mas pelo que deixou de escrever” (11-44). A guematria de “discrição”
Taket (‫ )טקט‬é 118, a mesma que a de Jalaf (‫)ףלח‬, que significa “faca”, mais uma alusão à
circuncisão.
O tempo me ensinou que de algum modo nesta sentença se encontra sintetizado, por assim
dizer, todo El Quijote. Para isto proponho a seguinte leitura:

Não pode haver Don Quijote onde não há Sancho.

No El Quijote não faltam refrões sobre a discrição. Cervantes sabia que, como bom cabalista,
tinha que ser discreto. De fato no livro fala muito em “calar”. Mas quando diz que “ao bom
que se cala chamam Sancho” (11-43), não se está referindo a um “calar” qualquer, senão ao
silêncio do que sabe, do que conhece o “bom”, o Tov, uma maneira cabalística de se referir à
Torah. É um calar “santo” uma vez que este refrão é uma paráfrase de um conhecido refrão
que diz que “ao bom calar chamam Sancto”. O verbo Shatak, (‫)קתש‬, “calar” tem uma
guematria importante: 800. É a mesma que a de Keshet (‫)תשק‬, “arco-íris”, que, como disse, é
um símbolo da circuncisão.

O Zohar nos explica que se a palavra vale uma selá, o silêncio vale duas, e Seb Tov de Carrión,
o autor dos Provérbios Morales, obra que possivelmente conhecia Cervantes, que se a palavra
é de prata, o silêncio é de ouro: “se fosse o falar de prata figurado, figuraria o calar de ouro
apurado”.

Embora a ideia já foi formulada por Zenón de Citio, que afirmava que “temos duas orelhas e
uma boca apenas, justamente para ouvir mais e falar menos”, os cabalistas nos ensinam que
para escutar (e por tanto estar calado) temos duas orelhas, enquanto que para falar temos só
uma língua, o que faz que escutar (ou calar) valha o dobro que falar.
O assunto da Graça é recorrente na literatura cabalística. Hen (‫)ןח‬, a palavra que significa
“graça, donaire”11 tem um valor numérico muito especial: 58.

A guematria ou valor numérico do verbo brilhar Nagah (‫ )הגנ‬ou de haEven


(‫)ןבאה‬, “a Pedra”, é também 58. Por outra parte “a Gloria de Deus” (Êxodo Vl-8), (‫) דווכ יה‬
Kavod Adonai, também vale 58, com o qual está sutilmente relacionada com a Graça. De
algum modo a Graça ou a Glória de Deus é como a Medicina com que se inicia a regeneração
do homem caído, que os alquimistas medievais chamavam “nossa pedra”. Encontramos pela
primeira vez esta palavra na Torah em Gênesis VI-8 quando diz que “Noé encontrou graça aos
olhos de YHWH” (‫)חנ הצמ ןח םייניעב לש הוהי‬. Esta palavra é muito importante para os
cabalistas porque Hen (|‫)ח‬, Graça, é um anagrama de Noaj (‫)חנ‬, Noé. Esta Graça lhe permitiu a
Noé e aos seus não perecer como o resto dos Bnei Adam, os descendentes de Adão.

A relação entre Don Quijote e a graça não vem apenas do fato de que suas aventuras sejam
“graciosas-engaçadas”; de alguma maneira, em contraposição a Sancho que representa a
matéria, a gravidade, Don Quijote é “como a Graça”, ou pelo menos essa é a leitura de
Kejanah, “como a Graça”, segundo se desprende de um de seus nomes: “por conjecturas
verossímeis, se deixa entender que se chamava Quejana” (1-1).

