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FRANCISCO CANCELA1
UFBA
RESUMO: O presente artigo apresenta algumas reflexões sobre os contatos interétnicos entre
índios e não-índios nas vilas de índios da Capitania de Porto Seguro, entre os anos de 1758 e
1820. Partindo da identificação dos sujeitos não-indígenas, buscamos apresentar a idéia de
que as vilas de índios se transformaram em um território multicultural, onde brancos, mulatos,
pardos, negros e índios mantiveram vários contatos condicionados ao contexto geral do
processo de conquista e colonização da América portuguesa. Ao mesmo tempo, estas relações
possibilitaram uma reconfiguração identitária, uma vez que forjaram experiências de
solidariedade, de resistência e de percepção da própria condição em que viviam os índios e os
não-índios, principalmente os degredados.
ABSTRACT: This article presents some reflections about the interethnic contacts between
Indians and non-Indians in the Indians’ villages of the Captaincy of Porto Seguro, between the
years 1758-1820. Beginning with the identification of the non-aboriginal citizens, we try to
show the idea of how the Indians’ villages transformed in a multicultural territory, which white,
browns, blacks and Indians kept some connections, submitted to the general context of the
Portuguese Colonization. At the same time, these connections were allowed to reconfigure the
identities, because it put together experiences of solidarity, resistance and perception of the self
condition where the Indians and the banished ones lived.
Introdução
1
Doutorando em História Social, especialista em Docência, bolsista CAPES – E-mail:
franciscocancela@yahoo.com.br .
2
Segundo o Diccionário da Língua Portuguesa, as Vilas eram unidades urbanas menores que as cidades,
mas que contavam com juizes, câmaras e pelourinho (SILVA, 1798).
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O descimento consistia na prática de deslocamento de comunidades indígenas (totais ou parciais) de
suas aldeias de origem para povoações coloniais. O ato de “descer” índios do interior do continente para
os territórios portugueses esteve presente na colonização portuguesa da América desde o século XVI.
Para “persuadir” os povos indígenas a praticarem o descimento, colonos, jesuítas e administradores
coloniais prometiam melhores condições de vida, liberdade, terra e instrumentos de trabalho (PERRONE-
MOISÉS, 1992).
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O degredo era uma condenação judicial que esteve presente na legislação portuguesa desde o século
XIV. Consistia em extraditar um criminoso ou delituoso para regiões distante do local do crime ou delito,
por tempo que variava de acordo com a gravidade do ato cometido (meses, anos ou para sempre). Na
prática, o degredo foi uma ferramenta flexível que permitia a (re)utilização de reservas humanas para a
colonização dos territórios portugueses (tanto coloniais quanto metropolitanos), atuando como uma forma
de castigo aos indivíduos que cometeram algum crime ou delito e, ao mesmo tempo, como uma
possibilidade de regeneração ou purificação comportamental. Na caso da Capitania de Porto Seguro, os
degredados utilizados no período em questão vieram da própria América Portuguesa, sendo, portanto,
resultado de degredo interno (PONTAROLO, 2007).
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Sendo assim, daqui por diante quando falarmos em degredado estaremos nos referindo a uma categoria
ampla e diversificada, que era composta, em geral, por indivíduos que cometeram algum delito ou crime
nas cidades de Salvador ou Rio de Janeiro e sofreram como penalidade a extradição para a Capitania de
Porto Seguro. Estes degredados poderiam ser brancos, mulatos, pardos ou negros.
Considerações finais
Referências bibliográficas
FALCON, Francisco José Calazans. A época pombalina. São Paulo: Ática, 1982.
SILVA, Antonio Moraes da. Diccionario da Língua Portuguesa. Composto pelo padre
D. Rafael Bluteau, reformado e accrescentado por Antonio de Moraes Silva. Lisboa:
Officina de Simão Thadeo Ferreira, 1798.
WIED, Maximiliano. Viagem ao Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 1989.
Fontes
AHU – Projeto Resgate. Relação sobre as vilas e rios da Capitania de Porto Seguro,
pelo Ouvidor Tomé Couceiro de Abreu. Porto Seguro, 8 de janeiro de 1764 – doc.
6430.
AHU – Projeto Resgate. Carta do Ouvidor de Porto Seguro José Xavier Machado
Monteiro, dirigida ao Rei, na qual relata os progressos daquela capitania durante
o ano anterior. Porto Seguro, 10 de maio de 1771 – doc. 8446.
APEB - Carta de Aplicação da Provisão Real que mandou criar a Vila de Trancoso
– Colonial e Provincial, Dossiê sobre aldeamentos e missões indígenas – n. 603.
APEB – Colonial. Auto de audiência geral nesta Vila de Porto Alegre no ano de
1773. Maço: 485-3.
APEB – Decreto por que sua majestade há por bem nomear ao Bacharel Thomé
Couceiro de Abreu para hir criar a Ouvidoria de Porto Seguro por tempo de três
annos. – Seção de Arquivo Colonial e Provincial, maço 7065, p. 9.
ANEXO 1
Relação de alguns degradados vindos do Rio de Janeiro para Porto Seguro no ano
de 17766.
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Fontes: ANRJ – Marquês de Lavradio. Carta ao desembargador e ouvidor da Comarca de Porto
Seguro. Rio de Janeiro, 15 de janeiro de 1776 – Microfilme: 024.97; Carta ao Desembargador de Porto
Seguro. Rio de Janeiro, 20 de julho de 1776 – Microfilme: 024.97; Carta ao desembargador ouvidor
geral da comarca de Porto Seguro. Rio de Janeiro, 16 de setembro de 1776 – Microfilme: 024.97; Carta
ao desembargador e ouvidor da Comarca de Porto Seguro. Rio de Janeiro, 24 de outubro de 1776 –
Microfilme: 024.97.