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BELÉM-PA/BRASIL/1997
GRUPO XI
SOBRETENSÕES, COORDENAÇÃO DE ISOLAMENTO E INTERFERÊNCIAS (GSI)
RESUMO
de ocorrência e duração das interrupções no fornecimento de
Este trabalho apresenta resultados de uma investigação para energia elétrica. As descargas atmosféricas constituem-se na
avaliação do comportamento de aterramentos elétricos típicos principal fonte dessas interrupções e são usualmente
de linhas de transmissão, quando submetidos a correntes consideradas o principal fator de condicionamento do
associadas a descargas atmosféricas. Tal investigação isolamento das linhas, para níveis de tensão de até 345 kV.
constitui-se em parte de um projeto cooperativo
desenvolvido entre o LATER (Laboratório de Aterramentos No caso brasileiro, devido aos elevados valores de
Elétricos da UFMG) e a CEMIG. Através da utilização de resistividade do solo, esse limite é estendido até as linhas de
um apurado modelo computacional de aterramentos, foram 500kV.
analisadas as configurações reais de aterramentos do sistema
de transmissão da empresa, na faixa usual de valores de No Brasil, as práticas adotadas para a minimização dos
resistividade do solo, nas condições brasileiras. Para cada efeitos das descargas atmosféricas nas LT's normalmente se
configuração investigada (dos níveis de tensão de baseiam na instalação de cabos pára-raios conectados
transmissão de 69 a 500kV), foram gerados resultados metalicamente com o aterramento da torre, constituído de
aplicados relativos à impedância de aterramento e cabos contrapeso. Mais recentemente, avalia-se a utilização
comprimento efetivo dos cabos contrapeso, traduzidos na de dispositivos pára-raios para tal finalidade.
forma de ábacos e tabelas. Em cada caso, foram propostas
configurações aprimoradas dos aterramentos, para melhoria 2.0 - INFLUÊNCIA DO ATERRAMENTO NA SOBRE-
do desempenho das linhas frente a descargas atmosféricas. TENSÃO RESULTANTE NOS ISOLADORES
(contrapeso de 50m)
300 da onda eletromagnética no solo, a dependência dos
Onda incidente + refletida
0
parâmetros do solo com a frequência, a composição da
0 1 2 3 4 5 6 7 8 corrente, a eventual ionização do solo associada a altas
-300
densidades de corrente, o acoplamento eletromagnético entre
-600
as partes do aterramento.
-900
Reflexão negativa
-1200 4.0 - RESULTADOS E ANÁLISES
Tempo (ms)
FIGURA 1 - Reflexões negativa e positiva na parte superior da torre 4.1 Introdução
A onda referente à refração da onda de corrente incide no A adoção de critérios que estabelecem um valor máximo
aterramento. Este pode ser considerado através de dois admissível para a resistência de baixa frequência do
componentes. O primeiro refere-se à própria estrutura aterramento das linhas de transmissão é uma estratégia
metálica da torre enterrada no solo (grelha) e possui comum entre as concessionárias de energia elétrica
características de aterramento concentrado. O campo na brasileiras. Tal prática objetiva limitar, de modo indireto, o
região tem configuração basicamente divergente, sendo valor da impedância de aterramento e, dessa forma, assegurar
desprezíveis os fenômenos de propagação de onda. O um nível determinado de redução da sobretensão na cadeia
segundo componente é representado pelos cabos contrapeso, de isoladores, com a consequente melhoria do desempenho
que se originam nas grelhas e partem em direção radial e da linha. No caso específico da CEMIG, adota-se um valor
posteriormente longitudinal, seguindo a faixa de passagem da máximo de 30W para a resistência de aterramento a baixa
linha (Figura 3). frequência.
Quando a onda de corrente atinge o aterramento, parte da 4.2 Configurações analisadas
corrente é dissipada no campo divergente, junto às grelhas. A
parcela restante se propaga através dos cabos contrapeso num Foram investigados os aterramentos das torres de madeira
comportamento tipo onda, até atingir a extremidade dos das linhas de 69kV, das torres metálicas autoportantes das
mesmos, num processo em que os fenômenos de atenuação e linhas de 69, 138, 230 e 345 kV, e das torres metálicas
distorção de onda podem ser acentuados. Uma vez que a estaiadas das linhas de 500kV, cujas configurações estão
onda de tensão atinge a extremidade do cabo contrapeso, ali representadas nas Figuras 2, 3 e 4, e na Tabela 1.