Para os cabalistas, mas sobretudo para os cristãos, a Graça é um mistério (do grego mysterion,
“segredo, mistério”), isso é algo muito íntimo e secreto que pertence mais ao âmbito da
experiência que ao do mero conhecimento racional e discursivo. Como escrevia Aristóteles,
em um texto que se perdeu e que afortunadamente chegou até nós em uma citação de Sinésio
de Cirene, “nos mistérios se trata mais de experimentar (pathein) que de conhecer (mathein)”.
A Graça é “aquilo que abre” e costuma-se compará-la com a água da chuva que “abre” o grão
que vai a florescer, imagem da ressurreição. E ainda com respeito a ela, Louis Cattiaux escreve:
“A graça libera tudo sem forçar nem destruir nada, ela é o que necessitamos ao princípio”. De
alguma maneira toda a busca de Don Quijote não é mais do que uma busca discreta da Graça.
E é discreta precisamente porque sabe o que é a discrição.

Segundo o cervantista Luis Astrana Marín, El Quijote “foi saudado no século XVII com uma
gargalhada, no XVIII com um sorriso e no XIX com uma lágrima”.

“Riso” no hebraico se diz Tsjok (‫)קחצ‬. Em esta palavra nos encontramos com o Sábio, o Justo,
representado pela letra Tsadi, a inicial de Tsadiq, que como veremos simboliza ao cavaleiro, e
com o macaco (representado pela letra Kof12, (‫ )ק‬unidos pela letra Jet (‫)ח‬, a inicial de Hen,
“graça”).

Notas:
1. Encontramos esta ideia em um grande numero de autores. Seguramente um dos primeiros
em expressá-la foi Séneca.
2. O valor ordinal desta letra, o 18, nos refere às 18 bençãos, e a Jai (‫)יח‬, “o Vivente”.

3. Sod, cujo valor numérico é 70, se relaciona na Cabala com a letra Ayin (‫ )ע‬que se utiliza
como o número 70 e com o vinho, Iain (‫)ןייע‬, palavra cujo valor numérico também é 70. O
vinho é o conteúdo, o esotérico, em contraposição à taça, o exotérico, que é o continente. O
Bom Segredo ou, o que é a mesma coisa, a Boa Palavra, é o objeto da busca do
Cavaleiro/Cabalista. Em hebraico “Bom Segredo” seria Tov Sod (‫)בוט דוס‬, o qual foneticamente
nos leva a “Toboso”.

4. “O esoterismo verdadeiro é algo muito diferente da religião exterior, e, se tem algumas


relações com esta, isso pode ser só quando encontra nas formas religiosas um modo de
expressão simbólico; pelo mais, pouco importa que essas formas sejam de tal ou qual religião,
uma vez que aquilo do que se trata é a unidade doutrinal essencial que se dissimula por detrás
de sua aparente diversidade”, escrevia René Guénon em El Esoterismo de Dante, cap. 1, Ed.
Dédalo, Buenos Aires 1976.
5. Cita dos Tikunei haZohar, Zohar (corrigidores do Zoahar) 1-28 a.

5-A. A palavra em hebraico para a Redenção Suprema, gueulá, implica que o oposto é
verdadeiro. Gueulá é composto da palavra inteira golá (exílio) – a palavra para nossa presente
condição – com a adição da letra alef, a primeira do alfabeto hebraico. Isto significa que o
estado de gueulá inclui tudo que há de positivo que consiste na nossa vida atual em golá.
Tudo, mas com a adição do elemento de “alef.”
O alef ? em gueulá refere-se ao “Mestre (alef) do Mundo”. A condição de golá permite a
existência do mal: considerações materiais distorcem a verdade Divina e permanecem entre o
homem e seu Criador. Na era gueulá de Mashiach, o bem intrínseco de nossa vida atual virá à
luz. Assim, o mundo de Mashiach não é uma negação do que somos agora. Ao contrário, é a
perfeição e aprimoramento dos mesmos elementos.

6. Tomado do Diccionario Akal del Refranero Sefardí, de Jesus Cantera Orti de Urbina, refrão
n° 439, Ed. Akal, Madrid, 2004.
7. Veja Bartolomé Jiménez Patón, Discurso em favor do Santo e louvável estatuto da limpeza
do sangue. Granada, 1638, fol. 8.
8. No capítulo 74 da Segunda Parte.
9. Simbolicamente o arco também se relaciona com o membro masculino (os gregos faziam
muitas piadas sobre se o arco estava tenso ou não); uma das acepções de Brith e de Keshet
segundo o dicionário. O que valga 800 pode se reduzir a 8, o qual nos leva ao 8o dia, o dia de
Brith Afila (a circuncisão) e inclusive a 8a bênção, a relativa à saúde e à cura.