ocorre uma reflexão positiva (linha aberta) e a onda tem,
assim, seu valor dobrado. A onda trafega de volta nos cabos Analisou-se neste trabalho o comportamento transitório das
contrapeso sofrendo nova atenuação e distorção, até atingir a configurações típicas de aterramento do sistema de
grelha. Ali a onda é parcialmente dissipada e tem uma transmissão da empresa, variando-se os valores de
parcela transmitida para a torre. Essa última, após resistividade do solo (100, 250, 500, 1000, 2000, 5000,
correspondente tempo de trânsito, alcança a parte superior da 10000 e 20000 W.m) e do comprimento do cabo contrapeso
torre, onde se soma às ondas lá existentes. A Figura 1 ilustra (0, 10, 20, 30, 40, 50, 60, 70, 80 e 90m).
a onda refletida positiva e sua soma às ondas incidente e
refletida negativa no topo da torre (negrito), para um cabo Para as configurações dos aterramentos em análise,
contrapeso de 50m. Não se considera, na figura, os efeitos de considerando trabalhos anteriores referentes ao assunto (3),
dispersão da grelha e de atenuação da onda nos cabos constatou-se que o efeito de ionização do solo associado a
contrapeso. Caso tais parâmetros fossem considerados, a altas densidades de corrente não é significativo, sendo
onda resultante teria sua amplitude reduzida e um formato razoável desconsiderá-lo. Nessa etapa do trabalho, não foi
mais suave. considerada a estratificação do solo. Embora contemplada
pela modelagem, a sua consideração resultaria num volume
-3-
extremamente amplo de parâmetros, o que dificultaria as impedância de aterramento e a resistividade a baixa
análises. frequência com a resistividade do solo.
L1
Foram também simuladas, em cada caso, variações de
13m
L2 configuração para obtenção de estruturas otimizadas. Como
L2=6,4m 4m decorrência da análise de resultados, para cada caso foi
15m
L=L1+L2 indicada uma configuração aprimorada de aterramento na
perspectiva de redução da impedância de aterramento.
Solo 1m
4.4 Resultados para os aterramentos das torres de 138kV
FIGURA 2 - Torre de madeira e seu aterramento - 69kV
Para ilustrar os resultados obtidos e as análises associadas,
L1 são apresentados os resultados referentes ao aterramento das
torres com grelhas das linhas de 138kV, que compõem a
L2 maior parte do sistema de transmissão da CEMIG.
D
5m
L=L1+L2 O resultado primário das simulações corresponde a
diagramas de impedância no domínio da frequência, como
Solo 1m aqueles apresentados na Figura 5. Através de diagramas
dessa natureza é possível interpretar a influência dos diversos
FIGURA 3 - Torre metálica autoportante e seu aterramento - aspectos que determinam o comportamento do aterramento.
69, 138, 230 e 345kV Nessa figura estão colocadas curvas correspondentes ao
comportamento da grelha, para um cabo contrapeso de 20m,
TABELA 1 - Faixa de passagem dos sistemas que e para a associação da grelha com cabos contrapesos de 20,
utilizam torres metálicas autoportantes
40 e 80m.
Tensão da Faixa de L2 (m)
120
Linha (kV) passagem - D (m) Grelha
69 23 11,2 Grelha + 20m contrapeso
Módulo da Impedância (W)
100
138 23 11,2 Grelha + 40m contrapeso
Grelha + 80m contrapeso
230 38 21,8 80
345 50 30,3
60 Contrapeso 20m
L1 1m 40
L2
20
L=L1+L2
30m 0
L2=19,8m 100 1000 10000 100000 1000000 10000000
· · ·
58m Frequência (Hz)
30m
FIGURA 5 - Impedância de aterramento
Estai para a grelha e cabos contrapeso
58m
FIGURA 4 - Torre metálica estaiada e seu aterramento- 500 kV Um mesmo comportamento típico foi verificado para as
configurações analisadas. No início do espectro, a
4.3 Resultados impedância de aterramento se aproxima do valor da
resistência a baixa frequência. À medida que se avança no
Para cada uma das cinco configurações de aterramentos espectro, o valor da impedância cai, até atingir um valor
investigadas (uma para a torre de madeira, três para as torres mínimo. Esse decaimento ocorre por influência de dois
com grelha e uma para as torres estaiadas), foi efetuada fatores: a dependência da resistividade e permissividade do
simulação sistemática do comportamento dos aterramentos solo com a frequência e o aumento da corrente capacitiva,
quando submetidos a correntes tipicamente associadas a associado ao aumento da frequência. Quando se considera
descargas atmosféricas, considerando oito valores de separadamente o comportamento do cabo contrapeso e da
resistividade do solo e dez valores de comprimento do cabo grelha, percebe-se que a partir de uma faixa intermediária de
contrapeso. Para cada caso, foram construídos diagramas de frequência, o contrapeso apresenta um aumento do módulo
impedância no domínio da frequência e curvas relacionando da impedância, devido aos efeitos indutivos e de propagação.
as ondas de tensão e corrente no domínio do tempo. Já no caso da grelha isso não ocorre. Em função do forte
caráter divergente do campo na região da grelha, a
Para análise do enorme volume de dados resultantes, foram correspondente impedância continua diminuindo com o
construídos gráficos e tabelas relacionando os parâmetros de aumento da frequência. As curvas da Figura 5 representam o
interesse com as variáveis em jogo. São de particular comportamento desses componentes. Em baixa frequência a
interesse aplicado os ábacos que relacionam a impedância de impedância de aterramento tende a seguir a curva do cabo
aterramento com a resistividade do solo e comprimento do contrapeso, por este possuir menor impedância. Atinge um
cabo contrapeso, as tabelas que expressam o comprimento valor mínimo, seguido por um máximo e, em seguida, a
efetivo do aterramento para cada configuração e resistividade curva volta a descer. Neste ponto predomina o efeito de
e, finalmente, as curvas que consideram a relação entre a paralelismo da grelha, que possui menor impedância nessa
-4-
faixa. Verifica-se, assim, a importância da grelha para a A partir de curvas semelhantes, foram construídos gráficos
redução da impedância, justamente na faixa das frequências relacionando a Impedância Impulsiva (Zp) com outros
que são representativas das componentes da frente de onda. parâmetros em análise: a resistividade do solo (r) na Figura
7, e o comprimento L do cabo contrapeso na Figura 8.
Construídos os diagramas de impedância da configuração, 50
para uma determinada solicitação é possível construir 45
gráficos de tensão resultante no aterramento em função do 40
tempo, através da aplicação da transformada de Fourrier. No 35
caso, a solicitação considerada correspondeu a uma onda de 30
5000 W.m
Zp (W)
corrente impulsiva dupla exponencial de 1,2/50ms e de 10 kA 25 100 W.m
de pico. Estudos anteriores (1) realizados no LATER 20
indicaram que a variação dos tempos da onda (dentro de 15
limites de interesse prático) não altera os resultados de forma 10
significativa. A Figura 6 apresenta curvas da tensão no 5
aterramento em função do tempo para um solo de 0
resistividade de 1000 W.m, variando-se o comprimento do 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Contrapeso (m)
cabo contrapeso.
FIGURA 7 - Zp em função do comprimento do cabo contrapeso
25
15
10 m
que o comprimento efetivo do contrapeso para uma
resistividade de 5000 W.m é 80m.
10
50
45
5
10 m
40
90 m 35
0
30
Zp (W)
10
Para cada configuração e cada resistividade do solo foram 5
construídos diagramas no domínio da frequência e do tempo, 0
como os das Figuras 5 e 6. Através de curvas como a anterior 100 1000 10000
é possível estabelecer relações entre alguns parâmetros de Resistividade (W.m)
interesse aplicado. Para uma dada resistividade e FIGURA 8 - Zp em função da resistividade do solo
determinado comprimento do cabo contrapeso, identificou-se
na curva o valor de pico da tensão resultante no aterramento. Nas curvas da Figura 8 é possível estimar-se o comprimento
E, ainda, para uma dada resistividade do solo é possível do cabo contrapeso necessário para se alcançar uma
identificar qual o comprimento do cabo contrapeso, além do determinada impedância impulsiva, para uma dada
qual o aumento da extensão do condutor não contribui para a resistividade do solo. Por exemplo, para se obter uma
redução do valor de pico na tensão no aterramento. Tal impedância impulsiva de aterramento de 15W num solo de
comprimento é designado comprimento efetivo do 1000 W.m, é necessário 20m de comprimento do cabo
aterramento. Por exemplo, na Figura 6 (r=1000W.m), contrapeso.
verifica-se a redução do valor de pico ao aumentar-se o
comprimento do contrapeso até 40m. A partir daí, o aumento Um parâmetro que mostrou particular interesse prático
do comprimento não influencia o valor de pico da tensão. refere-se à relação entre a impedância impulsiva e a
resistência de baixa frequência (Zp/R), cujo comportamento é
Na perspectiva de busca de formas simplificadas para a indicado na Figura 9.
representação do comportamento do aterramento da linha,
quando percorrido por correntes impulsivas associadas a
descargas atmosféricas, definiu-se como um parâmetro de
interesse a Impedância Impulsiva de Aterramento (Zp). Tal
impedância é definida pela relação entre os valores de pico
das ondas de tensão e corrente (Zp=Vp/Ip). Apesar de sua
simplicidade, esse parâmetro traduz considerável significação
física e consistência do ponto de vista de aplicação, pois dele
pode-se derivar prontamente uma estimativa do valor de
sobretensão resultante para um dado valor de pico de onda de
corrente injetada no aterramento, independente da possível
não simultaneidade entre os instantes em que esses picos
ocorrem.
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