10. Op. Cit. Pág. 463.


11. “Donaire” significa literalmente “Don do ar”, ou seja, “Don do espírito”. Em hebraico a
palavra que significa “espírito” significa também “ar= ruaj”
12. No hebraico macaco se diz Kof= ( ‫)וקף‬, que se escreve como esta letra.

Algumas informações que talvez possam contribuir com a compreensão desse texto.

Valor
Letra numérico

‫א‬ 1

‫ב‬ 2

‫ג‬ 3

‫ד‬ 4
‫ה‬ 5

‫ו‬ 6

‫ז‬ 7

‫ח‬ 8

‫ט‬ 9

‫י‬ 10

‫כ‬ 20

‫ל‬ 30

‫מ‬ 40

‫נ‬ 50

‫ס‬ 60

‫ע‬ 70

‫פ‬ 80

‫צ‬ 90

‫ק‬ 100

‫ר‬ 200

‫ש‬ 300

‫ת‬ 400

Sefirot - Árvores da Vida

A princípio Sefirot significava números, com o desenvolvimento dos conceitos passou a


designar esferas, depois passou a significar emergência de poderes, virtudes e emanações
divinas, por fim passou a designar uma representação dos atributos, virtudes e qualidades
divinas. Pode ser entendido como um canal para o divino.

Na cabala, Deus é chamado de Ayin que significa nada, traduzindo do hebraico. Tudo vem
de Ayin Sof e retorna a Ayin Sof, que é eterno e por estar e ser fora da existência é nada. A
forma de se conhecer o nada, o Ayin Sof, se dá pelas dez Sefirot.
As dez Sefirot revelam todo o processo universal, o equilíbrio entre os opostos, as leis da
existência. Para a cabala, o fluxo das dez Sefirot para os quatro mundos da humanidade não é
o único caminho. Nossas ações individuais também tem peso cósmico e podem servir para
criar ou destruir.

Diagrama das Dez Sefirot

Uma sefirá é um canal de energia Divina ou força de vida. É através das sefirot que Deus
interage com a criação: elas podem, portanto, ser consideradas como Seus “atributos.”

Ao todo, são mencionadas onze sefirot na literatura cabalística. Visto que duas delas (keter e
da’at) são duas dimensões de uma única força, a tradição geralmente fala de apenas dez
sefirot.

Cada sefirá também possui uma experiência interior, como é discutido na Chassidut.

A ordem das sefirot é a seguinte:

Emanadas originalmente como simples “forças em botão”, as sefirot em certo estágio


desenvolvem-se em espectros completos das dez sub-sefirot. Subsequente a isso, elas se
transformam em partsufim (o terceiro e ?ltimo estágio no desenvolvimento de uma sefirá).

As sefirot são compostas de “luzes” e “recipientes.” A luz de qualquer sefirá é o fluxo Divino
dentro dela; o recipiente é a identidade que o fluxo utiliza a fim de relacionar-se ou criar algum
aspecto do mundo de uma maneira específica. Visto que toda realidade é criada por meio das
sefirot, elas constituem o paradigma conceitual para o entendimento de toda a realidade.

Sefirá Experiência interior


keter - “coroa” fé, prazer, vontade
chochmá - “sabedoria”, “percepção” altruísmo
biná - “entendimento” júbilo
da’at - “conhecimento” unificação
chessed - “bondade” amor
guevurá - “poder”, “força” temor
tiferet - “beleza” misericórdia
netzach - “vitória”, “eternidade” confiança
hod - “esplendor”, “agradecimento” sinceridade
yessod - “alicerce” verdade
malchut - “reino” inferioridade

Baseado na obra de Juli Peradejordi

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